Universidade do Minho Dias, Idalete Sinonimia - campo semantico - contexto -texto : uma analise sinonimia com particular relevancia para as expressoes idiomaticas : estudo sistematico e contrastivo http://hdl.handle.net/1822/! 1263 Metadados Data de Publica?ao 2010-11-26 Resumo O presente estudo centra-se na analise da sinonimia no dominio das expressoes idiomaticas. Numa primeira parte apresentam-se os criterios que definem as expressoes idiomaticas, comecando por reflectir sobre a linguagem figurada, focando os tropos metafora, metonimia e sinedoque. Em virtude do papel que os conceitos de „imagem# (Bild) desempenham no ambito da idiomatica e da sinonimia, procede-se a distincao entre a imagem mental viva (Vorstellung) e a imagem enquanto figura do discurso (Re... The main purpose of the present study is to shed light on the nature of synonymy between idioms. The first part of the thesis is dedicated to the criteria used to define idiomatic expressions. It begins with a discussion on figurative language and focuses on the distinction between the tropes metaphor, metonymy and synecdoche. The difference between the concept of „image# as Vorstellung and the concept of „image# as figure of speech (Redefigur) will also be addressed. The second part of th... Tipo doctoralThesis Esta pagina foi gerada automaticamente em 2015-03-03T09:19:23Z com informacao proveniente do RepositoriUM http://repositorium.sdum.uminho.pt Institute de Letras e Ciencias Humanas Idalete Maria da Silva Dias Sinonimia - campo semäntico - contexto - texto. Uma anälise sinonimia com particular releväncia para as expressöes idiomäticas. Estudo sistemätico e contrastivo. Outubro de 2010 Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciencias Humanas Idalete Maria da Silva Dias Sinonimia - campo semäntico - contexto - texto. Uma anälise da sinonimia com particular releväncia para as expressöes idiomäticas. Estudo sistemätico e contrastivo. Tese de Doutoramento em Ciencias da Linguagem Area de Conhecimento em Linguistica Alemä Trabalho efectuado sob a orientacäo do Professor Doutor Hans Schemann Outubro de 2010 DECLARACÄO Nome: Idalete Maria da Silva Dias Enderegoelectrónico: idalete@ilch.uminho.pt Telefone: 253 601637 Numero do Bilhete de Identidade: 12678557 T'rtulo dissertagäo rj/tese □ : Sinonimia - campo semäntico - contexto-texto. Uma análise da sinonimia com particular releväncia para as expressöes idiomáticas. Estudo sistemático e contrastivo. Orientador(es): Professor Doutor Hans Schemann Ano de conclusäo: 2010 Designacäo do Mestrado ou do Ramo de Conhecimento do Doutoramento: Doutoramento em Ciéncias da Linguagem; Area de conhecimento em Linguistica Alemä É AUTORIZADA A REPRODUCÄO PARCIAL DESTA TESE, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGACÄO, MEDIANTE DECLARACÄO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE. Universidade do Minho, 20/10/2010 Assinatura:_ 11 Aos meus pais Aos meus irmäos Aos meus sobrinhos, Domenick e Nikita AGRADECIMENTOS Antes de mais os meus agradecimentos säo dirigidos ao Prof. Doutor Hans Schemann, pela orientacäo, pelas sugestöes, pelos ensinamentos, pelo apoio constante e por toda a disponibilidade demonstrada. Agradeco-lhe ainda ter-me possibilitado participar nos seus projectos lexicográficos. Ao Prof. Doutor Jose Joäo Almeida do Departamento de Informática da Universidade do Minho agradeco o apoio, as sugestöes e o intercämbio de ideias em torno da compilacäo e do tratamento do Dicionärio Idiomätico Portugues-Alemäo. Ao saudoso Prof. Doutor Erwin Koller. Aos colegas do Departamento de Estudos Germanisticos e Eslavos, em especial á colega e amiga Natália Nunes, aos colegas e funcionários do Instituto de Letras e Ciéncias Humanas da Universidade do Minho, que com palavras amigas me ajudaram na minha caminhada. A Alice, á Julia, á Ana Maria, ao Paulo estou grata pela amizade e pelo apoio na fase final da dissertacäo. Agradeco aos meus pais pela forca, pelo carinho e por todo o amor que me deram ao longo dos anos. Aos meus irmäos e aos meus sobrinhos, agradeco a amizade, as palavras de incentivo e o apoio incondicional. Aos amigos que sempre estiveram ao meu lado. A todos os alunos que através das suas palavras e gestos me deram forca. 111 SINONÍMIA - CAMPO SEMÄNTICO - CONTEXTO - TEXTO Uma análise da sinonímia com particular releväncia para as expressöes idiomáticas. Estudo sistemático e contrastivo. RESUMO O presente estudo centra-se na análise da sinonímia no dominio das expressöes idiomáticas. Numa primeira parte apresentam-se os critérios que definem as expressöes idiomáticas, comecando por reflectir sobre a linguagem figurada, focando os tropos metafora, metonímia e sinédoque. Em virtude do papel que os conceitos de 'imagem' (Bild) desempenham no ämbito da idiomática e da sinonímia, procede-se á distincäo entre a imagem mental viva (Vorstellung) e a imagem enquanto figura do discurso (Redefigur). Segue-se a caracterizacäo dos elementos que fazem parte do contexto linguistico e do contexto extra-linguistico das expressöes idiomáticas. Na segunda parte abordam-se os factores que intervém directamente na sinonímia idiomática. Servern de ponto de partida para esta análise os seguintes fenómenos: o eufemismo, a personificacäo, a comparacäo, o símbolo, conceitos como o de 'pař/z7'caminho', actos de fala específicos e modelos de construcäo com tendéncia para a generalizacäo. Os factores que resultam desta análise servem de base para uma comparacäo entre os factores da sinonímia näo idiomática e da sinonímia idiomática. Por ultimo, procura-se completar a reflexao sobre a sinonímia idiomática através da oposicäo que esta estabelece com a equivaléncia idiomática. v SYNONYMY-SEMANTIC FIELD - CONTEXT- TEXT An analysis of synonymy between idioms. A systematic contrastive study. ABSTRACT The main purpose of the present study is to shed light on the nature of synonymy between idioms. The first part of the thesis is dedicated to the criteria used to define idiomatic expressions. It begins with a discussion on figurative language and focuses on the distinction between the tropes metaphor, metonymy and synecdoche. The difference between the concept of 'image' as Vorstellung and the concept of 'image' as figure of speech (Redefigur) will also be addressed. The second part of the thesis is concerned with the factors that play a crucial role in idiomatic synonymy. The following phenomena will serve as starting points for the analysis: euphemism, personification, comparison, symbol, concepts such as the concept of 'path', specific speech acts and certain construction models which can be applied in a generalized manner. The results of this analysis will provide the basis for a comparison between those factors involved in idiomatic synonymy and those involved in non-idiomatic synonymy. The last part of this thesis consists of a comparison between idiomatic synonymy and idiomatic equivalence. vii Indice AGRADECIMENTO S .................................................................................................. iii RESUMO ........................................................................................................................v ABSTRACT ................................................................................................................. vii INTRODUCÄO............................................................................................................ 13 Capítulo 1 ELABORACÄO DOS CRITÉRIOS DE DEFFNICÄO DAS EXPRESSÖES IDIOMATIC AS............................................................................................................................17 1.1. LINGUAGEM FIGURADA OS TROPOS: METAFORA - METONÍMIA - SINÉDOQUE................................................................... 17 1.1.1. A problemática da delimitacäo dos tropos...............................................17 1.1.2. Critérios de diferenciacäo dos tropos.......................................................20 1.2. OS CONCEITOS DE METAFORA E IMAGEM..........................................26 1.2.1. Imagem mental viva {Vorstellung) vs. imagem enquanto figura do discurso {Redefigur).................................................................................26 1.2.2. Caracterizacäo da imagem enquanto figura do discurso (Redefigur).......27 1.2.2.1. A forma da imagem...........................................................................27 1.2.2.2. A estrutura da imagem.......................................................................33 1.2.2.3. As funcöes da imagem.......................................................................34 1.3. A PROBLEMÁTICA DA ABORDAGEM COGNITIVA DA METAFORA... 41 1.4. CARACTERIZACÄO DO CONTEXTO LINGUÍSTICO DAS EXPRES SÖES IDIOMATIC AS.....................................................................42 1.4.1. Delimitacäo do conceito de contexto........................................................42 1.4.2. Caracterizacäo das restricöes morfo-sintácticas e léxico-semänticas das expressöes idiomáticas.......................................................................45 1.4.3. O contexto lexemático..............................................................................54 1.4.4. O contexto semäntico...............................................................................56 IX 1.5. CARACTERIZACÄO DO CONTEXTO EXTRA-LINGUISTICO DAS EXPRESSÖES IDIOMATIC AS: Deixis - Situacäo - Actos de Fala - P(l)ano de Fundo...................................58 1.5.1. Notas preliminares....................................................................................58 1.5.2. Deixis........................................................................................................59 1.5.3. Situacäo....................................................................................................65 1.6. O PLANO DAS PRESSUPOSICÖES............................................................75 1.6.1. O conceito de 'pressuposicäo'..................................................................75 1.6.2. As pressuposicöes lögicas, semänticas e pragmäticas..............................76 Capitulo 2 O SYNONYMWÖRTERBUCH DER DEUTSCHEN REDENSARTEN - CORPUS DE REFERENCIA NO DOMTNIO DA SINONIMIA IDIOMATICA ALEMÄ..................83 2.1. Descricäo da micro- e macroestrutura do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten.....................................................................................................83 2.2. Quadro estatistico da sinonimia na idiomätica alemä.....................................88 Capitulo 3 A SINONIMIA NO PLANO DA IDIOMÄTICA...................................................................107 3.1. Os Eufemismos..............................................................................................107 3.2. A Personificacäo............................................................................................115 3.3. A Comparacäo...............................................................................................118 3.4. O conceito de 'pa^V'caminho'.....................................................................131 3.5. Expressöes vinculadas a actos de fala especificos {Sprechaktrestringierte Idioms)...........................................................................................................141 3.6. Modelos de construcäo com tendencia para a generalizacäo........................151 3.6.1. Modelo de construcäo com o constituinte nuclear wohl.........................152 3.6.2. Modelos de construcäo caracteristicos de categorias especificas...........159 3.6.2.1. Categoria: Um colectivo de pessoas................................................160 3.6.2.2. Categoria: Um colectivo de coisas..................................................161 3.6.2.3. Categoria: 'por tudo e por nada'/'nada - absolutamente nadaV nada de nada'...................................................................................162 x 3.7. A sinonímia näo idiomática versus a sinonímia idiomática..........................167 3.7.1. Comparacäo dos factores de diferenciacäo de sinónimos nos pianos näo idiomático e idiomático..........................................................................167 3.7.2. Sistematizacäo dos factores que intervém na sinonímia idiomática......191 Capítulo 4 SINONÍMIA - EQUI VALENCIA - TEXTO.........................................................................193 4.1. A equiValencia idiomática.............................................................................194 4.2. Estudo de caso: análise da relacäo de equivaléncia entre a expressäo portuguesa dar cabo de e as expressöes de partida alemäs...........................206 4.2.1. Metodológia...........................................................................................206 4.2.2. Análise estrutural e semäntica da expressäo dar cabo de (qc/alg).........207 4.2.3. Inversäo da perspectiva: análise da equivaléncia interlingual a partir dos equivalentes alemäes da expressäo dar cabo de alg............210 4.3. O funcionamento da sinonímia e da equivaléncia no piano do texto............218 REFERÉNCIAS BIBI.IOGRAI ICAS.....................................................................................221 1. Dicionários.......................................................................................................221 2. Bibliografia Geral.............................................................................................222 ANEXOS Anexo 1 ........................................................................................................................235 Macro e microestrutura do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten Anexo 2.........................................................................................................................241 Descricäo pormenorizada do processo de compilacäo electrónica do Dicionário Idiomático Portugués - A lemäolIdiomatik Portugiesisch - Deutsch ..................241 XI INTRODUCÄO O presente trabalho tem como objecto de estudo a sinonímia no piano das expressöes idiomáticas. O primeiro capítulo centra-se nos critérios de definicäo das expressöes idiomáticas, estando subdividido em seis subcapítulos. O primeiro subcapítulo ocupa-se da descricäo dos tropos metafora, metonímia e sinédoque, enquanto factores constitutivos de idiomaticidade, e da formulacäo da problemática relacionada com a delimitacäo e diferenciacäo dos mesmos. Dada a releväncia dos conceitos de imagem (Bild) no ämbito das expressöes idiomáticas, considera-se prioritário apresentar, no segundo subcapítulo, o que distingue o conceito de 'imagem' enquanto imagem mental viva (Vorstellung) do conceito de 'imagem' enquanto figura do discurso (Redefigur). Neste quadro coloca-se em destaque a natureza - a forma, a estrutura, as funcöes - da imagem enquanto figura do discurso. No terceiro subcapítulo apresenta-se de forma sintética a diferenca entre a abordagem cognitiva da metafora de Lakoff & Johnson e a abordagem da metafora aqui em análise. Os Ultimos trés subcapítulos assentam no modelo de classificacäo dos contextos que intervém nas expressöes idiomáticas elaborado por Schemann (2003), modelo que distingue entre contexto linguístico, contexto extra-linguístico e contexto das faculdades biológicas. Assim sendo, o quarto subcapítulo ocupa-se da caracterizacäo do contexto linguístico das expressöes idiomáticas, desde a caracterizacäo das restricöes morfo-sintácticas e léxico-semänticas, ás quais estas unidades estäo sujeitas, á caracterizacäo dos contextos lexemático e semäntico. O quinto subcapítulo trata do contexto extra-linguístico das expressöes idiomáticas, investigando, em particular, fenómenos relacionados com o contexto de situacäo, o contexto do piano de fundo (Grund) e o contexto pragmático. O ultimo subcapítulo é dedicado ao funcionamento do conceito de 'pressuposicäo' -pressuposicöes lógicas, semänticas e pragmáticas - no domínio da idiomática. O desenvolvimento do primeiro capítulo permite ao leitor aperceber-se do conjunto de factores que entram em jogo na análise das expressöes idiomáticas, factores esses que serviräo de suporte á análise da sinonímia no ämbito da idiomática. Dada a releväncia do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten de Schemann (1992) para o presente estudo, o segundo capítulo é dedicado á descricäo dos principios metodológicos subjacentes á concepcäo deste corpus de referencia no domínio da 13 sinonímia idiomática alemä, recurso que, em virtude da conjugacäo de várias perspectivas lexicográficas, constitui uma mais-valia para o ensino e a aprendizagem do alemäo como lingua estrangeira. O capítulo termina com a apresentacäo de um quadro estatistico dos campos semänticos que no Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten säo compostos por cinco ou mais expressöes sinónimas. O terceiro capítulo diz respeito á análise do funcionamento da sinonímia no piano da idiomática com o intuito de indagar e sistematizar os factores que contribuem para a relacäo de sinonímia entre expressöes idiomáticas. Este capítulo encontra-se organizado segundo determinados fenómenos que desempenham um papel preponderante no piano da idiomática. Säo eles: o eufemismo, a personificacäo, a comparacäo, o símbolo, conceitos como o de '/?ař/z7'caminho', actos de fala específicos e modelos de construcäo com tendéncia para a generalizacäo. O capítulo conta ainda com uma reflexäo sobre os factores da sinonímia näo idiomática por oposicäo aos factores da sinonímia idiomática. Os exemplos apresentados neste capítulo provém do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten (Schemann, 1992). O objectivo do quarto capítulo consiste em mostrar de que forma a sinonímia idiomática se distingue da equivaléncia idiomática. Comeca-se por apresentar a tipologia de equivaléncia interlingual proposta por Larreta (2001), tipologia desenvolvida com base em relacöes de equivaléncia entre somatismos. Seguidamente, procede-se a um estudo de caso que envolve a análise da relacäo de equivaléncia entre a expressäo portuguesa dar cabo de e as expressöes equivalentes alemäs. Como corpus de referéncia para este estudo toma-se o Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo (Schemann/Dias, 2005) que apresenta uma perspectiva lexicográfica bifacetada: uma perspectiva interlingual (expressäo portuguesa —► equivalentes em alemäo) e uma perspectiva intralingual (relacäo sinonímica entre os equivalentes alemäes). No Anexo 2 encontra-se uma descricäo pormenorizada do processo de compilacäo electrónica do Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo. Introduz-se consideracöes gerais sobre o processo de etiquetagem e processamento de textos electrónicos e apresentam-se os passos envolvidos na criacäo do corpus electrónico anotado do Dicionário. Por fim, apresenta-se uma relacäo das expressöes idiomáticas portuguesas 14 do Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo com mais de duas expressöes equivalentes alemäs. Sublinhe-se que esta relacäo pode servir de recurso de referencia, por um lado, para estudos que visam abordar a equivaléncia interlingual entre o portugués e o alemäo e, por outro, para o ensino e a aprendizagem do alemäo como lingua estrangeira. No ämbito desta ultima aplicacäo, este recurso pode servir de suporte a urna reflexäo didáctica em torno das expressöes idiomáticas alemäs mais relevantes para falantes do portugués que estudam o alemäo como lingua estrangeira. 15 Capítulo 1 ELABORACJÄO DOS CRITÉRIOS DE DEFINICJÄO DAS EXPRESSÓES IDIOMÁTICAS 1.1. LINGUAGEM FIGURADA OS TROPOS: METAFORA - METONÍMIA - SINÉDOQUE 1.1.1. A problemática da delimita^äo dos tropos A temática dos tropos constitui uma problemática ampla que tem sido objecto de muita investigacäo1. De particular releväncia para o estudo das expressôes idiomáticas säo os tropos metafora, metonímia e sinédoque, dado serem, segundo Schemann, "die wichtigsten Idiomatizitätsfaktoren" (1993: XXVI), os principals factores constitutivos de idiomaticidade. A pluralidade de perspectivas sobre estas figuras do discurso e a diversidade dos modelos de classificacäo e das definicôes propostas torna necessário definir como encaramos estes mecanismos de expressäo no nosso trabalho2. Para tal, servir-nos-emos da taxionomia das figuras do discurso elaborada por Fontanier. Ainda que esta taxionomia tenha sido publicada entre 1821 e 1830, no entanto reveste-se de importäncia para o nosso estudo pelas seguintes razôes, retiradas da introducäo de Gérard Genette á obra Les Figures du Discours de Fontanier (1968: 5-17): (i) Fontanier fornece urna definicäo rigorosa do conceito de 'figura'; (ii) a tipologia em questäo baseia-se na oposicäo 'sentido figurado-sentido literal' (sens figuré-sens littéraľ): "l'opposition pertinente n'est done pas figuré/usuel, mais figuré/littéral: le figure n'existe qu'en tant qu'il s'oppose au littéral, la figure n'existe qu'autant qu'on peut lui opposer une expression littérale" [sublinhado pelo autor] (ibidem: 10)3; 1 O termo 'tropos' descende da expressäo grega xpÓ7io<; (tropos) que significa 'expressäo, direcgäo' {Wendung, Richtung). Aplicado á retórica, o termo 'tropos' designa "Wörter oder Wendungen, die nicht im eigentl. [ichen] Sinne, sondern in einem übertragenen, bildlichen gebraucht werden" (Metzler Lexikon Sprache, 1993: 653). 2 Para uma visäo global da história e da problemática dos tropos poderäo consultar-se, entre outros, Du Marsais, Traité des Tropes, ((1730), 1981); Fontanier, Les Figures du Discours, 1968; Richards, The Philosophy of Rhetoric, ((1936), 1965). Para um tratamento detalhado deste assunto na tradigäo alemä, ver Lausberg, Elemente der literarischen Rhetorik, 1963 e Plett, Einführung in die rhetorische Textanalyse, 1973. 3 Como teremos oportunidade de verificar adiante, a oposigäo 'sentido figurado-sentido literal' desempenha um papel importante na definicäo do conceito de idiomaticidade. 17 (iii) a abordagem de Fontanier pöe em evidencia a interseccäo entre a dimensäo paradigmätica e a dimensäo sintagmätica do discurso (ibidem: 16); (iv) Fontanier propöe uma divisäo clara e precisa das figuras do discurso, divisäo que Genette classifica de 'Tun des chefs-d'ceuvre de l'intelligence taxinomique" (ibidem: 13)4. Fontanier distingue sete classes de tropos5, sendo que a metäfora, a metonimia e a sinedoque pertencem ä classe das figuras de significacäo (figures de signification). Antes de analisarmos, com algum pormenor, a distincäo entre as figuras do discurso -metäfora, metonimia, sinedoque - estabelecida por Fontanier, modelo de classificacäo que servirä de orientacäo teörica para a anälise do comportamento destas figuras de transposicäo a nivel das expressöes idiomäticas, vejamos a divergencia de opiniöes no que respeita a delimitacäo destes mecanismos de expressäo. A dificuldade de uma demarcacäo nitida entre estes tres tropos prende-se, em parte, com o facto de a metäfora ter merecido em estudos de natureza retörica e linguistica desde Aristoteles um estatuto privilegiado em relacäo ä metonimia e ä sinedoque6. No que diz respeito ä fronteira entre a metonimia e a sinedoque deve ter-se em conta que existem fundamentalmente duas orientacöes: (i) de modo geral, as teorias mais recentes que se debrucam sobre a temätica dos tropos näo atribuem ä sinedoque uma individualidade propria, preferindo 'encaixar' a sinedoque no dominio da metonimia. Importa destacar a posicäo de Lakoff & Johnson, teöricos da linguistica cognitiva, a este respeito: "We are including as a special case of metonymy what traditional rhetoricians have called synecdoche, where the part stands for the whole" (1980: 36). Para estes autores, a sinedoque e urn caso especial de metonimia, ou seja, a relacäo geral 'a parte pelo todo' e tida como urn conceito metonimico que obedece aos parämetros da contiguidade. (ii) teöricos que, tal como Fontanier, defendem uma divisäo nitida entre a metonimia e a sinedoque7. Jakobson, no seu artigo intitulado Parts and Wholes in Language, 4 Genette, fazendo alusäo ao cientista Lineu, cujo modelo de classificagäo dos grupos botänicos e, ainda hoje, tido como modelo de referenda, refere-se a Fontanier como o "Linne de la rhetorique" (ibidem: 13). 5 Fontanier propöe as seguintes sete classes de tropos: figuras de significagäo (figures de signification), figuras de expressäo (figures d'expression), figuras de diccäo (figures de diction), figuras de construcäo (figures de construction), figuras de elocucäo (figures d'elocution), figuras de estilo (figures de style) e figuras de pensamento (figures de pensees). 6 Veja-se, a titulo de exemplo, o modo como Ullmann na secgäo "Das Wesen der Bildlichkeit" da obra Sprache und Stil (1972: 195-225) desenvolve a questäo das figuras do discurso (Redefiguren). Este autor reduz o tratamento das figuras do discurso ao tratamento da metäfora. 7 Genette critica a tendencia da retörica moderna para encarar näo somente as relagöes metonimicas como tambem as relacöes sinedöquicas como relagöes de contiguidade. Este autor reconhece que na prätica casos hä em que a 18 sublinha, por um lado, o caracter multifacetado das relacoes parte-todo e todo-parte e, por outro, o papel fundamental que as mesmas desempenham a nivel do funcionamento da linguagem, chamando a atencao para a necessidade de se investigar a articulacao entre o todo e as suas partes e a inter-relacao entre as partes do todo: "In spite of the manifold aspects of interdependence between wholes and parts in language, linguists have been prone to disregard this mutual relationship" (1990: 110). E, maisadiante: "If the whole is a "pattern of relations", then the part, as Nagel notes, may also refer to "any one of the elements which are related in that pattern on some occasion of its embodiment" (1963: 137)8. Thus he touches upon the fundamental difference between design [type] and token, a whole-part relation which linguists have recognized, but without drawing all the obvious and far-reaching inferences. (...) Indeed a rich scale of tensions between wholes and parts is involved in the constitution of language where the part for the whole and, on the other hand, the whole for the part, the genus for the species, and the species for the individual are the fundamental devices" (1990: 114). Para completar a reflexao sobre a problematica da delimitacao destes tropos, ha que abordar a demarcacao entre a metafora e a metonimia. Independentemente da perspectiva a partir da qual se analise a relacao metafora - metonimia, e comummente aceite que estamos perante dois processos distintos de transposicao. Neste contexto, merece referenda especial a seccao sugestivamente intitulada "The Metaphoric and Metonymic Poles" do ensaio Two Aspects of Language and Two Types of Aphasic Disturbances de Jakobson {ibidem: 115-133). Este linguista considera que existe um paralelismo entre as relacoes de similaridade e contiguidade, relacoes que, do ponto de vista estruturalista, formam a base das estruturas linguisticas a varios niveis, e os dois tipos basicos de perturbacoes em pessoas que sofrem de afasia: por um lado, perturbacoes caracterizadas por uma perda completa ou parcial da capacidade para estabelecer relacoes de similaridade, ou seja, para realizar operacoes de seleccao entre unidades linguisticas em determinado contexto paradigmatico; por outro lado, separagäo entre estes dois tropos näo é clara, no entanto, enfatiza que faz todo o sentido distingui-los, uma vez que existe uma oposigäo logica entre os mesmos. Lé-se na sua introducäo á obra Les Figures du Discours: "Opposition ďune grande valeur logique, méme si certains cas sont difficiles á distribuer en pratique, et il est dommage qu'elle se soit perdue dans la conscience r[h]éthorique moderně, qui amalgame les deux rapports sous le méme concept de contiguité" [sublinhado pelo autor] (1968: 14-15). 8 Jakobson desenvolve a sua análise sobre as relagöes parte-todo com base no ensaio Wholes, Sums, and Organic Unities de Ernest Nagel (1963). 19 perturbacoes caracterizadas por uma perda completa ou parcial da capacidade para estabelecer relacoes de contiguidade, isto é, para efectuar combinacoes de elementos linguísticos num encadeamento sintagmático: "Every form of aphasic disturbance consists in some impairment, more or less severe, of the faculty either for selection and substitution or for combination and contexture. (...) The relation of similarity is suppressed in the former, the relation of contiguity in the latter type of aphasia" [sublinhado por mim] {ibidem: 129). Jakobson desenvolve esta ideia da estrutura bipolar da linguagem, estabelecendo uma ligacao entre as relacoes de similaridade - contiguidade e os processos de transposicao metafora - metonímia: "The development of a discourse may take place along two different semantic lines: one topic may lead to another either through their similarity or through their contiguity. The metaphoric way would be the most appropriate term for the first case and the metonymic way for the second, since they find their most condensed expression in metaphor and metonymy respectively" [sublinhado por mim] {ibidem: 129). Como tal, a producao discursiva depende de operacoes de substituicao no eixo paradigmático, baseadas no principio da similaridade, e de operacoes de combinacao no eixo sintagmático, baseadas no principio da contiguidade. Ora, se a metafora e a metonímia operám em pianos distintos, tal significa que estes meios de expressao realizam processos de transposicao distintos. 1.1.2. Critérios de diferenciacáo dos tropos Abordam-se em seguida os principais critérios de diferenciacáo da metonímia, da sinédoque e da metafora elaborados por Fontanier (1968), tomando como ponto de partida a metonímia que, neste quadro, é definida como 'tropo de correspondéncia': "Les Tropes par correspondance consistent dans la designation ďun objet par le nom d'un autre objet qui fait comme lui un tout absolument á part, mais qui lui doit ou á qui il doit lui-měme 20 plus ou moins, ou pour son existence, ou pour sa maniere d'etre. On les appelle metonymies, c'est-á-dire, changemenftjs de noms, ou nomspour d'autres noms"9 (1968: 79). Parece-me possivel tirar as seguintes conclusôes: (i) o processo de transposicäo decorre de urna 'correspondéncia' entre duas unidades distintas, melhor dizendo, entre duas esferas de significacäo distintas; (ii) a 'correspondéncia' entre as duas unidades funda-se numa relacäo de dependéncia adjacente ou contígua entre a unidade substituinte e a unidade substituída; (iii) o estado de contiguidade resulta do facto da unidade substituinte estar de urna ou outra forma ligada a determinada caracteríštica do conjunto das características que definem a esséncia ou o modo de ser da unidade substituída. Fontanier distingue nove tipos de relacôes metonímicas, a saber: (i) metonímia da causa {métonymie de la cause); (ii) metonímia do instrumente {métonymie de ľ instrument); (iii) metonímia do efeito {métonymie de ľeffet); (iv) metonímia do conteúdo {métonymie du contenant); (v) metonímia de lugar {métonymie du lieu); (vi) metonímia do signo ou do símbolo {métonymie du signe); (vii) metonímia da matéria ou da substancia física {métonymie du physique); (viii) metonímia de posse {métonymie du maitre ou du patron); (ix) metonímia do objecto {métonymie de la chose). Tendo em conta que estamos perante urna transposicäo que envolve unidades distintas, Genette fala, a propósito da relacäo de 'correspondéncia' que se estabelece entre as unidades, de "dependence externe"10. Consideremos agora a sinédoque que Fontanier designa de 'tropo de conexäo': 9 Cf. a traducäo alemä da definicäo de metonimia de Fontanier retirada do Historisches Wörterbuch der Rhetorik (Ueding, 1996, vol. 5: 1211): "Die Tropen durch Verbindung bestehen in der Bezeichnung eines Objektes durch den Namen eines anderen Objektes, das wie jenes ein völlig für sich bestehendes Ganzes bildet, das aber jenem oder dem jenes selbst mehr oder weniger entweder hinsichtlich seiner Existenz oder hinsichtlich seiner Seinsweise verbunden ist. Wir nennen sie M. [etonymie], d.h. Namensvertauschungen oder Namen anstelle anderer Namen". 10 Cf. a introduQäo ä obra Les Figures du Discours (1968: 14). 21 "Les Tropes par connexion consistent dans la designation ďun objet par le nom d'un autre objet avec lequel il forme un ensemble, un tout, ou physique ou métaphysique, I 'existence ou l 'idée de I 'un se trouvant comprise dans I 'existence ou dans l 'idée de I 'autre"11 (1968: 87). Observe-se antes de mais que esta definicao da sinédoque assenta na relacáo 'unidade/conjunto - elementos/partes constituintes', que, na sua base, supoe a existéncia de uma dependéncia intrínseca ou interna12 entre (i) os elementos e a unidade genérica, resultante da abstraccao das diferencas e particularidades que caracterizam as partes constituintes; (ii) as partes que, em conjunto com outras, formám o todo, a unidade. Nesta linha de pensamento, o que caracteriza essencialmente a sinédoque e a diferencia da metonímia é o facto de estarmos perante um processo de transposicao que opera no interior de uma esfera de significacao delimitada pela unidade genérica. O todo pode ser definido a partir das partes que o compoem, isto é, a partir de vários pontos de vista que sao especificamente diferentes. O acto de especificacao baseia-se na oposicáo genérico - especifico e, como tal, encontra-se intimamente ligado á oposicao género - espécie. Vemos como a partir da relacao parte <-+ todo é possivel trabalhar com conceitos como os de género e espécie. Para concretizar o modo como se dá (i) a relacáo parte <-+ todo e (ii) a relacáo género <-+ espécie, servir-me-ei de dois exemplos relacionados com o objecto 'árvore': (i) Numa aula de portugués lingua estrangeira um aprendente coloca a seguinte questáo: 'O que significa a palavra 'árvore'?'. A forma mais fácil de responder a esta pergunta consiste em apontar para o objecto físico 'árvore', melhor dizendo, para um exemplar físico do conceito 'árvore'. No entanto, se o objectivo é aprofundar o vocabulário da lingua portuguesa, a estratégia mais adequada será descrever o objecto designado pela palavra 'árvore'. Tendo em conta que o objecto 'árvore' tem e contém, isto é, possui um conjunto de partes (raiz, tronco, ramo, folhas, etc.), podemos recorrer á descricao do objecto através da resolucáo do seu 'conteudo': árvore <-+ raiz - tronco - ramo - folhas ... 11 Cf. a seguinte traducäo alemä da definigäo de sinedoque de Fontanier retirada do Historisches Wörterbuch der Rhetorik (Ueding, 1996, vol. 5: 1211): "(...) in der Bezeichnung eines Objektes durch den Namen eines anderen Objektes besteht, mit dem es ein Ensemble bildet, ein entweder physisches oder metaphysisches Ganzes, wobei die Existenz oder Idee des einen in der Existenz oder Idee des andern enthalten ist". 12 Genette, na introducäo ä obra Les Figures du Discours, emprega o termo 'dependance interne' para descrever a ligacäo entre as unidades implicadas no processo de transposigäo de tipo sinedöquico (1968: 14). 22 Este processo é um acto de especificacäo no sentido em que se procede a uma divisäo de um todo nos elementos que estäo contidos nele. (ii) Outra forma de descrever o objecto designado pela palavra 'árvore', forma ligada á logica da resolucäo de um todo em elementos, consiste em dar exemplos do que pode ser considerada uma 'árvore', isto é, 'resolver' o género em espécies: árvore <-+ choupo - carvalho - pinheiro - eucalipto - faia ... As espécies säo exemplares específicos de um mesmo género. A palavra 'árvore' näo designa uma árvore específica, mas sim uma multiplicidade diferenciada de árvores. Estamos novamente perante um acto de especificacäo que é simultaneamente um acto de exemplificacäo. Schemann (1993: LV) classifica a relacäo género <-+ espécie referida em (ii) de 'estática' e, baseando-se nas observacöes do Grupo [i do Centre ďEtudes Poétiques da Universidade de Liege, propöe um segundo tipo de relacäo género -^espécie, este de natureza 'dinämica'. Entenda-se por relacäo 'dinámica' uma relacäo que se funda num acto, numa accäo, numa actividade, num processo. Vejamos o seguinte exemplo ilustrativo: (1) töten *-> erwürgen - erschießen - ertränken matar *-> estrangular -fuzilar - afogar Ora, se os actos designados pelos lexemas estrangular, fuzilar e afogar säo casos especificos da accäo genérica 'matar alguém', estes lexemas representam formas de 'pensar' e 'apreender' o conceito geral, pelo que funcionam como formas de exemplificacäo do mesmo. A relacäo género <-+ espécie do tipo dinämico pode ser esquematizada da seguinte forma: acto/accäo/processo/... <-+ caso(s) especifico(s) do acto/da accäo/do processo/... Antes de procedermos á reflexäo sobre a metafora, importa lembrar a pertinéncia para o nosso propósito de uma abordagem das trés figuras do discurso que assente na divisäo clara das mesmas. Somente uma abordagem děste tipo reúne as características para funcionar como base operacional a partir da qual será possível estudar as 23 particularidades do funcionamento destes mecanismos de expressäo e a articulacao entre os mesmos a nivel das expressöes idiomáticas13. Consideremos agora a metafora que Fontanier designa de 'tropo de similitude ou semelhanca': "Les Tropes par ressemblance consistent äpresenter une idée sous le signe d'une autre idéeplus frappante ou plus connue, qui, ďailleurs, ne tient á la premiere par aucun autre lien que celui d'une certaine conformité ou analogie"1* (1968: 99). A partir desta definicäo torna-se possivel delinear alguns pontos essenciais para a compreensäo do processo de metaforizacäo. Em primeiro lugar, estamos perante urn processo que envolve exprimir uma ideia por meio de uma expressäo que tem um sentido proprio. Quer isto dizer que no processo metafórico, aqui o termo 'metafórico' entendido em sentido lato15, intervém dois pianos de significacäo: o piano do sentido literal e o piano do sentido figurado da expressäo ou do enunciado. Em segundo lugar, o facto de ser possível empregar uma expressäo com sentido proprio para transmitir um outro sentido, um sentido metafórico, deve-se á existéncia de algum tipo de relacäo de semelhanca ou similitude entre estes dois pianos de significacäo. A aplicacäo do termo 'leäo' para nos referirmos a determinado indivíduo que demonstre ser corajoso e valente baseia-se no facto de reconhecermos nessa pessoa características do animal que designamos de 'leäo'. Um terceiro aspecto a salientar encontra-se ligado á funcäo metafórica. Fontanier faz alusäo a duas funcöes que podem ser desempenhadas pela metafora: por um lado, a metafora pode servir para criar ou provocar um efeito de surpresa ou estranheza; por outro, pode servir para facilitar o entendimento de uma ideia complexa através do recurso a uma ideia mais familiar ou conhecida. De facto, como demonstram os estudos dedicados aos somatismos16, o ser humano procura recorrer a 13 Uma metodologia, tal como a adoptada por Lakoff & Johnson (1980: 38-39), que mescla a metonímia e a sinédoque, näo se presta para os nossos objectivos, dado que agrupar estas figuras num todo heterogéneo tem como resultado a dissipagäo das fronteiras que existem entre estes mecanismos de expressäo. 14 Cf. a traduQäo alemä da definigäo de metafora proposta por Fontanier retirada do Historisches Wörterbuch der Rhetorik (Ueding, 1996, vol. 5: 1140): "Metaphern bestehen darin, daß «eine Vorstellung [idée] unter dem Zeichen einer anderen, überraschenderen und bekannteren Vorstellung vorgebracht wird, die mit der ersten durch keine andere Verbindung als der einer gewissen Übereinstimmung oder Analogie [conformité ou analogie] zusammengehalten wird»". 15 Deve-se observar que a sinergia entre o piano do sentido literal e o piano do sentido figurado também se verifica em relagäo á metonímia e á sinédoque. 16 Cf. a afirmagäo de Dobrovol'skij aquando da sua análise de expressöes idiomáticas que exprimem a nocäo de medo: "Wir können unsere Emotionen, seelischen Regungen und psychischen Reaktionen nur dann konzeptualisieren 24 ideias do domínio do concreto, do palpável, para 'dar voz' a fenómenos psicológicos, psíquicos e 'espirituais', em suma, fenómenos abstractos, que säo difíceis de captar e, consequentemente, difíceis de materializar ou transformar em palavras. Quer dizer, e empregando o termo difundido pela Retórica, a metafora pode ser concebida como um 'Sprungtropus', isto é, um tropo que envolve um 'salto' (Sprung) de determinados elementos de urna esfera de significacäo para outra esfera de significacäo distinta, de um paradigma para outro paradigma. Postas estas observacôes, importa integrar aqui urna referencia ao tipo de 'salto' ou transposicäo que pode ter lugar entre os dois pólos do processo metafórico. Pode-se tomar como ponto de partida a expressäo mäe galinha, utilizada para designar urna mäe que gosta de estar sempre rodeada dos filhos e se ocupa deles, protegendo-os demasiado. O lexema galinha ('Huhn') tornado como forma livre refere-se a um animal, mais especificamente á fémea adulta de uma ave doméstica, cujos ovos e carne säo usados na alimentacäo humana, e á qual associamos determinadas características ligadas ao seu comportamento: a galinha cacareja; movimenta-se sem orientacäo, andando para trás e para a frente sem norte; procura estar perto dos seus pintos, isto é, procura té-los sempre 'debaixo das suas asas', etc. Ao referir-me á minha mäe como sendo 'urna mäe galinha' estou, sem dar por isso, a comparar o seu comportamento para comigo com a forma como o animal galinha trata os seus pintos. O processo metafórico pode ser descrito da seguinte forma: o traco semäntico 'procura estar sempre perto dos seus pintos/procura ter os seus pintos 'debaixo das suas asas", que faz parte do significado do lexema galinha, é transposto ou transferido da classe [+ animado | - humano], á qual este lexema pertence, para a classe [+ animado I + humano]. Schemann (1993: LV) classifica a metafora que consiste na transposicäo de semas de urna classe para outra de 'metafora classemática' (klassematische MetapherIKlassenmetapher)11. Além da metafora classemática, und über sie reden, wenn wir sie aus der „unsichtbaren" und somit unfaßbaren Welt des Geistes in die „sichtbare" und somit objektivierbare Welt der physischen Reaktionen herbeiholen. Dort, wo es gilt, uns über die Regungen der Seele klar zu werden und sie zu artikulieren, greifen wir besonders oft auf Reaktionen des Körpers zurück" (1995: 318). Vejam-se, a titulo de exemplo, as seguintes expressöes idiomäticas alemäs e os respectivos equivalentes em portugues: eine Gänsehaut kriegen/bekommen - 'ficar com pele de galinha'; weiche Knien kriegen/bekommen -'ficar com as pernas/os joelhos atremer'; Blut schwitzen - 'ficar empänico; suarfrio; sentir suores frios; cobrir-se de suores frios'. E interessante consultar igualmente o estudo lexico-semantico dos somatismos da lingua alemä realizada por Mellado Blanco (2004), Fraseologismos somäticos del alemän. 17 o processo de transposigäo metaförica acabado de formular tambem se verifica em relagäo äs seguintes expressöes alemäs que apresentam o lexema Huhn como constituinte: ein dummes/blödes/albernes Huhn (sein); ein fideles/ulkiges/lustiges Huhn (sein) - '(ser) uma rapariga engragada/divertida/cömica'; ein komisches Huhn (sein) -'(ser) uma rapariga/estranha/esquisita'; ein vergeßliches Huhn (sein) - 'ter uma memoria de galinha'; ein verrücktes Huhn (sein) - 'ser/parecer uma Maria maluca'; wie ein Huhn hin- und herlaufen - 'andar para träs e para a frente/para um lado e para outro'. Notar-se-ä que estas expressöes actualizam alguns dos tracos semanticos acima referidos em relagäo ao lexema que designa o animal 'galinha'. 25 Schemann propöe outros dois tipos de metafora, a saber: a 'metafora do campo ou domínio semäntico' {Bereichsmetapher) e a 'metafora da semelhanca pura' {reine Ähnlichkeitsmetapher). A metafora do campo ou domínio semäntico caracteriza-se pela transposicäo de elementos de significacäo de um domínio semäntico para outro domínio semäntico. Quanto á metafora da semelhanca pura: embora näo ser possível reduzir a relacäo de semelhanca entre o significado literal e o significado metafórico a um processo de transposicäo de semas, 'sentimos' que essa relacäo de semelhanca existe entre os dois planos de significacäo. 1.2. OS CONCEITOS DE METAFORA E IMAGEM 1.2.1. Imagem mental viva {Vorstellung) vs. imagem enquanto figura do discurso {Redefigur) A problemática da metafora encontra-se intimamente ligada ao termo 'imagem' {Bild). Uma análise do emprego do termo 'imagem' em estudos relacionados com a temática da metafora mostra uma tendencia por parte dos linguistas para usarem os termos 'metafora' e 'imagem' indiferentemente. Tal como refere Ullmann no capítulo "Das Wesen der Bildlichkeit" ("A esséncia da imagem") da sua obra Sprache und Stil (1972: 195-225)18, esta prática pode levantar dificuldades de indole terminológico e interpretativo, na medida em que a palavra 'imagem' pode também ser aplicada em outros contextos. Com o intuito de clarificar a relacäo entre 'imagem' e 'metafora', Ullmann (1972: 198) propöe urna distincäo nitida entre 'imagem' enquanto 'imagem mental viva/representacäo mental viva' (expressäo portuguesa que, no meu entender, melhor capta a esséncia do termo técnico alemäo lebhafte Vorstellung) e 'imagem' enquanto 'figura do discurso' {Redefigur). Nas seccöes que seguem, proponho-me, com base nas observacöes de Ullmann (1972), isolar alguns critérios de análise dos dois tipos de 'imagem' acima mencionados, segundo os quais se pode estabelecer urna diferenciacäo pertinente que sirva de suporte ao nosso estudo dos tropos e a sua funcäo nas expressöes idiomäticas. Segundo Ullmann, uma 'imagem mental viva' obedece aos seguintes parämetros: A edigao original desta obra em lingua inglesa foi publicada em 1964 sob o titulo Language and Style. 26 (i) possui um componente sensível e concreto ligado á percepcäo das mais diversas sensacôes por meio dos sentidos; daí o qualificativo 'viva' para descrever a 'imagem mental' ('bildhafte' Vorstellung); (ii) possui algo de inesperado que provoca o efeito de surpresa; (iii) surge espontaneamente ('im Nu'), pelo que prima pela novidade e originalidade; (iv) revela um potenciál criativo que dá origem a outras imagens, outras ideias, outros mundos. Analisemos em seguida a 'imagem' na sua qualidade de 'figura do discurso'. Como já foi referido, as observacôes de Ullmann a este respeito centram-se na análise da metafora que é tida como 'imagem' por excelencia. O seu estudo incide sobre as seguintes questôes: (i) a forma da imagem, (ii) a estrutura da imagem, e (iii) as funcôes da imagem. 1.2.2. Caracterizacäo da imagem enquanto figura do discurso (Redefigur) 1.2.2.1. A forma da imagem No que diz respeito á forma da imagem, bašta fazer um levantamento dos termos utilizados para designar e descrever a metafora no capítulo acima referido da obra de Ullmann para nos darmos conta de que a metafora é: (i) por vezeš, colocada praticamente ao mesmo nível da 'comparacäo' e/ou da 'analógia'; (ii) por outras vezeš, posta em oposicäo a estes processos. Vemos alem disso que o termo 'analógia' é empregue em substituicäo do termo 'comparacäo' ou em alternativa ao termo 'semelhanca' {'Ähnlichkeiť). As seguintes citacôes19 permitir-nos-äo compreender o acima exposto: "Comparer deux objets aussi éloignés que possible ľun de ľautre, ou, par toute autre méťhode, les mettre en presence ďune maniere brusque et saissisante, demeure la täche la plus haute á laquelle lapoésie puísse prétendre" (Breton, in Ullmann, 1972: 196). "II n'y a pas pire ennemi de la pensée que le démon de / 'analogie. (...) Quoi de plus fatigant que cette manie de certains litterateurs, qui ne peuvent voir un objet sans penser aussitôt á un autre" (Gide, in Ullmann, 1972: 197). 19 Sublinhado por mim. 27 "L'image par analogie (ceci est comme cela) et l'image par identification (ceci est cela)" (Eluard, in Ullmann, 1972: 202, nota). "Wie wir soeben sahen, kann ein 'Bild' in der für uns relevanten Bedeutung als 'eine Redefigur zur Bezeichnung einer Ähnlichkeit oder Analogie' definiert werden" (Ullmann, 1972: 199). Em primeiro lugar, note-se que enquanto o surrealista Breton descreve a metafora (poética) como sendo uma accäo de 'comparar' ou justapor de forma subita e comovente dois objectos dispares, Gide refere-se á metafora como 'analógia'. Eluard, por sua vez, equipara a analógia á formula tradicionalmente utilizada para explicar o funcionamento do mecanismo da comparacäo: 'isto é como aquilo'. Em segundo lugar, repare-se que Ullmann na sua definicäo da metafora apresenta os termos 'semelhanca' {Ähnlichkeit) e 'analógia' {Analogie) como sendo equivalentes. A luz destas consideracöes, a metafora é tida como 'comparacäo', 'analógia' e 'semelhanca'. E pertinente para o nosso estudo que nos interroguemos sobre o que haverá de comum e de diferente a nível formal entre os mecanismos da metafora, da comparacäo e da analógia. Comecemos por verificar que näo é viável equiparar as nocöes de 'analógia' e 'semelhanca', dado que o conceito de semelhanca corresponde a urna condicäo de ser entre elementos que legitima o relacionamento por via da comparacäo, da metafora e da analógia. A 'semelhanca' {Ähnlichkeit) constitui o denominador comum a estes processos. Quanto á analógia: sem pretender abordar em pormenor as questöes que a nocäo de 'analógia' levanta, relevo apenas que se trata de urna relacäo de proporcöes comparáveis entre elementos20: ave peixe penas escamas Para uma visäo global da problemática do conceito de analógia, remeto para a obra de Coenen, Analogie und Metapher (2002). 28 A equacäo destas fraccöes21 deve-se ao facto de o termo 'escamas' manter com o termo 'peixe' a mesma relacäo que o termo 'penas' mantém com o termo 'ave' e vice-versa. A simetria das fraccöes deve-se á dependéncia proporcional que os termos das respectivas fraccöes estabelecem urn com o outro. Considere-se em seguida a relacäo entre a comparacäo e a metafora. Convém desde já sublinhar que a metafora é tradicionalmente definida como sendo uma 'comparacäo condensada' (kondensierter Vergleich)22. Tanto no caso da comparacäo como no caso da metafora estamos perante duas formas de expressäo que para a sua concretizacäo exigem dois elementos (A, B) ligados por algum tipo de relacäo de semelhanca: "Ob es sich um ein explizite oder implizite formuliertes Bild handelt, immer entspringt es letztlich ein und derselben Intuition, ein und derselben 'Beobachtung von Wesensverwandtschaften'" (Ullmann, 1972: 204). No que respeita a comparacäo, a relacäo de semelhanca entre os dois elementos em questäo, A e B, realiza-se de forma explicita por meio de indicadores linguisticos e gramaticais, como, por exemplo, a conjuncäo 'como' / 'wie': 'A é como B' / 'A ist wie B\ O processo analitico subjacente ao mecanismo da comparacäo consiste em comparar os dois elementos: Beine (A) (so dünn) wie Streichhölzer (B) haben (sentido literal: 'ter pernas (A) (täo finas) como fósforos (B)'). No que concerne a metafora, a relacäo de semelhanca entre os dois elementos, A e B, realiza-se de forma implicita: 'A é B'. Entre o elemento A e o elemento B estabelece-se, como refere Eluard na citacäo atrás transcrita, uma relacäo de identificacäo. Neste ponto, deveriamos abordar a questäo complexa do 'fundamento' (Fundierung) da identificacäo entre os elementos. Tomemos como ponto de partida o processo de transposicäo que dá origem á locucäo 'perna da mesa' (Tischbein). A identificacäo da parte do objecto 'mesa' designada 'perna' (Bein des Tisches) com a parte do corpo humano denominada 'perna' (Bein des Menschen) processa-se de maneira clara e óbvia. Perceber a transposicäo da esfera de significacäo 'perna de uma pessoa' para a esfera de significacäo 'perna do objecto 'mesa" näo levanta problemas, uma vez que a A palavra 'fracgäo' alude äs origens da palavra 'analogia' enquanto termo tecnico da ärea da matemätica: "In der griechischen Antike wurde der Fachterminus 'Analogie' zunächst auf die Gleichheit von Zahlenverhältnissen bezogen, dann auch auf die Gleichheit anderer Relationen" {ibidem: 9). 22 Cf. Ullmann, 1972: 202. 29 semelhanca entre os elementos em questäo é evidente e, por conseguinte, susceptível de ser explicada. Consideremos agora a relacäo de identificacäo entre o significado literal e o significado metafórico das seguintes expressöes idiomáticas alemäs que apresentam o lexema 'Bein' como constituinte: (1) (a) auf eigenen Beinen stehen - 'ser independente' (b) etw. auf die Beine bringen - 'pör qc de pé' (c) mit beiden Beinen (fest/...) auf der Erde stehen - 'ter os pés (bem/...) assentes no chao'; 'ter o sentido ou a nocäo da realidade' (d) sich auf die Beine machen - 'pör-se a caminho' (2) (a) die Beine in die Hand/unter den Arm nehmen - 'despachar-se (a correr/chegar a um lugar)/dar á(s) perna(s)' (b) sich die Beine aus dem Leib rennen - 'correr/... que se farta'; 'correr/... que nem um maluco/doido' Comparando o significado literal das expressöes em (1) com os respectivos significados idiomáticos, diremos que a identificacäo que se estabelece entre estes dois planos de significacäo näo é aparente. Isto significa que uma anälise baseada em pressupostos lógicos e analiticos näo darä conta do que estä na origem, por exemplo, da expressäo 'auf eigenen Beinen stehen' para transmitir o significado 'ser independente'. Ao tentarmos desvelar o que estä na origem das expressöes idiomáticas em (1), verificamos que as mesmas se encontram, de uma ou outra forma, ligadas ao conhecimento que possuimos das pernas enquanto membros do corpo humano, isto é, a um fundo pressuposto que inclui as seguintes vivéncias: as pernas permitem a locomocäo; as pernas precisam de uma base, uma superfície sobre a qual se apoiam; as pernas permitem a realizacäo de determinadas accöes como, por exemplo, estar de pé, pör-se de pé, deitar-se, baixar-se, sentar-se, etc. Sentimos que existe uma forca criadora e dinämica 'por detrás' děste grupo de expressöes idiomáticas. A imagem 'auf eigenen Beinen stehen' sugere, por um lado, a experiéncia na qual se funda e, por outro, sugere o significado da expressäo idiomática - 'ser independente'. Assim entendida, a imagem compreende-se e explica-se pela actualizacäo da perspectiva ou da 'peca' do fundo 30 pressuposto que vai ao encontro da intencäo de comunicacäo {'das Gemeinte') inserida em determinada situacäo concreta. Se nos fixarmos agora nas expressöes em (2), verificaremos que, em comparacäo com as expressöes em (1), teremos mais dificuldades em identificar as afinidades que ligam, por exemplo, a expressäo die Beine unter den Arm nehmen (sentido literal: 'levar as pernas debaixo do braco') ao significado idiomático 'despachar-se (a correr)'. A base concreta e palpável da experiéncia näo existe ou é opaca. Há, portanto, casos em que parece ser mais dificil alcancar o entendimento do que une o significado da expressäo literal ao significado metafórico. Pode entäo dizer-se que a relacäo de identificacäo entre os dois pólos da metafora pode ser estudada no sentido de se chegar a uma explicacäo dessa relacäo. Casos há em que a relacäo de identificacäo näo é analisável, isto é, näo é fácil explicar o porqué da relacäo entre os dois planos de significacäo. Na sequéncia do que ficou registado relativamente á 'imagem' como 'imagem mental viva' e á 'imagem' enquanto 'figura do discurso', é possível concluir que, ao contrario do que sucede com esta ultima, a primeira näo se encontra ligada a um fundamento preexistente, isto é, neste caso, näo se pode falar de transposicäo. Parece-me adequado terminar esta reflexäo sobre a forma da metafora com uma breve referencia á classificacäo, empreendida por Bürger (2007: 62-69), das expressöes idiomáticas, que consiste fundamentalmente em determinar, numa primeira fase, se a expressäo idiomática admite um e/ou duas formas de leitura (^Lesarten'), e, no nível da subcategorizacäo, averiguar a intervencäo do significado livre da expressäo ou dos componentes da expressäo no significado da expressäo idiomática; no caso da expressäo permitir duas formas de leitura, averiguar a existencia de alguma relacäo entre elas. Uma vez que, segundo Bürger, os termos 'significado literal' {wörtliche Bedeutung) e 'significado fraseológico/idiomático' (phraseologische Bedeutung) levam a entender que as expressöes idiomáticas possuem dois significados quando efectivamente só possuem um significado, designadamente, o significado idiomático {ibidem: 62), este linguista propöe o emprego do termo 'Lesarť, termo que designa o modo ou a forma de ler ou interpretar as expressöes idiomáticas. Com base neste conceito, Burger chega á seguinte sistematizacäo das expressöes idiomáticas: 31 (i) Expressöes que admitem apenas uma leitura ou uma interpretacäo. Esta categoria inclui, por um lado, expressöes, cujo significado pode ser inferido do significado livre dos constituintes da expressäo, como, por exemplo Dank sagen ('dizer obrigado'); por outro lado, expressöes que sendo compostas por 'elementos lexicais ünicos'23 admitem apenas a leitura idiomätica do conjunto dos componentes que formam a unidade de significacäo, tais como: gang und gäbe ('ser o päo nosso de cada dia; ser prätica comum; ser a coisa mais corriqueira/trivial') e klipp und klar ('tomar uma posicäo clara/inequivoca; dizer qc com todas as letras'). (ii) Expressöes que permitem duas leituras distintas na medida em que "die beiden Lesarten in der Regel nicht in den gleichen Kontexten oder Kommunikationssituationen vorkommen können" (Burger, 2007: 63). A subdivisäo desta categoria baseia-se no tipo de relacäo existente entre as duas leituras possiveis da expressäo, a leitura literal e a leitura fraseolögica. Säo tres os tipos de relacöes definidos por Burger: - a relacäo entre a leitura literal e a leitura fraseolögica e de caräcter homonimico; - a relacäo entre as duas leituras e de natureza metaförica; - a relacäo entre a leitura literal e a leitura fraseolögica distingue-se pelo caräcter ficticio da primeira. (iii) Expressöes que podem realizar a leitura literal e a fraseolögica em simultäneo, como e o caso das expressöes que fazem referenda a gestos que se encontram vinculados a um significado especifico. Veja-se a expressäo die Achseln zucken ('dar de ombrosV'encolher os ombros'): fazer o gesto de encolher os ombro equivale a transmitir uma mensagem concreta, que, dependendo do contexto, poderä ser de desinteresse, indiferenca, desdem, entre outras. Como vemos, as expressöes deste tipo remetem simultaneamente para a leitura literal (a ideia do gesto) e para a leitura fraseolögica (o significado da expressäo). (iv) Expressöes que permitem uma leitura mista, isto e, säo unidades compostas por constituintes näo idiomäticos e constituintes idiomäticos, pelo que tanto a leitura literal dos primeiros, como a leitura que resulta da relacäo metaförica entre a leitura literal e a leitura fraseolögica dos segundos contribuem para o significado 23 Sobre as caracteristicas e o funcionamento dos 'elementos ünicos' que operam na lingua alemä, cf. o artigo de Mellado Blanco (1998) intitulado "Aproximaciön teörico-practica a los 'elementos ünicos' del alemän actual en su calidad de fösiles lexicos". 32 da unidade idiomatica. Burger cita as seguintes expressoes, cujo(s) constituinte(s) idiomatico(s) se encontra(m) entre parenteses {}: einen Streit {vom Zaun brechen} - 'provocar uma discussao'; frieren {wie ein Schneider} - 'morrer de frio/passar um frio de rachar'; sich {die Lunge aus dem Hals} rennen - 'correr ate ficar com a lingua de fora/deitar os bofes pela boca'; jmdm. {ein Loch in den Bauch) fragen - 'crivar alg de perguntas/massacrar alg com perguntas'. 1.2.2.2. A estrutura da imagem Voltemo-nos agora para a estrutura da metafora, comecando por abordar as divergencias terminologicas que existem para designar as partes que intervem no processo de metaforizacao. Richards propoe o emprego dos termos teor ('tenor') e veiculo (^vehicle'): "A first step is to introduce two technical terms to assist us in distinguishing from one another what Dr. Johnson called the two ideas that any metaphor, at its simplest, gives us. Let me call them the tenor and the vehicle. One of the oddest of the many odd things about the whole topic is that we have no agreed distinguishing terms for these two halves of a metaphor (...). For the whole task is to compare24 the different relations which, in different cases, these two members of a metaphor hold to one another (...). At present we have only some clumsy descriptive phrases with which to separate them. 'The original idea' and 'the borrowed one'; 'what is really being said or thought of and 'what it is compared to'; the 'underlying idea' and 'the imagined nature'; 'the principal subject' and 'what it resembles' or, still more confusing, simply 'the meaning' and 'the metaphor' or 'the idea' and 'its image'" [sublinhado pormim] ((1936), 1965: 94). No ambito da linguistica cognitiva sao utilizados os termos 'source-domain' e 'target-domain' para designar o dominio fonte e o dominio alvo da metafora. Os termos alemaes 'Bildspendef e 'Bildempfdnger\ para alem de focarem o processo de trans-posicao de um dominio que 'da/oferece' a 'imagem' para outro dominio que 'recebe' essa 'imagem', explicitam o facto de que falar de metafora implica necessariamente falar de 'imagem'. Para alem do teor e do veiculo, o modelo metaforico de Richards e composto por um terceiro elemento, designadamente o fundamento ('Grund') que determina a existencia 24 Repare-se que Richards emprega a palavra 'compare' ('comparar') para descrever o que se faz quando se analisa a relacao entre o teor e o veiculo. Como ja tivemos oportunidade de verificar, nao se trata de uma comparagao. 33 do nexo entre o teor e o veículo. Ullmann acrescenta um quarto elemento ao esquema de Richards, a saber, o tipo de transposicäo que se dá entre o teor e o veículo. Estes quatro elementos deram origem a quatro propostas de classificacäo da metafora25. Uma vez reconhecida a importáncia da accäo conjunta destes elementos, impöe-se destacar o factor introduzido por Ullmann que incide sobre o processo de transposicäo propriamente dito. A abordagem de Ullmann é, a este respeito, restritiva porque se cinge ao tipo de transposicäo classemática que assenta sobretudo no carácter concreto e abstracto do teor e do veículo: ± concreto <-+ ± abstracto. 1.2.2.3. As funcöes da imagem Se atendermos agora, finalmente, ao terceiro dos pontos apresentados por Ullmann para dar conta do que está em causa quando se fala de metafora, - o das funcöes da metafora -, näo é sem razäo de ser que as seis funcöes26 focadas por este linguista se apliquem especificamente á obra literária. A reflexäo sobre o papel da metafora na obra literária remonta á Antiguidade, mais concretamente á Poética de Aristoteles e k Arte Poética de Horácio, obras que tratam da producäo e composicäo da obra poética. Estes filósofos reconhecem a existencia de urna clivagem entre o discurso poético e o discurso näo--poético. Para fundamentar esta posicäo, Aristoteles emprega as nocöes de 'desvio' e 'estranhamento' para caracterizar a linguagem poética ou literária em oposicäo á linguagem usual. Ao longo dos séculos foram surgindo, no ämbito da actividade e da análise literária, inúmeras tentativas de encontrar critérios para classificar o texto literário, isto é, de chegar a um entendimento claro do conceito de literariedade, termo cunhado por Jakobson no seu estudo intitulado "A nova poesia russa" (La nouvelle poésie russe) para designar "ce qui fait ďune ceuvre donnée une ceuvre littéraire" (1973: 15). Segundo este formalista russo, a especificidade de determinada obra literária encontra-se intimamente ligada á funcäo poética que a linguagem desempenha nessa 25 Cada proposta de classificacäo da metafora focaliza um dos quatro elementos que intervém no processo metafórico: (i) o veículo; (ii) o teor; (iii) o fundamente; (iv) o tipo de transposicäo. Weinrich (in Ullmann, 1972: 213, nota) critica as propostas de classificagäo e análise da metafora que assentam em apenas um dos pólos, chamando a atencäo para o facto de que näo se pode pensar a metafora sem ter em conta a interrelacäo entre o teor e o veículo. É precisamente na interacgäo entre os dois elementos ou as duas esferas que reside a esséncia do processo de transposicäo. 26 Segundo Ullmann (1972: 217-225), a metafora poderá desempenhar as seguintes seis fungöes no ämbito do texto literário: (i) a metafora empregue em funcäo de símbolo; (ii) a metafora enquanto elemento funcional na estrutura e na compreensäo da obra, isto é, enquanto elemento que contribui para 'explicať o porqué de determinados eventos que constituem o enredo de uma obra; em outros termos: é a partir da metafora que se compreende a accäo; (iii) a metafora empregue como forma de transmitir juízos de valor de modo indirecto; (iv) a metafora utilizada para revelar os pensamentos de carácter filosófico e mais íntimos dos autores; (v) a metafora como meio para 'dar forma' a determinados temas que säo de difícil compreensäo; (vi) a metafora como via para caracterizar e caricaturar pessoas. 34 obra. Por outras palavras, a funcao poética da linguagem é encarada como pilar do texto literário. Chegados aqui, importa precisar como se concretiza "la transformation de la parole en une ceuvre poétique, et le systéme des procédés qui effectuent cette transformation" (ibidem: 486). Para tal, sirvo-me das seguintes observacoes de Fontanier e Wellek & Warren: "Les figures du discours sont les traits, les formes ou les tours plus ou moins remarquables et ďun effet plus ou moins heureux, par lesquels le discours, dans 1'expression des idées, des pensées ou des sentimens, s'eloigne plus ou moins de ce qui en eůt été 1'expression simple et commune" (Fontanier, 1968: 64). "when we turn from classifying poems by their subject-matter or themes to asking what kind of discourse poetry is, and when, instead of prose-paraphrasing, we identify the 'meaning' of a poem with its whole complex of structures, we then encounter, as central poetic structure, the sequence represented by the four terms of our title27. (...) Perhaps our sequence - image, metaphor, symbol, and myth - may be said to represent the convergence of two lines, both important for the theory of poetry. One is sensuous particularity, or the sensuous and aesthetic continuum, which connects poetry with music and painting and disconnects it from philosophy and science; the other is figuration' or 'tropology' - the 'oblique' discourse which speaks in metonyms and metaphors, partially comparing worlds (...) These are both characteristics, differentiae, of literature, in contrast to scientific discourse" [sublinhado por mim] (Wellek & Warren, 1976: 186). Estas e outras formulacoes análogas28 sáo suficientes para mostrar que os tropos em geral e a metafora e a metonimia em particular sao meios de expressao que tornam possível a criacao poética. Procurando em seguida caracterizar devidamente a metafora enquanto elemento constitutivo da obra literária, ponho aqui em destaque as orientacoes de Wellek & Warren na citacao acima: (i) A obra literária é uma estrutura que assenta em quatro elementos: a imagem, a metafora, o símbolo e o mito. 27 O título do capítulo da obra Theory of Literature (1976: 186-211) ao qual os autores se referem é composto pelos seguintes quatro termos: «Imagem, Metafora, Símbolo, Mito» (Image, Metaphor, Symbol, Myth). 28 Cf. a afirmagao de Jakobson, que se encontra no seu estudo intitulado "The Speech Event and the Functions of Language": "What is the empirical linguistic criterion of the poetic function? In particular, what is the indispensable feature inherent in any piece of poetry? To answer this question we must recall the two basic modes of arrangement used in verbal behavior, selection and combination. (...) The selection is produced on the basis of equivalence, similarity and dissimilarity, synonymy and antonymy, while the combination, the building of the sequence, is based on contiguity. The poetic function projects the principle of equivalence from the axis of selection into the axis of combination (1990: 77-78). Tendo em conta a relagao estreita estabelecida por Jakobson entre os mecanismos de selecgao e combinagao e os processos da metafora e da metonimia respectivamente, é possível concluir que, de acordo com este linguista, a metafora e a metonimia sao componentes essenciais ao discurso poético. 