Aspetos Semânticos de uma Frase (variabilidade temporal e aspetual dos nomes dos dias da semana) Iva Svobodová ÚRJL FFMU (linguística portuguesa) a 1ª fase: empirismo •O Empirismo é uma teoria que afirma que o conhecimento vem através da experiência cotidiana. •surge, então uma experiência relativa a um fenômeno gramatical, por exemplo. • • • ? a 2ª fase: método indutivo • •Método indutivo ou indução é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. A indução, ao contrário da dedução, parte de dados particulares da experiência. • ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? empirismo e indução coleção de premissas •Uma premissa é uma fórmula considerada hipoteticamente verdadeira. Esta constitui-se de duas partes: uma coleção de premissas, e uma conclusão (na parte final da análise). •Premissa significa a proposição, o conteúdo, às informações essenciais que servem de base para um raciocínio, para um estudo que levará a uma conclusão. • ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? a 3ª fase: agrupamento > a 3ª fase: resultado do agrupamento • área 1 área 2 • • • • área 3 área 4 • ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? a 4ª fase: hierarquização textual • nome universal da pesquisa • •s •e •c •ç •õ •e •s • ? 3. 1. 2. 1.. 21.. 31.. 1 2 3 1 2 .3 a 5ª fase: método dedutivo – conclusões • •Método dedutivo é a modalidade de raciocínio lógico que faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de determinada(s) premissa(s). a 5ª fase: conclusão - dedução método dedutivo • nome universal da pesquisa • • conclusão e deduções •s •e •c •ç •õ •e •s • ? 4. 3. 1. 2. a 6ª fase: introdução • •i •n •t •r •o •d •u •ç •ã •o • •↑ ↓ •↑____________________________________________↓ • ? 4. 3. 1. 2. conclusão descrição dos resultados a 1ª fase: nomes dos dias da semana •A experiência cotidiana – observação das ocorrências dos nomes dos dias da semana • • NOMES DOS DIAS DA SEMANA a 2ª fase: método indutivo • •Encontrámos um número suficiente de casos particulares que nos incentivaram a formular as premissas que apontariam para uma alta variabilidade morfológica, sintática, semântica e textual (estilística) das ocorrências. • N segunda-feira próxima/passada a segunda –feira na(s) segunda(s)-feira(s)/à(s) segunda (s)-feira(s) na segunda-feira passada de/para/em segunda -feira segunda-feira na próxima segunda-feira Elipsa: noite de segunda-feira próxima/passada noite de segunda-feira próxima/passada N = nome do dia da semana a próxima/passada segunda –feira • N [N+Adj] [Det +N] [N] [Prep +Det + N +Adj] [Prep +Det +N] [Prep +N] [Prep +Det + Adj+N ] Elipsa: [N+Prep+ N+Adj] [N+Prep+ N+Adj] N = nome do dia da semana [Det + Adj+N] a 3ª fase: agrupamento das ideias - interdisciplinaridade • • N variabilidade sintática variabilidade diacrónica variabilidade semântica – aspetual e temporal variabilidade sintático-semântica variabilidade morfo-sintática estudo quantitativo estudo comparativo estudo textual (estilística) estudo qualitativo a 4ª fase: hierarquização aspeto e tempo verbais •Quanto ao tempo, é necessário ter presente que este pode ser de natureza linguística e ontológica., •o tempo ontológico parte do conhecimento geral, a sua perceção é universal, apresentando um eixo temporal difuso, iniciado e terminado num ponto infinito. No meio encontra-se o ponto mais importante, o momento da enunciação, que divide o eixo temporal em três partes: presente, passado e futuro. •Nas línguas checa e portuguesa, estes três tempos básicos são deíticos/absolutos. Contudo, nas línguas românicas, além destes, existem ainda tempos gramaticais relativos, os quais veiculam a informação sobre a relação entre o momento de enunciação e os tempos paralelos, anteriores ou posteriores. Consequentemente, existe uma considerável diferença entre o sistema verbal português, que possui um paradigma