PERÍODO COMPOSTO O período composto é constituído por mais de uma oração. As relações existentes entre elas são de dois tipos: de coordenãção ou de subordinação. . No caso das frases compostas por coordenação, as unidades oracionais são independentes e são denominadas paratácticas. A relação que entre as orações coordenadas existe chama-se parataxe. Têm o mesmo estatuto estrutural e semântico no período, e encontram-se no mesmo nível sintáctico como ilustra o seguinte exemplo: O João cantou e o Francisco chorou. F+[1] F^-[2] conj F^-[3]^ O João cantou e o Francisco chorou. relação de coordenação Quando as orações são compostas por subordinação, são denominadas hipotácticas. A relação existente entre elas chama-se hipotaxe, e consistem no facto de as orações dependerem estrutural e semanticamente de outras unidades oracionais. As orações compostas por subordinação encontram-se em níveis sintácticos distintos, como mostra o seguinte diagrama: F+ SN SV D N V Conj F- O Pedro falou quando o interrogaram. O Pedro falaria se o interrgassem O Pedro falou porque o interrogaram. O Pedro falou para o interrogaram. O Pedro falaria ainda que o interrogassem O Pedro falou como se o interrogassem sujeito predicado adjunto adverbial circunstancial de tempo, de condição, de casa, de fim, de concessão, de modo A oração regente é chamada oração prinipal e dela depende semântica e estruturalmente a unidade oracional regida, isto é, a oração subordinada, como ilustram os esquemas gráficos abaixo apresentados. Ao mesmo tempo é posível que uma oração subordinada tenha outra dependente dela, em relação qual é principal. Quando num único período há relações paratácticas e hipotácticas ao mesmo tempo, o período é denominado período misto. As relações paratácticas e hipotácticas podem existir não apenas entre a oração subordinante mais alta e a oração subordinada, como também entre as próprias orações subordinadas. Coordenação entre as subordinadas: F+ SN SV D N V Sadv S Adv Conj F[1]- conj F[2]- O Pedro falou quando o interrogaram embora não quisesse. Subordinação entre as orações subordinadas: F+ SN SV D N V SN Conj F[1]- Pr V SN V D N conj F[2]- O Pedro disse que (ele) vai comprar o livro que viu na Feira. . Orações finitas e não finitas As orações subordinadas podem ser finitas (desenvolvidas) e não finitas (reduzidas). No primeiro caso, a oração contém um verbo conjugado, enquanto que no segundo caso, o verbo encontra-se na forma nominal (gerundiva, participial ou infinitiva). Observe os seguintes casos: · Oração finita: Enquanto o Pedro cantava, a Maria tocava piano. · Oração não finita: Apesar de ele não saber falar línguas estrangeiras, consegue sempre comunicar com as pessoas. Orações coordenadas As relações paratácticas, podem existir tanto entre os sintagmas de uma frase, como entre as unidades oracionais. Estas são caracterizadas por um maior grau de independência, comparativamente às orações subordinadas, no sentido em que podem ser usadas como frases independentes, sem qualquer tipo de relação sintáctia com a outra como exemplifica o seguinte caso: A temperatura baixou e o céu está carregado de nuvens. A temperatura baixou. O céu está carregado de nuvens. Apesar de estas frases evidenciarem um alto grau de independência, no que à mobilidade dentro do período diz respeito, nem sempre podem ser deslocadas dentro do período. Deste ponto de vista, classificam-se em simétricas e assimétricas. Quando a mobilidade das orações coordenadas dentro de um período é possível, diz-se que os termos coordenados são simétricos. O João comprou livros e dicionários. O João comprou dicionários e livros. O João e a Maria foram jogar ténis. A Maria e o João foram jogar ténis. Quando a ordem das frases coordenadas é impossível, trata-se de coordenação assimétrica, i.e., a organização sintáctica das frases coordenadas vê-se restringida por factores pragmáticos ou lógico semânticos, como, por exemplo, é o uso consagrado de determinadas construcções ou a relação adversativa existente entre elas, como ilustram os seguintes exemplos: Meninos e meninas... Senhores e senhoras. (uso estereotipizado) ?Meninas e meninos.? ?Senhoras e senhores?. (pouco aceitável) Partiram de férias, mas não foram para o Algarve. *Mas não foram para o Algarve, partiram de férias. A coordenação assimétrica ocorre também quando as proposições das unidades oracionais são relacionadas cronologicamente. A sua inversão resultaria ilógica, como manifestam os seguintes exemplos: Eles saíram às oito horas e foram jantar ao restaurante. *Foram jantar ao restaurante e eles saíram às oito horas. Coordenação sindética, assindética e polissindética As conjunções que conectam os termos coordenados, são denominadas conjunções coordinativas (e, mas, nem...). Existem ainda os chamados conectores coordinativos (porém, todavia, contudo...), os quais são caracterizados por uma maior liberdade no que à mobilidade dentro do período diz respeito. A relação paratáctica pode envolver dois ou mais termos; no primeiro caso, a coordenação é binária, no segundo caso, múltipla. Quando as unidades coordenadas são conectadas por uma conjunção ou por um conector, falamos de coordenação sindética. Quando os termos coordenados ocorrem justapostos, sem a conjunção ou sem o conector, falamos de coordenação assindética. O seu uso é, porém, limitado pelos factores pragmático–estilísticos. No caso da coordenação correlativa, todos os termos são introduzidos por uma das partes da conjunção ou da locução correlativa, incluindo o primeiro termo. Neste caso a coordenação é chamada polissindética. Observe-se os seguintes exemplos para cada um dos tipos de coordenação: Vesti o casaco e saí. Coordenação binária, sindética O meu filho nem come nem bebe nem dorme. Coordenação múltipla, sindética Aqui estou,(-) aqui vivo, (-)aqui morrerei. Coordenação múltipla, assindética A coordenação múltipla cujas últimas duas unidades são conectadas por uma conjunção coordinativa, são consideradas sindéticas pela sintaxe portuguesa. O aluno escreveu o ditado, (-) entregou-o à professora e foi-se embora. As conjunções coordinativas podem ocorrer numa construcção unária como e, nem, ou, mas ou numa construcção binária - correlativa, como não só...mas também, tanto....como, ou....ou, ora....ora, nem....nem, quer....quer, etc. No primeiro caso, as conjunções são chamadas conjunções coordenativas simples, no segundo caso, conjunções coordenativas relativas. As relação coordenativa é de três tipos: coordenação copulativa, disjuntiva ou adversativa. Coordenação copulativa A coordenação copulativa consiste no valor básico semântico aditivo que caracteriza a relação existente entre os termos coordenados. Estes são ligados por uma conjunção copulativa ou aditiva que pode ser simples ou composta. A conjunção aditiva simples mais típica é a conjunção simples e e nem: O meu filho voltou das férias e trouxe-me uma recordação. Não vou ao cinema nem vou ao teatro. As conjunções copulativas compostas (correlativas) são, por exemplo, não só.... mas também, não só......como, tanto.....como. A omissão de um dos seus elementos resultaria inaceitável, como exemplificam as seguintes frases:. Vou ler não só o livro mas também a revista. Tu não só não estudas como não deixas os outros estudar. *Tu não estudas como não deixas os outros estudar. *Vou ler o livro mas também a revista Coordenação adversativa A coordenação adversativa consiste em relação contrastiva ou contrapositiva entre os termos coordenados, conectados por conjunções adversativas ou contrajuntivas. A conjunção mais típica deste tipo de coordenação é a conjunção mas e senão. O João viu o livro na montra mas não o comprou. Não come senão o chocolate. Existem também os chamados conectores adversativos como porém, todavia, contudo que, tradicionalmente são classificados como conjunções, mas que, de facto, se afastam delas por terem uma relativa liberdade no que que à mobilidade dentro da frase diz respeito. Estes conectores não introduzem obrigatoriamente o membro coordenado, podendo ocorrer dentro dele. Sempre são separados do resto da frase por vírgulas, como exemplificam os seguintes casos: Ela está cansada, todavia/porém/contudo, os trabalhos impedem-na de tirar férias. Ela está cansada, os trabalhos, todavia/porém/contudo,impedem-na de tirar férias. Os conectores contrastivos podem co-ocorrer no período com uma conjunção, desde que a sua combinação seja semanticamente compatível. Veja-se o seguinte exemplo: Ela está cansada e, porém, não pode tirar férias. Poupou bastante dinheiro, mas, porém, não chega para pagar o carro novo. Coordenação disjuntiva A coordenação disjuntiva implica o valor de alternativa entre os termos coordenados, sendo as unidades coordenadas conectadas, tipicamente, por uma conjunção disjuntiva ou alternativa que pode ser simples (ou) ou correlativa (ou...ou, nem....nem, ora....ora seja....seja, quer....quer, já...já.). Não se recomenda combinar nestas conjunções correlativas os elementos ou, nem, ora, seja, quer, já, embora ocorram com menor frequência. Existem dois tipos de disjunção: exclusiva e inclusiva. Se a escolha implica a selecção de um termo em detrimento do outro, falamos da disjunção exclusiva, como exemplifica o seguinte caso: A criança ora está a rir ora está a chorar. Ou fazes o que te digo ou ficamos zangados. No caso da disjunção inclusiva, os termos em alternativa são compatíveis, como ilustras as seguintes frases: Quer o gato quer o cão detestam ver estranhos em casa. Ele sempre se esquece ora da carteira ora das chaves ora do telemóvel. Além destes três tipos de coordenação, geralmente se mencionam mais dois: coordenação explicativa e coordenação conclusiva. Coordenação explicativa A coordenação explicativa exprime o motivo de se ter realizado a proposição da oração anterior. Podem ser sindéticas ou assindéticas. Quando sindéticas, são introduzidas pelos conectores explicativos, pois, que, porque, porquanto que atribuem à oração o valor semântico de efeito, causado pela proposição da primeira oração coordenada. Não recebi o ordenado hoje, pois/porquanto não vou trabalhar amanhã. Não troces dele: (-) está apaixonado. Do ponto de vista semântico, estas orações coordenadas explicativas aproximam-se das orações adverbiais explicativas. Distinguem-se delas, contudo, pelas seguintes restricções sintácticas: · impossibilidade de ocorrerem em posição inicial: *Pois/porquanto não vou trabalhar amanhã, não recebi o ordenado hoje. · impossibilidade de haver duas coordenadas explicativas: *Não recebi o ordenado hoje, pois/porquanto não os vou ajudar amanhã e porquanto não vou trabalhar. · impossibilidade de colocação pré-verbal dos pronomes clíticos em orações finitas: *Não recebi o ordenado hoje, pois/porquanto não vou trabalhar amanhã e pois não os vou ajudar. Já as orações adverbiais explicativas podem encontrar-se em posição inicial, podem apresentar estruturas de coordenação e podem ter o pronome clítico na colocação pré-verbal, como mostram os seguintes casos: · possibilidade de ocorrerem em posição inicial: Como estava mau tempo, ficámos em casa. · possibilidade de haver duas coordenadas explicativas: Ficámos em casa porque estava mau tempo e, também, porque não nos apetecia sair. · possibilidade de colocação pré-verbal dos pronomes clíticos em orações finitas: Ficámos em casa porque estava mau tempo e, também, porque não nos apetecia sair. Já que te conheço, não me admira a tua actitude. Coordenação conclusiva Quando a segunda oração coordenada exprime conclusão ou consequência lógica da primeira proposição, fala-se da coordenação conclusiva. Os conectores conclusivos logo, pois, assim, portanto, por isso, por conseguinte, por consequência. atribuem à oração coordenada conclusiva o valor de conclusão, o qual se deprende da situação reportada pela outra oração. Este tipo de conectores aproximam-se de expressões adverbiais ou preposicionais que funcionam como adjuntos frásicos ou verbais com valor consecutivo ou resultativo. Destas diferem, contudo, pelo uso dos conectores. Nas orações subordinadas adverbiais consecutivas são usados outros conectores: de forma que, de modo que, de maneira que que não permitem a livre mobilidade no período.Compare-se os dois casos seguintes: Ele não conhece bem o caminho, pode, pois/ assim/ por conseguinte/ por consequência/ concomitantemente, enganar-se. (coordenação conclusiva) Ele não conhece bem o caminho, de modo que pode enganar-se facilmente. (subordinação resultativa) Polissemia das conjunções. Algumas conjunções podem, para além do seu valor por excelência (o valor básico) apresentar ainda outros significados que resultam essencialmente do contexto linguístico. Por exemplo, a conjunção e , para além do valor por excelência aditivo, adquire, contextualmente, os seguintes possíves significados: · s. conclusivo: A empresa declarou falência e as acções desceram 50% na Bolsa. · s. condicional: Não comes a sopa e eu não te levo ao cinema. · s. temporal de sequêncialidade: Cheguei a casa e fiz o jantar. · s. temporal de simultaneidade: A Joana estava a cantar e o Rui estava a tocar piano. · s. adversativo. Apresentei-lhe o projecto e ele recusou-o. A conjunção mas mostra, igualmente, uma semelhante diversificação interpretativa, também dependente do contexto linguístico. Assim, para além do valor por excelência, que é o adversativo, pode apresentar, também o valor aditivo, como mostra a seguinte frase: Eu gosto de chocolate mas o Rui gosta de bolachas. O mas pode apresentar ainda dois significados importantes: o focalizador que consiste em delimitar o foco contrastivo de uma acção através de mas+ser (conjugado na 3ª p.sg, cujo tempo coincido predicador), e o enfático, pelo que se destacam algumas propriedades do sujeito da proposição: Esta criança corre mas corre. (corre muito) (valor enfático) Edifício era alto mas alto (mas mesmo alto). (valor enfático) Ele vai mas é ao cinema não ao teatro (valor focalizado). Eu vou mas é embora. (valor focalizador) A criança estava mas era doente. (valor focalizador) Orações ou períodos interferentes As orações ou períodos interferentes apresentam um tipo