35 (ii) O encadeamento destes elementos na ordem proposta - imagem - metafora -símbolo - mito - é determinante para a composicäo e análise literária. A metafora poética aparece como parte integrante deste conjunto de elementos29 que intervém de forma sobreposta e estratificada na estrutura30 e, consequentemente, no significado do texto literário. O facto de o termo 'metafora' figurar em segundo lugar nesta série, a seguir ao termo 'imagem', sugere que falar de 'metafora' näo é o mesmo que falar de 'imagem'. Perante este enquadramento da metafora poética, julgo necessário urna reflexäo sobre o modo como os componentes acima referidos se interligam e entrelacam, para se poder situar a funcäo da metafora no todo da obra literária. Para tal, comecemos pelo termo 'imagem' (image - Bild). Wellek & Warren adoptam a definicäo que Richards fornece do conceito 'imagem' na sua obra Principles of Literary Criticism: "too much importance has always been attached to the sensory qualities of images. What gives an image efficacy is less its vividness as an image than its character as a mental event peculiarly connected with sensation" ((1924), 1976: 187). Atente-se em como Richards rejeita as teorias que privilégiám o lado mais palpável da 'imagem', advogando que a imagem deve ser encarada como algo que 'brota' a partir do nexo que se estabelece entre urn processo mental e uma impressäo sensorial. Reencontramos nesta explicacäo os factores enumerados no início desta seccäo para elucidar o termo e o conceito de 'imagem mental viva' (lebhafte Vorstellung). Voltemo-nos agora para a relacäo entre os conceitos metafora e símbolo. Em conformidade com as conclusöes de Yeats aquando da sua análise dos simbolos na poesia de Shelley31, Wellek & Warren consideram que a 'metafora' adquire o estatuto de 'símbolo', sempře que se verifique o emprego recorrente da metafora ao longo do Wellek & Warren criticam as teorias literarias de nao terem dado a devida atengao ao relacionamento entre estes elementos no todo da obra literaria: "The whole series (image, metaphor, symbol, myth) we may charge older literary study with treating externally and superficially. Viewed for the most part as decorations, rhetorical ornaments, they were therefore studied as detachable parts of the works in which they appear. Our own view, on the other hand, sees the meaning and function of literature as centrally present in metaphor and myth" (1976: 193). Como se depreende desta afirmacao, os conceitos 'metafora' e 'mito' encontram-se intrinsecamente ligados ao significado e a fungao do texto literario. 30 Nas conclusoes do ja citado estudo, escrevem Wellek & Warren: "Like metre, imagery is one component structure of a poem. In terms of our scheme, it is a part of the syntactical, or stylistic, stratum. It must be studied, finally, not in isolation from the other strata but as an element in the totality, the integrity, of the literary work" [sublinhado por mim] {ibidem: 211). 31 Wellek & Warren baseiam-se na colectanea de ensaios intitulada Essays de Yeats, publicada em 1924. 36 texto literário. Tal pressupôe que a metafora em questäo desempenha um papel central no significado do texto tornado como um todo estruturado32. Antes de abordarmos a relacäo entre a metafora e o mito, importa recapitular o encadeamento entre os primeiros trés elementos do conjunto de elementos em análise, recorrendo á seguinte citacäo de Yeats: "The normal procedure is the turning of images into metaphors and metaphors into symbols" (ibidem: 300). Nesta linha de pensamento, o processo que representa a 'criacäo' da metafora poética näo constitui o inicio do processo de criacäo da obra literária. Podemos, portanto, afirmar que o piano da 'imagem' é primário em relacäo ao piano da 'metafora'. A seguinte abordagem da relacäo entre os conceitos de metafora e mito permite confirmar o que acabámos de dizer. Relativamente ao termo mito importa destacar, em primeiro lugar, que este aparece na Poética de Aristoteles como designacäo do encadeamento dos factos que constituem o fio condutor da accäo de urna obra literária (ibidem: 190). Trata-se do elemento que estrutura, isto é, dá consisténcia e coesäo á narrativa. Em segundo lugar, o termo mito "points to, hovers over, an important area of meaning, shared by religion, folklore, anthropology, sociology, psychoanalysis and the fine arts" (ibidem: 190). Assim entendido, o mito encontra-se ancorado em determinada esfera de significacäo, esfera essa que desempenha um papel fulcral no seio de determinada comunidade de pessoas. A instituicäo do mito depende da validacäo do mesmo pela sociedade ou comunidade em questäo33. Da juncäo destes dois sentidos, é possivel inferir que o mito constitui um núcleo de significacäo que funciona como ponto de referencia que orienta e guia a accäo humana. Atendendo á releväncia indubitável da religiäo na história de toda a Humanidade e na concepcäo e visäo do mundo das sociedades e dos indivíduos, näo é de estranhar que o mito religioso sej a interpretado como "the large-scale authorization of poetic metaphor" (ibidem: 192). Significa esta afirmacäo que o mito religioso tern carácter de fundamento, de algo que constitui terreno fértil para a criacäo de metáforas 32 Para além do factor 'recorréncia', Yeats propôe um segundo factor que influi na passagem de urna metafora a simbolo, a saber: o veículo da metafora deverá ser de natureza concreta e sensorial {concrete-sensuouslkonkret-sinnlich), isto é, ter existencia material, que seja apreensível pelos sentidos {ibidem: 300). 33 Cf. Wellek & Warren {ibidem: 191): "the myth is social, anonymous, communal. In modern times, we may be able to identify the creators - or some of the creators - of a myth; but it may still have the qualitative status of myth if its authorship is forgotten, not generally known, or at any event unimportant to its validation - if it has been accepted by the community, has received the 'consent of the faithful'". 37 poéticas. Para ilustrar a filiacäo existente entre o mito religioso e a metafora, sirvo-me de dois conjuntos de expressöes idiomáticas alemäs que apresentam os lemas 'Gotť ('Deus') e 'Teufel' ('diabo') respectivamente: (3) (a) das/etwas liegt (ganz) bei Gott - 'isso só Deus (é que) sabe; isso depende da vontade do Senhoť (b) jn. hat Gott im Zorn erschaffen - 'Deus estava enfurecido/enraivecido quando criou alg' (c) dieser Mann/... ist von Gott gesandt! - 'este hörnern/...foi(-nos/...) enviado por Deus!; é/foi Deus que (nos/...) envia/enviou este hörnern/...!' (4) (a) wie der leibhaftige Teufel aussehen - 'parecer o diabo em pessoa' (b) vom Teufel besessen sein/den Teufel im Leibe haben - 'estar possesso do diabo; ter o diabo no corpo' (c) mit dem Teufel im Bunde stehen/sein - 'ter (assinado) um pacto com o diabo; vender a alma ao diabo' (d) etwas fürchten wie der Teufel das Weihwasser - 'fugir de qualquer coisa como o diabo da cruz' Como justificar a genese destas expressöes idiomáticas, a näo ser pela sua ligacäo com o sistema complexo de crencas, principios e práticas no qual a religiäo crista assenta. As expressöes em (3) tém como ponto central a figura de Deus, considerado como Ser Supremo, do qual o ser humano depende. O sentido literal de cada expressäo aponta em duas direccöes: (i) traz ao pensamento, isto é, sugere determinada perspectiva do mito. Cada expressäo actualiza apenas um dos inúmeros atributos que a tradicäo crista associa a Deus; (ii) sugere o sentido metafórico. A expressäo (3a) evoca a conviccäo de que Deus todo-poderoso determina o curso da vida das pessoas; daí se depositar confianca na vontade de Deus, isto é, deixa-se 'as coisas' nas mäos Dele. A expressäo (3b) torna presente o reconhecimento de Deus enquanto Criador do Universo. Lé-se no primeiro livro do Antigo Testamento, Genesis: "Deus criou o hörnern á Sua imagem, criou-o á imagem de Deus"34. Por outras palavras, Deus criou o ser humano á sua imagem e semelhanca. Por seu turno, a expressäo (3c) sugere a visäo de Deus como Ser Superior que olha pelos fiéis, atendendo ás suas necessidades e súplicas. Estas 'suggestions' que advém da mesma esfera de significacäo (Bereich) constituem uma desagregacäo do núcleo. Justamente porque a nocäo de 'desagregacäo' pressupöe a nocäo de 'base' ou Cf. Biblia Sagrada, Genesis 1:27, p.18. 38 'fundamente', este desdobramento (Entfaltung) das expressöes contribui para tornar o núcleo da esfera de significacäo mais lúcido e transparente. Por outras palavras, as expressöes idiomáticas em (3) convergem no sentido de tornarem a imagem que temos de Deus mais transparente. As consideracöes precedentes mantém-se válidas em relacäo ao conjunto de expressöes em (4). Neste caso, a esfera de significacäo tem como núcleo a figura do demónio, que de acordo com a religiäo cristä representa o mal em antítese ao bem, á virtude. As expressöes (4a) e (4b) evocam a crenca de que o diabo é um 'espírito mau' que incita o Hörnern a pecar e a fazer o mal. No que respeita a expressäo (4b), vom Teufel besessen sein, que significa 'agir como se tivesse o diabo no corpo', 'agir de forma que faz lembrar o diabo/ a nossa imagem do diabo', recordemos, recorrendo ao Evangelho de S. Lucas do Novo Testamente, o comportamento de uma pessoa possuida pelo demónio: "Mestre, peco-Te que olhes para o meu filho (...) Há um espírito mau que toma posse dele e de repente o faz gritar e o sacode com violéncia até o fazer deitar espuma pela boca. Näo larga enquanto näo o deixa completamente arrasado"35. Por sua vez, os exemplos (4c) e (4d) trazem ao pensamento a oposicäo entre o 'bem' e o 'mal'. A expressäo (4c) sugere que está nas nossas mäos decidir se nos colocamos do lado do bem ou do lado do mal. A expressäo (4d) evoca a ideia do diabo que enquanto 'forca do mal' sente aversäo a tudo o que simbolicamente esteja ligado a Deus, como, por exemplo, a água benta, utilizada em cerimónias liturgicas como forma de purificacäo, e a cruz, símbolo do Cristianismo e da morte e paixäo de Cristo. Tal como sucede nas expressöes em (3), também aqui o sentido literal de cada uma das expressöes traz á mentě uma parte especifica do conhecimento que possuímos do núcleo da esfera de significacäo, ou seja, do diabo. Trata-se agora de aplicar a análise anterior da relacäo entre o mito e a metafora realizada no ämbito das expressöes idiomáticas á estruturacäo da obra literária e do complexo metafórico subjacente. Tomemos como ponto de partida o modo como Mallarmé concebe a esséncia da metafora poética: "Tout le mystěre est lá: établir les identités secretes par un deux á deux qui ronge et use les objets, au nom ďune centrale Cf. Biblia Sagrada, Lucas 9:38, p. 1376. 39 pureté" [sublinhado por mim] (in Ullmann, 1972: 195). Desta assercäo é possível extrair as seguintes conclusöes: (i) Mallarmé, ao utilizar a expressäo 'centrale pureté', sublinha o facto de que a unidade de uma obra poética se deve ao sentido nuclear, ponto central para onde convergem todas as atencöes. (ii) Se o objectivo da criacäo é 'abrir caminho' para o entendimento do núcleo em questäo, é necessário 'usar' e '(des)gastar' as metáforas que permitem focar o núcleo de vários ängulos. Vemos assim como este processo dinämico do desdobramento (Entfaltung) das metáforas se baseia numa tentativa analítica de classificar e explicar a ideia central da obra. (iii) Ao recorrer á nocäo de 'identités secretes' ('afinidades secretas'), Mallarmé acentua que a identificacäo entre a metafora poética e o fundo pressuposto näo se processa de forma clara e evidente. Quer dizer, encontramo-nos no piano das 'suggestions'': a metafora poética 'sugere' o significado. Daqui é preciso reter que (i) a metafora näo se compreende isoladamente. O proprio conceito de trans-posicäo {Über-tragung), conceito inerente ao processo metafórico, implica um processo que parte de algo já existente, melhor dizendo, de um fundo pressuposto. Uma vez que o nosso estudo incide sobre as expressöes idiomáticas, convém assinalar que falar de expressöes idiomáticas, näo implica necessariamente falar de 'transposicäo', isto é, existem expressöes idiomáticas, cujo sentido literal näo se encontra ligado a um fundo identificável, palpável. Veja-se, a título de exemplo, a expressäo idiomática alemä 'jm. auf der Nase herumtanzen' que significa 'fazer gato--sapato de alg; fazer o que se quer de alg; abusar de alg'. Deparamos com dificuldades quando tentamos identificar a base que terá motivado a criacäo desta expressäo alemä com o sentido literal 'dancar em cima do nariz de alg'. Neste caso é difícil falar de 'transposicäo'; (ii) a análise e o entendimento do significado metafórico pressupöem a activacäo da informacäo no piano da significacäo literal, piano que, por sua vez, remete para determinada esfera de significacäo. Assim sendo, o processo metafórico pode ser concebido como uma tentativa de explicar e tornar a 'imagem' (Vorstellung) mais transparente. Pensar por meio de metáforas é uma actividade que depende da intencionalidade do autor. Justamente porque o objectivo desta actividade é tornar a 'imagem mental viva' o mais transparente possível, o autor procurará empregar ou criar 40 uma expressäo que leve á actualizacäo do fundo pressuposto que mais se aproxime da sua intencionalidade. Posto isto, impöe-se reconhecer que as funcöes da metafora propostas por Ullmann (vd. nota 26) assentam no seguinte denominador comum: a metafora é empregue pelo autor da obra literária com o objectivo de 'penetrar' a ideia central da obra. Temos aqui a ver com a metafora na sua dimensäo poética, isto é, a metafora enquanto mecanismo que permite a 'descoberta' da essentia da obra literária. Partindo do principio de que urn texto literário integra pelo menos uma "Bildfolge, die ein Zentralerlebnis von vielen Seiten beleuchtet" (Ullmann, 1972: 206), está-se perante metáforas que constituem variacöes da mesma ideia, contribuindo, portanto, para a 'descoberta' dessa ideia. Como terei oportunidade de demonstrar ao longo deste estudo, é possivel estabelecer um paralelismo entre a rede de metáforas que convergem em direccäo á mesma ideia na obra literária e a natureza da relacäo de sinonimia que se estabelece entre expressöes idiomáticas. 1.3. A PROBLEMÁTICA DA ABORDAGEM COGNITIVA DA METAFORA Atendendo á releväncia que a teória cognitiva da metafora de Lakoff & Johnson36 tem vindo a assumir na investigacäo sobre este mecanismo de expressäo, importa assinalar, em breve síntese, o que caracteriza esta abordagem e a diferencia do acima exposto. Segundo estes autores, falar de 'metafora' é falar de 'conceito metafórico' {metaphorical concepť) (Lakoff & Johnson, 1980: 6). Veja-se, a titulo de exemplo, algumas expressöes que correspondem ao conceito metafórico 'tempo é dinheiro': poupar tempo, per der tempo, ganhar tempo, fwar sem tempo, investir tempo em alguém ou algo. Neste caso, o conceito 'tempo' é perspectivado a partir do conceito 'dinheiro': poupar dinheiro, perder dinheiro, ganhar dinheiro, ficar sem dinheiro, investir dinheiro. Nas palavras de Lakoff & Johnson, esta concepcäo da metafora envolve "comprehend[ing] one aspect of a concept in terms of another" (ibidem: 10). Com efeito, na base desta abordagem está o estabelecimento de uma ligacäo entre conceitos Aludo essencialmente a obra que Lakoff & Johnson publicaram em 1980 e que tern como titulo Metaphors We Live By, estudo este que foi aprofundado por Lakoff na conhecida obra Women, Fire and Dangerous Things. What Categories Reveal about the Mind, publicada em 1987. No que diz respeito ao tratamento das expressoes idiomaticas do ponto de vista da semantica cognitiva, ver o artigo de Kovecses e Szabo sugestivamente intitulado "Idioms: A View from Cognitive Semantics". 41 já existentes. Se o conceito de 'dinheiro' näo existisse na nossa cultura, näo teríamos as expressöes acima indicadas37. Como vemos, estamos perante uma concepcäo da metafora que parte do piano dos conceitos. A concepcäo da metafora em estudo neste trabalho diferencia-se da teória cognitiva da metafora acima pelo facto de se situar no piano do significado. O mecanismo da metafora encarado sob este ponto de vista está, como tivemos oportunidade de observar neste capitulo, intimamente ligado: (i) a um fundo (Grund) que pode ser uma imagem no sentido de 'imagem mental viva' (Vorstellung), um simbolo, um mito, uma pressuposicäo, objectos ou factos reais; (ii) á intencionalidade do autor da metafora (Ausdrucks-Ziel—> Idee), correspondente ás funcöes da metafora de Ullmann. Entre os pólos Grund e Ziel temos a imagem (Bild) enquanto figura do discurso, a metafora: Grund - Bild - Ziel. Neste contexto, a imagem cria significado, funcionando como ponte entre o fundo (Grund) e a intencionalidade do autor (Ziel). Esta dimensäo poética e criativa da metafora está ausente da teória cognitiva da metafora de Lakoff & Johnson. 1.4. CARACTERIZACÄO DO CONTEXTO LINGUÍSTICO DAS EXPRESSÖES IDIOMÁTICAS 1.4.1. Del imitaci o do conceito de contexto A semelhanca do que se verifica em relacäo á clarificacäo da natureza e delimitacäo dos tropos, as dificuldades encontradas para explicar e delimitar o conceito de 'contexto' derivam, em larga medida, da forma heterogénea como a investigacäo linguística tem abordado esta questäo38. Urna análise näo exaustiva do emprego do termo contexto mostra urna čerta relutäncia por parte dos linguistas em especificar o tipo de 'contexto' de que se trata, optando, caso exista necessidade para tal, pelo emprego dos termos genéricos contexto linguístico - contexto extra-linguístico e, integrado neste ultimo, o emprego do termo contexto da situagäo: "It will be recalled that the term 'context' has been used consistently in such a way as to include 'situation'" (Lyons, 1972: 81). Visto Para um desenvolvimento aprofundado da abordagem cognitiva da metafora e do funcionamento do 'conceito metafórico, veja-se a obra de Vilela intitulada Metáforas do Nosso Tempo (2002). 38 Em comparagäo com o numero de estudos que incidem sobre a temática dos tropos, o numero de estudos que se debrugam sobre o que se entende ou deve entender por 'contexto' é reduzido. 42 que "situations are infinitely various" (Firth, 1957: 28), nao é pois surpreendente que, á semelhan9a do que acontece com o termo contexto, também o termo contexto da situagao ('context of situation') sej a empregue como expressáo genérica a que se deita a mao para resolver alguma dificuldade mais específica. Perante a tendéncia para a imprecisao e indefinÍ9ao, Lyons insiste na necessidade de se proceder a uma delimita9ao do conceito de contexto, defendendo que "the situational context of an utterance cannot simply be identified with the non-verbal matrix of the 'speech-event', as some authors have suggested. A much wider and more abstract notion of context must be adopted; one that brings the verbal and the non-verbal 'components' together under one head. The context of the utterance must be held to include, not only the relevant external objects and the actions taking place at the time, but the knowledge shared by speaker and hearer of all that has gone before" [sublinhado por mim] (1972: 82-83). Nao obstante esta tornáda de posÍ9áo, este linguista nao formula critérios precisos com que se possam distinguir os diferentes tipos de contexto e captar a multiplicidade dos factores que operám nos vários niveis contextuais. Antes de mais, importa sublinhar que uma reflexao sistemática sobre a problemática do 'contexto' reveste-se de grande importáncia para este estudo, uma vez que um dos meus objectivos principais é precisamente a caracteriza9ao da essentia das expressoes idiomáticas através da análise dos factores e das condi9oes contextuais que intervém na sua constituÍ9áo. Como já tivemos oportunidade de constatar no capitulo anterior, uma abordagem adequada do conceito de 'metafora', figura do discurso que desempenha um papel fundamental no dominio das expressoes idiomáticas, implica necessariamente falar de 'contexto'. Por outras palavras: os conceitos de 'metafora' e 'contexto' sáo correlativos40. Tomemos como ponto de partida para a nossa sistematiza9áo do conceito de 'contexto' aplicado ás expressoes idiomáticas a metodologia de análise do significado de determinada unidade linguística proposta pelo contextualista británico Firth. Segundo este autor, tal como o espectro resulta da dispersáo de um feixe de luz, também o 39 Derrida na sua defesa do uso da palavra escrita em detrimento da fala coloca a seguinte questao: "But are the conditions of a context ever absolutely determinable? (...) Is there a rigorous and scientific concept of context! Or does the notion of context not conceal, behind a certain confusion, philosophical presuppositions of a very determinate nature? (...) I shall try to demonstrate why a context is never absolutely determinable, or rather, why its determination can never be entirely certain or saturated" (1990: 1170). Derrida sublinha o facto de que é impossível captar a 'situacao' na sua totalidade. 40 Encontram-se estudos dedicados á temática da metafora que nao tern em conta o factor 'contexto', posicao esta que, pela razao acima referida, me parece contestável. 43 significado de uma palavra resulta da decomposicäo de uma rede de níveis contextuais (Firth, 1957: 192). Nesta perspectiva o entendimento global do significado de uma palavra pressupöe um processo de contextualizacäo ('contextualizatiorf), isto é, de 'reconstituicäo' dos vários níveis contextuais, processo que envolve a análise das relacöes que operám no interior de cada nivel contextual e entre os vários níveis contextuais. A tipologia dos contextos elaborada por Firth aliada ao processo de 'contextualizacäo' foi fundamental para o tratamento e aprofundamento da problemática do 'contexto' por parte de alguns linguistas, a saber: Halliday, Pike e Schemann41. Neste trabalho, baseio-me no modelo de classificacäo dos contextos elaborado por Schemann pelas seguintes razöes: (i) o modelo de Schemann prima pela forma rigorosa como classifica e distingue os diferentes tipos de contexto; (ii) Schemann desenvolve a sua reflexäo sobre os tipos contextuais em torno das expressöes idiomáticas. Neste sistema, o contexto divide-se em trés tipos contextuais primários, designadamente o contexto linguístico, o contexto näo-linguístico e o contexto das faculdades biológicas. O contexto linguístico subdivide-se em contexto lexemático e contexto semäntico. Por sua vez, o contexto näo-linguístico é composto por trés subcontextos, a saber: o contexto de situacäo, o contexto do piano de fundo e o contexto pragmático ou dos actos de fala. E possível representar esquematicamente este modelo da seguinte forma: Contexto Contexto linguístico Contexto extra-linguístico Contexto das faculdades biológicas Contexto Contexto Contexto de Contexto Contexto lexemático semäntico situacäo do plano de pragmático fundo Fig. 1: Esquema da tipologia dos contextos elaborada por Schemann Para urna visäo global dos aspectos principals que caracterizam os modelos do contexto desenvolvidos por Malinowski, Firth, Halliday e Pike, poderä consultar-se a obra Kontext -Bild - idiomatische Synonymie da autoria de Schemann (2003). 44 Antes de qualquer tentativa de abordar e adaptar, na medida em que isso se revelar necessärio, a proposta de classificacäo dos contextos de Schemann, impöe-se identificar e esclarecer os criterios comummente utilizados para definir uma expressäo idiomätica42. Para que determinada unidade de expressäo seja considerada uma expressäo idiomätica, ela deve obedecer äs seguintes condicöes: (i) deve ser uma unidade multi-palavra (Polylexikalität); (ii) apresentar rigidez e fixidez nos pianos psico-linguistico, formal (morfo-sintäctico e semäntico-lexical) e pragmätico (Festigkeit); (iii) deve ter por base a discrepäncia entre o significado da expressäo idiomätica e o significado livre das palavras constituintes da expressäo (Idiomatizität). Consideremos, num primeiro momento, o criterio relacionado com a fixidez estrutural das expressöes idiomäticas. 1.4.2. Caracterizacäo das restricöes morfo-sintäcticas e lexico-semänticas das expressöes idiomäticas Do mesmo modo que na retörica os tropos säo tidos como 'desvio' em relacäo ao uso corrente da lingua, tambem os linguistas do estruturalismo e da gramätica transformacional caracterizam as expressöes idiomäticas em termos de um conjunto de 'desvios'. E com base na concepcäo das expressöes idiomäticas enquanto unidades linguisticas que apresentam um comportamento 'desviante' em relacäo ao conjunto das regras de organizacäo gramatical, morfo-sintäctica e lexical de uma lingua que surgiram inümeros estudos relacionados com as irregularidades funcionais e transformacionais subjacentes äs expressöes idiomäticas. Conceber a expressäo idiomätica como 'desvio' implica determinar e caracterizar o padräo a partir do qual se institui o desvio. As regras transformacionais, que derivam da realizacäo de operacöes que envolvem alteracöes de ordern estrutural e lexical äs unidades linguisticas em anälise, permitem determinar se as mesmas estäo em conformidade com os padröes morfo-sintäcticos e lexicais da lingua. Em Burger (2007: 20-24) encontramos a aplicacäo de algumas operacöes de A apresentagäo que aqui faco baseia-se principalmente na obra de Burger intitulada Phraseologie. Eine Einführung am Beispiel des Deutschen (2007). 45 transformacäo empregues na classificacäo dos itens lexicais, sequéncias sintagmáticas e construcöes frásicas as expressöes idiomáticas, análise que resultou no estabelecimento dos seguintes tipos de irregularidades e restricöes no piano formal: (i) irregularidades morfo-sintácticas; (ii) restricöes morfo-sintácticas; (iii) restricöes léxico-semánticas. No que respeita a categoria das irregularidades morfo-sintácticas, Burger comeca por referir as expressöes idiomáticas que manifestam características morfológicas e sintácticas de um estado mais remoto da evolucäo da lingua. Estas formas cristalizaram--se e, tal como seria de esperar, näo säo formas sincronicamente produtivas. (5) (a) auf gut Glück geraten*3 (b) jn. in Teufels Küche bringen** Em (5a) o adjectivo gut em funcäo atributiva näo se encontra flexionado de acordo com o género e o numero do substantivo que qualifica. Segundo as regras actuais da lingua alemä, esperaríamos o morfema flexional -es: 'auf gutes Glück geraten'. A expressäo (5b) apresenta um elemento no caso genitivo em funcäo atributiva precedido por um artigo definido - des Teufels Küche. Polenz (1999), na sua descricäo das tendéncias morfo-sintácticas da lingua alemä nos séculos XIX e XX, refere-se ao emprego do caso genitivo em funcäo atributiva da seguinte forma: "Das vorangestellte Genitivattribut mit bestimmten Artikel (des Kaisers Gebot) (...) wird längst nur noch archaistisch-pathetisch verwendet, während es mit Nullartikel bei Eigennamen relativ stabil ist (Giselas Beruf Meyers Haus) (...), ebenso Genitivattribute bei Orts- und Raumnamen (Bonns Prominenz, Bayerns Stoiber, Triers Porta Nigra, Nürnbergs Damenmannschaft)" (Polenz, 1999: 346). Em segundo lugar, Burger alude ás expressöes que apresentam irregularidades a nivel pronominal. Tal como a propria designacäo 'pronome' revela, os 'pro-nomes' těm como funcäo substituir um nome ou um sintagma nominal numa fräse ou num enunciado. Significa isto que, os pronomes constituem mecanismos que possibilitam a retoma 43 Port.: sair assim conforme calha; sair ao calha; sair meio ä sorte. 44 Port.: meter alg num sarilho/em sarilhos; tramar alg. 46 anaförica ou cataförica de determinada unidade nominal numa sequencia textual. Consequentemente, os pronomes que obedecem a este principio säo considerados 'constituintes'45 (Satzglieder) do sintagma ou da fräse46. Como interpretar o elemento 'es' na expressäo abaixo: 47 (6) es schwimmt jm. vor den Augen Embora ao nivel do significante o elemento 'es' aparente ser um pronome, näo desempenha as funcöes de pronome acima mencionadas, isto e: (i) näo e possivel substituir este elemento por um substantivo ou sintagma nominal; (ii) este 'pseudopronome' näo funciona como mecanismo de retoma pronominal. Como ultimo ponto das irregularidades morfo-sintäcticas, Burger refere as expressöes idiomäticas que contem um nücleo verbal cuja Valencia no contexto da expressäo idiomätica difere da Valencia do constituinte verbal enquanto forma livre. (7) (a) jm. auf der Nase/dem Kopf herumtanzen** (b) jm. auf die Finger sehen*9 (c) jm. die Worte im Mund(e) herumdrehen50 (8) (a) jd. tanzt um etw./jn. herum51 (b) jd. sieht jn./etw 52 (c) jd. dreht etw./jn. herum53 Comparando a Valencia dos verbos das expressöes (7a) a (7c) tidos como constituintes das expressöes idiomäticas com a Valencia dos verbos tidos como lexemas livres nas expressöes (8a) a (8c)54, diremos que: 45 Para determinar se dada palavra ou sequencia de palavras possui o estatuto de 'constituinte' de uma fräse realiza--se, regra geral, tres tipos de operacöes, a saber: a substituigäo, a deslocagäo e a retoma pronominal. 46 O exemplo e a explicacäo fornecida por Burger nesta categoria näo säo particularmente felizes: "Eine andere Gruppe enthält Irregularitäten in der Verwendung des Pronomens, insofern sich das Pronomen textlinguistisch "auf nichts" bezieht, also weder anaphorisch noch kataphorisch verstanden werden kann (es schwer haben) (2007: 20). Neste exemplo, o elemento 'es' desempenha a funcäo de correlato (Korrelat), uma vez que o mesmo remete para a oragäo subordinada que segue a oracäo principal: es schwer haben, etw. zu tun. Ao contrario do que afirma Burger, verifica-se que o elemento 'es' retoma cataforicamente a oragäo 'etwas zu tun', isto e, refere-se a 'algo'. 47 Port.:_/oge a vista a alg; alg ve tudo a andar ä roda. 48 Port.: fazer gato-sapato de alg;fazer o que se quer de/com alg; abusar de alg. 49 Port.: andar (sempre) em cima de alg; andar de olho em cima de alg; trazer alg debaixo de olho. 50 Port.: trocar/alterar tudo o que se diz; alterar/trocar o sentido das palavras de alg. 51 Port.: dangar ä volta de qc/alg. 52 Port.: ver qc/alg. 53 Port.: virar qc/alg. 47 (i) como mostra o exemplo (9a), o verbo herumtanzen, enquanto forma livre, selecciona dois argumentos obrigatörios, designadamente um argumento no caso Nominativo com funcäo gramatical de sujeito e um argumento sob forma de um sintagma preposicional (Präpositionalergänzung) composto pela preposicäo 'um' e o sintagma nominal no caso Acusativo. Por sua vez, como e visivel no exemplo (9b), o verbo herumtanzen, considerado no contexto da expressäo idiomätica, exige tres argumentos obrigatörios: o argumento no caso Nominativo com funcäo gramatical de sujeito; o argumento no caso Dativo (Pertinenzdativ) e um argumento preposicional composto pela preposicäo auf e o sintagma nominal -dem Kopf/der Nase - no caso Dativo. (9) (a) Die ganze Klasse tanzt um den Baum herum.55 (b) Die ganze Klasse tanzt ihr auf dem Kopf herum.56 (ii) o verbo sehen, tomado como forma livre, selecciona dois argumentos: um argumento desempenha a funcäo de sujeito, o outro de complemento directo. Por outro lado, o verbo sehen considerado parte integrante da expressäo idiomätica jm. auf die Finger sehen realiza um conteüdo proposicional complexo com tres argumentos: um argumento com a funcäo gramatical de sujeito, um segundo argumento que realiza o caso Dativo com a funcäo gramatical de complemento e, por ultimo, um argumento preposicional formado pela preposicäo auf e o sintagma nominal - die Finger - no caso Acusativo. (iii) o verbo herumdrehen, na qualidade de forma livre, selecciona obrigatoriamente dois argumentos (sujeito e complemento directo), podendo tambem admitir um complemento circunstancial de lugar (vd. exemplo (10a)); ja na qualidade de nücleo verbal da expressäo idiomätica jm. die Worte im Mund(e) herumdrehen, o verbo herumdrehen selecciona tres argumentos (vd. exemplo (10b)). (10) (a) Meine Nachbarin dreht den Schlüssel (im Schloß) herum.51 (b) Meine Nachbarin dreht einem die Worte im Munde herum.5* 54 Limito-me aqui a considerar as estruturas sintacticas bäsicas dos verbos em questäo. 55 Port.: A turma inteira danca ä volta da ärvore. 56 Port.: A turma inteira faz delagato-sapato. 57 Port.: A minha vizinha da a volta ä chave (na fechadura). 48 Voltando á nossa reflexäo iniciál, que nos fez pensar sobre o comportamento 'desviante' das expressöes idiomáticas, podemos afirmar que se comeca aqui a desenhar o quadro do que distingue uma forma livre ou um sintagma livre de uma forma 'fixa' ou um sintagma 'fixo'. No piano das expressöes idiomáticas o núcleo verbal näo pode ser examinado isoladamente. No que diz respeito á categoria das restricöes morfo-sintácticas, Burger procede a uma série de processos de transformacäo da estrutura sintáctica e morfológica dos constituintes das expressöes idiomáticas alemäs Das ist kalter Kaffee59 e Otto hat einen Narren an Emma gefressen60'. A primeira operacäo de transformacäo envolve mudar a posicäo de um constituinte na estrutura sintagmática da expressäo, processo que, regra geral, leva a uma alteracäo da funcäo sintáctica desse elemento na expressäo. Vejamos os seguintes exemplos que representam o processo de transformacäo que consiste em mover o adjectivo que ocorre anteposto ao substantivo para outra posicäo sintáctica onde passa a exercer a funcäo de nome predicativo do sujeito. Para identificar quais os constituintes de determinada expressäo idiomática que säo empregues em sentido transposto, isto é, em sentido näo literal, adopto doravante o sinal gráfico ({}). (11) (a) Das ist {kalter Kaffee}. —> Der Kaffee ist kalt. (b) Das ist ein {dicker Hund}61 —> Der Hund ist dick. (c) Das ist eine {harte Nuss}62 —> Die Nuss ist hart. (d) Das ist ein {alter/uralter Hut}63 —> Der Hut ist alt/uralt. Em primeiro lugar, constatamos que as expressöes idiomáticas (IIa) a (lid) admitem um sentido literal. No piano literal é possível parafrasear estas expressöes transformando o adjectivo adnominal em adjectivo predicativo, sem que haja alteracöes do conteúdo proposicional da expressäo linguística da qual partimos. O mesmo näo se verifica em relacäo ás expressöes no piano idiomático, isto é, o processo de deslocar o adjectivo para uma posicäo sintáctica na qual o mesmo desempenha a funcäo de nome predicativo do sujeito tem como consequéncia a perda total do valor idiomático. Daqui 58 Port.: (sentido literal) A minha vizinha dá volta as palavras na boča de uma pessoa. 59 Port.: qc é trivial!é mais que sabidalé o que toda agente estáfarta de saber/é um segredo depolichinelo. 60 Port.: andar/estar apanhado (de todo)por alg/por qc; ser/estar/andar louco/malucopor alg. 61 Port.: essa é de cabo de esquadra; essa é forte; essa é de calibre; já épreciso descaramento. 62 Port.: ser um quebra-cabecas; ser um caso bicudo; ser um osso duro/dificil de roer; ser um bico de obra. 63 Port.: ser (mais) velho (do que a Sé de Braga); qc já tem barbas. 49 resulta, com efeito, que a significacäo idiomática das expressöes acima deve-se, em parte, á combinatória fixa {kalter + Kaffee}, {dicker + Hund}, {harter + Nuss}, {alter/uralter + Hut} respectivamente. O segundo processo de transformacäo diz respeito á construcäo de uma oracäo relativa a partir do constituinte da expressäo idiomática que desempenha uma funcäo atributiva. De acordo com a norma padräo, a transformacäo de uma estrutura sintáctica composta por um adjectivo seguido de um substantivo em uma oracäo relativa, isto é, em uma estrutura sintáctica subordinada posposta ao substantivo ao qual o adjectivo se reporta, näo implica a alteracäo do valor semäntico da construcäo de partida. Posto isto, consideremos agora a mesma transformacäo do ponto de vista da expressäo de partida tida na sua qualidade de expressäo idiomática: (12) (a) Das ist {kalter Kaffee} —> * Das ist Kaffee, der kalt ist. (b) Das ist ein {dicker Hund} —> * Das ist ein Hund, der dick ist. (c) Das ist eine {harte Nuss} —> * Das ist eine Nuss, die hart ist. (d) Das ist ein {alter/uralter Hut} —> * Das ist ein Hut, der alt/uralt ist. (e) {kalte Füße} kriegen64 —> * Füße kriegen, die kalt sind. Efectivamente sucede que a conversäo da estrutura de partida em uma construcäo relativa implica separar os elementos, Adjectivo + Nome, que formám a unidade, o Sintagma Nominal, resultando na perda do sentido idiomático presente na combinatória iniciál: Das + ist + {kalter + Kaffee}; Das + ist + ein + {dicker + Hund}; Das + ist + eine + {harte + Nuss}; Das + ist + ein + {alter/uralter + Hut}; {kalte + Füße} + kriegen. A desintegracäo estrutural näo se encontra em sintonia com os principios que definem a esséncia das expressöes idiomáticas. O terceiro processo de transformacäo relaciona-se com alteracöes morfológicas dos constituintes de determinada expressäo idiomática, mais precisamente alteracöes referentes á categoria morfológica 'numero'. (13) (a) Das ist {kalter Kaffee} —> * Das sind kalte Kaffees (b) {kalte Füße} kriegen —> * einen kalten Fuß kriegen 64 Port.: perder a coragem; ter/ficar com medo; ficar cheio de medo; ficar com cagago; dar/chegar o medo a alg; sentir umfrio pela espinha abaixo. 50 (c) die Füße nicht auf dem Boden haben —> *einen Fuß nicht auf dem Boden haben (d) kein Blatt vor den Mund nehmen66 —> * kein Blatt vor die Münder nehmen —> * keine Blätter vor den Mund nehmen —> * keine Blätter vor die Münder nehmen Em primeiro lugar, repare-se que modificar o numero do(s) substantivo(s) de determinada expressäo idiomática obriga, regra geral, á alteracäo da forma morfológica dos restantes constituintes variáveis da expressäo, nomeadamente, verbos, determinantes, adjectivos. Estes exemplos ilustram que estas alteracöes no piano formal těm repercussöes no piano da significacäo. Em segundo lugar, embora estas transformacöes possam produzir sequéncias gramaticalmente bem-formadas, o que é certo é que, o resultado da alteracäo é uma sequéncia cujo significado, caso a estrutura sej a gramatical, näo corresponde ao significado idiomático da expressäo de parti da67. Isto vem corroborar a ideia acima exposta de que os constituintes de uma expressäo idiomática funcionam em bloco e näo isoladamente. Vale ainda a pena relevar que, no que respeita a categoria 'numero', existem expressöes idiomáticas que admitem variantes, isto é, independentemente da forma do substantivo, singular ou plural, que se empregue, o significado idiomático da expressäo manter-se-á em tacto: jm. den Daumen/die Daumen drücken ('fazer votos para que algo corra bem'). A terceira categoria de restricöes abordada por Burger, a categoria das restricöes léxico--semänticas, resulta da análise do comportamento das expressöes idiomáticas quando submetidas a operacöes de substituicäo dos constituintes por elementos que pertencem ao mesmo paradigma lexical. (14) (a) {kalte Füße} kriegen (b) —> kalte Beine/Hände kriegen Através dos exemplos em (14), vemos que o adjectivo kalt ('frioVfria') pode co-ocorrer com os substantivos que designam as partes do corpo Füße ('pés'), Beine ('pernas') e Hände ('mäos'). No entanto, apenas a expressäo (14a) admite duas leituras: uma 65 Port.: näo ter os pés assentes na terra; näo ter os pes no chäo; näo ter a cabeqa assente nos ombros. 66 Port.: näo mandar dizer nada por ninguém; com alg é päo päo queijo queijo; falar sem rodeios; falar francamente/com toda afranqueza; näo ter papas na lingua. 67 Schemann (1992: xxin) defende que o carácter fixo das expressöes idiomáticas deve ser tratado com rigor na prática lexicográfica. Uma abordagem desta natureza é indispensável no ämbito do ensino e da aprendizagem de uma lingua estrangeira. 51 interpretacäo literal e uma idiomática. Onde reside a diferenca entre esta expressäo e as expressöes representadas em (14b)? Responder a esta questäo implica adiantar já elementos que justificarei na seccäo que se segue relacionada com os contextos lexemático e semántico: (i) o significado idiomático da expressäo kalte Füße kriegen - 'ficar com medo/perder a coragem' - assenta na interpretacäo da combinacäo sintagmática {lexema 'kalte' + lexema 'Füße'} + kriegen. Esta combinatória de elementos é interpretada como uma unidade de significacäo fixa. Daí as restricöes no que respeita a substituicäo de qualquer um dos termos que compöem este bloco fixo por outros que pertencam ao mesmo paradigma lexical. (ii) o significado literal das expressöes kalte Füße/Beine/Hände kriegen - 'ficar com os pes frios'/'as pernas frias'/'as mäos frias' - resulta da soma dos significados dos elementos que as compöem. Por outros termos, os constituintes da expressäo säo encarados como formas livres. Integradas num discurso, numa fräse, num sintagma, estas formas livres säo susceptiveis de serem substituidas por formas da mesma classe ou categoria semäntica no mesmo ambiente sintagmático. Como se vé, a oposicäo entre formas fixas ou sintagmas fixos e formas ou sintagmas livres desempenha um papel importante na elucidacäo do comportamento e funcionamento das expressöes idiomáticas. Apesar do critério das restricöes lexico-semänticas que caracteriza as expressöes idiomáticas, casos há em que substituir determinado(s) elemento(s) por outro(s) elemento(s) do mesmo paradigma näo implicará, até certo grau, uma alteracäo do significado idiomático. Trata-se de variantes de determinada expressäo idiomática. Os exemplos seguintes, retirados do Dicionário Idiomático Alemao-Portugués (Schemann, 2002), säo elucidativos děste fenómeno: (15) (a) das macht den Kohl/das Kraut/den Braten (auch) nicht fett6i (16) (a) mit einem Fuß/Bein im Gefängnis stehen69 II mit einem Fuß/Bein im Grab(e) stehen10 (b) sich die Finger schmutzig / dreckig machen11 II lange I krumme Finger machen12 68 Port.: isso näo vai mudar (em nada/muito) as coisas; isso näo vai ajudar muito. 69 Port.: estar aqui estar na cadeia; arriscar-se (mais diu menos diu) a irparar äprisäo/cadeia. 70 Port.: estar com ospéspara a cova; estar com umpé na sepultura; estar äsportas da morte. 71 Port.: andar metido em negóciospouco limpos; sujar as mäos. 52 (c) in der Brühe/(ganz schön) im Dreck sitzen / stecken No quadro das observacöes precedentes cabe ainda assinalar que, existem, embora em nümero reduzido, expressöes idiomäticas que contem lexemas que säo ünicos no sentido em que so aparecem naquela expressäo especifica: (17) (a) Amok laufen1^ (b) aus/von Anno Tobak sein'stammen75 (c) starker Tobak sein - etw. ist starker Tobak76 (d) das/es ist zum Bebaumölen (mit jm./etw.)11 As palavras assinaladas a itälico näo ocorrem como formas livres no sistema linguistico do Alemäo. Os elementos constituintes Amok, Tobak, Bebaumölen tomados isoladamente säo sincronicamente opacos e apenas ocorrem neste contexto sintäctico especifico. Uma vez que näo existe uma ideia, um conceito destas palavras a nivel do sistema linguistico, näo e possivel estabelecer relacöes semänticas (sinonimia, antonimia, hiponimia, etc.) com outros lexemas. Com base no conjunto das transformacöes linguisticas aqui expostas, e possivel concluir que as expressöes idiomäticas apresentam fundamentalmente irregularidades de dois tipos: (i) irregularidades de natureza funcional, isto e, existem restricöes no que diz respeito ä deslocacäo de elementos da expressäo idiomätica para outras posicöes sintäcticas e äs variacöes formais dos substantivos (singular/plural); (ii) irregularidades de natureza lexical e semäntica no sentido das restricöes ä substituicäo dos constituintes da expressäo idiomätica por elementos compativeis, tanto no eixo sintagmätico como no eixo paradigmätico e ä insercäo de elementos na construcäo idiomätica. Como se depreende da exemplificacäo feita ate aqui, a oposicäo 'forma regulär' -'forma irregulär' encontra-se intimamente ligada ä oposicäo 'forma livre' - 'forma 72 Port.: deitar a mäo/unha a qc; meter qc ao bolso;fazer mäo baixa; surripiar qc. 73 Port.: estar (mesmo/...) tramado/lixado; estar (mesmo/...) metido numa alhada/nuns assados; estar (mesmo/...) frito; estar (mesmo/...) ä rasca. 74 Port.: perder a cabega; entrar emparafuso; estar como doido;pirar. 75 Port.: ser do ano de 1900 e troca o passo; ser do tempo da Maria Cachucha; ser do tempo dos nossos avös; ser do tempo dos candeeiros depetröleo; ser do tempo dos afonsin(h)os. 76 Port.: (ja) e demais; e incrivel;passa das marcas; (aquela/essa) e forte. 11 Port.: isto e de dar em maluco/doido (com alg/qc). 53 fixa'. Poderíamos, entäo, definir provisoriamente o que se entende, por um lado, por 'forma livre' ou 'sintagma livre' (freies Syntagma) e, por outro, por 'forma fixa' ou 'sintagma fixo' (gebundenes Syntagma): uma 'forma livre' é, em princípio, concebida como forma regular, visto que obedece as regras morfo-sintácticas e semänticas da lingua; por seu turno, uma 'forma fixa' é considerada uma forma irregular que apresenta, salvo casos especiais, restricöes morfo-sintácticas e léxico-semánticas. Como tivemos oportunidade de demonstrar, as expressöes idiomáticas säo estruturas fixas, pelo que, regra geral, qualquer tipo de modificacäo morfológica, sintáctica e/ou lexical, terá repercussöes para o significado da expressäo. A partir desta distincäo entre 'sintagmas livres' e 'sintagmas fixos' estamos em condicöes de considerar uma caracterizacäo mais precisa do contexto linguístico das expressöes idiomáticas, isto é, uma caracterizacäo do contexto lexemático (lexematischer Kontext) e do contexto semäntico (semantischer Kontext). 1.4.3. O contexto lexemático Para Schemann, o contexto lexemático constitui uma dimensäo fundamental no funcionamento das expressöes idiomáticas, contexto que, segundo este autor, tem sido descurado pelos linguistas, em geral, e pelos estudiosos que encaram as expressöes idiomáticas como estruturas 'desviantes' do sistema linguístico da lingua, em especifico. Comecemos pela definicäo do contexto lexemático proposto por Schemann: Der lexematische Kontext hat seinen einheitlichen Kern - und darin sein wesentliches Definitionskriterium - darin, daß ein oder mehrere sprachliche Elemente a/b/c/... nur in der Umgebung eines oder mehrerer, d.h. spezifischer anderer sprachlicher Elemente x/y/z/... ihre Funktion erfüllen, d.h. Bedeutung haben können (2003: 66). Desta definicäo se pode inferir que determinado elemento linguístico (fonema, morféma, lexema, sintagma fixo) 'a' adquire o seu significado na combinacäo sintagmática com o elemento linguístico expecífico (fonema, morféma, lexema, sintagma fixo) 'x'. Temos, portanto, de acordo com esta concepcäo do contexto lexemático, a seguinte configuracäo: a + x Significado da expressäo 54 O significado da expressäo encontra-se ligado ä combinacäo dos elementos especificos 'a' e 'x' na sequencia acima indicada. Para ilustrar este facto, consideremos as seguintes expressöes idiomäticas que contem o lexema verbal fallen ('cair'): (18) (a) j-m in die Hände fallen1* (b) es fällt jm. (plötzlich) wie Schuppen von den Augen19 (c) jm. fällt ein Stein vom Herzen® (d) aus allen Wolken fallen*1 Observando as expressöes (18a) a (18d), verificamos que, embora o lexema fallen', tornado isoladamente, seja uma forma livre que possui uma esfera de significacäo, este näo funciona como forma livre nos exemplos (18). Aqui o verbo fallen' e um elemento que, em conjunto com uma sequencia de outros elementos especificos, participa na formacäo de uma unidade de significacäo. No exemplo (18a), o elemento fallen' encontra-se 'embutido' no contexto lexemätico fixo {jm. + in + die + Hände + fallen}, contexto ao qual se atribui o significado 'cair em poder de alg'. Tambem nos restantes exemplos, o verbo 'fallen' encontra-se 'preso' aos respectivos contextos lexemäticos. As expressöes idiomäticas ate aqui apresentadas confirmam que: "alle gebundenen Formen (...) haben eines gemeinsam: den lexematischen Kontext. Das bedeutet: ihre sprachlichen Kontextmöglichkeiten können nicht (eindeutig) begrifflich abgesteckt werden - eben weil sie keine Sphäre haben" (Schemann, 2003: 59). Repare-se que os significados das expressöes idiomäticas em (18) näo se encontram relacionados com o significado do verbo 'fallen' enquanto forma livre. Vejamos, por exemplo, que näo existe relacäo de necessidade entre o significado da expressäo 'aus allen Wolken fallen' - 'ficar estupefacto' - e o significado livre do verbo fallen'. Perante esta relacäo entre o contexto lexemätico e o significado da expressäo idiomätica, levanta-se a questäo da 'genese' de determinado contexto lexemätico, isto e, do(s) processo(s) de criacäo e formacäo desse conjunto fixo de lexemas. O contexto lexemätico, contexto do piano linguistico, parece, assim, estar ligado a um piano primärio de cariz extra-linguistico. Reencontramos aqui as reflexöes tecidas na seccäo deste estudo intitulada "Os concertos 78 Port.: significado idiomätico - cair em poder de alg/ficar ä merce de alg; equivalente(s) - cair nas mäos de alg; ir ter ä(s) mäo(s) de alg. 19 Port.: significado idiomätico - algo fica/torna-se (de repente) claro/compreensivelpara alg; equivalente(s) - (de repente/...) abrir os olhos; (de repente/...) comeqar a ver qc/a coisa toda; (de repente/...) dar-se conta de qc. 80 Port.: significado idiomätico - ficar/sentir-se aliviado; equivalente(s) - a alg sai-lhe/...umpeso de cima/(de cima) das costas/da consciencia. 81 Port.: significado idiomätico - ficar surpreso/espantado com algo; ficar estupefacto; equivalente(s) - cair das nuvens/dos ceus; cair de cu. 55 de 'Metäfora'' e 'Imagem"' sobre a 'imagem mental viva' (lebhafte Vorstellung), a dimensäo poetica e criativa da metäfora, a ligacäo entre a metäfora e o fundo pressuposto e a relacäo de identificacäo entre o significado literal e o significado metaförico das expressöes idiomäticas. Com base na relacäo que o contexto lexemätico mantem com o contexto extra-linguistico, parece näo ser infundamentado afirmar-se que "der sprachlich gebundene Kontext führt, will man ihn einsichtig machen, verstehen, notwendig zum nicht-sprachlichen Kontext und zum Bild" (Schemann, 2003: 62)82. 1.4.4. O contexto semäntico Pode-se tomar como ponto de partida para a reflexäo sobre o contexto semäntico a seguinte definicäo apresentada por Schemann: "Im Gegensatz zum lexematischen Kontext hat der semantische Kontext sein wesentliches Definitionskriterium darin, daß er sich durch einen Begriff - oder mehrere Begriffe - definieren läßt' (2003: 67). Significa esta afirmacäo que, em oposicäo ao contexto lexemätico, o contexto semäntico e um contexto passivel de ser definido por um ou mais conceitos. Para esclarecer a natureza e o modo de funcionamento deste contexto, recorro de novo a exemplos que apresentam o item verbal fallen ('cair'): (19) (a) Die Regentropfen fallen (dicht) - 'Os pingos de chuva caem (com intensidade)' (b) Die Blätter fallen (von den Bäumen) - 'As folhas caem (das ärvores)' (c) Das Kind fällt - ' A crianca cai' Antes de mais, importa relevar que os exemplos de (19) reportam-se a acontecimentos concretos na medida em que estes se encontram ligados ä realidade e podem ser captados pelos sentidos, isto e, estas situacöes podem ser caracterizadas como sendo, utilizando o termo alemäo, "konkret-anschaulich". E precisamente a anälise das unidades lexicais, neste caso, do verbo fallen, em situacöes 'palpäveis', a partir das quais e possivel determinar o seu sentido bäsico ou nuclear, que servirä de suporte ao tratamento do contexto semäntico e da sua ligacäo com as expressöes idiomäticas. Observando o significado do verbo fallen nos exemplos de (19), constata-se que, näo obstante as diferencas que existem entre o 'cair' dos pingos de chuva, o 'cair' das folhas 82 Schemann chama a atencäo para o facto de que os estudos que se debrugam sobre as expressöes idiomäticas näo versarem a releväncia de estudar a 'origem' da fixidez formal que caracteriza as expressöes idiomäticas. 56 das árvores e o 'cair' de urna crianca ou pessoa, nomeadamente no que diz respeito ás propriedades de dištancia vertical e velocidade, o verbo fallen realiza, nos trés exemplos, o mesmo conteúdo semäntico básico ou nuclear: o movimento involuntário de um corpo ou substancia física que segue urna direccäo de cima para baixo, mais especificamente para o solo ou chäo; a dimensäo de espaco ou dištancia vertical de determinado ponto mais elevado até ao nível do solo. Este significado básico e genérico, que resulta da abstraccäo dos elementos de significacäo ou semas particulares, representa o conceito ou um dos conceitos que contribui para a definicäo da esfera de significacäo, melhor dizendo, do contexto semäntico do verbo fallen. Posto isto, impöe-se observar o que se passa com o verbo fallen nas expressöes abaixo: (20) (a) Der Soldat fällt/ist gefallen - 'O soldado morre/morreu (em combate)' (b) Die Stadt fällt/ist gefallen - 'A cidade é/foi tomada/conquistada' (c) Dieses Tabu ist gefallen - 'Este tabu foi quebrado' Repare-se que, nos exemplos (20), o verbo fallen é utilizado para exprimir um outro significado, isto é, um significado que se afasta do sentido básico e concreto em direccäo a um sentido mais abstracto. No que diz respeito ao exemplo (20a), ainda que sej a possível interpretar a expressäo der Soldat fällt literalmente, o soldado cai (para o chäo), esta expressäo lexicalizada, composta pelo contexto lexemático der Soldat + fällt, encontra-se preša ao significado "o soldado morreu". A questäo que se coloca é, portanto, a seguinte: em que medida é que o significado nuclear do verbo fallen ainda é perceptível, isto é, ainda se faz sentir no significado da expressäo. Neste caso, pode dizer-se que o pensamento de um soldado que morre em combate, está associado á ideia do corpo de um militar que ao ser alvejado mortalmente cai para o chäo. Quer dizer, o significado de fallen neste contexto lexemático deixa transparecer os seguintes elementos constitutivos do significado nuclear do verbo fallen acima expostos: o movimento descendente e a dimensäo espacial considerada desde um ponto acima do solo até ao nível do solo. Do mesmo modo que o significado do verbo fallen na expressäo (20a) sugere certos elementos do significado básico do verbo fallen enquanto forma livre, expressöes há que sugerem outros elementos do significado nuclear do verbo. Já no que se refere aos exemplos (20b) e (20c), observa-se alguma dificuldade em reconhecer 'suggestions' dos elementos que compöem o significado básico do verbo fallen no significado das expressöes apresentadas. 57 Estabelecida a pertinencia do contexto semäntico no processo de metaforizacäo, cabe sublinhar a inter-relacäo entre o contexto lexemätico e o contexto semäntico: "Der semantische Kontext (...) ist (...) ein Kontext, der den lexematischen Kontext bereits voraussetzt: der Begriff 'entsteht' (erst) in der Distanzierung von etwas, was, weniger distanziert, schon vorliegt bzw., weniger oder sogar gar nicht distanziert, zunächst gegeben ist: dem Bild. Der lexematische Kontext ist also zugleich genetisch wie strukturell primär" (Schemann, 2003: 69). 1.5. CARACTERIZACÄO DO CONTEXTO EXTRA-LINGUISTICO DAS EXPRESSÖES IDIOMÄTICAS: DEIXIS - SITUACÄO - ACTOS DE FALA - P(L)ANO DE FUNDO 1.5.1. Notas preliminares No capitulo anterior empreendi uma descricäo das expressöes idiomäticas do ponto de vista de orientacöes de indole estruturalista, focando especificamente a natureza rigida e fixa destas construcöes nos pianos sintäctico e lexico-semäntico. Proponho-me, no presente capitulo, levar a efeito um tratamento especifico das expressöes idiomäticas ao nivel pragmätico, objectivo que implica: (i) observar o complexo de problemäticas que se pöem a este nivel. Por outras palavras, analisar e correlacionar as principals teorias e os respectivos metodos que se inscrevem no piano do uso da lingua, isto e, no nivel da comunicacäo; (ii) alargar e aplicar a reflexäo em (i) ä caracterizacäo e anälise do funcionamento das expressöes idiomäticas, com relevo para o criterio da fixidex (Festigkeit) de ordern pragmätica. Antes, porem, de abordar estes aspectos, convirä recordar que a disciplina da pragmätica surge como resposta aos principios metodolögicos sustentados pela linguistica do sistema, principios esses baseados na anälise da lingua enquanto sistema formal de elementos. A observacäo do facto de que o hörnern faz uso dos elementos da lingua e da sua competencia linguistica em situacöes concretas e especificas de comunicacäo, conduziu ao desenvolvimento de värias teorias de indole pragmätica que, focando o 'universo' da comunicacäo linguistica de pontos de vista diferentes, visam a 58 caracterizacäo e sistematiza9äo dos elementos e factores que influem nos actos de comunica9äo, em geral, e nos actos discursivos, em especifico. Resulta desta heterogeneidade de perspectivas a dificuldade que experimentamos em definir a essentia da pragmática. Tentarei, por conseguinte, caracterizar alguns pressupostos teóricos que constituem uma referéncia importante no domínio da pragmática e, tal como acima referido, estabelecer os pontos de contacto entre estes pressupostos e as expressöes idiomáticas. 1.5.2. Deixis Come90 por esquematizar as propriedades do modelo organon da linguagem proposto por Bühl er (1932, 31999), modelo axiomático inspirado na definÍ9ao da fun9äo da linguagem apresentada por Platäo na sua obra Crátilo: "die Sprache sei ein organum, um einer dem andern etwas mitzuteilen über die Dinge" (Bühler, 1999: 24). Esta definÍ9ao parte do principio da linguagem como instrumento83 que é empregue por um emissor para comunicar a um receptor algo sobre as coisas, isto é, o emissor dirige-se ao seu interlocutor com o intuito de lhe comunicar algo. De observa9Öes desta natureza resultou o modelo de comunica9äo de Bühler constituido pela triade do emissor, do receptor e do referente. Partindo desta matriz, Bühler identificou e caracterizou trés fun9Öes da linguagem correspondentes aos trés elementos que compöem o seu modelo: o enunciado produzido pelo sujeito enunciador desempenha (i) uma fun9äo expressiva no sentido em que é expressäo ('Ausdruck') das ideias, das opiniöes, dos sentimentos do emissor; (ii) uma fun9äo apelativa na medida em que constitui um apelo ('Appell') ao destinatário por parte do emissor; (iii) uma fun9äo referencial no sentido em que é uma representa9äo ('Darstellung') de informa9Öes sobre o objecto da enuncia9äo. Da aplica9äo destes pontos de referéncia que compöem o seu modelo teórico do processo de comunica9äo ao fenómeno verbal concreto, isto é, ao fenómeno designado por face-to-face communication^', Bühler pöe em evidéncia o facto de que este assenta na triade deictica eu-aqui-agora (ego-hic-nunc; ich-jetzt-hier). Esta formula clássica representa o quadro de referéncia dos elementos que determinam a perspectiva a partir da qual a 83 O termo organon deriva do grego e significa 'instrumento'. 84 Na altura em que Bühler e outros desenvolveram a sua teoria da comunicagäo, predominava o tipo de comunicagäo designada por 'face-to-face communication'. A fixagäo e o desenvolvimento dos meios de comunicacäo tecnológicos, como, por exemplo, a comunicagäo através da televisäo, da internet e de ficheiros video e audio, meios que possuem propriedades específicas, teve como consequéncia: (i) o surgimento de novos mecanismos linguisticos; (ii) o emprego de meios linguisticos já existentes, mas com outras fungöes. 59 situacäo de comunicacäo se realiza: (i) o sujeito falante (eu); (ii) determinada realidade espacial (aqui); (iii) determinada realidade temporal (agora). Os referentes para os quais os indicadores linguisticos de 'pessoa' ('personale Deixis'), de 'lugar' ('lokale Deixis') e de 'tempo' ('temporale Deixis') 'apontam', variam consoante as instäncias concretas do discurso85. De facto, se observarmos o enunciado 'Ich werde da heute noch anrufen' ('(Eu) telefono para lä ainda hoje'/'Ainda hoje telefono/ligo para lä') desenquadrado do conjunto de factos ou circunstäncias com que se relaciona, verificamos que e praticamente impossivel 'localizar' as referencias para os quais os elementos deicticos, designadamente o pronome pessoal 'ich' ('eu'), o adverbio de lugar 'da' ('lä') e o adverbio de tempo 'heute' ('hoje'), remetem. Estes deicticos funcionam, em determinada situacäo de comunicacäo, como meios linguisticos que ajudam ä 'localizacäo' do locutor e do conjunto de circunstäncias espäcio-temporais envolventes. Repare-se que o processo de localizacäo desencadeado pelos deicticos no exemplo acima tem como ponto de referencia o enquadramento espäcio-temporal do sujeito falante: o processo de localizacäo accionado pelo adverbio de lugar 'da' ('lä') realiza-se a partir do 'hier' ('aqui') do falante86. Postas estas observacöes relacionadas com o locutor e o seu posicionamento no seio do acto comunicativo, resta-me considerar a posicäo do alocutärio neste quadro de referencia. De acordo com o modelo de Bühler, a concretizacäo da relacäo «eu-tu» no ämbito de determinada situacäo de comunicacäo decorre da intencäo com que o sujeito falante se dirige ao(s) seu(s) interlocutor(es). A 'localizacäo' da(s) pessoa(s) a quem se fala, «tu»/«vös», e determinada pela sua relacäo com a pessoa que fala, «eu». A propósito dos signos linguisticos portadores de funcäo deictica importa observar com Blühdorn que existem "Sprachelemente, die ausschließlich zur deiktischen Informationskodierung verwendet werden (exklusive Deiktika), es gibt aber auch viele Elemente, die sowohl zur deiktischen als auch zur nicht-deiktischen Informationskodierung geeignet sind. Ferner können deiktische Repräsentationsanweisungen auch ohne Benutzung manifester Deiktika, nämlich entweder sprachlich-implizit oder aber nicht-sprachlich (gestisch oder mimisch), übermittelt werden" (1993: 47). 86 Além das trés categorias clässicas da deixis supramencionadas, Levinson (1983: 62-63) faz referencia a outras duas categorias, a saber: a deixis discursiva ou textual e a deixis social. Blühdorn (1993: 44-62) propöe uma classificagäo complexa dos fenómenos deicticos que se manifestam na lingua alemä contemporänea. Limito-me aqui a transcrever as categorias propostas em lingua alemä: (i) grammatische Deiktika und lexikalische Deiktika (deiktische Verben/Substantive/Artikelwörter/Pronomen/Adverbien/Adjektiven/Präpositionen); (ii) exklusive und nichtexklusive Deiktika; (iii) Gesichtspunkt der Anknüpfung an Bestandteile des Laufwissens (Ereignis-, Partner-, Nachrichten-, Zeichen-, Zirkumstanten-, Lokal- und Temporaldeiktika); (iv) Gesichtspunkt der Bestimmung von Bestandteilen der zu bildenden Sachverhaltsrepräsentation (Gegenstands-, Lokal-, Temporal-, Direktional- und Intensitätsdeiktika); (v) Gesichtspunkt der relativen Lokalisierung (Nahdeiktika, Ferndeiktika, distanzneutralen Deiktika); Gesichtspunkt der Situationsdeiktika (richtungsneutrale und richtungsspezifizierende Deiktika); Gesichtspunkt der Temporaldeiktika (periodisierende und nicht-periodisierende Deiktika); (vi) perspektivneutraler, senderperspektivischer, nachrichtenbestandteilsperspektivischer, adressatenperspektivischer und zirkumstanten-perspektivischer Deixis. 60 Trata-se agora de aplicar a fórmula de base do modelo de comunicacäo de Bühler e os fenómenos a este associados ao piano das expressöes idiomáticas87. Encaremos em primeiro lugar a deixis espacial: (21) (a) hier/da/... am falschen Fleck/Platz (sein)ss (a') "Die beiden haben geheiratet und wollen das Studium abbrechen? Hm, um den Günther tut es mir nicht leid, der ist an der Universität sowieso am falschen Platz; aber die Christa ist begabt und geistig interessiert; um die ist es wirklich schade". (b) hier/dort/bei ...An .../... herrscht/(ist) dicke Lufř9 (b') "Heute kommst du besser nicht mit zu uns zum Mittagessen. Da herrscht dicke Luft." (c) hier ist/da war/bei/auf/... ist/... der Teufel/die Hölle los90 (c') "Mit seinem lockeren Mundwerk hat er der Gertrud etwas Schönes eingebrockt! - Wieso? - Er hat so getan, als führe sie ein sehr leichtfertiges Leben, ihr Vater hat davon Wind bekommen, und jetzt ist bei ihr zu Hause der Teufel los." (d) in dieser Sache/... steckt/ist/(sitzt) der Wurm drin91 (ď) "... In diesen Verhandlungen steckt der Wurm drin! Jedesmal, wenn man meint, man käme endlich zu konkreten Ergebnissen, kommt sofort wieder irgendetwas dazwischen." Ao observar estas expressöes idiomáticas e os respectivos enunciados, verificamos que estamos perante estruturas que exigem a realizacäo de um constituinte indicativo de lugar: wo ist man am falschen Platz?; wo herrscht dicke Luft?; wo ist die Hölle los?; wo steckt der Wurm drin?. Este constituinte poderá, dependendo do enquadramento espacial em relacäo ao falante e ao ouvinte e da organizacäo do enunciado, assumir vários modos de expressäo. Relativamente aos enunciados acima, distinguem-se duas formas de realizacäo do constituinte indicativo de lugar: por um lado, temos os advérbios de lugar - hier ('aqui'), da ('ali'), dort ('acolá') - que, apesar de serem parte integrante das respectivas expressöes idiomáticas, funcionam da mesma forma que os deicticos de lugar - hier, da, dort - enquanto formas livres. Por outro lado, temos os 87 Todos os enunciados apresentados no ämbito desta secgäo foram retirados do Dicionário Idiomätico Alemäo -Portuguěs (Schemann, 2002). 88 Port.: estar aqui/ali/...no lugar errado. 89 Port.: aqui/...a atmosféra está tensa; aqui/...o ar está carregado; aqui/...anda trovoada no ar. 90 Port.: ali anda/andou/... o diabo á solta. 91 Port.: há ali/aqui/...qualquer coisa que näo bate certo; a coisa (parece que) está enguicada/näo anda/näo quer andarpara afrente. 61 sintagmas preposicionais que těm como núcleo uma preposicäo com valor locativo seguida de um sintagma nominal (vd. exemplo (21d')). Tal como acontece com os advérbios de lugar, observa-se que os sintagmas preposicionais, que integram as expressöes idiomáticas acima, apresentam um comportamento sintáctico-semántico e deíctico idéntico ao que manifestam enquanto sintagmas preposicionais livres. Note-se por fim que, fora das respectivas situacöes de enunciacäo, é possivel, mutatis mutandis, substituir estes elementos de localizacäo por outros elementos do mesmo paradigma. Tal significa que estes constituintes mantém o seu significado livre no interior das respectivas unidades idiomáticas. Passamos agora a analisar a deixis temporal no contexto das expressöes idiomáticas: (22) (a) jetzt/gleich/... geht der Tanz (wieder) los92 (a') "... Ach du liebes bißchen, jetzt geht der Tanz wieder los! Der Korbach schimpft schon, noch ehe der Walter ganz im Büro ist." (b) jetzt/dann/... ist Schluß (mit etw.)93 (b') "Wer zum Teufel hat mir denn schon wieder das Portemonnaie hier weggenommen? Jetzt ist aber Schluß mit dem Unsinn!" Verifica-se, ao observar os enunciados (22a') e (22b'), que o valor referencial dos advérbios de tempo jetzt, gleich e dann apenas pode ser identificado a partir do acto especifico da enunciacäo. Assim sendo, estamos perante advérbios com funcäo deictica. Deriva igualmente desta análise que: (i) o significado destes advérbios enquanto constituintes das respectivas expressöes idiomáticas corresponde ao seu significado enquanto formas livres; (ii) existe um numero bastante restrito de advérbios de tempo passíveis de figurarem como constituintes das expressöes acima. E oportuno, neste ponto, constatar, que estas expressöes idiomáticas se encontram vinculadas a situacöes de comunicacäo e enunciacäo que apresentam um determinado conjunto de circunstáncias específicas. Perante estas observacöes, interessa-nos de modo particular averiguar se o modelo de comunicacäo de Bühler acima exposto dá satisfatoriamente conta do papel que os advérbios de tempo jetzt, gleich e dann desempenham nos enunciados (22). Por outras palavras, será lícito reduzir a accäo destes termos á sua 92 Port.: lá/...vai comegar/comega a (mesma) cena (de sempre)/o (mesmo) teatro (de sempře). 