muito mais rico em tempos, e o sistema verbal checo, que carece de tempos relativos mas que, para exprimir as relações temporais secundárias, recorre a outros meios morfológicos ou lexicais. aspeto e tempo verbais •Levando em consideração a tipologia aspetual baseada na distinção entre eventos, estados, processos culminados, culminações e pontos, a mesma construção pode ser utilizada, indiferentemente, com todos os tipos aspetuais do verbo que implicam singularidade de ação, sendo as outras propriedades (a homogeneidade, a dinamicidade, a duração, a estado consequente e a telicidade) irrelevantes para a seleção de uma ou outra construção. Veja-se os seguintes exemplos onde a mesma construção ocorre na frase independentemente da natureza aspetual da proposição: • • •A Maria estava triste no domingo. (estado) •Choveu no sábado passado. (processo) •O João deu o quadro ao filho na segunda-feira. (processo culminado) •Na terça-feira o Pedro chegou tarde ao emprego. (culminação) •O público suspirou de alívio na quarta-feira. (processo) • • aspeto e tempo verbais •O segundo passo consistiu em analisar os valores aspetuais pontuais, que descrevem eventos cuja duração é a do momento ou tempo de curta duração em que ocorre a mudança de estado ou transição sofrida por uma dada entidade. •Supomos que todos os predicadores que apresentem os valores pontuais, ou seja, tanto os valores incoativo, causativo, incetivo como os valores conclusivo e cessativo podem ser localizados num determinado dia. Este ponto de vista, em termos de variabilidade estrutural, mostrou que o repertório dos adverbiais que exprimem a duração dos eventos num determinado dia, é completamente submetido às referências temporais distribuídas no eixo temporal como mostram os seguintes exemplos: • •O padre terá morrido na sexta-feira passada. (incoativo) • A Maria abriu o envelope no sábado passado. (resultativo) •Domingo, começou a chover. (incetivo) •Chegarão na próxima segunda-feira. (conclusivo) •Deixarei de fumar na terça-feira. (cessativo) aspeto e tempo verbais •O terceiro ponto de vista permitiu-nos desenvolver uma análise mais detalhada das construções que localizam os predicadores num subintervalo diário e que apresentam o valor aspetual durativo (Mateus, Brito, Duarte, Hub 1989: 97). A seleção da construção, neste caso, representa a única situação em que a influência primária é exercida pelo aspeto, mais precisamente pela dicotomia singularidade versus pluralidade da ocorrência da proposição, e não pela referência temporal. Esta, contudo, pode ser percebida como um fator secundário que, juntamente com o contexto, perfaz a natureza aspetual geral da frase. É de referir que a distinção entre a ocorrência singular e as ocorrências plurais do referido processo ou evento reflete-se, também, na seleção do tempo verbal, por exemplo, de pretérito perfeito versus imperfeito ou pretérito perfeito composto. No que análise do valor durativo diz respeito, os valores iterativo, frequentativo, habitual e gnómico dos estados e processos apresentam as suas especificidades relativamente à escolha da construção adverbial. • aspeto e tempo verbais •Por exemplo, na frase: • •O João trabalha à sexta-feira. •O João trabalha na sexta-feira. • • •“trabalhar à sexta-feira“ apresenta um valor aspetual habitual, iterativo ou frequentativo, • •enquanto que no segundo exemplo, • •o predicado “trabalhar na sexta-feira” aponta para o carácter singular do processo. • •Consequentemente, não seriam aceitáveis frases como: •*O João normalmente trabalha na sexta-feira. • aspeto e tempo verbais •Partindo das classes e formas aspetuais típicas das línguas portuguesa e checa, verificou-se uma diferença essencial na localização de um evento/estado/processo num determinado dia, entre a língua checa e a língua portuguesa. Enquanto que, em checo, a oposição aspetual