particular de conexão em que uma frase acrescenta algum tipo de informação sobre outra oração independente ou sobre uma expressão nominal da outra oração, sem que, no entanto, as duas orações estejam sintacticamente dependentes. Este tipo de conexão chamamos suplementação. À oração que introduz o comentário chamamos suplemento e oração ou à expressão nominal dessa oração, sobre a qual incide o comentário veiculado pelo suplemento, chamamos âncora. Na linguagem escrita, estas construções separam-se por vírgulas, parénteses ou travessões: Veja-se o seguinte exemplo em que a construcção sublinhada é o suplemento e a não sublinhada, âncora: O Pedro, se não estou em erro, já não trabalha neste banco. A oração que contém esta suplementação, é denominada oração hospedeira (interferente ou intercalada, ou também parentéticas) e pode ser introduzida por uma conjunção. Um dos tipos das orações hospedeiras são as estruturas de enunciação, que poderiam ser caracterizadas como estruturas adverbiais periféricas, as quais não apresentam uma relação semântica directa entre os dois conteúdos proposicionais: Se bem me lembro, iam à praia todas as tardes. (suplementação) Se quisessem, iam (iriam) à praia todas as tardes. (subordinação) Como vemos, a relação de conectividade semântica e sintáctica existente entre elas, é muito fraca, o que ser reflecte, entre outros, também na independência temporal das duas orações. Este tipo de orações pode ter vários valores semânticos. Aos mais frequentes pertence o valor de comentário, final, condicional, concessiva ou conformativa, como ilustram os seguintes exemplos: Para ser sincero, não penso que esta equiúa seja amelhor. (final) Naquela altura, se bem me lembro, a casa da música ainda estava aberta. (condicional) Ao miúdo ocorreu a ideia de, sei lá porquê, roubar na loja o chocolate. (comentário) Segundo o jornal apurou, a principal razão da construção da linha ferroviária foi a de ligar a cidade ao litoral. (conformativo) Que eu saiba, não pedi registo de patente nem reivindiquei qualquer originalidade . (concessivo) Subordinação A relação de subordinação implica a ordenação hierárquica (hipotáctica) das frases. Ao contrário da parataxe, a hipotaxe é o relacionamento sintagmático de termos dependentes entre si. Na subordinação sempre há um termo subordinante (também chamado regente, determinado ou principal) e um termo subordinado (também chamado regido, determinante ou dependente). A relação hipotáctica pode ser oracional (suboracional) ou superoracional. São exemplos do primeiro caso as seguintes construcções cujos termos subordinados são sublinhados e, subordinantes, não: aluno estudioso, o aluno estuda, estudar gramática, gostar do filme, chegar à escola, etc. Dentro de um período, na subordinação superoracional, uma oração depende de outra. Assim, no exemplo seguinte: Espero que vocês sejam felizes. a oração iniciada pelo complementador é subordinada e a outra, principal. O período composto por subordinação é iniciado ou por por um complementor, por um pronome relativo ou por uma conjunção subordinativa. Assim, existem as orações: 1) substantivas ou completivas ou integrantes (iniciadas por uma conjunção integrante); 2) adjectivas ou relativas (iniciadas por um pronome relativo); 3) adverbiais ou circunstanciais (iniciadas por qualquer tipo de conjunção subordinativa, salvo a integrante). Na subordinação completiva ou integrante (chamadas substantivas de acordo com a tradição luso-brasileira), as orações subordinadas completam a informação veiculada por um verbo transitivo da oração principal. Estas orações constituem argumentos seleccionados e podem exercer a função de sujeito ou de complemento do predicador da oração principal. As orações subordinadas são, na maioria das vezes, introduzidas pelos complementadores. Na subordinação relativa (chamada, de acordo com a tradição luso-brasileira também adjectiva), a oração subordinada tem a função do modificador do núcleo nominal da oração principal. Na subordinação adverbial, chamada por alguns linguistas circunstanciais, as orações subordinadas são designadas orações subordinadas adverbiais, e desempenham a função de adjunto adverbial, não sendo seleccionados pelo predicador da oração subordinante. Constituem um argumento não seleccionado e podem apresentar diferentes valores semânticos, como o de tempo, de causa, de finalidade, de condição, de modo, entre muitos outros. Subordinação completiva A subordinação completiva (substantiva ou integrante) aproxima-se às expressões nominais (sintagmas nominais) que desempenham a mesma função sintáctica. Assim, na seguinte frase, o SN na função de objecto directo é substituível por uma oração completiva que, concomitantemente, desempenhará a mesma função sintáctica do objecto directo: O Pedro, no Dia das Piadas, inventou uma mentira. O Pedro, no Dia das Piadas, inventou que tinha mil euros na loteria. Nesta frase, o sintagma nominal, uma mentira e que tinha mil euros na loteria desempenham a mesma função do objecto directo. As orações completivas são seleccionadas pelo predicador da oração subordinante, cujo núcleo pode ser verbal, adjectival ou nominal. Consequentemente, a complementação denomina-se complementação nominal (ter a ideia de que + F^-) e complementação adjectival (ser capaz de+F^-) e complementação verbal (prometer que + F^-). As orações completivas podem ser finitas, caso o verbo conjugado ocorra nos modos indicativo ou conjuntivo, ou não finitas, caso o verbo ocorra no infinitivo flexionado ou não flexionado. Classificação das orações completivas de acordo com a função sintáctica De acordo com a função sintáctica da oração completiva, estas classificam-se em: subjectivas, objectivas (directas, indirectas, objectivas oblíquas), predicativas, apositivas e com a função de agente da passiva. Orações completivas de sujeito As orações completivas de sujeito (tradicionalmente denominadas subjectivas) exercem a função de sujeito e podem ser substituídas ou por um sintagma nominal na mesma função, ou por um pronome demonstrativo invariável (isso, isto, aquilo), mas nunca por um pronome pessoal clítico, como mostram as seguintes frases: É claro que não tenho medo. É claro isso. ou Isso é claro. *É claro-o. As orações completivas subjectivas podem ocorrer em posição pré-verbal ou pós-verbal. No primeiro caso, as orações comportam-se como ilhas fortes e ocorrem tipicamente quando são seleccionadas por verbos inferenciais e causativos, como: demonstrar, ilustrar, indicar, mostrar, reflectir, revelar, significar, sugerir, entre outros com um sentido semelhante. Veja-se o seguinte exemplo e o seu respectivo diagrama: Que haja desinteresse, reflecte o não envolvimento de todos neste projecto. F^+ SN SV conj F^- V SN Que haja desinteresse, reflecte o não envolvimento de todos neste projecto. sujeito predicado objecto directo A posição pré-verbal nestas construcções reflecte a ordem típica de palavras na oração, que, normalmente, é iniciada pelo sujeito, seguido de predicado e complemento directo. Este exemplos citados são substituíveis pelo sintagma nominal com o núcleo nominal facto como exemplifica o seguinte par de frases: O facto de que tenham aparecido tantas pessoas na manifestação, indica o grau do descontentemento dos trabalhadores. Que tenham aparecido tantas pessoas na manifestação, indica o grau do descontentemento dos trabalhadores. Às orações completivas de sujeito na posição pré-verbal pertencem, de acordo com a sintaxe luso-brasileira, também as que são introduzidas pelo pronome relativo quem como ilustra o seguinte exemplo. Quem canta, seus males espanta. Quem sabe, não esquece. A sintaxe portuguesa, contudo, considera estas frases como relativas com antecedente não expresso (ver mais adiante: orações relativas livres). As orações completivas de sujeito, predominantemente se encontram na posição pós- verbal, funcionando como ilhas fracas. Esta posição pós-verbal, contudo, não reflecte a posição canónica do sintagma nominal na mesma função. Veja-se os seguinte exemplo e o seu esquema gráfico: É possível que o João não venha à festa. É verdade que o João está doente. F^+ SV SN V conj F^- É possível que o João não venha à festa. É verdade que o João está doente. predicado sujeito Para identificar a função de sujeito das frases completivas, é possível aplicar os mesmos testes de controle que existem para a identificação da função do sintagma nominal. Didaticamente, podem ser utilizadas as perguntas: Quem é que...? ou O que é que.....? A resposta a esta pergunta será o sujeito. Assim, no período: É possível que o João não venha à festa. identificaremos a oração completiva de sujeito ao responder à pergunta O que é que é possível?, obtendo a resposta em que se abona a função de sujeito: que o João não venha à festa. Orações completivas de objecto directo As orações completivas de objecto directo, denominadas tradicionalmente objectivas, são sempre seleccionadas por verbos transitivos e podem ser substituídas por um pronome demonstrativo neutro isso em posição pós-verbal ou pelo pronome clítico acusativo –o. O João sabe que estamos à espera dele. O João sabe isso. O João sabe-o. Em geral, estas orações completivas são seleccionadas por verbos transitivos directos ou ditransitivos, ocorrendo, consequentemente, em posição pós-verbal, como mostra o seguinte esquema gráfico: F^+ SN SV D N V SN conj F^- O João sabe que estamos à espera dele. sujeito predicado objecto directo Muito esporadicamente estas orações podem ocorrer também em posição pré-verbal. Estas construcções têm um valor enfático, estilisticamente marcado, sendo pouco habitual na linguagem corrente. A sua posição atípica pode levar a confundir a sua função de objecto com a de sujeito. Que ela fez o exame, todos sabemos. As orações completivas são, tipicamente, introduzidas por um complementador que, como ilustram os casos acima mencionados. Ao mesmo tempo, quando são seleccionados por verbos de inquirição (investigar, perguntar), verbos declarativos (dizer, decidir) ou epistémicos (saber), podem igualmente ser introduzidas pelo complementador se: O teste de sangue vai mostrar se o condutor conduziu sob o efeito do álcool. A Irene pergunta se pode trazer os filhos para a festa. A polícia ignora se o condutor se adormeceu ao conduzir o autocarro. Algumas orações completivas de objecto directo podem ser introduzidas por conjunções adverbiais ou pronomes indefinidos: quando, como, qual, de onde, etc: Estas orações, contudo, são interpretadas como relativas livres, de acordo com a sintaxe portuguesa (ver o capítulo de Orações relativas). Sei como ele perdeu a vida. vs. Sei-o. Detesto (a) quem mente. vs. Detesto-o. Perguntou-me quando foi isso. vs. Perguntou-mo. Nalguns casos, quando a oração completiva está no modo conjuntivo, ocorre a supressão do complementador. Este uso verifica-se, quase exclusivamente, na escrita, sobretudo em correspondências formal (linguagem comercial, jurídica, etc), como ilustram os seguintes casos: Requeiro (-) seja enviado o Processo a outra instância. Solicito (-) me seja enviado o parecer por correio. Para além da supressão, verifica-se, curiosamente, na linguagem coloquial, o fenómeno de reduplicação do complementador na oração subordinada, que consiste na repetição do complementador que à direita do sujeito da oração subordinada ou à direita de uma expressão adverbial. Eu acho que ele que não tem um grande queda para estudar. Acho que uma pessoa que deve desfrutar da vida Estavam convencidos de que lá fora que se vivia melhor. Telefonou que hoje que os preços são melhores. Orações completivas de objecto indirecto As orações completivas de objecto indirecto, denominadas orações substantivas objectivas indirectas segundo a terminologia tradicional, são incluídas, pela sintaxe portuguesa, entre as orações relativas livres, já que contêm um pronome relativo. Estas orações são seleccionadas por verbos transitivos indirectos e podem ser substituídas por um pronome clítico dativo me, te, lhe, nos, vos, lhes. Canonicamente, estas orações, tal como o seu sintagma nominal homólogo, encontram-se em posição pós-verbal. O livro foi enviado a quem o tinha pedido. Pagou a quem ele tinha prometido. F^+ SN SV D N V SN F^- O livro foi enviado a quem o tinha pedido. sujeito predicado objecto indirecto Orações completivas oblíquas As orações completivas oblíquas são intepretadas, de acordo com a tradição luso-brasileira, como orações completivas indirectas, não sendo tomada em conta a diversificação das construções prepositivas. São introduzidas por uma presosição (salvo a e para), regida pelo verbo da oração principal e a conjunção que. F^+ SN SV D N V SNp P conj F^- sujeito predicado objecto oblíquo Estas orações podem ser substituídas pelas forma tônicas de um pronome demonstrativo neutro (isso, isto, aquilo) que é a única que é compatível com as preposições. Nunca podem ser substituídas por um pronome clítico dativo ou acusativo, como ilustram os seguintes exemplos: O João concordou com que a Maria o acompanhe. O João concordou com isso. *O João concordou-o. Entre as preposições que introduzem orações completivas oblíquas, pertencem, entre outras, as seguintes: · preposição a: regida pelos verbos acostumar-se , arriscar-se, aspirar, atender, conduzir, dever-se, habituar-se, inclinar-se, , levar, opor-se, resistir, tender; · preposição com: concordar, conformar-se, contar, contentar-se, fazer; · preposição de: aperceber-se, arrepender-se, discordar, duvidar, envergonhar-se, esquecer-se, gostar, lembrar-se, precisar, queixar-se, recordar-se; · preposição em: acreditar, apoiar-se, assentar, basear-se, confiar, insistir, consistir, reisidir, estar interessado; · preposição por: ansiar, bater-se, esforçar-se. Em contextos muito exactos, as preposições podem ser, facultativamente, suprimidas. Muito frequentemente é omitida a preposição de, como ilustram os seguintes casos: Portas discorda que a direcção do partido dê liberdade de voto aos militantes . Passados 11 anos, convenceu-se que viverá muitos mais . Mas o treinador do FC Porto concorda que a sua equipa «não fez nada para ganhar» . Este