93 Port.: e agora/...acabou-se; e acabou-se a brincadeira; agora/...acabou-se qc; chega/basta de qc. 62 funcäo deíctica? Para responder a esta questäo, recorremos, novamente, á classificacäo das funcöes da linguagem proposta por Jakobson. Recorde-se que este modelo, que visa um alargamento da concepcäo do acto de comunicacäo de Bühler, inclui, para alem das funcöes da linguagem apresentadas por este linguista - a funcäo expressiva ou emotiva, a funcäo apelativa, a funcäo referencial ou denotativa -, as seguintes trés funcöes: a funcäo fática, a funcäo metalinguistica e a funcäo poética. Detenhamo-nos, neste ponto, na caracterizacäo da funcäo fática da linguagem: "There are messages primarily serving to establish, to prolong, or to discontinue communication, to check whether the channel works ("Hello, do you hear me?"), to attract the attention of the interlocutor or to confirm his continued attention ("Are you listening?" or in Shakespearean diction, "Lend me your ears!" - and on the other end of the wire "Umhum!"). This set for CONTACT, or in Malinowski's terms PHATIC function (1953), may be displayed by a profuse exchange of ritualized formulas, by entire dialogues with the mere purport of prolonging communication" (Jakobson, 1990: 75). Como se depreende da descricäo de Jakobson, a funcäo fática da linguagem engloba um complexo de actos de comunicacäo que assentam em (i) mecanismos linguísticos que servem para iniciar, prolongar e terminar determinada situacäo de comunicacäo; (ii) recursos linguísticos que permitem verificar as condicöes de recepcäo da mensagem e (iii) formas que visam atrair a atencäo do interlocutor. Para esclarecer de que modo o comportamento do advérbio de tempo jetzt nos enunciados (22a') e (22b') se encontra ligado á funcäo fática da linguagem, convém realizar o seguinte teste que consiste em produzir estes enunciados sem empregar este advérbio: (23) (a) "... Ach du liebes bißchen. *Der Tanz geht wieder los! Der Korbach schimpft schon, noch ehe der Walter ganz im Büro ist." (b) "Wer zum Teufel hat mir denn schon wieder das Portemonnaie hier weggenommen? * Schluß mit dem Unsinn!" Se compararmos as frases (22a') e (22b') com as frases correspondentes em (23), diremos que o advérbio jetzt funciona como mecanismo de focalizacäo, isto é, funciona como uma chamada de atencäo para algo que se considera importante. O sujeito falante emprega o advérbio numa tentativa de levar o seu ouvinte a prestar atencäo a um momento especifico da situacäo de enunciacäo: os factos para que foram requeridos a 63 atencäo. Indo mais longe, parece ser possivel inferir que, ao fazer incidir a atencäo do(s) seu(s) interlocutor(es) em determinado aspecto do contexto situacional, o sujeito falante deixa transparecer a sua posicäo ou atitude face ao seu proprio enunciado. Se nos fixarmos no enunciado (22b'), verificaremos que o adverbio jetzt contribui para marcar a posicäo do locutor. A anälise aqui efectuada serve para ilustrar a dimensäo pragmätica do funcionamento destes adverbios de tempo enquanto constituintes de determinada expressäo idiomätica em contexto de comunicacäo. Como se pöde avaliar pelos exemplos apresentados, estes elementos funcionam como conectores pragmäticos, isto e, encontram-se presos a este significado especifico, a situacöes especificas de comunicacäo e a posicöes especificas do falante. Voltemo-nos agora para o funcionamento da deixis pessoal ao nivel das expressöes idiomäticas: (24) (a) du bist/der Karl ist/... wohl vom blauen Affen gebissen!94 (a') "Was, du willst schon wieder zehn Mark?! Du bist wohl vom blauen Affen gebissen! Jeden Tag und jeden Tag kommst du und willst Geld. Du bist wohl verrückt, was?!" (b) du verstehst wohl/er versteht wohl/... kein Deutsch? !9S (b')"Gerd? - Ja? - Wasch' dir die Hände vor dem Essen.......Gerd? - Ja? - Wasch' dir die Hände vor dem Essen.......Gerd!! Verdammt nochmal! Du verstehst wohl kein Deutsch, was? Jetzt sag' ich dir zum dritten Mal, du sollst dir vor dem Essen die Hände waschen." (c) du tötest/der Gerd tötet/... mir den (letzten) Nerv!96 (c') "Paul, mußt du denn immer und immer wieder meinen Bruder bei anderen schlecht machen?! Du tötest mir den Nerv, Kerl! Wirklich! Du machst mich derart kribbelig damit, daß ich irgendwann nicht mehr mit dir umgehe!" Primeiramente, importa destacar que, embora nos enunciados (24a') a (24c') estejamos perante a concretizacäo da relacäo «eu-tu», e possivel encontrar situacöes de comunicacäo correspondentes em que o sujeito falante se refere a terceiros «ELE(S)»/«ELA(S)». Escusado serä dizer que estes pronomes pessoais, constituintes das respectivas expressöes idiomäticas, desempenham, ä semelhanca do que se verifica em 94 Port.: estäs/o Carlos estä/...doido varrido; estäs/o Carlos estä/...completamente doido/maluco; näo estäs/o Carlos näo estä/...bom do miolo/da cabega; estäs/o Carlos estä/...com febre; estäs/o Carlos estä/...a delirar; que bicho te/...mordeu? 95 Port.: näopercebes/percebe/...o que eu digo (ou que)?; eufalarei chines?! 96 Port.: tu däs-me/ele dä-me/...cabo dapaciencia. 64 contextos nao idiomáticos, funcoes deícticas e anafóricas. Em segundo lugar, os exemplos acima expostos deixam já entrever uma questáo importante a discutir no quadro pragmático das expressoes idiomáticas: a atitude e a opiniao do falante em relacáo ao(s) seu(s) interlocutor(es) ('Sprecherhaltung zur Person') e em relacáo á materia, ao assunto, sobre o qual recai a atencao da interlocucáo (' Sprecherhaltung zur Sache'). O que aqui se pergunta é se este «DU» exprime ou traduz 'algo mais' do que apenas a informacáo de um «EU» que se dirige a um «TU». Observe-se que, a par da fixidez sintáctica e semántica que caracteriza as construcoes idiomáticas, as expressoes em (24) encontram-se 'presas' a determinada atitude especifica do sujeito falante em relacáo ao seu interlocutor ou a terceiros. Ao pronunciar as expressoes idiomáticas inseridas nos enunciados (24a') a (24ď), todo o locutor revela o que pensa em relacáo ao seu interlocutor e o estado de coisas envolvente. Analisando as sequéncias (24), verificamos que o emprego destas expressoes implica necessariamente emitir certa opiniao em relacáo ao destinatário, designadamente 'esta situacao/o teu comportamento nao me agrada (nada)/irrita-me'. Por outras palavras, estas expressoes idiomáticas encontram-se 'presas' a atitudes especificas do sujeito falante relativamente ao seu interlocutor, isto é, estamos perante atitudes lexicalizadas (' lexikalisierte Sprecherhaltungeď). O facto de ser possivel agrupar dadas expressoes idiomáticas em torno de determinada atitude do falante face ao destinatário, vem reforcar a ideia da lexicalizacáo da relacáo 'expressáo - atitude (locutor - interlocutor)' enquanto factor de rigidez pragmática. 1.5.3. Situacáo O objectivo desta seccáo consiste em analisar as expressoes idiomáticas do ponto de vista dos princípios elaborados pelos modelos de indole pragmática com base no estudo da situacáo especifica em que os interlocutores se encontram quando proferem determinado enunciado e da natureza do vinculo entre a situacáo de comunicacáo particular e o comportamento linguístico a ela associado. A motivacáo de tais modelos reside na constatacáo de que existem determinados tipos de situacoes comunicativas que podem ser designadas de 'hábitos' do nosso quotidiano no duplo sentido: por um lado, sáo situacoes de comunicacáo que se repetem com bastante frequéncia como, por exemplo, situacoes que implicam saudar, agradecer, felicitar alguém; por outro lado, sáo situacoes que se encontram intimamente ligadas a formas linguísticas próprias, melhor 65 dizendo, formas estandardizadas que os interlocutores těm ao seu dispor para a realizacäo dos actos em questäo. Sem pretender entrar em questöes terminológicas, adopto aqui o termo 'Routineformeln'' ('fórmulas de rotina/hábito') utilizado por Coulmas (1981: 13) para designar "Muster für die Konstituierung von Handlungen, und zwar von solchen Handlungen, die sich in der alltäglichen kommunikativen Praxis jeder Sprachgemeinschaft wiederholen. Sie sind an rekurrente Situationen des sozialen Verkehrs gebunden und sind als Resultat dieser Situationsstandardisierungen zu betrachten. Sie sind in der Sprache verfestigte organisierte Reaktionen auf soziale Situationen". Esta citacäo de Coulmas acentua o facto de que a correlacäo íntima entre as fórmulas de rotina e as respectivas situacöes especificas de uso se baseia em convencöes de tipo sócio-cultural e institucional. Assim, uma questäo importante a discutir é o que se entende pelo conceito de 'convencäo' e quais säo os principios determinantes deste fenómeno da prätica social. Para tal, sirvo-me da descricäo deste fenómeno feita por van Dijk, na obra intitulada Textwissenschaft: "Eine Konvention bestimmt, welche möglichen oder notwendigen Relationen zwischen Teilnehmern in einer bestimmten Situation existieren und wie geartet diese Relationen beim Verlauf der Interaktion sind. Zwar haben Konventionen eine kognitive Basis - aufgrund der Tatsache, daß die sozialen Teilnehmer sie kennen müssen -, sie sind jedoch auch von sozialer Natur, da sie eine Gruppe oder Gemeinschaft kennzeichnen, bzw. das gemeinsame Wissen, und da sie die sozialen Interaktionen in dieser Gruppe oder Gemeinschaft festlegen. Das bedeutet, daß die meisten Teilnehmer der Gemeinschaft diese Konventionen auch wirklich kennen müssen und anwenden können und daß sie dies auch voneinander wissen müssen, so daß man in den meisten Situationen erwarten kann, welche möglichen oder notwendigen Handlungen der andere tun wird, was, wie wir schon sahen, eine wichtige Bedingung für sinnvolle und effektive Interaktion ist. Konventionen können sehr unterschiedlich sein: sie können für eine kurze Zeit und eine geringe Anzahl von Teilnehmern gelten (wie etwa Verabredungen, sich während einiger Monate jede Woche zu treffen), oder aber sie sind allgemein und mehr oder weniger permanent für die gesamte Gemeinschaft (wie etwa Sprach- und Kommunikationsregeln). Konventionen können für die Gesellschaft explizit sein oder nicht: bestimmte Gebräuche werden niemals als solche formuliert, erst recht nicht (schriftlich) fixiert, während andere Konventionen wiederum gerade diese Formulierung und Fixierung erfordern, wie etwa Gesetze und Vorschriften. Schließlich sind Konventionen mehr oder weniger zwingend: einen konventionellen Gruß braucht man eventuell nicht zu erwidern, auf einer Sitzung braucht man nicht zu erscheinen, jedoch ist man echt an Gesetze und andere Konventionen gebunden, die (juristische) 66 Verpflichtungen beinhalten. Das Durchführen von Handlungen und Interaktionen, die nicht mit den aus Konventionen ableitbaren Vorschriften übereinstimmen oder durch Konventionen explizit verboten sind, wird in der Regel zu Sanktionen führen" (1980: 230-231). Parece-me possivel tirar as seguintes conclusöes no que diz respei to ao conjunto de principios considerados relevantes ä compreensäo do fenömeno interpessoal e social designado de 'convencäo': (i) uma convencäo define o tipo de comportamento que e exigido aos intervenientes em determinado tipo de situacäo. Ora, se existe um conjunto de normas que delimita a actuacäo dos participantes em determinada situacäo, e de esperar que este condicionamento ao nivel do comportamento tenha repercussöes ao nivel da prätica linguistica; (ii) as convencöes comportam uma dimensäo cognitiva e uma dimensäo social. A dimensäo cognitiva pressupöe o conhecimento das regras de conduta que devem ser observadas pelos actores sociais nas mais variadas situacöes de interaccäo e comunicacäo. A dimensäo social baseia-se no principio de que o conjunto de normas estabelecidas no seio de determinado grupo social e identificador desse mesmo grupo. Fica assim patente o papel que a competencia comunicativa e a competencia social desempenham na interaccäo verbal. Para alem destas competencias, ha ainda que salientar uma terceira, designadamente a competencia linguistica dos intervenientes. A partir da interaccäo entre estas competencias, torna-se possivel, principalmente em situacöes de comunicacäo do quotidiano, antever o comportamento linguistico do(s) nosso(s) interlocutor(es). (iii) as convencöes podem ser caracterizadas pela sua natureza explicita ou implicita. As convencöes de caräcter explicito encontram-se registadas formal e fisicamente, como e, por exemplo, o caso das normas de procedimento que regulam as cerimönias oficiais e os actos püblicos97. A näo observäncia dos formalismos pode ocasionar a invalidacäo do cumprimento do acto. Embora as convencöes de caräcter implicito näo se encontrem explicitamente regulamentadas, säo, no entanto, tacitamente aceites e estäo enraizadas nos usos como norma de agir em 97 Veja-se, a titulo de exemplo, o acto declarativo pronunciado aquando da abertura dos jogos olimpicos. Este evento particular exige a realizagäo ou recitagäo de uma formula especifica pelo chefe de estado do pais anfitriäo ou representante da cidade anfitriä, designadamente: "/ declare open the Games of ... (nome da cidade anfitriä) celebrating the ... (nümero das olimpiadas) Olympiad of the modern era". Existe um documento formal designado de Carta Olimpica que consigna os principios fundamentals do olimpismo e regulamenta o conjunto de präticas a seguir no contexto deste evento. 67 sociedade. Pensemos, por exemplo, em certos principios do comportamento social, como principios de boa educacäo e delicadeza. No quadro das observacöes precedentes cabe assinalar o facto da convencäo poder funcionar como suporte ao vinculo entre a formula (quase) estereotipada e a situacäo especifica de emprego. A este propösito importa näo perder de vista que, ao contrario dos fenömenos deicticos e dos fenömenos relacionados com os actos de fala que säo fenömenos do piano da langage, o fenömeno da convencäo e um fenömeno tanto do piano da langage como do piano da langue. Consideremos agora as expressöes (quase) estereotipadas a partir de outra perspectiva, designadamente a partir da funcäo que estes meios de expressäo desempenham na interaccäo verbal. Neste contexto, merece referenda especial a tentativa levada a cabo por Coulmas (1981: 94-108) de reunir as funcöes diversificadas que estas formulas exercem na comunicacäo em dois grupos principals: por um lado, o grupo de expressöes que desempenham funcöes discursivas; por outro lado, o grupo de expressöes que desempenham funcöes sociais. Tal como o termo 'funcäo discursiva' indica, as formulas que integram o primeiro grupo desempenham funcöes especificas ao nivel do discurso, nomeadamente no que diz respeito ä construcäo e estruturacäo da interaccäo verbal (Lüger, 2007: 449). Coulmas divide as funcöes discursivas nas seguintes categorias: (i) funcöes de gestäo das intervencöes dos interlocutores. Tais funcöes podem ser desempenhadas por formulas de abertura e de fecho, formulas introdutörias e formulas indicativas de toma de palavra ^turn-taking"), entre outras. (25) (a) um es kurz zu machen I kurz gesagt I mit einem Wort I kurz und gut9S (a') Lange und beschwörend hat er auf mich eingeredet: daß mir ein Ortswechsel gut täte, daß ich im Süden ein besseres Echo finden würde, daß ich ein besseres Gehalt hätte ... kurz und gut: er hat alles getan, um mir das Angebot schmackhaft zu machen. (b) Wie du siehst:..." Port.: (para) ser breve; (para) abreviar; (para) näo entrar empormenores; em duaspalavras; resumindo; enfim; conclusäo; numapalavra. 99 Port.: Como ves:... 68 (b') Siehst du deinen Bruder oft? - Nein, nur an hohen Feiertagen: an diesem oder jenem Geburtstag, Ostern oder Weihnachten, hin und wieder auch mal bei einem gemeinsamen Besuch irgendwo. Wie du siehst: nur selten und bei besonderen Anlässen. (c) Paß mal auf, ...10° (c') Paß mal auf, Berta: wenn ich dir sage, das Zimmer wird aufgeräumt, dann wird das Zimmer aufgeräumt. Da gibt's doch nichts zu diskutieren! Verificamos, ao observar os enunciados (25a) a (25c), que as förmulas kurz und gut, wie du siehst e paß mal auf preparam o alocutärio para a unidade de intervencäo que vem a seguir. Estudos realizados no ämbito da anälise conversacional designam tais expressöes de 'pre-sequencias' (Levinson, 1983: 345-364). Nabase da designacäo 'pre--sequencia' ('pre-sequences') estä a relacäo sequencial, isto e, formal entre as unidades de intervencäo que compöem uma situacäo de comunicacäo. Repare-se que esta caracteristica encontra-se intimamente ligada ä funcäo deictica que as expressöes em (25a) a (25b) desempenham nos enunciados (25a') a (25c'). Trata-se de förmulas que remetem simultaneamente para pre-informacäo e para pös-informacäo. (ii) funcöes de apreciacäo. As förmulas em questäo funcionam como "evaluative Operatoren" (Coulmas, 1981: 102) na medida em que indicam a posicäo emotiva e cognitiva do sujeito falante (Lüger, 2007: 450), por um lado, em relacäo ao assunto de que se trata e, por outro, em relacäo ao(s) seu(s) interlocutores. (26) (a) Es tut mir/... leid, ...wl (a') 'Sehr geehrter Herr Baumanns, es tut uns leid, Ihnen mitteilen zu müssen, daß Ihr Sohn Walter das in ihn gesetzte Vertrauen nicht gehalten hat. Sowohl in seinen Leistungen wie in seiner Pflichtauffassung entsprach er nicht dem, was wir uns von ihm bei seiner Einstellung versprochen hatten'. (b)Ich bin der Meinung,...102 (b') Ständig sucht der Mertens Druck auf mich auszuüben, daß ich bei den Betriebsratswahlen für ihn stimme. Ich bin der Meinung, in solchen Dingen muß jeder tun und lassen können, was er für richtig hält. Diese dauernden Versuche, einen in diese oder jene Richtung zu zwingen ... Port.: Preste atenqäo (äquilo que vou dizer):... 1 Port.: tenhopena; sinto muito; lamento ... (informä-lo). 2 Port.: ser de opiniäo que... 69 Como se vé no enunciado (26a'), a formula es tut uns leid constitui um indicador para o alocutário de que aquilo que ele vai ouvir a seguir näo vai ser do seu agrado, isto é, näo vai ser boa notícia. Pode dizer-se que a expressäo 'prepara' o alocutário para a informacäo que vai receber. Mais ainda, ao recorrer a esta formula, o locutor dá a entender a sua própria apreciacäo ou a apreciacäo da empresa em relacäo ao assunto ou á situacäo em questäo, apreciacäo de insatisfacäo e descontentamento que é pošta em evidencia no segmento do enunciado que segue a formula. Em (26b), a formula Ich bin der Meinung anuncia o ponto de vista do sujeito falante relativamente á matéria em discussäo. (iii) funcöes metacomunicativas, exercidas por expressöes que incidem, entre outros aspectos, sobre a formacäo e correccäo da direccäo temática do discurso e expressöes que pretendem averiguar se o alocutário está ou näo a acompanhar o raciocínio do locutor. (27) (a) zur Sache/1"' (a') (Der Angeklagte:) Und dann hat der Herr Kalbert wieder etwas gegen meine Frau gesagt. Schon vor drei oder vier Jahren hat er ... (Der Richter:) Herr Angeklagter, bitte zur Sache! Ich habe Sie gefragt, ob Ihre Frau Herrn Kalbert in Gegenwart Dritter als Bankbetrüger bezeichnet hat. Wollen Sie so gut sein und mir diese Frage beantworten? (b) beim Thema bleiben104 (b')... Bitte, Albert, bleib' beim Thema! Was du da sagst, gehört gar nicht hierhin/gehört gar nicht in diesen Zusammenhang. (c) ein neues/anderes/... Thema anschneiden105 (c') ... Und sollten wir in diesem Zusammenhang nicht auch die Frage erörtern, inwieweit die allgemeine politische Lage für den Rückgang unseres Exports mitverantwortlich ist? - Ich glaube nicht, daß wir dies Thema heute anschneiden sollten. Das ist ein Komplex für sich. (28) (a) hörst du?106 (a') Diesen Brief gibst du dem Minister persönlich, hörst du?! Und niemandem anders! Wenn er in unrechte Hände fällt, kann er allerhand Unheil stiften. Port.: vamos ao que interessa!; cinja-se/...ao assunto! Port.: näo sair/se desviar do tema. Port.: abordar um/outro/...tema; encetar novo/...tema. Port.: está claro? 70 Inseridas nos respectivos enunciados, as expressöes (27a) e (27b) constituem urn comentário por parte do locutor em relacäo (i) ao rumo que as intervencöes do alocutário tém vindo a tomar até á sua intervencäo e (ii) ao rumo que as intervencöes do alocutário deveräo tomar a partir desta sua intervencäo. Em outros termos, o locutor prescreve em que sentido o discurso do alocutário deve ser desenvolvido. Sublinho aqui dois aspectos que me parecem merecer reflexäo: em primeiro lugar, note-se que estamos perante componentes deicticos que, á semelhanca do que se verifica em relacäo ás formulas em (25), remetem simultaneamente para unidades do acto discursivo que precedem e para unidades que seguem as expressöes em questäo. Em segundo lugar, importa observar que o emprego destas expressöes metacomunicativas nas situacöes expostas em (27a') a (27c') revela urn certo condicionamento no que diz respeito á relacäo social e institucional entre locutor e alocutário. Esta questäo da correlacäo entre o enquadramento social e/ou institucional e o comportamento linguístico dos intervenientes é particularmente visível na situacäo (27a): o contexto judicial impöe regras claras relativamente aos papéis a desempenhar pelos actores, tanto ao nível dos procedimentos formais a seguir como ao nível das escolhas linguísticas, nomeadamente no que respeita o grau de formalidade e a forma de tratamento. Importa integrar aqui urna referencia aos seguintes dois critérios de felicidade {felicity conditions') necessários á correcta realizacäo dos enunciados performativos propostos por Austin: "There must be a conventional procedure having a conventional effect" e "The circumstances and persons must be appropriate, as specified in the procedure" (Levinson, 1983: 229). Quer isto dizer que, no exemplo (27a') atrás transcrito, o locutor ao proferir a expressäo 'zur Sache!' realiza um acto ilocutório directivo somente se ele for a individualidade indicada para praticar a accäo de ordenar ao alocutário que se cinja ao assunto neste contexto específico, isto é, se for uma figura investida de poder e autoridade judicial, por exemplo, um magistrado ou um advogado. Um juiz pode ordenar ao réu que se cinja a responder ás perguntas que lhe säo dirigidas, a situacäo inversa séria de carácter anómalo. Reencontramos aqui a questäo da competéncia comunicativa e pragmática que permite ás pessoas agirem adequadamente nas mais variadas situacöes de comunicacäo. Considere-se agora o exemplo (28a'). O primeiro segmento deste enunciado é composto por duas unidades de accäo verbal: a primeira unidade, Diesen Brief gibst du dem Minister persönlich!', constitui um acto ilocutório directivo, pois ao proferir estas 71 palavras o locutor ordena ao alocutärio que realize o acto expresso pelo conteüdo proposicional do enunciado, ou seja, entregar a carta em questäo em mäo propria; a segunda unidade do segmento hörst du? tern a forma de uma frase interrogativa, no entanto, ao realizar esta expressäo, o locutor näo estä a inquirir o alocutärio relativamente ä sua percepcäo auditiva e näo estä a pedir informacäo, estä, fundamentalmente, a ordenar ('Aufforderung') ao alocutärio que preste atencäo ao seu discurso. Por outras palavras: esta-se perante uma interrogacäo retörica, empregue com o intuito de prender a atencäo do alocutärio. Neste contexto, a formula hörst du? constitui uma estrategia de caräcter metacomunicativo que tern como objectivo direccionar a concentracäo do destinatärio para a mensagem que o sujeito falante quer transmitir. (iv) funcöes de apoio äs intervencöes do locutor, como e o caso das expressöes que funcionam como estrategias para, entre outras funcöes, preencher as pausas numa enunciacäo, retardar o desenvolvimento da conversa e assinalar o fim da intervencäo do locutor. (29) (a)nicht wahr?107 (a') Sie kennen Herrn von Orlotz, nicht wahr? - Nur von Ansehen. Gesprochen habe ich noch nie mit ihm, persönlich hatten wir bisher nichts miteinander zu tun. Com base no exemplo (29), pode afirmar-se que a locucäo estereotipada nicht wahr? assinala o fim da intervencäo do locutor e funciona necessariamente como elo de ligacäo com a intervencäo do alocutärio. E de notar que esta expressäo condiciona a resposta do alocutärio no sentido em que opera como pedido de ratificacäo ou confirmacäo do conteüdo proposicional do enunciado do locutor. Trata-se, com efeito, de uma referenciacäo endoförica: a formula nicht wahr? aponta para 'dentro' da conversacäo, remetendo, por um lado, para a unidade de discurso que a antecede e, por outro lado, para a unidade de discurso que a segue, isto e, para a resposta do alocutärio. De acordo com Henne & Rehbock, autores da obra Einführung in die Gesprächsanalyse, formulas tais como nicht wahr?, nein?im, ja?109 "gliedern den Port.: näo e verdade?; näo e assim? 108 "... An die Unterlagen kann doch keiner dran, nein? - Nein, sie sind alle unter Schloß und Riegel - in unserem Safe. Und dazu habe nur ich einen Schlüsser. 72 Gesprächsschritt im Sinne des Sprechers, verstärken den Inhalt und bereiten den Sprecherwechsel vor" (Henne/Rehbock, 1995: 26). Em outros termos: estas expressöes, äs quais o sujeito falante 'deita mäo' para resolver determinados tipos de problemas discursivos, desempenham nitidamente um papel importante na organizacäo sequencial da interaccäo verbal. Resultam desta anälise baseada na tipologia das funcöes discursivas proposta por Coulmas, os seguintes pontos fundamentals: (i) determinada formula pode exercer mais do que uma funcäo discursiva. Observando os enunciados (25a') e (25b'), que serviram para exemplificar a primeira categoria das funcöes discursivas acima exposta, verificamos que as expressöes kurz und gut e wie du siehst tambem podem assumir funcöes metacomunicativas (terceira categoria de Coulmas), uma vez que podem ser entendidas como notas interpretativas e/ou explicativas do discurso do locutor. Como facilmente se compreende, muitas das dificuldades encontradas na elaboracäo de uma tipologia clara das funcöes desempenhadas por estas locucöes estereotipadas deve-se, em larga medida, ao seu caräcter multifuncional (Lüger, 2007: 450); (ii) a natureza complexa e multifacetada da realidade comunicativa dificulta o levantamento de todas as funcöes discursivas possiveis e, consequentemente, a concepcäo de um sistema de classificacäo rigoroso e abrangente; (iii) as expressöes em questäo revelam uma certa heterogeneidade no piano formal das estruturas; (iv) regra geral, estas expressöes exercem uma funcäo deictica na interaccäo verbal. Tal significa que desempenham um papel essencial no que respeita a coesäo entre as intervencöes dos interlocutores e entre os segmentos comunicativos que compöem a intervencäo do locutor. Voltemo-nos agora para a categoria das expressöes que desempenham funcöes sociais. As formulas que integram este grupo encontram-se presas a normas de comportamento e interaccäo social. Exemplificando: no acto de me despedir de um amigo posso, mutatis mutandis, recorrer äs seguintes formulas - auf Wiedersehen!; Tschüss!; ade!; adieu!; mach's gut!; lass es dir gut gehen!; bis bald!; bis später!; bis zum nächsten 109 "Sieh', daß du pünktlich kommst heute abend, Herbert, ja?! Wir haben Besuch ... - Ich werde tun, was ich kann, Lisbeth." 73 Mal!; bis nachher!. Verifica-se, portanto, uma ligacäo mütua entre o acto social (convengäo social) - 'dizer adeus' ou 'despedir-se' - e as locucöes estereotipadas acima referidas (convengäo linguistica)110. Com efeito, abstraindo dos factores que possam influenciar a escolha de determinadas formulas em detrimento de outras, estas unidades realizam o mesmo acto linguistico. Convem porem notar que a relacäo entre a situacäo comunicativa convencional e as formulas a ela ligadas pode ser de natureza mais ou menos flexivel: enquanto que certos 'rituais de comunicacäo' (Lüger, 2007: 445) säo mais restritivos relativamente äs formulas de interaccäo, outros admitem mais opcöes de escolha111. Tendo em conta que os rituais de comunicacäo säo uma constante do nosso dia-a-dia, facto que faz com que as respectivas formulas pragmäticas possuem caräcter de rotina, uma das questöes fundamentals diz respei to ä distincäo entre "denotative und Gebrauchsbedeutung" (Coulmas, 1981: 74), isto e, ä distincäo entre o significado denotativo da formula e o significado da formula no contexto da situacäo de interaccäo. Coulmas comenta deste modo a relacäo entre a funcäo denotativa e a funcäo fätica das formulas de rotina: "Es ist wichtig, zu sehen, daß nicht das sprachliche Material per se phatisch oder denotativ ist, sondern phatisch oder denotativ eingesetzt werden kann. Es wäre auch eine Vereinfachung, anzunehmen, daß sich diese Funktionen gegenseitig ausschlössen; sie greifen auf subtile Weise ineinander, so daß mal die eine, mal die andere dominiert. Wie gehts, lange nicht gesehen kann rein phatisch, d.h. nur in Wahrnehmung der Kontaktfunktion verwendet werden, aber auch als thematischer Geprächsbeitrag (cf. how are you?)" [ibidem: 96). Coulmas chama a atencäo para os seguintes aspectos: (i) as formulas devem ser encaradas a partir da funcäo (denotativa ou fätica) que desempenham na situacäo de comunicacäo; (ii) a funcäo denotativa e a funcäo fätica näo se excluem mutuamente, verificando-se uma ligacäo entre elas na medida em que uma ocorre com caräcter Glenk (2009: 198-201), baseando-se no conceito de 'Handlungsframe' ('esquema de acgäo') desenvolvido por Konerding na sua obra Frames und lexikalisches Bedeutungswissen (1993), obra que se insere no dominio da lexicografia cognitiva, sublinha que o vinculo entre o piano da convengäo social e o piano da convengäo linguistica torna possivel a elaboracäo de uma base de dados de caräcter onomasiolögico estruturada por 'frames'' ('esquemas'/'modelos') e pelos respectivos 'scripts', isto e, as respectivas formulas de interacgäo. Esta concepgäo lexicogräfica constitui um ponto de partida para a compilagäo de dicionärios bilingues e multilingues que apresentam, como escreve Glenk no abstract do seujä referido artigo intitulado "Probleme der zweisprachigen Phraseografie: die kommunikative Äquivalenz der Formeln des Sprachenpaares brasilianisches Portugiesisch/Deutsch", "the interactional patterns of both linguistic communities" (ibidem: 189). Tais recursos constituem uma base para estudos relacionados com a equivalencia comunicativa ('kommunikative Äquivalenz') e para a aquisicäo de competencia idiomätica na lingua estrangeira (ibidem: 189, 206). 111 Glenk fala de "Grade der Fixiertheit" (ibidem: 190-191), isto e, 'graus de fixidez'. 74 subsidiärio e a outra como dominante. Coulmas, na citacäo abaixo, apresenta algumas das formulas de rotina que possuem a funcäo fätica como dominante: "Bei Ausdruckseinheiten wie Grüß Gott und vielen anderen Routineformeln - besonders deutlich bei Exklamationen und Flüchen, mein Gott, du liebe Zeit, aber auch bei vielen Höflichkeitsfloskeln, in denen Modalverben zur Umschreibung verwendet werden, darf ich bitten - tritt die denotative Bedeutung nicht akzidentieller, sondern typischerweise in den Hintergrund" (ibidem: 76). Tratam-se de formulas de cumprimento (Grüß GottHGuten Morgen!'/Guten Tag! - Born dia!; Guten Abend! - Boa noite!), locucöes exclamativas (mein Gott! - meu DeusH(meu) Deus do ceu!; (ach) du liebe Zeit!/(ach) du lieber Gott! - Deus do ceu!) e formulas de delicadeza (darf ich bitten - concede-me a honra/dä-me oprazer). A luz do que foi exposto nesta seccäo, e possivel concluir com Burger que as formulas de rotina säo "pragmatische Idiome" (1973: 58-60), isto e, expressöes idiomäticas de cariz pragmätico. O estatuto de 'unidades pragmäticas' resulta do facto de se tratar de "Ketten, die nicht primär eine (lexem- oder satzäquivalente) Bedeutung haben, sondern vorwiegend als Signale in bestimmten pragmatischen Situationen fungieren" (ibidem: 58). O caräcter idiomätico das formulas aqui em anälise estä relacionado com "den partiellen oder totalen Wegfall der mit den Ketten sonst verbundenen 'Bedeutung' zugunsten einer neuen Funktionalität, die allein auf der Ebene der Pragmatik spielt" (ibidem: 59). 1.6. O PLANO DAS PRESSUPOSICÖES 1.6.1. O conceito de 'pressuposicäo' Neste capitulo, procurar-se-ä aprofundar o conhecimento das expressöes idiomäticas a partir das dimensöes lögica, semäntica e pragmätica das pressuposicöes. Convem desde jä definir como encaramos a nocäo de pressuposicäo, recorrendo, para tal, ä analogia que Levinson, na obra intitulada Pragmatics, estabelece entre os dois pianos constitutivos de uma imagem ou pintura, nomeadamente, o piano da figura (figure) e o piano de fundo (ground), conceitos-chave procedentes da corrente de psicologia 75 conhecida por gestaltismo, e os pianos constitutivos de um enunciado, respectivamente, o piano da proposicäo ou do enunciado e o piano da pressuposicäo: "A useful analogy here is the notion of figure and ground in Gestalt psychology: in a picture a figure stands out only relative to a background, and there are well-known visual illusions or 'ambiguities' where figure and ground are reversible, demonstrating that the perception of each is relative to the perception of the other. The analogy is that the figure of an utterance is what is asserted or what is the main point of what is said, while the ground is the set of pressupositions against which the figure is assessed" (1983: 180). Como bem salienta Levinson, do mesmo modo que uma pintura deve ser encarada a partir da interaccäo entre o piano da figura e o piano de fundo que a compöem, também uma proposicäo ou um enunciado deve ser considerado a partir da correlacäo existente entre o piano do que é dito ou enunciado e o piano das pressuposicöes. Assim visto, a análise do piano do enunciado só faz sentido á luz dos elementos e fenómenos, melhor dizendo, das pressuposicöes que se encontram 'por detrás' deste. Isto significa que quando 'damos voz a alguma coisa' partimos necessariamente de algo já existente, isto é, de um piano primário ou elementar. 1.6.2. As pressuposicöes lógicas, semänticas e pragmáticas Com vista á elucidacäo da essentia do piano de fundo de ordern pressuposicional, passa-se em seguida a examinar o conceito de pressuposicäo nas suas dimensöes logica, semäntica e pragmática. Tendo em conta que o conceito de pressuposicäo tern a sua origem na Logica, disciplina tradicionalmente ligada á Filosofia, comecemos por fazer algumas consideracöes sobre a visäo logica das pressuposicöes. O principal metodo de análise empreendido pela Logica consiste em: (i) submeter determinada firase na afirmativa a um processo de transformacäo que envolve produzir, por um lado, uma versäo na negativa e, por outro, uma versäo na interrogativa; (ii) averiguar se as pressuposicöes subjacentes á frase afirmativa se mantém válidas nas versöes na negativa e interrogativa. Como ilustracäo desta metodologia, sirvo-me aqui do exemplo utilizado por Linke/Nussbaumer (1988): (30) (a) O cäo da tia Emma chama-se Rollo. (b) O cäo da tia Emma näo se chama Rollo. (c) Como se chama o cäo da tia Emma? 76 A frase (30a) é tida como logicamente verdadeira, caso: (i) exista uma individualidade conhecida por 'tia Emma' e (ii) a tia Emma sej a dona de um cäo. Observando o exemplo (30b), verifica-se que, embora estejamos perante uma negacäo do conteúdo proposicional da frase (30a), isto é, a expressäo de um outro estado de coisas, as pressuposicöes lógicas säo as mesmas: 'a tia Emma existe' e 'a tia Emma tem um cäo'. Estas pressuposicöes também säo verdadeiras em (30c), apesar de se tratar de uma construcäo interrogativa. Como se vé, a abordagem logica das pressuposicöes move-se em torno da análise das condicöes de verdade de frases declarativas, metodologia que esbarra necessariamente no seguinte problema: os seres humanos näo se limitám a constatar factos, isto é, a produzir enunciados constativos analisáveis segundo o seu valor de verdade. Voltemo-nos agora para a caracterizacäo da natureza de expressöes idiomáticas que revelam uma base pressuposicional logica. Interessar-nos-á sobremaneira a relacäo logica de causa-efeito: (31) (a) einen Kloß im Hals/in der Kehle/im Mund (stecken) haben112 (b) jm. den Mund stopfen113 Ao analisar a articulacäo entre o significado literal da expressäo (31a), ter uma almöndega (presa) na garganta, equivalente ä expressäo portuguesa ter um nó na garganta, com o seu significado metaförico, näo conseguir falar, constata-se que esta é de natureza logica. A ideia de um objecto preso na garganta de uma pessoa leva äs seguintes conclusöes lógicas: (i) o objecto causa a obstrucäo da garganta e das vias respiratórias; (ii) a pessoa engasga-se e näo consegue respirar nem falar. Ora, se o significado metafórico pode ser inferido com base no significado literal, tal significa que estamos perante a relacäo metonimica de causa-efeito. A semelhanca do que se verifica em relacäo ä expressäo em (31a), também a ligacäo entre o significado literal e o significado metafórico da expressäo idiomática em (31b) pode ser compreendida e explicada a partir de uma base logica. A accäo expressa pelo significado literal da expressäo (31b), meter uma quantidade excessiva de uma substäncia na boča de uma Port.: significado idiomático - näo conseguir falar; equivalente(s) - ter um nó na garganta. Port.: significado idiomático - calar alg; equivalente(s) - tapar a boca a alg; meter uma rolha na boca a alg. 11 pessoa, tem a seguinte consequéncia logica: uma pessoa dificilmente consegue falar com a boča cheia ou tapada, isto é, o agente impede o indivíduo de falar, cala o indivíduo. A observacäo destes exemplos permite captar o esquema do funcionamento geral das formas da metonímia: fundo - imagem - primeiro piano (Hintergrund Bild Vordergrund). A expressäo - o que é dito - forma uma imagem linguística que remete, por um lado, para a pressuposicäo logica e, por outro, para o significado da expressäo. Posto isto, torna-se agora possível aplicar as nocöes do piano da figura (figure) e do piano de fundo (ground) propostas por Levinson ao encadeamento lógico entre o significado literal e o significado metafórico da expressäo idiomática. Dado que a nocäo de efeito pressupöe a nocäo de causa, ou seja, a causa estä 'por (de)träs' do efeito, parece, entäo, legitimo afirmar que o significado literal das expressöes idiomäticas serve de ponte ou ligacäo entre o piano de fundo e o significado metafórico no piano da figura. Neste quadro das pressuposicöes cabe assinalar a centralidade do conjunto de conhecimentos que o Hörnern adquire pela interaccäo com o seu meio fisico, social e cultural, isto é, a releväncia do seu Umwelt enquanto elemento que integra o piano do fundo. O elemento Umwelt wem assim juntar-se aos restantes elementos que fazem parte do piano do fundo. Se é verdade que existem expressöes idiomäticas que possuem um fundo pressuposto lógico, também é verdade que existem expressöes idiomäticas que näo admitem uma explicacäo logica. Vejamos o que se passa com as seguintes expressöes: (32) (a) schlafen wie ein Stein11* (b) so dumm wie das hinterste Ende vom Schwein sein115 Estä-se perante construcöes que ao nivel formal estabelecem uma comparacäo entre duas unidades de significacäo, relacäo esta que, como já tivemos ocasiäo de referir, assenta no reconhecimento de algum tipo ou alguma logica de semelhanca entre elas. Onde reside a logica de comparar o estado de alguém que dorme profundamente com uma 'pedra', quando sabemos que o lexema 'pedra', designando uma entidade inanimada, näo dorme. Nesta perspectiva, o lexema Stein pode ser substituido por Port.: significado idiomatico - dormirprofundamente; equivalente(s) - dormir como umapedra. 115 Port.: significado literal - ser burro como aponta do rabo de um porco; equivalente(s) - ser burro como uma porta; ser burro ate dizer bast a. 78 outros lexemas que designam objectos inanimados. Por outro lado, o lexema Stein poderá ser entendido no sentido de 'das Gestein', isto é, de um aglomerado de montanhas, uma massa rochosa de grandes dimensöes, que inspira serenidade e calma ('die himmlische Ruhe von Gebirgen'). Sob este ängulo, parece se possivel dizer-se que é a fantasia que Joga na criacäo da expressäo (32a). E este elemento que permite estabelecer uma diferenca entre a expressäo alemä schlafen wie ein Stein e a expressäo portuguesa dormir como uma porta. Coloca-se a mesma questäo em relacäo ao exemplo (32b): onde está a base de comparacäo entre a qualidade 'ser-se burro' e o rabo de um porco (rabo torcido). Está-se perante uma brincadeira ('Spielerei'). Em suma: nem sempře é possivel reconhecer um fundo pressuposto que permita explicar as comparacöes. Examinando agora as pressuposicöes semänticas, destaque-se, em primeiro lugar, alguns pontos essenciais para a compreensäo da concepcäo semäntica das pressuposicöes116. Segundo Levinson, as pressuposicöes semänticas "seem to be tied to particular words - or (...) aspects of surface structure in general" (1983: 179). Quer isto dizer que existem lexemas e elementos de natureza estrutural que se encontram 'presos' a conteúdo semäntico especifico, funcionando como "presupposition-triggers" (ibidem: 179, 181), isto é, despoletadores do conteúdo pressuposicional a estes associados. O estabelecimento da ligacäo entre o piano do lexema ou elemento estrutural (piano da figura) e o conteúdo semäntico pressuposto (piano de fundo) depende do saber linguistico que o falante de uma dada lingua natural possui117. Numa tentativa de levantamento e classificacäo dos despoletadores de pressuposicöes de indole semäntica, Karttunen (cf Levinson, 1983: 181-185) elaborou uma tipologia composta por 31 categorias, entre as quais cito as seguintes: (i) a categoria dos predicadores que apresentam complementos em que a verdade do facto expresso na oracäo completiva é pressuposta: lamentar, estar arrependido, estar orgulhoso; (ii) a categoria dos verbos que indicam mudanca de estado em termos aspectuais: parar de, come gar, continuar; 116 Para uma visäo global da problemätica das pressuposicöes semänticas, poderäo consultar-se, entre outros, Levinson 1983 e Karttunen 1973. 117 Importa colocar a seguinte questäo em relacäo aos 'despoletadores de pressuposicöes': que tipo de informacäo é que os elementos tidos como despoletadores väo despoletar? Por outras palavras, estes lexemas väo despoletar pressuposigöes ou väo despoletar relagöes e propriedades do significado destes elementos, isto é, informagäo lexicalizada. Deste ponto de vista, a abordagem de Levinson parece-me discutivel. 79 (iii) a categoria das construcöes que servem para estabelecer uma comparacäo: a Lucia e melhor vendedora do que a Rita; a Lucia e a melhor vendedora da empresa. A esta apresentacäo simplificada das pressuposicöes semänticas, segue-se uma tentativa de aplicacäo dos principios semänticos acima expostos ao dominio das expressöes idiomäticas. Os exemplos abaixo encontram-se ordenados de acordo com as categorias dos despoletadores ou indicadores de pressuposicöes acima citadas: (33) etw. von/aus ganzem Herzen bedauern11* (34) (a) bei Adam und Eva anfangen119 (b) grünes Licht haben (für etw.)120 (35) (a) (so) alt wie Methusalem sein121 (b) (so) arm wie Hiob sein122 Observando o exemplo (33), verificamos que o nücleo verbal da expressäo, o verbo bedauern ('lamentar'), mantem, no contexto lexemätico da expressäo idiomätica - etw. + (von/aus + ganzem + Herzen} bedauern - o seu significado livre e, consequentemente, pressupöe a verdade do conteüdo expresso na oracäo complemento. Como explicar a relacäo entre o sentido literal do constituinte {von/aus + ganzem + Herzen} e o seu sentido transposto, 'profundamente, sinceramente', a näo ser pelo facto de que o coracäo (das Herz) e, no Ocidente, o simbolo de afectividade, dos sentimentos e das emocöes. A expressäo (34a) e composta pelo nücleo verbal anfangen ('comecar'), elemento que mantem o seu significado literal e pelo constituinte {bei + Adam + und + Eva}. Na base deste constituinte esta o facto de que, na doutrina crista, Adäo e Eva representam ou simbolizam o primeiro hörnern e a primeira mulher criados por Deus. Observando o exemplo (34b) no sentido de perceber o que esta por 'de(träs)' do constituinte {grünes Licht}, conclui-se que a ligacäo da cor verde com o sentido 'autorizacäo para x' decorre da funcäo que esta cor desempenha em determinados dispositivos, como, por exemplo, no semäforo, sinal luminoso constituido pelas cores verde, amarela e vermelha, que acendem de forma alternada. A cor verde significa: autorizacäo para avancar. As construcöes em (35) apresentam a seguinte estrutura: (so) Port.: Lamentar profundamente/sinceramente; lamentar dofundo do coraqáo. 9 Port.: comecar a contar a vida toda/a história toda/... desdepequenino 0 Port.: ter luz verde (parafazer qualquer coisa) 1 ser (táo) velho como Matusalém 1 serpobre como Job; náo ter onde cair morto 80 x wie y . O termo de comparacäo Methusalem refere-se a um personagem do Antigo Testamente (Genesis 5:21-27); por seu turno, o termo de comparacäo Job refere-se á urna personagem bíblica descrita como sendo extremamente pobre. Como vemos, as referéncias históricas, culturais e bíblicas säo elementos que fazem parte do piano de fundo. Face ao até aqui exposto, é possível concluir que: (i) na prática, näo há urna clara linha de demarcacäo entre as dimensöes lógica, semäntica e pragmática das pressuposicöes; (ii) a análise do fundo pressuposto das expressöes idiomáticas supöe a contaminacäo e a sinergia entre as pressuposicöes lógicas, semänticas e pragmáticas; (iii) como tivemos oportunidade de verificar, a nocäo de pressuposicäo constitui instrumente que permite um melhor entendimento do que está 'por detrás' da criacäo das expressöes idiomáticas. As diversas consideracäoes que tenho vindo a fazer, tém como objectivo mostrar, em primeiro lugar, que a imagem linguistica (sprachliches Bild) se baseia num piano de fundo (Grund). Em segundo lugar, as pressuposicöes constituem apenas um dos elementos que podem fazer parte do complexo que é o piano de fundo. Outros elementos que podem funcionar como fundo säo: a imagem mental viva (Vorstellung), os simbolos, os mitos, as referéncias históricas, culturais e bíblicas, o Umwelt e o Lebenswelt do Hörnern. Esta estrutura de natureza comparativa será abordada na secgäo 2.4. 81 CAPITULO 2 O SYNONYMWÖRTERBUCH DER DEUTSCHEN REDENSARTEN -CORPUS DE REFERENCIA NO DOMINIO DA SINONIMIA IDIOMÄTICA ALEMÄ 2.1. DESCRICÄO DA MICRO- E MACROESTRUTURA DO SYNONYMWÖRTERBUCH DER DEUTSCHEN REDENSARTEN Uma vez que os dados e os exemplos apresentados no capitulo III provem do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten (Dicionärio de Sinönimos de Expressöes Idiomäticas Alemäs), propöe-se nesta seccäo abordar os principios metodolögicos subjacentes ä sua concepcäo e assinalar a pertinencia deste recurso lexicogräfico enquanto corpus de referencia no dominio da sinonimia idiomätica alemä. Antes de procedermos ä caracterizacäo da parte sistemätica ou onomasiolögica do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten, importa referir que para alem desta seccäo, este dicionärio contem ainda uma parte alfabetica ou semasiolögica e um indice ordenado por palavras-chave. Note-se que o Synonymwörterbuch conjuga tres perspectivas lexicogräficas. Isto significa que o utilizador pode aceder äs expressöes idiomäticas a partir de tres modos de pesquisa diferentes. A parte onomasiolögica permite ao utilizador consultar as unidades linguisticas que exprimem ou realizam determinado conceito, como, por exemplo, as expressöes que exprimem o conceito Bc 1 - gesund ('säo', 'de boa saüde'). Nesta abordagem o ponto de partida e o conceito. A seccäo semasiolögica permite ao utilizador consultar uma dada expressäo, como, por exemplo, fit sein ('estar em boa forma') e, a partir da indicacäo do campo semäntico no qual a expressäo se encontra, aceder aos sinönimos correspondentes na seccäo onomasiolögica. O indice associativo possibilita a pesquisa das expressöes idiomäticas atraves de palavras-chave de ordern generica. Exemplificando: se o utilizador estiver interessado em consultar expressöes que realizam a nocäo de 'forca ou robustez fisica', ele pode aceder a essas expressöes atraves da palavra-chave stark ('forte', 'robusto'). 83 Passemos agora á análise da parte onomasiológica do Synonymwörterbuch. Para tal, tomo como ponto de referenda o Anexo 1 que reproduz esquematicamente a estrutura hierárquica do dicionário com base no campo semäntico B: Leben - Tod ('vida -mořte'). Em primeiro lugar, chamo a atencäo para o metodo utilizado por Schemann para compilar este dicionário de sinónimos: "Bei der Anlage des Synonymwörterbuchs der deutschen Redensarten bin ich [Schemann] nach den dargelegten Prinzipien konsequent von unten nach oben gegangen und habe zunächst die Ausdrücke zusammengestellt, die fast bedeutungsgleich sind und sich in verschiedenen Kontexten austauschen lassen; dann habe ich mehrere solcher Blöcke zu größeren Gruppen zusammengefaßt usw." (1992: XXV) Observe-se que a primeira etapa da construcäo do Synonymwörterbuch consistiu no agrupamento das expressöes idiomáticas em blocos sinonimicos. Assim sendo, as unidades linguisticas que se encontram no mesmo bloco säo tidas como unidades sinónimas ou quase-sinónimas e entre as expressöes dos diferentes blocos existem diferencas de significado. Näo obstante as diferencas de significado que possam existir entre os blocos, por exemplo, os blocos Ba 1.1, Ba 1.2 e Ba 1.3, eles těm como denominador comum o arquilexema Ba 1- Geburt ('nascimento'). Adopto aqui o termo 'arquilexema' utilizado por Schemann124 para designar as unidades da estrutura (Ba 1 (Geburt), Ba 2 (sterben), Ba 3 (sich töten); Bb 1 (noch jung), Bb 2 (älter, alt); Be 1 (gesund), Bc 2 ((tod)krank), Bc 3 (schwindlig)), unidades que estabelecem o elo de ligacäo entre o patamar näo-linguistico e o patamar linguistico da estrutura. Convém chamar a atencäo para o facto de que nem sempře é possível encontrar uma unidade lexical que delimite de forma adequada o conteudo de determinado campo semäntico. Quando confrontado com esta dificuldade, Schemann recorre, por um lado, á utilizacäo de mais do que um arquilexema e, por outro, á utilizacäo de expressöes idiomáticas que constam do campo semäntico e que possam servir de marcos no interior desse mesmo campo semäntico. Veja-se, a titulo de exemplo, a informacäo que se encontra no patamar do arquilexema do campo semäntico Cc 6125: Escreve Schemann na Introdugäo ao Synonymwörterbuch (1992: XXVII): "Der ein Feld verklammernde Oberbegriff kann im übrigen in einer (Einzel-(Sprache als Wort vorhanden sein - man nennt ein solches »Wort« oder »Lexem« dann ein »Archilexem«. Certos linguistas, como Dobrovol'skij e Larreta, empregam o termo 'Deskriptoren' ('descritores') para designar as unidades que Schemann designa de 'arquilexemas' (Larreta, 2002: 41). 125 E oportuno, neste ponto, referir que o processo de definir um arquilexema ou arquilexemas envolve, regra geral, um certo grau de subjectividade. Cf. Larreta (ibidem): "Die Subjektivität des Lexikographen bei der Wahl der 84 schlechte Gesellschaft, Abwege: auf die schiefe Ebene geraten, krumme Wege gehen; jn. aus der Bahn werfen; schlechten Umgang haben; den Halt verlieren, suchen; jn. wieder auf den richtigen Weg bringen; wieder ins Gleis kommen A pröpria nocäo de campo semäntico exige a existencia de um arquilexema ou de arquilexemas, uma vez que e este o patamar que define os limites entre campos semänticos contiguos. Chegado ao patamar do arquilexema, Schemann procedeu ä ligacäo dos campos semänticos (Ba 1, Ba 2, Ba 3) atraves da definicäo de conceitos genericos (Ba Geburt - Tod) que traduzem a essencia das ideias expressas por esses campos. O ultimo patamar da estrutura de Schemann diz respeito ao agrupamento dos conceitos genericos em macroconceitos, isto e, ideias-chave que reflectem uma dada visäo do mundo (Welt-Bild): por exemplo, os conceitos Ba (Geburt - Tod), Bb (jung -alt) e Bc (gesund- krank) pertencem ao macroconceito B Leben - Tod ('vida - morte'). Da aplicacäo da metodologia acima descrita resultou um sistema de ideias, isto e, um sistema ideolögico composto por nove macroconceitos, a saber: A. Zeit - Raum -Bewegung - Sinnesdaten; B. Leben - Tod; C. Physiognomie des Menschen; D. Stellung zur Welt; E. Haltung zu den Mitmenschen; F. Einfluß - Macht - Verfügung - Besitz; G. Kritische Lage - Gefahr - Auseinandersetzung; H. Präferenzen; I. Quantitäten -Qualitäten - Relationen. Com o intuito de elaborar um sistema ideolögico intersubjectivo que servisse de base para a estruturacäo de um dicionärio bilingue espanhol - alemäo, Larreta, no artigo intitulado Theoretische und methodologische Kriterien zur makrostrukturellen Einteilung eines zweisprachigen phraseologischen Wörterbuches (2002), faz uma anälise comparativa do sistema ideolögico de Schemann e dos sistemas elaborados por Ettinger/Hessky (1997) no dicionärio Deutsche Redewendungen. Ein Wörter- und Deskriptoren kann (...) im Prinzip nicht vollständig vermieden werden". Baldinger chama a atengäo para as dificuldades com as quais o lexicögrafo se depara na concepgäo de um dicionärio de cariz onomasiolögico: "Ist schon die Abgrenzung eines einzelnen Begriffes, bzw. Bezeichnungsfeldes ein schwieriges Unterfangen, so ist die Gliederung der Begriffe und Bezeichnungsfelder unter sich noch sehr viel schwieriger. Wir stellen zunächst fest, daß es nicht in allen Bereichen der Sprache gleich schwierig ist. Es gibt Bereiche, wo die Gliederung sich geradezu aufdrängt, so bei den Farben, bei den Himmelsrichtungen, bei den Körperteilen, bei den Verwandtschaftsnamen, usw. (...) Soweit kann man auch sagen, daß die begriffliche Gliederung 'weitgehend naturgegeben' ist. (...) In anderen Bezirken ist dies viel schwieriger. Außerdem steigen die Schwierigkeiten, je weiter wir in dieser begrifflichen Pyramide nach oben in Richtung auf das Ganze vorstoßen. Hallig-Wartburg betonen denn auch in ihrem Vorwort: „Jede Ordnung dieser Art ist subjektiv, durch viele Faktoren bedingt, die Weltbild und Lebensansicht ihrer Urheber bestimmt haben (S. XXII)". Es gibt also keine objektiv vorgegebene Ordnung, weder im großen noch im kleinen (...) Eines der größten Paradoxa der Wissenschaften besteht darin, daß sie Grenzen ziehen müssen, wo realiter keine Grenzen sind. Genau das tut ja die Sprache" (1960: 529). 85 Übungsbuch für Fortgeschrittene e por Bärdosi/Ettinger/Stölting (1998) no dicionärio bilingue Redewendungen Französisch/Deutsch: thematisches Wörter- und Übungsbuch. Examinando a estrutura ideolögica - onomasiolögica proposta por Larreta (2002: 48-49), constatamos que esta, ä excepcäo de algumas alteracöes no que respeita a ordern das categorias, corresponde ä estrutura de Schemann: Schemann A Zeit - Raum - Bewegung - Sinnesdaten Aa Zeit Ab Raum, Bewegung Ac Sinnesdaten Larreta A Der Mensch und die Außenwelt Aa Zeit Ab Raum, Bewegung Ac Sinnesdaten/ - Wahrnehmung B Leben - Tod Ba Geburt - Tod Bb (noch) jung - (schon) alt Bc gesund - krank C Physiognomie des Menschen Ca äußeres Erscheinungsbild Cb seelisches Erscheinungsbild Cc moralisches Erscheinungsbild Cd geistiges Erscheinungsbild B Leben und Tod C Der Mensch: wie er ist, wie er sich verhält Ca äußeres Erscheinungsbild Cb der Mensch und seine Gefühle, seine Gemütsverfassung Cc der Mensch und die Moral Cd der Mensch und sein Geist Ce der Mensch und sein Handlungswille, seine Initiative D Stellung zur Welt Da Notwendigkeit oder Schicksal? Db Denken, Meinen De Reden, Schweigen Dd Handeln De Wille; Anstrengung, Arbeit; Erfolg, Mißerfolg E Haltung zu den Mitmenschen D Menschliches Wissen und Denken Da sprechen, informieren, bekanntmachen Db lernen, erfahren De denken, nachdenken E Haltung, Einstellung, Beziehung zu den Mitmenschen/zur Welt Ga Gb Gc Einfluß - Macht - Verfügung - Besitz Kritische Lage - Gefahr -Auseinandersetzung Fertigwerden in schwerer Lage Haltung in der Gefahr Kampf und Streit F Einfluß, Macht G Besitz, Verfügung, materielle Lage des Menschen H Präferenzen Ha Gewicht, Bedeutung, Wert, Sinn Hb Vor- und Nachteil Hc Lust - Unlust Hd Genuß H Kritische Lage Ha Schwierigkeiten, Risiko, Mißerfolg Hb Kampf, Konkurrenz Hc Widerstand leisten, Hilfe leisten/bekommen I Quantitäten - Qualitäten - Relationen I Präferenzen Ia Genuss, Lust, Unlust Ib Gewicht, Bedeutung, Vor- und Nachteile 86 Como se pode depreender da sinopse acima, a categorizacäo ideolögica elaborada por Schemann para a lingua alemä tambem funciona para a lingua espanhola.126 Daqui se conclui que a estrutura ideolögica desenvolvida por Schemann e uma estrutura sölida que pode ser tomada como referenda no quadro da concepcäo de dicionärios ideolögicos - onomasiolögicos. Para completar a reflexäo sobre o Synonymwörterbuch, ha ainda que referir as relacöes semänticas inerentes aos campos semänticos: (i) relacöes de sinonimia no interior do mesmo bloco sinonimico (Ba 1.1); (ii) relacöes de sinonimia entre os blocos pertencentes ao mesmo campo semäntico, isto e, referentes ao mesmo arquilexema, como, por exemplo, as relacöes de sinonimia entre as expressöes dos blocos Ba 1.1, Ba 1.2 e Ba 1.3 do campo semäntico Ba 1 - Geburt; (iii) relacöes de oposicäo como, por exemplo, as relacöes de oposicäo que se estabelecem entre as expressöes dos campos semänticos gesund - krank ('säo -doente'); (iv) relacöes de natureza polissemica na medida em que uma dada expressäo pode pertencer a diferentes campos semänticos. Por ultimo, refira-se ainda que a forma apresentada pelas expressöes idiomäticas, que constam do Synonymwörtebuch, coincide com a forma da expressäo quando empregue em situacäo concreta de comunicacäo, isto e, a(s) forma(s) das expressöes reflectem as restricöes morfo-sintäcticas e pragmäticas a que estäo sujeitas. Isto e particularmente visivel nas expressöes vinculadas a actos de fala especificos. A titulo exemplificativo, vejamos as seguintes expressöes do dicionärio: du kannst mir/er kann mir/... gestohlen bleiben]/jemand soll/kann mir/uns/ihm/... (mit etwas) gestohlen bleiben] e rutsch/rutscht/... mir (doch) den Buckel runter]/jemand kann/soll mir/uns/... den Buckel (mit etwas) herunterrutschen. Estas expressöes que fazem parte do campo semäntico delimitado pelos arquilexemas schimpfen, Schimpfworte ('insultar/admoestar', 'injüria/insulto') säo utilizadas nas formas citadas para realizar os actos de fala de 126 A propösito da subdivisäo do macroconceito C - Physiognomie des Menschen - em äußeres Erscheinungsbild, seelisches Erscheinungsbild, moralisches Erscheinungsbild e geistiges Erscheinungsbild e a sua aplicagäo ao espanhol, cf. a seguinte afirmagäo de Larreta (2002: 47): "Diese Kategorisierung ist für den Autor [Schemann] eine Eigenheit der deutschen Sprache, aber bei unserer induktiven Arbeit hat sich herausgestellt, dass diese Einteilung auch dem Spanischen entspricht". 87 recusa ou rejeicäo. Esta caracteristica do Synonymwörterbuch constitui uma mais-valia para o ensino e a aprendizagem do alemäo como lingua estrangeira. 2.2. QUADRO ESTATISTICO DA SINONIMIA NA IDIOMATICA ALEMÄ Para a investigacäo de questöes associadas ä sinonimia idiomätica considero necessärio apresentar um quadro estatistico que de conta dos campos semänticos que contem urn nümero significativo de sinönimos. O quadro abaixo foi elaborado com base na relacäo dos blocos sinonimicos que contem cinco ou mais expressöes idiomäticas compilada por Schemann na sua obra 'Kontext' - 'Bild' - 'idiomatische Synonymie' (2003: 304-311). Enquanto que a lista de Schemann parte de um principio numerico, o quadro aqui proposto parte da estrutura dos campos semänticos do Synonymwörterbuch, facto que permite ao leitor ter uma visäo global da distribuicäo dos sinönimos em todos os niveis da organizacäo hierärquica do dicionärio: ao nivel do macroconceito, do subconceito, do arquilexema e dos blocos individuals. Com base neste quadro, facilmente se consegue identificar, por exemplo, os blocos semänticos que apresentam mais de dez expressöes sinönimas: Cc 26.29 (campo semäntico: schlagen) - jm. ein paar kleben - 28 expressöes; Cc 29.9 (campo semäntico: Scham, Scheu) - ...wäre vor Scham... - 20 expressöes; Aa 7.32 (campo semäntico: initiieren) - ran! - 18 expressöes; Fa 23.29 (campo semäntico: Handlungsfreiheit) - in js. Hand 17 expressöes; etc. 88 A: ZEIT - RAUM - BEWEGUNG - [613] SINNESDATEN Aa: Zeit [385] Aa 1 Zeitangaben [134] 15 Aa 1.1 vor langer Zeit 6 Aa 1.3 eine Geschichte/... aus alten Zeiten 16 Aa 1.9 seit jeher 7 Aa 1.12 eine halbe Ewigkeit nicht... 5 Aa 1.16 Zu allen Zeiten 6 Aa 1.23 Zu nächtücher Stunde 13 Aa 1.28 in aller Herrgottsfrühe 6 Aa 1.31 bis zum frühen Morgen feiern/... 9 Aa 1.40 bis... läuft noch viel Wasser... 10 Aa 1.41 in Kürze 6 Aa 1.47 im Jahre... vor/... Christus 8 Aa 1.60 von klein auf 5 Aa 1.71 auf längere Sicht 10 Aa 1.73 in letzter Minute 7 Aa 1.83 in einem Abwasch ... 5 Aa 1.89 Zeit und Ort... Aa 2 Dauer [6] 6 Aa 2.4 eine Zeitlang Aa 3 wiederholt [34] 7 Aa 3.1 hin und wieder 6 Aa 3.9 in einem durch 10 Aa 3.17 sommers wie winters 5 Aa 3.18 jedes zweite Mal 6 Aa 3.19 jeden zweiten Tag Aa 4 Usus, Angewohnheit, Manie [5] 5 Aa 4.16 alten Kohl aufwärmen Aa 6 Entwicklung [38] 7 Aa 6.11 im Anfangsstadium 5 Aa 6.23 seinen Tauf nehmen 9 Aa 6.28 nicht vorangehen 5 Aa 6.55 ... und damit nicht genug 7 Aa 6.61 Zum Stillstand kommen 5 Aa 6.73 (wieder) flott werden Aa 7 initiieren [35] 5 Aa 7.5 den Grund legen für... 6 Aa 7.13 Anstalten treffen 6 Aa 7.24 ans Werk gehen 18 Aa 7.32 ran! Aa 8 (be-)enden [30] 5 Aa 8.2 etw. zuendeführen 6 Aa 8.14 es bei etw. belassen 7 Aa 8.34 Schluß (damit)! 7 Aa 8.35 und damit Schluß! 5 Aa 8.40 Schluß (mit...)! Aa 11 sich Zeit lassen [13] 5 Aa 11.8 in aller Ruhe 8 Aa 11.13 nun mal langsam! 89 Aa 14 (ganz) schnell [57] 6 Aa 14.2 im Nu 5 Aa 14.5 in aller Eile 6 Aa 14.7 etw. hopp hopp machen 7 Aa 14.18 auf ckm schnellsten Weg 10 Aa 14.25 wie der Blitz davon-... 8 Aa 14.36 einen Affenzahn draufhaben 7 Aa 14.41 fink wie ein Wiesel 8 Aa 14.49 hopp hopp! Aa 16 wieder Luft kriegen, haben [5] 5 Aa 16.3 wieder Atem kommen Aa 18 pünktlich [6] 6 Aa 18.1 auf die Minute!... Aa 19 plötzlich; kurzerhand [6] 6 Aa 19.2 wie ein Blitz am heiterem Himmel Aa 20 langweilig, monoton [5] 5 Aa 20.5 es ist nichts los in 1... Aa 21 veraltet, altmodisch [11] 6 Aa21.4 von Anno Tobak stammen 5 Aa 21.14 noch aus der alten Schule sein Ab: Raum, Bewegung [108] Ab 1 Lage, Entfernung [11] 6 Ab 1.18 ein Katzensprung 5 Ab 1.32 es ist noch ein gutes Stück bis ... 90 Ab 2 (von, nach) überall; nirgends [6] 6 Ab 2.9 aus aller Welt... Ab 3 Fortbewegung [17] 7 Ab 3.6 einen Bummel machen 5 Ab 3.56 auf seine vier Buchstaben fallen 5 Ab 3.73 im Sattel bleiben Ab 4 (ver-)reisen [13] 6 Ab 4.1 sich andern 1... Wind um die Ohren wehen lassen (wollen) 7 Ab 4.41 Zu Wasser und zu Land Ab 6 Schiffahrt [8] 8 Ab 6.35 wieder festen Boden/Land unter den Füßen haben Ab 7 abhauen [24] 14 Ab 7.9 sich verdrücken 5 Ab 7.11 Zusehen, daß man Land gewinnt 5 Ab 7.17 Reißaus nehmen Ab 8 sich retten, davonkommen [5] 5 Ab 8.9 nochmal davonkommen Ab 9 folgen, verfolgen [6] 6 Ab 9.3 js. Spur verfolgen Ab 11 weg [12] 5 Ab 11.1 flötengehen 7 Ab 11.12 etw. abschreiben können Ab 12 Suche [6] 6 Ab 12.4 sich die Hacken ablaufen nach ... Ac: Sinnesdaten [122] Ac 1 Wetter [9] 9 Ac 1.7 es regnet Bindfäden Ac 2 frieren [5] 5 Ac 2.12 schweißgebadet Ac 3 naß [5] 5 Ac 3.2 keinen trocken Faden mehr am Leib haben Ac 4 hell - dunkel [6] 6 Ac4.2 stockfinster Ac 5 Farben [8] 8 Ac 5.10 pechschwarz. Ac 6 sehen, (sich) (genau...) ansehen [5] 5 Ac 6.57 war dein Vater Glaser? Ac 7 Geruch [5] 5 Ac 7.5 einen fahrenlassen Ac 8 Notdurft [15] 9 Ac 8.2 (mal eben) raus müssen 6 Ac 8.7 klein machen Ac 9 schmutzig - waschen, saubermachen [6] 6 Ac 9.7 wie ein Stall aussehen Ac 10 Ordnung - Unordnung, Durcheinander [17] 6 Ac 10.8 alles 1... ist durcheinander 6 Ac 10.9 ein babylonisches Durcheinander 5 Ac 10.14 Platz schaffen für... Ac 11 ganz - kaputt [20] 6 Ac 11.10 in die Brüche gehen 7 Ac 11.15 in Scherben gehen 7 Ac 11.21 im Eimer sein Ac 12 zerstören [21] 8 Ac 12.1 etw. kurz und klein schlagen 8 Ac 12.3 etw. dem Erdboden gleichmachen 5 Ac 12.14 in Flammen aufgehen B: LEBEN-TOD Ba: Geburt - Tod Ba 2 sterben (müssen) [227] [114] [54] 7 Ba 2.3 ein Mann des Todes sein 9 Ba 2.8 den letzten Weggehen 8 Ba 2.17 den letzten Atemzug tun 8 Ba 2.26 ein jähes/... Ende finden 5 Ba 2.37 im Krieg bleiben 6 Ba 2.38 den Tod in den Wellen finden 6 Ba 2.52 die letzte Ölung empfangen 5 Ba 2.53 in den Kümmel kommen Ba 3 sich töten [19] 5 Ba3.5 sich etwas antun 14 Ba3.7 den Gashahn aufdrehen 91 Ba 4 töten [11] 6 Ba 4.5 jn. kaltmachen 5 Ba 4.14 jm. ein Messer in den Leib stoßen Ba 5 tot [17] 7 Ba5.7 hops sein 10 Ba5.8 schon 1... unter der Erde hegen Ba 7 Beerdigung, Trauer [13] 7 Ba 7.2 jm. die letzte Ehre erweisen 6 Ba 7.5 Trauer anlegen Bb: (noch) jung - (schon) alt [7] Bb 2 (schon) älter, alt [7] 7 Bb2.4 im besten Alter sein Bc: gesund - krank [106] Bc 1 gesund [15] 6 Bc 1.2 kerngesund sein 9 Bc 1.10 (wieder) in Schuß sein Bc 2 krank, todkrank [82] 5 Bc 2.5 sich etwas 1... geholt haben 13 Bc 2.6 nicht in Schuß sein 5 Bc 2.9 höllische Qualen ausstehen 11 Bc 2.18 es auf der Tunge haben 12 Bc 2.23 Dünnschiß haben 7 Bc 2.25 kotzen wie ein Reiher 7 Bc 2.30 den Arm/... in Gips haben 7 Bc 2.61 es nicht mehr lange machen 10 Bc 2.62 mit einem Fuß im Grab stehen 5 Bc 2.67 in Tebensgefahr schweben 92 Bc 3 schwindlig (werden) [9] 9 Bc 3.1 es dreht sich jm. alles vor Augen C: PHYSIOGNOMIE DES MENSCHEN [1008] Ca: äußeres Erscheinungsbild [96] Ca 1 aussehen [49] 5 Ca 1.3 wie gemalt aussehen 5 Ca 1.11 so ein gewisses Etwas haben 5 Ca 1.16 eine flotte Biene sein 12 Ca 1.31 bleich wie Wachs sein 5 Ca 1.39 Haar wie... 10 Ca 1.51 in Gala 7 Ca 1.53 geschniegelt und gebügelt Ca 2 groß — klein [9] 9 Ca 2.4 eine Bohnenstange sein Ca 3 stark, kräftig [8] 8 Ca 3.4 ein Kerl wie ein Bär Ca 4 dick - dünn, mager [23] 8 Ca 4.9 eine Tonne sein 5 Ca 4.14 Zum Umblasen dünn sein 5 Ca 4.16 ein dürres Gerippe sein 5 Ca 4.20 Zu wenig auf den Rippen haben Ca 5 Haltung [7] 7 Ca 5.2 wie ein Stock dasitzen!... Cb: seelisches Erscheinungsbild Cb 1 jemandes Art, Eigenart [278] [5] 5 Cb 1.2 js. Art sein, ... Cb 2 Freude, Glück, Begeisterung, Jubel [43] 9 Cb2.7 sich vor Freude nicht zu lassen wissen 11 Cb2.9 den Himmel voller Geigen sehen 6 Cb 2.22 wie ein Vollmond strahlen 5 Cb 2.25 von ganzem Herfen frohlocken/... 7 Cb 2.30 ein Sturm der Begeisterung 5 Cb 2.35 sich glücklich schätzen können Cb 3 Leid, Sorge; Klage [11] 5 Cb 3.31 sich Sorgen machen 6 Cb 3.62 wie ein Häufchen Elend... Cb 4 gut gelaunt [5] 5 Cb4.2 guter Dinge sein Cb 5 schlecht gelaunt; schmollen [10] 5 Cb 5.2 schlechter Daune sein 5 Cb 5.8 aussehen, als wäre einem die Drau weggelaufen Cb 6 (un-)zugänglich [7] 7 Cb 6.9 ein komischer Vogel Cb 7 lustiger Kerl [15] 7 Cb 7.2 eine lustige Haut 8 Cb 7.5 den Schalk im Nacken haben Cb 9 Spaß [13] 7 Cb 9.7 jn. auf den Arm nehmen 6 Cb 9.17 Grimassen schneiden Cb 10 zum Lachen sein, lachen [30] 8 Cb 10.4 Zum Schreien sein 10 Cb 10.5 das ist zum Schießen 6 Cb 10.10 sich totlachen 6 Cb 10.11 sich den Buckel vollachen Cb 11 weinen; Zeter und Mordio [13] 7 Cb 11.4 jm. kommen die Dränen 6 Cb 11.22 Zeter und Mordio schreien Cb 13 Beleidigung [20] 9 Cb 13.7 jn. auf den Schlips treten 6 Cb 13.12 jn. tödlich verletzen 5 Cb 13.29 sich auf den Schlips getreten fühlen Cb 14 Ärger [8] 8 Cb 14.13 jn. auf dem Zug haben Cb 16 Zorn [30] 5 Cb 16.14 auf 80 sein 5 Cb 16.26 geladen sein aufjn. 9 Cb 16.28 am üebsten wäre j.jm. an die Gurgel gefahren 5 Cb 16.40 sich in Wut reden 6 Cb 16.46 jm. finstere Bücke zuwerfen 93 Cb 17 Mangel an Beherrschung [6] 6 Cb 17.10 beijm. gehen die Sicherungen durch Cb 18 es gibt Theater [5] 5 Cb 18.17 das kann ja nett werden! Cb 19 schimpfen, Schimpfworte [48] 5 Cb 19.4 so ein Mist! 5 Cb 19.6 verflixt! 6 Cb 19.10 Herr des Lebens! 15 Cb 19.16 hol' dich der Teufel! 11 Cb 19.18 der kann mich gernhaben 6 Cb 19.19 leck' mich am Arsch! Cb 20 sich beherrschen [9] 9 Cb 20.1 ruhig Mut bewahren Cc: moralisches Erscheinungsbild Cc 1 gute Seele, guter Kern [388] [5] 5 Cc 1.6 jm. nichts zuleide tun Cc 2 Herz haben, ans Herz gehen [15] 9 Cc 2.13 es blutet jm. das Herz 6 Cc 2.15 Zum Steinerweichen sein Cc 5 Pflichtbewußtsein, Vorbild [13] 6 Cc 5.12 jm. wie ein Schatten folgen 7 Cc 5.16 da kannst du dir eine Scheibe von abschneiden Cc 6 schlechte Gesellschaft, Abwege [5] 5 Cc 6.39 jn. auf den rechten Weg (zurück-) bringen Cc 7 Unehrenhaftigkeit, Schande [5] 5 Cc 7.6 ein übler Kunde sein Cc 8 boshaft, gemein [5] 5 Cc 8.1 ein gemeines Stück sein Cc 9 frech, unverschämt [10] 5 Cc 9.3 ein frecher Hund sein 5 Cc 9.5 frech wie Dreck sein Cc 10 schlechter Ruf [11] 5 Cc 10.5 ins Gerede kommen 6 Cc 10.10 jn. ins Gerede bringen Cc 11 Selbstwert [39] 6 Cc 11.9 sich wichtig tun 8 Cc 11.12 meinen, man wäre wer weiß was 7 Cc 11.19 ein aufgeblasener Frosch 6 Cc 11.29 den großen Herrn spielen 6 Cc 11.41 die Klappe (weit/...) aufreißen 6 Cc 11.43 einen großen Rand haben Cc 13 nicht falsch [18] 5 Cc 13.5 um der Wahrheit die Ehre zugeben 7 Cc 13.9 ins Schwarze treffen 6 Cc 13.22 im Ernst! Cc 14 falsch [5] 5 Cc 14.11 nach Strich und Faden lügen Cc 15 Schein [6] 6 Cc 15.14 ... nur Theater 94 Cc 16 Täuschung [19] 5 Cc 16.17 jn. für dumm verkaufen wollen 7 Ccl6.50 ein falscher Hund sein 7 Cc 16.61 jm. in die Falle gehen Cc 19 Diebstahl [5] 5 Cc 19.5 etw. mitgehen lassen Cc 20 Justiz [48] 16 Cc 20.34 vors Gericht bringen 7 Cc 20.81 jm. Fesseln anlegen 7 Cc 20.83 jn. ins Gefängnis stecken 8 Cc 20.84 in den Knast kommen 10 Cc 20.85 sitzen Cc 21 unschuldig [5] 5 Cc21.2 keine Schuld haben Cc 23 loben, jemandes Lobpreis singen [5] 5 Cc 23.3 Lobsprüche machen Cc 24 tadeln, zurechtweisen [34] 8 Cc 24.8 jm. eins drüber geben 5 Cc 24.15 jm. über den Mund fahren 6 Cc 24.25 mitjm. Fraktur reden 5 Cc 24.46 jn. zurechtstauchen 5 Cc 24.51 jn. zur Sau machen 5 Cc 24.70 eins drauf kriegen Cc 25 Ausdrücke des Unwillens [35] 5 Cc 25.16 der wird was erleben! 7 Cc 25.18 da kannst du Gift drauf nehmen 7 Cc 25.26 er kann sich schonmal die Knochen numerieren lassen 5 Cc 25.27 wenn ich den zu fassen kriege, ...! 6 Cc 25.41 haben wir zusammen gekegelt? 5 Cc 25.43 pack' dich an deine eigene Nase! Cc 26 schlagen [62] 7 Cc 26.9 jm. den Buckel vollhauen 9 Cc 26.17 jm. eins drauf geben 5 Cc 26.24 jm. eins auf den Mund geben 28 Cc 26.29 jm. ein paar kleben 5 Cc 26.38 eins auf den Schädel kriegen 8 Cc 26.45 eine gelangt kriegen Cc 29 Schani, Scheu [28] 8 Cc 29.2 puterrot werden 20 Cc 29.9 ... wäre vor Scham ... Cc 33 unglaublich! [5] 5 Cc 33.20 das ist ein dicker'Hund! Cc 35 Religion [5] 5 Cc 35.19 die Hände (zum Gebet) falten Cd: geistiges Erscheinungsbild [246] Cd 1 verstehen [14] 7 Cd 1.29 beijm. funkt es 7 Cd 1.42 wissen, wie der Hase läuft 95 Cd 2 nicht verstehen [22] 6 Cd 2.10 einen Quark verstehen von ... 6 Cd 2.28 so schlau sein wie vorher 5 Cd 2.29 eine lange Leitung haben 5 Cd 2.33 Zu hoch sein fürjn. Cd 4 unfähig [10] 5 Cd 4.15 eine trübe Tasse sein 5 Cd 4.21 du kannst einpacken ... Cd 5 geschickt [19] 6 Cd 5.6 den Dreh heraushaben 6 Cd 5.17 ein Naschen haben für... 7 Cd 5.21 ein Händchen haben Cd 7 klug, helle, weitsichtig [5] 5 Cd 7.7 ein heller Kopf sein Cd 10 dumm [57] 9 Cd 10.3 keine Keuchte sein 5 Cd 10.4 kurz mn Verstand sein 5 Cd 10.7 eine dumme Nuß sein 5 Cd 10.8 für keine 2 Pfennige Verstand haben 5 Cd 10.10 mit Dummheit geschlagen sein 6 Cd 10.11 ein ausgemachter Esel sein 7 Cd 10.14 dümmer als die Polizei erlaubt 5 Cd 10.17 Zum Esel fehlen jm. nur die Ohren 5 Cd 10.18 ein Kiesenroß sein 5 Cd 10.21 ein blödes Kuhn sein 96 Cd 12 spinnen, geistig weggetreten [60] 14 Cd 12.6 einen Dachschaden haben 8 Cd 12.7 einen (Schlag) weghaben 5 Cd 12.11 hast du sonst noch Schmerzen? 