se exprime, primariamente, pelo processo gramatical que consiste na seleção de uma concreta forma aspetual do verbo, em português isto é feito por meio da expressão adverbial. Comparem-se as expressões em negrito, aspetualmente relevantes nas duas línguas, ilustradas no seguinte quadro: • aspeto e tempo verbais expressão adverbial tempo verbal Português À(s) segunda(s)-feira(s) - iteratividade Na segunda-feira - pontualidade vou a Lisboa. Checo V pondělí (po)jedu do Lisabonu. - pontualidade jezdím do Lisabonu. - iteratividade Análise temporal •Aplicando o método de distribuição temporal,, como já foi adiantado, no eixo temporal consideraram-se indispensáveis cinco referências temporais, como se pode ver no seguinte esquema: • • Ia Ie Ip •Ij Ik Ipi Ip •_______________________________________________________ •1 2 3 4 5 • • •Ij=pretérito mais-que perfeito; Ik=pretérito perfeito; Ie=presente; Ip=futuro; Ipi=futuro iminente. • O futuro Ip •O tempo futuro, no nosso caso, exprimirá duas fases de posterioridade do intervalo de tempo que contém o estado das coisas descrito relativamente ao momento de enunciação: a fase iminente e a fase não iminente, distanciada do momento presente. Como o tempo é um fenómeno que, por um lado representa uma grandeza física exatamente mensurável, mas, por outro lado, é muito relativo e submetido à perceção individual do falante, a divisão do futuro nestas duas fases de posterioridade também dependerá da atitude subjetiva dos interlocutores acerca da referência temporal da proposição. Como veremos, esta terá uma influência essencial na seleção da construção. Refira-se que nesta parte só foram analisados os sintagmas preposicionados que tem o núcleo em, sendo outros núcleos preposicionais tratados nesta secção apenas marginalmente e desenvolvidas na secção 4. • O futuro Ip •6 possibilidades: 1.[N] 2.[Adj+N] 3.[N+Adj] 4.[Prep+Det +N] 5.[Prep+Det+Adj+N] 6.[Prep+Det+N+Adj] O futuro Ip •As construções típicas • SP = [Prep+Det+N]. •SP= [Prep+Det+Adj+N] modificador próximo • • Vai chegar na quarta-feira. [Prep+Det +N] • •Na próxima terça (-feira) haverá um desfile. [Prep+Det+Adj+N] • O futuro Ip • •Textos com um maior grau de formalidade : •[N]; [Adj+N]; [N+Adj], [Prep+Det+N+Adj] • • •A próxima reunião plenária terá lugar no dia 19 de março, quarta-feira, pelas 15 horas. [N] • •…a argumentação deve ser apresentada até 9 de Setembro, próxima sexta-feira. [Adj+N] • •O FC Porto jogará… quarta-feira próxima… [N+Adj] • •Após, na quarta-feira próxima, ser produzida a acusação definitiva… • [Prep+Det+N+Adj] Ip - flutuação do modificador “próximo” • •A [Prep+Det+Adj+N] x [Prep+Det+N+Adj] • •[N+Adj] x [Adj+N] • •[Det+Adj+N] x [Det+N+Adj] • • • • • • • Sintagma preposicionado (na próxima x-feira versus na x-feira próxima) número das ocorrências encontradas x [Prep+Det+SAdj+N] [Prep+Det+N+SAdj] na próxima x-feira na x-feira próxima 2ª- feira 1482 6 3ª- 953 3 4ª- 801 5 5ª- 752 2 6ª- 752 2 sábado 862 1 domingo 860 2 Sintagma não preposicionado (,próxima x-feira, versus ,x-feira próxima número das ocorrências encontradas x ,[Adj+N], ,[ N+Adj], , próxima x-feira, , x-feira próxima, 2ª- feira 0 4 3ª - 0 4 4ª- 1 16 5ª- 0 1 6ª- 1 1 sábado 0 6 domingo 0 11 Sintagma não preposicionado (a próxima x-feira, versus a x-feira próxima) número das ocorrências encontradas x [Det+Adj+N] [Det+ N +Adj] A próxima x-feira, A x-feira próxima 2ª- feira 1 0 3ª - 3 1 4ª- 1 0 5ª- 2 0 6ª- 1 0 sábado 1 1 domingo 0 0 Sintagma preposicionado (para a próxima x-feira versus para a x-feira próxima) número das ocorrências encontradas x [Prep+Det+Adj+N] [Prep+Det+N+Adj] para a próxima x-feira para a x-feira próxima 2ª - feira 236 0 3ª- 170 0 4ª - 166 0 5ª- 136 0 6ª- 163 0 sábado 154 0 domingo 93 0 O presente •O tempo presente, que exprime a simultaneidade do intervalo de tempo em que ocorre o estado de coisas descrito