fenómeno de supressão pode ser explicado pelo facto de que a preposição de tem um contributo semântico muito reduzido na oração, e, na maioria dos contextos é practicamente desprovida do significado. No caso de outras preposições, cujo valor semântico é significativo, estas não se suprimem, com a excepção de alguns casos muito limitados, como são os seguintes: insistir, confiar, ansiar. Este fenômeno é chamado queísmo e é facultativo: O árbitro insistiu (em) que o jogo prosseguisse . Confio (em) que a morte não acontece. Anseiam (por) que o novo treinador consiga transformar as pérdidas da equipa em vitórias; Por outro lado, na linguagem falada, observa-se com alguma frequência a ocorrência de uma preposição que antecede a oração completiva oblíqua. Uma vez que a preposição desnecessariamente presente é, geralmente, a preposição de, este fenômeno é denominado dequeísmo. Contudo, o dequeísmo pode afectar também outras preposições e a sua ocorrência pode ser explicada pelo seu uso no sintagma preposicional: *Penso de que o árbitro favoreceu os nosso adversários. Penso na arbitragem do jogo de ontem. *Acredito de que os eleitores confiarão em nós. Acredito numa nova victória eleitoral. Ao mesmo tempo existem restrições no que respeita às possibilidades combinatórias dos verbos regidos por uma preposição que seleccionam frases completivas interrogativas introduzidas por uma preposição. Nestes casos, a preposição do verbo é suprimida. *Ele não se lembra de a que horas chega. Ele não se lembra (-) a que horas chega. Caso estas orações não sejam introduzidas por uma preposição, a preposição pode ser facultativamente utilizada: Não me lembro (de) onde pus os óculos. Não me informaram (de) quantas pessoas vêm. Orações completivas predicativa, apositiva e de agente da passiva As orações completivas ainda podem desempenhar a função predicativa, apositiva e a de agente da passiva, como exemplificam as seguintes construcções: Quem mais reclama é quem menos sabe. (função predicativa) Ele me disse apenas isto: não me aborreça! (função apositiva) Este trabalho foi escrito por quem entende esta matéria. (função de ag.da passiva) A primeira e a terceira frase, contudo, são interpretadas como orações relativas livres com antecedente não expresso, uma vez que contêm o pronome relativo quem. Modo nas orações completivas A selecção do modo nas orações completivas prende-se, directamente, com o estatuto sintáctico das orações. A modalidade de dicto (da oração subordinante), dicta, tipicamente, a modalidade de ré (da oração subordinada). Como a relação de modalidade existente entre as unidades oracionais do mesmo período é directa, os romanistas checos atribuíram-lhe o nome de períodos directamente modais. Existem vários tipos de modalidades definidos pela teoria linguística contemporânea: uns implicam crença, capacidades e necessidades internas dos indivídios, outros implicam obrigação e permissão ou volição. Em todas esta áreas, manifesta-se, como elemento organizador, a dicotomia de dois mundos: possível / hipotético x factual / real. Assim, existem quatro tipos de modalidade básicos. 1. O primeiro valor modal indicado designa-se como modalidade epistémica, o qual se prende com diferentes graus de certeza ou com a avaliação de probabilidade acerca do conteúdo proposicional da frase. Neste pode exprimir-se certeza, ou possibilidade, probabibilidade, dúvida: Creio que o Deus existe. É provável que o Deus exista. É possível que o Deus exista. O Pedro duvida que o Deus exista. 2. O segundo valor modal depreende-se da capacidade ou necessidade interna, psicológica ou física, do sujeito de realizar alguma acção e pode ser expresso pelos verbos seguintes: saber, ser capaz, precisar, necessitar: “Ela é capaz de estudar toda a matéria num único dia.” 3. O terceiro valor modal é chamado modalidade deôntica e implica um acto de permissão ou autorização, e de imposição de uma obrigação: “Tens de me dizer a verdade.” “A professora permitiu aos alunos que fizessem um intervalo.”. 4. O quarto valor modal é designado como modalidade desiderativa, e tem a ver com a expressão de volição ou do desejo, como mostram os seguintes exemplos: “Eu quero passar as férias no Algarve.” ou “Espero que estejas bem”. A modalidade pod ser realizada por verbos auxiliares modais (dever, poder, ter que, haver de, desejar, querer, esperar, etc), por adjectivos modais na posição predicativa (obrigatório, permitido, enceessário, possível, provável, proibido, bom, desejável, etc.), por advérbios modais, como possivelmente, talvez, eventualmente, dificilmente, certamente, obrigatoriamente, inveitavelmente, oxalá, desejavelmente, etc.) e também, por modos verbais. MODOS VERBAIS Os modos do português são o imperativo, o conjuntivo e o indicativo. O condicional (futuro do passado) e o futuro (futuro do presente) do indicativo também podem veicular certos valores modais epistémicos (de probabilidade, sobretudo). Em orações completivas finitas podem ocorrer os modos do indicativo e do conjuntivo. O seu é restringido, no período, às regras de compatibilidade modo-temporal. INDICATIVO O modo de indicativo veicula os valores de modalidade epistémica positiva, podendo ocorrer nas orações completivas seleccionadas pelos predicadores nominais, verbais e e adjectivais que incluem: · modalidade epistémica expressa pelos verbos “de actividade mental”, como aceitar, achar, acreditar, calcular, compreender, considerar, certificar, crer, descobrir, entender, fingir, ignorar, imaginar, pensar, prever, reconhecer, saber e supor. Ex: Ele sabe que a Ana mora em Lisboa. · expressões declarativas, por exemplo acrescentar, admitir, afirmar, alegar, assegurar, assumir, concluir, concordar, confessar, criticar, declarar, decidir, dizer, insinuar, jurar, negar, observar, pedir, pregar, proclamar, prometer, entre outros: Ex: Prometo que te vou visitar amanhã. O Paulo negou que foi visitar a mãe. · expressões que introduzem um cenário imaginário: fingir, imaginar, sonhar, supor, entre outros: Ex: Ele sonhou que estava de férias. · expressões de crença: crer, acreditar, ter a certeza, concluir, tirar a conclusão, confiar, convencer, verificar, ser verdade, ser certo, ser claro, ser evidente, ser lógico, ser óbvio, entre outros: Ex: Tenho a certeza de que está em casa. Consecutio temporum – dependência temporal Existem, em português, normas de correlação, de correspondência modo-temporal ou, (em latim, “consecutio temporum”). Normalmente, numa oração composta por subordinação completiva, estabelece-se uma relação modal directa ou paralela entre a modalidade da oração principal, cujo verbo se encontra, tipicamente, no modo indicativo, e o modo verbal do predicador da oração subordinada, que pode ocorrer no indicativo ou no conjuntivo, sempre respeitando as regras de dependência modo-temporal e de transposição temporal que ocorre no discurso relatado. Discurso relatado – nas completivas com indicativo A localização ou ordenação temporal do discurso relatado ou indirecto caracteriza-se pela reprodução de enunciados já produzidos pelo locutor. Por meio de um discurso indirecto relata-se um discurso directo (uma pergunta, uma resposta, um diálogo, etc.). O discurso indirecto consiste na transmissão diferida de palavras geralmente anteriormente pronunciadas. O autor do discurso indirecto incorpora no seu próprio discurso frases suas ou de um outro locutor, construindo orações subordinadas e alterando a forma como foram inicialmente proferidas. No plano formal, na escrita, o discurso directo é marcado pelos dois pontos, pelo travessão, pela mudança de linha, pelo uso de exclamações, interrogações, interjeições, vocativos e imperativos, e pelo uso da 1.ª e da 2.ª pessoa do discurso. No discurso indirecto ocorre o relato do que foi dito, respeitando-se o conteúdo, mas alterando-se a forma. Essa reprodução é afectada por uma modalização, a qual pode variar desde a reprodução mais neutra, através dos verbos: dizer, telefonar, avisar, afirmar, (por.ex. A Ana disse que ia ao cinema) até uma interpretação avaliativa mais forte, expressa pelos verbos de modalidade deôntica, desiderativa ou de necessidade interna. O discurso indireto implica também uma transposição ao nível da dêixis pessoal, temporal e espacial. Seguem-se alguns exemplos desta transposição: · Os pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos na 1.ª e 2.ª pessoas gramaticais no discurso directo passam para a 3.ª pessoa no discurso indirecto. Ex: Discurso directo: Ela perguntou: Quer comprar alguma coisa? Discurso indirecto: Ela perguntou se queria compar alguma coisa. · Dependência temporal – consecutio temporum: Quando os verbos da oração subordinante do discurso indirecto são em qualquer tempo de pretérito (salvo o pretérito perfeito composto), as dependências temporais afectam gramaticalmente os predicadores da frase completiva do seguinte modo: a) Os verbos no Presente no discurso directo passam a Pretérito Imperfeito no discurso indirecto: Discurso directo: A dona Ana está em casa? - perguntou o Roger. Discurso indirecto: O Roger perguntou se a dona Ana estava em casa. b) Os verbos no Pretérito Perfeito no discurso directo passam a Pretérito Mais-que- Perfeito no discurso indirecto: Discurso directo: A Teresa foi jogar ténis. - disse a Maria. Discurso indirecto: A Maria disse que a Teresa tinha ido (fora) jogar ténis. c) Os verbos no Futuro do presente no discurso directo passam para o tempo Futuro do Passado (Condicional) no discurso indirecto: Discurso directo: Onde irão passar as férias? perguntou ela. Discurso indirecto: Ela perguntou onde iríamos passar as férias. · Os demonstrativos este, esta, isto, esse, essa, isso, isto passam a aquele, aquela: Discurso directo: Comprei este livro.- disse o Roger. Discurso indirecto: O Roger disse se que tinha comprado aquele livro. · Os vocativos desaparecem ou passam a ter a função de complemento indirecto da oração subordinante: Discurso directo: Dona Ana, onde pus os óculos? perguntou o Roger. Discurso indirecto: O Roger perguntou à dona Ana onde tinha posto os óculos. · Os advérbios de lugar aqui, cá no discurso direto passam a assumir no discurso indirecto as formas: ali ali, além, acolá, lá: Discurso directo: Mãe, deixo-te aqui o dinheiro. - disse o Roger. Discurso indirecto: O Roger disse à mãe que lhe deixava ali o dinheiro. · advérbios de tempo agora, já, imediatamente, hoje, ontem, na véspera, amanhã, logo no discurso directo passam a então, naquele momento, logo, naquele dia, no dia anterior, no dia seguinte, depois: Discurso directo: Ontem fui ao teatro.- disse o Cleberson. Discurso indirecto: O Cleberson disse que no dia anterior tinha ido (fora) ao teatro. É de notar que estas transposições gramaticais se prendem com o facto de o conteúdo proposicional da frase subordinada ser reproduzido num momento anterior ao momento de enunciação. Não obstante, muitas vezes, estas transposições não são aplicadas absolutamente, havendo determinadas restricções semântico-temporais. Do ponto de vista da relação temporal da frase principal e subordinada com o momento presente, temos que distinguir quatro tipos discursivos: 1. No primeiro tipo, o predicador da frase F^1 que selecciona a oração completiva F^2^ (a qual ora exprime simultaneidade F[s], ora posterioride F[p], ora anterioridade F[a], relativamente à frase subordinante F^1) está temporalmente localizado fora do momento de enunciação P (presente). Neste caso, realizam-se todas as transposições gramaticais acima referidas. São exemplos desta primeira situação todos os casos acima citados. __________F^1_______ ________P_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 2. Já na segunda situação, o predicador da F^1 que selecciona a oração completiva F^2 (F[a]^2, F[s]^2 , F[p]^2 ) está temporalmente localizado dentro do momento de enunciação P (presente), apesar de conter o verbo no tempo pretérito. Este, contudo, pode parcialmente fazer parte do momento presente (ou da sua parte imediatamente anterior). Neste caso, não se realizam nenhumas transposições gramaticais acima referidas. __________F^1=P_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 Ela disse (agora mesmo) que às dez horas vamos sair. Ela perguntou (agora mesmo) se encontrámos a Maria. Ele acabou de dizer (agora mesmo) que foi buscar o Pedrinho à escolinha. 