7 Cd 12.13 beijm. piept's (wohl) 6 Cd 12.21 mitjm. stimmt was nicht 14 Cd 12.33 nichtganz richtig im Kopf sein 6 Cd 12.43 tichte Augenbticke haben Cd 16 nicht wissen, im unklaren sein [7] 7 Cd 16.16 sich keine Vorstellung machen, wie Cd 17 Bekanntheitsgrad [10] 5 Cd 17.23 verschrien sein (als...) 5 Cd 12.29 es heißt, ... Cd 18 sattsam bekannt [10] 5 Cd 18.2 der übliche Kram 5 Cd 18.7 einen Hart mit Dauerwellen haben Cd 19 Unterricht [16] 6 Cd 19.25 sitzen bleiben 5 Cd 19.32 Privatstunden geben 5 Cd 19.54 durchfallen Cd 20 schreiben [16] 5 Cd 20.2 eine Sauklaue haben 6 Cd 20.50 Verse schmieden 5 Cd 20.75 mitfreundtichen Grüßen Ihr... D: STELLUNG ZUR WELT Da: Notwendigkeit oder Schicksal? Da 1 sachlich [588] [104] [5] 5 Da 1.1 mit beiden Beinen im Leben stehen Da 3 Romantik, Einbildung, Theorie [16] 6 Da 3.18 nach den Sternen greifen 5 Da 3.22 Schrullen im Kopf haben 5 Da 3.26 jm. einen Floh ins Ohr setzen Da 4 Erstaunen [12] 12 Da 4.9 Mund (und Nase) aufsperren Da 5 überrascht, verblüfft [19] 9 Da 5.6 jm. bleibt die Spucke weg 10 Da 5.13 j. wäre beinahe vom Stuhl gefallen Da 6 Schrecken, Grausen [17] 6 Da 6.13 kreidebleich sein/... 6 Da 6.15 wie angewurzelt... 5 Da 6.20 noch in den Güedern stekken (Schreck) Da 7 Ausdrücke des Erstaunens [10] 5 Da 7.6 Donnerwetter! 5 Da 7.20 mich trifft der Schlag Da 8 Ausdrücke der Verblüffung [14] 7 Da 8.2 ach, du üebes bißchen! 7 Da 8.7 mein Gott! Da 9 Glück, (gütiges) Schicksal [6] 6 Da 9.9 jm. lacht das Glück Da 10 Unglück, Unstern [5] 5 Da 10.20 das ist noch nicht das Schümmste Db: Denken, Meinen Db 1 Erinnerung [121] [5] 5 Db 1.10 js. Worte/... noch im Ohr haben Db 4 Stellungnahmen; Perspektiven [5] 5 Db 4.19 seine Vor- und Nachteile haben Db 10 versichern [16] 6 Db 10.5 Stein und Bein schwören 5 Db 10.24 so wahr ich hier sitze! 5 Db 10.32 ich will tot umfallen, wenn ... Db 12 unbeständig [10] 5 Db 12.1 es jedermann recht machen (wollen) 5 Db 12.7 eine Wetterfahne sein Db 13 Zustimmung [11] 5 Db 13.37 sehr richtig! 6 Db 13.47 na gut! Db 15 Ausdrücke der Zurückweisung [32] 6 Db 15.1 der Kuckuck soll mich holen, wenn 5 Db 15.2 üeber sterb' ich, als ... 5 Db 15.33 untersteh' dich bloß nicht, ... 6 Db 15.34 das ist meine/... Sache! 97 5 Db 15.35 das gehtjn. einen feuchten Lehm an 5 Db 15.43 ach was! Db 17 Uneinigkeit [5] 5 Db 17.1 anderer Meinung sein Db 18 Wertschätzung [10] 5 Db 18.14 das will was heißen! 5 Db 18.18 ich muß schon sagen:... Db 19 Kritik, Mißachtung, Schmähung [10] 5 Db 19.9 jn. schlechtmachen 5 Db 19.10 jn./etw. in den Dreck ziehen Db 20 im Recht sein; berechtigt [6] 6 Db 20.19 was ist dabei, wenn ?' Db 21 Selbsttäuschung, Irrtum [11] 6 Db 21.3 schwer im Irrtum sein 5 Db 21.27 auf dem Holzweg sein De: Reden, Schweigen [131] De 1 reden [69] 5 De 1.14 sich kurzfassen 6 De 1.20 kurz; ■■■ 5 De 1.24 erzähl keinen Roman! 8 De 1.28 jn. kurz abspeisen 5 De 1.37 js. Mund steht nicht still 5 De 1.53 dauernd am Telefon hängen 6 De 1.73 dummes Zeug reden 7 De 1.90 in den Wind reden 6 De 1.91 in der Wüste predigen 98 5 De 1.96 ein gottloses Mundwerk haben 6 De 1.104 eine große Klappe haben 5 De 1.111 sich den Mund verbrennen De 2 schweigen, verschwiegen [12] 7 De 2.14 die Mappe halten 5 De 2.18 nichts verlauten lassen De 3 offenlegen, offenliegen [15] 5 De 3.28 jm. etw. auf den Kopf zu sagen 5 De 3.83 Zutage fördern 5 De 3.100 unter uns gesagt De 5 Gespräch [7] 7 De 5.110 nur eins:... De 7 nicht hören (wollen) [13] 7 De 7.8 hast du keine Ohren?! 6 De 7.10 keinen Rat annehmen De 8 Gestik, Mimik, Korpersprache [5] 5 De 8.20 jn. in die Seite stoßen De 9 laut - leise [10] 5 De 9.2 brüllen wie ein Wilder 5 De 9.6 Lärm machen Dd: Handeln [26] Dd 4 (noch) unentschlossen [5] 5 Dd 4.19 weder kalt noch warm sein Dd 6 Wahl, Entschluß, Entscheidung [5] 5 Dd 6.32 ent oder weder! Dd 8 ungeplant [5] 5 Dd 8.9 und wie es der Zufall so will Dd 9 Anlaß, Grund [6] 6 Dd 9.12 aus gutem Grund... Dd 11 Verantwortung, Sorge, Last [5] 5 Dd 11.27 jn./etw. am Hals haben De: Wille; Anstrengung, Arbeit; Erfolg, Mißerfolg [206] De 2 unaufmerksam, zerstreut [5] 5 De 2.6 ganz in Gedanken sein De 8 hartnäckig; auf jeden Fall [11] 11 De 8.5 unter allen Umständen De 9 eigensinnig, stur, rechthaberisch [8] 8 De 9.13 ein sturer Hock sein De 10 Vernunft annehmen [5] 5 De 10.1 Vernunft annehmen De 12 Arbeit und Beruf [22] 5 De 12.9 arbeiten 1was das Zeug hält 5 De 12.11 sich kaputtarbeiten 6 De 12.16 das ist ja Selbstmord! 6 De 12.19 sein Geld sauer verdienen müssen De 13 sich anstrengen [11] 5 De 13.15 sich ins Zeug legen 6 De 13.59 mit aller Gewalt... De 14 nichts tun [21] 10 De 14.7 ein faules Stück 6 De 14.26 da in der Gegend herumstehen!... 5 De 14.28 Löcher in die Duft starren De 15 Beruf, Berufsleben [29] 5 De 15.56 in Vension gehen 7 De 15.66 in den Sack hauen 6 De 15.74 gegangen werden 6 De 15.78 ohne Arbeit sein 5 De 15.82 den Daden dichtmachen De 19 leicht [20] 5 De 19.5 es ist ein leichtes, ... 10 De 19.8 kinderleicht 5 De 19.15 ganz einfach De 20 schwer [22] 5 De 20.3 alle Mühe haben, ... 5 De 20.5 an etw. zu knacken haben 5 De 20.12 jm. schwerfallen 7 De 20.41 einen Haken haben De 22 gut schlafen - schlaflos [20] 8 De 22.2 Schlafengehen 6 De 22.6 schlafen wie ein Bär 6 De 22.8 gute Nacht! 99 De 23 am Ende seiner Kräfte [5] 5 De 23.15 hundemüde sein De 25 Mißerfolg, Ruin, Bankrott [22] 7 De 25.18 js. Tage sind gewählt 5 De 25.87 schiefgehen 5 De 25.89 sich in Wohlgefallen auflösen 5 De 25.101 kein/... Echo finden De 28 vergebliche Liebesmüh' [5] 5 De 28.11 etw. ist das gleiche wie Wasser in ein Sieb schöpfen E: HALTUNG ZU DEN MITMENSCHEN [122] Ea: Umgang [57] Ea 3 ungesellig [13] 5 Ea 13.18 immer in der Wohnung hocken 8 Ea 13.20 keinen Fuß vor die Tür setzen Ea 4 Kontakte [5] 5 Ea 4.26 die Beziehungen zu jm. (wieder) anknüpfen Ea 6 begrüßen [5] 5 Ea 6.3/5 jm. die Hand/'Pfotegeben Ea 9 Grußformeln [24] 5 Ea 9.1 guten Tag! 7 Ea 9.6 wie geht's? 6 Ea 9.10 Tschüß! 6 Ea 9.11 mach'sgut! 100 Ea 10 Distanz; Abfuhr [5] 5 Ea 10.30 an die falsche Adresse kommen Ea 12 schlechtes Benehmen [5] 5 Ea 12.10 sich benehmen wie der erste Mensch Eb: Zuneigung - Abneigung [16] Eb 1 Zuneigung [5] 5 Eb 1.27 die Herzen fliegen jm. zu Eb 2 Abneigung [11] 5 Eb 2.32 jn. zum Teufel wünschen 6 Eb 2.42 beijm. unten durch sein Ed: Liebe [49] Ed 1 Liebe, Liebesbeziehung [11] 5 Ed 1.14 mit den Augen klappern 6 Ed 1.41 jn. hat's erwischt Ed 2 schwanger [7] 7 Ed 2.6 in anderen Umständen sein Ed 3 heiraten [10] 5 Ed 3.12 um js. Hand anhalten 5 Ed 3.13 jn. zum Weibe nehmen Ed 4 Eheleute; fremdgehen; sich trennen [13] 8 Ed 4.6 fremdgehen 5 Ed 4.7 jm. ein Horn aufsetzen Ed 9 nackt [8] 8 Ed 9.1 spütterfasemackt F: EINFLUß - MACHT -VERFÜGUNG - BESITZ [191] Fa: Einfluß, Macht, Druck [100] Fa 1 (zentrale) Rolle, Mittelpunkt [5] 5 Fal.15 im Mittelpunkt stehen Fa 3 gespannt, neugierig [5] 5 Fa3.2 gan^gespannt sein Fa 5 »bessere Kreise« - »kleine Leute [12] 7 Fa5.2 die Hautevolee 5 Fa5.13 der Mann aus dem Volk Fa 7 sich einmischen [13] 7 Fa 7.16 das geht dich einen Quark an 6 Fa 7.19 j. soll sich um seinen eigenen Dreck kümmern! Fa 15 gefügig, unterwürfig [10] 5 Fa 15.4 alles/... mit sich anstellen lassen 5 Fa 15.11 einen Bückling vorjm. machen Fa 17 schmeicheln [6] 6 Fa 17.15 jm. Honig um den Bart schmieren Fa 19 streng, scharf [10] 5 Fa 19.25 jetzt pfeift's aus einem anderen Loch 5 Fa 19.33 nicht viel Lederlesens machen Fa 20 zwingen, Druck ausüben [6] 6 Fa 20.6 jm. die Listole auf die Brustsetzen Fa 21 Zwang, Zwangslage [11] 11 Fa 21.11 es bleibt jm.) nichts übrig als... Fa 23 Handlungsfreiheit [17] 17 Fa 23.29 in js. Hand Fa 25 spont an, freiwillig [5] 5 Fa 25.3 aus freiem Antrieb Fb: Verfügung, Besitz [91] Fb 1 Verfügung, Verfügungsgewalt [7] 7 Fb 1.28/29 etw. nicht mehr aus der Hand geben Fb 3 (viel) Geld haben, ausgeben [22] 5 Fb 3.1 eine hübsche Stange Geld ausgeben 5 Fb 3.2 ein Heidengeld kosten 5 Fb 3.5 seine Brieftasche zücken 7 Fb 3.20 ein paar Pfennige Fb 5 Schulden haben, zurückzahlen [6] 6 Fb 5.6 tief in Schulden stecken Fb 6 Wohlstand [13] 13 Fb 6.18 im Geld schwimmen Fb 7 Armut [17] 5 Fb 7.10 ein armer Teufel 12 Fb 7.23 nichts zu beißen haben 101 Fb 8 verschwenderisch [10] 10 Fb 8.7 kein Geld in der Hand halten können Fb 12 teuer [5] 5 Fb 12.2 ins Geld gehen Fb 13 spottbillig [13] 13 Fb 13.2 für ein' Appel und ein Ei Fb 15 Handel und Gewerbe [5] 5 Fb 15.39 auf Raten kaufen G: KRITISCHE LAGE - GEFAHR -AUSEINANDERSETZUNG [167] Ga: Fertigwerden in schwerer Lage [73] Ga 2 js. Kreise stören [6] 6 Ga 2.3 jm. das Konzept verderben Ga 3 verwirrt, ohne Halt, unsicher [5] 5 Ga3.9 ins Schwimmen kommen Ga 4 ernste Lage; Zwickmühle [6] 6 Ga 4.19 aufs Schlimmste gefaßt sein (müssen) Ga 5 (wieder) in Ordnung [10] 5 Ga5.4 wieder ins Gleis bringen 5 Ga5.11 wieder ins Gleis kommen 102 Ga 6 zu bewältigen (suchen), klargehen [17] 6 Ga 6.7 mit ...fertigwerden 6 Ga 6.16 j. wird die Sache schon schmeißen 5 Ga 6.42 aus dem Schümmsten heraussein G a 10 verzweifeln, verzw eifelt [14] 14 Ga 10.15 das ist, um die Wände hochzugehen Ga 12 Hilfe [10] 5 Ga 12.30 jm. aus der Klemme helfen 5 Ga 12.38 js. rettender Engel sein Ga 13 jm. dankbar sein; D anke sformeln [5] 5 Ga 13.10 Gott sei Dank! Gb: Haltung in der Gefahr Gb 4 Leichtsinn, Risiko, Leichte Ader [34] [19] 13 Gb 4.10 Kopf und Kragen riskieren für... 6 Gb 4.13 alles aufs Spiel setzen Gb 6 Angst [10] 5 Gb 6.19 j. macht sich noch in die Hose... 5 Gb 6.36 in Schweiß gebadet sein Gb 7 Formen der Ermutigung [5] 5 Gb 7.14 daran stirbt man nicht Gc: Kampf und Streit Gc 2 attackieren, attackiert werden [60] [5] 5 Gc 2.10 jm. eins vor den Bug knallen Gc 4 Militär, Kampf [25] 5 Gc 4.2 Zum Militär gehen 5 Gc 4.10 ins Feld ziehen 8 Gc 4.21 auf Wache sein/... 7 Gc 4.36 Quartier beziehen Gc 6 sich zur Wehr setzen [20] 5 Gc 6.3 die Stellung behaupten 5 Gc 6. 16 jm. Trotz_bieten 5 Gc 6.34 seinen Schnabel aufmachen 5 Gc 6.42 von der Seite darfst du/... mir/... nicht kommen Gc 7 unnachgiebig [5] 5 Gc 7.10 keinen Schritt zurückweichen Gc 11 aufgeben 5 5 Gc 11.7 die Segel streichen H: PRÄFERENZEN Ha: Gewicht, Bedeutung, Wert, Sinn Ha 4 wichtig (nehmen) [233] [76] [6] 6 Ha 4.8 großen Wert legen auf... Ha 5 unwichtig (nehmen) [16] 6 Ha 5.8 keinen Wert legen auf... 5 Ha 5.13 nicht viel Trara machen um ... 5 Ha 5.33 du hast Sorgen Ha 8 egal, gleichgültig [38] 6 Ha 8.3 sich den Teufel scheren um ... 15 Ha 8.8 jm. schnuppe sein 6 Ha 8.9 jn. kaltlassen 6 Ha 8.13 das/... ist dasselbe in grün 5 Ha 8.27 was macht's? Ha 12 wertlos [10] 10 Ha 12.4 keinen Schuß Pulver wert Ha 15 sinnlos; dummes Zeug [6] 6 Ha 15.10 etw. ist (lauterster/...) Unsinn Hb: Vor- und Nachteil Hb 1 es gut meinen [13] [8] 8 Hb 1.4 jm. wohlgesonnen sein Hb 5 schaden, schädigen [5] 5 Hb 5.8 jm. etwas (Schönes) einbrocken Hc: Lust - Unlust Hc 3 Gefallen finden an [33] [5] 5 Hc 3.3 Gefallen finden an 103 Hc 5 keinen Gefallen finden an [8] 8 Hc 5.4 es machtjm. keinen Spaß, ... Hc 6 leid sein [20] 6 Hc 6.2 es leid sein, ... 7 Hc 6.4 die Nase voll haben 7 Hc 6.9 es satt werden, zu ■■■ Hd: Genuß Hd 2 (das Leben) genießen [111] [5] 5 Hd2.11 sich's wohlgehen lassen Hd 4 essen — schmecken — kochen [39] 6 Hd4.8 einen Bärenhunger haben 8 Hd 4.33 fressen, als ob man's befahlt kriegte 7 Hd 4.57 wie Stroh schmecken 5 Hd 4.64 vor/... Tisch 6 Hd 4.83 eine bunte Platte 7 Hd 4.84 die Suppe 1... warm stellen Hd 6 sich betrinken, betrunken [49] 9 Hd6.4 einen saufen 10 Hd6.16 Zu tief ins Glas geschaut haben 9 Hd6.17 einen sitzen haben 6 Hd6.18 ganz s^on schräg sein 8 Hd 6.20 sternhagelvoll sein 7 Hd 6.21 voll wie 1000 Mann sein 104 Hd 9 spielen [7] 7 Hd 9.7 ein gutes/... Blatt haben Hd 10 Theater, Film [11] 6 Hd 10.9 ein Stück/... zu Gehör bringen 5 Hd 10.12 eine Rolle/... spielen I: QUANTITÄTEN - QUALITÄTEN - RELATIONEN Ia: Menge Ia 1 große Zahl, Menge; voll [134] [50] [11] 11 Ia 1.21 ... in Hülle und Fülle Ia 2 (aber auch) alle(s) [14] 5 Ia 2.8 der ganze Verein 9 Ia 2.16 der ganze Kram Ia 3 geringe Zahl, Menge; Lappalie [15] 5 Ia 3.18 sich an jeder Kleinigkeit stoßen 5 Ia 3.19 für alles undfür nichts 5 Ia 3.23 sich über jeden Käse aufregen Ia 7 nicht genug [5] 5 Ia 7.1 vorn und hinten nicht reichen Ia 8 jeder beliebige; dies und das [5] 5 Ia 8.9 dieser und jener/... Ic: Ausmaß, Wertmaß [34] Ic 1 echt, typisch, durch und durch [18] 13 Ic 1.8 ein ... durch und durch sein 5 Ic 1.20 ein ... von altem Schrot und Korn sein Ic 2 voll und ganz [11] 5 Ic 2.14 von ganzem Herfen ... 6 Ic 2.26 wie ein Wilder... Ic 3 perfekt [5] 5 Ic 3.3 etw. schon singen können Id: Maßhalten [6] Id 2 (Tendenz zur) Übertreibung [6] 6 Id 2.61 daran stirbt man nicht Ie: Bezug, Beziehung [5] Ie 1 Bezug, Beziehung [5] 5 Ie 1.7 auf gesetzlichem/... Weg If: gleich — verschieden [12] If 2 ähnlich [6] 6 If 2.3 sich gleichen wie ein Ei dem anderen If 7 unverändert [6] 6 If 7.16 es geht alles auf die alte Tour Ih: sicher — unsicher, (nicht) selbstverständlich, klar [27] Ih 1 sicher, klar [16] 6 Ih 1.15 sich etw. an den Tingern abzählen können 5 Ih 1.17 das ist doch klar! 5 Ih 1.18 das sieht man doch ohne Brille! Ih 4 (noch) ungewiß [11] 11 Ih 4.20 weiß der Himmel... 105 Capítulo 3 A SINONÍMIA NO PLANO DA IDIOMÁTICA Este capítulo sobre a sinonímia idiomática encontra-se estruturado segundo determinados fenómenos que desempenham um papel relevante no ämbito das expressöes idiomáticas. Säo eles: os eufemismos, a personificacáo, a comparacáo, os símbolos, conceitos como 'path' ('caminho'), actos de fala específicos e modelos de construcäo com tendéncia para a generalizacäo. Pretende-se com esta abordagem elaborar os factores que intervém na sinonímia no piano da idiomática. A ultima seccáo do capítulo é composta por uma reflexáo que tem como objectivo comparar a sinonímia idiomática com a sinonímia náo idiomática e termina com a sistematizacäo dos factores que jogam no piano da idiomática. 3.1. OS EUFEMISMOS Lausberg define o emprego de uma palavra ou expressáo eufémica como "Ersatz eines durch Tabu verbotenen Wortes" (1963: 66). O emprego do eufemismo é neste sentido concebido como uma forma de evitar a infraccáo ou violacäo de um tabu. Tendo em conta a ligacáo estreita entre a funcäo do tabu e a funcäo do meio de expressáo eufemístico, impöe-se ressaltar alguns dos aspectos inerentes ao conceito de tabu. Para tal, analisemos a definicäo da palavra-chave 'Tabuworť ('palavra tabu') que consta do Linguistisches Wörterbuch de Lewandowski (1973, vol. 3: 725): "T. [abuwörter] sind keine allgemein menschliche Erscheinung, sie sind an bestimmte Gemeinschaften und Epochen gebunden; sie können auch gruppenspezifisch sein. Zugrunde liegen ihnen ein magischer Begriffsrealismus, der Wörter und Namen mit dem von ihnen Bedeuteten/Bezeichneten gleichsetzt, die Vorstellung von der magischen Kraft des Wortes, dessen Aussprechen Veränderungen in der Welt hervorrufen kann, die Scheu vor dem unberührbar Heiligen und die Angst vor dem Bösen, Bedrohlichen, Gefährlichen". A primeira observacäo diz respei to ao facto dos termos tabu terem a sua razäo de ser no seio de determinada comunidade, sociedade ou época. Isto significa que o surgimento de čerta expressáo tabu está dependente de um contexto social e cultural específico, ou 107 sej a, de um paradigma específico. A susceptibilidade das sociedades sofrerem mudancas e mutacöes das suas estruturas e dos seus padröes socioculturais e politicos ao longo da história, fenómeno que conduz necessariamente á mudanca de paradigmas, tern repercussöes ao nivel do sistema de tabus em vigor. Por outras palavras, uma mudanca de paradigma implica, regra geral, um processo de rompimento com os tabus vigentes. Refira-se, em segundo lugar, a relacäo existente entre o conceito de tabu e o conceito de sagrado: o sagrado nas suas diversas manifestacöes é intocável e inefável. Com efeito, a transgressäo desta maxima está associada a consequéncias nefastas. O medo da violacäo do 'objecto' sagrado, o tem or e o respeito, por um lado, e a necessidade que o hörnern tem de pör em palavras as suas ideias, os seus sentimentos e a sua relacäo com o meio exterior, por outro, levam ao aparecimento de formas de expressäo que encobrem ou disfarcam a sua ligacäo com o objecto sagrado. Vejamos, a titulo de exemplo, o segundo mandamento da lei de Deus: "Näo pronunciaräs em väo o nome do Senhor, teu Deus, porque o Senhor näo deixarä impune quem pronunciar o Seu Nnome em väo"127. A existéncia deste preceito das religiöes cristas e judaica assenta na ideia de que a palavra 'Deus' 'é' o Ser supremo 'Deus' em si. Por outras palavras, o poder 'mágico' da palavra pode ser descrito da seguinte forma: a palavra/'o verbo' = coisa/objecto/ser. Este facto propicia o surgimento de expressöes eufémicas que těm como objectivo evitar o emprego explicito de determinado vocäbulo que possui o estatuto de vocäbulo inefável ou indizivel. Luchtenberg, na sua análise do emprego dos eufemismos na lingua alemä, Euphemismen im heutigen Deutsch (1985: 24), amplia a definicäo de Lausberg na medida em que distingue dois tipos de eufemismos: "Verhüllende Euphemismen dienen zur Kommunikation über tabuisierte Begriffe etc. bzw. der Rücksicht auf Gefühle und Wertvorstellungen. (...) Verschleiernde Euphemismen haben dagegen die Aufgabe, bestimmte Sachverhalte dem Hörer in einer vom Sprecher ausgewählten Weise darzustellen". De acordo com estas consideracöes, os eufemismos těm como funcöes: (i) comunicar uma mensagem penosa e desagradável de uma forma 'branda' e 'suave'; (ii) transmitir uma mensagem de forma a näo dar a perceber toda a verdade. Como teremos oportunidade de verificar através da análise que se segue, existem campos semänticos, contextos semänticos, que säo favoráveis ao emprego e á criacäo de eufemismos. Limitar-me-ei, aqui, ao estudo dos factores que estabelecem sinonimia 127 Cf. Blblia Sagrada, Éxodo 20:7, p. 108. 108 entre as expressöes idiomáticas de cariz eufémico que integram o campo semäntico da morte. Comecemos por observar o seguinte bloco de expressöes idiomäticas do campo semäntico Ba2 - sterben (müssen) - '(ter de) morrer': Ba2.8 1 den Weg gehen, den wir alle gehen müssen 6 die letzte Fahrt antreten (müssen) 2 den letzten Weg gehen 7 die letzte Reise antreten müssen 3 den Weg alles Irdischen gehen 8 auf die große Reise gehen (müssen) 4 den Weg allen Fleisches gehen 9 einen schweren Gang tun (müssen) 5 seinen letzten Gang tun Assinalável é, em primeiro lugar, a existencia de um denominador comum a estas nove expressôes: a ideia da morte como viagem. Em segundo lugar, refira-se que é possível subdividir as expressôes (1) a (9) com base nas seguintes pressuposicôes: (i) A morte é urna realidade incontornável e inevitável da existencia humana. Todos os homens, sem excepcäo, morrem. Este facto encontra-se expresso nas unidades (1), (3) e (4). (ii) A morte näo é apenas urna das muitas etapas ou viagens que fazem parte da nossa vida; a morte é a última e derradeira etapa ou viagem da vida do homem na terra. Aqui inserem-se as unidades (2), (5), (6) e (7). (iii) A morte é urna viagem difícil e penosa para o ser humano, ideia que está patente na expressäo (9). Como se depreende do acima exposto, estas pressuposicôes säo responsáveis pela divisäo do bloco sinonímico Ba2.8 em subgrupos sinonímicos. Por outras palavras, as pressuposicôes funcionam como um primeiro agregador de expressôes sinónimas. Prosseguindo o objectivo de elaborarmos urna tipologia de factores relevantes na formacäo de expressôes sinónimas no domínio da idiomática, detenhamo-nos nas unidades que constituem os subgrupos de expressôes acima citados. Observando as expressôes pertencentes ao primeiro subgrupo, nomeadamente as expressôes (1), (3) e (4), verificamos que a sinonímia no seio deste grupo assenta no conceito de totalidade. 109 A ideia do conjunto de todos os indivíduos que compöem a classe 'seres humanos' e, consequentemente, a ideia da mořte como fenómeno universal é expressa pelo pronome indefinido alle/alles. Quanto as construcöes em si, reter-se-á que a expressäo (1) - den Weg, den wir alle gehen müssen - uma fräse relativa, constitui uma paráfrase das expressöes (3) e (4). Na expressäo (1) o pronome alle ('todos') é de carácter genérico, designando die Menschen ('os homens') em geral: den Weg, den alle Menschen gehen müssen. Se compararmos a expressäo (1) com as expressöes (3) e (4), notamos que as ultimas especificam a ideia geral allelalle Menschen no sentido em que cada uma foca um aspecto especifico do hörnern. A expressäo (3) através do constituinte alles Irdischen perspectiva o hörnern a partir da sua condicäo de ser que habita a terra. Por outras palavras, morrer significa acabar como todos os outros seres que se encontram ä face da terra. Por seu turno, o constituinte allen Fleisches da expressäo (4) alude ao hörnern enquanto ser constituido por um corpo de carne (e osso). Morrer tem como consequéncia, no caso de enterramento, a decomposicäo do corpo ou da carne ou a transformacäo do corpo em cinzas, no caso de cremacäo. Ter-se-ä presente que o simbolismo da palavra Fleisch ('carne') nos campos semänticos da vida e da morte estä intimamente ligado ao contexto da tradicäo biblica. Resta-me, para concluir a análise das expressöes (1), (3) e (4), referir, em primeiro lugar, que as expressöes (3) e (4) exprimem a mesma ideia, a ideia da universalidade da morte, a partir de ängulos diferentes. Em segundo lugar, os contextos lexemäticos dos exemplos (3) e (4) apresentam a variacäo dos constituintes alles Irdischen e allen Fleisches, sendo idénticos em todo resto: den + Weg + (alles Irdischen!allen Fleisches) + gehen. Daqui resulta, com efeito, que é possível substituir o constituinte alles Irdischen pelo constituinte allen Fleisches e vice-versa na combinacäo lexemätica acima para exprimir a ideia de que todos os homens, sem excepcäo, těm o mesmo fim. Analisemos em seguida as relacöes de sinonímia que se estabelecem entre as expressöes que compöem o segundo subgrupo do campo semäntico Ba2.8, isto é, as unidades (2), (5), (6) e (7) que exprimem a nocäo da morte como sendo a ultima caminhada ou viagem da vida. Estamos perante expressöes que apresentam a seguinte estrutura homogénea: dielden + letzte Hetzten + (WeglGanglFahrtlReise) + (gehenltunlantreten). Repare-se que os constituintes nucleares das expressöes - Weg, Gang, Fahrt, Reise -mantém uma relacäo de sinonímia em muitos contextos fora da estrutura idiomätica. 110 Da análise acima é possível extrair os seguintes factores responsáveis pela relacäo de sinonímia entre as expressôes idiomáticas: (i) a existencia de uma pressuposicäo (logica) que funciona como ponto de referencia; (ii) o princípio da totalidade que opera como princípio orientador; (iii) a relacäo de sinonímia entre os constituintes nucleares das expressôes que apresentam o mesmo contexto lexemático; (iv) a particularizacäo ou especificacäo de uma mesma ideia. Consideremos agora as expressôes que integram o campo semäntico Ba7, campo semäntico delimitado pelos arquilexemas Beerdigung ('funeral') e Trauer ('sentimente de pesar pela morte de alguém'). Antes, porém, de abordarmos as expressôes de natureza eufémica em específico, importa averiguar os pressupostos que estäo na base da organizacäo dos blocos sinonímicos que formám o campo semäntico em geral. Ba 7.1 Ba 7.2 Ba 7.3 1 die Totenwache halten 1 jm. die letzte Ehre erweisen 1 Friede seiner/ihrer Asche! 2 jn. auf seinem letzten Weg begleiten 3 jn. auf seinem letzten Gang begleiten 4 jm. das letzte Geleit geben 5 jn. zu Grabe tragen 6 jn. zur letzten Ruhe betten 7 jn. unter die Erde bringen Ba 7.4 1 die Totenglocke läuten Ba 7.5 1 Trauer anlegen 2 Trauer tragen 3 Trauerkleidung tragen 4 in Schwarz gehen 5 Schwarz tragen 6 in Trauer erscheinen/... Ba 7.6 1 jm. seine (aufrichtige/...) Teilnahme aussprechen 2 jm. seine (aufrichtige/...) Anteilnahme aussprechen 3 jm. sein (herzliches/aufrichtiges) Beileid aussprechen Ba 7.7 1 den Leichenschmaus halten 2 das/js. Fell versaufen Ba 7.10 1 eine Fahne/Flagge auf Halbmast setzen 2 auf Halbmast stehen Ba 7.8 Ba 7.9 den Totenschein ausstellen 1 jm. einen Grabstein setzen 2 jm. einen Stein setzen 111 Um primeiro piano de análise do campo semäntico acima exposto sugere que a sua estruturacäo assenta em normas e práticas socioculturais que se manifestam aquando do falecimento de urna pessoa. Os blocos Ba 7.1 e Ba 7.2 evocam as etapas ligadas á cerimónia fúnebre: a participacäo na vigília do corpo da pessoa falecida; a participacäo no cortejo fúnebre que termina com o enterro do corpo no cemitério. A expressäo do bloco Ba 7.3 é empregue para exprimir o desejo de que um ente falecido repouse em paz. A expressäo do bloco Ba 7.4 traz á mente o dobrar do sino a finados como anúncio da morte de alguém. O bloco Ba 7.5 consta de expressöes que aludem á indumentária numa situacäo de luto. O bloco Ba 7.6 é composto por expressöes que dizem respeito ao acto de manifestacäo de condoléncias junto dos familiäres e amigos da pessoa falecida. O bloco Ba 7.8 tem como fundo o acto de atestar o falecimento de alguém, acto executado por urna autoridade competente através da passagem de urna certidäo de óbito e que constitui um pré-requisito para a realizacäo das cerimónias fúnebres. As expressöes do bloco Ba 7.10 evocam o acto institucional de colocar as bandeiras a meia haste como testemunho de pesar pelo falecimento de urna pessoa cara á instituicäo. Reconhecemos, em primeiro lugar, aqui o papel decisivo que os próprios arquilexemas Beerdigung e Trauer desempenham enquanto eixos em torno dos quais se organizam os blocos sinonímicos que compöem o respectivo campo semäntico. Em segundo lugar, interessa sublinhar que estas expressöes encontram a sua razäo de ser em convencöes sociais e culturais a cumprir ou seguir no caso do falecimento de urna pessoa. E o conhecimento desta realidade que funciona como alavanca para a conversäo ou transformacäo do conhecimento extra-linguístico em expressäo linguística. No ensaio Language as Discourse, Ricoeur pöe em evidencia a articulacäo existente entre as dimensöes 'experiéncia/realidade' e 'linguagem': "But because we are in the world, because we are affected by situations, and because we orient ourselves comprehensively in those situations, we have something to say, we have experience to bring to language" [sublinhado por mim] (1976: 20-21). O processo de transpor para a esfera da linguagem o conhecimento do 'fundo' ('Hintergrund') antropológico aqui citado vai ao encontro do conceito de "das Worten der Welt" de Weisgerber (1964: 74-83)128. Sobre o termo e o conceito Das Worten der Welt, veja-se a seguinte explicagäo de Weisgerber (1964: 76): "Das Worten der Welt. (...) Dieser Ausdruck [das Worten] ist 1954 eingeführt worden mit dem Ziele, einen prägnanten Hinweis auf den Kernvorgang der Sprache zu gewinnen. Es handelt sich um eine effektive Bildung; so wie zu Fürst ein Verb fürsten = zum Fürst machen, zu Knecht ein knechten = zum Knecht machen gehört, so kann zu Wort ein worten gebildet werden, um den Prozeß des zu Wort-Machens hervorzuheben, und, da zu Sprache ein ^sprachen 112 As expressöes do bloco sinonímico Ba 7.2 těm como base o significado 'participar numa cerimónia fúnebre', significado que é perspectivado de vários ángulos: a expressäo (1) sugere que participar num funeral é prestar uma ultima homenagem ao ente falecido; as expressöes (2) a (4) evocam a ideia de que participar num funeral é acompanhar o defunto na sua ultima viagem; por ultimo, as expressöes (5) a (7) focalizam a parte final da cerimónia fúnebre, mais precisamente, o cortejo fúnebre que consiste em acompanhar o defunto até ao local da sepultura. Assim, o significado 'participar numa cerimónia fúnebre' pode ser transmitido a partir de qualquer uma das trés perspectivas acima. Está-se perante expressöes diferentes que convergem para o mesmo significado idiomático. Voltemo-nos, agora, para a análise da relacäo de sinonímia entre as expressöes eufémicas do campo semäntico Ba 7.2, em particular as expressöes (1) a (4). As expressöes (2) e (3) apresentam a mesma combinacäo sintagmática, constatando-se apenas uma diferenca no que respeita os elementos nucleares das expressöes - Weg e Gang -, lexemas que, como já foi mencionado, säo sinónimos fora do contexto idiomático. Os elementos constituintes destas expressöes conservam no contexto idiomático os seus significados enquanto formas livres. Ao comparar o contexto sintagmático das expressöes (2) e (3) com o contexto da expressäo (4) verificamos que: (i) nas expressöes (2) e (3) a nocäo de 'acompanhar alguém', nocäo comum ao significado das trés expressöes, é transmitida pelo verbo begleiten ; (ii) na expressäo (4) a mesma nocäo é expressa pela locucäo Geleit (nomen actionis) + geben (verbo suporte). O constituinte geben na construcäo jm. das (letzte) Geleit geben é considerado um verbo suporte de predicacäo. Como tal, a sua funcäo resume-se ao apoio prestado ao substantivo Geleit, elemento que funciona como núcleo semäntico da expressäo. Regra geral, o significado das construcöes com verbo suporte pode ser explicitado recorrendo a um verbo dotado de sentido pleno. O substantivo que Consta da construcäo com verbo suporte exprime a accäo á qual o verbo de sentido pleno faz referenda. De acordo com estas observacöes é possivel concluir que a expressäo composta por 'substantivo + verbo suporte' (jm. das Geleit geben) e o verbo em sentido pleno (jn. begleiten) säo sinónimos. schwerer zu passen scheint, ist dieses Worten gewählt, um den gesamten Vorgang der sprachlichen Weltgestaltung, des Überführens in Sprache zu begreifen. Diese Prägung hat noch den Vorzug, daß sie leicht zwei Weiterbildungen ermöglicht (...): verworfen und erworten, das erstere für das Überführen von etwas bereits Bestehendem in Sprache, das letztere für produktive Eigenschöpfungen der Sprachkraft". 113 Passa-se em seguida a analisar o campo semäntico Ba 3.7 cujo arquiconceito é sich töten ('suicidar-se'): Ba 3.7 1 den Gashahn aufdrehen 2 Tabletten nehmen 8 sich die Pulsadern aufschneiden/öffnen 9 sich vor den Zug/vor die Straßenbahn/in die 3 Schlaftabletten nehmen 4 sich aus dem Fenster stürzen/aus dem Fenster Ruhr/... werfen/schmeißen 10 sich in sein Schwert stürzen 11 den Giftbecher nehmen/(trinken/leeren) springen 5 ins Wasser gehen 6 zum Strick greifen 12 den Becher nehmen/(trinken/leeren) 13 den Schierlingsbecher nehmen nehmen 7 sich eine Kugel durch/in den Kopf schießen/jagen (trinken/leeren) 14 sich von den Felsen/... in die Tiefe stürzen Se nos fixarmos agora na articulacäo entre o arquiconceito 'suicidar-se' e o conjunto das expressöes idiomáticas aqui expostas, verificaremos que as expressöes acima exprimem formas diversas de como uma pessoa se pode suicidar, melhor dizendo, exemplificam formas de suicídio. A exemplificacäo de determinado conceito encontra a sua motivacäo em casos reais de tentativas de suicídio. O processo de exemplificacäo pressupöe um conhecimento dos casos ou dos exemplares, que possam elucidar o conceito em questäo. E do conhecimento geral que uma pessoa que corte os próprios pulsos ou se deite de uma janela abaixo tem a intencäo de se suicidar. Estä-se perante formas diferentes que těm o mesmo fim, isto é, correspondem á mesma ideia. Quer isto significar, em primeiro lugar, que o conhecimento que possuimos dessa realidade e desses casos concretos serve de base ou pano de fundo para a realizacäo linguística da ideia 'suicidar-se'. Neste sentido, podemos dizer que "die Welt hat für den Menschen Bedeutung, und diese Bedeutung wird in 'Worte' umgesetzt" (Schemann, 2003: 109). Em segundo lugar, ha que abordar no quadro da sinonímia idiomática a inter-relacäo entre 'a ideia' e as unidades linguisticas que exprimem essa ideia. A articulacäo entre estes dois planos fica bem patente na seguinte citacäo retirada da obra Bild - Sprachbild - Weltbild -Phantasiebild de Schemann: "Wer nach der Wesensbestimmung des Worts fragt, wird von einem grundlegenden 'Widerspruch' oder 'Zwiespalt' ausgehen müssen: auf der einen Seite haben wir eine 'Bedeutung', oder einen 'Begriff oder eine 'Idee' oder eine 'Gestalt' - die Termini sind je nach den methodologischen Ansätzen und Hintergründen äusserst unterschiedlich; auf der anderen Seite 'bezeichnet' oder 'bezieht' (...) es (sich) (immer) auf ein Vielfaches, und zwar ein Vielfaches, (...), in vielfacher Hinsicht" (Schemann, 2005: 9). 114 Assim visto, a relacao de interdependéncia entre 'a ideia' e o conjunto das expressoes que a sugerem assenta na oposicao 'unidade - multiplicidade'. A nocao de 'unidade' pressupoe a nocáo de 'multiplicidade' e vice-versa, uma vez que é a partir do 'multiplo' que é possível constituir o 'uno' e é a partir do 'uno' que é possível derivar o 'múltiplo'. Aplicando esta oposicao ao bloco sinonimico em análise, facilmente se reconhece que o conceito 'suicidar-se' corresponde á 'unidade' que pode ser desdobrada em multiplas expressoes que a exemplificam. Deste ponto de vista, e abstraindo das diferencas específicas inerentes a cada uma das formas ou exemplos de suicídio, é possível afirmar-se que as expressoes que compoem o campo semántico Ba 3.7 sao sinónimas. Todas as accoes representadas por essas expressoes conduzem á mesma consequéncia. Noutros termos, os diferentes antecedentes těm o mesmo consequente. Está-se perante a sinédoque dinámica enquanto factor constitutivo de sinonimia. Examinando agora a sinonimia no interior do bloco Ba 3.7 da perspectiva dos eufemismos, podemos falar de uma subdivisao em dois grupos: por um lado, as expressoes que sugerem o acto de suicídio de forma explícita, nao sendo necessária uma contextualizacao para que as mesmas exprimam o significado 'suicidar-se' (4, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 13, 14); por outro lado, expressoes que tomadas isoladamente, isto é, fora do contexto do campo semántico, possuem o significado literal dos seus constituintes (1,2, 3, 5, 12). Atente-se, por exemplo, nas expressoes Schlaftabletten nehmen, ins Wasser gehen e den Becher nehmen/trinken/leeren que descontextualizadas significam literalmente 'tomar comprimidos para dormir', 'ir para a água' e 'tomar/beber/esvazear o copo' respectivamente. E precisamente no contexto do campo semántico configurado pelo arquilexema sich toten que as expressoes deste segundo subgrupo de sinónimos funcionam como eufemismos, isto é, sugerem a ideia de suicídio implicitamente. Em sintese: estas expressoes constituem variacoes da mesma ideia. 3.2. A PERSONIFICACÁO Nesta seccáo pretendo indagar e sistematizar, a partir da análise de expressoes que assentam no processo da personificacáo, os factores intervenientes na constituicáo de expressoes sinónimas. Segundo Fontanier, o processo de personificacáo 115 "consiste á faire ďun étre inanimé, insensible, ou ďun étre abstrait et purement ideal, une espěce d'etre réel et physique, doué de sentiment et de vie, enfin ce qu 'on appelle une personne; et cela, par simple fagon de parier, ou par une fiction toute verbale, s 'il faut le dire. Elle a lieu par métonymie, par synecdoque, ou par métaphore" (1968: 111). Tal como a forma verbal 'personificar' indica, está-se perante urn mecanismo que envolve dotar entidades inanimadas, que näo těm vida, de caracteristicas especificas de entidades animadas através do recurso a meios linguísticos como a metafora, a sinédoque e a metonímia. Assim sendo, importa captar com rigor (i) os pressupostos que motivam o acto de personificar; (ii) os meios de expressäo que säo utilizados para realizar o processo de personificacäo; (iii) a interaccäo e a interrelacäo entre os pontos (i) e (ii) e o estudo da sinonímia ao nível das expressöes idiomáticas. Para tal, torno como ponto de partida a análise do bloco sinonímico Ca 4.16 subordinado ao arquilexema dick - dünn, mager ('gordo - magro, esguio'), arquilexema que se enquadra no campo semäntico äußeres Erscheinungsbild ('aspecto exterior'/' aparéncia exterior') do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten: Ca 4.16 1 spindeldürr (sein) 2 ein dürres Gerippe sein 3 ein wandelndes Gerippe sein 4 ein (richtiges/wandelndes) Skelett sein 5 ein richtiges/... Klappergestell sein A primeira questäo que se coloca diz respeito á correlacäo entre as ideias que estäo na origem das expressöes (1) a (5) e o conceito 'pessoa extremamente magra'. O facto de recorrermos as imagens de um fuso (Spindel), de um esqueleto (Gerippe, Skelett), de um cavalete (Klappergestell) para designarmos ou descrevermos uma pessoa extremamente magra, sugere a existéncia de uma base de comparacäo na medida em que a condicäo de extrema magreza em que uma pessoa se encontra faz lembrar ou evocar a ideia de um fuso (= objecto fino, estreito), um esqueleto (= a estrutura össea de um corpo morto na posicäo vertical). A pessoa dá-nos a impressäo da coisa (fuso, esqueleto, cavalete). Tal pressupöe a existéncia de uma relacäo de semelhanca ou de parecenca entre a fisionomia de uma pessoa extremamente magra e determinadas caracteristicas especificas dos objectos designados pelos termos 'fuso', 'esqueleto' e 'cavalete'. E nesta relacäo de parecenca entre o objecto e a pessoa que se constrói o processo de personificacäo. Destas observacöes, é possível deduzir-se que um objecto que possua os tracos característicos 'fino, estreito, delgado' pode servir de base para a criacäo de uma 116 locucäo que exprima a ideia 'pessoa extremamente magra', isto e, uma expressäo que seja sinönima da expressäo (1), Spindeldürr sein/dürr wie eine Spindel sein. Os exemplos dürr wie ein Besenstiel sein ('ser magro como um cabo de vassoura') e stockdürr ('ser magro como um pau ou uma bengala') säo ilustrativos do acima exposto: abstraindo do traco 'mais ou menos longo', o cabo de uma vassoura, um pau e uma bengala säo objectos finos, com pouco diämetro, caracteristica que estabelece a relacäo de semelhanca com o estado fisico de uma pessoa muito magra. Efectuada a reflexäo sobre os pressupostos que orientam o surgimento das expressöes (1) a (5) e a sua relacäo com a ideia em questäo, analisemos em seguida, com algum pormenor, as expressöes e os seus constituintes. A expressäo (1) apresenta como lexema nuclear o adjectivo spindeldürr, palavra composta constituida pelo substantivo Spindel e o adjectivo dürr ('magro'), que pode ser parafraseada por meio de uma förmula que estabelece uma comparacäo: so dürr wie eine Spindel sein ('ser täo magro como um fuso'). Importa, neste ponto, chamar a atencäo para um aspecto que serä tratado de forma pormenorizada na seccäo seguinte. Repare-se que a comparacäo subjacente äs expressöes aqui em anälise - so dürr wie eine Spindel/ein Besenstiel/ein Stock/ein Klappergestell/ein Gerippe sein - e de natureza ficcional ou irreal. De facto, estas expressöes focalizam de tal forma a caracteristica 'fino/delgado/estreito' dos objectos designados que estas däo a ideia de que estes objectos näo possuem outras caracteristicas. Isto significa que a caracteristica focalizada e apresentada como caracteristica ünica dos objectos designados. Uma vez que no mundo real a ideia da caracteristica ünica näo existe, estas expressöes caracterizam-se pela ficcäo da unicidade (unicite (Schemann, 2003: 126-128)). Ao focalizar a unicidade de determinada caracteristica, estou a dizer que o objecto em questäo possui esse traco num grau muitissimo elevado129. Cabe ainda referir que o lexema dürr näo so designa o aspecto fisico de extrema magreza, como ainda se encontra associado ä ideia da falta de vida e vivacidade. Repare-se nas locucöes dürrer Boden ('solo ärido e improdutivo'/'solo magro') e dürres Laub ('folhagem seca') em oposicäo äs locucöes fruchtbarer Boden ('solo fertil') e frisches!grünes Laub ('folhagem verde'). Tratam-se de exemplos que se enquadram em dominios semänticos opostos: 'vida' (Leben) -'morte' (Tod) e 'säo/de boa saüde' (gesund) - 'doente' (krank). Reportando-nos de 129 Como teremos oportunidade de verificar na seccäo sobre a comparagäo, Schemann (2003: 114-115) descreve este tipo de comparagäo como sendo 'totalisierend' (totalizante). 117 novo ás expressöes (1) a (5) do bloco sinonímico Ca 4.16, podemos afirmar que estas expressöes těm como ponto comum o facto de se basearem na ideia de que uma pessoa extremamente magra apresenta uma aparéncia doentia, um ar de quem näo tem saúde, de quem näo tem vida. Este aspecto manifesta-se, em primeiro lugar, nos constituintes nucleares das expressöes (Spindel, Gerippe, Skelett, Klappergestell) que estabelecem uma referenda com entidades inanimadas; em segundo lugar, o sentido do lexema Skelett, i sto é, a estrutura óssea de um corpo morto e descarnado, está intimamente ligado a nocöes de mořte, tais como a auséncia de vida e a imobilidade. Como procurei mostrar com as observacöes acima, a relacäo de sinonímia entre as expressöes do bloco Ca 4.16 estabelece-se com base nos factores que passo a enumerar: (i) os constituintes Spindel, Gerippe, Skelett, Klappergestell, Besenstiel, Stock säo 'exemplos' de objectos finos e delgados. E, portanto, por meio do processo da sinédoque exemplificativa que estas expressöes evocam a mesma ideia - 'pessoa extremamente magra'; (ii) as expressöes assentam numa mesma pressuposicäo: uma pessoa extremamente magra näo tem saúde ou vitalidade; (iii) a natureza ficcional -ficcäo da unicidade - que caracteriza a comparacäo subjacente äs expressöes. 3.3. A COMPARACÄO Nesta seccäo proponho-me analisar a sinonímia no seio dos blocos de expressöes do Synonymwörterbuch cujas unidades estabelecem comparacöes. Os objectivos deste estudo säo, portanto, (i) examinar os pressupostos sobre os quais as expressöes de determinado bloco de unidades assentam, avaliando as semelhancas e diferencas; (ii) clarificar a dinämica que se estabelece entre os pressupostos e o significado idiomätico das expressöes; (iii) propor, com base nas conclusöes dos passos (i) e (ii), uma tipologia de factores que desempenham um papel fulcral no que respeita a comparacäo no dominio das expressöes idiomäticas. Damos inicio ä nossa reflexäo com a análise das expressöes reunidas no bloco sinonímico Ca 3.4, bloco que integra o campo semäntico delimitado pelos arquilexemas stark - kräftig ('forte - robusto - vigoroso'): 118 Ca 3.4 1 ein (richtiger/rechter) Bär sein 2 ein Kerl wie ein Bär sein 3 stark wie ein Bär sein 4 Bärenkräfte haben 5 Kräfte wie ein Bär haben 6 Kraft haben wie ein Berserker 7 Kräfte haben wie ein Berserker 8 stark wie ein Löwe sein Observe-se antes de mais que este bloco de expressöes pode ser subdividido em dois grupos de unidades: por um lado, as expressöes (1) a (7), que significam literalmente 'ser forte como um urso'/'ter a forca de um urso'130, isto e, expressöes que estäo de forma mais ou menos explicita ligadas ao animal que na lingua alemä e designado pelo lexema Bär; por outro lado, a expressäo (8), 'ser forte como um leäoV'ter a forca de um leäo', que deixa transparecer a ligacäo desta com o animal que na lingua alemä e designado pela palavraZöwe. Trata-se, como se ve, de expressöes que apresentam como referenda ou base de comparacäo (Vergleichsgrundlage) um animal: o urso ou o leäo. Neste ponto pöe-se o problema de tentar perceber como se da o nexo entre o animal (urso/leäo) e o significado idiomätico da expressäo - 'ser forte/vigoroso/robusto'. O lexema Bär tornado como forma livre refere-se a um animal que conhecemos como sendo de grande corpulencia e potencia fisica. Ao proferir um enunciado como o seguinte estou a comparar a constituicäo fisica do individuo que estou a descrever com a constituicäo e forca fisica do animal: "Kein Wunder, daß er solche Bärenkräfte hat! Er ißt auch für drei"131. Por outras palavras, a estatura e a forca fisica do individuo fazem lembrar a robustez fisica de um urso132. Se compararmos as expressöes (1) a (7) com as expressöes idiomäticas eine Bärenkonstitution haben ('ter uma constituicäo de ferro/aco'), eine Bärennatur haben ('ter uma constituicäo de ferro'; 'ser rijo que se farta'; 'ser säo como um pero') e eine Bärengesundheit haben ('ter uma saüde de ferro'; 'ter saüde para dar e vender'), expressöes sinönimas que no piano literal significam 'ter a saüde de um urso', parece ser possivel dizer que ambos os grupos de expressöes assentam na ideia do urso enquanto animal forte e vigoroso, verificando-se uma extensäo ou prolongamento de caräcter metaförico da esfera do fisico para a esfera do abstracto: o aspecto de robustez fisica estä associado ä ideia de saüde, de vida e vitalidade. Como acabämos de demonstrar, o lexema Bär no quadro da lingua e culturas 130 Cf. a expressäo equivalente emportugues: ser forte como um touro; ter a forca de um touro. 131 Este exemplo encontra-se no Dicionärio Idiomätico Alemäo - Portugues (Schemann, 2002) integrado na entrada correspondente ao lema Bärenkräfte. 132 E conveniente acentuar que estas expressöes reflectem apenas uma forma de olhar para ou perspectivar o animal denominado de 'urso'. 119 alemäs aparece como expressäo de robustez no piano físico e por extensäo metafórica de robustez no piano abstracto (condicäo de saúde fisica, mental, psicológica). A condicäo de simbolo do animal que na lingua alemä é designado por Bär influi na lexicalizacäo da relacäo 'expressäo literal (ein rechter Bär sein - 'ser um auténtico/verdadeiro urso') - significado idiomätico ('ter muita for9a')'. Reportando-me de novo ao bloco sinonimico Ca 3.4, direi que as expressöes (1) a (5) säo sinónimas pelas seguintes razöes: (i) baseiam-se na mesma referencia ou base de compara9äo, o urso enquanto simbolo de robustez física e de saúde; (ii) intimamente ligado ao ponto anterior está o facto destas expressöes manifestarem o mesmo significado idiomätico -'ter muita for9a'. Postas estas observa9Öes, importa determo-nos um pouco sobre a liga9äo entre as expressöes (1) a (5) e as expressöes (6) e (7). Trata-se, pois, de descortinar de que forma o significado do lexema Berserker se relaciona com o animal - Bär - e a ideia que este simboliza. Segundo informa Röhrich133, o lexema Berserker designava em antigo nórdico a pele de urso - Bärenfell. Nas regiöes Norte da Europa os guerreiros tinham como prática cobrir o corpo com a pele de urso como forma de intimidar o inimigo. Na base deste comportamento estava a cren9a popular de que o guerreiro disfar9ado de urso adquiria o poder e a for9a do animal cuja pele ele 'vestia', assumindo, assim, caracteristicas do animal. A partir daqui compreende-se facilmente que o vocábulo Berserker tenha sofrido urna evolu9äo semäntica de natureza metafórica (metafora classemática) e metonímica (metonímia do signo/símbolo), passando também a designar o guerreiro vestido de pele de urso: Krieger im Bärenfell134. Verificou-se ao longo do tempo urna transforma9äo semäntica deste significado mais estrito do lexema Berserker em direc9äo á generaliza9äo: o lexema passou a designar qualquer indivíduo que apresenta urna estatura robusta. Tendo em conta que, por um lado, o lexema Berserker sincronicamente näo deixa transparecer a sua liga9äo com o animal - urso - e, por outro, os guerreiros acima descritos pertencem a um período histórico longínquo, näo é de estranhar que apenas urna pessoa familiarizada com factos e aspectos da condÍ9äo 133 Cf. a informacäo documentada no artigo indexado com a palavra-chave Berserker que figúra no Das große Lexikon der sprichwörtlichen Redensarten, doravante designado de Röhrich, (Röhrich, 1991, Vol. 1: 176): "Berserker, aus dem Altnord, [ischen] entlehnt, war urspr. [ünglich] nur die Bezeichnung] für das Bärenhemd" (serkr = Hemd, Gewand; Ber = Bär), in das sich die skandinavischen Krieger hüllten, um die Kraft des Bären durch das Fell auf sich zu übertragen". 134 A figúra do guerreiro vestido de pele de urso é uma constante nas lendas nördicas: "Die altisländ.[ische] Saga berichtet von ihrer [den Berserkern] blinden, tierischen Wut, der nichts widerstehen konnte, obwohl sie ohne Waffen kämpften" (ibidem: 176). De acordo com esta citagäo retirada do artigo correspondente á palavra-chave Berserker, as lendas evidenciám o comportamento feroz dos guerreiros e a fúria cega com que estes actuavam. 120 humana dessa epoca ou um individuo conhecedor das lendas, das narrativas fabulosas ou dos mitos pröprios do povo escandinavo, estarä em condicöes de estabelecer uma ligacäo entre as expressöes Kraft/Kräfte haben wie ein Berserker e o sentido etimolögico da palavra Berserker. Este processo de opacificacäo semäntica leva ä fixacäo das unidades linguisticas (6) e (7) ao significado idiomätico 'ser forte/vigoroso/robusto'. Assim visto, a relacäo de sinonimia entre as expressöes (6) e (7) e as expressöes (1) a (5) deve-se, no meu entender, ao facto de, näo obstante a opacidade semäntica acima referida, as expressöes (6) e (7) assentarem, como ficou demonstrado, na mesma base de comparacäo das expressöes (1) a (5), nomeadamente o urso enquanto simbolo de robustez fisica e de saüde. Convem notar que ao dizer-se que o urso possui o estatuto de simbolo estä a dizer-se que este animal e o expoente mäximo da caracteristica a ele associado. Por outras palavras, o urso simboliza o grau mais elevado possivel (höchster Grad) de robustez fisica. Outro aspecto que se deve ter em conta na anälise da relacäo de sinonimia entre as expressöes (1) a (7) e a estrutura de comparacäo que estä presente de forma explicita ou implicita em todas as unidades: stark wie ein Bär sein. Reencontramos aqui a questäo da ficcäo da unicidade. Resta-me considerar a integracäo da expressäo (8), stark wie ein Löwe sein, no bloco sinonimico Ca 3.4. Neste exemplo, o animal que serve de base de comparacäo para designar um individuo que revele grande forca fisica e o leäo. Comparando as caracteristicas fisicas do leäo e do urso e o comportamento destes nos seus respectivos habitats, parece ser possivel afirmar-se que se e verdade que os dois pertencem ä classe dos animais tidos como 'fortes', 'vigorosos' e 'destemidos', tambem e verdade que comparar a 'forca' de uma pessoa com aquela de um urso ou de um leäo näo resulta no mesmo, dado que estamos perante 'forcas' e 'poderes' de natureza diferente. Posto isto, impöe-se reconhecer que a expressäo - stark wie ein Löwe sein - näo se enquadra no conjunto sinonimico composto pelas expressöes (1) a (7). Percorrendo o Synonymwörterbuch, encontramos com significativa frequencia expressöes que apresentam constituintes que designam um animal ou algum aspecto especifico associado a determinado animal. E interessante consultar a seccäo introdutöria da obra Deutsche Idiomatik (1993: CIV-CX) de Schemann que apresenta uma relacäo dos animais que aparecem como constituintes lexicais nas expressöes idiomäticas alemäs com a indicacäo dos respectivos significados lexicalizados. 121 De acordo com este linguista, o lexema Hund ('cäo') e de todos os lexemas que se referem a animais no ämbito da idiomätica alemä o estatisticamente mais frequente (ibidem: civ). O esclarecimento desta observacäo assenta, como vemos abaixo, no nümero extenso de significados idiomäticos que estäo vinculados ao lexema Hund: "Hund: bissig, dumm, gemein; Tier, das sehr friert; Beispiel für 'jedweder'/'wie man nicht sein soll'; müde; Tier, das anderen nachläuft; treu; Tier, das nichts hat/elendig ist, heruntergekommen, bekannt, falsch, faul, feige, frech, gerissen, räudig, scharf-durchgreifend, dick; Beispiel für etwas, was aus dem Rahmen fälhVungehörig/'dick' ist; Tier, das man prügelt/begräbt/schlecht behandelt/das scheißt, Fährten folgt/sich (gewöhnlich) nicht erbarmt; Feind der Katze; Tier, das man an der Leine führt, dressiert/das hinter dem Ofen sitzt/Brot nimmt/beißt/schlecht behandelt wird/erbärmlich lebt/bellt (aber nicht mit dem Schwanz), aufpaßt; das andere hetzt; Beispiel für 'große Tropfen' (Regen)" (ibidem: CV). Esta citacäo permite captar claramente o que estä em causa no processo que Schemann descreve como "Umsetzung von Welt und Umwelt in (neue) Bedeutungen" (ibidem: CIV). Vejamos os seguintes exemplos ilustrativos: etw. tun/findet statt/..., wenn die Hunde mit dem Schwanz(e) bellen135; jm. nachlaufen wie ein Hund136; wissen, wo der Hund begraben liegt131; jn. wie einen (räudigen) Hund behandeln13*; ein fauler Hund sein139; die schönsten/... Gedanken/Gedichte/... vor die Hunde werfen140; wie Hund und Katze sein/miteinander umgehen141; treu wie ein Hund sein142; wie ein Hund leben143. Como explicar a relacäo entre o sentido literal destas expressöes e o respectivo sentido transposto, isto e, como justificar a genese destas expressöes idiomäticas, a näo ser pela familiaridade e intimidade que o hörnern tem com o cäo enquanto animal domestico. Na sequencia do que ficou registado, fica bem patente que a relacäo 'hörnern - animal' desempenha um papel decisivo no dominio da idiomätica, isto porque constitui termo bäsico de referenda para a criacäo das expressöes idiomäticas apresentadas. A importäncia do conhecimento que deriva da convivencia do hörnern com os animais, hä ainda que acrescentar um elemento ao qual jä aludi aquando da anälise da sinonimia no 135 Port.: significado literal-fazer qc/qc terä lugar/... quando os cäes ladrarem com o rabo. 136 Port.: andar aträs de alg (que nem um cäo aträs do dono). 137 Port.: significado literal - saber onde o cäo se encontra enterrado; equivalente - saber onde estä o busilis da questäo. 138 Port.: tratar alg como um cäo; tratar alg abaixo de cäo. 139 Port.: ser um cäopreguiqoso. 140 Port.: sentido literal - deitar/jogar os pensamentos/os poemas/... mais lindos aos cäes; equivalente - deitar perolas a porcos; significado idiomätico - dar qc valiosa a alg que näo a sabe apreciar ou näo Ihe da o devido valor 141 Port.: ser como o cäo e o gato. 142 Port.: ser fiel como um cäo. 143 Port.: levar (uma) vida de cäo. 122 bloco Ca 3.4, nomeadamente o conhecimento que provém das representacöes simbólicas dos animais nas fontes literárias (Tiersymbolik). As diversas consideracöes que tenho vindo a fazer těm como objectivo mostrar a centralidade que a formula 'animal y —► simbolo x' (Tiersymbolik) assume para se compreender e explicar a sinonimia no seio de grupos de expressöes que apresentam como base de comparacäo ou de referenda o mesmo animal, caso do bloco sinonimico Ca 3.4, e/ou expressöes que no piano literal se referem a animais diferentes, animais que, no entanto, säo simbolos da mesma caracteristica ou do mesmo fenómeno. Pensemos, por exemplo, nas expressöes pertencentes ao campo semäntico Aa 11, campo delimitado pelo arquilexema sich Zeit lassen ('näo ter pressa de'), - (so) geduldig sein wie ein Schaf ('ser (täo) paciente como uma ovelha')/(so) geduldig sein wie ein Lamm ('ser (täo) paciente como um cordeiro')144 - ou nas expressöes que se enquadram no campo semäntico Aa 14, campo delimitado pelo arquilexema (ganz) schnell ('(muito) räpido') - (so) flink wie ein Wiesel sein ('ser (täo) rápido/ágil como uma doninha')/(so) flink wie eine Maus sein ('ser (täo) rápido/ágil como um rato'). Podemos, entäo, concluir que os factores que influem na relacäo de sinonimia entre as expressöes idiomáticas aqui em análise säo: em primeiro lugar, a relacäo 'hörnern - animal'; em segundo lugar, a construcäo sintáctica (so) x wie y; em terceiro lugar, o estatuto do animal enquanto simbolo, isto é, a relacäo 'animal —► simbolo'; intimamente ligado a este ultimo factor está a ficcäo da unicidade e a ideia 'grau mais elevado possivel' (höchster Grad) da caracteristica em foco. Passemos agora a considerar as expressöes do bloco Ca 1.31 com o objectivo de examinar outros factores que servem de suporte á constituicäo de expressöes idiomáticas que contém ou estabelecem uma comparacäo e, subsequentemente, analisar o contributo destes factores para a sinonimia: Ca 1.31 1 wie ausgekotzt aussehen 2 wie ein Gespenst aussehen 3 wie eine lebende/wandelnde Leiche aussehen 4 wie ein lebendiger Leichnam aussehen 5 (bleich) wie der (leibhaftige) Tod aussehen 6 bleich wie ein Lein(en)tuch (sein) 7 bleich wie Wachs sein/werden 8 wie das heulende/leibhaftige Elend aussehen 9 zum Gotterbarmen aussehen 10 wie das Leiden Christi aussehen 11 wie ein Schatten aussehen 12 (nur noch) ein Schatten seiner selbst sein 144 Port.: equivalentes - terpaciéncia de santo/de anjo/de Job. 123 Observe-se antes de mais que o bloco de expressöes acima integra o campo semäntico delimitado pelo arquilexema aussehen ('ter aspecto/ar de') e reüne unidades linguisticas que, abstraindo das diferencas no piano do significado literal, manifestam o mesmo significado idiomätico. Quer dizer, qualquer uma das doze expressöes pode ser empregue para exprimir a ideia de extrema/acentuada palidez (bleich sein). Proponho-me abordar em primeiro lugar as expressöes (6) e (7), unidades que apresentam como termos de comparacäo os lexemas Leinentuch ('pano de linho') e Wachs ('cera'). Em seguida procedo a uma anälise das expressöes cujos lexemas nucleares mantem uma ligacäo semäntica com a ideia da morte. Por ultimo, foco as expressöes (11) e (12) que possuem urn elemento em comum, nomeadamente o lexema Schatten ('sombra'). Comparando a expressäo (6) com a expressäo (7), podemos depreender o seguinte: (i) Estamos, em ambos os casos, perante a mesma estrutura sintagmätica: bleich/weiß + wie + {ein Leinentuch/Wachs} + sein/werden. (ii) A variacäo paradigmätica que se verifica entre os lexemas Leinentuch e Wachs deve-se ao facto destes lexemas designarem objectos ou substäncias de cor branca ou amarelada. Quando alguem se refere a uma pessoa como estando bleich wie ein Leinentuchlbleich wie Wachs ('pälida/branca como um pano de linho'/'pälida como cera'), estä a comparar a cor pälida que a pessoa apresenta com a cor do objecto 'pano de linho', ou a cor da substäncia 'cera'. Uma vez que a base da comparacäo incide sobre a cor e näo o objecto ou a substäncia em si, segue-se que os constituintes Leinentuch e Wachs säo no contexto lexemätico acima empregues de forma metonimica: o emprego do objecto ou da substäncia pela cor que caracteriza esse mesmo objecto ou substäncia. (iii) A fixidez no piano sintagmätico, por um lado, e a fixidez no piano paradigmätico, situacäo que deriva das afinidades semänticas existentes entre os constituintes Leinentuch e Wachs (cor branca ou amarelada), por outro, säo factores decisivos para a formacäo de novas expressöes com o mesmo significado idiomätico. Vejamos, a titulo de exemplo, as seguintes expressöes: bleich/weiß wie Kreide sein/werden ('estar/ficar pälido/branco como giz/gesso'); weiß wie Kalk sein/werden ('estar/ficar branco como cal'); bleich/weiß wie die Wand sein/werden ('estar/ficar pälido/branco como a parede'). Como se ve, estas unidades satisfazem as condicöes formais e semänticas acima referidas: bleich/weiß + wie + x (de cor branca/amarelada) + sein/werden. Trata-se de uma 124 construcäo que funciona como padräo (Schablone) a partir do qual é possível formar uma série de variantes que exprimem a mesma ideia. Este processo de formacäo de expressöes variantes também se encontra ligado ao facto de os lexemas Leinentuch/Wachs/Kreide/Kalk designarem objectos ou substäncias que säo exemplos de objectos ou substäncias que apresentam urna coloracäo branca ou amarelada. Está-se, portanto, perante a sinédoque exemplificativa enquanto factor constitutivo de sinonimia. (iv) Impöe-se reconhecer que circunstäncias há em que o emprego das expressöes em questäo - a referencia á coloracäo branca ou amarelada da pele de uma pessoa [+ humano] - está necessariamente ligado á ideia de pouca saude ou doenca e falta de vivacidade. Assim, neste contexto, a cor branca e a cor amarelada simbolizam o estado de saúde debil de uma pessoa (Farbsymbolik). Pelo exposto, se depreende que a constituicäo das expressöes idiomáticas em análise e a sinonimia que se estabelece entre as mesmas dependem (i) da associacäo por contiguidade entre o objecto ou a substancia que serve de termo de comparacäo no piano literal da expressäo e a cor que o/a caracteriza; (ii) a sinédoque exemplificativa; (iii) a construcäo (so) y (bleich) wie x que funciona como padräo; (iv) da formula 'cor j; —► simbolo x' (Farbsymbolik). Para ilustrar a releväncia destes factores no dominio da idiomática, tome-se em consideracäo o seguinte bloco de expressöes cujas unidades apresentam como denominador comum o constituinte schwarz ('preto', 'negro'). Cabe ainda referir que este bloco faz parte do campo semäntico Ac 5 que se encontra delimitado pelo arquilexemaFarben ('as cores'): Repare-se, primeiramente, que, á semelhanca do que se verifica em relacäo ás expressöes que se baseiam na estrutura bleich/weiß + wie + x (de cor branca/amarelada) + sein/werden, as expressöes do bloco Ac 5.10 caracterizam-se pela sua fixidez estrutural: (i) schwarz + wie + x (de cor muito negra/escura) (+ sein) ou (ii) x (de cor Ac 5.10 1 pechschwarz 2 schwarz wie Pech (sein) 3 schwarz wie Kohle (sein) 4 rabenschwarz 6 schwarz wie Ebenholz (sein) 7 schwarz wie die Nacht (sein) 8 schwarz wie der Teufel (sein) 5 kohlrabenschwarz 125 muito negra/escura) + schwarz. No entanto, ao contrario do que sucede com as expressöes bleich/weiß wie x sein, as expressöes (1) a (8) do bloco Ac 5.10, unidades que, mutatis mutandis, realizam o mesmo significado idiomätico 'muito escuro/negro', apresentam restricöes semänticas. Quer isto dizer que algumas destas expressöes se encontram 'presas' a determinados contextos semänticos especificos: O emprego da expressäo schwarz wie Ebenholz sein ('ser preto como ebano') restringe-se ä descricäo de cabelos que apresentam como cor um negro brilhante; quanto ä expressäo schwarz wie der Teufel sein ('ser escuro como o diabo'), refira-se que e possivel, gracas ao simbolismo da figura do diabo ou do demönio nas religiöes judaica e crista e na tradicäo popular, reconhecer värios pontos de contacto entre a palavra schwarz e o lexema Teufel. Limito-me aqui a mencionar a ligacäo metonimica do lexema Teufel com lexemas, como, por exemplo, die Hölle ('o Inferno'), das Reich der Schatten ('o reino das trevas'), das Reich des Bösen ('o reino do mal'), que se referem ao lugar 'sombrio' onde habita o demönio. Dai ser possivel a substituicäo do lexema Teufel na expressäo (8) pelas locucöes acabadas de introduzir: schwarz wie {die Hölleldas Reich der Schattenidas Reich des Bösen) (sein). Estamos, portanto, na presenca de expressöes que constituem variantes gracas ä relacäo metonimica que existe entre o lexema Teufel e os lexemas die Hölleldas Reich der Schattenidas Reich des Bösen. Justamente porque o lexema Teufel designa a figura que representa o mal, o principe das trevas, a expressäo (8) contem implicita uma dimensäo moral. Vemos assim como a cor escura ou preta funciona como simbolo do mal (Farbensymbolik). Uma vez que esta dimensäo estä ausente nas restantes expressöes do bloco Ac 5.10, segue-se que a expressäo schwarz wie der Teufel sein näo se enquadra no conjunto sinonimico composto pelas expressöes (1) a (7). Importa ainda salientar que a condicäo de simbolo do diabo leva a que a expressäo schwarz wie der Teufel esteja associada ä nocäo de 'grau mais elevado possivel' (höchster Grad) da caracteristica schwarz ('preto'), falando metaforicamente, o grau mau elevado possivel do mal. Em segundo lugar, note-se que as expressöes (1) a (6) assentam numa base realista, isto e, na realidade tal como ela se apresenta. Para exprimir o significado 'muito preto/escuro' (tiefschwarz), toma-se como fönte de inspiracäo e de comparacäo objectos ou substäncias - Pech ('breu', 'asfalto', 'azeviche'), Kohle ('carväo'), Rabe ('corvo'), Ebenholz ('ebano') - que na realidade apresentam uma cor muito escura ou negra: algo e de tal modo escuro ou negro que faz lembrar o preto ou o escuro do asfalto/do carväo/do corvo/do ebano. Recorde-se que tambem no caso das expressöes bleich/weiß 126 wie ein Leinentuch/Wachs/Kreide/Kalk/die Wand sein/werden os termos de comparacäo designam objectos e substäncias que existem no mundo real: a pele da pessoa apresenta um tom branco ou amarelado que faz lembrar ou evoca a cor branca do pano de linho, do giz, da cal ou a cor amarelada da cera. Estas observacöes vem reforcar a ideia defendida por Schemann (2003: 114-115) de que a comparacäo no dominio da idiomätica pode ser de natureza realista na medida em que assenta no conhecimento objectivo de algo que existe, ja existiu ou poderä existir na realidade. Para alem do parämetro ligado ä realidade, Schemann aduz mais dois parämetros a partir dos quais se estabelece a comparacäo de caräcter idiomätico: "Der (idiomatische) Vergleich kann auf verschiedenen Ebenen liegen: (a) - er kann 'realistisch' sein; (b) - er kann totalisierend sein; (c) - er kann auf einer Leerformel beruhen" (Schemann, 2003: 114-115). Relativamente ao parämetro (b): a comparacäo opera de forma 'totalizante'. Veja-se, a titulo de exemplo, que ao empregar a expressäo so fleißig wie eine Biene sein ('ser täo trabalhadora/aplicada como uma abelha') para exprimir o significado 'sehr fleißig sein' ('ser muito trabalhadora') estou de certa forma a encarar a abelha como um insecto formado somente, melhor dizendo, 'totalmente' pela caracteristica 'Fleiß' ('esforco/aplicacäo'). Quanto ao parämetro (c): a comparacäo e tida como förmula vazia na medida em que ao pronunciar a estrutura so x wie y ('täo x comoy') - so dumm wie Bohnenstroh sein/so dumm wie das hinterste Ende vom Schwein sein/so dumm wie die Nacht finster sein/so dumm wie Stroh sein - o elemento de comparacäo ('Vergleichselement') e irrelevante. Isto porque o contexto lexemätico so + x + wie por si so suscita no ouvinte a ideia de 'grau muitissimo elevado' ('der höchster Grad'). Voltemos de novo a nossa atencäo para o bloco Ca 1.31. Feita a anälise das expressöes (6) e (7), aborda-se em seguida as expressöes que apresentam uma ligacäo estreita com a ideia da morte, a saber: as expressöes (2) a (5) e a expressäo (10). Podemos constatar, em primeiro lugar, que estas expressöes apresentam uma estrutura sintagmätica homogenea: wie + {ein Gespenst/eine wandelnde Leichelein lebendiger Leichnamlder (leibhaftige) Todidas Leiden Christi) + aussehen. Em segundo lugar, interessa analisar o que estä na base da interligacäo entre o sentido literal destas expressöes e o 127 significado idiomático - 'estar extremamente pálido/sem cor nas faces'. Verificamos, ao considerar o conjunto de constituintes que ocupam a posicäo x no contexto lexemático -wie + {x} + aussehen, que estes assentam no mesmo pressuposto: urn cadaver ou urn corpo morto apresenta, em oposicäo a urn corpo que transpira vitalidade, urn torn livido, esbranquicado, descorado. Trata-se, como se vé, de constituintes que se encontram de forma mais ou menos explícita associados á ideia de um 'corpo morto': (i) a palavra Gespenst designa um fantasma que é, por assim dizer, a aparicäo de uma pessoa morta; (ii) os lexemas Leiche, Leichnam145 designam explicitamente urn cadaver, urn corpo morto; (iii) o substantivo der Tod designa 'a morte', referindo-se no quadro da expressäo wie der leibhaftige Tod aussehen á morte que se apresenta em forma de pessoa; (iv) a locucäo das Leiden Christi significa literalmente 'a Paixäo de Cristo', locucäo que tomada no contexto lexemático em questäo aponta de forma metonimica para o (estado do) Corpo de Jesus Cristo depois da Paixäo, isto é, depois do martirio que levou á sua morte. Assim se explica que os constituintes Gespenst, Leiche, Leichnam, der (leibhaftige) Tod e das Leiden Christi se podem substituir entre si na posicäo x do contexto sintagmático wie x aussehen e os significados das expressöes no piano literal desemboquem todos no mesmo significado idiomático. E com base nestes aspectos que se pode dizer que as expressöes (2) a (5) e a expressäo (10) säo sinónimas e que é possível alargar esta série sinonímica para incluir expressöes cujos constituintes susceptiveis de ocupar a posicäo x da cadeia sintagmática wie x aussehen designem um corpo morto ou um cadaver. E o caso, por exemplo, da expressäo wie eine wandelnde Mumie aussehen ('parecer uma mumia ambulante'): o aspecto pálido e doentio da pessoa faz lembrar uma mumia. Como vemos, estas expressöes constituem variacöes da ideia da morte, em particular, a ideia de um corpo morto ou de um cadaver. Considerem-se ainda as expressöes (1), (8) e (9) do bloco Ca 1.31. Na expressäo (1) wie ausgekotzt aussehen o constituinte ausgekotzt deriva do verbo kotzen ('vomitar') que designa o processo convulsivo, regra geral, acompanhado de nauseas e salivacäo, pelo qual uma pessoa num estado de má disposicäo expele pela boca substäncias contidas no estömago ou substäncias orgänicas. Como é sabido, uma pessoa que se encontra numa situacäo destas näo tem boa cor, apresentando um aspecto de extrema palidez e de 145 Observando as locuQöes eine wandelnde Leiche e ein lebendiger Leichnam, verificamos que estamos perante expressöes personificadas, situagäo que resulta da tensäo que existe entre os substantivos Leiche ('cadaver') e Leichnam ('cadaver') marcados pelo traco [-animado] e os adjectivos wandelnd ('ambulante') e lebendig ('vivo') marcados pelo trago [+animado]. 