serve, em nossa análise, apenas como o ponto de divisão entre o passado e o futuro e como o ponto, em torno do qual orbita o espaço iminente descrito mais abaixo. Normalmente, o presente utilizado com os nomes dos dias da semana na forma do sintagma nominal reduzido [N] representa o valor aspetual durativo, cursivo ou permansivo e, habitualmente, é especificado ainda pelo advérbio hoje, p.ex: • •Hoje é segunda-feira. •Hoje, segunda-feira, vamos falar das tradições de Natal. • •Apesar de ter um ponto inicial e um outro final, relativamente ao momento de enunciação, o dia é visto como um intervalo de tempo que ainda está em curso, sendo a proposição considerada como atélica. • O presente • • Ie • _________________________________ • • Hoje é segunda-feira. • Hoje, segunda-feira, falamos • das tradições de Natal. • • O futuro Ipi e o passado Ik iminentes •A razão que nos levou a incluir estes dois tempos na mesma secção foi a analogia de iminência do evento projetada tanto no passado, como no futuro. O facto de no momento de enunciação o interlocutor preferir, subjetivamente, exprimir a iminência do estado de coisas descrito, torna-se o fator decisivo que leva, às vezes, ao uso do sintagma não preposicionado (adverbial) em vez do preposicionado e, também, como veremos mais adiante, predeterminará a seleção dos tempos verbais. O futuro Ipi e o passado Ik iminentes •a construção típica [N] • • Ik Ie Ipi •_____________________________________ •Terça-feira fui ao teatro. Vai chegar quarta-feira. • O futuro Ipi e o passado Ik iminentes •a construção típica [N] • • Ij Ik Ie Ipi _____________________________________ • Terça-feira fui ao teatro. Vai chegar quarta-feira. • • deduza-se a incompatibilidade: Ik x Ij • • ?Terça tinha ido/fora/ia ao teatro. • • •Abre-se a questão das compatibilidades na sequência temporal. • • O pretérito não iminente Ij •No caso de o passado ser colocado no eixo temporal antes do ponto não iminente Ij, ocorre tipicamente o sintagma preposicional • •[Prep+Det+N+Adj] com o modificador passado, • • •[Prep+Det+Adj+N] com o modificador passado, • • •Na terça-feira passada fomos ao teatro. •Na passada terça-feira passada fomos ao teatro. • Sintagma preposicionado (na passada x-feira versus na x-feira passada) • • número das ocorrências encontradas x [Prep+Det+Adj+N] [Prep+Det+N+Adj] na passada x-feira na x-feira passada 2ª- feira 1149 302 3ª- 1046 294 4ª- 1135 365 5ª- 1127 387 6ª- 1817 589 sábado 782 569 domingo 800 525 Sintagma não preposicionado a passada x-feira, versus ,x-feira passada, • • número das ocorrências encontradas x [Det+Adj+N] [ Det+N+Adj] A passada x-feira A x-feira passada 2ª- feira 1 0 3ª - 3 1 4ª- 1 0 5ª- 2 0 6ª- 1 0 sábado 1 1 domingo 0 0 Sintagma preposicionado (função circunstancial) número das ocorrências encontradas x [Prep+Det+Adj+N] [Prep+Det+N+Adj] desde a passada x-feira desde a x-feira passada 2ª - feira 59 2 3ª- 45 2 4ª - 33 0 5ª- 45 1 6ª- 65 2 sábado 26 0 domingo 22 3 Sintagma não preposicionado ,passada x-feira versus ,x-feira passada, número das ocorrências encontradas x ,[Adj+N], ,[N+Adj], ,passada x-feira, , x-feira passada, 2ª- feira 0 36 3ª- 0 36 4ª- 0 47 5ª- 0 62 6ª- 0 71 sábado 1 84 domingo 0 72 Análise aspetual •singularidade oposta à pluralidade das ocorrências da predicação • •ITERATIVO: Este mês, vamos à piscina às sextas. •FREQUENTATIVO: Aos domingos almoçamos fora. •HABITUAL: É costume ela vir à terça- feira. •GNÓMICO: Talvez chore ao domingo o que ri • sexta-feira • • pluralidade das ocorrências iteridade, frequência e habitualidade • •[N] Quarta é o seu dia de ir às aulas de informática. • •[Det+N] A quarta é o dia da semana em que ela tem • aulas de informática. • •[Prep+Det+N] Tem aulas de música à quinta-feira à tarde. • •[Prep+Det+N+N] Às quintas-feiras tem aulas de música. • •N+[Prep+Det+N] reunião das segundas-feiras • aspeto