3. São exemplos do terceiro caso frases que contêm verdades universais (frases gnómicas) que não são afectadas pelas dependências temporais, não se tendo em conta o momento de reprodução nem a relação da preposição da oração principal com o momento presente: __________F^1_______ ________P= F^1_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 Ele disse que Galileu descobriu que a Terra é redonda. O Pedrinho disse que a Terra gira em torno o Sol. 1. No terceiro tipo, as proposições das frases F[a]^2 , F[s]^2, F[p]^2 se sobrepõem ao momento presente apesar de terem sido reproduzidas num momento anterior ao momento presente. ^. ________ ______________P= F^1_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 Ela disse (há dois meses) que no próximo ano vai trabalhar para a Austrália. Ela estava a dizer há um bocado que este ano tirará um curso de lingua portuguesa. A Guida acabou de dizer que este ano comprou um carro novo. Outro tipo do discurso relatado é o discurso indirecto livre, em que a voz do narrador e a voz do/da personagem se confundem, sendo uma espécie de intersecção entre o discurso directo e o discurso indirecto. Trata-se de um enunciado livre de subordinação sintáctica, que não possui as conjunções integrantes típicas do discurso indireto, o que permite aproximá-lo do discurso directo. Estas construcções apresentam transposições ao nível da dêixis pessoal, temporal e espacial que são típicas do discurso indireto, como mostra o seguinte exemplo: Agora era tarde, pensou. Partia amanhã e não conseguira desfazer o equívoco. Quando voltasse, na próxima semana, teria uma parte a comunicar-lhe que prescindiam dos seus serviços. Estas operações enunciativas são tratadas no quadro da análise do discurso, especificamente à luz do conceito de polifonia. Consecutio temporum nas orações com conjuntivo O modo conjuntivo, por outro lado, é seleccionado por predicadores verbais, noninais e adjectivais que incluem: · expressões volitivas, factivas e causativas, como, por exemplo: desejar, esperar, preferir, pretender, querer, recusar, tencionar e tentar: Ex: Desejo/ prefiro/ quero/ que me leves de carro para o trabalho. · expressões com um sentido directivo ou declarativo de ordem: exigir, mandar, pedir, sugerir, mandar um pedido, mandar uma sugestão; Ex: Ele disse que entrasses logo. · expressões avaliativas que implicam uma atitude do falante perante um dado estado de coisas: aborrecer, angustiar, animar, censurar, comover, criticar, culpabilizar, deplorar, desagradar, desculpar, desgostar, desinteressar, detestar, emocionar, entristecer, evitar, gostar, humilhar, impressionar, incomodar, lamentar, maçar, ofender, perdoar, perturbar, preocupar, reprovar, sagradar, seduzir, suportar, surpreender, achar bem, achar mal, ser insoportável, lamentável, triste, entre outros: Ex: Lamento/é triste/acho mal/... que o João tenha decidido sair do país. · verbos de asserção mental quando têm algum negador – não achar, não estar certo de, descobrir, não ter a certeza de , não prometer, etc.. Ex.: Não acho que o filho esteja preocupado com os trabalhos de casa. · expressões que exprimem dúvida: Ex.:Duvido que tenha razão. · expressões associadas ao domínio do incerto ou do hipotético: ser provável, ser possível. Ex.: É possível que tenha mentido. É provável que tenhamos que pagar uma multa. Há predicadores associados à expressão de valores de crença que não têm um comportamento homogêneo, admitindo quer o indicativo quer o conjuntivo na oração completiva. É o caso dos verbos como acreditar, imaginar, crer que seleccionam, tipicamente, o indicativo na coração completiva, mas que podem remeter para o domínio de hipótese, certeza não absoluta ou suspeita. Neste caso, são classificados como verbos pseudoassertivos. Assim, o indicativo indica um elevador grau de certeza, enquanto que o conjuntivo indica uma reduzida confiança na veracidade da proposição expressa, como ilustram os seguntes exemplo: A polícia pensa que a testemunha mentiu. (elevado grau de certeza) A polícia pensa que a testemunha mentisse/tenha mentido. (reduzido grau de certeza) Consecutio temporum nas orações completivas com conjuntivo Nas orações completivas com conjuntivo, há dois factores mais importantes que determinarão o tempo gramatical verbal do predicador da oração completiva: · o tempo em que se encontra o predicador da oração principal F^1. · a relação temporal que existe entre a oração principal e a subordinada. Esta pode ser de três tipos: simultaneidade, posterioridade e anterioridade. Dividimos este tipo de períodos em dois tipos como mostra o seguinte quadro: oração F^1 oração F^2 finita subordinante modo: indicativo imperativo subordinada modo: conjuntivo 1 presente do indicativo futuro do presente imperativo pretérito p. composto 1A relação temporal entre F^1 F^2: simultaneidade ou posterioridade ^ conjuntivo do presente 1B relação temporal entre F^1 F^2: anterioridade^ conjuntivo do pretérito conjuntivo do imperfeito 2 tempos pretéritos (salvo PPC) futuro do passado (condicional) 2A relação temporal entre F^1 F^2: simultaneidade ou posterioridade ^ conjuntivo do imperfeito 2B relação temporal entre F^1 F^2: anterioridade Conjuntivo do mais que perfeito No primeiro tipo deste período (1A e 1B), podem ocorrer dois modos na oração principal indicativo (no presente ou futuro) e imperativo. O predicador da oração subordinada, de acordo com a relação temporal entre as duas frases, ou ocorre no conjuntivo do presente (que exprime a relação temporal de simultaneidade ou de posterioridade) ou no conjuntivo do pretérito ou do imperfeito (ambos exprimem anterioridade), sendo o conjuntivo do imperfeito estilisticamente marcado no sentido de enfatizar o valor modal do predicador da oração principal. Lamento que não possas vir à festa. (tipo: 1A) Lamento que não tenhas podido/pudesses vir à festa. (tipo 1B). Não se pode confundir o caso de 1A com 1 B sob pena de desinterpretação temporal. Enquanto a proposição da frase 1A é temporalmente localizada no momento presente, eventualmente posterior ao momento de enunciação, a proposição da frase 1B é localizada no momento anterior ao momento de enunciação, como mostram os seguintes diágramas: Tipo 1A __________________________F^1= Presente (Lamento)______________ F[simultâneo]^2 F[posterior]^2 (que não possas vir à festa.) Tipo 1B __________________________F^1=Presente (Lamento)_______ F[anterior]^2 (que não tenhas podido/pudesses vir à festa). No segundo tipo (2A e 2B), o predicador da oração principal ocorre no pretérito do indicativo ou no futuro passado (condicional), sendo a predicador da oração subordinada utilizado, de acordo com a relação temporal entre as duas frases, no conjuntivo do imperfeito (que, neste tipo de período, exprime a relação temporal de simultaneidade ou de posterioridade) ou no conjuntivo do pretérito perfeito composto (que exprime a relação temporal de anterioridade). Lamentava que não pudesse vir à festa. (tipo: 2A) Lementava que não tivesse podido vir à festa. (tipo 2B). Não se pode confundir o caso de 2A com 2B. Enquanto a proposição da frase 2A é temporalmente localizada no momento paralelo, eventualmente, posterior ao do predicador da oração principal, a proposição da frase 2B é localizada no momento anterior ao do predicador da frase principal. Contrariamente aos casos de 1A e 1B, contudo, a proposição da oração principal é localizada fora do momento presente, como mostram os seguintes esquemas: Tipo 2A ^________________________ F^1=(Lamentava) ^___ _____________________Presente F[simultâneo]^2 F[posterior]^2 (que não pudesses vir à festa.) Tipo 2B ^_______________________________ F^1=(Lamentava) ^ _______________Presente F[anterior]^2 (que não tivesse vindo à festa). É de relçar que a interpretação temporal do conjuntivo do imperfeito é polivalente: em 1B, o conjuntivo do imperfeito exprime a relação temporal de anterioridade, enquanto que em 2A, exprime a relação temporal de simultaneidade, eventualmente, posterioridade: Tipo 1B __________________________F^1=Presente (Lamento)_______ F[anterior]^2 (que não pudesses vir à festa). Tipo 2A ^________________________ F^1=(Lamentava) ^___ _____________________Presente F[simultâneo]^2 F[posterior]^2 (que não pudesses vir à festa.) Neste tipo de períodos resultam agramaticais quaisquer combinações dos tempos do conjuntivo fora deste quadro de compatibilidade temporal: *Lamento que não tivesses podido vir à festa. *Lamentava que não possas vir à festa. *Lamentava que não tenhas podido vir à festa. Orações completivas não finitas No que respeita à sua forma, as orações completivas podem ser também reduzidas por infinitivo flexionado ou não flexionado, tanto na forma simples como composta. O infinitivo simples em ambos os tipos (tanto flexionado como não flexionado) exprime a relação temporal de simultaneidade ou posterioridade, enquanto o infinitivo composto sempre exprime a relação temporal de anterioridade. O infinitivo pode substituir o verbo finito tanto no modo indicativo como no modo conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro de compatibilidade temporal. O factor mais decisivo, neste caso, não é o tempo do predicador da oração principal, como no caso das orações completivas finitas, mas sim, a relação temporal que existe entre F^1 e F^2. oração F^1 oração F^2 finita subordinante subordinada A relação temporal entre F^1 e F^2: simultaneidade ou posterioridade ^ = infinitivo simples B relação temporal entre F^1 e F^2: anterioridade ^= infinitivo composto De acordo com este quadro mencionamos os seguintes exemplos de redução: Caso A: simultaneidade/posterioridade O João garante que tem/vai ter dinheiro para pagar as dívidas. O João garante ter dinheiro para pagar as dívidas. Lamento que as crianças estejam cansadas. Lamento (-) as crianças estarem cansadas. Lamentava que as crianças estivessem cansadas Lamentava (-) as crianças estarem cansadas. Caso B: anterioridade: O João garantiu/garante que tivera/tinha dinheiro para pagar as dívidas. O João garantiu/garante (-) ter tido dinheiro para pagar as dívidas. Lamentava que as crianças tivessem feito tanto barulho. Lamentava as crianças (-) terem feito tanto barulho. As orações reduzidas de infinitivo flexionado ou não flexionado, podem desempenhar várias funções na oração subordinante, de igual modo como as orações finitas. Quando o sujeito das orações subordinada e subordinante são correferentes, ou quando a oração subordinante tem um predicador impessoal, utiliza-se o infinitivo não flexionado. Quando os dois sujeitos remetem, cada um, para um referente diferente, utiliza-se o infinitivo flexionado. Apresentam-se estas funções, de uma forma sucinta, a seguir, dando um exemplo com o infinitivo flexionado e um com o infinitivo não flexionado: · sujeito: Agrada-me ver-te feliz./ Aconteceu a Maria fazer anos naquele dia. · complemento directo: Afirmou ter agido correctamente./Afirmou ele ter agido mal. · complemento oblíquo. Convenceu-me a estudar./ Concordei em fazermos tudo juntos. · complemento nominal: Tinha a ideia de convidar o João para o jantar./ Tinha a ideia de convidarmos o João para a festa. · complemento adjectival: Ficaram orgulhosos de ganhar o prémio./ Fiquei orgulhosa de o meu fiho ganhar o prémio. · predicativo do sujeito[4]: As crianças saíram a chorar. O nosso desejo é tu estudares mais. · predicativo do complemento directo[5]: Vi o professor a beber cerveja. Encontrei-os a fumar. As construções infinitivas podem ser, também, nominalizadas, como se vê no seguinte exemplo: O ele ter tanto deveres, preocupa-me imenso. O Carlos nunca me perdoou eu ter mentido. Tempo dependente e tempo independente Embora uso do infinitivo flexionado, em muitos casos, seja facultativo, não pode ocorrer livremente em todas as construcções. Um dos factore decisivos é, também, o estatuto temporal da frase subordinada. Há orações completivas temporalmente dependentes e completivas temporalmente independentes do tempo da frase subordinante. No primeiro dos casos, as duas orações (principal e subordinada) formam um domínio semanticamente temporalizado. A oração subordinada tem um tempo dependente da subordinante, facto pelo que o uso do infinitivo se limita ao uso do infinitivo não flexionado: O João quis ir com a Maria ao cinema. Já no segundo caso, o uso do infinitivo flexionado não apresenta nenhumas restrições deste género, uma vez que não constitui um domínio semanticamente temporalizado, tendo tempo independente. Assim são possíveis construções como: O João afirma a Maria ter ido com ele ao cinema. Outro factor que interfere na selecção do infinitivo da completiva, é o factor estilístico. De facto, mesmo na caso de a oração subordinada ter um tempo independente, nem sempre os locutores optam pela oração não finita. Pelos vistos, há diferenças estilísticas que se prendem com o uso facultativo e intuitivo de cada falante nativo português. Prévios estudos que fizemos sinalizam um comportamento heterogêneo no que respeita às preferências individuais. Alguns falantes consideram o uso do infinitivo flexionado mais frequente mas menos correcto na linguagem. Ordem de palavras nas completivas com infinitivo flexionado Nas orações completivas com infinitivo flexionado, nem sempre é possível manter a ordem canónica do sujeito – predicado – complemento. Um dos factores decisivos que interferem na organização frásica é a função sintáctica das completivas. O sujeito das orações completivas pode ocorrer em posição pré-verbal quando desempenha as seguintes funções sintácticas ; · de sujeito: Surpreendeu-me os miúdos terem feito todos os trabalhos de casa. · de objecto directo (sendo seleccionadas por verbos factivos avaliativos): O professor criticou os alunos não terem feito todos os trabalhos de casa. · de complemento oblíquo: Estou feliz por os meus filhos terem passado nos exames. Pelo contrário, o sujeito das completivas ocorre em posição pós-verbal, quando as completivas são seleccionadas por verbos epistémicos e declarativos. Nestes casos, a ordem canónica não é admitida e o sujeito ocorre imediatamente a seguir o verbo: Eu penso ir a Maria ao cinema hoje. O júri anunciou não preencherem três candidatos as condições legalmente fixadas. Orações relativas As orações adjectivas, denominadas de acordo com a terminologia actual como relativas, são orações subordinadas tradicionalmente introduzidas pelos seguintes consituintes relativos: os pronomes relativos: que, o que, quem, o qual, cujo, quanto. Na oração subordinante substituem um modificador de uma expressão nominal antecedente, como mostra o seguinte esquema que têm o antecedente explícito: F+ SN SV D N + pr.relativo F- V + Pr A notícia ← que me disseste agradou-me. sujeito + oração relativa + predicado As orações relativas com antecedente nominal explícito são de dois tipos: restritivas (determinativas) e explicativas (apositivas ou não restritivas). Orações relativas restritivas ou determinativas contribuem para a construção do valor referencial da expressão nominal, restringindo o domínio dos possíveis referentes só àquele que condiz com as propriedades descritas na frase relativa, como mostra o seguinte exemplo: O chapéu que estava no armário desapareceu. Neste exemplo a informação implicitamente veiculada é que de todos os chapéus desapareceu foi só aquele que estava no armário.Não se podem confundir as orações relativas com as orações completivas. As orações subordinadas relativas restringem o domínio de referência da expressão nominal antecedente, enquanto que as orações completivas integram o sentido do predicador da oração [DEL: :DEL] subordinante, sendo imprescindíveis para a boa formação semântica da frase. A ideia que me descreveste é interessante (oração relativa). A ideia de organizares o festival Dias da Cultura Portuguesa, agradou-me. (oração completiva) As orações apositivas ou explicativas exprimem um comentário do locutor acerca de uma entidade denotada pelo seu