128 fraqueza fisica. Segue-se tambem que a palidez pode ser comparada com a cor da substäncia que e expelida. Atente-se, por exemplo, na expressäo uma palidez biliosa. Parafraseando: a palidez da pessoa faz lembrar a cor amarelada ou esverdeada da bilis. Para terminar esta reflexäo sobre a rede de ligacöes que se estabelece entre o significado do lexema kotzen e o significado idiomätico da expressäo (1) refira-se a interseccäo entre o mau aspecto que a substäncia expelida no acto de vomitar tem e o mau aspecto que uma pessoa extremamente pälida e fisicamente debil apresenta. A expressäo (8), wie das leibhaftige Elend aussehen, significa literalmente 'parecer a dor ou o sofrimento em pessoa'. Quer isto dizer que o individuo se encontra num estado de tal forma deplorävel que provoca pena, dö, piedade. Dai a expressäo (9) zum Gotterbarmen aussehen ('ter um ar que mete dö'). Verifica-se, portanto, que ambas as expressöes exprimem a ideia da gravidade do estado da pessoa: 'de tal forma grave que parece o sofrimento em pessoa' e 'de tal forma grave que mete dö'. Voltando a olhar para as consideracöes tecidas em torno do bloco Ca 1.31, repare-se que, em geral, todas as expressöes se deixam parafrasear pela förmula 'de tal forma x que parece y': de tal forma pälido ou branco que parece cera/cal/gesso; de tal forma desfigurado ou sem vida que parece um cadäver/a morte em pessoa/um desenterrado146. Por ultimo, voltemo-nos para as expressöes (11) e (12) do bloco Ca 1.31: wie ein Schatten aussehen ('parecer uma sombra') e (nur noch) ein Schatten seiner selbst sein ('estar/ser uma sombra do que era'). Observe-se antes de mais que ambas as unidades apresentam como constituinte nuclear o lexema Schatten ('sombra'), lexema que inclui na sua esfera de significacäo um nexo ä esfera semäntica da morte. Em segundo lugar, note-se que estas expressöes diferem uma da outra no que respeita a sua construcäo sintagmätica. Enquanto que a unidade (11) segue a estrutura explicitamente comparativa da maioria das expressöes do bloco - wie x aussehen -, a unidade (12) näo se enquadra neste esquema, nem no esquema das expressöes (6) e (7) do mesmo bloco - bleich/weiß wie x sein/werden. Ao contrario do que sucede com as restantes expressöes do bloco Ca 1.31, a base de comparacäo em (12) e a pessoa, que se esta a descrever, ela pröpria, isto e, trata-se de uma comparacäo entre o estado ou a situacäo de uma pessoa no passado e o seu estado no presente. Decorre do significado da palavra Schatten no contexto lexemätico ein + Schatten + seiner + selbst + sein que entre estes dois estados se da um 146 O mesmo poderä dizer-se das expressöes do bloco Ac 5.10: 'de tal forma preto que parece breu/carväo/ebano'. 129 processo de transformacäo decadente associado á perda de vigor e vitalidade: a pessoa já näo é o que era. Assinalável é também o facto do emprego da expressäo (12) näo se restringir a um esmorecimento ao nível do aspecto físico da pessoa. Esta expressäo pode ser utilizada para descrever que certo indivíduo é uma sombra do que era em relacäo a determinado aspecto da vida susceptível de sofrer uma perda, por exemplo, de qualidade: uma pessoa já näo é o que era em termos da sua capacidade de rendimento/do seu poder de persuasäo/do seu espírito de observacäo/do seu sentido prático. Dadas as diferencas sintáctico-semánticas que a expressäo (12) apresenta em relacäo ás restantes unidades do bloco Ca 1.31, parece poder afirmar-se que esta expressäo näo encaixa neste grupo de sinónimos. A luz do que foi exposto na seccäo relacionada com o bloco Ca 1.31, é possível concluir que, independentemente das diferencas ao nível do registo e da frequéncia de uso, as expressöes (1) a (11) exprimem a mesma ideia no piano idiomático: a ideia de extrema palidez. A relacäo de sinonímia entre estas expressöes deve-se aos seguintes factores: (i) as unidades assentam em duas estruturas sintagmáticas fixas, nomeadamente wie x aussehen e bleich/weiß wie x sein/werden; estas estruturas funcionam como 'molde' a partir do qual é possível criar outras expressöes; (ii) os lexemas que ocupam a posicäo x nas estruturas formám um paradigma, fenómeno que pode ser assim esquematizado: bleich/weiß wie x sein/werden ein Leinentuch Wachs Kalk Kreide wie x aussehen ausgekotzt ein Gespenst ein lebendiger Leichnam der (leibhaftige) Tod das leibhaftige Elend das Leiden Christi ein Schatten Em primeiro lugar, esta fixidez paradigmática está ligada ás semelhancas que se verificam no que toca aos objectos de comparacäo (Vergleichsobjekte) das várias unidades, nomeadamente no que diz respeito ás características que estes objectos apresentam na realidade. Como tal, a comparacäo de natureza realista contribui para a 130 formacäo de expressöes sinönimas. Em segundo lugar, refira-se o simbolismo de alguns dos constituintes que ocupam a posicäo x das estruturas acima: o simbolismo biblico dos elementos Leinentuch e das Leiden Christi e a sua ligacäo com a oposicäo semäntica 'vida - morte'. O simbolo traduz a ideia de 'grau mais elevado possivel' de caracteristica em causa, isto e, de palidez: a morte (der Tod) representa o grau mais elevado possivel de palidez. Em terceiro lugar, a insercäo nas extruturas acima de elementos que apresentam como denominador comum a ideia da morte. Por outras palavras, estä-se perante variacöes da ideia da morte. 3.4. O CONCEITO DE iPA T/T/'CAMINHO' O conceito de 'path' ('caminho') assume um valor fundamental no seio da linguistica cognitiva. Nesta perspectiva, este conceito e concebido como 'concept we live by'147, quer dizer, um conceito que desempenha um papel primärio e essencial no nosso sistema conceptual. Tomando como ponto de partida a caracterizacäo do esquema inerente ao conceito de 'path' feita por Lakoff na obra Women, Fire, and Dangerous Things (1987), proponho-me, numa primeira fase, identificar e esclarecer os pressupostos orientadores da linguistica cognitiva considerados pertinentes para o estudo da sinonimia, especificamente no ämbito da idiomätica. Subjacente a esta anälise estä a procura das razöes pelas quais faz sentido abordar o conceito de 'path'. Numa segunda fase, ocupar-me-ei do alcance do conceito de 'path' no dominio da idiomätica da lingua alemä e do modus operandi deste conceito no que concerne a constituicäo de expressöes sinönimas. Como referi aträs, parece-me adequado iniciar esta reflexäo sobre o conceito de 'path' com a seguinte explicacäo de Lakoff (1987: 278): l.The source-path-goal schema is one of the most common structures that emerges from our constant bodily functioning. This schema has all the qualifications a schema should have to serve as the source domain of a metaphor. It is (a) pervasive in experience, (b) well-understood because it is pervasive, (c) well-structured, (d) simply structured, and (e) emergent and well-demarcated for Utilizo a expressäo 'concept we live by' em analógia á obra de Lakoff & Johnson, Metaphors We Live By (1980), e ao primeiro capitulo desta mesma obra, intitulado "Concepts We Live By". A justaposicäo do titulo da obra e do titulo do primeiro capitulo deixa entrever a articulagäo existente entre a formacäo de conceitos e o processo metafórico. 131 these reasons. In fact, characteristics a-d provide some criteria for what it means for a structure to "emerge" naturally as a consequence of our experience. 2. There is an experiential correlation between the source domain (movement along a path to a physical location) and the target domain (achievement of a purpose). This correlation makes the mapping from the source to the target domain natural. 3. The cross-domain correlations in the experiential pairing (for example, desired state with final location) determine the details of the metaphorical mapping (for example, desired state maps onto final location). O primeiro ponto revela que o conceito de 'path' integra um esquema conceptual complexo no qual interagem outros dois conceitos, designadamente os conceitos de 'source' (fonte, ponto de partida) e 'goal' (meta). Um exemplo simples permitir-nos-á compreender a correlacäo existente entre os conceitos source - path - goal (ponto de partida - caminho/trajecto/percurso - meta). Se pensarmos nas fases que compôem uma maratona, prova de atletismo de longa dištancia, verificamos que esta é composta por trés fases: (i) o ponto de partida; (ii) o trajecto ou caminho a percorrer; (iii) a meta, local exacto onde termina a corrida. A concatenacäo destas fases é essencial para o entendimento do que é uma maratona. Por outras palavras, excluir uma destas fases, terá como consequéncia a desestruturacäo do todo. Este facto permite-nos inferir que o esquema source - path - goal (ponto de partida - caminho/trajecto/percurso - meta) funciona como Gestalt. O termo Gestalt refere-se aqui a "ways of organizing experiences into structured wholes" (Lakoff & Johnson, 1980: 81). E preciso ter presente que o esquema aqui em causa serve de alicerce ao nosso entendimento das competicôes desportivas de uma forma geral: á semelhanca do que se verifica em relacäo as provas de atletismo, também as provas de outras categorias desportivas, tais como corridas equestres, provas de ciclismo, natacäo, automobilismo, vela, entre outras, pressupôem um ponto de partida, um determinado percurso e uma meta a alcancar. Estas observacôes sugerem que o esquema composto pelos conceitos 'ponto de partida -percurso - meta' decorre do conhecimento que possuimos dos eventos acima referidos. Dai dizer-se que este esquema constitui um "experiential gestalt", gestalt que Lakoff & Johnson definem como sendo "'experientially basic because they characterize structured wholes within recurrent human experiences. They represent coherent organizations of our experiences in terms of natural dimensions (parts, stages, causes, etc.)" (1980: 117). Com base nesta formulacäo, convém ainda acrescentar que o esquema conceptual 132 'ponto de pallida - percurso - meta' é, como terei oportunidade de demonstrar mais adiante, um esquema recorrente em vários dominios da experiéncia humana. Examinando agora o segundo ponto da caracterizacao do esquema 'ponto de partida -percurso - meta' fornecida por Lakoff, comecemos por fazer algumas consideracoes sobre o modo de funcionamento deste esquema no processo de conceptualizacao, processo que, sob o ponto de vista da perspectiva cognitiva, assenta na capacidade humana para projectar "metaphorically from structures in the physical domain to structures in abstract domains" (Lakoff, 1987: 281). Surge aqui de forma inequivoca a existéncia de uma correlacao íntima entre o processo de conceptualizacao e o mecanismo da metafora. Tratemos de exemplificar o que está aqui em causa. Voltando ao exemplo da prova de atletismo, identifiquemos algumas situacoes e circunstáncias que estao ligadas as etapas '(i) ponto de partida - (ii) percurso - (iii) meta': (i) Uma corrida comeca bem para um atleta que efectue uma partida lancada, ganhando vantagem sobre os restantes participantes. Como tal, este passo constitui meio caminho andado para o atleta veneer a prova. Por outras palavras, ele está no bom caminho para atingir o objectivo de cortar a meta em primeiro lugar. Em oposicáo, considera-se que um atleta que parte em ultimo lugar e que fica atrás dos outros concorrentes comeca mal a corrida. Um atleta que inicia uma corrida antes do sinal de partida, isto é, fora do momento preciso, efectua uma partida em falso, o que tem como consequéncia a repeticáo do acto de inicio de partida. (ii) Ao pensarmos no caminho a percorrer desde a linha de partida até á linha da meta, verifica-se que no inicio do percurso o atleta ainda está longe da meta, isto é, ainda tern um longo caminho a percorrer até chegar á meta; ao aproximar-se da meta, ele está, em comparacáo com o ponto iniciál, mais perto da meta e, consequentemente, mais perto de atingir o objectivo final. Uma deficiente preparacáo física poderá obrigar o corredor a ficar pelo caminho: a desistir a meio do percurso ou a pouca distáncia da meta. Neste ultimo caso, o concorrente esteve perto de atingir a meta, mas ao mesmo tempo esteve longe porque no fim de contas nao conseguiu chegar a cortar a meta. Uma vez que o trajecto a percorrer é um caminho previamente determinado, um corredor que se afaste do caminho que vai dar á meta, quer dizer, saia da linha tracada e siga um caminho errado, sofrerá sancoes, entre outras a desqualificacáo da prova. As condicoes e as características do caminho podem dificultar a coneretizacáo do objectivo. Por exemplo, um 133 caminho sinuoso, irregular, um terreno com elevacöes e depressöes, isto é, com altos e baixos pode constituir obstáculo para a realizacäo de uma boa prova, (iii) Cortar a meta constitui o objectivo final de todos os que arrancaram da linha de partida: é o fim que se tern em vista. Convirá registar que existem outras experiéncias da vida humana que assentam nos conceitos de 'ponto de partida', 'caminho' e 'meta'. Sirva de exemplo a experiéncia de fazer uma viagem. Uma viagem implica urn local de partida, urn caminho ou uma dištancia a percorrer e um lugar de destino. Há vários 'caminhos' que podem ser tornados para chegar ao mesmo destino: por urn lado, caminhos que se fazem sem grande esforco, por outro, caminhos que exigem mais esforco ou que se fazem com mais dificuldade; caminhos que implicam menos tempo de viagem e/ou menos dištancia entre o ponto de partida e o ponto de chegada (= tomar o caminho mais rápido e/ou mais curto) em oposicäo a caminhos que implicam mais tempo de deslocacäo; caminhos já conhecidos em oposicäo a caminhos desconhecidos (= conhecer novos caminhos)148. Identificadas algumas situacöes e experiéncias concretas que se enquadram no complexo conceptual source - path - goal (ponto de partida - caminho/trajecto/percurso - meta), consideremos, agora, as seguintes expressöes idiomáticas retiradas do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten: (1) (a) auf dem besten Weg sein, erw. zu tun/werden/erreichen/... — 'estar/ir no melhor caminho para fazer' (2) (a) den Startschuß (zu erw.) geben - 'dar o sinal de partida' (3) (a) nicht vom rechtenZ(geraden) Weg(e) weichen - 'näo se desviar do bom caminho' (b) auf dem richtigen/rechten Weg sein - 'ir por/estar no bom caminho' (c) auf dem falschen/verkehrten Weg sein - ir por mau caminho/estar no caminho errado' (4) (a) etw. ist ein dorniger/steiniger/... Weg - 'qc é um caminho espinhoso/arduo' (5) (a) den Anschluß verpassen - 'perder o comboio' (b) auf halbem Weg stecken bleiben (mit etw.) — 'ficar a meio (do caminho)' Um viajante que envereda por caminhos desconhecidos corre o risco de se perder ou de se enganar no caminho, isto é, de seguir o rumo errado. Encontrando-se numa situagao destas, ele pode (i) continuar nesse caminho e verificar que é um caminho que nao tem saída, nao vai dar a lado nenhum; (ii) continuar nesse caminho e constatar que é um caminho que vai dar ao mesmo, melhor dizendo, vai dar ao mesmo lugar de destino do caminho iniciál; (iii) procurar virar para trás, mudar de direcgao, na tentativa de encontrar o caminho ou rumo certo. 134 Antes de mais, importa contextualizar as expressöes acima na estrutura dos campos semänticos desenvolvida por Schemann. As expressöes dos grupos (1) e (2) integram os campos semänticos Aa 6 - Entwicklung ('desenvolvimento') - e Aa 7 - initiieren ('comecar/iniciar'), respectivamente. O grupo (3) contém expressöes de dois campos semänticos subordinados ao arquilexema moralisches Erscheinungsbild ('a natureza moral do homem/o sentido moral'): Cc 5 - Pflichtbewußtsein, Vorbild ('sentido de dever moral, ser um exemplo') e Cc 6 - schlechte Gesellschaft, Abwege ('mäs companhias, perder-se, seguir mau caminho'). A expressäo do grupo (4) insere-se no campo semäntico De 20 - schwer ('dificil/custoso/duro/ärduo'); por ultimo, as expressöes do grupo (5) fazem parte do campo semäntico De 25 - Mißerfolg ('insucesso')149. Verificamos, ao observar as expressöes dos grupos (1) a (5) e a descricäo das circunstäncias e situacöes que caracterizam e podem surgir no ämbito de uma viagem e de uma prova de atletismo, que parece existir uma correlacäo entre a experiéncia concreta e a expressäo ou manifestacäo dessa experiéncia em dominios abstractos do conhecimento humano. Um atleta que fique pelo caminho, que desista a meio do caminho, näo alcanca o objectivo de cortar a meta. Em suma: o atleta näo teve éxito, fracassou. Ao utilizar a expressäo (5b), auf halbem Weg steckenbleiben, para comentar a decisäo dos responsäveis por determinado projecto em näo prosseguir o piano que estava em curso para atingir objectivos definidos no inicio do Para alem dos campos semänticos do Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten aqui referidos, o conceito de 'path' em articulacäo com os conceitos de 'ponto de partida' e 'meta' tambem estä presente nos seguintes campos semänticos: Ab Raum (espago): Ab 1.33 noch einen langen/weiten Weg vor sich haben (bis...); Bc gesund-krank(säo - doente): Bc 1.11 auf dem Weg der Besserung/Heilung/Gesundung/... sein; Cd geistiges Erscheinungsbild (a natureza intelectual do hörnern): Cd 20.11 etw. auf schriftlichem Weg lösen/regeln/... Db denken, meinen (pensar, crer):; Dd handeln (agir): Dd 5.19 einen anderen/... (über einen anderen/...) Weg gehen; Ea Umgang (relacionamento): Ea 10.6 jm./e-r S. aus dem Weg gehen; Ed Liebe (amor): Ed 4.9 unsere/ihre/... Wege trennen sich; Fa Einfluß, Macht, Druck (influencia, poder, pressäo): Fa 21.11 jm. bleibt kein anderer Weg (offen), als etw. zu tun; Ga Fertigwerden in schwerer Lage (enfrentar situagöes dificeis): Ga 6.27 einen Weg finden (müssen) (um/wie...); Gc Kampf und Streit (luta e disputa): Gc 4.78 jm. den Weg abschneiden; Ha Gewicht, Bedeutung, Wert, Sinn (importäncia, significado, valor, sentido): Ha 9.9 an etw. führt kein Weg vorbei; Hb Vor- und Nachteil (vantagem e desvantagem): Hb 3Afür etw./(e-r S.) den Weg bahnen; Ie Bezug - Beziehung (referencia - relagäo): Ie 1.7 auf direktem/indirektem/gütlichem/diplomatischen/... Weg erledigen/...; If gleich - verschieden (igual - diferente): If 6.4 einen neuartigen/ungewöhnlichen/seltsamen/... Weg beschreiten Ii möglich - unmöglich (possivel/exequivel - impossivel/inviävel): Ii 2.1 dieser/... Weg ist für ihn/Helga/... nicht gangbar Esta exemplificagäo da abrangencia do conceito 'path' no dominio da idiomätica alemä vem corroborar a ideia defendida pela teoria cognitiva da metäfora de que o conceito de 'path' constitui um principio orientador na forma como percepcionamos, entendemos e damos voz äs mais variadas situacöes e experiencias do nosso dia-a-dia. 135 empreendimento, estamos a recorrer ao esquema do path acima exposto: ponto de partida (projecto que tem um piano ou esquema para atingir metas especificas) -caminho (pór em prática o piano) - meta (resultados). Neste caso, as propostas iniciais ficaram pelo caminho ou a meio do caminho. Como tal, o esquema source -path - goal (ponto de partida - caminho/trajecto/percurso - meta) que assenta na nossa experiéncia real e concreta funciona como pano de fundo ou motivacao para o entendimento e concepcao da ideia de 'insucesso' no piano abstracto de significacao. Em conformidade com a perspectiva cognitiva estamos perante um processo de transposicao de elementos do domínio fonte para o domínio alvo. Uma vez que nao é fácil definir o que se entende por 'insucesso', "we typically conceptualize the nonphysical in terms of the physical -that is, we conceptualize the less clearly delineated in terms of the more clearly delineated" (Lakoff & Johnson, 1980: 59). A luz das consideracóes tecidas, a metafora enquanto mecanismo que envolve "understanding and experiencing one kind of thing in terms of another" (ibidem: 5) é eminentemente conceptual. Com efeito, este modelo cognitivo constitui uma teoria explicativa e justificativa de um certo tipo de processo metafórico, designadamente um processo entre conceitos: o conceito do domínio fonte, conceito enraizado que se funda na nossa interaccao com o mundo, e o conceito do domínio alvo. Nao obstante a releváncia desta concepcao metafórica para a propria estrutura da lingua, trata-se, no meu entender, de uma abordagem que carece de capacidade explicativa em relacao a outros factores inalienáveis que podem influir no processo metafórico. Do ponto de vista que nos interessa, o processo metafórico é muito mais complexo. A investigacao que aqui empreendo sobre a sinonimia no domínio das expressóes idiomáticas centra-se no significado das expressóes, quadro de análise que, como já foi possível verificar e como veremos nas observacóes que seguem, permite identificar e dilucidar determinados fenómenos que servem de suporte ao processo metafórico. A seccáo que segue ocupa-se da descricao dos factores constitutivos da sinonimia no contexto das expressóes idiomáticas alemas cujo significado se baseia nas ideias atrás expostas a propósito do conceito de 'path'. Para encontrar os blocos sinonimicos adequados ao nosso estudo, procedeu-se ao levantamento das expressóes idiomáticas que apresentam na sua constituicáo o lexema nuclear 'Weg' ('caminho'), unidade lexical equivalente ao lexema inglés 'path\ seguido de uma análise dessas expressóes 136 com o objectivo de por de lado as unidades que, embora apresentem a palavra nuclear 'Weg', näo exprimem o conceito de 'path'. Consideremos em primeiro lugar o bloco sinonimico Cc 6.39, subordinado ao arquilexema schlechte Gesellschaft, Abwege ('mäs companhias, perder-se, seguir mau caminho'). A decisäo de comecar com este grupo de sinönimos deve-se ao facto de ser possivel, atraves da sua contextualizacäo no conjunto dos blocos do campo semäntico Cc 6 que realizam a ideia de 'path', esquematizar aspectos essenciais da correspondencia entre o conceito de 'path' e o significado das expressöes em questäo. Veja-se as unidades do bloco sinonimico Cc 6.39 e os blocos contiguos: Cc6.4 1 vom rechten/(geraden) Weg abweichen/ (weichen) 2 vom Weg der Pflicht/des Gesetzes/der Moral/... abkommen/abweichen 3 vom (rechten) Weg abkommen 4 vom rechten Pfad abkommen Cc 6.5 1 vom Pfad der Tugend abweichen 2 den Pfad der Tugend verlassen Cc 6.6 1 aus der Bahn geraten 2 (ganz/...) aus dem Gleis/Geleise geraten/kommen Cc6.7 1 aufs falsche Gleis geraten Cc6.8 1 auf Abwege geraten 2 auf die schiefe/(abschüssige) Ebene geraten/(kommen) 3 auf die schiefe/(abschüssige) Bahn geraten Cc6.10 Cc 6.39 1 auf dem falschen/verkehrten/... Weg sein Cc6.12 1 krumme Wege einschlagen 2 krumme Wege gehen 3 verbotene Wege gehen 4 auf krummen Pfaden wandeln Cc6.13 1 auf der schiefen Bahn sein 1 jn. auf den rechten/(richtigen) Weg bringen 2 jn. auf die richtige/(rechte) Bahn bringen 3 jn. auf den rechten Pfad zurückführen 4 j n./etw. auf Vordermann bringen 5 jn. (wieder) ins Gleichgewicht bringen Diagramaticamente, pode-se representar assim a articulacäo entre os significados dos blocos de expressöes acima: 137 Em primeiro lugar, as expressöes do bloco Cc 6.4 assentam no pressuposto de que existe um caminho rectilineo, a linha recta representada na figura acima pela letra (a), caminho em relacäo ao qual nos podemos desviar. O desvio implica necessariamente o afastamento (des-) de uma dada via (-vio): sair do caminho (a) é sair do caminho que vai a direito. Este pressuposto orientador encontra-se de forma clara nas expressöes (1), (3) e (4) do bloco em análise. Onde reside a diferenca entre estas expressöes e a expressäo (2) do mesmo grupo? Responder a esta questäo implica, entre outros aspectos, abordar a oposicäo concreto - abstracto. Como é visível pelo significado literal das unidades (1), (3) e (4), trata-se de expressöes que fora do contexto do campo semäntico exprimem urn caminho concreto. Por sua vez, a unidade (2), refere-se explicitamente a urn caminho abstracto, isto é, ao caminho da vida ('der Lebensweg'). Se desenvolvermos esta ideia da ligacäo entre as unidades (1), (3), (4) e a unidade (2) baseada na oposicäo entre 'caminho concreto' e 'caminho abstracto', diremos que estamos na presenca de um processo de transposicäo metafórica de ordern classemática, uma vez que passar das expressöes (1), (3), (4) para a expressäo (2) implica uma deslocacäo da classe [+ concreto] (caminho real) para a classe [+ abstracto] (caminho abstracto). A expressäo (2) exemplifica vários 'caminhos abstractos', designadamente o caminho da virtude, o caminho da lei e o caminho do dever. Čada um destes 'caminhos' constitui uma parte da esfera 'caminho abstracto'. Assim visto, para alem do processo metafórico acima referido, estamos na presenca da sinédoque exemplificativa. Analisando mais de perto este processo, impoe-se reconhecer o papel que a ideia geométrica de uma linha recta (horizontal ou vertical) desempenha na relacäo que se estabelece entre o caminho que é recto e direito, e a conduta moral. Seguir a direccäo da linha recta é, na nossa sociedade, entendido como algo que é conforme á norma, as regras da ética, ä razäo. Esta ideia também está patente no bloco Cc 6.39, de forma explícita nas expressöes (1) a (3) e de forma implícita nas expressöes (4) e (5). Se partirmos do princípio que existe um caminho recto com as associacöes acima expostas, torna-se viável estabelecer uma relacäo de oposicäo entre uma linha recta/caminho recto ('gerader Weg') e uma linha curva ou torta/caminho torto ('krummer Weg') e, por analogia, uma relacäo de oposicäo entre o 'caminho certo' e o 'caminho errado'. A análise aqui efectuada pretende mostrar que a rede de relacöes de semelhanca que estrutura o campo semäntico Cc 6, em geral, e os blocos de expressöes acima citados, em particular, move-se em torno dessas oposicöes: 138 (i) o adjectivo 'gerade' (Cc 6.4) em oposicäo aos adjectivos 'krumm' (Cc 6.12) e 'schief (Cc6.8, Cc6.13); (ii) os adjectivos 'recht' e 'richtig' (Cc 6.4, Cc 6.39) em oposicäo aos adjectivos 'falsch' e 'verkehrt' (Cc 6.7, Cc 6.10). Cabe aqui fazer algumas consideracöes relativamente aos significados dos adjectivos 'krumm' e 'schief. Tomando como ponto de partida a ideia da linha recta no contexto deste campo semäntico, isto e, a linha recta que designa o caminho moralmente correcto, parece ser possivel afirmar que as locucöes 'krummer Weg' e 'schiefe(r) Weg/Bahn/Ebene' convergem em direccäo ä mesma ideia, designadamente a ideia de um caminho sinuoso. Como vemos, os adjectivos em questäo baseiam-se em configuracöes geometricas diferentes: o adjectivo 'krumm' na locucäo 'krummer Weg' sugere um caminho curvilineo; ja o adjectivo 'schief na locucäo 'schiefe(r) Weg/Bahn/Ebene' evoca a ideia de um caminho em diagonal e, ä semelhanca do lexema 'abschüssig' na expressäo auf die abschüssige Ebene/Bahn geraten, a nocäo de um caminho em declive, isto e, de uma inclinacäo que e perspectivada de cima para baixo. Este traco ligado ao movimento descendente em direccäo ao solo constitui o pressuposto semäntico que imprime äs expressöes (2) e (3) do bloco Cc 6.8 e ä expressäo do bloco Cc 6.13 a ideia de um mau desfecho. Observe-se que a expressäo (1) do bloco Cc 6.8, auf Abwege geraten, näo partilha com as expressöes (2) e (3) do mesmo bloco o elemento de natureza geometrica e respectivas associacöes. O prefixo ab- no substantivo Abwege e portador do sentido 'weglentfernt' ('afastamento, distanciamento, desvio'). Este significado derivado do prefixo ab- e actualizado nos verbos abweichen e abkommen, constituintes das expressöes dos blocos Cc 6.4 e Cc 6.5. O que a seguir se irä abordar de forma simplificada e o papel que os verbos das expressöes acima desempenham na estruturacäo do campo semäntico Cc 6 e dos blocos sinonimicos aqui citados. Vejamos, em primeiro lugar, as expressöes dos grupos Cc 6.4 e Cc 6.5. Os significados dos verbos abweichen, abkommen, verbos que regem um sintagma preposicional, von etw. abweichen!abkommen ('afastar-se de algo'), e o verbo verlassen, verbo que rege um argumento no acusativo, etw. verlassen ('deixar algo'), assentam na pressuposicäo de que o acto de afastamento ou distanciamento sucede a partir de um piano, uma linha, um caminho que existe, estä definido ou estä a ser percorrido. No que diz respeito äs expressöes dos blocos Cc 6.7 e 6.8, verifica-se que a 139 combinacäo da preposicäo auf e dos verbos geraten ou kommen no contexto lexemätico acima sugere que a pessoa implicada 'vai ter' ao mau caminho de forma fortuita. Consideremos, agora, os verbos do grupo Cc 6.12. O significado do verbo einschlagen na expressäo (1), krumme Wege einschlagen - 'seguir/ir por/trilhar caminhos duvidosos/escuros' - deixa transparecer uma certa ligacäo semäntica com o emprego deste vocäbulo no contexto histörico no qual se procedia ao abate de ärvores com o fim de entrar numa terra seivagem e explorä-la (Röhrich, 1991, vol. 3: 1703; palavra-chave Weg): einen Weg einschlagen. Assim, o acto de deitar abaixo as ärvores (niederschlagen) abria um novo caminho que tornava possivel a entrada no terreno (prefixo ein-), isto e, o movimento para dentro do terreno. Alem disso, importa referir que essa operacäo de desbravamento era realizada com uma intencäo definida. De facto, retomando a observacäo da expressäo idiomätica em anälise, reconhecemos que existe uma dada motivacäo semäntica entre o significado do verbo einschlagen no contexto que acabo de delinear, contexto que pode ser definido como sendo 'konkretanschaulich'150, e o seu comportamento no contexto da expressäo idiomätica krumme Wege einschlagen. Vejamos os elementos do contexto ou situacäo original que se fazem sentir no significado da expressäo idiomätica: (i) a ideia de 'entrar em' determinado caminho; (ii) a ideia de um agir intencional e racional, isto e, um agir segundo criterios de escolha e decisäo. Pensemos agora nas restantes expressöes do bloco Cc 6.12. Nas construcöes (2) e (3) estä bem patente a intervencäo do significado do verbo gehen enquanto 'ideia' de movimento (Idee' der Bewegung): o significado do verbo gehen e simultaneamente de caräcter concreto e abstracto151. Quanto ä expressäo (4), vemos que existe uma relacäo entre o significado da expressäo idiomätica e o significado livre do verbo wandeln - 'andar, caminhar'. E oportuno, neste ponto, constatar que estamos perante expressöes idiomäticas cujos significados deixam transparecer aspectos semänticos ligados aos significados livres dos verbos que integram a sua constituicäo. 150 Este significado do verbo einschlagen ainda e perceptivel no significado das seguintes expressöes: neue Wege einschlagen ('enveredar por outro caminho'), andere Methoden einschlagen ('(ter que) recorrer a/adoptar/empregar/ utilizar outros metodos'); einen Mittelweg einschlagen ('optar por/escolher o meio termo'); den Rechtsweg einschlagen ('recorrer aos tribunais'); seinen/einen eigenen Weg einschlagen ('seguir o seu proprio caminho'). 151 Cf. a seguinte citagäo de Schemann (2005: 72-73): "Nehmen wir als Beispiel das deutsche Verb 'gehen' und seine verschiedenen Bedeutungen. - Indem ich 'im Gehen' einmal das 'Gehen eines Menschen', ein anderes Mal 'das Gehen einer Maschine', wieder ein anderes Mal das 'Gehen von Verhandlungen' u.a.m. 'sehe' - und schließlich auf einer Ebene 'schaue', auf der mir gleichsam alle möglichen Geh-vorgänge als 'Varianten' des einen Gehens (mehr oder weniger) deutlich 'vor Augen stehen' - wobei ich (im Prinzip) an allen Realisierungen des Gehens ansetzen kann -, habe ich nicht mehr ein konkretes Geh-Bild, nicht mehr ein an eine einzelsprachliche Bedeutung von gehen gebundenes Bild 'im Blick' - oder 'im Gefühl' -, sondern bewege mich - je durchlässiger, transparenter, das Bild wird, um so mehr - auf einer vor- oder übersprachlichen Ebene, die in eine (d.h. irgendeine) Einzelsprache (soll es zu einer sprachlich-begrifflichen Äußerung kommem) zu überführen ist -: auf der Ebene der Ideen". 140 Esses aspectos semänticos constituem factores de diferenciacäo entre expressöes tidas como sinönimas. Chegamos assim äs expressöes dos blocos Cc 6.10 e Cc 6.13. A combinacäo da preposicäo auf e o verbo sein näo exprime, ao contrario do que acontece nos exemplos aträs apresentados, a transicäo ou a passagem do bom caminho para o mau caminho ou vice-versa. Voltando a olhar para o esquema acima, pode dizer-se que este sistematiza a articulacäo entre os significados dos blocos de expressöes sinönimas, articulacäo que depende, entre outros aspectos, do significado dos verbos que integram as respectivas expressöes: (a) estar no bom caminho - seguir o bom caminho; (b) sair do bom caminho - desviar-se/afastar-se do bom caminho; (b —► c) ir ter ao mau caminho -enveredar/ir por maus caminhos - estar no mau caminho - andar por maus caminhos; (d) sair do mau caminho - deixar o mau caminho; (d —► a) voltar ao bom caminho. 3.5. EXPRESSÖES VINCULADAS A ACTOS DE FALA ESPECIFICOS (SPRECHAKTRESTRINGIERTE IDIOMS) No primeiro capitulo deste estudo procurei delimitar e caracterizar a actuacäo dos actos de fala no piano da idiomätica, tendo demonstrado a centralidade das unidades idiomäticas que realizam e, consequentemente, se encontram 'presas' a actos de fala especificos (sprechaktrestringierte Idioms). Nesta seccäo tratar-se-ä a problemätica da sinonimia a partir da anälise do conjunto de parämetros responsäveis pelo vinculo exclusivo de determinadas expressöes idiomäticas a actos de fala especificos. Deve-se, para o efeito, näo perder de vista, por um lado, as restricöes inerentes äs expressöes idiomäticas e, por outro, os principios que intervem no funcionamento dos actos de fala. Como tal, recorro ä seguinte citacäo de Schemann, passagem que fornece uma explicacäo dos pianos linguisticos e de significacäo que entram em jogo na anälise de expressöes idiomäticas subordinadas a actos de fala especificos: "die Semantik der Äußerung ist natürlich eine der Grundlagen, damit die Illokution überhaupt funktionieren kann („Vehikel"); doch bildet die Illokutionsebene eine eigene Ebene, und die Illokutionsbedeutung fußt keineswegs stringent auf der semantischen Bedeutung eines Lexems, einer Lexemverbindung, eines Satzes, einer Äußerung. Schon deswegen nicht, weil die Illokution nicht nur eine Variable der Proposition ist, sondern auch der übrigen Faktoren oder Ebenen des Kontexts" (Schemann, 2003: 91). 141 Schemann chama a atencäo para a relacäo que se estabelece entre o significado literal de um lexema ou uma expressäo e o significado do lexema ou da expressäo enquanto acto de fala. Trata-se da relacäo entre dois pianos de significacäo: o piano do que se diz (das Gesagte) e o piano do que se quer dizer (das Gemeinte). Schemann observa a este respeito que "von dem Zeichen als Gesagtem, zu dem mit ihm Gemeinten gibt es einen Sprung" (2003). Tendo em conta o papel decisivo do 'salto' (Sprung) que se verifica entre os pianos de significacäo de uma mesma locucäo, há que reconhecer a necessidade de abordar o funcionamento e a natureza deste fenómeno no ämbito do presente estudo. Resta-me, para concluir esta nota preliminar, fazer referencia ao piano da pragmática. O facto dos actos de fala constituirem fenómenos pragmáticos por excelencia deixa j á entrever o contributo dos factores de ordern pragmática, nomeadamente as pressuposicöes pragmáticas que condicionam a realizacäo de determinado acto de fala, no esclarecimento do funcionamento da sinonimia no seio de expressöes idiomáticas que apresentam como denominador comum o facto de exprimirem o mesmo acto de Vamos comecar por examinar as expressöes reunidas no bloco sinonimico Aa 7.32, bloco subordinado ao arquilexema initiieren ('comecar/iniciar'): Procurando explicar a relacao de dependencia que parece existir entre as expressoes acima e o acto de fala que realizam, parece ser possivel afirmar o seguinte: (i) Nao obstante o caracter estruturalmente heterogeneo das expressoes que integram este bloco sinonimico, todas elas realizam o mesmo acto de fala, isto e, realizam uma directiva152 ou uma 'ordem' ao alocutario para executar, iniciar ou dar Proponho a utilizagäo do termo 'directivo' para designar os actos de fala que realizam o que em alemäo se designa por 'Aufforderung'. fala. Aa 7.32 1 jetzt/heute/... geht's ans Arbeiten/... 2 (nun/nun mal) los! 3 ab geht die Post! 4 auf geht's! 5 los, (ab/weg/heraus/heraus mit der Sprache/...)! 6 (los) ran! 7 Hand ans Werk! 8 frisch ans Werk! 9 na, dann wollen wir mal! 10 na, denn mal/(man) zu! 11 (na,) denn man tau! 12 packen wir's an! 13 ran an die Gewehre! 14 (dann/mal) auf ins Gefecht! 15 (dann/mal) ran an den Feind! 16 auf ins Getümmel! 17 ran an die Buletten! 18 ran an den Speck! 142 andamento a qualquer tarefa ou actividade: e uma 'ordern' ao alocutärio para agir, para se mexer. Da tentativa de alteracäo destas expressöes no piano formal resultam unidades gramaticalmente inaceitäveis ou unidades que deixam de estar vinculadas ao acto de fala realizado pela expressäo de partida. Repare-se nos seguintes exemplos e nas respectivas tentativas de transformacäo: (4) Aufgeht's! (a) Es geht auf. Na, dann wollen wir mal! (9) (a) Na, dann will ich mal! (b) * Na, dann wollten wir mal! As expressöes de partida Na, dann wollen wir mal! e Packen wir 's an! assentam nos pressupostos pragmäticos de que o falante (i) se dirige a pelo menos um alocutärio e (ii) ao utilizar o pronome pessoal da primeira pessoa do plural 'wir' ('nös) inclui-se a si proprio no colectivo de pessoas que terä de agir e pör mäos ä obra. A substituicäo da forma wir pelo pronome pessoal da primeira pessoa do singular ich no exemplo (9a) viola os pressupostos acima referidos. Como se ve, os actos de fala encontram-se 'presos' ('gebunden') a referencias espacio-temporais, interpessoais e sociais particulares, ou seja, a restricöes pragmäticas que limitam as transformacöes que podem ser efectuadas. No caso da expressäo (4a), a alteracäo da ordern sintäctica dos constituintes da expressäo de partida no imperativo tem como consequencia a criacäo de uma estrutura do tipo declarativo, que apesar de ser gramaticalmente bem formada, näo realiza o acto de fala da expressäo de partida. Convem porem notar que ha casos em que construcöes de tipo declarativo ou afirmativo realizam actos de fala directivos. Veja-se o exemplo (1) do bloco sinonimico Aa 7.32: Jetzt/heute/... geht's ans Arbeiten/... Outro processo de transformacäo a ter em conta quando se trata de analisar a ligacäo necessäria entre determinada expressäo e um acto de fala especifico diz respeito ä modificacäo do tempo do nücleo verbal da expressäo (vd. exemplo (9b)). Avaliando pelas restricöes morfo-sintäcticas e pragmäticas äs quais as expressöes do bloco sinonimico Aa 7.32 estäo sujeitas, parece ser possivel concluir que estas expressöes, compostas por uma combinatöria fixa de elementos, estäo 'presas' ao 143 acto de fala em questäo e vice-versa. Por outras palavras, as expressöes acima säo formulas fixas que correspondem ao mesmo acto de fala. Sempre que o sujeito falante tiver a intencäo de levar o seu alocutärio a executar, iniciar ou dar andamento a qualquer tarefa ou actividade, ele tern, mutatis mutandis, as formulas fixas acima citadas ä sua disposicäo. Intimamente ligada ä fixidez do contexto lexemätico destas formulas estä a questäo do seu tratamento ao nivel lexicogräfico, questäo que adiante analisarei com mais pormenor. (iii) No interior do bloco sinonimico Aa 7.32 e possivel reconhecer contextos lexemäticos que se repetem. Repare-se na estrutura sintagmätica das expressöes (13), (15), (17) e (18) - ran + an + {die Gewehre/den Feind/die Buletten/den Speck}! - e das expressöes (14) e (16) - auf + in + {das Getümmel!das Gefecht}! Destaque-se que estamos perante dois modelos de combinacäo sintagmätica de el ementos: (i) ran (adverbio) + an (preposicäo) + {substantivo}/; (ii) auf (adverbio) + in (preposicäo) + {substantivo}/. Postas estas consideracöes, trata-se agora de analisar o funcionamento dos substantivos enquanto constituintes das expressöes que integram os modelos referidos e, consequentemente, a relacäo entre o sentido literal e o sentido idiomätico das expressöes. Primeiramente, refira-se que os substantivos Gewehre ('armas de fogo'), Feind ('inimigo') e Gefecht ('luta'), constituintes das expressöes ran an die Gewehre!, ran an den Feind! e auf ins Gefecht!, advem do campo da vida militar, mais especificamente, säo termos relacionados com o acto de guerrear. Tudo indica que estamos perante o fenömeno de sinedoque dinämica (parte - todo), uma vez que estas expressöes exemplificam a mesma ideia ('atacar') por via da insercäo de lexemas nas que pertencem ao mesmo campo semäntico nas respectivas estruturas. Em segundo lugar, estas expressöes, que outrora eram empregues em situacöes reais de combate, isto e, eram proferidas pelo comandante de uma forca militar como ordens que sinalizavam o inicio da operacäo militar, säo hoje utilizadas em contextos mais generalizados: uma ordern para 'atacar' qualquer tarefa, trabalho, problema, etc. Em terceiro lugar, na sequencia do acima exposto, observe-se que um sujeito falante que empregue as expressöes ran an die Gewehre!, ran an den Feind! e auf ins Gefecht! para incitar o(s) seu(s) alocutärio(s) a executar determinada tarefa equipara a situacäo em mäos a uma situacäo de combate. A existencia de um certo contraste entre o que e dito, isto e, o significado literal das expressöes e dos seus constituintes (Gewehre, Feind, Gefecht) e o significado das 144 mesmas em situacöes de fala que näo estäo associadas ao contexto concreto de combate torna estas expressöes irónicas: por um lado, a evocacäo de uma situacäo de combate ou guerra na qual Joga a vida e a morte; por outro, uma ordern para realizar um esforco inofensivo. Pode dizer-se que estamos perante expressöes de natureza hiperbólica. Consideremos ainda as expressöes Ran an die Buletten! e Ran an den Speck!. Como explicar a relacäo entre o sentido literal das expressöes Vamos äs almöndegasUVamos 'atacaf as almöndegas! e Vamos ao toucinho!IVamos 'atacať o toucinho! respectivamente e o sentido transposto das respectivas expressöes - Ran an die Arbeit! ('Vamos ao trabalho!')? Por um lado, uma vez que os os lexemas Buletten e Speck se referem a comida apetitosa, a imagem linguística evoca uma accäo agradável, que näo custa a realizar. Por outro, o significado da expressäo está relacionada com trabalho, com algo que exige esforco. Com efeito, existe um desfasamento entre o que se diz (das Gesagte) e o que se quer dizer (das Gemeinte), contraste intencional que, como já tivemos ocasiäo de referir, faz com que as expressöes em causa adquiram um carácter irónico e sej am interpretadas de forma humorística. O mecanismo da ironia serve de čerta modo para suavizar a ordern. Ainda em relacäo aos constituintes Buletten e Speck importa referir que estes lexemas apresentam como denominador comum o traco semäntico 'comida apetitosa'. Por outras palavras, estes lexemas säo exemplos da mesma ideia. Assim sendo, estamos perante a sinédoque exemplificativa enquanto factor relevante na formacäo de expressöes sinónimas. A substituicäo dos constituintes acima por lexemas que funcionam como 'exemplos' da ideia 'comida apetitosa' poderá levar á criacäo de expressöes sinónimas. Comparando as expressöes do bloco sinonímico em análise no que diz respeito ao modo como o acto de fala é realizado, parece ser possível afirmar que em alguns casos a ordern ou a directiva faz-se sentir de forma mais intensa do que em outros casos. Regra geral, os actos de fala expressos pelo modo imperativo caracterizam-se por possuírem mais forca expressiva. Compare-se, por exemplo, a expressäo (1), Jetzt/heute/... geht's ans Arbeiten/..., com as expressöes que comecam com os advérbios ab, auf, los, ran ou com a expressäo Packen wir's an!. De facto, reconhecemos que, ao contrario do que se verifica no caso de expressöes como esta ultima, o acto de fala realizado em (1) é expresso de forma neutra. Convirá 145 tambem registar o papel que os mecanismos linguisticos denominados Partikeln ('particulas') poderäo desempenhar no modo como o acto de fala e expresso. Para terminar este ponto, resta-me estabelecer a ligacäo entre as consideracöes aqui tecidas e o estudo da sinonimia. Como vimos, as expressöes representadas no bloco Aa 7.32 säo unidades que realizam o mesmo acto de fala especifico, designadamente o pedido ou a ordern (Aufforderung) 'comecar a trabalhar' (an die Arbeit gehen). A conjugacäo dos elementos 'pedido/ordem (Aufforderung) + significado comegar a trabalhaf e determinante para a relacäo de sinonimia entre as unidades. Neste sentido, a sinonimia: (i) ocorre ao nivel do que se quer ou pretende dizer (das Gemeinte), näo ao nivel do que se diz (das Gesagte). No entanto, em virtude (i) das diferencas de caräcter pragmätico, a atitude do sujeito falante e os contextos especificos de comunicacäo, e (ii) da multiplicidade de estruturas sintäcticas e lexemäticas, a relacäo de sinonimia entre estas expressöes e apenas parcial. Em alguns casos, por exemplo, nas expressöes (13) a (15) e (17) a (18), e possivel assinalar um outro elemento como determinante na relacäo de sinonimia: refiro-me ä sinedoque exemplificativa. Analisemos em seguida as expressöes idiomäticas do bloco Cd 4.21 que, ao contrario do que se constatou em relacäo ao bloco anterior, apresenta um elevado grau de homogeneidade a värios niveis: Cd 4.21 1 du kannst dich/er kann sich/... begraben lassen (mit etw.) 2 du kannst dich/die können sich/... einpacken lassen (mit etw.) 3 du kannst dich/er kann sich/... einsalzen lassen (mit etw.) 4 du kannst dich/er kann sich/... einbalsamieren lassen (mit etw.) 5 du kannst dich/er kann sich/... einsargen lassen (mit etw.) Antes de mais, importa sublinhar que este bloco de expressöes faz parte do campo semäntico delimitado pelo arquilexema unfähig ('incompetente'), unidade que funciona como referencia para o agrupamento das expressöes acima. Ao proferir qualquer uma das expressöes (1) a (5), o falante quer ou pretende dizer: 'tu es/ele e um incompetente; vös sois/eles säo uns incompetentes'. Estamos perante cinco expressöes diferentes que comunicam o mesmo. Estas observacöes introdutörias sugerem ja a importäncia da anälise do relacionamento que se estabelece entre o que e dito (das Gesagte) e o que se quer ou pretende dizer (das Gemeinte). 146 Examinando as expressöes (1) a (5), concluimos que: (i) elas ostentam a mesma estrutura sintäctica, apresentando como elementos nucleares o verbo auxiliar modal können ('poder'), o verbo reflexivo e o verbo auxiliar lassen: jd. + kann + sich + {begraben/ einpacken/ einsalzen/ einbalsamieren} + lassen. A realizacäo formal do sintagma preposicional, que tem como nücleo a preposicäo mit ('com'), constituinte que especifica em que aspecto a pessoa visada demonstra incompetencia ou falta de capacidade, aptidäo, qualificacäo, depende da forma como o sujeito falante integra esta informacäo no conjunto de sequencias enunciativas produzidas na situacäo concreta de comunicacäo. (ii) e possivel proceder ä transformacäo das construcöes acima em construcöes imperativas e vice-versa sem repercussöes para o piano da significacäo. Para exemplificar este fenömeno, servir-me-ei de dois exemplos retirados do Dicionärio Idiomätico Alemäo - Portugues (Schemann, 2002): (1) "Nicht einmal 4 Meter hast du geschafft im Weitsprung? Laß dich begraben! Das schafft doch jeder gesunde Junge!" (2) "Laßt euch begraben mit eurem Französisch! Ihr versteht genau so viel wie ich: nichts!" Ao substituir nas expressöes (1) e (2) as sequencias linguisticas a negrito pela expressäo declarativa correspondente, obtem-se o seguinte resultado: (1') "Nicht einmal 4 Meter hast du geschafft im Weitsprung? Du kannst dich begraben lassen! Das schafft dochjeder gesunde Junge!" (2') "Ihr könnt euch begraben lassen mit eurem Französisch! Ihr versteht genau so viel wie ich: nichts!" Como os exemplos mostram, o processo de substituicäo em nada altera os pressupostos pragmäticos que estäo na base da realizacäo destes enunciados. Isto significa que, a par da fixidez sintäctica que caracteriza tanto os enunciados no modo imperativo como os enunciados no modo declarativo, estas expressöes tambem se encontram 'presas' ä mesma atitude de desaprovacäo e de desagrado expressa pelo sujeito enunciador face ao desempenho ou prestacäo do(s) alocutärio(s) ou de terceiros. Retomando uma ideia ja exposta no primeiro capitulo a propösito da caracterizacäo do contexto extra-linguistico das 147 expressöes idiomáticas, direi que estamos perante a lexicalizacäo da relacäo 'expressäo - acto de fala - atitude do falante', fenómeno que pode ser assim esquematicamente representado: du dich begraben er/sie sich einpacken + können + + einsalzen + lassen ihr euch einbalsamieren Sie/sie (pl.) sich einsargen acto de fala: desaprovacäo atitude do falante Correlativamente, a relacäo fixa entre o enunciado no modo imperativo e a accäo que exprime a apreciacäo negativa que o sujeito enunciador faz da actuacäo do(s) alocutärio(s) ou de terceiros, pode ser representada por um esquema como o seguinte: Laß dich begraben/einpacken/einsalzen Laßt euch + 6 v einbalsamieren/einsargen Lassen Sie sich A seta representa o carácter vinculativo da relacäo existente entre o contexto lexemätico das expressöes e o acto de fala especifico. Feitas as consideracöes sobre a relacäo entre o contexto lexemätico das expressöes em análise e o acto de fala que realizam, consideremos agora o conjunto das questöes postas pela ligacäo entre os enunciados ou as expressöes enquanto veiculos de realizacäo do mesmo acto de fala. Equacionar de modo adequado esta problemätica envolve correlacionar o piano da enunciacäo (das Gesagte) e o piano do que se quer ou pretende dizer (das Gemeinte). No exemplo (1') o locutor emprega a expressäo Du kannst dich begraben lassen!153 como veículo para criticar a prestacäo do alocutário no salto em comprimento. Atendendo á firaca actuacäo do alocutário, o locutor está literalmente a propor ao alocutário que se vá enterrar ou inumar. A substituicäo paradigmática do 153 A expressäo equivalente emportugués: vai ä fava! acto de fala: desaprovacäo atitude do falante 148 lexema begraben ('enterrať, 'inumar') pelos lexemas einpacken ('encaixotať, 'empacotar'), einsalzen ('salgať, 'ensalmourar'), einbalsamieren ('embalsamar') e einsargen ('meter no caixäo', 'amortalhar'), dá origem a expressöes que tomadas de forma literal significam: Vai-te encaixotarlensalmourarIembalsamarIamortalhar! Como vemos, neste piano do enunciado que é também o piano da imagem linguística (sprachliches Bild), estamos perante frases exclamativas - sugestöes/ordens - de carácter ficcional (fiktive Aufforderungen). Posto isto, a pergunta que se coloca é a seguinte: quais säo os pontos de contacto que existem entre estas expressöes tomadas como meios para alcancar a realizacäo do mesmo acto ilocutório? Por outras palavras, quais säo os factores que estäo na base da constituicäo děste bloco de expressöes? Em primeiro lugar, a dimensäo ficcional acabada de referir. O locutor serve-se da proposta de carácter fictício como forma de criticar o desempenho do alocutário. Como referi atrás, o 'conflito' entre estes dois planos de significacäo, o piano do enunciado e o piano da ilocucäo, pode gerar um efeito sarcástico e irónico. Em segundo lugar, note-se que, para alem da fixidez ao nível do contexto lexemático, estas expressöes também manifestam uma čerta fixidez no eixo paradigmático na medida em que os verbos nucleares -begraben, einpacken, einsalzen, einbalsamieren, einsargen - apresentam afinidades semänticas: (i) os lexemas begraben, einbalsamieren e einsargen encontram-se directamente ligados ao dominio semäntico da 'morte'; (ii) os lexemas einbalsamieren e einsalzen designam ambos processos de conservacäo: no primeiro caso trata-se da conservacäo de cadáveres; no segundo da conservacäo de alimentos, processo que envolve cobrir a carne ou o peixe com sal. Colocar algo em salmoura significa que esse algo deixa de estar visível, isto é, 'desaparece' e permanece num estado 'parado' por algum tempo. Assim visto, o lexema einsalzen inserido no contexto sintáctico-semäntico acima sugere a ideia do 'desaparecimento' do alocutário. Em outros termos, face á incompeténcia demonstrada, o melhor que o alocutário tem a fazer é 'desapareceť, ou até, morrer. Esta ideia também está presente no lexema einpacken, uma vez que a accäo de encaixotar ou empacotar um objecto faz com que esse objecto deixe de estar visível. Tudo indica que as expressöes (1) a (5) e as respectivas imagens assentam na seguinte pressuposicäo: 'a prestacäo foi täo vergonhosa/és täo incompetente que o melhor que tens a fazer é desaparecer/morreť —► a prestacäo foi täo vergonhosa que o melhor que tens a fazer é 'ires-te enterrar/embalsamar/ensalmourar/amortalhar/...'. Dado que as expressöes aqui em análise exemplificam (sinédoque dinämica) a ideia 'desapareceť por meio de imagens (sprachliche Bilder), pode afirmar-se que estamos 149 na presenca de um esquema de imagem (Bildschema). Assim visto, estä-se perante um Gestalt, isto e, um conjunto de expressöes que partem da mesma ideia, constituindo variacöes da mesma ideia. Em terceiro lugar, a anälise aqui efecruada pretende mostrar que o caräcter 'fixo' das expressöes do bloco Cd 4.21 ao nivel sintäctico-semäntico e pragmätico, verificando-se apenas a variacäo paradigmätica do verbo nuclear, influi decisivamente na criacäo de novas expressöes que satisfacam as condicöes formais, semänticas e pragmäticas acima discutidas. Vejamos, a titulo de exemplo, as seguintes duas expressöes que 'encaixam' no esquema - du kannst dich/... x lassen (mit etw.): du kannst dich/er kann sich/... einpökeln lassen (mit etw.); du kannst dich/er kann sich/... einmotten lassen (mit etw.). Observe-se que estes exemplos: (i) säo estruturalmente equivalentes äs expressöes do bloco Cd 4.21; (ii) possuem, ä semelhanca das expressöes (1) a (5), uma dimensäo ficcional - 'Vai-te ensalmourar!' (einpökeln), 'Vai-te proteger contra a traca!' (einmotten); (iii) manifestam afinidades semänticas com as expressöes do bloco Cd 4.21, verificando-se uma rede de semelhancas semänticas que opera entre os constituintes variäveis das expressöes - os verbos nucleares -154, rede que aliada ao contexto lexemätico fixo contribui para a criacäo de novas expressöes que realizam o mesmo acto de fala; (iv) exemplificam a ideia 'desaparecer' com base na pressuposicäo 'a prestacäo foi täo vergonhosa que o melhor que tens a fazer e desaparecer/morrer'. Para completar esta reflexäo, observemos a expressäo du kannst dich/er kann sich/... einrahmen lassen (mit etw.) ('vai-te encaixilhar/emoldurar'). Note-se que o pressuposto no qual esta expressäo assenta vai na direccäo inversa ao pressuposto que fundamenta as expressöes do bloco Cd 4.21: a prestacäo e täo vergonhosa que a pessoa se deve 'emoldurar', ou seja, a pessoa deve mostrar-se (ao mundo). Esta linha de pensamento compreende-se a partir do significado do lexema einrahmen: regra geral, as pessoas emolduram algo que seja digno de ser mostrado. Neste sentido, a expressäo e de caräcter irönico, dado que a pessoa näo vai ser objecto de admiracäo, mas sim objecto de troca devido ä sua 'triste figura'. Näo obstante esta diferenca, a expressäo du kannst dich/er kann sich/... einrahmen lassen (mit etw.) coincide com as expressöes do bloco Cd 4.21 nos seguintes aspectos: o piano da imagem (sprachliches Bild) e de natureza ficcional; o pressuposto pragmätico (critica e desaprovacäo do sujeito falante em relacäo ä prestacäo de outrem); o contexto lexemätico. Reencontramos aqui a questäo das 'semelhangas de familia' de Wittgenstein. 150 Tudo isto vem reforcar a ideia de que as expressöes idiomáticas que se encontram 'presas' a certo acto de fala especifico funcionam como 'molde' (Schablone) a partir do qual é possivel criar outras expressöes. Uma consequéncia deste fenómeno que se manifesta claramente na repeticäo e recorréncia de determinados elementos e/ou certas estruturas e formulas é a existencia de um conjunto de unidades que väo dar ao mesmo acto de fala. Esta situacäo da relativa abundäncia de expressöes sinónimas no domínio da idiomática contrasta com a escassez de sinónimos no domínio näo-idiomático. Chegados aqui, reter-se-á que as expressöes do bloco Cd 4.21, em conformidade com o processo metafórico e de transposicäo abordado no primeiro capitulo, apresentam dois pianos de significacäo, designadamente o piano do enunciado ou do significado literal e o piano do acto de fala realizado. A relacäo de sinonimia entre essas expressöes fundamenta-se nos seguintes aspectos: (i) na dimensäo ficcional; (ii) no esquema de imagens: as expressöes partem de uma mesma ideia, isto é, säo variacöes de uma mesma ideia; (iii) na mesma pressuposicäo (Hintergrund) pragmática; (iv) na construcäo sintáctica fixa. Quer dizer, todos estes factores contribuem para a convergéncia dos diferentes enunciados na realizacäo do mesmo acto de fala. 3.6. MODELOS DE CONSTRUCÄO COM TENDENCIA PARA A GENERALIZACÄO Já em diversas ocasiöes, ao longo deste estudo, fiz referencia ao facto da idiomática manifestar claramente urna tendencia para a padronizacäo. Neste quadro, o conceito de padronizacäo implica a existencia de um molde (Schablone) que dá origem a urna série de expressöes linguísticas, melhor dizendo, exemplares linguísticos. Vamos retomar este conceito através da análise de determinados modelos de construcäo que säo produtivos no que respeita a formacäo de expressöes sinónimas. Importa, portanto: (i) analisar a construcäo base do ponto de vista sintáctico e semäntico, com especial atencäo para a interligacäo entre estas duas dimensöes; (ii) captar a natureza da relacäo entre o piano idiomático e o piano näo idiomático; (iii) descortinar o mecanismo de generalizacäo subjacente aos modelos de construcäo aqui em destaque. 151 3.6.1. Modelo de construcäo com o constituinte nuclear wohl Em virtude do campo semäntico Cd 12 - spinnen ('näo regulär bem') - apresentar um nümero elevado de unidades idiomäticas que assentam no modelo de construcäo marcado pela particula modal wohl, as consideracöes que se seguem cingir-se-äo ao ämbito deste campo semäntico. Tomo como ponto de partida o bloco sinonimico Cd 12.6 cujas expressöes apresentam a matriz du hast/er hat wohl x ou bei jemandem ist wohl x: du hast/er hat wohl...?! bei jm. ist wohl...?! 1 einen Knall 10 ein Schräubchen locker 2 einen Stich in der Birne 11 eine Schraube locker 3 einen Stich 12 ein Rädchen locker 4 nicht alle Tassen im Schrank 5 nicht alle auf dem Christbaum 6 einen Dachschaden 7 nicht alle zusammen/beisammen 8 nicht alle auf der Latte 9 einen Sparren zuviel im Kopf Repare-se que estamos aqui perante perguntas retöricas que realizam o mesmo acto de fala. Ao enunciar qualquer uma das expressöes acima, o sujeito falante estä a criticar a atitude ou o comportamento do alocutärio ou de um terceiro: 'tu näo regulas bem/ele näo regula bem (da cabeca)'. E interessante verificar que o significado da particula wohl no contexto do modelo de construcäo em anälise näo corresponde ao seu significado em contexto näo idiomätico. Em sentido näo idiomätico a particula wohl encontra-se, regra geral, associada ä realizacäo de uma suposicäo (Vermutung) relativamente a um estado de coisas especificado no conteüdo proposicional do enunciado. Consideremos o seguinte exemplo, enunciado por um trabalhador que admite a doenca como explicacäo plausivel para a ausencia do colega de trabalho: Der Meier ist wohl krank ('0 Meier deve estar doente'). Este enunciado encontra-se marcado por um certo grau de incerteza: Der Meier dürfte krank sein. Pelo contrario, um locutor que pronuncie o enunciado Der Meier ist wohl krank! em sentido idiomätico - 'O Meier näo regula bem (da cabeca)' - fä-lo com base no juizo que ele proprio faz do comportamento da pessoa em questäo. Por outras palavras, o factor de 'incerteza' estä ausente do significado idiomätico da particula wohl neste modelo de construcäo. Posto isto, refira-se tambem que as expressöes (1) a (12), vinculadas ä posicäo certa e convicta do falante de que a pessoa em causa 'näo regula bem', parecem estar condicionadas ao tempo verbal do presente. Veja-se os seguintes exemplos: Der Meier hatte wohl einen Sparren zu viel im Kopf als er .../ ('0 Meier näo deveria estar bem (da cabeca) quando fez ...'). Ao pronunciar este enunciado o locutor estä a realizar uma suposicäo. Como vemos, o 152 processo de substituicäo do tempo verbal do presente por formas do passado poderá estar associado á realizacäo de outro acto de fala. O problema que agora se pöe consiste em descortinar a articulacäo entre o significado literal dos constituintes (1) a (12) e o significado idiomático das expressöes e, consequentemente, desvelar a rede de ligacöes semänticas que existe entre estes constituintes e os constituintes de outras expressöes contíguas pertencentes ao mesmo campo semäntico. Antes de mais, importa näo perder de vista que o arquilexema -spinnen - unidade que delimita o campo semäntico Cd 12, funciona como ponto de referéncia para este propósito. Repare-se, em primeiro lugar, na importäncia que a cabeca (der Kopf), órgao do corpo humano responsável pela actividade intelectual, desempenha no seio do campo semäntico em análise. Alias, importa assinalar que para alem do numero elevado de somatismos que apresentam o lexema Kopf como constituinte, existe, como se verá a seguir, uma rede complexa de expressöes idiomáticas que těm a cabeca, nomeadamente as características que a distinguem, como pano de fundo (Hintergrund). Limito-me aqui a referir as seguintes características: (i) a cabeca situa-se na extremidade superior do corpo; (ii) anatomicamente, a cabeca humana pode ser comparada a uma 'caixa' óssea, designada de cranio, constituída por uma cavidade craniana onde se encontra o cérebro e quatro cavidades mais pequenas155; (iii) o cérebro é tido como o centro das operacöes intelectuais156 e, consequentemente, como centro de actividade e vida157. Voltando aos constituintes (1) a (12), pretendo A ideia que temos da cabega enquanto 'caixaV'cämara', isto é, um espago físico dotado de limites e profundidade, serve de fundamente para expressöes tais como as referidas por Schemann (Quelle): jm. (immer wieder/...) durch den Kopf gehen ('näo sair da cabega a alg'); jm. nicht aus dem/ in den Kopf wollen ('qc näo sai da/näo entra na cabega a alg'); etw. noch/... im Kopf haben ('qc näo sai da cabega/da ideia a alg'); es geht jm. alles/alles mögliche/das wirrste Zeug/... um Kopf herum ('ter aquelas coisas todas/... a dangar na cabega'); etw. genau/... im Kopf behalten ('fixarbem qc'); plötzlich/... kommt es jm. in den Kopf, etw. zu tun ('dá na cabega a alg fazer qc'); Gedanken schießen jm. blitzartig/plötzlich/... durch den Kopf ('passar de repente pela cabega a alg'); wo du/sie/der Emil/... nur (immer) deinen/ihren/seinen/... Kopf hast/hat/... i ('onde é que alg anda com/tem a cabega'); nicht ganz klar im Kopf sein ('näo estar lá muito bem da cabega'). 156 Lembrarei que esta ideia do cérebro como centro de operagöes da faculdade intelectual serve de base ao processo de transposigäo que dá origem á expressäo 'ser o cérebro de qualquer coisa': O cérebro desto operacäo estratégica foi o Chefe das Forgas Armadas; Neste pólo está localizado o cérebro da organizagäo. 157 Importa integrar aqui urna referéncia á oposigäo entre a nocäo 'cheio/repleto de vida' ('Leben') e a nocäo 'desprovido de vida' ('Tod'). Chamo a atengäo para expressöes do campo semäntico Cd 10, campo delimitado pelo arquilexema dumm ('ser burro'), que jogam com a oposicäo 'cabega cheia' - 'cabeca vazia/oca'. Vejamos a expressäo eine hohle Nuß sein que significa literalmente 'ser uma noz sem miolo/'desmiolada". A palavra Nuß ('noz') designa um fruto seco que tem uma forma redonda e que é recheado de miolo, ou seja, contém matéria. No entanto, também é possível encontrar-se nozes cuja matéria está seca, engelhada, chocha e nozes que näo tém miolo, estäo vazias. Facilmente se reconhece, portanto, as semelhangas existentes entre a cabega de urna pessoa e o fruto seco conhecido por noz. Com base nestas semelnangas é possível substituir a expressäo ein Hohlkopf sein ('ser um(a) cabega oca') por eine hohle Nuß sein ('ser um(a) cabeca vazia/oca') e vice-versa sem que haja alteragöes do significado idiomático 'ser burro': estamos perante duas expressöes que através dos constituintes Hohlkopf e hohle Nuß assentam num mesmo nucleo de imagem (Bildkern): a auséncia ou a falta de matéria. Outro exemplo pode ainda ser acrescentado á nossa reflexäo sobre a oposicäo 'cheio' - 'vazio': ein Strohkopf sein (sentido literal: 'ser um(a) cabega com palha'; equivalente: 'ser um(a) cabeca-de-alho-chocho'). Tendo em conta que a palha é algo seco e o que 153 mostrar de que forma os aspectos atrás mencionados funcionam como pressupostos na relacäo que se estabelece entre a cabeca enquanto sede das faculdades mentais do hörnern e as expressöes em questäo. Comecemos por analisar os exemplos (6), (8) e (9), recorrendo, para tal, ao seguinte esquema: cabeca actividade intelectual e mental (6) einen Dachschaden haben (ter o telhado danificado) (8) nicht alle auf der Latte haben (näo ter todas as telhas no telhado) (9) einen Sparren zuviel im Kopf haben (ter uma telha a mais na cabeca) I falta de estabilidade más condicöes Observando os significados literais das expressöes (6), (8) e (9), verifica-se que estes fazem referenda de forma mais explicita ou menos explicita á parte superior da cobertura de um edificio, designada de Dach ('telhado'). Enquanto que na expressäo (6) a referencia ao telhado ocorre explicitamente através do composto Dachschaden ('danos no telhado'), nas expressöes (8) e (9) essa referencia sucede por meio dos lexemas Latte ('ripas') e Sparren ('telha') que designam o material utilizado para cobrir o telhado, isto é, está-se perante o uso metonímico destes lexemas (metonímia da matéria). Perante estas expressöes que säo empregues para exprimir a ideia de que alguém näo regula bem da cabeca {spinnť), como explicar a ligacäo semäntica entre os lexemas Kopf e Dach, a näo ser pelo facto de ambos remeterem para entidades que mantém semelhancas entre si. Em primeiro lugar, tanto a cabeca como o telhado situam-se na extremidade superior das entidades de que fazem parte: a cabeca no extremo do corpo humano e o telhado no extremo de um edificio. Para demonstrar a releväncia deste aspecto, vejamos as seguintes expressöes que fazem parte do bloco sinonímico Cd 12.7: bei dir fehlt oben etwas {falta-te qualquer coisa em cima') e im Oberstübchen nicht ganz richtig sein {näo estar bem no/do sótäo'). Facilmente se reconhece que säo os lexemas oben ('em é seco näo é fértil, é possível concluir que quando afirmamos que certo individuo tern palha na cabega, estamos a dizer que essa pessoa näo tern 'nada' (de fértil) na cabega. Por outras palavras: a pessoa näo é fértil em ideias, demonstrando falta de capacidade para criar, inventár, pensar. 154 cimaV'na parte superior') e Oberstübchen ('sötäo') que estabelecem uma ligacäo com a cabeca. Em segundo lugar, refira-se que o estado da cabeca e do telhado depende do estado em que se encontram os elementos que as compöem: o bom funcionamento da cabeca e das funcöes a ela associadas depende da condicäo em que se encontram, por exemplo, o cranio e o cerebro; o estado de um telhado depende das condicöes em que se encontra o material que o cobre, por exemplo, o estado as telhas ou das ripas. Partindo do facto de que urn telhado forma urn todo composto por um conjunto de partes ou pecas, e de esperar que um telhado que apresente telhas a mais (9) ou a menos (8) apresenta falta de estabilidade e de seguranca. Em outros termos: o telhado näo estä em boas condicöes. Encontramo-nos na presenca da transposicäo desta ideia para a esfera de significacäo 'cabeca': a cabeca da pessoa näo estä em boas condicöes. O principio da totalidade de que acabei de dar conta tambem desempenha urn papel importante nas expressöes (4), nicht alle Tassen im Schrank haben ('näo ter todas as chävenas no armärio'), (5), (sie) nicht alle auf dem Christbaum haben ('näo ter todas (as luzes) na ärvore de Natal') e (7), (sie) nicht alle zusammen/beisammen haben ('näo estar completo'; 'faltar algo'). Comparando estas tres expressöes, parece ser possivel tomar a expressäo (7) como neutra, unidade que constitui o ponto de partida para a formacäo das expressöes variantes (4), (5) e (8). Interessa registar que a variacäo da unidade (7) e as expressöes que reflectem o principio da totalidade e uma constante no campo semäntico Cd 12 - spinnen: seinen Verstandskasten nicht (so) recht/richtig beisammen haben; seine fünf Sinne nicht (recht) beisammen/zusammen haben; bei ihm fehlt oben etwas; bei dir fehlt's wohl im Kopf. Face ao ate aqui exposto, e possivel distinguir duas circunstäncias que contribuem para desestabilizar o principio da totalidade, isto e, que afectam a unidade ou o todo negativamente: por um lado, a falta ou ausencia de um ou mais componentes considerados necessärios ao todo158; por outro, o excesso de componentes para alem do que e considerado essencial ao bom funcionamento do todo159. Observando os exemplos (10) a (12) do bloco Cd 12.6, verificamos a existencia de uma terceira circunstäncia que interfere de modo negativo no funcionamento do todo. Antes, porem, de abordarmos este aspecto, repare-se que essas expressöes apontam, no piano literal, para o funcionamento de um mecanismo enquanto sistema 158 Cf. as expressöes: (sie) nicht alle zusammen/beisammen haben; nicht alle auf der Latte haben; nicht alle Tassen im Schrank haben; (sie) nicht alle auf dem Christbaum haben; bei ihm fehlt oben etwas; bei dir fehlt's wohl im Kopf; seine fünf Sinne nicht (recht) beisammen/zusammen haben; seinen Verstandskasten nicht (so) recht/richtig beisammen haben; die Sparren nicht alle haben; einen Sparren zuwenig haben; bei dir fehlt wohl ein Rad. 159 Cf. as expressöes: einen Sparren zuviel (im Kopf haben; eine Latte zuviel haben. 