Turim 2006: investigaçoes aos austríacos suspeitos de doping durarao meses [IMG] 27.02.2006 - 22h43 Duarte Ladeiras Os Jogos Olímpicos (JO) de Inverno de Turim 2006 terminaram no domingo, mas vao demorar meses até que estejam concluídas as investigaçoes das autoridades italianas e do Comité Olímpico Internacional (COI) `as suspeitas de doping que recaem sobre as equipas austríacas de esqui de fundo e biatlo. O inquérito principal é o que decorre na justiça italiana e que servirá de base para possíveis sançoes desportivas contra os austríacos. Foram apreendidas cerca de 100 seringas, caixas de medicamentos, alguns sem rótulos, uma máquina de transfusao sanguínea e um aparelho utilizado em análises ao sangue nas buscas efectuadas aos chalés dos atletas, situados nas aldeias de montanha Pragelato e San Sicario, e `a casa alugada pelo treinador Walter Mayer, banido dos JO por envolvimento em dopagem sanguínea em Salt Lake City 2002. Segundo o procurador-adjunto de Pinerolo, Ciro Santoriello, as rusgas envolveram cerca de uma centena de Carabinieri, agentes paramilitares, "começaram `as 22h00 e terminaram `as 23h30" do dia 18 de Fevereiro (sábado). Nao só permitiram apreender material suspeito como provocaram actuaçoes duvidosas por parte dos atletas. "Neste dossier constam relatos sobre comportamentos estranhos. Comecemos pelo salbutamol, que foi encontrado em grandes quantidades. 95 por cento dos fundistas austríacos de Pragelato eram asmáticos. Para além disso, quando os polícias entraram nos quartos, ligaram as luzes e os atletas acordaram, a primeira coisa que eles fizeram foi agarrar em garrafas de água que tinham junto das camas e beberem, sem parar, um litro, litro e meio. (...) Parecia que isso era urgente, mesmo vital para eles", contou Santoriello em entrevista ao diário desportivo frances "L'Équipe". O procurador-adjunto estranhou a quantidade encontrada de salbutamol, substância cujo consumo "exige solicitaçao de autorizaçao para a sua utilizaçao terapeutica", e considerou possível que a água consumida pelos atletas tenha levado a que os testes efectuados pouco depois pelo COI tenham registado resultados negativos. Possibilidade que nao foi confirmada por autoridades desportivas nem por peritos em dopagem. As análises ao material apreendido ainda prosseguem e a polícia tem-se centrado nas responsabilidades dos responsáveis da Federaçao Austríaca de Esqui na presença de Mayer junto dos atletas, facto que desencadeou a operaçao conjunta COI/Carabinieri. De acordo com Santoriello, "a investigaçao vai correr rapidamente e o processo poderá estar concluído dentro de cinco ou seis meses". Paralelamente, o Comité Olímpico Internacional abrirá um inquérito quando receber o relatório das autoridades italianas sobre as rusgas e o material apreendido. O presidente do organismo, Jacques Rogge, já nomeou um painel para desempenhar esta tarefa, constituído pelo alemao Thomas Bach, advogado e vice-presidente do COI, o ucraniano Serguei Bubka, lenda do salto com vara, e o suíço Denis Oswald, director-executivo. Os resultados negativos dos testes aos austríacos sao, portanto, apenas um detalhe, segundo enfatizou, em conferencia de imprensa, a porta-voz do organismo olímpico, Giselle Davies: "O COI gostaria de deixar claro que os controlos anti-doping sao apenas um dos elementos a ter em conta. O COI entende este caso com muita seriedade e está determinado a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para clarificar totalmente o que se passou nos últimos dias. Temos de ver isto de um ângulo aberto". De acordo com Davies e Rogge (ver outro texto), também este inquérito demorará semanas, talvez meses. Período em que os atletas deverao ser submetidos a testes complementares, por parte da Agencia Mundial Antidopagem (AMA) e das federaçoes internacionais de esqui e biatlo, conforme vincou o presidente da comissao médica do COI, Arne Ljungqvist: "Queremos evitar uma ideia de que está a haver uma caça `as bruxas, mas temos razoes para fazer mais testes em alguns casos". Este caso acabou por ensombrar uns JO que até registaram uma boa performance anti-doping. Desde a abertura da Aldeia Olímpica até ao encerramento da competiçao, realizaram-se mais de 900 testes, a maioria urinários, o que representa um aumento de 72 por cento relativamente a 2002, e foram ainda introduzidos, pela primeira vez em Jogos de Inverno, controlos sanguíneos. Houve apenas um teste positivo: amostras da russa Olga Pyleva continham carfedon, um estimulante, e a biatleta acabou por perder a medalha de prata nos 15km individual e ser suspensa por dois anos. Mesmo assim, este caso terá sido originado pelo erro da médica do clube de Pyleva na prescriçao de um medicamento para aliviar a dor causada por uma lesao no pé da atleta. Para este baixo número de testes positivos, comparado com os sete de Salt Lake City 2002 e os 26 de Atenas 2004, o presidente da ma, Richard Pound, aponta dois factores: as análises pré-competiçao feitas pelas federaçoes internacionais, o anúncio de que o COI iria realizar muito mais controlos e o facto de a legislaçao italiana prever processos criminais a atletas suspeitos de dopagem. "Ter-se realizado uma operaçao conjunta penso que também enviou um sinal muito forte", disse o canadiano `a Reuters.