antecedente. Ao contrário das orações relativas, não restringem referencialmente o sintagma nominal, mas têm um carácter parentético, dado na oralidade por pausas e na escrita por vírgulas. Pelo seu carácter, aproximam-se das orações coordenadas parentéticas, mas diferem delas pela pela presença do constituinte relativo (que, o qual, quem). Lisboa, que é a capital de Portugal, é uma cidade onde a “África” começa. Dentro deste tipo de orações encontram-se as que são introduzidas pela locução pronominal relativa o que. Estas frases são relativamente independentes e podem ser separadas no texto. A peça teatral de ontem começou tarde, o que desagradou ao público. A peça teatral de ontem começou tarde. Isso desagradou ao público. Um tipo especial das orações relativas livres são as orações relativas introduzidas pelos pronomes relativas quem e o que e pelas pró- formas relativas, onde, como e quando, de natureza adverbial, que veiculam valores semânticos particulares de lugar, modo e tempo e são utilizadas como paráfrase de a pessoa que, coisa que, lugar em que, o tempo que, a maneira que. O antecedente destas pró-formas relativas está, portanto, implícito, mas foneticamente não representado. Eu elogio alguém que ajuda os pobres na miséria Eu elogio quem ajuda os pobres na miséria. Fui aonde eles foram. Fui ao lugar (sítio) a que eles foram. Aprendi fazer os rissóis como a minha avó fazia. Aprendi a fazer o flan da mesma maneira (do mesmo modo) que a minha avó as fazia. Quando estive em Paris, foi o período mais feliz da minha vida. O tempo (o período) durante o qual estive em Paris, foi o mais feliz da minha vida. Em todas as frases acima indicadas, existe um antecedente implícito. Uma vez que não é foneticamente representado, a interpretação sintáctica destas frases não é, contudo, homogénea. Na tradição luso-brasileira, estas frases são interpretadas ou como substantivas (no caso de serem introduzidas por quem e que), como vimos no capítulo anterior (orações completivas subjectiva e objectivas). As orações relativas podem fazer parte das estruturas clivadas introduzidas por um pronome relativo, como mostram os seguintes exemplos: Foi o queijo que o corvo comeu. Foi um acidente que eles viram ontem. O que é que ele respondeu? A quem é que deste o livro? Onde é que o corvo comeu o queijo. O modo e os tempos nas orações relativas Quanto ao uso do modo nas frases subordinadas relativas, nem sempre a modalidade de dictum é relacionada directamente com a modalidade de ré. Por isso, estes períodos são denominados, pelos romanistas praguenses, como períodos indirectamente modais. Existe, contudo, uma relação directa entre o referente do antecedente explícito e a modalidade de ré. Assim, as orações relativas ocorrem com o modo indicativo (quando o referente é real/factual) ou com o conjuntivo (quando o referente é hipotético). O uso dos tempos verbais nas orações relativas é submetido às mesma regras de consecutio temporum como nas completivas com a única diferença que consiste, como veremos, na ocorrência do futuro do conjuntivo. Caso o referente seja concreto e real, é utilizado o modo indicativo. Assim, na seguinte frase, o referente de pessoas é concreto, factual, pelo que também o verbo exprime uma proposição factual. Nestes períodos são respeitadas as regras de compatibilidade temporal seguintes: Quando os verbos da oração subordinante do discurso indirecto são em qualquer tempo de pretérito (salvo o pretérito perfeito composto), as dependências temporais afectam gramaticalmente os predicadores da frase completiva do seguinte modo: a) Os verbos no presente passam a pretérito Imperfeito: Ex. Havia pessoas que comiam caracóis b) Os verbos no pretérito perfeito passam a pretérito mais-que-perfeito: Ex. Havia pessoas que viram/tinham visto o acidente. c) ?Os verbos no futuro do presente futuro do pretérito (condicional). Ex. ?Havia pessoas que iriam ao museu. Caso a oração relativa desenvolver um sintagma nominal cujo referente seja hipotético, ocorre nela o modo conjuntivo. Contrariamente às completivas, é possível utilizar o futuro do conjuntivo para exprimir a existência de um possível referente no futuro. Consecutio temporum nas orações completivas com conjuntivo Nas orações completivas com conjuntivo, há dois factores mais importantes que determinarão o tempo gramatical verbal do predicador da oração completiva: · o tempo em que se encontra o predicador da oração principal F^1. · a relação temporal que existe entre a oração principal e a subordinada. Esta pode ser de três tipos: simultaneidade, posterioridade e anterioridade. Dividimos este tipo de períodos em dois tipos como mostra o seguinte quadro: oração subordinante F^1 modo:indicativo/ imperativo oração subordinada F^2 finita modo: conjuntivo 1 presente do indicativo futuro do presente imperativo pretérito p. composto 1A relação temporal entre F^1 F^2: posterioridade conjuntivo do futuro 1B relação temporal entre F^1 F^2: simultaneidade ^ conjuntivo do presente 1C relação temporal entre F^1 F^2: anterioridade^ conjuntivo do pretérito conjuntivo do imperfeito 2 tempos pretéritos (salvo PPC) futuro do passado (condicional) 2A relação temporal entre F^1 F^2: simultaneidade ou posterioridade conjuntivo do imperfeito 2B relação temporal entre F^1 F^2: anterioridade Conjuntivo do mais que perfeito O modo conjuntivo ocorre sempre que o antecedente da oração relativa seja: · indefinido ou indeterminado (não se sabe se a entidade referida existe ou não é possível identificá-la): 1A Compra o perfume que quiseres. 1B Precisamos de uma secretária que fale húngaro. 1C Há aqui alguém que tenha visto/visse a Ana? 2A Estava ali alguém que te pudesse ajudar? 2B Estava ali alguém que tivesse visto o acidente? · negativo (para se referir a uma entidade que não existe): 1A Não vou fazer nada mais do que for preciso. 1B Não conheço ninguém que fale húngaro. 1C Não está aqui ninguém que tenha lido /lesse o livro? 2A Não estava ali ninguém que te pudesse ajudar? 2B Não estava ali alguém que tivesse visto o acidente. · implícito (relativas livres): há quem, não falta quem, encontra-se quem. 1A Seja bemvindo quem vier por bem. 1B Não falta quem me ajude 1C Havia quem tenha ido /fosse à África. 2A Não faltava quem me ajudasse? 2B Havia quem tivesse comido percebes.. As orações relativas reduzidas/pseudo-relativas As orações relativas podem ser não finitas, reduzidas por infinitivo, por gerúndio ou por particípio. As orações relativas com o infinitivo são intepretadas, por alguns linguistas, como orações pseudo-relativas, ou até como orações completivas com infinitivo gerundivo. São exemplos das orações relativas reduzidas os seguintes casos: Vi crianças a chorar. (relativa infinitiva) Vi crianças que choraram. Vi um grupo de homens conversando. (relativa gerundiva) Vi um grupo de homens que conversavam. Pus as rosas brancas, trazidas pelo João dos montes, na jarra. (relativa participial) Pus as rosas brancas, que o João trouxe dos montes, na jarra. Orações adverbiais A subordinação adverbial consiste na relação hipotáctica entre o predicador da oração subordinante e uma uma expressão adverbial na oração subordinante seja ela um sintagma adverbial seja uma oração subordinada, como podemos observar no seguinte diágrama: F+ SN SV D N V Sadv/F^- Adv Eles chegaram à uma hora/ quando estávamos a almoçar sujeito predicado adjunto adverbial O leque de valores semânticos circumstativos que as orações adverbiais (ou circunstanciais) exprimem, é muito vasto. A tradição gramatical distingue, normalmente, sete tipos de orações cinrcunstanciais: temporais, causais, finais, condicionais, concessivas, conformativas e proporcionais que podem ter tanto a forma finita como a não finita. A diversidade semântica destas orações, contudo, é muito maior. Na seguinte lista das orações adverbiais apresentamos as diferentes classes semânticas, que foram actualizadas pela Gramática do Português (2013). tipo de oração adverbial de acordo com a classe semântica exemplo orações comparativas Ele falou tão baixinho que ninguém ouviu nada. orações temporais Come do bolo antes que se acabe. orações causais e explicativas O filho está feliz porque recebeu do pai um carrinho. orações finais e resultativas Abrimos a janela para arejar o quarto. orações concessivas Embora estivesse cansado, ajudou-me no trabalho. orações condicionais Caso te atrases, telefona-me. orações de circunstância negativa Saí sem que os outros se dessem conta. orações de modo (relativa livre) Preparei tudo como me indicaste. orações de lugar (relativa livre) Fui (a)onde eles foram. orações conformativas Segundo a polícia avisou, o assaltante foi detido. orações de comentário Como é sabido, o português é uma língua mundial. orações contrastivas Enquanto o Martinho é louro, o Tomás é moreno. orações contrapositivas Ele foi a pé quando podia ter apanhado um táxi. orações substitutivas Em vez de ele ir para escola, foi ao ZOO. orações acrescentativas Para além de saber falar português, esta senhor sabe falar chinês. As orações subordinadas adverbiais não são semanticamente seleccionadas pelo predicador da oração subordinante. Funcionam como termos acessórios do predicado da oração principal e podem ser facilmente omitidas. As orações subordinadas adverbiais têm muita liberdade de mobilidade dentro do período. Algumas orações adverbiais podem ocorrer, também, entre o sujeito e o predicado da oração subordinante. Neste caso, são separadas do resto do período por vírgulas, como mostram os seguintes casos: A Fátima, quando chegou para casa, foi dar comida ao cão. O João, apesar de estar a chover, saiu. Os alunos, se estudarem mais, terão melhores notas. A avó, para conseguir dormir, tomou um comprimido. Quanto ao uso do modo nas frases subordinadas adverbiais, nem sempre a modadalidade de dictum é relacionada directamente com a modadalidade de ré. Por isso, estes períodos são denominados, pelos romanistas praguenses, como períodos indirectamente modais. Em cada tipo de oração subordinada se apresentam compatibilidades modais e temporais diferentes. Orações comparativas, consecutivas e proporcionais Embora, de acordo com as concepções modernas, estas frases sejam tratadas separadamente das três subordinações, no nosso livro seguiremos a classificação tradicional e inclui-las-emos na subordinação adverbial. Estas orações equivalem, tradicionalmente, a um adjundo advrebial de comparação e servem para exprimir o grau que pode ser medido por uma escala de natureza muito diversa, a qual pode ter uma dimensão física, de comprimento, psicológica, de beleza, de interesse, de importância, de velocidade, de habilidades, etc. As orações comparativas indicam que um grau é superior, interior ou igual ao outro, sendo designadas, respetivamente, por orações comparativas de superioridade, de inferioridade ou de igualdade. O tipo do grau é indicado pelos opreradores comparativos, aos quais pertencem os seguintes: mais do que, menos do que tão...como, tanto+N...como, tanto quanto: Ele gastou tanto dinheiro quanto ganhara. (igualdade) Ele gastou menos dinheiro do que a mãe lhe dera. (inferioridade) Ele gastou mais dinheiro do que ganhara. (superioridade) Às orações comparativas pertencem também outras construções comparativas, mas que não manifestam as mesmas propriedades, uma vez que não incluem a comparação de graus. É o caso das chamadas construcções pseudocomparativas que se aproximam às orações relativas livres e que são denominadas tradicionalmente, como comparativas assimilativas – sendo que exprimem uma semelhança. Estas orações são as únicas deste grupo que têm o verbo no modo do imperfeito do conjuntivo: O Paulo fala francês como se fosse um falante nativo. Tratam-me como se fosse um filho deles. Fala como se entendesse o assunto. Do ponto de vista semântico, estas construcções implicam, muitas vezes, uma consequência da quantidade da proposição da oração subordinante, equivalendo, portanto, a um adjunto adverbial de consequência. Estas orações são denominadas comparativas consecutivas. Observe-se o seguinte exemplo: Ele gastou tanto dinheiro que ficou sem cheta. A este tipo de construcções pertencem, também, as orações designadas, tradicionalmente, comparativas proporcionais correlatas, ou, de acordo com a terminologia actual, comparativas correlativas. Estas estruturas envolvem igualmente uma quantificação, quer na oração subordinada, quer na oração principal. Estas orações não podem ser deslocadas no período, sendo a seguinte construcção a única que é gramaticalmente correcta: Quanto mais falo com ele, mais triste fico. Quanto menos os vejo, mais vergonta tenho de lhes telefonar. Quanto mais falo, menos vontade tenho de escrever. Quanto menos trabalho, menos dinheiro recebo. Nestas orações ocorre tipicamente o modo indicativo que reflecte o carácter factual das proposições. O único caso onde aparece o conjuntivo constituem as frases pseudocomparativas. Orações temporais As orações temporais equivalem a um adjunto adverbial de tempo, exprimindo diferentes relações temporais relativamente à oração subordinante: o de anterioridade, posterioridade, sobreposição, incoativa, repetição, simultaneidade, término, progresso gradual, etc. Podem ser finitas ou reduzidas de infinitivo, gerúndio e de particípio. A relação de anterioridade é expressa pelo complementador antes de + infinitivo flexionado ou não flexionado, ou antes que + conjuntivo. Nas construcções com o infintivo, é obrigatoriamente utilizado o infinitivo flexionado caso os sujeitos não sejam correferentes. No caso oposto, é possível utilizar o infinitivo não flexionado, embora com menor frequência. Na construcção antes que + conjuntivo, está implícito tanto o valor contrafactual como factual. É gramaticalmente incorrecto utilizar o indicativo para exprimir o valor factual, que o evento da oração subordinada se realizou. Quanto à dependência temporal, são seguidas as seguintes compatibilidades: frase principal antes que +F Come/comerá o bolo antes que se acabe presente/futuro conjuntivo do presente Comeu o bolo antes que se acabasse. pretérito conjuntivo do imperfeito Pedro, come do