155 composto por um grupo de pecas que operám conjuntamente: uma máquina que tem um parafuso (Schraube) solto deixa de funcionar - está avariada - ou funciona de forma defeituosa; o mesmo acontece, por exemplo, com um relógio ou dispositivo que tem uma roda/rodinha (Rädchen) firouxa. Na base do emprego da imagem de uma máquina que tem um parafuso desapertado para dizer que uma pessoa tem comportamentos que revelam pouco juízo, isto é, que a pessoa 'náo funciona bem da cabeca' ou 'está avariada da cabeca', encontra-se um páralelismo entre a cabeca, em particular, o cérebro do ser humano enquanto sistema composto por subsistemas interdependentes e uma máquina composta por pecas que engrenam umas nas outras. Qualquer falha numa das pecas destes sistemas vai ter repercussöes no funcionamento do todo160. Eis o terceiro factor que afecta o bom funcionamento de um mecanismo: problemas com a sua estrutura, com os elementos que o compöem. Dito isto, parece ser possível afirmar-se que as expressöes (4) a (12) exemplificam a ideia ou o conceito 'kaputť ('partido', 'quebrado', 'estragado'): (i) dano/estrago (^Schaden'); (ii) estar a menos (num todo)/faltar ('einen zuwenig haben'; 'nicht alle haben'; 'fehlen'); (iii) estar a mais (einen zuviel haben); (iv) desarticulacäo dos componentes (locker sein). Por outras palavras, no piano da imagem estas expressöes constituem variacöes do conceito 'kaputt'. Estamos de novo perante um esquema de imagens (Bildschema). Para terminar a análise do bloco Cd 12.6, análise que pretende mostrar, entre outros aspectos, que a fixidez das expressöes idiomáticas náo se observa apenas ao nivel do contexto lexemático, manifestando-se igualmente no piano do contexto semäntico, em conexäo com factores de natureza sintáctica, semäntica, pragmática e antropolögica, abordam-se em seguida as expressöes (1) a (3). Para compreendermos melhor a ligacäo entre o significado literal do exemplo (1), du hast wohl einen Knall?!, e o significado idiomático 'falta de juizo'/'näo regulär bem (da cabeca)', tomemos como ponto de 160 Neste ponto, é necessário relembrar que a transposigäo classemätica que ocorre entre o domlnio fonte 'máquina' e o dominio alvo 'ser humano' é uma constante no dominio da idiomática. Vejamos, a titulo de exemplo, as seguintes expressöes que significam 'dar cabo de alg': jn. auseinander nehmen ('decompor alg') e jn. in seine Bestandteile zerlegen ('decompor alg nas suas partes'). Ambas as expressöes těm como base a construgäo bivalencial transitiva etw. auseinander nehmen, que faz referenda ao acto de desmontar determinado objecto, isto é, de separar as pegas de um conjunto. A construgäo base etw. auseinander nehmen apresenta na posicäo do complemento directo a restrigäo semäntica [+concreto] e [-animado], admitindo apenas lexemas que designam especificamente objectos ou coisas que possam ser decompostas, como, por exemplo, um motor: einen Motor auseinander nehmen ('desmontar um motor'). A expressäo dar cabo de alg serä objecto de análise no capitulo sobre a equivaléncia idiomática. 156 referenda as expressöes du hast wohl einen Schlag?! e du hast wohl einen Hieb?!, ambas com o significado literal 'ter um golpe/uma pancada (na cabeca)'. Estas expressöes assentam no seguinte pressuposto de causa - efeito: uma pancada ou um golpe na cabeca de uma pessoa pode provocar lesöes cerebrais que teräo impacto no seu discernimento, na sua capacidade de raciocinar. Chamo aqui a atencäo para a ligacäo entre estas expressöes e o ponto (i) do esquema de imagens acima: dano/estrago (Schaden). Alias, importa sublinhar que o principio de 'causa - efeito' estä bem patente no campo semäntico aqui em anälise. Limito-me aqui a considerar a seguinte expressäo do bloco Cd 12.15: du hast wohl eins mit dem Holzhammer auf den Kopf/Wirsing/Schädel161 gekriegt/bekommen?! Tendo em conta que um maco de madeira e um instrumento pesado, e de esperar que o impacto deste objecto na cabeca de uma pessoa provoque ferimentos e, consequentemente, leve ä perda de lucidez162. Posto isto, onde reside a ligacäo entre as expressöes du hast wohl einen Schlag/einen Hieb?! e a expressäo du hast wohl einen Knall, melhor dizendo, a ligacäo entre os lexemas Schlag e Hieb, por um lado, e o lexema Knall ('estalo'), por outro? O ponto de contacto parece ser o barulho ou o som produzido quando se da uma pancada violenta a alguem: der Schlag knallt. Com base no pressuposto de que um golpe que estala estä associado ä forca e ä violencia e, por conseguinte, a contusöes e ferimentos, compreende-se pois: (i) a relacäo metonimica entre os lexemas Schlag e Knall e (ii) a transposicäo metaförica que tem lugar entre o significado literal da expressäo du hast wohl einen Knall?! e o significado idiomätico da expressäo 'ter pouco juizo'163. Por fim, ocupo-me das expressöes (2) - du hast wohl einen Stich in der Birne?! - e (3) -du hast wohl einen Stich?! - do bloco Cd 12.6. A ligacäo entre os significados literal e idiomätico destas expressöes parece basear-se fundamentalmente nos seguintes 161 A relacäo paradigmática existente entre o lexema Kopf e o lexema Wirsing ('couve lombarda') baseia-se na semelhanga que estas entidades apresentam ao nivel da forma: tanto a cabeca como a couve lombarda tem uma forma redonda. Seguindo o critério da forma, entende-se a possibilidade de substituir o lexema Kopf pelo lexema Birne ('péra') no contexto lexemático em questäo: du hast wohl eins mit dem Holzhammer auf die Birne gekriegt/bekommen?! A relacäo paradigmática entre o lexema Kopf e o lexema Schädel ('cranio') pode ser entendida num duplo sentido: por um lado, o cranio tem uma forma oval ou ob longa; por outro, o cranio é uma das 'pegas' que compöe a cabega. 162 Observando a expressäo do bloco Cd 12.15 dich haben sie wohl (als Kind) zu heiß gebadet?, verificamos que esta faz referenda no piano literal á accäo de dar banho a uma crianca em água escaldante, accäo que pode provocar queimaduras e ferimentos. Subentendido na relagäo entre o significado literal e o significado idiomätico destas expressöes está a transposigäo das marcas fisicas produzidas por um escaldäo ou uma pancada para o dominio mais abstracto da actividade mental. 163 Vejam-se as reflexöes de Schemann (2003: 103-107) sobre a relagäo entre o conceito genérico schlagen e o lexema knallen desenvolvidas no ämbito da anälise da sinonimia no interior do bloco Cc 26.29 cujas expressöes possuem o significado idiomätico jn. ohrfeigen ('esbofetear alg'). 157 contextos semänticos vinculados ao lexema Stich enquanto forma livre: (i) no contexto de alimentos que azedam e se tornám impróprios para consumo - die Suppe/die Milch hat einen Stich ('a sopa/o leite azedou'); (ii) no contexto da fruta que é 'picada' ou atacada pela traca e que acaba por apodrecer - angestochenes Obst ('fruta bichosa'); (iii) no contexto de um estado patológico provocado pela excessiva exposicäo aos raios solares - einen Sonnenstich haben/bekommen ('softer urna insolacäo'). Trata-se, como se vé, de contextos que implicam uma mudanca de um estado considerado normal para um estado ou urna condicäo de azedamento, de apodrecimento, de doenca. Ao tentarmos estabelecer o nexo entre o significado literal e o significado idiomático da expressäo du hast wohl einen Stich?!, constatamos a existencia da transposicäo metafórica desta ideia comum aos contextos ligados ao sentido literal do lexema Stich para o domínio alvo abstracto da actividade intelectual e da capacidade de raciocinio do hörnern. Tudo indica que as expressöes (2) e (3) constituem, gracas ao lexema Stich (—► doente, estragado), urna variacäo da ideia 'kaputť. Assim visto, este elemento também faz parte do esquema de imagens relativo ao conceito 'kaputť. Verificada a ligacäo do lexema Stich com o traco semäntico 'näo estar säo', é interessante notar que este traco está patente em outras expressöes do mesmo campo semäntico, a saber: hast du sonst noch Schmerzen? ('tens mais dores?'); aber sonst/ansonsten/im übrigen bist du gesund (was/oder/ja)? ('mas de resto estäs bem (de saude)?'); du bist wohl krank! ('so podes estar doente!'); kriegst/hast du das (eigentlich) ößer?(iisso dä-te muitas vezes?'). Esta reflexäo sobre o modelo de construcäo com a particula modal wohl - du hast/... wohl..?!., du bist/... wohl...?!, bei dir/... ist/... wohl...?! - tem como objectivo mostrar que, independentemente do conjunto variado de pressupostos e contextos semänticos aqui representados, todas as expressöes analisadas possuem o mesmo significado idiomático - spinnen ('näo estar no seu (perfeito) juizo') - e realizam o mesmo acto de fala. Resta-me, para concluir esta seccäo, chamar a atencäo para o facto do modelo de construcäo aqui em foco funcionar como padräo (Schablone) a partir do qual é possivel formar uma série de variantes que, abstraindo das diferencas e nuances inerentes aos significados literais dos seus constituintes, säo sinónimas. Para reforcar esta observacäo, termino com urna breve referencia ás expressöes idiomáticas do campo semäntico Cd 12 cujos constituintes designam animais ou estejam semanticamente relacionados com animais: bei dir piept's wohl?; du hast wohl einen Vogel (im Kopß! ('tens decerto um pássaro (na cabeca)'). De facto, se pensarmos em construcöes paralelas ás expressöes 158 acabadas de citar, como, por exemplo, bei dir zirpt's wohl?, du hast wohl Grillen/Mäuse im Kopf! ('tens decerto grilos/ratos na cabeca')164, du hast wohl einen Spatz im Dach! ('tens decerto um pardal no telhado'), vemos que elas constituem variantes que seguem o mesmo modelo de construcäo, modelo esse que se encontra vinculado ao significado idiomätico 'näo regulär bem' e ä realizacäo do acto de fala no qual o sujeito falante critica a atirude ou o comportamento pouco ajuizado do alocutärio ou de um terceiro. Ainda em relacäo ä particula modal wohl, como se pöde avaliar pelos exemplos apresentados nesta seccäo, tratam-se de expressöes cujas imagens no piano literal säo de ordern ficcional, isto e, a pessoa a quem o sujeito falante se dirige näo tem nenhum pässaro, nem grilos ou ratos na cabeca, näo levou nenhuma pancada, nem sofireu nenhuma insolacäo, etc. Verifica-se, assim, que o sujeito falante exprime uma certeza (wohl) aparente ou fingida que assenta na seguinte pressuposicäo pragmätica: 'du benimmst dich so, dass ich annehmen 'muss': 'du bist verrückt" ('comportas-te de tal forma que sou obrigado a concluir que estäs louco'). Convirä neste ponto isolar os factores que intervem na relacäo de sinonimia existente entre as expressöes do bloco Cd 12.6: (i) o saber antropolögico sobre o örgäo do corpo humano designado de Kopf ('cabeca'); (ii) a transposicäo metonimica (Kopf - Schädel - Wirsing - Birne) e metaförica (Kopf- Dach); (iii) o esquema de imagens que integra elementos que exemplificam e variam o conceito de 'kaputt; a pressuposicäo pragmätica que conduz ä mesma conclusäo: 'du bist verrücktV; (iv) um modelo de construcäo fixo com a particula modal wohl; (v) a dimensäo ficcional da imagem linguistica (sprachliches Bild). 3.6.2. Modelos de construcäo caracteristicos de categorias especificas Ao longo da exposicäo que segue, pretendo mostrar a existencia no dominio da idiomätica de modelos de construcäo que, estando perfeitamente delimitados nos eixos sintagmätico e paradigmätico, se encontram presos a categorias semänticas especificas. Proponho-me fazer uma exposicäo sumäria de alguns destes modelos, focando com maior rigor os modelos que desempenham um papel estruturante no seio da idiomätica. Cf. a expressäo equivalente em portugues: ter macaquinhos na cabega/no sötäo. 159 3.6.2.1. Categoria: Um colectivo de pessoas Considerem-se as seguintes expressöes do bloco sinonimico la 2.8: la 2.8 1 der ganze Verein 2 der ganze Klub 3 die ganze Gesellschaft 4 die ganze Bande 5 die ganze Blase Em primeiro lugar, destaque-se que os substantivos Verein ('associacäo'), Klub ('clube'), Gesellschaft ('sociedade'; 'comunidade'), Bande ('bando'), Blase ('malta') designam um colectivo de pessoas, sendo que o lexema Bande enquanto forma livre possui do ponto de vista sincrönico uma conotacäo pejorativa ou depreciativa165 e o lexema Blase faz referenda a uma vesicula cutanea (bolha/empola) que geralmente contem um liquido no seu interior, isto e, designa algo negativo que causa alguma repulsa fisica. Quanto ä expressäo die ganze Blase, verifica-se, portanto, uma transposicäo metaförica, dado que o lexema Blase (erupcäo cutanea) e empregue no contexto lexemätico em questäo para designar um colectivo de pessoas. Como seria de esperar, a conotacäo depreciativa associada ä expressäo (5) resulta deste processo. Em segundo lugar, a unidade deste bloco de expressöes assenta no modelo de construcäo que pode ser representado da seguinte forma: der/... + ganze + substantivo colectivo [neutro/de conotagäo pejorativa] v---^___■> colectividade/grupo/conjunto de pessoas Independentemente das nuances que existem entre os significados dos substantivos colectivos das expressöes do bloco Ia 2.8, estas exprimem o mesmo significado base: um conjunto de pessoas. Sobre a evolugäo semäntica do lexema Bande, cf. a entrada correspondente ao lema Bande do Deutsches Wörterbuch: "Schar< aus einem agerm. Wort für >Fahne< (verw. mit binden), also eigentl. >Kriegerschar, die unter einer Fahne vereinigt ist< dann überhaupt >Genossenschaft< seit Ad. fast nur neg., i.Ggs.zu Gruppe häufig im Kriminalwesen: eine Bande Diebe, Räuber". 160 3.6.2.2.Categoria: Um colectivo de coisas Observemos os seguintes exemplos pertencentes ao bloco la 2.16 cujo modelo de construcäo apresenta afinidades com a estrutura que exprime urn colectivo de pessoas: Ia 2.16 1 das ganze Zeug 2 der ganze Kram 3 der ganze Krempel 4 der ganze Zauber 5 der ganze Schwindel 6 der ganze Rotz 7 der ganze Rummel 8 der ganze Zimt 9 der ganze Zinnober Repare-se que: (i) os substantivos aqui representados těm como denominador comum o traco semäntico 'coisa(s) com pouco valorV'coisa(s) insignificante(s)'. Note-se alias que, no contexto lexemático aqui em análise - der/... + ganze + x -, estes constituintes exemplificam um mesmo conceito: 'coisas com pouco valor'. De facto, a substituicäo de qualquer um dos substantivos das unidades (1) a (9) por um lexema que funcione como 'exemplo' do conceito 'coisas com pouco valor' levará á criacäo de uma expressäo sinónima das expressöes do bloco Ia 2.16. E o que se verifica, por exemplo, em relacäo ao lexema Gerumpel ('velharias'; 'trastes velhos'): das ganze Gerumpel. Convém porém notar que o lexema Gerumpel abarca apenas parte da esfera semäntica do lexema Zeug. Em outros termos: o lexema Gerumpel é semanticamente mais restrito. As observacöes precedentes confirmam a ideia defendida por Schemann (2003: 107-109) de que a sinédoque exemplificativa (exemplifizierende Synekdoche) é um factor que contribui para a constituicäo de expressöes sinónimas no ämbito da idiomática. Ainda em relacäo ao traco semäntico 'coisa(s) insignificante(s)', importa assinalar que esta caracteristica encontra-se geralmente associada a um significado depreciativo; (ii) embora alguns dos substantivos tomados como formas livres - Zeug, Kram, Krempel, Rummel166 - possam designar um colectivo de coisas, o sentido do 'conjunto' é reforcado pelos constituintes das/die + ganze. Dito isto, a interaccäo entre o modelo de construcäo, vinculado ä categoria com o valor semäntico 'um colectivo/conjunto de coisas', e o significado dos substantivos acima pode ser representada por um esquema como o seguinte: Uma vez que, segundo a entrada correspondente ao lema Rummel constante do Röhrich, a palavra Rummel pode ser empregue para designar uma feira anual - auf den Rummel gehen ('ir ä feira'), Rummelplatz ('lugar onde se realiza a feira') - parece ser possivel afirmar que o substantivo Rummel adquire um valor colectivo por metonimia: o vocäbulo Rummel com a acepcäo 'mercado' ou 'feira' e empregue para designar o conjunto dos artigos, das velharias e dos produtos que ai se expöem e vendem. 161 der/... + ganze substantivo coisa(s) de pouco valor colectivo/conjunto de coisas Em síntese: todas as expressoes que assentam neste modelo de construcao těm o mesmo significado base, designadamente 'o conjunto das coisas (que estao em causa)'. 3.6.2.3. Categoria: 'por tudo epor nada'/'nada — absolutamente nada'/'nada de nada' A reuniäo das subcategorias que se seguem numa categoria superior deve-se ao facto destas apresentarem, como teremos oportunidade de observar, afinidades a vários niveis. (a) Wegen jede Kleinigkeit - 'por motivo insignificante'/'por tudo e por nada' Examinemos as seguintes expressoes do bloco sinonimico la 3.19: Ia 3.19 1 für alles und für nichts 2 für/um jeden Kram 3 für/um jeden Dreck 4 für/um jeden Mist 5 für/umjeden Scheißdreck Primeiramente, refira-se que as expressöes (1) a (5) säo empregues em contextos sintäctico-semänticos especificos. Veja-se, a titulo de exemplo, os seguintes enunciados do Dicionärio Idiomätico Alemäo - Portugues (Schemann, 2002): Wenn du dir für alles und für nichts solche Sorgen machst, machst du dir es doch nur unnötig schwer; Ohne Examen bringst du es doch zu nichts in dieser Gesellschaft, in der für alles und für nichts ein sogenanntes 'Diplom' verlangt wird. Abstraindo do registo grosseiro que caracteriza as expressöes (3) a (5), e possivel substituir a expressäo für alles und für nichts nos enunciados acabados de citar pelas expressöes (2) a (5) sem que dai resulte uma alteracäo do significado idiomätico wegen jede Kleinigkeit ('por tudo e por nada'). Em segundo lugar, a expressäo (1) e uma unidade de caräcter neutro que circunscreve a esfera de significacäo do conjunto de sinönimos acima. As expressöes (2) a (5) inserem--se no espaco semäntico delimitado pela expressäo für alles und für nichts ('por tudo e 162 por nada'), expressäo que no piano idiomätico significa für alles' (por tudo). Como vemos, no piano da imagem a expressäo (1) exprime dois pölos extremos - alles ('tudo') e nichts ('nada'), isto e, exprime a ideia da 'totalidade' ou do 'todo' - o que e considerado em toda a extensäo. Trata-se, portanto, do principio da totalidade (Totalisierung)167. Por ultimo, nas expressöes (2) a (5) podemos falar de uma interseccäo dos eixos sintagmätico e paradigmätico. O ponto de interseccäo ocorre na posicäo x da estrutura sintagmätica fixa: flrfum + jeden + x. Efectivamente sucede que todos os lexemas que ocupam essa posicäo - Kram ('tralha', 'trastes'), Dreck ('porcaria'), Mist ('lixo', 'porcaria'), Scheißdreck ('merda', 'caca') - fazem referenda a coisas äs quais atribuimos pouco valor. Estes lexemas exemplificam o conceito de 'pouco valor'. Escreve Schemann a respeito do processo de exemplificacäo: "Jedes Exemplum setzt Weltwissen und die Fähigkeit voraus, dieses Wissen in Begriffe umzusetzen - bzw., umgekehrt, Begriffe in 'Beispiele aus der Welt' 'aufzulösen'" (2003: 109). Podemos, por conseguinte, dizer que este processo assenta, por um lado, na interaccäo hörnern -mundo e, por outro, na capacidade de convertermos ou transformarmos o conhecimento que resulta desta interaccäo em conceitos (capacidade de abstraccäo) e vice-versa, a capacidade de resolver conceitos em exemplos. Voltando aos exemplos (2) a (5), reconhecemos que se trata de um caso de sinedoque dinämica que ocorre por via da substituicäo do elemento nuclear (x) da construcäo flrfum + jeden + x. E com isto verificamos que estamos perante um modelo de construcäo que para alem da fixidez no piano sintagmätico tambem revela fixidez no piano paradigmätico. (b) Sich über jede Kleinigkeit ärgern/aufregen - 'chatear-se/afligir-se por qualquer ninharia' Observemos as seguintes expressöes do bloco sinonimico Ia 3.23: 167 Releva salientar a releväncia da ideia da 'totalidade' ou do 'todo' enquanto esquema que funciona como base para a formagäo de unidades linguisticas no ämbito da idiomätica. Sirvam de exemplo algumas das expressöes que integram o bloco sinonimico Ic 1.8, bloco que pertence ao campo semantico delimitado pelos arquilexemas echt ('autentico'/'genuino'), typisch ('tipico'/'caracteristico'), durch und durch ('completamente'/'de cima a baixo'/'do principio ao fim'): von Kopf bis Fuß ('da cabeca aos pes'); vom Scheitel bis zur Sohle (sentido literal: 'do alto da cabega ä planta dos pes'; equivalente: 'da cabeca aos pes'); von hinten bis vorne/vorne bis hinten ('de träs para a frente'/ 'de frente para träs'); von oben bis unten ('de cima/alto a baixo'). Como se pode depreender, todas estas expressöes transmitem a ideia 'totalmente'/'integralmente'/'completamente'. Consulte-se Schemann (2003: 109-112) para uma anälise detalhada de expressöes que partem deste esquema. 163 Ia 3.23 1 sich über jeden Käse aufregen/ärgern/... 2 sich über jeden Quark aufregen/ärgern 3 sich über jede/(die) Fliege ander Wand ärgern/... 4 sich über jeden Fliegenschiß an der Wand ärgern/... A semelhanca do que se verifica em relacäo äs expressöes do bloco Ia 3.19, os constituintes das expressöes do bloco Ia 3.23 que exprimem a ideia 'por tudo e por nada/por qualquer ninharia' tambem designam coisas ou objectos insignificantes - Käse ('queijo'), Quark ('requeijäo'), Fliege ('mosca'), Fliegenschiß ('merda de mosca'). Quer dizer, estes lexemas säo empregues como exemplos da mesma ideia, o que significa que estamos perante o processo da sinedoque dinämica. Assim sendo, a substituicäo destas palavras pelos lexemas Kram, Dreck, Mist, Scheißdreck do bloco Ia 3.19 näo altera em nada o significado idiomätico sich über jede Kleinigkeit ärgern/aufregen ('chatear-se7'afligir-se por qualquer coisinha'): sich über jeden Kram/Dreck/Mist/Scheißdreck aufregen/ärgern. Em segundo lugar, repare-se que, para alem da estabilidade paradigmätica acima exposta, estamos perante um modelo de construcäo cuja fixidez ao nivel do contexto lexemätico se encontra aliada a restricöes ao nivel do contexto semäntico: sich + über + jede(n) x (coisa insignificante) + verbo (aufregen/ärgern). Posto isto, parece näo ser infundamentado afirmar-se que a fixidez ao nivel sintäctico e semäntico que enforma o modelo de construcäo aqui em anälise näo constitui impedimento para o surgimento de outras expressöes sinönimas dos exemplos do bloco Ia 3.23. Pelo contrario, o modelo ou padräo linguistico, conjuntamente com os factores de ordern sintäctica e semäntica que estäo na sua origem, parece funcionar como elemento facilitador da criacäo ou construcäo de novas expressöes. (c) Nichts verstehen vom etwas - 'näo entender/perceber (absolutamente) nada de algo' Observando as expressöes do bloco Cd 2.10, concluimos que: Cd 2.10 1 einen Quark von etw. verstehen 2 einen Dreck von etw. verstehen 3 von etw. so viel verstehen wie die Kuh vom Sonntag 4 von etw. so viel verstehen wie der Ochs vom Klavierspielen 5 von etw. so viel verstehen wie der Esel vom Lautenschlagen 6 von etw. so viel verstehen wie der Hahn vom Eierlegen 164 (i) As expressöes (1) e (2) apresentam uma estrutura sintagmática fixa: einen + x (coisa com pouco valor) + von etw. verstehen. Tal como sucede com as categorias acima, verifica-se uma fixidez paradigmática na posicäo x do modelo. De modo geral, todos os lexemas já apresentados, portadores do traco semäntico 'coisa com pouco valor' ou 'coisa insignificante' podem ser inseridos na posicäo x sem que dai resulte alteracöes do significado idiomático 'näo perceber/entender (absolutamente) nada de qualquer coisa'. Importa, no entanto, referir que as expressöes (1) e (2) possuem uma estrutura sintáctico-semantica irregular na medida em que, do ponto de vista da construcäo base nichts von etw. verstehen (Er versteht nichts von Architektur/Musik), näo é usual o emprego do sintagma nominal com valor semäntico de quantidade - nichts ('nada') - em funcäo de complemento no acusativo168. (ii) As expressöes (3) a (6) apresentam uma estrutura paralela que estabelece uma comparacäo: von + etw. + so viel + verstehen + wie + x + vony. Analisando mais de perto esta estrutura - von etw. versteht A so viel wie {x1/x2/x3... von y1/y2/y3...}, impöe-se reconhecer que o contexto lexemático von + etw. + so viel + verstehen + wie por si sója sugere a ideia de 'grau mais elevado possivel' (höchster Grad), isto é, a pessoa em questäo näo percebe absolutamente nada de determinado assunto. Assim visto, os lexemas que ocupam as posicöes x e y, isto é, os termos de comparacäo (Vergleichselemente), näo těm influéncia sobre o significado idiomático da expressäo 'näo entender/perceber (absolutamente) nada de algo'. Isto significa que, teoricamente, qualquer lexema poderá ser inserido nas posicöes x e y sem alteracäo do significado idiomático. Estamos, portanto, perante uma construcäo comparativa que funciona como uma formula vazia (Leerformel). (iii) O piano da imagem das expressöes (3) a (6) é de natureza ficcional e hiperbölica. Em primeiro lugar, repare-se na relacäo de incongruéncia entre o constituinte verbal verstehen ('compreender'/'entender'/'perceber') e os lexemas que ocupam a posicäo x - Kuh ('vaca')/Ocfe ('boi')/&e/ ('burro'yHahn ('galo'). Em segundo lugar, observe-se a ligacäo desconexa existente entre as unidades x e as respectivas unidades^: Kuh - Sonntag ('domingo'); Ochs - Klavierspielen ('tocar piano'); Esel - Lautenschlagen ('tocar alaude'); Hahn - Eierlegen ('pör ovos'). 168 Cf. o seguinte enunciado do Dicionário Idiomático Alemäo - Portugués (Schemann, 2002): Versteht der Rainer denn überhaupt etwas von Atomphysik? - Einen Quark versteht er davon. Er tut nur immer so, als wenn er etwas davon verstünde. 165 Dito isto, parece ser possivel dizer que a evidencia da relacäo de incongruencia entre estes constituintes suscita um efeito cömico169 e reforca ou intensifica de forma hiperbölica a ideia de 'grau muitissimo elevado' (höchster Grad): alguem percebe tanto de qualquer coisa como o galo de pör ovos. Em outros termos: o individuo näo percebe rigorosamente nada do assunto. Explorando a ideia de que as imagens de natureza ficcional säo um produto da imaginacäo humana que, regra geral, se inspira nos mais diversos contextos, tudo indica que, dando asas ä nossa imaginacäo, e possivel chegar ä ideia 'näo entender/perceber absolutamente nada' por meio de outras imagens do dominio do fantästico que, ä semelhanca do que se verifica relativamente aos exemplos (3) a (6), assentam na relacäo de incongruencia dos seus constituintes. (iv) O emprego destas expressöes estä limitado ao contexto especifico ligado ao entendimento ou ä compreensäo de algo. Näo obstante a predominäncia do verbo verstehen nos exemplos acima, tome-se em consideracäo, por exemplo, o verbo begreifen ('compreender') proveniente do mesmo campo semäntico. Efectivamente, a substituicäo do constituinte verbal verstehen pelo verbo begreifen da origem a expressöes sinönimas que exprimem o mesmo significado idiomätico: einen Quark von etw. begreifen; von etw. so viel begreifen wie die Kuh vom Sonntag. Em outros termos: estas expressöes säo variantes das respectivas expressöes do bloco Cd 2.10. Resta-me, para concluir esta seccäo, reunir os factores que influem na constituicäo de expressöes sinönimas decorrentes das consideracöes acima: (i) os modelos de construcäo que se distinguem pela sua fixidez tanto no piano sintagmätico como paradigmätico - der/... + ganze + substantivo colectivo; der/... + ganze + substantivo (coisa de pouco valor); für/um + jeden + substantivo (coisa de pouco valor); sich + über + jeden/... + substantivo (coisa de pouco valor) aufregen/ärgern; einen/... + substantivo (coisa com pouco valor) von etw. verstehen; (ii) intimamente ligada ao ponto (i) encontra-se a sinedoque dinämica ou exemplificativa. O constituinte nuclear dos contextos lexemäticos referidos em (i) corresponde a lexemas que exemplificam o mesmo conceito ou a mesma ideia; (iii) a estrutura comparativa na qualidade de formula 169 Escreve Beattie ([1779], in Robinson, 1996: 320-321): "Laughter arises from the view of two or more inconsistent, unsuitable, or incongruous parts or circumstances, considered as united in one complex object or assemblage, or as acquiring a sort of mutual relation from the peculiar manner in which the mind takes notice of them". 166 vazia (Leerformeľ) - von etw. so viel verstehen wie ... - que exprime a ideia de 'grau mais elevado possíveľ (höchster Grad); (iv) a dimensäo ficcional da imagem (sprachliches Bild). 3.7. A SINONÍMIA NÄO IDIOMÁTICA VERSUS A SINONÍMIA IDIOMÁTICA 3.7.1. Comparacäo dos factores de diferenciacäo de sinónimos nos pianos näo idiomático e idiomático Nesta seccäo proponho-me estabelecer uma comparacäo entre os factores de diferenciacäo sinonímica que actuam no piano linguístico näo idiomático e aqueles que operám no piano da idiomática. Para tal, tomo como ponto de partida trés estudos que, embora näo lhes tenha sido dada a devida atencäo, abordam alguns aspectos básicos e essenciais da problemática da sinonímia näo idiomática. Trata-se do capítulo intitulado "La Synonymie" do Précis de Lexicologie Frangaise (1988) da autoria de Bárdosi e Pálfy, do artigo de Ducháček intitulado "Différents types de synonymes" (1964) e do capítulo "Le probléme de la synonymie: valeurs symboliques et valeurs symptomatiques" da obra Vers une sémantique moderne (1984: 173-203) de Baldinger. A sistematizacäo dos factores que jogam no piano da idiomática basear-se-á na abordagem da sinonímia idiomática apresentada no presente capítulo. A questäo da existencia ou näo existencia de sinonímia perfeita tem sido discutida sob diferentes perspectivas e suscita algumas dúvidas e dificuldades. Segundo a análise efectuada por Söll no seu estudo intitulado "Synonymie und Bedeutungsgleichheit" (1966), é possível identificar trés tipos de respostas dos investigadores da sinonímia á pergunta "Gibt es bedeutungsgleiche Wörter?'" (1966: 91): (i) Um primeiro grupo de investigadores contesta a existencia de sinónimos perfeitos. Bally, na sua obra Traité de stylistique frangaise, afirma que "un fait ď expression ne trouve pas toujours un terme qui puisse ľidentifier, et que ce terme, s'il existe, ne lui équivaut jamais exactement; car deux faits de langage ne sont jamais complětement synonymes" (1951: 108). Observemos que Bally fundamenta a sua posicäo relativamente á näo existencia de sinonímia perfeita a partir do piano da 'ideia' (fait ďexpression). Ao falar da ideia que procura uma expressäo linguística, expressäo que, caso exista, näo coincide com ou näo corresponde 167 exactamente ä ideia que se pretende exprimir, Bally supöe a existencia de uma especie de 'hiato' entre a 'ideia' e a expressäo linguistica (fait de langage). Com efeito, nenhumas duas expressöes linguisticas que 'correspondam' ä mesma 'ideia' säo totalmente sinönimas. Ja outros influentes autores manifestam a sua posicäo a partir do piano da lingua170. Limitar-me-ei aqui a apontar o contributo do filölogo e lexicögrafo alemäo Dornseiff, que no prefäcio da primeira edicäo do seu dicionärio Der deutsche Wortschatz nach Sachgruppen, publicado em 1934, denuncia a sua posicäo, recorrendo ä seguinte anedota: "Ein Botschafter zu seinem Vorgesetzten: "Ja, die deutsche Sprache ist so schwer, immer bedeuten zwei Wörter das gleiche: speisen und essen, springen und hüpfen, schlagen und hauen, senden und schicken". Darauf der Chef: "Das stimmt nicht. Eine Volksmenge kann man speisen, aber nicht essen, eine Tasse springt, aber sie hüpft nicht, die Uhr kann schlagen, aber nicht hauen, und sie sind ein Gesandter, aber kein geschickter". Und zu einer anwesenden Dame: "Ich kann Sie an einen sicheren Ort führen, aber nicht an einen gewissen"" (Dornseiff (1934), apud Söll, 1966: 96, nota). Segundo Dornseiff, averiguar a existencia de uma relacäo de sinonimia entre palavras pressupöe tomar em consideracäo os contextos sintäctico-semänticos nos quais estas unidades ocorrem ou podem ocorrer. (ii) Um segundo grupo de investigadores mantem uma posicäo ambigua, visto que os exemplos e argumentos aduzidos para fundamentar a possibilidade da existencia de sinonimia perfeita säo pouco convincentes. Ullmann da inicio ao capitulo da sua obra Semantics (1964: 141-155) dedicado ä sinonimia com a seguinte afirmacäo: "(...) it would be wrong to deny the possibility of complete synonymy. Paradoxically enough, one encounters it where one would least expect it: in technical nomenclatures. The fact that scientific terms are precisely delimited and emotionally neutral enables us to find out quite definitely whether any two of them are completely interchangeable, and absolute synonymy is by no means infrequent" (1964: 141). Cf. a afirmagao de Bloomfield (1973: 145): "each linguistic form has a constant and specific meaning. If the forms are phonemically different, we suppose that their meanings are also different - for instance, that each one of a set of forms like quick, fast, swift, rapid, speedy, differs from all the others in some constant and conventional feature of meaning. We suppose, in short, that there are no actual synonyms". 168 Ullmann expressa a ideia de que a sinonimia absoluta ou perfeita ocorre no dominio do vocabulário técnico-científico, pois que o significado destes termos pode ser delimitado com rigor e näo possui valor afectivo. Baseando-se nos exemplos de sinónimos absolutes apresentados por Ullmann - spirants = fricatives, Semantik = Semasiologie, Lautlehre = Phonetik, Formenlehre = Morphologie -, Söll (1966: 93-94) cháma a atencäo para o facto de que este linguista circunscreve a sua análise sinonímica dos termos técnicos ao nível da langue, descurando, desta forma, outros factores que pöem em evidéncia as diferencas entre os vocábulos em questäo. As reservas postas por Söll fundam-se sobretudo em duas ordens de argumentos: em primeiro lugar, na identificacäo de sinónimos absolutes, há que analisar as restricöes de distribuicäo dos termos em análise. Söll observa que, por exemplo, no caso do par sinonímico Semantik -Semasiologie, näo é possível substituir o termo Semantik pelo termo Semasiologie nas seguintes combinacöes sintagmáticas: philosophische Semantik, logische Semantik, allgemeine Semantik. Assim visto, a análise dos contextos linguísticos em que os termos ocorrem e da possibilidade ou näo de comutacäo entre os mesmos assume particular releväncia na discriminacäo de diferencas semänticas ténues entre lexemas que, á primeira vista, säo tidos como sinónimos absolutes. Em segundo lugar, a oposicäo entre os conceitos de 'sentido' e 'referente' é um factor a ter em conta na verificacäo da existéncia de sinonimia absoluta entre termos técnicos. Aqui é necessário, certamente, evocar a diferenca entre sentido e referéncia: palavras ou locucöes que, tendo o mesmo referente, säo portadoras de sentidos diferentes, isto é, apresentam o referente sob aspectos ou ángulos diferentes171. Segundo Söll, os pares de termos técnicos tidos como sinónimos absolutes näo constituem excepcäo em relacäo á oposicäo sentido - referéncia. 171 Em alguns autores encontra-se o termo 'sinonimia referenciaľ para designar este fenómeno. Cf. a interpretacäo deste termo, formulada por Bastuji no manual intitulado Comment apprendre le vocabulaire? e citada no artigo de Bárdosi e Pálfy (1988: 82): "On peut (...) dénoter le méme objet par une classe de parasynonymes et de periphrases. Ainsi, pour éviter de répéter le mot Paris, on le remplacera par capitale de la France, ville-lumiěre ou grande metropole frangaise. De méme, on peut designer la planete Vénus comme ľétoile du soir, ľétoile du matin, ľétoile du berger. De telies periphrases définissent sur les mots Paris ou Vénus une synonymie referentielle: ľobjet nommé demeure identique, mais les propriétés qui lui sont attribuées sont á chaque fois différentes. Ainsi s'opposent le referent (ľobjet ou ľétre auquel renvoie un mot ou un groupe de mots) et le signifié (les traits et propriétés sémantiques qui lui sont attribuées)". Por sua vez, Baldinger (1984: 197-198) distingue entre synonymie extensionelle e synonymie compréhensionelle: "Synonymes par extension, Paris et capitale de la France ne le sont que pour ceux qui connaissent leur identite. Ľétoile du matin (Morgenstern) et ľétoile du soir (Abendstern) sont définies comme deux objets différents quand on procěde par comprehension; ils sont pourtant extensionnellement synonymes (Vénus)". 169 (iii) O ultimo grupo de estudiosos defende categoricamente a existencia de sinönimos absolutos. Duchäcek, um dos poucos linguistas que procurou sistematizar as relacöes sinonimicas entre unidades de significacäo, faz uma divisäo primaria entre sinönimos absolutos (synonymes absolus) e sinönimos parciais (synonymes partiels). O fulcro desta divisäo, que se baseia na anälise do conteüdo semäntico das unidades linguisticas, consiste na distincäo clara entre unidades lexicais monossemicas e unidades lexicais polissemicas. Duchäcek afirma explicita e reiteradamente que "Cette distinction est, cependant, tres importante puisque - en ce qui concerne les contenus semantiques - seuls les mots monosemiques peuvent s 'accorder integralement avec d'autres mots egalement monosemiques, par exemple deuxieme avec second ou bien nul avec aucun. Nous les appellerons synonymes absolus. Quant aux noms polysemiques, seulement / 'une de leurs acceptions peut egaler celle d'un autre mot monosemique ou / 'une des acceptions d'un autre motpolysemique. Dans ce cas, il s'agit done de synonymes partiels, parce que les deux unites lexicales ne s'aecordent que par une partie de leurs contenus semantiques, par example revue coincide avec parade par l'une de ses acceptions et avec magazine par l'autre" [sublinhado por mim] (1964: 36). Como se pode depreender, o principio explicativo desta divisäo entre sinönimos absolutos e sinönimos parciais consiste na verificaeäo do nümero de acepcöes que as unidades lexicais em questäo possuem. Jä a subdivisäo destes dois tipos de sinönimos baseia-se num criterio qualitativo (Söll, 1966: 95), criterio esse que envolve verificar se a equivalencia semäntica entre as acepcöes dos sinönimos absolutos ou parciais e uma equivalencia total ou aproximada. Para compreendermos melhor o que estä em causa, reproduzo aqui o esquema da estrutura base do modelo complexo de Duchäcek (1964: 49): synonymes absolus partiels parfaits approximatifs approximatifs parfaits 170 Deixemos, para já, as especificidades dos sinónimos aproximativos que seräo objecto de reflexäo aquando da abordagem dos factores de diferenciacäo entre sinónimos, e examinemos o modelo no que diz respeito á equivaléncia semäntica total entre sinónimos absolutos (= synonymes absolus parfaits) e sinónimos parciais (= synonymespartielsparfaits). Ducháček considera que, se, por um lado, a equivaléncia semäntica total entre unidades linguísticas do léxico comum é um fenómeno extremamente raro, o mesmo näo se verifica no piano do léxico científico (ibidem: 37). Vejamos os exemplos do domínio do léxico científico nos quais Ducháček se apoia: voyelles vélaires ('vogais velares') = voyelles postérieures ('vogais posteriores') e voyelles labialisées ('vogais labializadas') = voyelles arrondies ('vogais arredondadas'). Se considerarmos que (i) as vogais velares säo produzidas na parte posterior da cavidade bucal onde se encontra o articulador passivo designado de véu palatino ou velum e (ii) a articulacäo das vogais que se distinguem pelo traco [arredondado] implica o arredondamento dos lábios, parece ser possível afirmar que, nos contextos lexemáticos em questäo, está-se perante a caracterizacäo das mesmas vogais a partir de diferentes ángulos da producäo dos sons da fala. Podemos observar que os termos qualificativos vélaires e labialisées adquirem no contexto lexemático voyelles + vélaires/labialisées o significado 'posteriores' e 'arredondadas' respectivamente172. Assim visto, estes exemplos de Ducháček säo sinónimos. Coloca-se, no entanto, a questäo se a relacäo entre os exemplos apresentados é uma de sinonímia total. No meu entender, a relacäo de sinonímia total, por exemplo, entre as locucöes voyelles vélaires e voyelles postérieures suscita dúvidas pelas seguintes razöes: o entendimento do termo voyelles postérieures encontra-se ligado ao enquadramento da propriedade 'posterior' no sistema fonético da lingua em questäo, isto é, á relacäo do termo com outros termos que tém o mesmo critério comum: o ponto de articulacäo da vogal em relacäo á cavidade bucal. Por outras palavras, o termo voyelle postérieure faz sentido em oposicäo aos termos voyelle antérieure ('vogal anterior') e voyelle centrale ('vogal central'). Por seu turno, o termo voyelle vélaire mantém uma relacäo semäntica com os termos que, tal como 172 Cf. os exemplos rotes Haar ('cabelo ruivo') e rotes Papier (papel de cor vermelha). O adjectivo rot no contexto lexemático rotes + Haar (cabelo) é diferente do adjectivo rot no contexto lexemático rotes + Papier (papel). Ao contrario do que sucede com esta ultima expressäo, a primeira funciona como uma unidade fraseológica (phraseologische Verbindung). Com efeito, é no contexto lexemático com o lexema Haar que o lexema rot significa 'so etwas wie roť ('avermelhado'). 171 este, identificam determinado ponto de articulacäo com base no respectivo articulador passivo: voyelle labiale - voyelle dentale - voyelle alveolaire -voyelle palatale - voyelle uvulaire. Voltemo-nos agora para a argumentacäo de Duchäcek no que diz respeito ä ocorrencia de sinonimia absoluta e perfeita no piano da linguagem comum: "Dans la langue commune (...), la synonymie absolue et parfait est parfois limitee, n'etant realisee que dans certains contextes, par exemple il n'y a pas de difference entre je crains de te perdre et j'ai peur de te perdre (...), mais craindre ne peut etre remplace par avoir peur dans la tournure je n 'ai rien ä craindre. II n'y a pas de difference entre Charles fut calme et Charles fut tranquille, entre la mer etait calme et la mer etait tranquille, mais on ne peut dire que le temps est calme. Dans la phrase j'ai attrape un etourneau, ce dernier mot peut etre remplace par sansonnet, ce qui est evidemment impossible dans la phrase il raisonne comme un etourneau, puisque sansonnet ne comporte pas l'acception «etourdi»" (ibidem: 37). Duchäcek reconhece, desta forma, que o metodo no qual ele se baseia para elaborar a sua tipologia de sinönimos, metodo que, como acima referido, consiste na anälise do conteüdo semäntico das unidades linguisticas, e insuficiente para dar conta na prätica da existencia de equivalencia semäntica total entre unidades linguisticas do lexico comum, sendo necessärio recorrer ao teste da comutacäo dos lexemas tidos como sinönimos em determinado contexto linguistico. Importa sublinhar que para se poder averiguar a existencia de sinonimia total entre termos seria necessärio ter em conta todos os possiveis contextos nos quais estes pudessem ocorrer, processo que e inexequivel. Se nos fixarmos agora mais atentamente nos exemplos de Duchäcek, verificaremos que, se e possivel a substituicäo de um lexema por outro em certos contextos linguisticos sem prejuizo de alteracäo do significado da frase ou enunciado, contextos ha em que esses mesmos lexemas näo säo comutäveis. O proprio Duchäcek reconhece que e muito dificil, senäo improvävel, verificar-se o caso de equivalencia semäntica total entre unidades linguisticas, ao constatar que "Quand deux unites lexicales deviennent synonymes parfaits dans la langue commune, familiere ou populaire (bien que — encore que, abeille — avette, bruler - ardoir), l'une d'elles sort generalement peu ä peu de l'usage (encore que), devient archaique (avette) et disparait enfin (ardoir) ou bien se differencie semanfiquement, par example en enrichissant son contenu 172 semantique par un nouveau element complementaire. Par ce fait, les synonymes parfaits changent en synonymes approximatifs" {ibidem: 37). Quer dizer, o fenömeno de sinonimia perfeita entre unidades de significacäo despoleta, regra geral, um de dois tipos de processos de mudanca semäntica: a diferenciacäo semäntica das unidades em questäo na medida em que uma das unidades adquire, geralmente, um traco semäntico complementar ou a evolucäo lenta de um dos lexemas em direccäo ä obsolescencia173. Retomando a anälise das unidades expostas por Duchäcek, e necessärio, porem, distinguir adequadamente entre os primeiros exemplos -je crains de te perdre; j 'ai peur de te perdre; je n 'ai rien ä craindre; Charles fut calme; Charles fut tranquille; la mer etait calme; la mer etait tranquille; j'ai attrape un etourneau - e o ultimo exemplo - il raisonne comme un etourneau ('ele raciocina como urn estorninho'), unidade equivalente ä expressäo alemä 'er hat ein Hirn wie ein Spatz/ein Spatzenhirn' ('ele tem cerebro de passarinho/pardal'), com significado idiomätico 'ele e burro'. Repare-se que Duchäcek näo trata este ultimo exemplo como uma expressäo idiomätica, isto e, como uma expressäo cujos constituintes funcionam em bloco, cingindo-se a abordar a sinonimia no piano das expressöes idiomäticas da mesma forma como aborda a sinonimia no piano näo idiomätico, ou seja, por via da anälise do conteüdo semäntico dos constituintes na qualidade de formas livres174. Como ja se pöde avaliar pelas reflexöes tecidas no ämbito deste estudo, abordar a sinonimia no piano das expressöes idiomäticas implica tomar em consideracäo as questöes relacionadas com a natureza das expressöes idiomäticas em si, por exemplo, a fixidez sintäctico-semäntica aliada äs restricöes morfolögicas, factores de ordern pragmätica, a ligacäo entre o significado literal e o significado idiomätico das expressöes, isto e, a ligacäo entre a imagem (sprachliches Bild) e o significado. Voltando ä expressäo er hat ein Hirn wie ein Spatz/er hat ein Spatzenhirn, podemos afirmar que o significado literal desta unidade linguistica reflecte um aspecto especifico da nossa realidade, nomeadamente a cabeca de um pässaro, como a do pardal, que se 173 Cf. Ullmann (1964: 142): "it is perfectly true that absolute synonymy runs counter to our whole way of looking at language. When we see different words we instinctively assume that there must also be some difference in meaning, and in the vast majority of cases there is in fact a distinction even though it may be difficult to formulate". 174 Bally, ao analisar a sinonimia no piano fraseolögico, afirma: "La phraseologie est, elle aussi, en conflit perpetuel avec la synonymie, et c'est encore une faute de methode frequente que de mettre sur le meme pied les synonymes dans leur emploi independant et dans les groupements phraseologiques" (1951: 144). 173 caracteriza pelo seu tamanho reduzido. Ao utilizar a expressäo er hat ein Hirn wie ein Spatz, estä-se a comparar o tamanho do cerebro da pessoa em causa com o tamanho do cerebro de um pässaro ou pardal. Esta expressäo constitui uma imagem - sprachliches Bild - da ideia 'minüsculo, tamanho reduzido'. Se pensarmos na expressäo er hat ein Hirn wie eine Erbse ('ele tem um cerebro do tamanho de uma ervilha'), constatamos que esta sugere a mesma ideia da expressäo er hat ein Hirn wie ein Spatz: 'tamanho reduzido' resulta em 'pouca capacidade de raciocinio/compreensäo'. A imagem funciona, portanto, com base na pressuposicäo 'kleines Gehirn —> wenig Denkkraß' ('cerebro minüsculo' —► 'pouca capacidade de raciocinio'). Repare-se que estas expressöes que constituem variacöes da mesma ideia possuem o mesmo significado idiomätico 'ele e burro'. Como vemos, enquanto que os estudos efectuados no ämbito da sinonimia näo idiomätica se debrucam sobre os detalhes do conteüdo semäntico das palavras enquanto formas livres, o estudo da sinonimia idiomätica assenta na relacäo entre a imagem (sprachliches Bild) e o significado idiomätico global, isto e, no significado de toda a expressäo e näo no significado dos seus constituintes como formas livres. Passamos agora a descrever e explicar os factores tidos como elementos de diferenciacäo que intervem na relacäo entre unidades sinönimas näo idiomäticas, tomando como ponto de partida a abordagem que Bärdosi e Pälfy fazem da sinonimia. Observe-se antes de mais que esta abordagem parte da categorizacäo dos factores de diferenciacäo entre sinönimos proposta por Bally na sua obra Traite de stylistique frangaise (1951), modelo que pode ser representado por um esquema como o seguinte175: synonymes categorie A: differences specifiques notion générique et ďespěce intensivité/ gradation d'une action/ qualité traits spécifiques/ nuances du signifié categorie B: differences impressives niveaux de langue différents archaismes néologismes Esta esquematizagäo gráfica do modelo de Bally foi elaborada a partir da descrigäo que Bárdosi e Pálfy (1988: 78- 79) fazem do mesmo, razäo pela qual decidi manter os termos originais em lingua francesa. 174 Sob o ponto de vista da concepcäo de um dicionário bilingue francés-húngaro, Bárdosi e Pálfy entendem que o estudo da sinonimia deve circunscrever-se á análise de dois dos trés tipos de diferencas especificas de ordern semäntica que integram a categoria A de Bally, a saber: (i) O tipo de diferencas relacionadas com o fenómeno de intensidade ou gradacäo de dada qualidade ou accäo. Bárdosi e Pálfy limitam-se a apresentar de forma descontextualizada os seguintes exemplos: respecter ('respeitať) - vénérer ('venerať); pále ('pálido') - bléme ('branco'; ' descoradď), livide (^lívidď). Tratando-se de uma nocäo relacional que, no seu sentido lato, "est impliquée dans toute comparaison des faits de langage, á condition qu'on comprenne sous le terme ďintensitě toutes les differences qui se raměnent á une mesure de la quantité, de la grandeur, de la valeur, de la force, etc.," (Bally, 1951: 170), näo parece adequado falar em diferencas de grau de intensidade entre termos sinónimos sem ter em conta a base de comparacäo (Vergleichsgrundlage), a partir da qual se pode considerar a(s) nuances(s) de intensidade entre estes mesmos termos. Como tivemos oportunidade de constatar nas seccöes anteriores, o factor 'intensidade' (Intensivierung) desempenha um papel importante no seio da idiomática e na constituicäo de expressöes sinónimas no piano idiomático, contrastando com o papel secundário que este factor assume no ämbito da sinonimia näo idiomática. Refira-se, em primeiro lugar, a expressäo do significado 'grau mais elevado (possivel)' (höchster Grad) nas expressöes idiomáticas que estabelecem uma comparacäo que se baseia na realidade como ela se apresenta: bleich wie {ein Leinentuch/Wachs/Kreide/Kalk/die Wand) sein/werden - ser ou ficar de tal forma pálido que faz lembrar a cor de um pano de linho/da cera/do giz/da cal/da parede; schwarz wie {Pech/Kohle/Ebenholz/die Nacht) sein - ser de tal forma preto ou escuro que faz lembrar a cor acentuadamente preta do asfalto, do carväo, do ébano, da noite. Em segundo lugar, a expressäo do significado 'grau mais elevado (possivel)' está ligada a qualquer imagem (sprachliches Bild) hiperbólica de natureza ficcional. Por ultimo, sublinhe-se que a propria estrutura formal que estabelece a comparacäo - bleich/schwarz/... wie x sein/werden - Joga numa esfera ficcional. Lembrarei aqui as seguintes expressöes sinónimas que comportam, como ficou claro no capitulo anterior, uma dimensäo ficcional: (i) 175 von etwas so viel verstehen wie {die Kuh vom Sonntag/der Ochs vom Klavier spielen/der Esel vom Lautenschlagen/der Hahn vom Eierlegen); (ii) du kannst dich {begraben/einpacken/einsalzen/ einbalsamieren/einsargen) lassen. Em terceiro lugar, refira-se a imagem (sprachliches Bild) que evoca uma consequencia ou um efeito impossivel ou ficcional como expressäo do significado 'em grau elevado': sich zu Tode schämen; jemand möchte/würde vor Scham (am liebsten) in die Erde sinken/versinken; jemand wäre am liebsten in ein Mauseloch gekrochen. Quer dizer, a pessoa estä de tal forma envergonhada que tem vontade de morrer, de desaparecer, de se meter pelo chäo dentro, de se enfiar num buraco. (ii) O tipo de diferencas relacionadas com tracos especificos ou nuances do significado. Numa primeira abordagem da questäo, Bärdosi e Pälfy apresentam quatro sinönimos do frances (exiger, reclamer, revendiquer, sommer) que correspondem a um ünico lexema do hüngaro (követel). As unidades lexicais que compöem a serie sinonimica realizam um denominador comum na medida em que todas exprimem a nocäo de exiger ('exigir'). O lexema exiger constitui, por assim dizer, o termo neutro176. Os restantes lexemas da serie evocam, para alem da significacäo generica e objectiva exiger, outros atributos ou semas diferenciadores: reclamer ('reclamaf) - exigir algo a que se julga ter direito; revendiquer ('reivindicaf) - exigir que seja cumprido aquilo que e considerado um direito; sommer ('intimarlnotifwarlcitaf) - exigir que alguem faca algo sob pena de punicäo. Note-se que estas observacöes derivam da anälise da semelhanca entre os significados (Bedeutungsähnlichkeit) das palavras aqui em causa. Parece ser possivel inferir que uma abordagem que incide sobre os pormenores inerentes aos conteüdos semänticos dos lexemas tidos como sinönimos terä sempre como resultado nuances ou tracos diferenciadores. Assim visto, compreende-se as dificuldades que os linguistas que se debrucam sobre a sinonimia näo idiomätica Bally descreve a natureza do termo 'neutro' da seguinte forma: "Qu'est en effet un terme identificateur, sinon celui qui exprime une pensee d'oü l'on aurait elimine, par la reflexion, toute manifestation de l'une ou l'autre des tendances inherentes ä l'esprit humain? Peut-on se representer un terme d'identification qui soit pejoratif ou laudatif, qui produise un effet par evocation (...)? Peut-on imaginer, d'une fagon generale, un mot identificateur qui soit essentiellement affectif? Non, et si nous nous donnons tant de peine pour trouver ä chaque idee une expression aussi «neutre» que possible, c'est que nous voulons chercher ä quelle categorie de pensee correspond un fait etudie" (1951: 153-154). O termo neutro corresponde ao 'reiner Begriff que exclui qualquer ligagäo ao sentimento ou ä emoQäo {Gefühl), a manifestagöes de opiniäo {Stellungnahmen) e a referencias espacio-temporais. 176 experimentam em formar series de palavras sinónimas. Este cenário contrasta com o que sucede na abordagem da sinonímia idiomática. No que diz respeito ao teste de comutacäo no ämbito do estudo da sinonímia, Bárdosi e Pálfy reconhecem que o facto de certos elementos sérem comutáveis, i sto é, sérem susceptíveis de aparecer no mesmo contexto, näo implica necessariamente que sej am palavras sinónimas. Efectivamente, nas palavras de Bárdosi e Pálfy, "interchangeabilité ne veut pas dire synonymie" (1988: 81). Todavia, estes autores fazem incidir, no meu entender, erroneamente, a sua observacäo e a sua análise děste processo sobre unidades fraseológicas: vif (=agile) comme un lézard ('ágil como um lagarto'); marcher ďun pas vif (=léger, rapide) ('andar em passo ligeiro'); couleurs vives (=intenses) ('cores quentes', 'cores vivas'). Estes linguistas encaram os constituintes das expressöes idiomáticas como unidades livres, descurando (i) o funcionamento em bloco dos constituintes - o contexto lexemático versus o contexto semántico; (ii) a ligacao entre o sentido literal e o sentido idiomático das expressöes; (iii) a base metafórica subjacente. Passa-se em seguida a analisar, com algum pormenor, a tipologia dos factores de diferenciacäo entre sinónimos elaborada por Ducháček. Para alem de constituir um modelo mais rigoroso, esta tipologia procura dar conta do comportamento sintáctico das expressöes idiomáticas, estabelecendo como um dos factores de diferenciacäo entre sinónimos o elemento sintáctico-fraseológico. Assinalável é também o facto do modelo de Ducháček propor uma categoria de factores de diferenciacäo de ordern expressiva ('expressif) que contempla diferencas de indole metafórica. Posto isto, impöe-se completar o esquema da estrutura base do modelo de Ducháček com uma subestrutura que representa os tipos de factores de diferenciacäo entre sinónimos por ele elaborados: 177 synonymes absolus partiels parfaits approximatifs approximates parfaits stylistiques semantiques syntactico- expressifs fonctionnels speciaux phraseologiques descriptifs affectifs evocateurs metaphoriques caressants pejoratifs Dado que se trata de fazer o levantamento dos factores que estabelecem diferencas entre palavras sinonimas, apenas me ocuparei nas observacoes que se seguem da divisao da categoria dos sinonimos aproximativos, categoria que "nalt (...) du desir de distinguer precisement les etres, les choses, les qualites, les actions ou les etats semblables, mais non identiques" (Duchacek, 1964: 39). Como se ve no esquema acima, Duchacek subdivide os sinonimos aproximativos em dois grandes grupos: o grupo dos sinonimos estilisticos e o grupo dos sinonimos semanticos. Comecando pelo grupo dos sinonimos estilisticos, Duchacek distingue quatro tipos de factores de diferenciacao entre unidades lexicais sinonimas, a saber: (i) factores de ordem sintactico-fraseologica; (ii) factores relacionados com tracos de expressividade; (iii) factores ligados a aspectos funcionais das unidades; (iv) factores caracterizados como especiais ('speciaux'). No que diz respeito a categoria dos factores de ordem sintactico-fraseologica, Duchacek toma como base os pares sinonimicos briserlcasser ('quebrar', 'partir') e battrelfrapper ('bater') 178 que säo, segundo este autor, comutáveis num numero considerável de contextos livres, isto é, contextos que permitem o processo de substituicäo no eixo sintagmático e paradigmático: briserlcasser une glace, une fenétre, un vase ('partir um copo/um vidro/uma jarra'); battrelfrapper un enfant ('bater a urna crianca'). Contudo, esta relacäo de comutacäo entre estes lexemas näo se verifica quando se trata de expressôes multi-palavra cujos constituintes funcionam e significam em bloco: se battrelse frapper lapoitrine ('bater no peito'), briser son discours ('quebrar o fio ao discurso'), briser un traité ('quebrar um acordo'), briser le cceur ä quelqu 'un ('partir/despedacar o coracäo a alguém'), se battre en duel ('bater-se em duelo'). A impossibilidade de substituir os verbos briser e battre pelos verbos casser e frapper respectivamente nas expressôes acima levou Ducháček a concluir que os sinónimos briserlcasser e battrelfrapper apresentam diferencas de natureza sintáctico-fraseológica. Ducháček faz ainda urna breve referencia ás expressôes empregues em sentido figurado. Nestes casos näo é possível substituir o verbo briser pelo verbo casser111. No que diz respeito ao tipo de factores de ordem expressiva, Ducháček divide esta categoria em sinónimos entre os quais existem diferencas descritivas e sinónimos entre os quais se verificam diferencas de natureza afectiva. As diferencas descritivas entre sinónimos subdividem-se em diferencas do tipo evocatório e diferencas do tipo metafórico178. Por sua vez, as diferencas afectivas entre sinónimos subdividem-se em diferencas do tipo positivo e diferencas do tipo pejorativo. Analisando o tratamento concedido por Ducháček á categoria dos factores de diferenciacäo de ordem expressiva, verifica-se, primeiramente, que, em relacäo ás diferencas descritivas, näo há especificacäo da natureza das nuances de tipo evocatório e metafórico. Ducháček limita-se a enumerar pares e series de sinónimos (vieillard ('velho/homem de idade') -barbon ('velhote'), grison ('grisalho'); avare ('avarento') - grippe-sous ('forreta'), pince-maille ('somítico'); visage ('cara/rosto/face') - gueule ('goela'), mufle ('focinho'), museau ('focinho/fuca'), trombine ('tromba/ventas'); réprimander ('repreender/admoestar/censurar') - savonner la tete ('dar urna ensaboadela a alg')), 177 Veja-se a única referencia de Ducháček á oposigäo entre sentido literal e sentido figurado no artigo em análise (1964: 41): "La possibilité de remplacer briser par casser n'est pas si grande. Employes au sens propre, ils sont généralement le merne sens (briser ou casser une glace, une vitre, une fenétre, un vase, un verre), mais au figure, seul briser peut étre utilise (briser son discours, un traité, le cceur, ľunité, les efforts de quelqu 'un, etc.)". 178 Note-se que esta subdivisäo das diferencas de tipo descritivo em diferengas de tipo evocatório e de tipo metafórico suscita dúvidas, urna vez que é contraditório ligar estas subcategorias á categoria descritiva. A tipologia de Ducháček torna-se confusa a partir deste ponto. 179 mas näo dá qualquer tipo de explicacäo em relacäo ao que entende por diferencas evocatórias e diferencas metafóricas entre sinónimos. Analisando mais de perto alguns destes exemplos, impöe-se reconhecer, em primeiro lugar, que, ao empregar os lexemas focinholfiigaltromba e os lexemas goela/venta para fazer referenda ao rosto ou cara de uma pessoa, está-se perante os processos de transposicäo metafórica e metonimica respectivamente. Em segundo lugar, repare-se que no caso do par repreender - dar uma ensaboadela a alg o primeiro elemento do par é de carácter näo idiomático, enquanto que o segundo elemento é de carácter idiomático. Mais ainda, a expressäo dar uma ensaboadela a alg é uma imagem (sprachliches Bild) que tem como motivacäo a accäo concreta de ensaboar, esfregar com sabäo, alguém ou alguma coisa. Entre o significado literal da expressäo e o significado idiomático 'repreender alg' dá-se uma transposicäo metafórica do dominio concreto para o domínio abstracto de significacäo (domínio moral). Em terceiro lugar, importa chamar a atencäo para a dimensäo ficcional da expressäo idiomática dar uma ensaboadela a alg. Como se pode depreender, o factor 'ficcäo' näo se pöe no caso das expressöes näo idiomáticas. Por ultimo, Ducháček observa com acerto que o facto da diferenciacäo entre as unidades sinónimas acima expostas ser classificada de descritiva, isto näo implica a exclusäo da intervencäo de factores do tipo afectivo (nuances de tipo positivo ou pejorativo). Surge, assim, a questäo da sobreposicäo de factores de diferenciacäo pertencentes a categorias diferentes, fenómeno que, como temos vindo a observar, assume grande releväncia no estudo da sinonímia idiomática. Relativamente ás diferencas de ordern afectiva, veja-se a seguinte definicäo de Ducháček: "Les synonymes affectifs comportent 1'expression de la Sympathie du sujet parlant pour l'etre ou la chose dont il parle ou bien de son antipathie" (ibidem: 42). O que é certo é que Ducháček se cinge, na sua análise das diferencas de ordern afectiva entre os sinónimos animal ('animal') - béte ('animal/bicho'), ao piano sintáctico-semäntico, chegando á conclusäo que, em oposicäo ao lexema animal, considerado neutro no que respeita a nuances de ordern afectiva, o emprego do lexema béte, por exemplo, no contexto pauvre béte ('coitado/coitadinho'), possui uma conotacäo afectiva. Considere-se ainda o seguinte exemplo fornecido por Ducháček: bouche ('boca') - gueule (museau, mufle, beč). Embora reconheca que os termos que designam a boca de um animal adquirem um valor afectivo pejorativo ou depreciativo num contexto especifico, isto é, quando empregues em relacäo a um ser humano, este autor 180 näo exemplifica e näo faz referenda ao processo de transposicäo de semas de uma dasse semäntica para outra. Interessa sublinhar devidamente a importända que o processo de transposicäo metaförico desempenha enquanto factor de diferenciacäo entre sinönimos. Para tal, servir-me-ei da seguinte serie de expressöes alemäs do campo semäntico De 2 do Synonymwörterbuch: Ao pronunciar o enunciado Halt den Mund/die Klappeiden Schnabel/die Schnauze/die Fresse/das Maul!, o sujeito falante ordena ao seu alocutärio que se cale: 'Silencio!', 'Caluda!', 'Bico calado!', 'Bico!'. A diferenca entre a primeira expressäo den Mund halten - Halt den Mund! ('Cala a boca!') - e as restantes expressöes - den Schnabel halten ('calar o bico'), die Klappe halten, das Maul halten, die Schnauze halten ('calar o focinho'), die Fresse halten ('calar o focinho/a tromba') - no que respeita a atitude do falante dä-se ao nivel do que e dito (das Gesagte). Vejamos que o lexema Mund enquanto forma livre designa a parte do corpo humano por onde se processa a emissäo da voz. Tomado no contexto lexemätico em questäo o constituinte Mund e empregue de forma metonimica. Ja no que se refere äs demais expressöes, observa-se que os constituintes Schnabel, Maul e Schnauze tornados como formas livres designam a boca e/ou o apendice nasal de alguns animais, a parte anatömica atraves da qual os animais emitem sons. Isto significa que no contexto lexemätico Halt den Schnabel/das Maul/die Schnauze! os substantivos säo empregues, por um lado, de forma metaförica -transposicäo classemätica entre o dominio fönte 'animal' e o dominio alvo 'ser humano' - e, por outro, de forma metonimica - relacäo de contiguidade entre os örgäos 'boca', 'nariz' e a produeäo de sons (metonimia do instrumento). No que diz respeito ä expressäo Halt die Klappe!, estä-se perante uma transposicäo metaförica de tipo classemätica entre o dominio fönte 'coisa' (que possui um tampo) e o dominio alvo 'ser humano'. Como se ve, o processo de transposicäo metaförica funciona como factor de diferenciacäo entre a expressäo Halt den Mund! e as expressöes Halt den Schnabel/das Maul/die Schnauze/die Klappe!, processo responsävel pelo caräeter disfemistico destes Ultimos enunciados. Do ponto de vista do que se quer ou pretende dizer ou alcancar (das Gemeinte), todas as expressöes estäo ä disposicäo do sujeito falante sempre que este tenha a intencäo de impor silencio. A propösito da natureza disfemistica das expressöes De 2.14 1 den/seinen Mund halten 2 den/seinen Schnabel halten 3 die/seine Klappe halten 4 das/sein Maul halten 5 die/seine Schnauze halten 6 die/seine Fresse halten 181 acabadas de analisar importa näo perder de vista que os tracos de apreciacäo positiva ou depreciativa vinculados a lexemas que integram unidades idiomäticas podem assumir no piano do sentido literal uma funcäo diferenciadora entre expressöes sinonimas, como comprovam as consideracöes tecidas no ponto 3.6.2. sobre os lexemas Bande e Blase em comparacäo com os lexemas Verein, Klub e Gesellschaft, constituintes das expressöes do bloco sinonimico la 2.8 - dielder ganze VereinlKlublGesellschaftlBandelBlase. Para alem da releväncia dos processos de transposicäo metaförica e metonimica, ha ainda outros aspectos que se devem ter em conta na anälise do bloco sinonimico Dc 2.14: em primeiro lugar, chamo a atencäo para o facto das expressöes (1) a (6) serem predominantemente utilizadas na realizacäo de um acto de fala directivo (Aufforderung). Como ja foi referido, apesar das diferencas de natureza disfemistica que existem entre as unidades em anälise, a sinonimia ocorre ao nivel do que se pretende dizer ou alcancar (das Gemeinte) e näo ao nivel do que se diz (das Gesagte). Em segundo lugar, importa referir que o verbo halten no contexto lexemätico den Mundlden Schnabel!die Klappeidas Maull... + halten näo tern o significado que possui enquanto forma livre: etwas halten - 'segurar/agarrar com a mäo'. Por outras palavras, tratam-se de expressöes cujos constituintes significam em bloco. Em suma: os criterios de 'simpatia' e 'antipatia' avancados por Duchäcek para caracterizar os sinönimos afectivos näo säo suficientes para dar conta do que estä em causa nesta categoria. Procurando em seguida caracterizar o terceiro tipo de factores de diferenciacäo entre sinönimos näo idiomäticos, os factores de caräcter funcional, cito aqui a explicacäo de Duchäcek: "Les synonymes fonctionnels se distinguent par leur appartenance aux differents styles fonctionnels. Le choix des mots depend de plusieurs facteurs. On se sert d'autres mots en ecrivant qu'en parlant; le style et le vocabulaire changent selon l'interlocuteur (enfant, ami, personnage estime, etc.) et plus encore d'apres ce qu'on dit (causerie, discours, harangue, sermon, traite cientifique, etc.). Du point de vue du lexique, la poesie differe de la prose et du drame, la langue des belles-lettres de la langue scientifique (technique), la langue litteraire du langage courant (familier, populaire) et des argots" (ibidem: 42-43). Trata-se de uma categoria que grosso modo diz respeito ä adaptacäo ou adequacäo da forma de expressäo ao contexto ou ä situacäo especifica de comunicacäo. Assim, os 182 diferentes tipos de processos de comunicacäo - literäria, normal, tecnica, cientifica -aliados aos meios da fala ou da escrita exigem formas diferenciadas de organizacäo e estruturacäo do discurso por parte dos intervenientes. Estas orientacöes deveräo ser relacionadas, no meu entender, com os tipos de variacäo linguistica estabelecidos por Coseriu (1970: 32), nomeadamente as variacöes de natureza diatöpica, diasträtica e diafäsica. O fenömeno de variacäo diatöpica corresponde ä existencia de diferencas de uso de determinada lingua em areas geogräficas diferentes. Considere-se, a titulo de exemplo, os seguintes pares de lexemas 179 180 181 do alemäo: Sonnabend - Samstag ; Kloß - Knödel; Kohl - Kraut ; fegen - kehren . A diferenca entre os constituintes de cada par de sinönimos, elementos que sincronicamente designam o mesmo referente, prende-se com o uso destes elementos em contextos geogräficos diferentes: o primeiro elemento de cada par de lexemas e caracteristico do Norte da Alemanha; jä o segundo elemento e caracteristico do Sul da Alemanha. Por conseguinte, a variacäo lexical de natureza diatöpica e um fenömeno que permite identificar um falante como sendo proveniente de determinada zona geogräfica. Por sua vez, a variacäo diasträtica tern a ver com diferencas linguisticas que derivam da organizacäo söcio-cultural da sociedade em classes e categorias sociais. Por ultimo, o fenömeno de variacäo diafäsica diz respeito a diferencas que resultam de factores de ordern pragmätica, como sejam a modalidade do discurso (oral ou escrita), o tipo de situacäo de comunicacäo, os registos ou estilos linguisticos (maior ou menor grau de formalidade). Para ilustrar o acima exposto, sirvo-me do seguinte exemplo apresentado por Duchäcek: spieen - melancolie ('spleen' - 'melancolia'). Pela sua ligacäo intima com a vida e a obra do poeta frances Charles Baudelaire, ligacäo que se encontra expressa de forma explicita nos poemas reunidos sob o titulo "Spleen" na sua obra Les Fleurs du Mal, Duchäcek dä a entender que o termo spieen pertence ao dominio literärio. Sobre a distribuicäo geogräfica e o sentido etimolögico dos lexemas Samstag e Sonnabend, cf. König, dtv-Atlas Deutsche Sprache (1998: 187-189): "Diese beiden Ausdrücke sind gleichermaßen hochsprachlich, je nach Region wird einem von ihnen der Vorzug gegeben. Sonnabend ist etymologisch durchsichtig: ahd. sunnün äband ist der Abend vor dem Sonntag, dessen Bezeichnung sich auf die Benennung des ganzen Tages ausdehnte, wobei es sich hier um eine Klammerform handelt: Das mittlere Glied -tag- ist ausgelassen. Der Samstag ist vom Griechischen über die Donaustraße ins Bair. [ische] gedrungen und hat von da aus das hochdeutsche Gebiet erobert". 