gnómico • [N] •Sexta-feira treze dá azar. •Não há domingo sem missa, nem segunda sem premissa. •Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem preguiça. • •[Prep+Det+N] •Às terças e sextas-feiras, não cases as filhas nem urdas a teia. •Comido o Natal à segunda-feira tem o lavrador que alugar a eira. •Quem promete à quarta e vem à quinta, não faz falta que se sinta. •Natal à sexta-feira por onde puderes semeia; domingo vende bois e compra trigo. • •[Adj+Det+N] •Quem quer couves aos braçados cava-as todos os sábados. • • O papel do artigo nos sintagmas preposicionados • • [Prep+N] •Ter cara de sexta-feira Santa. •Chuva/Obra de sábado nunca acaba • •Assim, a preposição “de”, sem o artigo, não só aponta para um carácter gnómico de toda a frase, como também classifica o nome do dia como entidade universal. A presença do artigo, em casos contextualmente compatíveis, permitiria transformar o nome classificador no identificador. > classificador → identificador • •classificador identificador •[Prep+N] x [Prep+Det+N] • •preocupações de mãe x preocupações da mãe •orçamento de Estado x orçamento do Estado •reunião de sexta-feira x reunião da sexta-feira • não possível nos nomes dos dias da semana • • •chuva de sábado nunca acaba •x •chuva *do sábado nunca acabava • divisão sintático-semântica •dois tipos, de acordo com a função sintática e do aspeto. Na função sintática atributiva, a ausência do artigo, inclusive nos casos em que figura o modificador, é canónica quando a expressão remete para a ocorrência singular de ação. • •reunião de sexta-feira/reunião de sexta-feira passada •singularidade • •Por outro lado, o artigo é indispensável nos sintagmas que implicam a natureza iterativa, frequentativa ou habitual de ação. • •reuniões das sextas-feiras •pluralidade • restrição combinatória •Por outro lado, na função adverbial, a ocorrência do artigo, opostamente às construções atributivas tipo reunião de sexta-feira passada, vê-se submetida à restrição combinatória que consiste na ocorrência do artigo sempre que os nomes do dia da semana são acompanhados por algum modificador. Neste caso, o artigo pode desempenhar a função textual referencial no sentido catafórico. Compare-se as seguintes construções. • •depois do sábado de Aleluia // depois da sexta-feira sangrenta ↓ ↑ ↓ ↑ • → → → → → → → → •mas cuidado: •depois do sábado de Aleluia // depois de sexta-feira passada ↓ ↑ ↓ ↑ • → → → → → → → →→ → • quatro diferentes construções sintagmáticas • • SN = [N + Sprep=Prep+Det+N+Adj] • reunião de sexta-feira • • SN = [N + Sprep=Prep+N+Adj] • reunião de sexta-feira passada • •SPrep = [Prep+Prep+N] •depois de sexta-feira. • •SPrep = [Prep+Prep+Det+N+Adj] •depois da sexta-feira passada • • > depois de + N versus depois de + Det +N • •depois de sábado •depois de domingo • •versus • •depois da revolução •depois do derrube • > estudo quantitativo •Para podermos definitivamente tirar conclusões relativas ao uso do artigo com os nomes dos dias da semana, percorremos nos corpora www.linguateca.pt todas as possíveis ocorrências preposicionadas sem e com o artigo e chegámos às seguintes frequências: artigo presente SP = [Prep+Det+N] 2ª-feira 3ª-feira 4ª-feira 5ª-feira 6ª-feira sábado domingo na/no 5403 4462 4689 4458 5455 5330 5316 para a/o 12 8 6 4 7 15 9 ) da/do 22 22 27 27 55 43 149 desde a/o 2 1 3 1 3 1 6 entre o/a 1 0 0 0 1 0 0 até o/a 0 0 0 0 0 0 0 nas/nos 13 0 0 0 0 4 0 às/aos 142 96 148 154 135 623 840 à/ao 160 51 97 74 189 364 1092 artigo ausente Sp=[Prep.