bolo antes que se acabe. O Pedro queria comer o bolo antes que se acabasse. O Pedro queria ter comido o bolo antes que ele tivesse acabado. A relação de anterioridade também pode ser experessa por quando+indicativo. Às vezes, a interpretação temporal de anterioridade destas orações depreendem-se da lógica e do nosso conhecimento do mundo. Quando construíram a nova ponte, contrataram arquitectos de grande formato. No caso das adverbiais introduzidas por quando e de carácter hipotético, ocorre o modo conjuntivo. Estas frases encontram-se, tipicamente, em posição inicial, mas admitem também, facilmente, a posição final. quando +F frase principal Quando o Rui melhorar a Maria vai visitá-lo. conjuntivo do futuro presente/futuro frase principal quando+ F A Maria queria visitar o Rui. quando ele melhorase. pretérito /imperfeito do indicativo conjuntivo do imperfeito A relação de posterioridade é expressa pelo complementador depois de + infinitivo flexionado ou não flexionado, ou depois que + indicativo, sendo, geralmente, preferida a construcção com o infinitivo. Tal com no caso anterior, nas construcções com o infinitivo, é obrigatoriamente utilizar o infinitivo flexionado caso os sujeitos não sejam correferentes. No caso oposto, é possível utilizar o infinitivo não flexionado, embora não seja preferível. As orações introduzidas por logo, assim que e mal exprimem uma relação de posterioridade imediata e normalmente têm um carácter pontual, excluindo a possibilidade de combinar estas locuções com verbos que exprimem processos ou estados. Nestas orações subordinadas, o modo verbal seleccionado corresponde à dicotomia do real versus hipotético, sendo as proposições reais relacionadas com o passado e presente expressas pelo indicativo, como mostram os seguintes casos: Assim que cheguei para casa, telefonei-lhe. + real Logo que a situação o permitiu, saímos do país. + real As proposições hipotéticas que podiam, hipoteticamente, ter ocorrido no passado ou podem ocorrer, hipoteticamente, no presente ou no futuro, são expressas pelo conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro de restricção de compatibilidade temporal: assim que +F frase principal Assim que chegar para casa telefono-te/telefonar-te-ei/vou telefonar-te conjuntivo do futuro presente/futuro frase principal assim que +F Queria telefonar-lhe assim que chegasse para casa imperfeito do indicativo conjuntivo do imperfeito A relação de sobreposição encontra-se expressa, nas orações subordinadas introduzidas pela construcção ao+infinitivo, implicando tanto a sobreposição temporal (total ou parcial) como contiguidade termporal entre as proposições das duas orações. Nalguns casos, estas construcções exprimem também e sequência de eventos pontuais imediatamente seguidos. Devido ao seu carácter pontual e de sequência imediata, estas construcções não ocorrem com o infinitivo composto nem com predicados estativos, contrariamente ao que ocorre nas orações temporais introduzidas por quando. *Ao estar em Portugal, visitei os meus amigos no Porto. Quando estava em Portugal, visitei os meus amigos no Porto. No que ao uso do infinitivo composto nestas construcções diz respeito, há casos menos comuns destas ocorrências, adquirindo a oração um sentido causal, o que nem sempre é possível, como mostram as seguintes frases: Ao chegar para casa, fui regar as plantas. (sequência temporal) *Ao ter chegado para casa, fui regar as plantas (não há relação causal) Ao ter aberto a caixa, Pandora libertou os males do mundo. (+relação causal) Ao ser tão arrogante, o Zé afasta todos os amigos. (+relação causal) Ao não responder à questão, o ministro tornou clara a sua posição. (+relação causal) Quanto à estrutura argumental do predicador das orações com ao+ infinitivo, normalmente, o sujeito não se encontra expresso, porque, como se vê nos casos acima indicados, tipicamente, os sujeitos das duas orações (subordinada e principal), são correferentes. No entanto, quando os dois sujeitos não o são, ou pode ser utilizado o infinitivo flexionado ou o sujeito se encontra em posição pós-verbal, como ilustram os seguintes casos: Ao entrares no edifício, viras à esquerda. Ao chegar o comboio, a filha correu logo ao encontro da mãe. A relação de sobreposição ocorre também no caso das orações temporais introduzidas por quando, cuja interpretação temporal se depreende da lógica e do nosso conhecimento do mundo. Quando construíram a nova ponte, usaram materiais de má qualidade. A sobreposição também pode ser expressa nas orações subordinadas introduzidas por enquanto, as quais podem localizar a proposição da oração principal de dois modos diferentes: ou num dos intervalos da proposição da oração subordinada ou numa relação concomitante, como mostram os seguintes casos: Enquanto o Pedro estava a ler o jornal, a Ana chegou. Enquanto eu estava a ler, a Maria estava a tocar piano. A relação incoativa ocorre entre duas orações unidas por desde que+indicativo, locução essa que localiza temporalmente a situação da oração principal no momento inicial, expresso pela oração subordinada. Neste tipo de período, existem certas restrições semânticas, no que à interpretação aspectual diz respeito. A oração subordinada só pode marcar o início de uma oração principal, cuja natureza aspectual seja durativa. Quando a oração subordinada marca o momento inicial de uma subordinante cuja proposição implica iteratividade de uma acção que atinge o momento presente, é muito frequente o uso do presente ou do pretérito composto do indicativo, como mostram os seguintes casos: Desde que o bebé nasceu, não temos dormido nada. O bebé chora desde que a mãe saiu. Quando estas orações temporais se encontram em posição inicial, as orações principais podem ser também introduzidas pela partícula que, como se ilustra no seguinte caso: Desde que começou o verão que o rio está assim. Desde que me levantei que me sinto adoentado. A relação cessativa registra-se em períodos, em que a oração subordinada temporal, introduzida por até+infintivo ou até+que+conjuntivo, localiza temporalmente a situação da oração principal num momento final de tempo. Tal como no caso anterior, o carácter aspectual da oração subordinada é pontual, enquanto que a natureza aspectual da oração principal é, logicamente, durativa ou iterativa (como é o caso de espirrar, por exemplo): Os meu filhos estudaram até eu chegar. O João espirrou até sair de sala. Morreram muitas pessoas até mudarem a sinalização desta estrada. Como foi mencionado, a conjunção até que é obrigatoriamente utilizada com o conjuntivo, de acordo com as seguintes regras de dependência temporal: frase principal até que +F Continuem no trabalho até que vos dêem novas instrucções. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal até que +F Continuaram no trabalho até que lhe dessem novas instrucções. pretérito do indicativo conjuntivo de imperfeito Tal com no caso anterior, nas construcções com o infinitivo, é obrigatório utilizar o infinitivo flexionado caso os sujeitos não sejam correferentes. No caso oposto, é possível utilizar o infinitivo não flexionado, embora seja preferido o infinitivo flexionado. Quando nas duas orações existe o negador não, a oração subordinada pode ser introduzida por enquanto não+conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro: frase principal enquanto que +F Não vou pagar o bilhete enquanto não souber o preço. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal enquanto que +F Não queria pagar o bilhete enquanto não soubesse o preço. inmperfeito do indicativo conjuntivo de imperfeito A relação iterativa encontra-se nas construcções onde ocorre a chamada quantificação temporal sobre situações que remete para a natureza plural das situações. Estas orações são introduzidas por quando+indicativo, sempre que, todas as vezes que, cada vez que+ indicativo e, ocorrem, muitas vezes, quando há uma correlação entre duas situações que acontecem com a mesma periodicidade, ou em construcções genéricas. Quando se aproxima o verão, só apetece ir à praia. Quando uma criança não quer comer, é mau sinal. Sempre que começa a queixar-se, o Zé nunca para. O Zé cora (de) cada vez que lhe dirigem a palavra. A propriedade iterativa no caso anterior foi factual. No entanto, quando a natureza repetitiva for hipotética, ocorre o conjuntivo: Sempre que +F frase principal Sempre que quiseres, telefona-me. conjuntivo do futuro indicativo (presente/futuro) ou imperativo Sempre que +F frase principal Sempre que quisesse, podia telefonar-me. conjuntivo do imperfeito imperfeito (pretérito) de indicativo A função narrativa é expressa por orações subordinadas introduzidas por até que, quando, relatando uma situação episódica que interrompe uma outra situação de carácter prolongado. Contrariamente aos períodos com a relação de sobreposição ou de anterioridade, o uso do modo indicativo também é possível. Estas construcções são predominantemente narrativas e correspondem a uma situação pontual que interrompe uma outra situação de carácter prolongado. Neste caso, a oração pode ser precedida do ponto final ou ponto vírgula, tal como ilustram os seguintes casos: Ele estava a ler, quanto subitamente rebentou uma trovoada. Pediu silêncio, outra vez, sem sucesso. Até que, já desesperado, deu um berro na mesa. A relação proporcional temporal é establecida entre duas orações, quando a subordinada é introduzida por à medida que + conjuntivo/indicativo. O evento da oração principal exprime a passagem gradual ou proporcional do tempo, ou concomitância temporal. Ao mesmo tempo, exprimem um aumento ou dimunição de alguma proposição, que ocorre paralelamente no mesmo sentido ou no sentido contrário ao aumento ou diminuição da proposição da subordinante. Não é possível, contudo, estabelecer a correlação proporcional entre as medidas não temporais. *À medida que o João é grande, o Rui é pequeno. À medida que ele aprendia português, Quanto ao modo verbal, a sua selecção reflecte a dicotomia existente entre a situação real (expressa pelo indicativo) e hipotética (expressa pelo conjuntivo), como mostram as seguintes frases: À medida que nos aproximarmos da moeda única,vai dizer-se muita coisa À medida que aumentam as queixas das empresas ocidentais sobre o mercado asiático, os responsáveis governamentais tentam obter soluções para a crise . NO caso do uso do modo conjuntivo, tem que ser respeitada a compatibilidade modotemporal, descrita no seguinte quadro. À medida que +F frase principal À medida que nos aproximarmos da moeda única vai dizer-se muita coisa conjuntivo do futuro indicativo (presente/futuro) ou imperativo À medida que +F frase principal À medida que nos aproximemos da moeda única vai dizer-se muita coisa conjuntivo do presente ????? indicativo (presente/futuro) ou imperativo À medida que +F frase principal À medida que nos aproximássemos da moeda única foi dita muita coisa conjuntivo do imperfeito imperfeito (pretérito) de indicativo Orações finais e resultativas As orações finais equivalem a um adjunto adverbial de fim, exprimindo uma finalidade ou um resultado da proposição da oração principal. Estas orações são subdivididas em: orações adverbiais finais de evento, de enunciação e resultativas. As orações finais de evento são introduzidas por conectores como para+ infinitivo ou para que+conjuntivo, a fim de + infinitivo, a fim de que + conjuntivo, com o fim de+infinitivo, de forma a que+ conjuntivo, de modo a que+ conjuntivo, de maneira que+ conjuntivo e designam a finalidade de uma determinada situação o que, pressupõe, um argumento dotado de intencionalidade, com a função semântica de agente: O Pedro fechou a janela para todos poderem ouvir o professor. O Pedro fechou a janela para que todos pudessem ouvir o professor. O uso do conjuntivo corresponde, outra vez ao seguinte quadro de compatibilidade modo-temporal: frase principal enquanto que +F Vou telefonar-lhe para que lhe diga o resultado. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal enquanto que +F Fui telefonar-lhe para que lhe dissese do resultado. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo Os conectores de forma a que, de maneira a que, de modo a que à vezes ocorrem sem a, embora com menor frequência. Por isso podem ser confundidas com as orações resultativas. Nas orações reduzidas de infinitivo, contudo, esta preposição é sempre conservada: Preparei toda a bagagem de modo a podermos sair já . (oração resultativa) As orações finais de encunciação indicam a finalidade da encunciação, de um acto de fala, sendo orientadas para o falante ou para o ouvinte. Comportam-se, sintacticamente, como orações periféricas e não como integradas e só admitem a segunda ou terceira pessoa do verbo finito, ou a primeira pessoa do singular do verbo infinitivo. Para ser sincero, não gostei do filme. Para que saibas, o Tiago está internado. As orações resultativas ou as orações consequenciais exprimem um resultado, uma consequência (não quantificada) da proposição da oração principal. São introduzidas pela locução de forma que+ indicativo ou porque+ indicativo ou por+infinitivo No caso dos conectores de forma que, de maneira que, de modo que, contudo, o significado da oração subordinada depreende-se, muitas vezes, do modo utilizado, sendo que a nem sempre está presente. Os conectores de forma que/ de modo que/ de maneira que com o verbo no modo indicativo introduzem as orações resultativas. Por outro lado, os conectores de forma (a) que/ de modo (a) que/ de maneira (a) que introduzem orações finais, quando tem o verbo no modo conjuntivo. Comparem-se as seguintes frases: Falou em voz alta de forma que todos perceberam tudo. (oração resultativa) Falou em voz alta de forma que todos percebessem tudo. (oração final) Falou em voz alta de forma a que todos percebessem tudo. (oração final) Orações concessivas As orações concessivas equivalem a um adjunto adverbial de concessão, indicando um obstáculo (real ou hipotético) que não impede nem modifica o conteúdo proposicional da oração principal. Nas orações concessivas distinguimos as concessões factuais e concessivas não factuais, denominadas condicionais-concessivas. Apesar desta diversificada tipologia, sempre é usado o conjuntivo e nunca indicativo. frase principal embora + F Ela vai ajudar-me no trabalho embora esteja cansada. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal embora + F Ela vai ajudar-me no trabalho embora tenha trabalhado muito naquele dia. indicativo (presente ou futuro)/imperativo conjuntivo pretérito/imperfeito frase principal embora + F Ela ajudou-me no trabalho embora estivesse cansada.. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo frase principal embora + F Ela ajudou-me no trabalho embora tivess trabalhado muito naquele dia. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo As orações concessivas factuais, introduzidas por embora, se bem que, ainda que+ conjuntivo, apesar de+ infinitivo, não obstante + infinitivo encaram a situação descrita como verdadeira. Observe-se o seguinte exemplo: Embora ela estivesse cansada, ajudou-me no trabalho. Se bem que ele não saiba falar línguas estrangeiras, não tem problemas quando viaja. Ainda que o professor não estivesse na escola, tivemos aulas. Semanticamente, as orações concessivas aproximam-se das orações coordenadas adversativas, como se vê no seguinte exemplo: Embora ela estivesse cansada, ajudou-me no trabalho. Ela estava cansada mas ajudou-me no trabalho. Tal como acontece nas orações finais, também as orações concessivas podem modificar um acto de fala, sendo orientadas para o falante ou para o ouvinte. Embora não queiras, tens que ir ao médico. Orações não factuais envolvem uma relação de condicionalidade. Ao contrário das orações concessiva factuais, a oração subordinada é apresentada como hipotética, facto, pelo que se aproximam das orações condicionais. As orações não factuais implicam que a realização da situação se realizará em quaisquer circustâncias, como exemplificam as seguintes frases: Mesmo que chame a polícia, não vou pagar nada. Ainda que estivesse a chover, foram jogar futebol ao campo relvado. frase principal mesmo que + F Ela vai ajudar-me no trabalho mesmo que esteja cansada. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal mesmo que + F Ela vai ajudar-me no trabalho mesmo que tenha trabalhado muito naquele dia. indicativo (presente ou futuro)/imperativo conjuntivo pretérito/imperfeito frase principal mesmo que + F Ela ajudou-me no trabalho mesmo que estivesse cansada. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo frase principal mesmo que + F Ela ajudou-me no trabalho mesmo que tivese trabalhado muito naquele dia. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo Estas orações podem ocorrer com os conectores como mesmo que, mesmo se, ainda que+ conjuntivo, como mostram os casos anteriores. Também é possível exprimir a concessão não factual por uma quantificação universal, de acordo com as fórmulas abaixo mencinadas: Por + quantificador + que + conjuntivo, + oração principal Por muito que me peças, não vou alterar a minha decisão Por pouco que seja, aceito a tua oferta Por pouco que fosse, aceitei a tua oferta Por + advérbio/adjectivo (superlativo) + que + conjuntivo, +oração principal Por muito cansado que esteja, nunca dorme. Por pior que esteja o tempo, saímos. Por muito tarde que chegasses, devias telefonar-me. Por + quantificador + substantivo + que + conjuntivo, + oração principal Por mais dinheiro que me ofereçam, não vendo a casa. Por muitos livros que tenha, nunca os lê. Por mais dinheiro que me oferecessem, não vendi a casa. Por muitos livros que tivesse, nunca leu nada. Quem, a quem, de quem+ quer+ que + conjuntivo, +oração principal A quem quer que fala, ninguém o ouve. A quem quer que falasse, ninguém o ouviu. Onde, por onde, para onde+ quer+ que + conjuntivo, +oração principal Por onde quer que ele vá, sempre tropeça. Por onde quer que ele fosse, sempre tropeçava. O que+ quer+ que + conjuntivo, +oração principal O que quer que eu diga, ninguém me ouve. O que quer que eu dissesse, ninguém me ouviu/ouvia. Quando+ quer+ que + conjuntivo, +oração principal Quando quer que voltes, telefona-me. Quando quer que voltasses, devias telefonar-me. Qualquer/quaisquer + que + conjuntivo, +oração principal Qualquer que seja a tua decisão, vou respeitá-la. Qualquer que fosse a tua decisão, semore a respeitava. Conjuntivo do presente + (pr. relativo) +do conjuntivo do pretérito Chegue a que horas chegar, Comas o que comeres Esteja onde estiver Faças o que fizeres Ouça o que ouvires Sejam quantos forem Vá por onde for Venha quem vier Estas construcções são denominadas orações concessivas universais ou intensivas. E para além destas, existem também orações concessivas alternativas, correpondentes às seguintes estruturas coordenadas alternativas, de acordo com as seguintes fórmulas: Quer +(F) conjuntivo + quer não +(F) conjuntivo, +oração principal Quer haja financiamento quer não haja, realizar-se-á o festival. Quer houvesse financiamento quer não houvesse, o festival ia realizar-se. Quer +(F) conjuntivo + quer não, + oração principal Quer queiras quer não, tens que ir ao médico. Quer quisesse quer não, tinha que ir ao médico. (F) conjuntivo , (F) conjuntivo, + oração principal Seja em minha casa, seja em tua, temos que festejar a victória. Fosse em minha casa, fosse na dele, tivemos que festejar a victória. Orações condicionais As orações condicionais equivalem a um adjunto adverbial de condição ou hipótese e exprimem condição ou hipótese e é introduzida por um complementador se, caso, ou por uma locução conjuntiva desde que, a menos que, a não ser que, dado que, contanto que, salvo se, quando, etc.: A oração condicional canónica encontra-se anteposta ou posposta à oração principal e No primeiro caso, a posição das orações condicionais é denominada prótase, no segudno caso, apódose. As construcções condicionais são classificadas consoante a proposição expressa pelo antecedente se tenha realizado, se realize no futuro ou não se tenha realizado. Quando a proposição se realizou, a condição tem uma interpretação factual ou real. Quando se poderá realizar no futuro, a condição é hipotética. Quando não se realizou, a condição tem uma interpretação contrafactual ou irreal. As seguintes frases ilustram claramente a diferença entre os três tipos de orações condicionais: Se o Rui estava doente, a mãe telefonava-lhe todos os dias. (factual/real) Se o Rui está doente, a mãe telefona-lhe todos os dias. (factual/real) Se o Rui estiver doente, a mãe telefonar-lhe-á todos os tidas. (hipotética) Se o Rui estivesse doente, a mãe telefonar-lhe-ia todos os dias. (hipotética) - II - - II - (contrafactual) Se o Rui tivesse estado doente, a mãe ter-lhe-ia telefonado (contrafactual) A combinação dos diferentes tempos e modos no período segue os seguintes quadros de compatibilidade formais: F^+ F^- oração subordinada condicional factual/real F^- oração principal indicativo indicativo Se/caso o Rui estava doente, a mãe lhe telefonava todos os dias. F^+ F^- oração subordinada condicional hipotética localizada no futuro F^- oração principal Se+conjuntivo do futuro presente/futuro do indicativo Se/caso o Rui estiver doente, a mãe telefonar-lhe-á todos os dias. F^+ F^- oração subordinada condicional hipotética localizada no presente F^- oração principal Caso+conjuntivo do presente presente/futuro do indicativo Caso o Rui esteja doente, a mãe vai telefonar-lhe todos os dias. F^+ F^- oração subordinada condicional hipotética no futuro F^- oração principal Se+conjuntivo do imperfeito futuro do passado (condicional) imperfeito do indicativo Se o Rui trouxesse o filme (à tarde), poderíamos vê-lo hoje à noite. poderíamos vê-lo hoje à noite. F^+ F^- oração subordinada condicional contrafactual F^- oração principal Se+conjuntivo do imperfeito futuro do passado (condicional) imperfeito do indicativo Se o Rui estivesse doente, a mãe telefonar-lhe-ia todos os dias. a mãe telefonava-lhe todos os dias. F^+ F^- oração subordinada condicional contrafactual F^- oração principal Se+conjuntivo do mais-que-perfeito futuro do passado composto (condicional composto) pretérito mais-que-perfeito do indicativo eventualmente, imperfeito do indicativo condicional Se o Rui tivesse estado doente, a mãe ter-lhe-ia telefonado todos os dias. a mãe tinha-lhe telefonado todos os dias. a mãe telefonava-lhe todos os dias. a mãe telefonar-lhe-ia todos os dias. Existe um tipo de construções condicionais denominadas de condição necessária. São construcções introduzidas pelos conectores condicionais se, caso, no caso de, precedido de um advérbio de focalização exclusiva, como só, somente e apenas, que pode ocorrer adjacente ao conector condicional ou intergarar a oração principal, como exemplificam os seguintes casos: Vou perdoá-lo só se ele me pedir desculpa. Só lhe empresto o carro, se conduzir devagar. Tal como nos casos anteriores, também no grupo das orações condicionais existem as que são dirigidas ao falante ou ao ouvinte, sem influenciar o valor de verdade do conteúdo proposicional da oração principal. Estas estruturas de enunciação estão ligadas à oração principal, formalmente, da mesma maneira como as orações condicionais. Não exprimem, porém, nenhuma condição ou hipótese. Funcionam antes como enquadradores discursivos (pragmáticos), sem os quais não seria afectada a boa formação semântica. O locutor não se compromete em absoluto com a verdade do que diz: Se bem me lembro, o João não gosta de ervilhas. Se queres ouvir a minha opinião, não gostei de ele se ter portado assim. Se amanhã chover, temos um outro programa. Além dos tipos de condicionais acima apresentados, existem, ainda, as chamadas orações condicionais de cortesia. Trata-se de fórmulas ritualizadas, com elevado grau de fixidez, que ocorrem basicamente na oralidade, como ilustram os seguintes casos: Se me permite, discordo frontalmente da sua opinião. Abra a janela, se faz favor/se não se importa. Quanto te custou este vestido? se não é muita indiscrição. As orações subordinadas condicionais podem, ao mesmo tempo, ser reduzidas por infinitivo introduzido por A: A continuar a chover desta maneira, não haverá piquenicque. No grupo semântico das orações subordinadas condicionais encontra-se a o período composto por coordenação em que a oração com interpretação condicional está sempre em posição inicial do período, ocorrendo nela a inversão de sujeito e predicado. As duas orações podem ser ligadas, facultativamente, pela conjunção aditiva e, como ilustram as seguintes frases: Soubesse eu quanto custava esse vestido, não to pediria. Soubesse eu quanto custava esse vestido e não to pediria. Também outros tipos de construcões coordenadas podem implicar uma relação condicional, como, por exemplo: Não comes a sopa e eu não te levo ao cinema. =Se não comeres a sopa, não te levo ao cinema. Orações de circunstância negativa As orações de circunstância negativa são introduzidas pela preposição sem que+conjuntivo ou sem+infinitivo flexionado. Estas estruturas caracterizam-se por descreverem uma circunstância que não teve lugar e respeitam as mesmas regras de compatibilidade temporal como as concessivas: A equipa da casa ganhou, sem que tivesse muitas ocasiões de golo. frase principal sem que + F A minha filha vai à discoteca sem que me peça autorização, indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal sem que + F A minha filha vai à discoteca sem que me pedisse/tenha pedido autorização. indicativo (presente ou futuro)/imperativo conjuntivo pretérito/imperfeito frase principal sem que + F Ela ajudou-me no trabalho sem que quisesse.. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo frase principal sem que + F Ela entregou-lhe a chave do escritório sem que tivesse pedido autorização ao seu chefe. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo Orações de modo As orações de modo são tradicionalmente consideradas como orações modais que equivalem a um adjunto adverbial de modo, exprimindo a maneira, o meio, pelo qual se relaizou o a proposição da oração principal. De acordo com as teorias modernas, contudo, são caracterizadas como relativas com o antecedente implícito (relativas livres). Estas orações são introduzidas pelo conector como, o qual, implicitamente, contém o antecedente maneira. O Rui fez tudo como lhe ensinaram. O Rui fez tudo do modo como lhe ensinaram. Orações de lugar As orações de lugar, denominadas também como locativas, equivalem a um complemento adverbial de lugar e são introduzidas pelo advérbio locativo onde. Estas orações podem ser também analisadas com relativas livres, com o antecedente não expresso, mas implícito (lugar que). Onde eu moro, toda a gente se conhece. No sítio em que eu moro, toda a gente se conhece. Orações conformativa e de comentário As orações conformativas e de comentário exprimem, por meio de um verbo epistémico, que o falante e o ouvinte está envolvido no conteúdo proposicional da oração principal. São introduzidas pelos conectores como, conforme, consoante e segundo. Nem todos têm, contudo, o mesmo comportamento sintáctico. Por exemplo, como não se pode utilizar com a estrutura relativa o que: Como o que sabes, contrariamente a segundo o que me disseram. As orações conformativas aproximam-se das orações comparativas, como mostra o seguinte exemplo. Cada um colhe conforme semeia. A menina era, como dizia o pai, muito mimosa. Orações contrastivas e contrapositivas As orações contrastivas e contrapositivas implcam um valor semântico de contraste ou de oposição. São introduzidas pelo conector enquanto (que) que perdeu o seu valor semântico temporal, e ao passo que. A oração introduzida por enquanto que pode ser tanto anteposta como posposta oração subordinante, contrariamente às construcções com ao passo que que dificilmente podem ser antepostas, como manifestam os seguintes exemplos. Enquanto que no português do Brasil o nome componente é de género masculino, no português de Portugal é bigenérico. O José prefere chá, ao passo que o Rui gosta mais do café. As orações com enquanto podem ter um valor tanto contrastivo como temporal. É aconselhável utilizar enquanto que no sentido contastivo e separar a oração contrastiva por vírgulas da oração subordinante, como ocorreu nos