180 Escreve König (ibidem: 209): "Das deutsche Sprachgebiet ist geprägt vom Gegensatz südlich Kraut, nördlich Kohr. 181 Cf. König (ibidem: 234): "Die Tätigkeit, die man mit einem Besen ausführt, nennt man im Norden fegen, im Süden kehren". 183 Verificada a importáncia dos factores de carácter funcional na diferenciacáo de sinónimos nao idiomáticos, vejamos o papel que estes factores desempenham no piano das expressoes idiomáticas. Em primeiro lugar, refira-se que, como oportunamente foi apontando, uma parte substancial das expressoes idiomáticas está vinculada (gebunden), por um lado, a elementos de natureza histórico-cultural e, por outro, a fontes literárias. Observe-se, por exemplo, as expressoes (1) dos seguintes blocos sinonimicos, unidades ancoradas, por um lado, na Bíblia, Livro que desempenha uma funcáo fulcral em várias civilizacoes, em particular a civilizacáo judaico-cristá, e, por outro, nas civilizacoes grega e latina: Aal.9 1 seit Adam und Eva 1 2 seit eh und je 3 seit Menschengedenken 2 4 seit Urzeiten 5 seit uralter Zeit 6 seit ewigen Zeiten 3 7 von alters her De 28.11 ins Danaidenfaß schöpfen/das Faß der Danaiden füllen wollen etw. (zu) tun ist dasselbe/das gleiche wie mit dem/einem Sieb Wasser schöpfen etw. (zu) tun ist dasselbe wie Wasser in den Rhein/in die Elbe/ins Meer tragen Cb 13.37 1 etw. ist jemandes Achillesferse 2 js. schwache Stelle sein 3 js. schwache Seite sein Note-se que qualquer uma das expressoes do bloco sinonimico Aa 1.9 pode ser empregue para exprimir o significado 'desde sempre'/'desde tempos primitivos'. A expressäo seit Adam und Eva ('desde o tempo de Adäo e Eva') destaca-se, no piano do sentido literal, das restantes expressoes pelo seu enraizamento nos primeiros dois capitulos do primeiro livro do Antigo Testamento Genesis, que descrevem e narram a criacäo do mundo e do primeiro hörnern, Adäo, e da primeira mulher, Eva. Esta referenda bíblica pode funcionar como base a partir da qual é possivel formar outras expressoes que exprimem a mesma ideia: seit Adams/Evas Zeiten. Relativamente ao bloco sinonimico De 28.11, vemos que os exemplos (1) a (3) podem ser utilizados numa situacäo em que o sujeito falante pretende exprimir a ideia 'tentar ou fazer uma coisa impossivel'. No entanto, observando o sentido literal destas expressoes, verifica-se que a expressäo (1) tem a sua razäo de ser nas figuras mitológicas gregas conhecidas por 'Danaides', nome genérico atribuido ás cinquenta filhas do herói mitológico da Grécia Dánao. Reza a lenda que as Danaides foram condenadas por Jupiter, por térem assassinado os respectivos esposos na noite de núpcias, a encher de água um tonel 184 perfurado ou sem fundo . A ligacäo estreita que a expressäo (1) mantem com a tradicäo mitolögica grega e, consequentemente o seu caräcter sincronicamente opaco contrasta com as imagens (sprachliche Bilder) concretas e 'palpäveis' (konkretanschaulich) das expressöes (2) - etw. (zu) tun ist dasselbe wie mit dem Sieb Wasser schöpfen ('fazer qc e a mesma coisa que (querer) tirar ägua com um crivo') - e (3) -etw. (zu) tun ist dasselbe wie Wasser in den Rhein/das Meer tragen ('fazer qc e a mesma coisa que (querer) levar/carregar ägua para o Reno/para o mar')183. Verificamos tambem que as expressöes (2) e (3) constituem exemplos (Synekdoche) de actos absurdos e sem sentido. Em outros termos: estas expressöes exemplificam a mesma ideia. Considereremos ainda os exemplos do bloco Cb 13.37. Como sabemos, a expressäo (1) tem como ponto de referencia e fönte de motivacäo a figura da mitologia grega Aquiles. Diz a lenda que a mäe de Aquiles mergulhou-o nas äguas da lagoa Estigia, tornando-o invulnerävel, salvo no calcanhar, por onde o segurou184. Dai que a expressäo etw. ist js. Achillesferse possua o seguinte significado idiomätico: 'qc e o ponto ou lado firaco e vulnerävel de alguem'. Note-se que as unidades (2) - js. schwache Stelle sein - e (3) - js. schwache Seite sein - exprimem literalmente o significado idiomätico da unidade (1). Interessa registar que entre o constituinte Ferse e os constituintes Stelle e Seite existe uma relacäo 'elemento/parte - unidade/todo' (Element/Teil - Einheit/Ganzes), isto e, verifica-se "diese Bewegung vom Element/Teil zur Einheit/zum Ganzen (...) - das von mir [Schemann] Totalisierung genannte Phänomen" (Schemann, 2003 : 152). Como vemos, as expressöes (1) a (3) realizam o mesmo significado idiomätico; no entanto, e ao nivel do significado literal, gracas ao Cf. a informagäo registada no artigo do Röhrich indexado com a palavra-chave Danaiden: "Die bis heute üblichen Wndgn. [Eine Danaidenarbeit verrichten; ins Danaidenfaß schöpfen; das Faß der Danaiden füllen wollen] beziehen sich auf eine griech.[iesche] Sage (...): Die Danaiden, die 50 Töchter des Königs Danaos, hatten, mit Ausnahme von Hypermnestra, auf Befehl ihres Vaters ihre Männer in der Brautnacht ermordet. Zur Strafe wurden sie dazu verdammt, in der Unterwelt beständig Wasser in ein durchlöchertes Faß zu schöpfen" (1991, vol. 1: 303). Dada a influencia da tradigäo cultural e literäria helenica na civilizacäo ocidental, näo e de estranhar que este motivo das Danaides figure no repertörio linguistico de outras linguas do mundo ocidental, como, por exemplo, do ingles - to (try to) fill the sieve/vessel/tub of the Danaides (Schemann/Knight, 1995), do frances - vouloir remplir le tonneau des Danaides (Schemann/Raymond, 1994) e do portugues - querer encher o tonel das Danaides (Schemann/Dias, 2005). 183 Cf. as expressöes equivalentes em portugues: fazer qc e a mesma coisa que procurar uma agulha num palheiro; fazer qc e a mesma coisa que querer passar um camelo pelo buraco de uma agulha. 184 Sobre o mito do calcanhar de Aquiles e a sua transposigäo para o dominio da literatura, veja-se o artigo do Röhrich indexado com a palavra chave Achillesferse: "Nach der griech.[ischen] Sage tauchte die Meeresgöttin Thetis ihren Sohn Achilles, um ihn unverletzlich zu machen, in das Wasser des Styx; nur die Ferse, an der sie ihn hielt, blieb unbenetzt und daher verwundbar. (...) Die Rda. [Redensart] ist wohl z. Zt. des Humanismus aufgekommen, aber erst im Anfang des 19. Jh. lit. [erarisch] belegt" (1991, vol. 1: 64). Ä semelhanca do que se verifica relativamente ä expressäo ins Danaidenfaß schöpfen, tambem o motivo mitolögico do 'calcanhar de Aquiles' encontra expressäo em outras linguas do Ocidente. Cf, por exemplo, a expressäo equivalente em ingles - the heel of Achilles, em frances -le talon dAchille, em portugues - o calcanhar de Aquiles. 185 seu arreigamento na tradicäo mitolögica grega, que a unidade (1) se distingue das unidades (2) e (3). Em segundo lugar, observe-se as variacöes de natureza diafäsica, por exemplo, no seio do campo semäntico Ba 2 - sterben (müssen) ('(ter de) morrer'). Se compararmos os exemplos do bloco sinonimico Ba 2.8, expressöes que säo, como ficou demonstrado no ponto3.1., claramente de caräcter eufemistico, com as expressöes ins Gras beißen (müssen) ('ir para as malvas'), hops gehen ('ir desta para melhor', 'bater a bota'), alle viere von sich strecken ('esticar o pernil/a canela'), den Arsch zukneifen ('esticar o pernil/a canela') do mesmo campo semäntico, notamos que estamos perante a oposicäo 'eufemismo - disfemismo'185. Se, por um lado, as expressöes aqui consideradas exprimem o mesmo significado idiomätico, designadamente 'morrer/falecer', por outro, as intencöes e as situacöes de comunicacäo em que estes dois grupos de expressöes podem ser empregues säo distintas. Vejamos um segundo exemplo ilustrativo de diferencas de ordern diafäsica que se baseia em quatro expressöes do bloco sinonimico Ba 5.8, bloco delimitado pelo arquilexema tot ('falecido', 'defunto'): schon/... unter der Erde liegen; jd. weilt schon 3 Jahre/lange Zeit/... nicht mehr unter uns; (schon/...) in Gottes Erdboden ruhen; sich (schon/...) die Radieschen von unten ansehen. Para tal, sirvo-me do teste de substituicäo aplicado ao seguinte enunciado retirado do Dicionärio Idiomätico Alemäo - Portugues (Schemann, 2002): Wie lange ist deine Großmutter jetzt tot? - Sie liegt jetzt schon zehn Jahre unter der Erde. Ao substituir a sequencia linguistica a negrito pelas restantes tres expressöes, obtem-se o seguinte resultado: (1) Wie lange ist deine Großmutter jetzt tot? - Sie weilt jetzt schon zehn Jahre nicht mehr unter uns. (2) Wie lange ist deine Großmutter jetzt tot? - Sie ruht jetzt schon zehn Jahre in Gottes Erdboden. (3) Wie lange ist deine Großmutter jetzt tot? - Sie sieht sich schon zehn Jahre die Radieschen von unten an. Sobre as tendencias eufemisticas e disfemisticas no portugues, veja-se a obra de Kröll intitulada O Eufemismo eo Disfemismo no Portugues Moderno (1984). 186 Como se depreende deste processo de substituicäo, enquanto que as expressöes (1) e (2) se situam num registo de lingua formal, a expressäo (3) pode, dependendo da situacäo concreta de comunicacäo, ser classificada de grosseira, indelicada ou jocosa. Passando agora ao ultimo tipo de factores de diferenciacäo entre sinönimos de ordern estilistica no piano näo idiomätico, designadamente ao tipo de factores designados de especiais ('speciaux'), tern de se reconhecer, primeiramente, que a defmicao dada por Duchäcek para fundamentar esta categoria näo e elucidativa: "Les synonymes speciaux proviennent des langues speciales" (1964: 43). Em segundo lugar, este linguista näo explicita o que entende por 'langues speciales' ('linguas especiais') e, consequentemente, näo caracteriza os elementos de diferenciacäo que estäo na base dos sinönimos 'especiais'. Por ultimo, os exemplos fornecidos näo contribuem para uma clarificacäo desta categoria, pelo contrario, as diferencas entre os pares de sinönimos aduzidos säo de natureza funcional: rosse - bourrin ('sendeiro' - 'burro'); peau - epiderme ('pele' -'epiderme'); nuage - nue ('nuvem' - 'nuvem'). A propria argumentacäo de Duchäcek aponta para diferencas de registo entre os elementos dos pares de sinönimos acima em funcäo do contexto de uso. Isto e, os primeiros elementos dos pares de sinönimos pertencem ao registo comum ou corrente do frances, enquanto que os segundos elementos correspondent aos registos vulgar, especializado ou tecnico e literärio, respectivamente. Em relacäo aos sinönimos nuage - nue, Duchäcek refere ainda que o lexema nue apenas ocorre na linguagem corrente em construcöes idiomäticas, tal como: tomber des nues ('cair das nuvens/do ceu'). Reencontramos aqui a oposicäo forma livre - forma fixa e a questäo das restricöes de ordern väria äs quais as expressöes fixas estäo sujeitas. Efectuada a reflexäo sobre os sinönimos estilisticos, resta-nos considerar o segundo grupo de sinönimos aproximativos proposto por Duchäcek, designadamente o grupo dos sinönimos semänticos. Tal como o proprio termo 'sinönimos semänticos' indica, as diferencas entre os sinönimos que integram este grupo situam-se ao nivel do conteüdo semäntico. Partindo do principio de que cada acepcäo de determinada palavra polissemica e composta por um elemento dominante e um ou mais elementos complementares, Duchäcek admite a existencia dos seguintes tipos de diferencas semänticas entre sinönimos: 187 (i) diferencas relacionadas com a intensidade do elemento dominante comum aos sinönimos. Tomando alguns dos exemplos apresentados por Duchäcek, sec - aride ('seco' - 'ärido'), petit - minime ('pequeno' - 'minimo'), mouille - trempe ('molhado' - 'encharcado'), poder-se-a dizer que a diferenca entre estas unidades, que realizam o mesmo elemento dominante, representado pelo primeiro termo de cada par sinonimico, prende-se com a intensidade maior ou menor da nocäo expressa pela primeira unidade do par. Reencontramos aqui o factor de diferenciacäo 'intensidade ou gradacäo de dada qualidade ou accäo' proposto por Bally; (ii) diferencas no que respeita ao nümero de elementos complementares que compöem o conteüdo semäntico dos sinönimos. Este ponto parece corresponder ao tipo de diferencas relacionadas com tracos especificos ('traits specifiques') ou nuances do significado apresentado por Bally; (iii) diferencas no que respeita a qualidade dos elementos complementares na medida em que estes se situam em diferentes niveis de lingua; (iv) diferencas ligadas ä frequencia com que cada uma das unidades sinönimas e empregue. Importa tirar a seguinte conclusäo no que diz respeito ä tipologia de factores de diferenciacäo de sinönimos proposta por Duchäcek: ao centrar a sua anälise predominantemente em lexemas isolados, este linguista descura o papel fulcral que o elemento 'fixidez' desempenha tanto no piano näo idiomätico como no piano idiomätico. Passo agora a apresentar o inventärio de criterios que influem na diferenciacäo sinonimica näo idiomätica apresentado por Baldinger. Limitar-me-ei aqui a focar os criterios que cumprem os seguintes requisitos: (i) näo foram tratados nas propostas de Bärdosi/Pälfy e Duchäcek; (ii) säo relevantes para a sinonimia idiomätica. Os criterios de diferenciacäo apresentados por Baldinger säo os abaixo citados: A. Criterios (de ordern...) 1 geogräfica 7 sexo 2 social (nivel de formagäo) 8 arcaismos 3 professional (linguagem 9 neologismos normal/adnünistrativa/tecnica) 10 palavras cultas (mots savants) 4 religiosa (confissöes/comunidades religiosas) 11 estrangeirismos 5 politica, econömica, cultural (grupos sociais) 12 termos tecnicos 6 idade (faixas etärias) 188 B. 13 intensidade/gradacäo 14 humor 15 ironia e paródia 16 apreciagäo laudativa 17 apreciagäo pejorativa 18 eufemismo C. 19 20 21 synonymie compréhensionelle e synonymie extensionelle juizo de valor (inerente ao signo linguistico) familia de palavras 22 motivagäo 23 forma fonética (phonostylistiqué) 24 distribuigäo (sintaxe e contexto) O primeiro grupo de critérios encontram-se relacionados com fenómenos espácio-temporais, sociológicos, culturais e historicos. Dado que muitos dos factores que integram este grupo já foram objecto de análise nas consideracöes anteriores, parece-me conveniente destacar o seguinte fenómeno que de algum modo se faz sentir num numero significativo de critérios (1, 2, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11): num dado momento sincrónico coexistem várias geracöes186. Isto significa que coexistem formas diferentes de perspectivar o 'mesmo' fenómeno, facto, acontecimento religioso, social, politico e cultural. Esta conjuntura constitui um ponto de partida para o surgimento de imagens linguísticas (sprachliche Bilder) que constituem variacöes de uma mesma ideia. Lembrarei aqui, a titulo de exemplo, as expressöes sinónimas abordadas no ponto 2.2. para exprimir a ideia da morte. Por ultimo, repare-se que o critério (12), critério relativo aos termos técnicos, näo desempenha um papel significativo no piano da sinonímia idiomática. Significativo para a sinonimia idiomätica e indubitavelmente o segundo grupo de criterios que säo de ordern retörico-pragmätica. Dado que a importäncia dos factores (13), (16) a (18) para a diferenciacäo de sinönimos idiomäticos ja foi objecto de anälise neste trabalho, cingir-me-ei aqui a comentar os criterios (14) e (15). Recorde-se que considerämos aträs, no ponto 2.7.2.3., expressöes que pela relacäo de incongruencia existente entre os seus constituintes provocam o riso. Refiro-me äs expressöes von etw. so viel verstehen wie die Kuh vom Sonntag, von etw. so viel verstehen wie der Ochs vom Klavier spielen, von etw. so viel verstehen wie der Esel vom Lautenschlagen e von etw. so viel verstehen wie der Hahn vom Eierlegen. Outro elemento que suscita o riso estä patente nos seguintes exemplos que constam do campo semäntico Cd 10 - dumm Cr, a este respeito, a citacäo de Baldinger (1984: 189-190): "II faut, en effet, admettre qu'il y a un facteur diachronique dans la synchronie (il ne faut pas oublier qu'il y a plusieurs generations qui vivent au méme moment synchronique)". 189 ('burro', 'estupido'): einen Esel von einem Ochsen nicht unterscheiden können ('näo conseguir distinguir um burro de um boi'); zu dumm sein, um einen Eimer Wasser auszugießen ('ser burro demais para despejar um balde de ägua'); zu dumm sein, um ein Loch in den Schnee zu pinkeln ('ser burro demais para mijar um buraco na neve'). Como vemos, estas imagens (sprachliche Bilder) funcionam com base na mesma pressuposicäo, a saber: 'näo consegue ver/distinguir o que e öbvio ou fazer as coisas mais bäsicas' —► 'e pouco inteligente/burro'. Quer dizer, estas expressöes constituem variantes desta pressuposicäo. O cömico da situacäo expressa pela imagem assenta precisamente na pressuposicäo 'näo conseguir fazer o que e bäsico'. Estä-se perante o cömico da imagem que funciona como veiculo para transmitir o elevado grau de burrice apresentado por dada pessoa. As imagens säo diferentes, mas o significado e o mesmo. Quanto ä ironia, aludo aqui äs seguintes expressöes sinönimas que integram o campo semäntico Cb 12, campo delimitado pelo arquilexema empfindlich ('sensivel', 'melindroso'): das/etw. ist (gar/überhaupt) nicht witzig ('qc näo tem graca nenhuma'); sehr witzig! ('muito engracado!'). A diferenca entre estas expressöes prende-se com o caräcter irönico da ultima, expressäo que no piano da imagem diz (das Gesagte) o contrario daquilo que pretende comunicar (das Gemeinte). O humor e a ironia jogam em dois pianos de significacäo, nomeadamente os pianos literal e o idiomätico, facto que confirma a releväncia destes criterios para a sinonimia idiomätica. No que diz respeito ao terceiro grupo de criterios, sublinhe-se a importäncia dos criterios (22) e (24). A motivacäo do signo linguistico idiomätico assenta, como procurei mostrar, na relacäo 'imagem - significado'. A diferenca entre expressöes que possuem o mesmo significado idiomätico pode estar no fundo (Hintergrund) que motiva a sua criacäo. Relativamente ao criterio 'distribuicäo', e necessärio salientar que no piano da idiomätica uma parte significativa das expressöes idiomäticas pressupöe, como vimos na seccäo intitulada "Caracterizacäo do contexto extra-linguistico das expressöes idiomäticas" e na seccäo que aborda as Sprechaktrestringierte Idioms, restricöes de ordern pragmätica. Em segundo lugar, o criterio da distribuicäo estä bem patente nos modelos de construcäo que exprimem determinadas categorias (vd. seccäo 2.7.2.): "um colectivo de pessoas"; "um colectivo de coisas"; "(chatear-se/afligir-se) por tudo e por nada"; "näo entender/perceber (absolutamente) nada de algo". Em terceiro lugar, a distribuicäo estä intimamente ligada ä polilexicalidade e caräcter imagetico inerente äs expressöes idiomäticos. 190 3.7.2. Sistematizacäo dos factores que intervém na sinonímia idiomática Como conclusäo da presente seccäo, em que tentei comparar a sinonimia idiomätica com a sinonimia näo idiomätica, passo a sintetizar os pontos fulcrais da minha reflexäo. Na base das diferencas entre a sinonimia idiomätica e a sinonimia näo idiomätica estä o facto de estes tipos de sinonimia assentarem em pontos de partida diferentes: enquanto que a sinonimia näo idiomätica parte da palavra, a sinonimia idiomätica parte da ideia. Tratando-se de um estudo que incide sobre as expressöes idiomäticas, limitar-me-ei, aqui, a apontar os factores que intervem no modo de funcionamento da sinonimia idiomätica. A relacäo existente entre 'a ideia' e as expressöes idiomäticas sinönimas pode ser representada por um esquema como o seguinte: IDEIA Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3 Imagem 4 significado sprachliches ---- sprachliches ---- sprachliches ---- sprachliches — idiomático Bild Bild Bild Bild Observa-se o seguinte: (i) a expressäo idiomätica joga em dois pianos de significacäo, nomeadamente o piano do que é dito (das Gesagte), isto é, o piano da imagem (sprachliches Bild), e o piano do que se quer ou pretende dizer (das Gemeinte), isto é, o piano do significado idiomático; (ii) as expressöes idiomäticas tidas como sinönimas sugerem (suggestions) a mesma ideia através de imagens (sprachliche Bilder) diferentes. Por outras palavras, as imagens sugerem a mesma ideia a partir de ängulos ou pontos de vista diferentes. Como vemos, tal conjunto de imagens que partem da mesma ideia formám uma Gestalt; (iii) como tivemos oportunidade de constatar ao longo deste estudo, os elementos do meio fisico, social, cultural onde o hörnern está inserido, isto é, os elementos do seu Umwelt, e os elementos do seu mundo interior, isto é, os elementos que fazem parte do seu Lebenswelt, como, por exemplo, o seu corpo187, Tem particular interesse, o que diz Koller, na obra intitulada Perspektivität und Sprache. Zur Struktur von Objektivierungsformen in Bildern, im Denken und in der Sprache, sobre a relagäo 'eu - corpo - mundo': "Die Prämisse, die ein Wahrnehmungssubjekt in einem Wahrnehmungsprozeß nicht mehr wählen kann, weil sie als Grundbedingung jeglicher Wahrnehmung immer schon gegeben ist, das ist der eigene Leib. Räumliche, zeitliche und geistige Sehepunkte kann das Wahrnehmungssubjekt wechseln, aber nicht seinen Leib als apriorischen Ausgangspunkt jeglicher Form von Wahrnehmung (...). Anthropologisch gesehen läßt sich sagen, daß mein Leib nicht nur den räumlichen Punkt fixiert, von dem aus ich in die Welt sehe, sondern auch die Motive bestimmt, warum ich in die Welt sehe, und die Ziele, auf die ich meine Aufmerksamkeit richte. (...) Leib und Welt bilden einen Korrelationszusammenhang, dessen Instanzen sich nicht als autonome Gegebenheiten einzeln beschreiben lassen, sondern nur als interdependente Größen" (2004: 29ss.). Esta citacäo pöe em evidencia a correlagäo intima entre os agentes da triade 'eu - corpo - mundo': (1) näo se pode pensar a experiencia humana, sem ter em conta o papel 191 tornam-se fonte ou materia de inspiracäo para a expressäo da ideia. Face ao até aqui exposto, destacam-se os seguintes factores que possibilitam a formacäo de imagens (sprachliche Bilder) diferentes que sugerem a mesma ideia, melhor dizendo, factores constitutivos de expressöes idiomáticas que säo sinónimas: a metafora, a metonímia, a sinédoque, a dimensäo ficcional ou hiperbólica e a relacäo causa - efeito. Como se depreende das análises anteriores, a dimensäo ficcional parece ser transversal aos factores aqui registados. E oportuno, neste ponto, referir que a releväncia do aspecto ficcional da nossa concepcäo do mundo no ämbito da idiomätica e da sinonimia idiomätica, näo se verifica no piano näo idiomático. A sinonimia idiomätica assenta numa base ficcional, verificando-se a criacäo de significado através da 'ficcäo'. Constatamos também que na maioria dos casos as expressöes idiomáticas caracterizam--se pela sobreposicäo dos factores acima, situacäo que influi na diferenciacäo das expressöes sinónimas. Resta-me, para concluir esta sintese, relevar os seguintes factores de indole sintáctica, semäntica e pragmática que podem intervir na relacäo de sinonimia entre expressöes idiomáticas: tracos semänticos de ordern eufemistica ou disfemistica vinculados aos constituintes das expressöes; restricöes sintáctico-semánticas (contextos lexemático e semäntico); restricöes de ordern pragmática (contexto näo linguistico). Como vemos, a abordagem da sinonimia idiomätica aqui proposta conjuga a dimensäo da ideia (Ideenbildung) com os diversos niveis de análise linguistica. fundamental do corpo humano nos actos de (re-)conhecimento e acgäo; (2) o corpo humano, organismo complexo, fiinciona como interface entre o 'eu' e o 'mundo'. Por um lado, o corpo humano 'motiva' e 'orienta' a interacgäo do 'eu' com o meio fisico, social e cultural que o rodeia. Por outro lado, os factores externos e as influéncias exteriores, tais como evolugöes científicas e tecnológicas, 'actuam' sobre o organismo humano, levando o 'eu' a modificar, alargar, adaptar as suas ideias sobre o universo. Assim entendida, a experiéncia humana supöe um duplo 'condicionamento' (Gebundenheit): por um lado, como se pöde verificar, temos o 'olhať particular-individual-pessoal que reflecte o modo como o sujeito se situa em relacäo a si proprio e ao seu corpo. Por outro lado, temos uma perspectivagäo social-cultural-histórica que assenta no sistema social e cultural ao qual o indivíduo pertence. 192 Capítulo 4 SINONÍMIA - EQUIVALÉNCIA - TEXTO Como os capítulos anteriores deixam entrever, a sinonímia idiomática constitui um processo de 'aproximacäo' a determinada ideia a partir de ángulos diferentes. Justamente porque (i) as sociedades estäo em constante mutacäo, assistindo-se cada vez mais a uma fragmentacäo das estruturas socioculturais, políticas, éticas e religiosas no seio de uma determinada sociedade, (ii) cada ser humano tem o seu proprio mundo, ou sej a, "näo há nenhuma concepcäo do mundo verdadeira com validade universal, mas somente uma concepcäo do mundo verdadeira com validade individual" (Scheler, 2003: 36), (iii) "La disposition generale du vocabulaire d'une seule et méme langue est fort différente chez deux individus différents, ceci tient á ľinégalité des experiences de la vie" (Wartburg, 1969: 242), compreende-se que a sinonímia idiomática enquanto processo de 'aproximacäo' intralingual á realidade e áquilo que nos move é, dado o enquadramento dos pontos (i) a (iii) supracitados, em esséncia, um processo dinämico e criativo. Os níveis do piano linguístico (denotacäo, conotacäo, semäntica, pragmática) reflectem e evidenciám a interaccäo do hörnern com ele proprio, com o meio físico, social e cultural que o rodeia através de imagens (sprachliche Bilder), símbolos, conceitos, esquemas imagéticos, modelos de construcäo sintáctica, etc. Para além destes aspectos, há ainda que referir a interdependéncia entre o contexto lexemático e o contexto semäntico das expressöes e a sua ligacäo com o contexto extra-linguístico, bem como a interligacäo entre o piano do que é dito (das Gesagte), o piano da imagem linguística (sprachliches Bild) e o piano do que se pretende dizer (das Gemeinte). As consideracöes tecidas neste estudo em torno da sinonímia idiomática ilustram que é a 'ideia', isto é, aquilo que queremos dizer, que nos conduz e orienta. Neste sentido, a nossa (con)vivéncia com a lingua é eminentemente de carácter dinämico. Importa integrar aqui urna referencia á dimensäo convencional da lingua. Refiro-me aqui á existencia de determinadas situacöes de interaccäo ('scripts') que estäo vinculadas a comportamentos linguisticos especificos. Intimamente ligado a este ponto encontram-se as formulas fixas ou estereotipadas, denominadas de Routineformeln, formulas ás quais os 193 falantes recorrem para resolver ou gerir situacöes de comunicacäo rotineiras (vd. capitulo 1.5.3.). Neste quadro dos fenómenos de indole convencional que do ponto de vista pragmático se encontram bem delimitados, cabe ainda fazer referenda aos ados de fala enquanto fenómenos vinculados a pressupostos pragmáticos espedficos. Sublinho aqui os 'ritos' sociais (convencäo sodal) aliados a formulas ou enundados espedficos (convencäo linguistica) que estruturam actos de natureza religiosa, institucional, juridica, etc. 4.1. A EQUIVALÉNCIA IDIOMÁTICA Ao contrario do que sucede com a sinonímia, a equivaléncia joga no nivel interlingual. Uma questäo central no ämbito do estudo da equivaléncia é a do anisomorfismo formal e semäntico que se verifica entre os lexemas e as expressöes de línguas diferentes. Esta situacäo deve-se primariamente ao facto de cada lingua ter como ponto de referenda uma cultura diferente. Quer dizer, em conformidade com Wilhelm von Humboldt, cada lingua enquadra-se numa concepcäo diferente do mundo: "La difference des langues n'est pas une difference entre les sons, mais une difference qui implique une conception différente du monde" (Humboldt (1820), apudBaldinger, 1984: 74, nota). Näo obstante os condicionalismos sócio-culturais e históricos, é possível assinalar dois factores que favorecem a relacäo de equivaléncia formal, semäntica e conceptual ou ideológica entre línguas. O primeiro factor está ligado á proximidade ou afinidade entre culturas no que diz respeito aos seus usos, costumes e as suas convencöes. E de esperar que culturas que possuem 'ritos' muito semelhantes ou até iguais apresentem expressöes idiomáticas muito semelhantes em termos formais, semänticos e conceptuais. O segundo factor, a abordar com algum pormenor nesta seccäo, está relacionado com a partilha de uma mesma base antropológica. O capítulo 5.° da obra intitulada Fraseologia contrastiva del alemány el espaňol de Larreta (2001: 95-124), dedicado ás relacöes de equivaléncia entre os somatismos188 alemäes e espanhóis, vem confirmar a releváncia děste factor no contexto da equivaléncia interlingual. Para melhor se poder compreender o que está em causa quando se fala de equivaléncia interlingual e da correlacäo entre a equivaléncia interlingual e o factor aqui em análise, torno como referéncia o capítulo supra-citado de Larreta (2001). Antes, Cf. a definicao do termo 'somatismo' de Mellado Blanco (2004: 22): "los SO [somatismos] sonFR [fraseologismos] que contienenun lexema referido a un organo o parte del cuerpo humano, a veces animal". 194 porém, de analisarmos a tipologia da equivaléncia interlingual proposta por este autor, vejamos o que se entende por 'partilha da mesma base antropológica' no ämbito dos somatismos cinéticos. Segundo Mellado Blanco (2004: 32), "Dentro del grupo de los SO [somatismos] se distingue un amplio grupo de SO cinéticos, denominados asi porque en su significado recto se describe un gesto o movimiento del cuerpo". Tratam-se de somatismos que no piano literal (das Gesagte) 'traduzem' a postura física, os gestos, os movimentos e atitudes corporais do ser humano, isto é, todo o género de 'expressöes' fisiológicas, fisionómicas e corporais. Podemos, por conseguinte, dizer que o somatismo cinético corresponde á 'expressäo linguística' da 'expressäo física'. Parece ser possível representar a relacäo existente entre a 'expressäo física' e a 'expressäo linguística' por um esquema como o seguinte: gesto significado somatismo significado cinético idiomático (das Gesagte) (das Gemeinte) O que este esquema revela é um paralelismo entre o que se passa no piano da expressäo física e o que se verifica no piano da expressäo linguística. Para ilustrar este facto, consideremos os seguintes gestos aplicados ao esquema acima: gestos sinal de (1) torceronariz (1) desaprovacäo/desagrado (2) arregalar os olhos _^ (2) espanto/surpresa (3) baixar os olhos (3) vergonha/timidez somatismos cineticos portugues: torcer o nariz; arregalar os olhos; baixar os olhos alemao: die Nase rümpfen; die Augen aufreißen; die Augen zu Boden schlagen espanhol: torcer la nariz ingles: to turn up one's nose at something: to open one's eyes wide; to cast one's eyes down/to cast one's eyes to the ground significado idiomático (1) desaprovar (2) estar espantado (3) estar envergonhado/ revelar timidez 195 Como vemos, os somatismos Portugueses torcer o nariz, arregalar os olhos e baixar os olhos tém expressöes equivalentes em alemäo, espanhol e inglés. Uma vez que a transcricäo do gesto pressupöe o conhecimento desse mesmo gesto, estes exemplos sugerem . os gestos de torcer o nariz, arregalar e baixar os olhos nas culturas aqui representadas säo entendidos ou interpretados da mesma maneira. O que estes exemplos sugerem é que a base antropológica comum ás várias culturas desempenha urn papel fulcral no estabelecimento de equivaléncia formal, semäntica e conceptual entre linguas. No centro dessa base antropológica está o corpo humano189. Posto isto, consideremos agora a tipologia da equivaléncia interlingual elaborada por Larreta (2001: 95-124) com base num corpus bilingue (alemäo - espanhol) de somatismos. A exemplificacäo do modo de funcionamento dos tipos de equivaléncia interlingual apoiar-se-á em expressöes das linguas alemä e portuguesa190. Larreta faz urna distincäo entre equivaléncia total, equivaléncia parcial e equivaléncia lexical e ainda subdivide a equivaléncia parcial em sinonimia estrutural interlingual, sinonímia ideográfica interlingual e sinonimia funcional interlingual. Repare-se que Larreta emprega o termo 'sinonimia' para se referir ao fenómeno de equivaléncia interlingual. Em conformidade com as diversas consideracöes que tenho vindo a fazer relativamente aos fenómenos da sinonimia e da equivaléncia, interessa sublinhar o seguinte: visto que a sinonimia e a equivaléncia operám em pianos distintos - a sinonimia no piano intralingual e a equivaléncia no piano interlingual -, entendo que estes fenómenos devem ser considerados como distintos. Deste ponto de vista proponho que o termo 'sinonimia' que Consta das citacöes que se seguem de Larreta sej a entendido como 'equivaléncia'. Comecemos com o tratamento da equivaléncia total, que, de acordo com Larreta {ibidem: 96), se caracteriza "por la sinonimia interlingual del par contrastado, la isomorfía de sus estructuras morfosintácticas y la congruencia de sus componentes léxicos". Vejamos os seguintes exemplos: 189 A este proposito ver a citacao de Roller (2004: 29, nota 187). E interessante consultar igualmente Johnson que na Introdugao a sua obra sugestivamente intitulada The Body in the Mind (1987: xix) escreve: "The centrality of human embodiment directly influences what and how things can be meaningful for us, the ways in which these meanings can be developed and articulated, the ways we are able to comprehend and reason about our experience, and the actions we take". 190 Para exemplificar os tipos de equivalencia interlingual tomo como ponto de partida, sempre que seja possivel, as expressoes idiomaticas alemas que constam do estudo de Larreta. 196 jm. die Augen öffnen ein Herz aus Stein haben ein hartes Herz haben kein Herz haben abrir os olhos a alg ter um coraqäo de pedra ter um coraqäo duro näo ter coraqäo Como se pode observar, as expressöes alemäs e portuguesas obedecem aos criterios formais e semänticos estipulados na definicäo da equivalencia total supra-citada191: isomorfia das estruturas morfo-sintäcticas e congruencia dos elementos lexicais. No que diz respeito ä equivalencia entre componentes lexicais, Larreta conclui que, ao contrario do que se verifica em relacäo ä equivalencia interlingual entre os componentes que pertencem ä categoria dos substantivos, a equivalencia interlingual entre componentes verbais poderä levantar algumas dificuldades. A avaliacäo do grau de equivalencia interlingual entre verbos depende do ponto de vista a partir do qual se encara os significados dos verbos em questäo: por um lado, estes elementos podem ser considerados do ponto de vista do sistema linguistico; por outro, podem ser considerados do ponto de vista do seu significado nas expressöes idiomäticas de que fazem parte, isto e, do ängulo do "significado acrualizado" {ibidem: 98) dos verbos. Tendo em conta que as expressöes idiomäticas se caracterizam pelo funcionamento em bloco dos seus componentes e pela interaccäo de dois pianos de significacäo, parece näo ser infundamentado privilegiar o ängulo de anälise que assenta no 'significado actualizado' dos verbos. Veja-se, a titulo de exemplo, as seguintes expressöes: sich die Ohren zuhalten tapar os ouvidos die Hände über dem Kopf zusammenschlagen deitar/agarrar/atar as mäos ä cabeqa Perspectivando a relacäo de equivalencia interlingual a partir do significado das expressöes acima, verificamos que as imagens subjacentes säo as mesmas. Por outras palavras, o significado literal das expressöes nas respectivas linguas traz ä mente a mesma imagem. Assim visto, existe uma relacäo de equivalencia total entre estas unidades idiomäticas. Ja uma anälise da equivalencia interlingual que incida sobre o significado dos verbos tornados isoladamente, isto e, enquanto elementos dos respectivos sistemas linguisticos, pöe em 191 Se compararmos as expressöes alemäs aqui em anälise com os seus equivalentes Portugueses e espanhöis, verificamos uma relacäo de equivalencia total entre as unidades das tres linguas. 197 evidencia diferencas que levam a que as expressöes näo sejam consideradas equivalentes totais. Dito isto, Larreta faz uma chamada de atencäo para a existencia de unidades inter-lingua que levantam dificuldades de categorizacäo porque se encontram na fronteira entre a equivalencia total e a equivalencia parcial. O problema que agora se pöe consiste na determinacäo do tipo de diferencas que fazem com que as unidades contrastadas se situem entre a categoria da equivalencia total e a categoria da equivalencia parcial. Em primeiro lugar, destaque-se os casos em que se verifica a "imposibilidad de establecer equivalencias biunivocas entre las preposiciones de una y otra lengua" (ibidem: 100). aus dem Kopf sagen dizer de cabeqa aus voller Lunge schreien gritar a plenos pulmöes Em segundo lugar, refira-se os casos em que as diferencas entre as unidades contrastadas säo de ordern gramatical. O primeiro grupo desta categoria diz respeito a diferencas relativamente ao emprego de artigos definidos, indefinidos e determinantes possessivos. No ämbito do estudo contrastivo alemäo - espanhol, Larreta propöe sete tipos de diferencas192. Limito-me aqui a fazer referencia ao tipos de diferencas que, no meu entender, säo relevantes no contexto do par de linguas alemäo - portugues: (i) artigo indefinido no alemäo versus artigo definido no portugues einen kühlen/klaren Kopf bewahren manter a cabeqa fria eine trockene Kehle haben ter a garganta seca eine lockere/lose Hand haben ter a mäo leve Cf. Larreta (ibidem: 101-102): (i) auséncia de determinante em alemäo vs artigo definido em espanhol; (ii) artigo definido em alemäo vs auséncia de determinante em espanhol; (iii) artigo definido em alemäo vs artigo indefinido em espanhol; (iv) artigo definido em alemäo vs determinante possessivo em espanhol; (v) artigo indefinido em alemäo vs auséncia de determinante em espanhol; (vi) artigo indefinido em alemäo vs artigo definido em espanhol; (vii) determinante possessivo em alemäo vs artigo determinado em espanhol. 198 (ii) determinante possessivo no alemäo versus artigo definido no portugués seine (eigene) Haut retten salvar a pele seine Nase in etw., was einen nichts angeht, stecken meter o nariz naquilo que näo diz respeito a c O que se deve notár em relacäo a este grupo de diferencas gramaticais é que a variabilidade do tipo de diferencas entre as duas línguas näo favorece a existencia de dados quantitativamente significativos. O segundo grupo de diferencas de natureza gramatical diz respeito á "disparidad en la marca de numero" (ibidem: 102): jn./etw. aus den Augenwinkeln beobachten in js. Hand/Händen sein durch js. Hand/Hände gehen für jn. die Hand/Hände ins Feuer legen die Ohren spitzen sich von Kopf bis Fuß waschen olhar/observar pelo canto do olho estar nas mäos de alg passar pelas mäos de alg pór as mäos nofogo por alg arrebitar a orelha lavar-se da cabeqa aos pes No caso das expressôes cujos componentes podem aparecer tanto no singular como no plural, a disparidade interlingual dá-se quando o numero do componente da variante escolhida näo coincide com o numero do componente da expressäo equivalente. Há ainda que considerar um terceiro grupo de diferencas gramaticais em que entre as expressôes das duas línguas existem dois tipos de diferencas, nomeadamente diferencas do primeiro grupo - o emprego dos determinantes - e diferencas do segundo grupo - a marca do numero: jm. sein Ohr leihen dar/prestar ouvidos a alg eine gute Lunge haben ter bons pulmôes Comparando a primeira expressäo alemä com o seu equivalente portugués, verificamos as seguintes diferencas: a presenca do determinante possessivo na unidade alemä versus a auséncia de determinante na unidade portuguesa; o substantivo Ohr no singulár versus o substantivo ouvidos no plurál. No segundo par de expressôes equivalentes constata-se, por um lado, a presenca de um determinante indefinido no alemäo versus a auséncia de determinante no portugués e, por outro, a oposicäo singulár (Lunge) - plurál (pulmôes). 199 Prosseguindo o objectivo de apresentar o tipo de diferencas que fazem com que as unidades contrastadas se situem entre a categoria da equivaléncia total e a categoria da equivaléncia parcial, detenhamo-nos no tipo de diferencas que Larreta designa de 'anisomorfias tipológicas' (ibidem: 103). Este termo é empregue para referir diferencas sistemáticas, isto é, diferencas caracteristicas de determinado sistema linguistico. Refira-se, em primeiro lugar, o tipo de discrepäncia que assenta na capacidade produtiva da composicäo de palavras em alemäo (ibidem: 104): Krokodilstränen weinen auf Kriegsfuß mit jm. stehen das/etw. ist (eine) reine Nervensache jn./etw. bis zum letzten Blutstropfen verteidigen chorar Mgrimas de crocodilo estar em pé de guerra com alg isso/qc é simplesmente uma questäo de nervös defender alg/qc até ä ultima gota de sangue Tendo em conta o potenciál da lingua alemä no que concerne a formacäo de palavras compostas, näo é de estranhar a existencia de um numero elevado de equivalentes alemäes e Portugueses que apresentam este tipo de diferenca. Outro caso de 'anisomorfía tipológica' refere-se á supressäo em alemäo de verbos de movimento quando acompanhados de um verbo modal ou á substituicäo do verbo de movimento pelo verbo modal: etw. geht jm. nicht in den Kopfletw. will jm. nicht in qc näo entra na cabeqa a alg den Kopf etw. geht jm. nicht aus dem Kopfletw. will jm. nicht qc näo sai da cabeqa a alg aus dem Kopf Por ultimo, outra caracteristica da lingua alemä que poderá contribuir para a existencia de diferencas formais e semänticas entre equivalentes alemäes e Portugueses diz respeito aos verbos de prefixo separável: in js. Kopf geht nichts mehr herein näo entra mais nada na cabeqa a alg (die) Augen und Ohren aufhalten manter os olhos e os ouvidos (bem) abertos Voltemo-nos agora para a categoria da equivalencia parcial, categoria que, como disse acima, Larreta subdivide em: (i) sinonimia estrutural interlingual; (ii) sinonimia ideogräfica interlingual; (iii) sinonimia funcional interlingual. Antes de passar a apresentar estas subcategorias, Larreta observa que existem casos de equivalencia que se enquadram entre a 200 equivalencia estrutural e a equivalencia ideogräfica. Debrucemo-nos, primeiramente, sobre a equivalencia estrutural, definida "por la equivalencia del significado denotativo idiomätico y la isomorfia de la estructura sintäctica entre las unidades contrastadas, combinadas con la no congruencia del componente lexico" (ibidem: 106-107). Repare-se nos exemplos seguintes: jm. das/sein Herz ausschütten abrir o coragäo a alg jm. schießt etw. (plötzlich) durch den Kopf qcpassa (de repente) pela cabega a alg Vemos que, a divergéncia que encontramos nas expressöes acima diz respeito ao componente verbal: no piano literal, os significados dos verbos ausschütten ('vazať; 'esvazear') e schießen ('disparar') näo correspondem aos significados dos verbos abrir e passar respectivamente. Esta discrepäncia ao nivel dos verbos repercute-se sobre o significado das respectivas expressöes idiomáticas, tendo como consequéncia a realizacäo de imagens (sprachliche Bilder) diferentes. Há, porém, uma distincäo a fazer entre as expressöes acabadas de considerar e expressöes inter-lingua que, apesar dos seus componentes verbais apresentarem significados literais diferentes, realizam imagens (sprachliche Bilder) similares. Se compararmos a expressäo alemä jm. knurrt der Magen com o seu equivalente portugués ter a barriga/o estömago a roncar, notamos que a imagem subjacente ao significado destas duas expressöes é a mesma. Em outros termos, independentemente das diferencas de significado existentes entre os verbos knurren ('rosnar') e roncar, as expressöes em causa evocam a mesma imagem (sprachliches Bild): a barriga ou o estömago produz um som. Importa observar que na base destas expressöes está o mesmo fenómeno antropológico. Como sabemos, perante a condicäo fisiológica que se traduz na necessidade de ingerir alimentos, o corpo humano emite sinais que funcionam como indicadores de fome. Um desses sinais é precisamente o som produzido pelo estömago ou pela barriga. Dado o carácter universal děste fenómeno fisiológico, é de esperar que o processo de transposicäo děste fenómeno para o piano linguístico se verifique num numero considerável de línguas. Veja-se, a título de exemplo, as seguintes expressöes equivalentes em francés, inglés e espanhol respectivamente: avoir Vestomac qui grogne, s.o. 's stomach is rumbling e a alg le ladra/ruge el estömago. Como vemos, estas expressöes assentam na mesma base antropológica; a diferenca dá-se ao nível da fixacäo linguística. 201 Prosseguindo a anälise da equivalencia estrutural interlingual, observemos as seguintes diferencas que podem ocorrer entre os substantivos somäticos de expressöes equivalentes. Refira-se os casos em que os substantivos designam partes do corpo que (i) säo contiguas e (ii) podem estar associadas äs mesmas funcöes vitais e orgänicas (ibidem: 110): Como se ve, as partes do corpo designadas pelos constituintes somäticos das expressöes alemäs encontram-se numa relacäo de contiguidade com as partes do corpo designadas pelos lexemas somäticos das expressöes portuguesas: Schädel ('cranio') - cabega; Kopf ('cabeca') - cam; Finger ('dedos') - mäoslunhas. Anatomicamente o cranio faz parte da cabeca e os dedos fazem parte das mäos. Com base na divisäo do corpo humano em cabeca, tronco e membros, a cara faz parte da cabeca. Quanto ao segundo criterio, note-se, por exemplo, a ligacäo funcional estreita entre os örgäos 'mäos' e 'dedos': ambos säo örgäos do tacto e ambos participam conjuntamente em accöes de preensäo. Em segundo lugar, mencione-se os casos em que as diferencas entre os constituintes somäticos assenta na oposicäo 'organismo humano' versus 'organismo animal': jm. in die Finger fallen - cair nas garras de alg. Na expressäo cair nas garras de alg o lexema garras e empregue de forma metaförica, verificando-se uma transposicäo classemätica entre o dominio fonte 'animal' (unhas recurvadas e agucadas de predadores) e o dominio alvo 'ser humano'. Como oportunamente foi apontando, o processo de transposicäo metaförica que se realiza entre partes do corpo animal e partes do corpo humano encontra-se näo raras vezes associado a urn valor depreciativo. Como se pode depreender, este processo contribui para a existencia de diferencas semänticas entre expressöes equivalentes. Continuando com as diferencas entre os lexemas somäticos de expressöes equivalentes, vejamos os seguintes exemplos: ein Herz und eine Seele sein ser unha com carne mit Herz und Hand dabei (bei einer Sache) sein empenhar-se de corpo e alma/de alma e coragäo einen hohlen Schädel haben jm. erw. (Beleidigungen/Vorwürfe/...) an den Kopf werfen jm. in die Finger fallen jm. unter die Finger kommen/geraten ter a cabega oca atirar qc ä cara de alg cair nas mäos/unhas de alg ir/vir dar/ter äs mäos de alg 202 Repare-se que, embora estas combinatórias fixas compostas por dois elementos somáticos näo sej am coincidentes do ponto de vista lexical, a relacäo de equivaléncia entre as expressöes alemäs e portuguesas deve-se ao facto dos pares de elementos somáticos realizarem nos respectivos contextos lexemáticos um esquema similar, esquema esse que nos exemplos aqui em análise está relacionado com a ideia do conjunto de duas 'partes' que formám uma unidade ou urn todo. Passo agora a descrever a segunda categoria subordinada á equivaléncia parcial: a equivaléncia ideográfica interlingual, categoria que Larreta define como "la relación de equivaléncia semántica interlingual establecida entre dos unidades fraseológicas, unida a la congruencia del léxico, entendido éste como conformador de la imagen de los FrL [fraseolexemas], y a una estructura sintáctica anisomórfica" (ibidem: 114). Está-se perante expressöes equivalentes que revelam, por um lado, congruencia no piano léxico e urna relacäo de similaridade ao nível da imagem ('sprachliches Bilď) e, por outro, estruturas sintácticas divergentes. Por exemplo: sich auf die Zunge beißen morder a lingua jn. nicht aus den Augen lassen näo tirar os olhos de cima de alg Como vemos, as expressöes acima divergem no piano da estrutura sintáctica: verbos sem complemento no acusativo e com complemento prepositivo nas expressöes alemäs versus verbos com complemento directo nas expressöes portuguesas. Para completar a reflexäo sobre a equivaléncia parcial, resta fazer referencia á equivaléncia funcional interlingual. Trata-se, segundo Larreta, da "relación semántica establecida entre dos FrL [fraseolexemas] en los que la equivaléncia de los significados denotativos no está acompaňada de ninguna congruencia formal" (ibidem: 118). Este autor chama a atencäo para o facto de um corpus ideográfico prestar-se para uma análise da equivaléncia funcional (ibidem: 118). Temos aqui a ver com a relacäo de equivaléncia semántica entre uma expressäo de uma lingua e uma série de expressöes sinónimas da outra lingua. Considere-se, a título de exemplificacäo, os seguintes casos de equivaléncia funcional: 203 kein gutes Haar lassen an jm. fartar-se de dizer mal de alg dizer cobras e lagartos de alg dizer horrores/raios/coriscos de alg sich das Maul ( über jn.J zerreißen falar mal de alg cortar na casaca (de/a alg) Kübel voll Schmutz über jn. ausgießen fartar-se de dizer mal de alg dizer um monte de imundices de alg Como se pode observar, do ponto de vista intralingual as expressöes alemäs realizam o mesmo significado idiomätico ('falar mal de alguem'), isto e, säo expressöes sinönimas. Uma pesquisa no Synonymwörterbuch de Schemann permitirä fazer o levantamento de outras expressöes que fazem parte do mesmo campo semäntico das expressöes acima193, como, por exemplo: jn. in/durch den Schmutz/den Dreck/die Gosse/die Scheiße ziehen; jn. mit Schmutz/Dreck bewerfen. O mesmo se pode dizer em relacäo äs expressöes portuguesas: säo sinönimas, dado que exprimem o mesmo significado idiomätico ('falar mal de alguem') e pertencem ao mesmo campo semäntico. A equivalencia funcional reside no facto das expressöes alemäs e portuguesas exprimirem nas respectivas linguas a mesma nocäo. Isto significa que qualquer uma das expressöes portuguesas acima pode, mutatis mutandis, funcionar como equivalente de qualquer uma das expressöes alemäs supra-citadas. Para terminar esta seccäo sobre a tipologia da equivalencia interlingual elaborada por Larreta, resta-me apresentar a ultima categoria por ele proposta: a equivalencia lexical. Larreta define este tipo de equivalencia interlingual como "la relaciön de sinonimia funcional entre una unidad fraseolögica y una unidad lexica" (ibidem: 120). Repare-se nos exemplos seguintes: (i) unidade fraseolögica em alemäo versus unidade lexical em portugues: ohne mit der Wimper zu zucken sem pestanejar jm. das Fell über die Ohren ziehen esfolar alg (ii) unidade lexical em alemäo versus unidade fraseolögica em portugues: jn. beflügeln dar asas a alg katzbuckeln fazer venias a alg/fazer salamaleques a alg kopfstehen pör/estar de pernas para o ar Trata-se do campo semäntico Db 19, campo delimitado pelos seguintes arquilexemas: Kritik ('critica; censura'), Mißachtung ('desprezo; desdem; desrespeito'), Schmähung ('injuria; difamagäo; insulto'). 204 Em primeiro lugar, note-se que as unidades lexicais acima säo verbos formados por meio dos processos de derivacäo ou composicäo. Em segundo lugar, observe-se que a raiz da unidade lexical ou um dos constituintes da palavra composta corresponde a um lexema somático: pestanejar - pestana ('Wimper'); esfolar - fole - pele ('Fell'); beflügeln - Flügel ('asa'); Katzbuckeln - Buckel ('costas'); Kopfstehen - Kopf ('cabeca'). Em terceiro lugar, podemos constatar que as unidades lexicais possuem um significado idiomático. Veja-se, a titulo de exemplo, o lexema pestanejar, cujo sentido literal se refere ao movimento das pálpebras e das pestanas quando abrimos e fechamos os olhos. Entre o piano do significado literal da expressäo sem pestanejar - 'sem movimentar as pestanas' - e o piano do significado idiomático - 'sem hesitar/vacilar' - dá-se um processo de transposicäo. Trata-se da idiomatizacäo do significado dos próprios lexemas. Isto significa que existe uma ligacäo entre as imagens subjacentes ás unidades lexicais ou aos constituintes das palavras derivadas ou compostas e os respectivos significados idiomáticos. Por outras palavras, a imagem sugere o significado. Observe-se os seguintes exempos: a imagem associada ao lexema Flügel ('asas') sugere o significado da expressäo jn. beflügeln - 'dar asas a alg'; a imagem subjacente á unidade katzbuckeln, isto é, a imagem de um gato a arquear a espinha, sugere o significado da expressäo: lisonjear servilmente; a imagem associada ao verbo kopfstehen, imagem que alude á posicäo na qual uma pessoa se pöe quando faz o pino - a cabeca para baixo e as pernas para o ar - sugere o significado 'estar ao contrário/estar em posicäo invertida'. Importa reconhecer, como faz Larreta (ibidem: 122) com base em Fleischer, que dificilmente se pode pensar a unidade derivada ou composta sem se ter em conta a base idiomática subjacente: "Wortbildungskonstruktionen dieser Art sind nicht ohne Bezug auf die phraseologische Basis dekodierbar, auch wenn diese formal nur reduziert in der Wortbildungskonstruktion erscheint" (Fleischer, 1982: 193). Assim visto, a imagem funciona como 'Andeutung', isto é, a imagem dá a entender ou sugere o significado da unidade. Os exemplos e as consideracöes apresentadas nesta seccäo mostram que é possivel encontrar no quadro do par de línguas portugués - alemäo um sem numero de equivalentes que se baseiam no fenómeno pré-linguístico e antropológico da 'expressäo humana' que se concretiza através de gestos, da fisionomia e de atitudes corporais. Avaliando pelos equivalentes do par de línguas alemäo - espanhol fornecidos por Larreta no trabalho supra-citado, parece ser possível concluir que nas trés línguas - alemäo, portugués, espanhol - muitas das 'expressöes' fisiológicas, 205 fisionómicas e corporais säo 'traduzidas' ou transpostas para o piano linguístico de uma forma muito similar ou idéntica. Nesta linha de pensamento, tudo indica que temos aqui a ver com uma 'equivalénciatranslinguaľ ('sprachübergreifende Äquivalenz'). Este conceito de 'equivaléncia translingual' também se verifica em relacäo as situacöes de comunicacäo que possuem o estatuto de convencöes sociais e, por conseguinte, as respectivas convencöes linguisticas. Como é sabido, neste dominio das convencöes sociais as culturas ocidentais apresentam muitas semelhancas, situacäo que, como veremos a seguir, tem como consequéncia a existencia de 'kommunikative Äquivalenz' (Glenk, 2009: 194). Em outros termos: a existencia de expressöes que numa situacäo de comunicacäo especifica desempenham a mesma funcäo comunicativa. 4.2. ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DA RELACÄO DE EQUIVALÉNCIA ENTRE A EXPRESSÄO PORTUGUESA DAR CABO DE E AS EXPRESSÖES DE PARTIDA ALEMÄS194 4.2.1. Metodológia Esta seccäo tem como objectivo especifico a reflexäo sobre o füncionamento do fenómeno da equivaléncia interlingual com base na observacäo de expressöes idiomäticas e também näo idiomáticas da lingua portuguesa e da lingua alemä. A decisäo de tomar o Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo (Schemann/Dias, 2005) como corpus de referencia para este estudo justifica-se pelo facto deste dicionário apresentar uma estrutura bifacetada. Por um lado, oferece-nos uma perspectiva interlingual: expressäo portuguesa —► respectivos equivalentes em alemäo; por outro lado, uma perspectiva intralingual: relacäo sinonimica entre os equivalentes alemäes. Esta estrutura pode ser representada por um esquema como o seguinte195: Entenda-se por 'expressöes de partida alemäs' as expressöes alemäs do Dicionário Idiomático Alemäo - Portugués (Schemann et al., 2002) que funcionaram como unidades de partida no processo de compilagäo do Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo (Schemann/Dias, 2005). 195 Os símbolos que figurám neste esquema representam o seguinte: expPt = expressäo portuguesa; expDe = expressäo alemä. 206 interlingual expPt -► expDel A n dar cabo de alg >■ jn. (regelrecht/...) auseinander nehmen expDe2 expDe3 a jn. in seine Bestandteile zerlegen n g jn. fertigmachen u a jn. alle machen A partir desta estrutura foi possível ordenar electronicamente as expressoes idiomáticas portuguesas de acordo com o numero de equivalentes que apresentam. Děste trabalho resultou um índice numérico das expressoes portuguesas do Dicionário Idiomático Portugués -Alemáo que apresentam mais de dois equivalentes alemaes196. Neste contexto, proponho-me tratar a problemática da equivaléncia interlingual com base na expressao portuguesa dar cabo de alg, a qual apresenta o numero mais elevado de equivalentes alemaes de todo o dicionário, a saber, doze expressoes. Como tal, comeco por fazer uma análise estrutural e semántica da expressao dar cabo de (qc/alg). De seguida, passa-se a uma inversáo da perspectiva de análise, isto é, passa-se á análise dos equivalentes alemaes da expressao dar cabo de alg que constam do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo. 4.2.2. Análise estrutural e semántica da expressao dar cabo de (qc/alg) Debrucemo-nos, em primeiro lugar, sobre o significado do constituinte cabo. Vejamos os significados da palavra cabo registados no Dicionário da Lingua Portuguesa Contemporánea: cabo1 s. m. (Do lat. caput, 'cabeca', 'extremidade'). 1. Geog. Zona da costa em que a terra avanca pelo mar, formando uma saliéncia natural. ~ ponta, promontório. (...) 2. Fim, termo, extremidade. (...) 3. Chefe, comandante. 4. Náut. Rumo, direccao de navegacao. cabo2 s. m. ef. (Do lat. caput, 'cabeca', 'extremidade'). 1. Mil. Posto militar mais alto da categoria de pracas da armada, cuja insignia é constituída por duas divisas encarnadas com o vértice voltado para cima. 2. Praca da armada com este posto. Sobre o processo de compilagäo do corpus electrónico do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo (Schemann/Dias, 2005), veja-se a informagäo que Consta do Anexo 2. 207 cabo3 s. m. (Do lat. capülus). 1. Parte de um utensílio, em geral alongada, por onde se segura. ~ pega. (...) 2. Náut. Corda de grossura variável, usada num navio ou numa embarcacäo de grande porte. (...) 3. Espécie de corda grossa, feita com fios metálicos. (...) 4. Electr. e Telecom. Condutor formado por um feixe de fios revestidos de diversas camadas isoladoras que serve para transportar energia ou sinais eléctricos á dištancia. (...) 5. Arquit. Ornato com a forma de estrias em espiral, semelhante á das cordas utilizadas nos navios. (...) 6. Rabo, cauda de animal. 7. Réstia de alhos ou de cebolas. 8. Region. (Alg.). Vara de vinha que se deixa na poda. Como se depreende da observacäo das entradas lexicais acima, deparámos com dificuldades, do ponto de vista sincrónico, em associar ou ligar a palavra cabo a um nucleo semäntico especifico. Urna vez que a análise que se segue incide sobre a expressäo fixa dar cabo de e os seus equivalentes alemäes, concentrar-nos-emos na acepcäo (2) do lema cabo1, composta pelas palavras 'fim, termo, extremidade'. Comecemos por observar a expressäo dar cabo de enquanto construcäo com verbo suporte (Funktionsverbgefüge). Polenz (1999) descreve este tipo de construcöes da seguinte forma: "Es geht hier um Verbgefüge mit Verben, deren Bedeutungen sehr abstrakt sind im Unterschied zu ihrer Verwendung als Vollverben (sein, bringen, kommen, erfahren, geraten, finden, leisten usw.). Dabei ist der semantische Kern des Prädikats in einem flexivisch oder präpositional ausgedrückten Substantiv enthalten (in Erfahrung bringen, Verzicht leisten usw.), das meist als Substantivierung aus einem Verb oder Adjektiv abgeleitet ist" (Polenz, 1999: 351). Consideremos alguns exemplos de construcöes com verbo suporte em portugués: dar ajuda a (—► ajudar); dar permissäo a (—► permitir); dar combate a (—► combater); dar cumprimento a (—► cumprir); dar uma informagäo a (—► informar); dar um abrago a (—► abracar). Como se vé, o substantivo que ocorre á direita do verbo dar funciona como núcleo semäntico e sintáctico da construcäo. O facto destas expressöes poderem corresponder a verbos de sentido pleno, verbos intimamente ligados aos respectivos substantivos, vem confirmar a releväncia do substantivo em termos sintácticos e semänticos. Por seu turno, o verbo dar desempenha a funcäo de verbo suporte de predicacäo, isto é, serve de apoio á estrutura. Isto significa que, tal como refere Polenz, o significado do verbo suporte sej a de carácter abstracto no sentido de 'vago' ou 'impreciso' comparativamente ao seu significado na qualidade de verbo pleno. No que diz respeito á expressäo dar cabo de, o comportamento do substantivo cabo corresponde ao comportamento dos substantivos das construcöes com verbo suporte acima na medida em 208 que e possivel parafrasear a construcäo recorrendo a um verbo pleno ligado ao substantivo cabo, a saber: o verbo acabar. Tal como sucede com o verbo beflügeln, tambem o verbo acabar se torna idiomätico. Quanto ao verbo suporte dar na expressäo dar cabo de, pode dizer-se que, näo obstante o papel semäntico reduzido desempenhado por este verbo na construcäo, e possivel ainda reconhecer a presenca de um elemento do significado do verbo dar ('geben') enquanto forma livre ('alguem da algo [+ concreto] a alguem'), a saber: o valor causativo. Considere-se agora a frequencia da co-ocorrencia do verbo dar com a preposicäo de no contexto lexemätico dar + substantivo + preposigäo. Basta percorrer o corpus elaborado por Schemann (1981: 289-396) no ämbito da sua investigacäo sobre o verbo bäsico da lingua portuguesa dar em contexto idiomätico e näo idiomätico197 para nos darmos conta de que o nümero de expressöes que apresentam o contexto lexemätico dar + substantivo + de e restrito. A expressäo dar + cabo + de enquadra-se neste grupo reduzido de expressöes. E interessante constatar que a combinacäo sintagmätica que ocorre com mais frequencia neste corpus e a combinacäo do verbo dar com a preposicäo a: dar + substantivo + a. Por exemplo: dar lugar a; dar azo a; dar alento a; dar forga a; dar inicio a; dar fim a; dar andamento a; dar seguimento a; dar cumprimento a; dar luz a; dar um empurräo a; dar folga a. Ainda em relacäo ä preposicäo de, importa assinalar que a ideia 'von...weg' ('ponto de partida') associada a esta preposicäo parece intervir no significado da construcäo dar cabo de. Esta ideia esta presente, por exemplo, nas expressöes dar cabo da paciencia a alg (= 'tirar' paciencia a alg) e dar cabo da saüde a alg (= 'tirar' saüde a alg). Feitas estas consideracöes, e possivel avancar alguns elementos semänticos que parecem estar associados ä expressäo dar cabo de: (i) a ideia de 'fim' ('Ende'); (ii) o valor causativo; (iii) a ideia de afastamento de um ponto de partida. Uma melhor compreensäo do comportamento sintäctico-semäntico da combinacäo fixa dar cabo de pode ser obtida atraves da anälise de constituintes que podem ocupar a posicäo x da construcäo sintagmätica dar + cabo + de + x. Observemos as seguintes expressöes: 197 Cf. Schemann (1981: 8): "Unser Corpus umfaßt etwa 650 idiomatische Verwendungen von dar, denen rund 800 Bedeutungen zugeordnet wurden". Quanto ä releväncia de um estudo aprofundado do verbo dar, escreve Schemann (ibidem: 6): "Dies Verb [dar] scheint für die Konstituierung von Idioms das fruchtbarste Lexem der portugiesischen Sprache zu sein". Schemann parte, na obra aqui em destaque, de uma anälise semäntico-sintäctica do verbo dar em contexto näo-idiomätico (alguem dä algo [+ concreto] a alguem), procedendo, de seguida, ä categorizagäo dos significados que o verbo dar assume em contextos idiomäticos, a saber: (i) dar i: jem. etwas Abstraktes geben; (ii) dar ii: (bei jem./etw.) etwas hervorrufen; (iii) dar iii: bei jem. einen (plötzlichen/seltsamen) Anfall hervorrufen; (iv) dar iv: eine Bewegung verursachen (an/mit Körper(-teilj/Gegenstand); (v) dar + preposicäo: sich bewegen/gehen (an/zu/mitKörper(-teil)/Gegenstand). 209 1 dar cabo de uma máquina 2 dar cabo da fortuna 3 dar cabo dos pianos a alg 4 dar cabo da paciéncia a alg 5 dar cabo de alg Parece ser possivel concluir o seguinte: (i) Subjacente á expressäo dar cabo de uma máquina está a ideia de 'causar estragos ou danos'. O constituinte uma máquina pode ser substituído por outros lexemas que pertencem ao mesmo paradigma lexical: dar cabo de um aparelho; dar cabo de um carro; dar cabo de um vestido; dar cabo de um penteado. O lexema alemäo 'kaputť parece corresponder á ideia aqui transmitida. (ii) Os exemplos (2) a (4) sugerem a ideia de 'fim' ('Ende'): subjacente á expressäo dar cabo da fortuna está a ideia do 'fim' da fortuna; dar cabo dos pianos de alg significa 'pör fim' aos pianos de uma pessoa; por ultimo, a expressäo dar cabo da paciéncia a alg sugere que a pessoa atingiu 'o fim' da sua paciéncia ('Meine Geduld ist zu Ende'). (iii) Subjacente á expressäo dar cabo de alg está um processo de transposicäo metafórica que parte da expressäo dar cabo de qc, unidade que, como acima referido, significa 'causar estragos ou danos' em alguma coisa. No caso da expressäo dar cabo de alg os estragos ou danos dizem respeito a uma pessoa. Contudo, esta expressäo näo nos dá indicacäo relativamente ao tipo de estrago, isto é, se o estrago é de ordern fisica ou de natureza abstracta (estrago psicológico ou moral). Partindo das consideracöes feitas sobre as expressöes dar cabo de qc/alg, parece ser possivel estabelecer as seguintes expressöes alemäs como equivalentes das expressöes portuguesas: (i) etw. zerstören; etw. kaputt machen; (ii) jn. fertigmachen. Daqui é preciso reter que o conceito de equivaléncia pressupöe a existéncia de uma expressäo na lingua de partida a partir da qual é possivel chegar a uma expressäo equivalente na lingua de chegada. Em outros termos: o processo de equivaléncia dá-se a partir de algo - termo/expressäo - que já existe. 