+N] segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo em 0 0 0 3 3 2 5 para 372 317 307 334 354 451 417 de 2762 2416 2586 2464 3132 3762 4258 desde 406 224 248 301 337 270 234 entre 9 8 17 39 50 30 21 até 281 176 238 276 445 422 771 N (pl) 144 144 187 240 369 352 618 conclusões – deduções •variabilidade estutural dos sintagmas preposicionados ou não preposicionados que contêm um nome do dia da semana constitui um problema que pode ser analisado, subatomicamente, sob vários pontos. •referência temporal que apresentou cinco pontos distribuídos no eixo temporal. Vimos que a seleção da estrutura interna dos sintagmas analisados se depreende, muitas vezes, da perceção subjetiva e individual do interlocutor. •flutuação dos modificadores próximo e passado, que mostraram uma considerável assimetria nos sintagmas preposicionados e não preposicionados: isto é, ambos são, preferencialmente, colocados em posição pré-nominal no sintagma preposicionado, mas, por outro lado, em sintagmas não preposicionados, tendem para a posição pós-nominal. •subtipos aspetuais (eventos, processos, culminações, processos culminados, pontos) e classes aspetuais (valores incoativo, causativo, incetivo, permansivo, cessativo e conclusivo, cursivo e permansivo). Já no que diz respeito à subdivisão do valor durativo, foi verificada a relevância da singularidade ou pluralidade da proposição. • carácter gnómico e universal, o que também se refletiu na análise das construções preposicionadas em função modificadora. •a ocorrência do artigo nos sintagmas preposicionados em que, como vimos, a variabilidade da ocorrência se depreende diretamente do núcleo preposicional. • conclusões - deduções •os números mais elevados da ocorrência do artigo se referem às preposições “em“ e “a”; •as ocorrências mais frequentes o artigo omitido se referem aos núcleos preposicionais (para, de, desde, entre, sem); •casos contraditórios de imprevisibilidade, que foram registados apenas nos sintagmas adverbiais sempre que o dia da semana era seguido por um modificador: “depois do sábado de Aleluia, depois da quinta-feira negra, antes da sexta-feira sangrenta, para a sexta-feira, 17 de junho. e também na locução prepositiva: “por causa de“ (por causa da segunda-feira); •ocorrência de “em“ sem artigo, com os nomes dos dias da semana litúrgica. Devido ao número reduzido de frases encontradas, não podemos tirar nenhumas conclusões definitivas. Ao consultarmos esta construção com os falantes nativos, parece que podemos atribuir estas formas à linguagem escrita, enquanto na linguagem falada, os nomes dos dias da semana se usam com o artigo. introdução •O presente trabalho tem por objetivo apontar caminhos para possíveis análises dos diferentes comportamentos de expressões adverbiais de tempo quando estas se encontram em sintagmas preposicionados em que o núcleo sintático introduz o nome dos dias da semana. A referência temporal destas expressões adverbiais é submetida, maioritariamente, ao subsistema verbal português, prendendo-se, muitas vezes, com os valores temporal e aspetual. •O propósito da nossa pesquisa será, concomitantemente, analisar a estrutura interna destas expressões, limitando-nos às suas ocorrências em português europeu. Dividiremos o nosso trabalho em duas partes principais. A primeira parte abordará o problema dos sintagmas preposicionados com os núcleos “em” e “a” do ponto de vista temporal e aspetual, sendo a segunda parte dedicada à análise da ocorrência do artigo em outros sintagmas preposicionados. • enquadramento metodológico •No presente estudo foram aplicados os princípios da metodologia qualitativa e quantitativa. Na primeira parte, dedicada ao estudo qualitativo das possíveis interpretações aspetuais e temporais das construções encontradas, partimos de “Gramática do Português Contemporâneo” (Cunha e Cintra 1999), “Moderna Gramática Portuguesa” (Bechara 2000), “Gramática de Uso” (Neves 2001), “Gramática da Língua Portuguesa” (Mateus, Brito, Duarte, Hub: 1989 e 2003), entre outros. Para conseguirmos obter o maior número de exemplos, recorremos aos corpora Linguateca, Corpus do Português, Interkorp e também ao “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea” (Casteleiro