casos acima mencionados. As estruturas contrapositivas também podem ser introduzidas por quando não podendo, neste caso, encontrar-se na posição inicial: O Martim achou o livro aborrecido, quando na realidade é um livro interessantíssimo. Orações substitutivas e acrescentativas As orações substitutivas e acresentativas equivalem ao adjunto adverbial de troca ou de acréscimo. São introduzidas por em vez de+infinitivo flexionado (no caso das orações substitutivas) e por (para) além de + infinitivo flexionado (no caso das orações acrescentativas). Em vez de ele ir para a escola, foi ao futebol. Para além de saber falar francês, é capaz de comunicar em chinês. Orações reduzidas de particípio e de gerúndio As orações adverbiais podem ser reduzidas por infinitivo, particípio e gerúndio. Enquanto que mencionámos, ao longo do texto, construcções reduzidas de infinitivo, incluímos, a parte da redução participial e gerundiva, num capítulo separado, por abrangerem um leque semântico mais vasto, muitas vezes não unívoco. As orações participiais têm a forma verbal no particípio passado e equivalem a um ajdunto averbial. Estas frases são acessórias e a sua omissão não afecta a boa formação semântica do período. Encontra-se, predominantemente, em posição inicial do período, sendo outras posições possíveis, mas não tão naturais com a posição inicial. Como se vê nos exemplos abaixo mencioonados, a estrutura argumental das orações participiais é semelhante à do verbo finito transitivo directo, ou seja, pode ter um sujeito e um objecto directo. Não são admitidas, no entanto, construcções com clíticos, marcador adverbial de negação, verbos auxiliares ou semiauxiliares e sujeitos pronominais (ele, ela, tu...). Quando os referentes dos sujeitos das duas orações do mesmo período são idênticos, o sujeito encontra-se expresso apenas na frase principal. Quando os dois sujeitos não são correferentes, o sujeito da oração reduzida encontra-se em posição pós-verbal. Chegado o momento certo, disse-lhe verdade. Caída em desuso, a festa do Corpo de Deus foi retomada no Porto há uns anos. As construcções participiais têm, tipicamente, uma interpretação temporal perfectiva, quando descrevem um evento concluído num intervalo de tempo anterior ao da oração principal. Não podem ser reduzidas as orações adverbiais com predicados aspectualmente atélicos, como, lido o livro, passeada pelo parque. As orações participias nãopode ser introduzidas por conjunções. Podem, contudo, ser iniciadas pelas locuções uma vez e depois de: Depois de terminada a reunião, vamos tomar um café. As orações participiais podem reduzir três orações subordinadas: concessivas (reforçadas por mesmo ou embora), condicionais e temporais, como ilustram os seguintes casos: Mesmo afastado o perigo, continuámos a ter medo. (concessivas) Lido o romance, perceberás tudo. (condicional) Cumprida a missão no estrangeiro, o Daniel voltou para o seu país. (temporal) Orações gerundivas As orações gerundivas, denominadas adverbiais gerundivas, ou podem substituir uma oração relativa ou adverbial. Quando têm um valor de subordinação relativa, encontram-se sempre em posição inicial. Já quando reduzem as orações adverbiais, encontram-se ou em posição inicial ou em posição final. Quando ocorrem em posição inicial, são prosodicamente autónomas e são designadas adverbiais gerundivas periféricas. No segundo caso, quando ocorrem em posição final não são antecedidas de pausa e são designadas adverbiais gerundivas integrantes. A estrutura argumental do verbo no gerúndio não é igual nas duas posições. Em posição inicial, o gerúndio admite o sujeito expresso na posição pós-verbal (quando os sujeitos do mesmo período não são correferentes), enquanto que em posição final do período o verbo ocorre obrigatoriamente sem o sujeito expresso. Estando a Ana no hospital, decidimos visitá-la. Resolvi o assunto telefonando ao meu chefe. As orações adverbiais gerundivas podem exprimir diferentes valores temporais: o de anterioridade e sobreposição (eventualmente, posterioridade), devido à existência das duas formas: simples e composta: Tendo escrito os trabalhos, os alunos puseram-se descansar. Estava a ouvir música dançando.. Além deste valor temporal, as adverbiais gerundivas podem exprimir valores semânticos causais, concessivos, condicionais (interpretação factual, não contrafactual) e de modo. Na ausência de um conector, contudo, a interpretação da oração gerundiva muitas vezes é ambivalente. Tendo chegado atrasado, O João não conseguiu apanhar o início do filme. (v.causal) Saindo da casa da Jenny, senti-me triste. (valor causal ou temporal) Ouvindo bem o que te digo, vais saber tudo. (valor condicional) Mesmo trabalhando, não consegue poupar dinheiro para poder comprar uma carrinha (valor concessiva) A Maria conseguiu estudar toda a matéria preparando-se regularmente todos os dias. (valor de modo) As orações adverbiais gerundivas não apresentam as mesmas restricções sobre o verbo como as orações paricipiais. Contrariamente às adverbiais participiais, as gerundivas apresentam a seguintes propriedades sintácticas: · podem ocorrer com clíticos (tanto em próclise como em ênclise): Em lhe cantando esta canção, sentiu-se melhor. Em cantando-lhe esta canção, sentiu-se melhor · podem com o negador “não”, É um moinho de vento sem existência real, não correspondendo a nenhum dos modelos de construção europeia que estão efectivamente em debate . (negador não) · admitem coordenação com outra gerundiva adverbial no mesmo período: Não sendo a regionalização imposta pela história, nem pela geografia, não correspondendo a nenhuma aspiração profunda das populações, não sendo necessária do ponto de vista da integração europeia, que razão ou razões supervenientes de interesse público geral terá conduzido os mandatários políticos a retirar do arquivo esta reforma · admitem construcções com auxiliares ou semiauxiliares: Mas tendo que escolher entre os dois, confesso que não hesito: o dissidente é bem mais convincente que o regime . · Admitem sujeitos pronominais, como mostram os seguintes exemplos: Estando a Ana no hospital, decidimos visitá-la. As orações adverbiais gerundivas também podem aparecer em expressões consagradas pelo uso, como são as seguintes: resumindo e concluindo, pensando melhor, parafraseando, sintetizando, etc... Em alguns dialectos do português, o gerúndio pode ser flexionado e apresentar desinências de pessoa e número: eu vindo, tu vindes, ele vinde, nós víndomos, vós vindeis, eles vindem. Este gerúndio é chamado. gerúndio flexionado e ocorre, mais comumente, no Sul de Portugal, sendo considerado como um regionalismo. Estas formas não pertencem à lingua padrão. Tu querendos , podemos namorar às descondidas. Em sendem crescidos , levo-os a Lisboa. Onde é que eles mesmo trabalhandem, em ganhando o dinheiro, podiam semear alguma coisinha para eles. Quando sentindim outros animais, espantam-se. E então, nessa altura, vieram dois rapazes, fazendem parte, rapazes novos, e eu e mais um outro é que éramos os velhos . ...aquilo, se o homem não arrebentando ... [6] Pontuação Pontuação é o recurso que permite expressar na língua escrita um espectro de matizes rítmicas e melódicas características da língua falada, pelo uso de um conjunto sistematizado de sinais gráficos e não gráficos. Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Encontram-se, entre eles, os seguintes:^ * Ponto (.) — Usa-se no final do período, indicando que o sentido está completo. Também usado nas abreviaturas (Dr., Exa., Sr.). Exemplo: Ele foi ao médico e levou uma injeção. * Vírgula (,) — Marca uma pequena pausa no texto escrito e também uma separação de membros de uma frase, nem sempre correspondente às pausas (mais arbitrárias) do texto falado. É usada como marca de separação para: o aposto; o vocativo; o atributo; os elementos de um sintagma não ligados pelas conjunções e, ou, nem; as orações coordenadas assindéticas (não ligadas por conjunções); as orações relativas; as orações intercaladas; as orações subordinadas e as adversativas introduzidas por mas, contudo, todavia, entretanto e porém. * Ponto e vírgula (;) — Sinal intermediário entre o ponto e a vírgula, que indica que o sentido da frase será complementado. Representa uma pausa mais longa que a vírgula e mais breve que o ponto. É usado em frases constituídas por várias orações, algumas das quais já contêm uma ou mais vírgulas; também para separar frases subordinadas dependentes de uma subordinante; como substituição da vírgula na separação da oração coordenada adversativa da oração principal. * Dois pontos (:) — Os dois pontos ou dois-pontos indicam um prenúncio, comunicam que se aproxima um enunciado. Correspondem a uma pausa breve da linguagem oral e a uma entoação descendente (ao contrário da entoação ascendente da pergunta). Anunciam: ou uma citação, ou uma enumeração, ou um esclarecimento, ou uma síntese do que se acabou de dizer.. * Ponto de interrogação (?) — Usa-se no final de uma frase interrogativa direta e indica uma pergunta. * Ponto de exclamação (!) — Usa-se no final do comando do h ou do x ele pode a de qualquer frase que exprime sentimentos, emoções, dor, admiração, ironia, surpresa e estados de espírito. * Reticências (…) — Podem marcar uma interrupção de pensamento, indicando que o sentido da oração ficou incompleto, ou uma introdução de suspense, depois da qual o sentido será completado. No primeiro caso, a sequência virá em maiúscula -- uma vez que a oração foi fechada com um sentido vago proposital e outra será iniciada à parte. No segundo caso, há continuidade do pensamento anterior, como numa longa pausa dentro da mesma oração, o que acarreta o uso normal de minúscula para continuar a oração. * Aspas (“ ”) — Usam-se para delimitar citações; para referir títulos de obras; para realçar uma palavra ou expressão. * Parênteses ( ( ) ) — Marcam uma observação ou informação acessória intercalada no texto. * Travessão (—) — Marca: o início e o fim das falas em um diálogo, para distinguir cada um dos interlocutores; as orações intercaladas; as sínteses no final de um texto. Também usado para substituir os parênteses. * Meia‐risca (–) — Separa extremidades de intervalos. * Parágrafo — Constitui cada uma das secções de frases de um escritor; começa por letra maiúscula, um pouco além do ponto em que começam as outras linhas. * Colchetes ([]) — utilizados na linguagem científica. * Asterisco (*) — empregado para chamar a atenção do leitor para alguma nota (observação). * Barra (/) — aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas. * Hífen (−) — usado para ligar elementos de palavras compostas e para unir pronomes átonos a verbos ( menor do que a Meia−Risca ) Separação dos elementos dentro de uma oração por vírgula A vírgula indica uma pausa pequena, deixando a voz em suspenso à espera da continuação do período. Geralmente é usada: · nas datas, para separar o nome da localidade; p.ex: São Paulo, 25 de agosto de 2005. · após os advérbios "sim" ou "não", usados como resposta, no início da frase; p.ex: Gostou do vestido? Sim, adorei! Não, não gostei. · após a saudação em correspondência (social e comercial); p.ex: Com muito amor, Respeitosamente, · para separar os termos coordenados em enumeração; a conjunção "e" substitui a vírgula entre o último e o penúltimo termo; p.ex: A casa tem três quartos, dois banheiros, três salas e um quintal. · para destacar elementos intercalados, como: a) um conector: Ex.: Estudamos bastante, portanto, merecemos descanso. b) um adjunto adverbial: Ex.: Estas crianças, com certeza, serão aprovadas. c) um vocativo Ex: Apressemo-nos, Lucas, pois não quero chegar atrasado. d) um aposto: Ex. O João Vasco, o nosso melhor aluno, ganhou a corrida. e) Uma expressão explicativa (isto é, a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, etc.) Ex.: Preço do protótipo: 3,5 mil milhões de dólares, isto é, 536,5 milhões de contos. · para separar termos deslocados de sua posição normal na frase; Ex.: O documento de identidade, você trouxe? · para separar elementos paralelos de um provérbio; Ex. Tal pai, tal filho. · para destacar os pleonasmos antecipados ao verbo. Ex.: As flores, eu as recebi hoje. · para indicar a elipse de um termo. Ex: O Daniel ficou alegre; eu,(-) triste. · para isolar elementos repetidos. Ex.: Estão todos cansados, cansados de dar dó! · para separar orações intercaladas. Ex.: O importante, insistiam os pais, era a segurança da escola. · para separar orações coordenadas assindéticas. Ex.: O tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém. Para separar orações coordenadas adversativas, conclusivas, explicativas e algumas orações alternativas. Esforçou-se muito, porém não conseguiu o prêmio. Vá devagar, que o caminho é perigoso. Estuda muito, pois será recompensado. As pessoas ora dançavam, ora ouviam música. Embora a conjunção "e" seja aditiva, há três casos em que se usa a vírgula antes de sua ocorrência: 1) Quando as orações coordenadas tiverem sujeitos diferentes. Ex.: O homem vendeu o carro, e a mulher protestou. Neste caso, "O homem" é sujeito de "vendeu", e "A mulher" é sujeito de "protestou". 2) Quando a conjunção "e" vier repetida com a finalidade de dar ênfase (polissíndeto). Ex.:E chora, e ri, e grita, e pula de alegria. 3) Quando a conjunção "e" assumir valores distintos que não seja da adição (adversidade, consequência, por exemplo) Ex.: Coitada! Estudou muito, e ainda assim não foi aprovada. ________________________________ [1] F+ - símbolo de frase subordinante mais alta (no nosso caso de todo o período). [2] F- símbolo de frases que fazem parte de um período sejam independentes sejam subordinadas. [3] F- símbolo de frases que fazem parte de um período sejam independentes sejam subordinadas. [4] Este infinitivo é denominado também como infinitivo gerundivo e aproxima-se das orações relativas. Este tipo de subordinação também pode ser chamado orações pseudo-relativas. [6] Congresso Internacional 500 Anos da Língua Portuguesa no Brasil Universidade de Évora, 8-13 Maio 2000 ASPECTOS DA SINTAXE DAS ORAÇÕES GERUNDIVAS DO PORTUGUÊS DIALECTAL Maria Lobo Universidade Nova de Lisboa.