4.2.3. Inversäo da perspectiva: análise da equivaléncia interlingual a partir dos equivalentes alemäes da expressäo dar cabo de alg Consideremos os equivalentes alemäes da expressäo dar cabo de alg constantes do Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo. Lembrarei que estas expressöes alemäs 210 constituem as unidades de partida que no Dicionärio Idiomätico Alemäo - Portugues apresentam a expressäo portuguesa dar cabo de alg como equivalente: 1 jn. fertig machen 2 jn. alle machen 3 jn. kaputt machen 4 jn. (regelrecht/...) auseinander nehmen 5 jn. in seine Bestandteile zerlegen 6 jm. den Boden unter den Füßen wegziehen 7 jn. restlos/(völlig) am Boden zerstören 8 jn. wie einen Wurm zertreten 9 jn. zur Strecke bringen 10 jn. unschädlich machen 11 über die Klinge springen müssen 12 etw. geht jm. an die Nieren A expressäo (1), jn. fertig machen, deriva de um processo de transposicäo metaförica que parte da construcäo etw. fertig machen, expressäo que significa 'etw. zu Ende machen' ('findar algo', 'dar fim a algo'). Verifica-se um 'salto' metaförico do dominio fönte 'tarefas/actividades' para o dominio alvo 'dimensäo psicolögica ou fisica do ser humano' (die Nerven ('os nervös'), die Geduld ('a paciencia'), die Widerstandskraft ('a forca de resistencia')). A semelhanca do que acontece em (1), a expressäo (2) - jn. alle machen - encontra-se metaforicamente ligada ä expressäo etw. alle machen19* utilizada em relacäo a coisas ou substäncias que podem ser consumidas ou esgotadas como, por exemplo, comidas, bebidas, dinheiro: du kannst die Suppe alle machen199 ('podes acabar com a sopa'). A expressäo etw. alle machen assenta, portanto, na ideia 'etw. zu Ende machen' ('acabar com qc'), ideia que e transposta para o dominio do ser humano, referindo-se especificamente ä forca fisica, psiquica, moral ou mental de uma pessoa. Neste ponto, repare-se que as expressöes (1) e (2) sugerem a mesma ideia expressa pela expressäo portuguesa dar cabo de: 'zu Ende'. Passemos agora a considerar o exemplo (4). O verbo auseinander nehmen, composto pelo verbo nehmen e a particula auseinander, transmite de forma plastica a ideia de 'desintegracäo', 'desmembramento'. A expressäo idiomätica jn. auseinandernehmen resulta de um processo de transposicäo metaförica (metäfora classemätica) a partir da construcäo etw. auseinander Cf. a expressäo alle sein no sentido 'zu Ende sein/nicht mehr ... haben' ('ter-se acabado/näo ter mais ...'): die Butter ist alle —► die Butter ist 'zu Ende\ 199 Este Exemplo encontra-se no DUDEN Deutsches Universalwörterbuch integrado no lema alle. 211 nehmen. Está-se perante a transposicäo do domínio fonte 'objecto' (decomponível) para o domínio alvo 'ser humano'. Analisando mais de perto os domínios envolvidos neste processo, impöe-se reconhecer a seguinte semelhanca entre um objecto que pode ser desmontado, por exemplo, um motor, e um ser humano: tal como um motor é composto por um conjunto de pecas que funcionam em conjunto, isto é, cada peca possui uma funcäo especializada e interage com as outras pecas do todo, também o ser humano é composto por um conjunto organizado de órgaos, desempenhando cada um a sua funcäo. Contudo, tendo em conta que o hörnern para alem da dimensäo física e corporal também possui uma dimensäo espiritual e uma alma, näo é possível decompor uma pessoa ou um animal da mesma forma que se decompöe uma máquina. Isto significa que a imagem (sprachliches Bild) transmitida pelo piano literal da expressäo idiomática jn (regelrecht/...) auseinandernehmen - 'decompor uma pessoa como se ela fosse uma máquina' - é de carácter ficcional. Daí o emprego de lexemas como regelrecht e richtig como elementos enfáticos. A expressäo etw. auseinander nehmen funciona, portanto, como base ('Grunď) do processo de transposicäo. O 'salto' entre etw. auseinander nehmen ('Grunď) e jn. auseinandernehmen ('Ziel') dá-se por meio da metafora classemática. Ao comparar a expressäo portuguesa dar cabo de qc ('dar cabo de um motoť) com a expressäo alemä etw. auseinander nehmen feinen Motor auseinander nehmen'), verificamos a seguinte diferenca: enquanto que a expressäo portuguesa dá a entender que o motor fica num estado irrecuperável, ou sej a, é o 'fun' do motor, a expressäo alemä refere-se á separacäo das pecas do motor, näo denotando a ideia do 'fun' do motor. A desmontagem de uma máquina näo implica necessariamente o seu 'fim'. Por outro lado, importa notar que a desmontagem de um motor tem como consequéncia o seu näo funcionamento: um motor desmontado näo funciona. Esta relacäo de causa-efeito que constitui uma extensäo da 'base' ('Grund) - etw. auseinander nehmen - é transposta para a expressäo jn. auseinandernehmen. Tudo indica que, para alem do processo metafórico, temos aqui a ver com urn processo de transposicäo metonímica. O nexo que a expressäo jn. auseinandernehmen estabelece com a ideia transmitida pelo lexema alemäo 'kaputť assenta no processo metonimico de causa-efeito. Estamos perante um dos 'exemplos' que enformam o conceito 'kaputt: desintegracäo/decomposicäo de um objecto —► o objecto näo funciona200. Já tivemos oportunidade de abordar outros 'exemplos' ('algo tem falta de pegas' - näo funciona/funciona mal/defeituoso) que constituem o conceito 'kaputt', exemplos que säo transpostos para outros dominios: cabega de uma pessoa näo está a funcionar bem/estä avariada. 212 Uma expressäo que pode funcionar como equivalente da unidade alemä jn. auseinandernehmen e a expressäo desfazer alg (todo/toda): 'Se näo deixares a minha irmä em paz, desfaco-te todo'201. Importa pör em evidencia os seguintes aspectos: (i) ä semelhanca do que acontece em relacäo ä construcäo jn. auseinandernehmen, tambem a expressäo desfazer alg advem de um processo de transposicäo metaförica (metäfora classemätica) entre o dominio fönte 'objecto' (desfazer umaporta) e o dominio alvo 'ser humano'; (ii) subjacente a ambas as expressöes estä a ideia expressa pelo lexema alemäo 'kaputf; (iii) os verbos desmontar ('auseinander nehmen') e desfazer sugerem, no contexto acima, a mesma imagem; (iv) o caräcter ficticio estä presente em ambas as expressöes. Repare-se que, tal como sucede com a construcäo alemä, tambem a expressäo portuguesa e empregue com um elemento enfätico. Näo e dificil concluir que entre a expressäo (4),jn auseinander nehmen, e a expressäo (5),jn in seine Bestandteile zerlegen ('desmontar alg nos seus componentes/nas suas partes'), existe uma relacäo semäntica estreita. Tal como sucede com a expressäo (4), tambem: (i) a expressäo (5) resulta de um processo de transposicäo metaförica; neste caso, o processo tem como base a construcäo etwas in seine Bestandteile zerlegen ('Grund'), unidade que funciona como paräfrase da expressäo etwas auseinander nehmen: einen Motor auseinander nehmen —► einen Motor in seine Bestandteile zerlegen; (ii) a relacäo de causa-efeito que pode ser extrapolada da construcäo base (um objecto desmontado —► näo funciona) e transposta para o piano do que se quer expressar ('Ziel'). E este processo metonimico que faz com que a expressäo jn. in seine Bestandteile zerlegen se encontre ligada ä ideia 'kaputt'; (iii) a imagem expressa pelo sentido literal da expressäo (4) e de natureza ficcional. A diferenca que se verifica entre a unidade (4) e a unidade (5) estä relacionada com o constituinte in seine Bestandteile ('nas suas partes/nos seus componentes'). Repare-se que a expressäo etw. zerlegen por si so e o mesmo que dizer etw. auseinander nehmen. Isto significa que o constituinte in seine Bestandteile e uma repeticäo da ideia ja expressa pelo verbo zerlegen: eine Maschine in seine Bestandteile zerlegen —► desmontar uma mäquina nos seus 201 Em portugues näo se verifica a transposigäo metaförica de desmontar qc para *desmontar alg como e o caso no alemäo. 213 componentes. Observando a expressäo idiomätica jn. in seine Bestandteile zerlegen, note-se que o caräcter tautolögico da expressäo imposto pelo constituinte in seine Bestandteile aliado ä natureza ficcional da mesma suscita um efeito irönico, efeito esse que estä ausente da expressäo portuguesa dar cabo de (qc/ alg). Passemos ä anälise da expressäo (6) -jm. den Boden unter den Füßen wegziehen ('(re)tirar o chäo debaixo dos pes de alg'), comecando por fazer algumas consideracöes sobre o constituinte verbal na expressäo trivalente jm. (B) etw. (C) wegziehen ('(re)tirar qc (C) a alg (B)'). O verbo wegziehen estä associado a uma mudanca de estado que envolve o argumento no dativo: B deixa de 'ter' C. Constata-se, assim, que existe uma mudanca no que respeita a relacäo de posse ('Haben-Verhältnis') entre B e C. Refira-se ainda que o prefixo weg-enquanto morfema do verbo wegziehen expressa a ideia de privacäo: 'von B weg' ('afastar-se de B'). Vejamos agora o que se passa relativamente ao constituinte den Boden unter den Füßen. O lexema Füße ('pes') designa os membros do hörnern que lhe permitem pör-se de pe, estar de pe e andar. Para concretizar estas accöes e necessärio uma base na qual os pes se podem apoiar: o chäo. (Re)tirar o chäo a uma pessoa significa tirar-lhe o que ela necessita para se erguer, para estar em posicäo erecta, para andar. E este o pressuposto que estä na base ('Grund') da constituicäo da imagem linguistica ('sprachliches Bild') jm. den Boden unter den Füßen wegziehen. Quanto ao lexema Boden ('chäo'), verifica-se uma transposicäo metaförica entre o 'chäo' real e palpävel do piano literal da expressäo e o 'chäo' abstracto do piano idiomätico da expressäo (wirtschaftliche/... Grundlage ('a base econömica/o sustento econömico'), Existenz-Grundlage ('a base para a existencia de algo')). Comparando a expressäo alemä jm. den Boden unter den Füßen wegziehen com a expressäo portuguesa dar cabo de alg, direi que embora seja dificil estabelecer uma relacäo de equivalencia entre estas expressöes, dificuldade essa que estä ligada ä natureza imagetica da expressäo alemä, e possivel reconhecer o seguinte ponto de interseccäo: a ideia de 'fun' ('Ende'). A accäo de retirar a base necessäria para a existencia de alguma coisa implica o seu 'fim'. Observemos agora o exemplo (7), jn. restlos/völlig am Boden zerstören ('destruir alg por completo no chäo'). Para tal, tomo como ponto de partida a expressäo etw. am Boden zerstören ('destruir qc no chäo'), unidade que, segundo Röhrich, surgiu no contexto da 214 Segunda Guerra Mundial : os bombardeamentos reduziram os edificios e as cidades ao nivel do chäo, isto e, a destruicäo foi total. Com efeito, inerente ä expressäo etw. am Boden zerstören estä a ideia de 'kaputf203. Podemos, portanto, afirmar que entre a expressäo etw. am Boden zerstören e a expressäo jn. restlos/völlig am Boden zerstören ocorre um processo de transposicäo metaförica de ordern classemätica: dominio fönte 'coisas com existencia material' —► dominio alvo 'ser humano'. Como vemos, a unidade linguistica etw. am Boden zerstören e a base ('Grund) a partir da qual a expressäo (7) se constitui. Estreitamente relacionada com esta base ('Grund) estä a natureza ficcional da imagem realizada no piano literal da expressäo jn restlos/völlig am Boden zerstören: 'destruir uma pessoa como se ela fosse um edificio/uma cidade'. Importarä reter que o caräcter ficcional da expressäo implica o grau mais elevado possivel de 'destruicäo' ou de abatimento fisico, moral ou emocional. Estä-se perante a ideia 'am Ende sein', ideia tambem ela presente na expressäo dar cabo de alg. No que diz respeito ä expressäo (8), jn. wie einen Wurm zertreten ('esmagar alg como quem esmaga um verme'), note-se, em primeiro lugar, que estamos perante uma estrutura de comparacäo. Em segundo lugar, o lexema Wurm ('verme') designa um animal que na cultura alemä possui uma conotacäo claramente pejorativa204: o verme simboliza o que e repugnante e abjecto. Enquanto simbolo, este animal funciona como expoente mäximo da repugnäncia. E interessante verificar que, ao contrario do que acontece no contexto alemäo, o animal designado de 'verme' näo possui no contexto portugues o estatuto de simbolo. Como ja tivemos oportunidade de constatar em pontos anteriores, a expressäo por meio de simbolos encontra-se intimamente ligada ä nocäo de 'grau mais elevado possivel' ('höchster Grad). Vem a propösito lembrar que um dos aspectos que caracteriza a comparacäo idiomätica e precisamente o recurso a simbolos. Em terceiro lugar, repare-se que a comparacäo expressa no piano literal e de caräcter ficcional e hiperbölico: näo e possivel esmagar uma pessoa como se esmaga um verme (= animal pequeno que näo custa nada a esmagar). Mais ainda, a dimensäo ficcional e hiperbölica da expressäo encerra a nocäo de 'grau mais elevado 202 Cf. a informagäo sobre o surgimento da expressäo etw. am Boden zerstören documentada em Röhrich [palavra-chave: Boden] (1991, vol. 1: 234): "Im Zusammenhang mit den Bombenangriffen auf Flugplätze im 2. Weltkrieg, durch die gegnerische Luftstreitkräfte ausgeschaltet wurden, entstanden die Wndgn. [Wendungen]: etw. am Boden zerstören: völlig vernichten, jem. am Boden zerstören: ihn heftig prügeln und völlig am Boden zerstört sein: kraftlos, fassungslos, niedergeschlagen, auch betrunken". 203 Outra expressäo alemä que transmite de forma plastica a ideia da destruicäo total e: etw. dem Erdboden gleichmachen ('nivelar qc pelo chäo'). 204 Lembrarei aqui a pega de Schiller intitulada Kabale und Liebe, obra na qual uma das personagens que apenas merece desprezo se chama Wurm. 215 possívď de 'esmagamento': 'esmagar' integralmente. Dito isto, parece poder afirmar-se que a expressäo idiomática jn. wie einen Wurm zertreten tem como base ('Grund'), por uma lado, o pressuposto 'se pisar um verme, esmago-o por complete', por outro lado, a simbologia do animal. Por ultimo, apesar das divergéncias que se verificam no piano literal, a expressäo portuguesa dar cabo de alg pode ser tida como bom equivalente para a expressäo (8). Isto porque ambas as expressöes těm como denominador comum a ideia 'acabar com uma pessoa'. Passando á observacäo do exemplo (10), jn unschädlich machen ('tornar alg inocuo'/'impossibilitar alg de causar prejuízos'), note-se que esta unidade tem como construcäo base ('Grund') a expressäo Tiere unschädlich machen. Verifica-se, portanto, uma transposicäo metafórica do dominio 'animal' para o domínio 'ser humano': as pessoas säo tratadas como bichos, em especial, insectos que causam prejuízos (Ungeziefer), como, por exemplo, o bicho da madeira/bicho-carpinteiro e a lagarta ou morcäo da couve ou da fruta. Em outros termos: do mesmo modo que os insectos que fazem estragos säo destruídos através da aplicacäo de produtos insecticidas, também uma pessoa que 'faz estragos', em particular, no campo da política e no contexto dos servicos secretes, é impossibilitado de prosseguir a sua accäo ou actividade através de meios como a detencäo e execucäo. Feitas estas consideracöes, diremos que a diferenca que se verifica entre a expressäo jn. unschädlich machen e a expressäo dar cabo de alg prende-se com o facto da expressäo portuguesa, expressäo que transmite a ideia geral 'kaputť, näo transmitir as ideias específicas de 'abate' ('abater alg'), 'aniquilamento' e 'extincäo' presentes na expressäo alemä. Consideremos agora o exemplo (11), über die Klinge springen müssen ('ter de saltar por cima da espada'). Esta expressäo encontra-se relacionada com a expressäo jn. über die Klinge springen lassen que provém da linguagem de esgrima e traduz de forma imagética a decapitacäo de uma pessoa uilizando uma espada. Tal como refere Röhrich205, esta expressäo näo traduz fielmente o acte de degolacäo, uma vez que näo é o corpo, mas sim a cabeca da pessoa que 'salta por cima da espada', separando-se do reste do corpo. O acte da decapitacäo está ligado á ideia de 'queda' ('Fall') - o corpo da pessoa decapitada cai para o chäo (Grund; Boden) - e á ideia do 'fim' da vida da pessoa ('ganz aus'I'vorbei'). Este cenário de execucäo física de um indivíduo pode ser transposto para outros contextos, como, por exemplo, a 205 Cf. Röhrich, palavra-chave Klinge (1991, vol. 2: 855). 216 destruicäo de uma pessoa no contexto económico ou profissional. Posto isto, a expressäo dar cabo de enquanto ideia parece ser urn bom equivalente para a expressäo alemä, porém esta näo possui nem a dimensäo da imagem nem o 'humor negro' patentes na expressäo alemä. Por fim, voltemos-nos para a expressäo (12), etw. geht jm an die Nieren ('qc atinge/afecta os rins de alg'). Segundo Röhrich, o orgäo denominado de 'Niere' ('rim') funciona simbolicamente desde a Idade Média como sede de vitalidade206. Assim sendo, qualquer coisa que afecte os rins de uma pessoa perturba a estabilidade das forcas e funcöes vitais, provocando danos em termos de saúde. Uma vez que entre o lexema Nieren e o hörnern existe uma relacäo parte - todo, verifica-se entre o piano literal e o piano idiomätico da expressäo uma relacäo sinedóquica: o que acontece com os rins é transposto para a pessoa humana, isto é, a pessoa fica 'doente' e perde o equilibrio, em particular, no sentido moral e psicológico. Nesta linha de pensamento, pode entäo dizer-se que a expressäo dar cabo de é de carácter mais geral. Dai propor a expressäo qc pöe alg doente como equivalente da expressäo alemä etw. geht jm. an die Nieren. Neste capitulo, procurei dar conta do modo de funcionamento da equivaléncia interlingual. Comecou-se pela apresentacäo da expressäo dar cabo de qc/alg, investigando, em particular, aspectos estruturais e semänticos que caracterizam esta construcäo. A partir desta anälise foi possivel chegar äs seguintes expressöes equivalentes alemäs: etw. zerstören; etw. kaputt machen; jn. fertigmachen. Ao proceder a uma inversäo da perspectiva de anälise, isto é, ao tomar como ponto de partida os equivalentes alemäes da expressäo dar cabo de alg constantes do Dicionärio Idiomätico Portugués - Alemäo, constatou-se que o si sterna das figuras funciona tanto em relacäo äs expressöes alemäs como em relacäo ä expressäo dar cabo de alg. Por outro lado, a expressäo dar cabo de alg näo integra determinados elementos que fazem parte das expressöes idiomäticas alemäs, elementos esses que passo a destacar: (i) a base imagética (Bildbasis) subjacente ao piano literal; (ii) a dimensäo ficcional; (iii) a dimensäo simbölica; (iv) aspectos pragmäticos, como, por exemplo, a atitude ou opiniäo do falante em relacäo ao seu interlocutor ou a terceiros. Resumindo, neste ponto: uma vez que a 206 Veja-se a informagäo documentada em Röhrich [palavra-chave: Niere] (1991, vol. 2: 1097): "Die Nieren galten im MA. [Mittelalter] als Sitz der Gemütsbewegungen, insbes. aber des Geschlechtstriebes, und wurden ertappten Ehebrechern bisweilen ausgeschnitten. Doch bez. [bezeichnet] Niere oft auch wie Herz allg. das Innere des Menschen, den Sitz der Lebenskraft". 217 equivaléncia interlingual pressupöe uma expressäo de partida, o(s) equivalente(s) encontra(m)-se condicionado(s) por esta unidade de partida. 4.3. O FUNCIONAMENTO DA SINONÍMIA E DA EQUIVALÉNCIA NO PLANO DO TEXTO Com o intuito de completar a reflexäo sobre o que distingue o modus operandi da sinonímia do modus operandi da equivaléncia, proponho uma breve análise da actuacäo destes fenómenos no piano do texto, em particular, do texto literário. Tome-se como ponto de partida a seguinte definicäo da natureza dos textos literários fornecida por Brinker: "Texte, die sowohl in grammatischer als auch in thematischer Hinsicht einen höheren Komplexitätsgrad aufweisen" (1992: 17-18). De acordo com esta citacäo, a producäo de um texto literário pressupöe dois pianos, designadamente o piano gramatical, relacionado com "die sprachlichen Mittel des Textierens (...), also die sprachlichen Mittel, die (...) aus Sätzen Texte machen" (Wolf, 1981: 205), e o piano do terna. Entenda-se por 'terna' de um texto literário "[die] Entfaltung eines Inhaltskerns" (ibidem: 22), isto é, a estrutura temática do texto literário resulta do desdobramento da ideia nuclear. Reencontramos aqui a nocäo de centrale pureté proposta por Mallarmé. Por outras palavras, o autor de urna obra literária vai tecendo urna teia de expressöes que väo ter ao mesmo ponto central. Neste processo que é eminentemente dinämico e criativo, o autor procura 'penetrať a ideia central da obra a partir de perspectivas diferentes. Como se pode depreender, estas consideracöes väo ao encontro das observacöes feitas no ämbito da análise da sinonímia idiomática ficcional. O autor da obra serve-se de meios estilísticos ficcionais como, por exemplo, dos símbolos, das alusöes e perspectivacöes, dos eufemismos, da personificacäo, da comparacäo e das imagens para explorar e transmitir a ideia da obra. Uma vez que este processo é similar ao processo de criacäo da sinonímia idiomática, o estudo da sinonímia idiomática contribui para uma melhor compreensäo do processo literário. Quanto ao fenómeno da equivaléncia no piano do texto, refira-se que o acto de traduzir um texto literário é "ein Verstehens- und Interpretationsprozeß" (Koller, 1987: 63). Isto significa que o tradutor está logo á partida 'condicionado' pela estrutura do texto tanto no que diz respeito ao piano gramatical como no que se refere ao piano do terna. Diremos que o tradutor, 218 mediante a sua análise do texto de pallida, procura os equivalentes que, no seu entender, melhor correspondem á forma e aos sentidos das unidades que compöem esse texto. Tome-se como exemplo a traducäo de um texto literário cujo autor caracteriza as suas figuras e sugere o terna ou a ideia da sua obra através dos mais variados meios estilísticos - imagens específicas, repeticöes, provérbios, etc.. Para conseguir transmitir a ideia (Ausdrucks-Zieľ) do autor, o tradutor terá de encontrar expressöes equivalentes täo exactas ou precisas quanto possível na lingua de chegada. Isto significa que a traducäo de urna obra literária envolve duas tarefas: por um lado, o tradutor procura aproximar-se da ideia do autor da obra; por outro, terá de jogar com as expressöes equivalentes que a lingua de chegada permite. Assim sendo, o tradutor vé-se confrontado, por um lado, com os problemas da sinonimia (a ideia de pureté centrale) e, por outro, com os problemas da equivaléncia. 219 REFERENCIAS BIBLIOGRÄFICAS 1. DICIONÄRIOS academia de ciencias de lisboa (2001), Dicionärio da Lingua Portuguesa Contemporänea, Lisboa, Editorial Verbo. Duden Deutsches Universalwörterbuch (1996), 3.aedicäo, revista e ampliada, Mannheim/Leipzig/Wien/Zürich, Dudenverlag. Paul, Hermann (1992), Deutsches Wörterbuch, 9.a edicäo, revista e actualizada, Tübingen, Max Niemeyer Verlag. Schemann, Hans (1992), Synonymwörterbuch der deutschen Redensarten, Stuttgart/Dresden, Ernst Klett Verlag für Wissen und Bildung. --(1993), Deutsche Idiomatik. 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Consideracôes gerais sobre a etiquetagem e o processamento de textos electrónicos 1.1. O conceito de Markup (etiquetagem ou anotacäo) O conceito de Markup (etiquetagem ou anotacäo) é urna referencia incontornável no domínio das Humanidades Digitais. A releväncia do mecanismo da anotacäo observa-se, por exemplo, em processos de compilacäo e processos de análise (extraccäo, recuperacäo e reutilizacäo) de corpora electrónicos no ämbito do Processamento de Linguagem Natural (pln) e em técnicas editoriais no ämbito da edicäo filológica. Näo deixa de ser significativo o facto de Burnard ter terminado a sua participacäo no seminário interdisciplinar dedicado á reflexäo em torno da questäo "Is Humanities Computing an Academic Discipline? or, Why Humanities Computing Matters"208 com urna caracterizacäo do conceito de anotacäo: "At the very heart of this enterprise lies the process of transferring text, text interpretation, text analysis, and context to digital form in such a way as to make accessible and amenable to processing all of these ontologically distinct facets of a cultural object. Another word for that process is markup. And you will not therefore be surprised if I conclude with a brief sermon on that topic" (Burnard, 1999). Esta definicäo de partida pöe em evidencia duas fases essenciais ao processo de etiquetagem: em primeiro lugar, anotar urn texto significa 'interpretar' esse mesmo texto. Assim sendo, o acto de anotar urn texto pode ser concebido como uma actividade hermenéutica que constitui uma forma específica de 'olhar' a estrutura e o conteúdo do 207 Schemann & Dias (2005): Dicionário Idiomático Portugués - Alemäo. Idiomatik Portugiesisch - Deutsch, Braga, Universidade do Minho: Centro de Estudos Humanísticos. 208 Este seminário teve lugar no Instituto de Tecnologia Avangada em Humanidades (Institute of Advanced Technology in the Humanities), unidade de investigagäo da Universidade de Virginia, em Novembra de 1999. 241 texto. Por seu turno, a segunda fase diz respeito a interaccao entre o texto anotado e o(s) sistema(s) de processamento de informacao. E precisamente a explicitacao da analise documental atraves de etiquetas que torna possivel a manipulacao automatica do texto electronico. Isto significa, tal como destacam McEnery & Wilson na sua obra Corpus Linguistics, que um corpus anotado constitui uma mais-valia para a investigacao linguistica: "Unannotated corpora have been, and are, of considerable use in language study, but the utility of the corpus is considerably increased by the provision of annotation. The important point to grasp about an annotated corpus is that it is no longer simply a body of text in which the linguistic information is implicitly present (...) a corpus, when annotated, may be considered to be a repository of linguistic information, because the information which was implicit in the plain text has been made explicit through concrete annotation" [sublinhado por mim] (McEnery & Wilson, 1996: 24). Para concretizar o que säo, como funcionam e como se organizam as etiquetas de que temos falado, servir-me-ei do artigo correspondente á palavra de entrada auseinandernehmen do Dicionário Idiomático Alemäo - Portugués (Schemann, 2002). auseinandernehmen jn. (regelrecht/...) auseinandernehmen sal p6r alg (mesmo/...) de rastos/a pedir (1); dar cabo de alg fam (2); desfazer alg fam (2) l. Eine sachliche und faire Kritik - gut, das hätte ich akzeptiert. Aber den Mann da vor versammelter Mannschaft regelrecht auseinanderzunehmen ist einfach unerzogen. - Du kannst doch an solche Kommissionen nicht mit Erziehungskriterien herangehen! Das sind reine Zyniker. 2. ... Meine Freundin hat mich mit dem Georg Seltzer betrogen. Wenn ich den Typ in die Finger bekomme, werde ich ihn auseinandernehmen, daß er sich selbst nicht mehr erkennt. Den werde ich mal ordentlich aufmischen. Conforme se pode ver neste exemplo, um texto anotado compreende dois pianos formalmente distintos, a saber: o piano da anotacäo, assinalado a negrito, e o piano do conteúdo. As anotacôes demarcam os blocos ou as unidades de conteúdo através do emprego de uma etiqueta de início da unidade de informacäo, o, e uma etiqueta de fim 242 da unidade de informacao, . Se nos fixarmos mais atentamente na linha de codigo que comeca com a etiqueta e termina com a etiqueta , verificaremos que este par de anotacoes encerra um conjunto de etiquetas que assinalam as propriedades graficas da expressao alema (expressao alema) e o seu registo linguistico (registo)210 no dicionario impresso. Note-se que a ordem da abertura e do fecho das anotacoes respeita a estrutura hierarquica das unidades ou dos blocos que compoem o texto: a primeira etiqueta a abrir e a ultima a fechar e a ultima etiqueta a abrir e a primeira a fechar. Esta regra do aninhamento das anotacoes constitui um dos parametros de bem formacao dos sistemas e linguagens de anotacao211. Como se ve, nao e sem razao de ser que Burnard compara um esquema de anotacao a um sistema semiotico: "Like other semiotic systems, markup has its own lexis and its own syntax" (Burnard, 1998). Por outras palavras, um esquema de anotacao e um sistema estruturado segundo uma gramatica que, por um lado, define o conjunto de etiquetas que podem integrar o esquema e, por outro, prescreve a organizacao sintactica e hierarquica das etiquetas. Da analise anterior podemos inferir que o processo de anotacao de um texto implica transformar o documento electronico original, enriquecendo-o com metadados. Importa, neste ponto, classificar os tipos de anotacao. Para tal, recorremos a justaposicao das anotacoes aplicadas no caso do artigo supracitado: , , , , , versus , . Estamos perante dois tipos de anotacao, respectivamente, a anotacao de tipo descritivo e a anotacao de tipo procedimental. A anotacao de tipo procedimental, tal como o termo indica, fornece informacao, melhor dizendo, instrucoes relativamente ao modo como o sistema informatico ou a aplicacao deve interpretar e processar os dados. Utilizar o codigo de anotacao Dicionario Idiomatico Alemao-Portugues significa 'comandar' ou instruir o processador de texto a formatar o bloco ou a unidade textual em negrito, estilo de letra mais acentuado. Enquanto que a anotacao procedimental esta direccionada para o aspecto grafico dos elementos que compoem o O termo ingles 'tags' ('etiquetas') e comummente utilizado para designar estes delimitadores. 210 Neste artigo do dicionario encontram-se os seguintes registos linguisticos: sal e a abreviatura de salopp que indica que a expressao anotada com esta informacao metalinguistica pertence a um registo descuidado ou indelicado; fam e a abreviatura de familiär que indica que a expressao pertence ao registo familiar. 211 O conceito de 'boa formagäo' serä retomado mais adiante, secgäo 1.2., aquando da abordagem da linguagem de anotagäo XML (extensible Markup Language). 243 texto, a anotacao descritiva assenta na descricao da funcáo que determinado elemento textual desempenha na estrutura do documento como um todo, isto é, no conjunto das relacoes que mantém com os restantes elementos do documento. Em outros termos: a anotacao descritiva é orientada para o conteúdo. Uma vez que o texto 'Dicionário Idiomático Alemáo - Portugués' desempenha a funcao de titulo do dicionário em causa, a etiqueta de tipo procedimental pode ser substituida pela etiqueta descritiva : Dicionário Idiomático Alemao-Portugués. Com base nestas observacoes é possivel equacionar as vantagens da anotacao descritiva tanto no que se refere ao armazenamento e á manipulacáo dos componentes do documento como no que se refere á preparacáo de múltiplos formatos de saida (outputs). Consideremos os componentes do Dicionário Idiomático Alemáo - Portugués que se encontram a negrito: títulos e subtítulos, as letras do alfabeto que indicam início de seccáo, as palavras de entrada, as expressoes alemas e as notas remissivas. Anotar estes componentes conforme o aspecto gráfico que apresentam no dicionário impresso, ou sej a, etiquetar estes componentes estruturalmente distintos com a mesma marca , impoe restricoes á reutilizacáo do documento electrónico, nomeadamente no que diz respeito á localizacáo, extraccáo e transformacáo de elementos específicos. Em contrapartida, um esquema descritivo abre o leque de operacoes que se podem efectuar sobre um documento anotado e estruturado. Assim, a partir do mesmo documento electrónico do Dicionário Idiomático Alemáo - Portugués anotado descritivamente é possível realizar operacoes de processamento, tais como: elaborar um conjunto de indices (palavras de entrada, expressoes alemas); seleccionar e extrair uma combinatória de componentes; extrair as expressoes alemas segundo o numero de equivalentes Portugueses; extrair as expressoes correspondentes a determinado registo linguístico; etc. Nos mais diversos campos de investigacáo těm sido desenvolvidas normas ou iniciativas de codificacáo para documentar recursos electrónicos ou digitais. No ámbito das ciéncias humanas e sociais podemos contar com a Iniciativa de Codifwagáo Textual denominada Text Encoding Initiative (TEI)212 que fornece recomendacoes relativamente ás anotacoes que podem ser utilizadas para codificar as características específicas de diferentes tipos textuais, tais como, textos lexicográficos, obras literárias pertencentes 212 Consulte-se as directrizes da TEI em http://www.tei-c.org/Guidelines/. 244 aos mais diversos generös, transcribes de arquivos de fala e anotacöes de caräcter linguistico. No campo da arquivistica existe o Encoded Archival Description (EAD) utilizado no ämbito da documentacäo de artefactos, coleccöes de manuscritos e material arquivistico. Estas normas säo aplicacöes XML, isto e, assentam nas directrizes da metalinguagem de anotacäo XML, abreviatura do termo ingles extensible Markup Language. 1.2. xml - extensible Markup Language — Metalinguagem de Anotacäo Tal como o proprio termo extensible Markup Language (Linguagem de Anotagäo eXtensivel) revela, estä-se perante uma metalinguagem de anotacäo que define a gramätica para a descricäo da estrutura lögico-semäntica de determinado tipo de documento. Este conjunto de regras encontra-se registado num DTD (Document Type Definition - Definigäo do Tipo de Documento). Um DTD especifica (i) os elementos que podem ser utilizados para descrever determinado tipo de conteüdo; (ii) os atributos que se encontram associados a estes elementos; (iii) as entidades que podem ser incluidas; (iv) a interaccäo entre os componentes (i), (ii) e (iii)213. O qualificativo 'extensiver refere-se ao facto do XML ser um sistema aberto, isto e, permitir que novos elementos e atributos sejam acrescentados a um DTD ja existente. Trata-se de uma propriedade que torna possivel uma maior precisäo ao nivel da descricäo da estrutura do documento em questäo, facto que tem consequencias ao nivel da qualidade da execucäo dos processos de tratamento da informacäo. A necessidade de criar novos DTDs ou de introduzir elementos em declaracöes ja existentes reflete a diversidade de estruturas inerentes a uma infinidade de tipos de textos e documentos. Mesmo no interior de um tipo textual especifico e comum encontrarmos subtipos, cada um com propriedades estruturais pröprias. Pense-se, por exemplo, na categoria dos dicionärios que inclui, entre outros, dicionärios etimolögicos, semasiolögicos, onomasiolögicos, dicionärios de sinönimos e de antönimos, dicionärios de expressöes multipalavra e dicionärios tecnicos. Comecemos por destacar as propriedades comuns a este genero de texto: Um dtd admite quatro tipos de declaracöes, nomeadamente elementos, atributos, entidades e instruQöes de processamento. Para um tratamento detalhado destes tipos de declaracöes, ver Ramalho & Henriques, 2002: 75-128. Neste trabalho, limitar-me-ei ä declaragäo de elementos. 245 "Each dictionary entry is a highly structured object, in which a variety of abbreviatory and structural devices is used to present information compactly (...) dictionaries, unlike other text types, are at the same time both text and database (...) users typically do not read a dictionary linearly from A to Z as they do most texts, but access entries on the basis of a key (the headword) in order to retrieve various fields of information associated with that key (pronunciation, grammatical information, etymology, definitions, etc.)" (Ide & Veronis, 1995: 167). Näo obstante esta organizacäo clara e compacta das unidades lexicográficas, e ao contrário do que seria de esperar, "dictionaries are among the most complex text types" {ibidem: 167). Os dicionários säo recursos metalinguísticos por excelencia que ostentam diferencas, tanto no piano da estrutura e/ou da subestrutura dos artigos como no piano conceptual214. Para completar a reflexäo sobre a linguagem xml, há que abordar a articulacäo entre o DTD e o respectivo documento anotado215. Da condicäo de correspondéncia e interdependéncia entre os elementos declarados no DTD e as anotacôes ou etiquetas {tags) utilizadas na inštancia resultam dois principios orientadores no dominio do processamento de documentos estruturados, designadamente o principio da bem formacäo (documento bem-formado) e o principio da validacäo (documento válido). O primeiro principio refere-se ás regras ás quais as anotacôes devem obedecer e ao problema da representacäo de documentos enquanto estrururas hierárquicas. Näo cabe aqui abordar detalhadamente as regras de bem formacäo de um documento xml, todavia convirá referir alguns aspectos que considero essenciais para este estudo216: (i) Todo o documento xml deve conter urna declaracäo xml que especifica a versäo da linguagem que está a ser utilizada217. Conclusôes do Grupo de Trabalho da TEI responsável pela elaboracäo de um dtd para dicionários (Dictionary Working Group). 215 O termo técnico utilizado para designar o documento anotado conforme a especificacäo XML é 'inštancia'. Urna inštancia compreende a informagäo textual, as anotacôes e urna referencia ao respectivo DTD caso se trate de um DTD externo, isto é, um DTD que se encontre armazenado em outro local do sistema informático. 216 Para urna descrigäo detalhada do conceito de bem formagäo, cf. o Capítulo 4 da obra XML & XSL - Da teória á prática (Ramalho & Henriques, 2002). 217 A declaragäo xml apresenta a seguinte estrutura minima: . Para além da indicagäo da versäo, é possível incluir um atributo que define o sistema de caracteres contido no texto: . Esta informagäo referente ao sistema de caracteres assume particular releväncia no caso de textos que contém caracteres de outras línguas que näo a inglesa. Esta ultima anotacäo é composta pelo elemento ?xml, pelo atributo obrigatório version, cujo valor é 2. 0 e pelo atributo opcional encoding, cujo valoré ISO-8859-1. 246 (ii) As anotacöes, mais precisamente, os elementos säo delimitados por paréntesis angulares; os nomes atribuidos aos elementos devem satisfazer determinados requisites218; os elementos admitem trés tipos de conteúdo, a saber: conteúdo formado apenas por texto (designado conteúdo textual); conteúdo composto por texto e outros elementos (designado conteúdo misto) e elementos vazios que, tal como a designacäo revela, näo encerram qualquer tipo de conteúdo, apresentando, ao contrario do que se verifica em relacäo aos elementos já mencionados, uma única anotacäo219. (iii) Os atributos acompanham os elementos que qualificam e podem ser obrigatórios ou opcionais dependendo do estipulado no dtd do documento: . Näo existe restricäo no que respeita ao numero de atributos vinculados a determinado elemento. Um documento estruturado que obedeca ás regras de bem formacäo é considerado um documento xml bem formado. Resta agora abordar o princípio da validacäo. A operacäo de validacäo assenta na interligacäo entre o dtd e o documento xml e é realizada por um programa especifico conhecido por parser ('validador'). O processo de validacäo visa verificar se a estrutura logica das anotacöes do documento xml está conforme as especificacöes do seu dtd. Concretizemos: o validador percorre o documento xml e compara as anotacöes nele contidas com o conjunto de regras formais declaradas no seu dtd. Tal cruzamento de dados só é possível se o validador 'tiver conhecimento' do dtd que rege o documento xml em questäo. Esta informacäo, denominada declaracäo doctype, consta do documento xml e tem como funcäo remeter o validador para o respectivo dtd. Para exemplificar, apresenta-se o inicio do documento xml do Dicionärio Idiomätico Portugués - Alemäo: Contentar-me-ei aqui a enumerar estas condicoes (Ramalho & Henriques, 2002: 58-59): o nome de um elemento pode comecar com uma letra, um underscore (_) ou um sinal de dois pontos; os restantes caracteres podem ser letras, digitos, underscores, hifens, pontos e dois pontos; nao e permitida a utilizagao de espagos em branco; os elementos e constituem anotagoes distintas, ou seja, o xml distingue entre letras maiusculas e letras minusculas (case-sensitive). Estas restrigoes tambem sao validas para os nomes atribuidos aos atributos. 219 Estes conceitos serao concretizados mais adiante, secgao 2.1., aquando da descrigao da transformagao do corpus electronico do Diciondrio Idiomdtico Portugues - Alemdo num corpus xml valido e bem formado. 247 A segunda linha de código corresponde á declaracäo doctype que define (i) o elemento raiz do documento xml, ou sej a, dicionario220; (ii) o nome do ficheiro que contém o dtd, isto é, dic.dtd. No caso do validador detectar discrepäncias entre o esquema estrutural da inštancia e o dtd, o mesmo gere um documento com informacöes relacionadas com os erros, possibilitando que estes possam ser facilmente encontrados e corrigidos. Caso o programa näo detecte erros, o documento é considerado urn documento xml válido. 2. Corpus electronico anotado do Dicionario Idiomätico Portugues —Alemäo 2.1. Corpus XML välido e bem formado Faz sentido criar urn corpus xml välido e bem formado do Dicionario Idiomätico Portugues-Alemäo pelas seguintes razöes: a) Trata-se de uma obra lexicogräfica integrada numa rede de dicionärios idiomäticos electrönicos ja existentes {yd. Figura 1). Esta rede tern como nodo principal o Dicionario Idiomätico do Alemäo (Schemann, 1993), recurso monolingue que serviu de base para a compilacäo dos seguintes dicionärios idiomäticos bilingues: o Dicionario Idiomätico Alemäo - Frances (Schemann & Raymond, 1994); o Dicionario Idiomätico Alemäo - Ingles (Schemann & Knight, 1995); o Dicionario Idiomätico Ingles - Alemäo (Schemann & Knight, 1997); o Dicionario Idiomätico Alemäo - Portugues (Schemann, 2002); o Dicionario Idiomätico Portugues - Alemäo (Schemann & Dias, 2005) e o Dicionario Idiomätico Alemäo - Italiano (Schemann & Rovere & Fenati, 2009). O elemento raiz de urn documento XML e o elemento que marca o inicio e o fim do conteiido textual de um documento XML. O corpus electronico do Dicionario Idiomdtico Portugues - Alemdo abre com o elemento e fecha com o elemento . Ver secgao 2.1. 248 Dicionário Idiomático do Alemao Dicionário Idiomático Alemao-Francés Dicionário Dicionário Idiomático Idiomático Alemao-Inglés Inglés-Alemao Dicionário Idiomático Alemao-Portugués Dicionário Idiomático Portu gués-Alemao Dicionário Idiomático Alemao-Italiano Figura 1: Arquitectura da rede dos dicionários idiomáticos compilados com base no Dicionário Idiomático do Alemao (Schemann, 1993) Encontramo-nos diante de uma rede de recursos lexicográficos composta por sete corpora de dicionários idiomáticos anotados estruturalmente. O esquema de anotacáo que especifica a estrutura e interdependéncia hierárquica dos constituintes que integram os respectivos corpora é uma peca fundamental no processamento computacional dos documentos, nomeadamente no que se refere aos processos de cruzamento e inversáo dos dados, operacoes que estiveram na base da compilacáo do Dicionário Idiomático Inglés - Alemao e do Dicionário Idiomático Portugués - Alemao. Dada a releváncia da anotacáo neste conjunto intrincado de corpora, faz todo o sentido trabalhar com documentos bem formados e válidos. Um sistema de anotacáo aliado aos conceitos de bem formacáo e validacáo é nada mais nada menos do que a base de um documento electrónico de referéncia na medida em que estes critérios contribuem para a qualidade dos resultados obtidos através de múltiplas operacoes de processamento da informacáo. b) Como referido anteriormente, anotar determinado texto implica enriquecé-lo com uma 'camada' de meta-informacáo que, formalmente, nao se confunde com a 'camada' do conteúdo do texto. Esta separacáo formal do piano da anotacáo por meio dos paréntesis angulares do piano do conteúdo do texto vai ao encontro do princípio da reutilizacáo dos recursos electrónicos, ou sej a, possibilita a geracáo de vários formatos 249 de saída (outputs) a partir do mesmo documento original. Em outros termos: o mesmo documento xml do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo pode ser utilizado para gerar, por exemplo, uma publicacao em papel do dicionário ou partes do dicionário, uma publicacao Web e, no ámbito dos estudos linguísticos e dos estudos de traducáo, vários tipos de documentos resultantes das mais variadas operacoes de processamento e extraccáo de informacáo. c) A criacáo desta rede de recursos dicionarísticos pressupoe, por um lado, a importacáo e exportacáo de um grande volume de ficheiros entre colaboradores, ou sej a, entre plataformas diferentes, e, por outro lado, o tratamento e a manipulacáo do conteúdo dos documentos por diversos programas e aplicacoes. Assim, uma questáo importante a discutir no quadro de um projecto děste género diz respeito á implementacáo de normas e formatos que solucionem os problemas de incompatibilidade entre sistemas e aplicacoes. Neste contexto, a linguagem xml desempenha um papel proeminente, uma vez que um documento xml é um ficheiro que contém exclusivamente texto, isto é, independentemente das características do sistema computacional e do programa que sej a utilizado para criar o documento, qualquer editor de texto que se encontre em qualquer sistema informático pode ser usado para visualizar o mesmo. Atendendo á concepcáo e criacáo cada vez mais rápida de novas aplicacoes informáticas, é inegável a importáncia que o conceito de interoperabilidade, isto é, a independéncia de plataformas assume, mormente no que se refere ao ciclo de vida dos documentos electrónicos. 2.2. O Documento XML e o DTD do Dicionário Idiomático Portugués —Alemáo Antes de analisarmos, com algum pormenor, o documento xml ou instáncia e o dtd do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo, vejamos os processos envolvidos na elaboracáo de um corpus electrónico anotado segundo a norma xml. O primeiro passo implica uma análise profunda (i) do tipo do documento em questáo; (ii) da estrutura hierárquica do documento e, consequentemente das relacoes entre os níveis hierárquicos; (iii) da articulacáo entre a estrutura formal e o conteúdo do texto. Desta primeira fase resulta a identificacáo e classificacáo dos blocos e sub-blocos de texto que formám o documento. O segundo passo deriva do primeiro e implica descrever e explicitar as relacoes hierárquicas e as propriedades específicas do documento por meio de etiquetas. No que diz respeito aos termos utilizados no piano da anotacáo, o anotador 250 tem, essencialmente, as seguintes opcoes: recorrer as propostas definidas por normas de codiíícacao, como, por exemplo, o TEI221; recorrer as propostas de anotacao de projectos mais específicos ao nível do tipo de texto a tratar; criar elementos próprios para dar conta da especificidade do tipo de texto a anotar. Trata-se agora de aplicar estes processos ao corpus electrónico do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo. Uma vez que o nosso estudo da equivaléncia idiomática incide sobre a expressao idiomática portuguesa do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo que apresenta o numero mais elevado de equivalentes alemaes, tomemos como base para exemplificar e aprofundar os pontos anteriores, o verbete correspondente á palavra de entrada cabo que inclui a expressao dar cabo de alg, a qual ostenta precisamente doze expressoes equivalentes alemas (vd. ponto 2.3.). Comecemos por reproduzir as dez primeiras entradas constantes do verbete com o lema cabo: cabo iransmifir/,..uma not fcta,'...por cabo ^ Draht per Draht übermitteln/... prm veraltend fcvar qc acabo n- Beine: auf die Beine stellen ags ' Bitte bis 2U Ende machen/durchfuhren/... kvar qc alt ao fim/a caboä stu termo - zuende-fijiren: znendcfühten conseguir levar a cabo qc == durchsetzen: durcb-setzenfes durchsetzen, daß ... (gegen jn.felw.) (nio) conseguir faztr n /Levar a cabo i\ terra bar qc n - Pott: mil jraJetw. [nichl) zu Patte kommen (nio) conseguir faitr^levar a cabc/arabar qc - bmmen: mit jm./etw. zurande kommen dar cabo de abz/qc ^ Bestandleil: ii seine Bestand -teile zerlegen je™ od. nvn * herunterbringen: herunterbringen selten * kleinkriegen Ideinkriegen sp ' wegputzen: wegputzerj dar cabe de.., idinheirc) ^ Kcpf: auf den Kopf dar cabo dt alg - auseinandernehmen: regelrecht/...) auseinandernehmen seil • Bestandteil: die wird der Klaus/... in seine/ihre Bestandteile zerlegen tal' Baden: den Buden unter den Füßen wegziehen selten • Baden: restlas/tycLLigj am Boden zer-stcien/am Boden zerslort sein seil * fertigmachen; fertigmachen * ferligmacrEn: fertigmachen ■ kaputtmachen: kaputtmachen ags* Klinge: über die Klinge springen müssen ags* machenc alle machen sei selten * machen: unschädlich machen sah Mieren: geht jra. an die Nieren ugs ■ Strecke: 2ur Slrecke bringen ugs * Wurm: wie einen Würm zertrelen j£™ -path veraltend selten dar cabo de qc fam - Bruch: zu Bruch fahren * dranfgehen: draufgehen (fürelw./bei etw.) ags • kaputtmachen: kapottmachen ugi * Teufel: zum Teufel gehen sal sehen * verschludern: venh ludern [lassen) sni • verwuratein: verwurzeln <$r. verwtrsch-tein salse lt en' zerleg: ha)'s ganz schöiVf...) zerlegt ugs selten O carácter genérico das propostas do TEI poderá constituir uma limitagäo para projectos que requerem um grau de especificidade elevado. 251 Resultam da análise da estrutura logica deste verbete alguns pontos fundamentais para a elaboracáo do documento xml do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo e do seu dtd: (i) o verbete é composto por uma palavra de entrada, item lexical comum as expressoes idiomáticas portuguesas; (ii) a palavra de entrada, cabo, compreende uma sequéncia de sub-estruturas, isto é, uma sequéncia de entradas222; (iii) cada entrada contém os seguintes blocos de informacao: a expressao portuguesa seguida de uma ou mais unidades de conteúdo alemáo, unidades que, por sua vez, encerram outros dois blocos de texto, a saber: o lema associado á expressao alema no Dicionário Idiomático Alemáo - Portugués e a expressao equivalente alema. Apresenta-se a seguir o documento xml do início do verbete correspondente ao lema cabo, documento resultante da análise anterior das propriedades formais do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo. Dicionärio Idiomätico Portugues-Alemäo C cabo transmitir/...uma noticia/...por [cabo] Draht :per Draht übermitteln/... form veraltend levar qc a [cabo] n Beine :auf die Beine stellen ugs Ende :bis zu Ende machen/durchf ühren/. . . levar qc ate ao [fim]/a [cabo]/a seu [termo] zuendeführen :zuendeführen Existem palavras de entrada compostas apenas por urna expressao idiomática. Este pormenor da frequéncia com que os vários elementos ou blocos de texto ocorrem na estrutura de determinado documento é relevante para o DTD. 252 conseguir levar a [cabo] qc durchsetzen :durchsetzen { / es durchsetzen, daß... (gegen jn./etw. ) (näo) conseguir [fazer] n/levar a [cabo] n/[acabar] qc n Pott:mit jm./etw. (nicht) zu Potte kommen ugs (näo) [conseguir] fazer/levar a [cabo]/[acabar] qc kommen :mit jm./etw. zurande kommen dar [cabo] de alg/qc Bestandteil :in seine Bestandteile zerlegen form od. Iron herunterbringen :herunterbringen selten kleinkriegen :kleinkriegen ugs wegputzen :wegputzen dar [cabo] de... (dinheiro) Kopf :auf den Kopf hauen ugs dar [cabo] de alg auseinandernehmen :regelrecht/. . . ) auseinandernehmen sal Bestandteil :die wird der Klaus/... in seine/ihre Bestandteile zerlegen sal Boden :den Boden unter den Füßen wegziehen selten Boden :restlos/(völlig) am Boden zerstören/am Boden zerstört sein sal f ertigmachen :f ertigmachen kaputtmachen :kaputtmachen ugs Klinge :über die Klinge springen müssen ugs machen :alle machen sal selten machen :unschädlich machen sal Nieren : geht jm. an die Nieren ugs Strecke :zur Strecke bringen ugs Wurm:wie einen Wurm zertreten form - path veraltend selten 253 dar [cabo] de qc fam Bruch :zu Bruch fahren dr auf gehen :dr auf gehen (für etw./bei etw. ) ugs kaputtmachen :kaputtmachen ugs Teufel :zum Teufel gehen sal selten ve rschludern:ve rschludern (lassen) sal verwursteln :verwursteln of t: verwurschteln sal selten zerlegt :hat' s ganz schön{/(...) zerlegt ugs selten Em primeiro lugar, destaque-se a declaracao xml e a declaracao doctype, código que estabelece a ligacao entre o documento xml (indicacao do elemento raiz dicionario) e o ficheiro dtd (indicacao da localizacao do ficheiro dic_pt_de.dtd). Em segundo lugar, repare-se que o corpo do texto a anotar se encontra embutido entre as etiquetas e , ou seja, entre a etiqueta de abertura e a etiqueta de fecho do elemento raiz. O corpo do texto a anotar é constituído por uma combinacao estruturada de elementos: - indica a letra do alfabeto; - define o initio do verbete que apresenta uma sub-estrutura complexa, fechando depois da ultima expressao portuguesa, isto é, a ultima que integra o lema cabo; -identifica a palavra portuguesa que funciona como lema; - marca o initio de um bloco de texto composto por uma sequéncia de elementos; - identifica a expressao portuguesa; - assinala o initio do bloco de texto alemao; -delimita o lema associado á expressao alema no Dicionário Idiomático Alemao -Portugués; - demarca a expressao equivalente alema. Postas estas clarificacoes, impoe-se apresentar e descrever o dtd que especifica as regras semántico-sintácticas as quais o esquema de anotacao do corpus electrónico do Dicionário Idiomático Portugués - Alemáo deve obedecer. 254 < ELEMENT dicionario (titulo, parte+)> < ELEMENT titulo (#PCDATA)> < ELEMENT parte (letra, verbete+)> < ELEMENT letra (#PCDATA)> < ELEMENT verbete (palPt, entrada+)> < ELEMENT palPt (#PCDATA)> < ELEMENT entrada (expPt, de+)> < ELEMENT expPt (#PCDATA|registo) *> < ELEMENT registo (#PCDATA)> < ELEMENT de (chaveDe, expDe)> < ELEMENT chaveDe (#PCDATA)> < ELEMENT expDe (#PCDATA|registo)*> Figura 2: Documento dtd (dic_pt_de. dtd) que descreve a estrutura logica do Dicionario Idiomático Portugués - Alemao Este dtd contem apenas declaracoes de elementos. O elemento raiz dicionario tem como conteudo os elementos filho titulo e parte. O operador de ocorrencia '+' especifica que o elemento dicionario e composto por um ou mais elementos parte223. Estes elementos, por sua vez, sao constituidos por outros elementos e/ou texto. O elemento titulo contem apenas texto, isto e, contem conteudo textual (#pcdata)224. O mesmo se verifica em relacao aos elementos letra, palPt, registo e chaveDe. O elemento verbete e composto por um elemento palPt e um ou mais elementos entrada. Na amostra aqui em analise, a palavra de entrada palPt contem treze elementos entrada, correspondendo as treze expressoes portuguesas com o lema cabo. Cada elemento entrada e composto pelo elemento expPt, seguido de um ou mais elementos de (de+). Como vemos, o elemento entrada correspondente a expressao portuguesa dor cabo de alg contem doze unidades ou blocos de. Por seu turno, o elemento de e composto pelos elementos filho chaveDe e expDe. Enquanto que o elemento chaveDe contem apenas conteudo textual (#pcdata), o elemento expDe contem conteudo misto225, ou seja, conteudo textual (#pcdata) e o elemento registo. Para alem deste operador de ocorrencia, existem outros dois operadores que "visam limitar o numero de ocorréncias do termo ao qual sao aplicados" (Ramalho & Henriques, 2002: 83), a saber: o sinal '*' determina que o termo ao qual o operador se refere pode ocorrer um numero ilimitado de vezeš, ou seja, (0 | x); o sinal'?' impoe que o termo pode ocorrer no maximo uma vez, isto é, (0 11). Importa referir que a vírgula utilizada para separar os elementos funciona como operador de conexao, mais precisamente, como operador de sequéncia. 224 A palavra-chave #pcdata, abreviatura de Parsed Character Data, é utilizada para declarar conteúdo de texto. 225 Um elemento composto por conteúdo misto contém um misto de conteúdo textual (#pcdata) e elementos. Daí o conteúdo destes elementos mistos ser definido como alternativa (I). O operador de ocorrencia '*' especifica que o(s) elemento(s) que compoe(m) um elemento de conteúdo misto pode(m) aparecer uma ou mais vezeš de forma intercalada com o conteúdo textual. 255 2.3. Relacäo das expressöes idiomáticas portuguesas com mais de dois equivalentes alemäes O seguinte quadro das expressöes idiomáticas portuguesas que apresentam mais de duas expressöes equivalentes alemäs foi elaborado com base no corpus electrónico anotado e validado do Dicionärio Idiomätico Portugués - Alemäo acima descrito. A disposicäo das expressöes portuguesas por ordern decrescente segundo o numero de equivalentes que apresentam fornece uma visäo de conjunto das potencialidades desta relacäo para estudos nos dominios da linguística contrastiva portugués - alemäo, da traducäo, do ensino-aprendizagem do alemäo ou do portugués como lingua estrangeira. 256 Lema expressäo portuguesa Numero de equivalentes alemäes cabo dar [cabo] de alg Numero de equivalentes alemäes cabeca perder a [cabeca] ír [ír] longe demais Olhos fechar os [olhos] (a qc) Numero de equivalentes alemäes boča ficar de [boča] aberta exagerar exagerar pirar-se [pirar-se] Numero de equivalentes alemäes cabo dar [cabo] de qc descobnr [descobnr] qc detestar [detestar] qc inform ar [mformar] alg (de qc) marcas passar das [marcas] palavra [palavra] de honra! portas estar as [portas] da morte sabě-la [sabě-la] toda Numero de equivalentes alemäes cágados armar(-se) aos [cágados] casaca cortarna [casaca] (de/a alg) cinto (ter que) apertar o [cinto] costas ter as [costas] quentes dar-se [dar-se] por vencido enganar [enganar] alg entender (nao) se [entender] com qc falhar [falhar] impossível parece [impossível]! Hquidar piquidar] alg nulidade ser uma [nulidade] opiniäo mudar de [opmiao] palha nao mexer uma [palha] pens ar nem [pensar] msso pio perder o [pio] reformar-se [reformar-se] sorte boa [sortě]! Numero de equivalentes alemäes constituícäo ter uma [constituícäo] de ferro/aco perná ter alg ä [pema] substituir [substituir] alg espertalhäo ser (um) [espertalhäo] pele ser só [pele] e osso partida pregaruma [partida] a alg contar poder [contar] com alg estnbeiras perder as [estnbeiras] pés näo ter [pés] nem cabeca poder näo [poder] com qc fundo no [fundo] respeito (näo) dizer [respeito] a alg cordelmhos mexer/puxar os [cordelmhos] matar [matar] alg botas lamber as [botas] a/de alg durar (já) näo [durar] muito ignorar [ignorar] alg ficar [ficar] para trás desaparecer fazer [desaparecer] qc cotovelos falar pelos [cotovelos] forte essa é [forte]! espalhar-se [espalhar-se] parede encostar alg ä [parede] dizer [dizer] mal de alg boas [dizer] das [boas] e das bonitas a alg desistir [desistir] desaparecer [desaparecer] derrubar [derrubar] alg maneira de [maneira] nenhuma deitar [deitar] alg abaixo dar [dar] tudo por tudo conhecimento dar [conhecimento] a alg de custe [custe] o que custar consolar [consolar]/[confortar] alg Confundir [confundír] alg carapau armar(-se) ao pmgarelho/aos [cágados]/em [carapau] de comda/aos cucos nada absolutamente [nada] Numero de equivalentes alemäes impossível é [impossível]! mundo viver num [mundo] a parte fcitico virar-se o [feitico] contra o feiticeiro coisas ver as [coisas] como elas [säo] saúde tratar da [saúde] a alg cao tratar alg abaixo de [cäo] fraquinho ter um [fraco] / [fraquinho] por alg/qc ódio ter um [ódio] mortal/de mořte a alg mao ter qc ä [mäo] (de semear) termín ar [termmar] faca ter a [faca] e o queijo na mäo escola ter a [escola] toda sumir-se [sumir-se] disparates (só/simplesmente/...) dizer [disp arate s] / [asneiras] /... vidrinho ser um [vidnnho] de cheiro picuinhas ser um [picumhas] gabarola ser (um) [fanfarräo]/um [gabarola] fanfarrao ser (um) [fanfarräo]/um [gabarola] fantas tico ser [formidável] / [fantástico] série ser fora de [série] ruina ser a [ruina] de alg sempře [sempře] safar-se [safar-se] { bandeiras nr as [bandeiras] despregadas revelar-se [revelar-se] render-se [render-se] pés rastejar aos [pés] de alg problema qual é o [problema]? increditável (qc) é [mcrível] / [macreditável] píro [pór-se] a andar/no [píro] mexer pór-se a [andar]/[mexer] prática pór qc em (prática] ordem pór qc em [ordem]/ordem em qc provocar [provocar] alg propagar-se [propagar-se] lado pór de [lado] qc lado pór alg de [lado] porra [Porra]! calos pisar os [calos] a alg coragem perder o [änimo]/a [coragem] paralisar [paralisar] qc opor-se [opor-se] a alg/qc papas näo ter [papas] na lingua bnncadeiras näo ser para [bnncadeiras] chamado näo ser para aqui [chamado] mau näo ser nada [mau] prestar näo [prestar] para nada pescar näo percebe/[pescar] patavma/nada de qc largar näo [largar] alg cabeca näo deves/o Sr. Silva näo deve/... estar bom da [cabeca]! boča näo abnr a [boca] penses nem [penses]/pense/... msso! Deus meu [Deus]! medo meter [medo] a alg ordem meter alg na [ordem]/pinha] denies menür com quantos [dentes] se tem na boca/como uma cesta rota mandar [mandar] mais [mais] ou menos livrar-se [livrar-se] de alg fim isso/qc näo e o [fim] do mundo sentido isso/qc näo faz [sentido] (nenhum) (para alg) músca isso/qc e [müsica] para os ouvidos de alg esteira ir/seguirna [esteira] de alg/qc cama lrpara a [cama] com alg mterromper [mterromper] alg mcrível e [mcrivel]! rabo fugir/ir-se embora/retirar- se/... com o [rabo] entre as pemas forca [forca]! lrxar foder/[lixar]/tramar alg efeito ficar sem [efeito] vista fazer [vista] grossa (a qc) curva fazer uma [curva] troca [fazer] [troca]/pouco de ah olhos fazer qc de [olhos] fechados/com uma pema äs costas perná fazer qc com uma [pema] äs costas negócio fazer [negocio] com qc tnpas fazer das [tnpas] coracäo 258 barulho fazer [barulho] teso estar [teso]/liso/depenado bomfando estar-se [bomfando] /marimbando para alg/qc mortinho estar morto/[mortinho] por fazer qc disposicao estar disponivel/a [disposicao] de alg cagaco estar com [cagaco]/cheio de cagaco trabalhar estar a [trabalhar] em qc costuras estar a [rebentar] (pelas [costuras]) postos estar a [postos] mo rte estar a pensar na [morte] da bezerra ultimas estar a [dar] as [ultimas] dar estar a [dar] as [ultimas] especialmente [especialmente] enganar-se [enganar-se] redondamente enfurecer-se [enfurecer-se] encolher-se [encolher-se] pnncipio do (pnncipio] ao ftm verdades dizer umas [verdades] a alg diabos [diabos] levem alg! despachar-se [despachar-se] descarnlar [descarnlar] momento de [momento] demitir-se [demitir-se] critério deixar a [escolha]/ao [criteno] de alg máo deitar a [mao] a qc máozmha dar uma mao/[maozinha] (a alg) vila-diogo dar as de [vila-diogo] suspiro dar/exalar o ultimo [suspiro] graxa dar [graxa] a alg carta dar [carta] branca a alg cabo dar [cabo] de alg/qc correr [correr] com alg confortar [consolar]/[confortar] alg contas (com qc) sairem as [contas] furadas a alg roupa chegar a [roupa] ao pelo a alg fim chegar ao [fim] casar-se [casar-se] calminha [calmmha]! esquecimento cair no [esquecimento] cammho bloquear o [caminho] a alg saúde beber/bnndar a [saude] de retirada bater em [retirada] passagem barrar a [passagem]/o caminho a alg caminho barrar a [passagem]/o [caminho] a alg baralhar [baralhar] tudo caminho atravessar-se no [caminho] de alg cara atirar (com) qc á [cara] a/de alg traje aparecer/vir em [traje] de gala/cerimóma volta andar sempře/... á/de roda/[volta] de alg roda andar sempře/... á/de [roda] / volta de alg terra andar de [terra] em terra noite a meio da [noite] prazo a longo [prazo] coisa all/... há [coisa]! Numero de equivalentes alemaes zombar [zombar]/trocar de alg zangar-se [zangar-se] ceguinho ... (que) eu sej a [ceguinho] atras voltar com a (sua) (palavra] atrás planeta viver noutro [planeta] viver [viver] á grande viver [viver] á grande e á francesa custa viver á [custa] dos outros hora vir na [hora] »h« virar [virar] vir [vir] ao de cima luto vestir-se de preto/fluto] ver [ver]/fazer tudo negro vender [vender] qc veneer [veneer] (alg) pitada um [pitada] de sal/... limites ultrapassar os [limites] ultimamente [ultimamente] ideia tu/ele/... náo fazes/faz/... a mais pequena [ideia]! trocar [trocar] tudo/... olho trazer alg (sempre) debaixo de [olho] mdiferenca tratar alg/ (qc) com [mdiferenca] /desprezo trair [trair] alg tumos trabalhar por [turnos] vapor trabalhar a todo o pano/gás/[vapor] decisao tomar uma [decisao] posse tomar [posse] de qc precaucoes tomar medidas/providencias/ [precaucoes] juizo tomar [juizo] conta tomar [conta] de alg to do [todo] proveito tirar [proveito] de qc proveito tirar [partido]/[proveito]/ [vantagem] de qc partido tirar [partido]/proveito/ vantagem de qc desforra tirar a [desforra] (de qc) fraco ter um fraqumho/[fraco] por alg/qc deslize ter um [deslize] coracao ter um [coracao] de pedra/gelo/bronze black-out ter um [black-out] lingua ter uma [lingua] viperina lingua ter uma [lingua] destravada coracao ter uma [alma] /um [coracao] de ouro sorte ter [sorte] sorte ter [sorte] com alg consciencia ter/sentir a [consciencia] tranquila sangue ter [sangue] quente diga [ter] que se lhe [diga]! maos ter qc entre [maos] problemas ter [problemas] de/com o figado/de/com os nns/de/com o coracao/... ques ter os seus inconvenientes/ [ques] dias ter os [dias] contados sentido ter o/um sexto [sentido] para qc olho ter [olho] vivo habilidade ter [jeito]/[habilidade] para dificuldade ter [dificuldade] em fazer conheomento ter [conhecimento] de qc relacoes ter boas [relacoes] olho ter alg (debaixo) de [olho] ideia tens/...cada [ideia]! pensar so/.&.vp.&.vp.[pensar] em qC surgir [surgir] suicidar-se [suicidar-se] estopmhas suar as [estopmhas] sondar [sondar] alg sobrar [sobrar] is so so [isso]? faltava só [faltava] mais esta! vira-casacas serum [vira-casacas] direitas serum [tipo]/uma [mulher]/...as [direitas]/como [deve] ser_ tipo ser um [tipo] as direitas/como deve ser cabecudo ser (um) teimoso/[cabecudo]/casmu rro pau-de-virar- (ser) um [pau-de-virar- tnpas tnpas] parvalhäo ser um [parvalhao]/estúpido/ [idiota]/... papa-acorda (ser) um [papa-acorda] descarado (ser) um [des c arado] / atre vido / atrevidao/desavergonhado bruta-montes ser um [bruta-montes] bico (ser) um [bico] de obra banana ser um [banana] barra ser uma [águia]/[barra] pore ana (ser) uma droga/merda/ [porcana] boa ser (toda) [boa] Útli ser [útil] (a alg) burro ser teimoso como/que nem um [burro]/jenco coisas ser superior a isso/a essas [coisas] mglés (ser só) para [ingles] ver responsável ser [responsável] por alg/qc raposa ser [raposa] velha mvencäo ser pura [mvencao]/ficcao ser [ser] [por] alg/qc emenda ser pior a [emenda] (do) que o soneto hora ser pago á fhora] esperto ser muito [esperto] sucedido ser mal [sucedido] tremocos ser mais conhecido que os [tremocos] formidável ser [formidável]/fantástico vistas ser de [vistas] curtas despedido ser [despedido] manteiga ser como [manteiga] em focinho de cao capaz ser [capaz] de fazer qc vez ser a [vez] de alg favor ser a [favor] de alg/qc consciencia sentir/ter a [consciencia] pesada discórdia semear a [discórdia] (entre as pessoas/...) 260 interrupcao sem descanso/ [interrupcao] /intervalo descanso sem [descanso]/ ínterrupcáo/mtervalo pestanejar sem abnr a boca/[pestanejar] boca sem abnr a [boca] /pestanej ar cammho seguir o seu [caminho] /rumo Deus santo [Deus]! prova sair-se bem duma [prova] dificil tiro sair o [tiro] pela culatra a alg vencedor [sair]/ficar [vencedor] sabe-se [sabe-se] lá! saber [saber] qc poda saber/ en tender da [poda] / do oficio saber [saber] de qc gargalhadas nr as [gargalhadas] retirar-se [retirar-se] restabelecer-se [restabelecer-se] Responsabilizar [responsabilizar] alg (por repreender [repreender]/censurar alg registar [registar] qc recompor-se [recompor-se] realizar [realizar] qc corra que tudo te/vos/...[corra] bem/... vida qc é uma questao de [vida] ou de mořte questao qc é uma [questao] de vida ou de mořte demais qc já é [demais]/exagero cumulo qc/isso é mcrível/o máximo/o [cúmulo] incrivel (qc)é [mcrível] /ínacreditável sentimento puxar ao [sentimento] cobro pór termo/[cobro] a qc cavar pór-se a [cavar]/na alheta/ao fresco pincaros pór qc nos [pincaros] da lua pes prostrar-se aos [pés] de alg processar [processar] alg pnmeiro [primeiro] pressionar [pressionar] alg cao (é) preso por ter [cáo], preso pornáo ter prender [prender]/deter/capturar/[ filar] alg prejudicar [prejudicar] alg/qc peixes pregar aos [peixes]/no deserto deserto pregar aos [peixes]/ no [deserto] lado pór/deixar qc de [lado]/parte maluco pór/deixar alg [maluco] (com qc) vida pór a (sua) [vida] em nsco/jogo cartas pór as [cartas]/o jogo na mesa rua pór alg na [rua] /no olho da rua combate pór alg fora de [combate] liberdade pór alg em [liberdade] maluco pór alg doido/ [maluco] /louco dono pór alg com [dono] descoberto pór a [descoberto] sim pois [sim] certeza podes/pode/... ter a [certeza]! 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264 matrimonio contrair [matrimonio] contmuar [continuar] conseguir [conseguir] (fazer) qc coracäo conquistar o [coracäo] de alg (com qc) mundo conhecer meio [mundo]/toda a gente conhecer [conhecer] alg confundir [confundir] tudo/qc comprometer [comprometer] alg tempo com o [tempo] dedo comer ate lhe chegar com o/um [dedo] pe comecar a perder o [pe]/a patinar paciencia (comecar a) perder a [paciencia] mexer-se comecar a [mexer-se] certeza com [certeza]! claro [claro] que Sim! sentido cmgir-se ä letra/ao [sentido] literal de qc Gregono chamar pelo [Gregono] ceder [ceder] casar [casar] esparrela cair na [esparrela] proveito bom [proveito]! bota bater a [bota] busilis ai/... e que esta a dificuldade/o [busilis] ver a [ver] vamos cucos armar(-se) ao pmgarelho/aos cagados/em carapau de corrida/aos [cucos] porca aqui/ai e que a [porca] torce o rabo cinto apertar o [cinto] doenca apanhar uma [doenca] venerea bocas andar nas [bocas] do mundo bezerro adorar o [bezerro] de ouro correr a [correr] passo acelerar o [passo] boca abnr a [boca] trono abdicar do [trono]/da coroa