et.al. 2001). Tal como sinaliza o título do nosso texto, todas as construções encontradas foram analisadas do ponto de vista sintático (observando-se a estrutura interna dos sintagmas preposicionados e não preposicionados) e semântico (analisando-se os valores temporal e aspetual das diferentes construções). A segunda parte do trabalho, dedicada à pesquisa da ocorrência do artigo nos sintagmas preposicionados, consistiu, pelo contrário, num estudo quantitativo da ocorrência do artigo nestas expressões e da posição do modificador próximo e passado no sintagma. •De referir que, ao contrário de outras análises da nossa autoria (p.ex. Svobodová 2009, 2010), na presente pesquisa partimos dos valores constantes do artigo, sendo que -segundo as nossas observações-, no caso dos dias da semana, o artigo apresenta, em cada construção prototípica, um valor estável, tendo em diferentes registos (oral e falado) um uso consagrado e constante. enquadramento metodológico •Destaque-se que o número elevado dos sintagmas encontrados deveria implicar uma maior univocidade semântica. Adiantamos, contudo, que em alguns casos deparamos com o problema de ambiguidade, quando a mesma construção ganha diferentes valores aspetuais de acordo com o texto que orbita em torno dela como mostram os seguintes casos: • •Terça(-feira) é o meu dia de ir a Brno. (aspeto durativo: frequentativo/iterativo) •Terça(-feira) fui a Brno. (aspeto pontual: evento) • • A variabilidade das referências temporais e aspetuais, como já foi adiantado, é muitas vezes deduzível a partir do contexto. As formas isoladas, não obstante, levaram-nos a colocar as seguintes questões: • 1.Como é que as formas concretas dos sintagmas se relacionam com a categoria verbal de tempo e aspeto? 2.Existem diferenças relativas à frequência de uso de construções sinonímicas como são, por exemplo, todos os sábados/nos sábados/aos sábados/ao sábado? 3.De que fator depende a ocorrência do artigo nos sintagmas preposicionados (no sábado x de sábado)? 4.Qual é a influência do núcleo preposicional na flutuação do modificador? 5.Qual é a posição dos modificadores dentro das construções e de que fatores depende a sua flutuação? 6.Qual é a influência do modificador na ocorrência do artigo? 7.Por ter sido realizada em junho de 2013, i. e., antes da publicação de “Gramática do Português“ (Raposo E. P. 2013), a nossa pesquisa já não inclui a recente gramática nas referências bibliográficas. Apesar deste facto, ao ser consultada posteriormente, chegou-se à conclusão de que não aumentaria a parte material da pesquisa. 8.A nossa pesquisa completa encontra-se no link: https://is.muni.cz/www/9255/articles/. 9. bibliografia •BECHARA, E. (1999): Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna. •BRITO A.M. e OLIVEIRA, F. (1997): Nominalization, Aspect and Argument Structure. In: G. Matos, I. Miguel, I. Duarte & I. Faria (ed.), Interfaces in Linguistic Theory. Lisbon: A.P.L./Colibri, pp. 57 -80. •BUĎA, J. (2013): Sobre a Colocação do Adjetivo no Sintagma Nominal. Tese de mestrado. 2013. Brno:Universidade de Masaryk. •CUNHA, C., CINTRA, L.F. (1999): Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: João Sá da Costa. •CASTILHO, A. T. de (1966): Introdução ao estudo do aspecto verbal na língua portuguesa. Marília: FFCL. •CASTILHO, A. T. de (2010): Nova Gramática do Português Brasileiro.São Paulo:Contexto. •CUESTA.V., P. LUZ M. da, ALBERTINA,M. 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Rio de Janeiro: Nova Fronteira:(1999). •Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa (2001) • •Dicionários consultados online: • http://aulete.uol.com.br/ • www.priberam.pt • www.aurelio.pt • •Corpora consultados online: • www.linguateca.pt; • www.corpusdoportugues.pt; • www.korpus.cz (Český národní korpus - InterCorp. Ústav Českého národního korpusu FF UK, Praha. • •