3-i O Brasil Coľônia (Séculos XVIa XVIII) O MERCANTÜJSMO E A COLONIZACÄO Em virtude dos altos custos da empresa maritima e da urgencia em se proteger as terras americanas dos invasores estrangeiros, a ocupacäo efetiva se fez necessäria. Ocupar, povoar e colonizar eram ativida-des conhecidas pelös europeus desde a Anti-guidade. Mas o carater basicamente mercan-til da expansäo maritima tornou esperifica a colonizacäo da Idade Moderna. Entre os se-culos XVI e XVIII, a posse e a exploracäo de colönias, pelos Estados Nationals absolutistas da Europa, significaram o fortalecimento do poder real e a expansäo do comercio europeu. O mercantilismo encontrou, na empresa colonial, sua plena realizacäo. As colönias cons-tituiram-se em fornecedoras, a precos fnf'imos, de produtos altamente rentäveis no mercado europeu e em consumidoras de artigos metro-politanos, o que possibilitava uma balanca comercial favorävel para as metröpoles e a acumulacäo de capitais pela burguesia. Foram esses interesses que deram forma ä colonizacäo. A empresa colonial concretizou-se por meio da exploracäo dos recursos natu-rais (especialmente metais preciosos) e pelo cultivo de generös tropicais (acücar, tabaco e algodäo). Portugal foi pioneiro na implantacäo da empresa agricola colonial. A lavoura canavieira na ilha da Madeira, sua primeira experiéncia. mostrou a viabilidade do empreendimento. Assim, as colônias senáarn de retaguarda econômica para as suas respectivas metrópo-les, complementando a sua producäo e am-pliando o seu mercado. CARACTERÍSTICAS DO SIS IE M A COLONIAL A colonizacäo da Idade Moderna caracte-rizou-se pela montagem de urn verdadeiro sistema. Este sistema apresentou dois polos básicos: a metropole européia (centra) e as suas colônias ultramarinas (periféria). Estes polos estavam ligados por mecanismos e re-lacôes interdependentes, onde as colônias su-bordinavam-se política e economicamente as suas metróples. O centra de decisäo e con-trole das atividades econômicas e político-ad-ministrativas das colônias estava, pois, na Európa. A esta relacäo entre os pólos (centra e periféria) chamamos antigo sistema colonial. A denominacäo é utilizada para especificar o O SISTEMA MERCAIMTILISTA E A COLONIZAQAO REl METROPOLE MANUFATURADOS EQUIPAMENTOS r PACTO GENERÖS TROPICAIS ■_▼ METAIS PRECIOSOS j Economia especializada J Dependente de investimentos externos Dependente do comporta-mento do mercado externo Fluxo de renda externo J J J O Sistľma Colonial 35 sistema colonial da klade Moderna, diferen-ciando-o do neocolonialismo da Idade Con-tern porä n ea. No funcionamento do antigo sistema colonial, as areas periféricas apresentaram dois tipos de colonizacäo: povoamento c explora-cäo. As colônias de povoamento caracteriza-ram-se pela producäo voltada para o seu pró-prio consumo, por pequenas e médias pro-piiedades, mäo-de-obra livre e policultura. Exemplos desse tipo d e colon iza cäo foram as colônias nortistas da America inglesa. Os colon os que para lá se dirígíam ti n ha m objet i-vos d i re re n tes d a q u c les d os c o nq u is tad ores luso-espanhóis. Encontraram nessa regiäo americana um meio físjco-geográfico seme-Ihante ao europeu, o que Ihes permitiu pro-duzir os mesmos géneros que estavam acos-tumados a produzir na Európa. As colônias de exploracäo éram o modelo típico do colonialismo mercantilista, para cu-jo funcionamento era fundamental o exclusive metropolita no. O exclusive metropolitane (ou o monopol io colonial) determinava que toda a producäo vendida pela colônia fosse destinada ä sua metropole. Por outro lado, a colônia só podia comprar o que necessitasse da sua res-pectiva metropole. Desta forma, o exclusive) caracterizava o comércio colonial. Alguns produtos éram fixados como mo-nopólio real (ou estanco). Exemplo disso foi o comércio do pau-brasil, considerado estanco da Coroa. Entretanto, D. Manuel, talvez por näo considerar vantajosa a sua exploracäo com recursos da Coroa, arrendou a extracäo do pau-brasil ao comerciante Fernäo de Noronha. A exclusiviclade do comércio colonial podia também pertencer a um grupo de comer-ciantes ou a uma companhia mercantil da metropole. Como exemplo, podemos citar a Companhia do Maranhäo, que detinha o mo-nopólio do comércio de toda a regiäo corres-pondente aos atuais estados do Piauí, Maranhäo e Pará. Os colonos dessa area só po-diam comprar artígos e vender seus produtos para aquela companhia. Conforme vocé está observando, o exclu-sivo ímplicava uma relacäo básica: a producäo colonial era voltada para a metropole e näo para o consumo interno da colönia. O mono-pólio garantia que o fluxo de géneros tropicais e de capital (dinheiro) se dirigisse para a Europa. Em outras palavras, nas colónias de exploracäo, em virtude do regime do exclusive;, as rendas geradas pela producäo colonial erani canalizadas para o exterior. Isto contribuía para que a aeumulaeäo de capital ocorresse na Europa, Afinal, pela política mercantilista, esta era a propria funcäo das colónias: promover o en-riqueeimento da metropole. O uso da mäo-de-obra escrava africana se harmonizava com esta funcäo primordial do sistema colonial. Mesmo que fosse possível, näo se justificaria a utilizacäo de mäo-de-obra assalariada, pois, com isso, uma parte da ren-da gerada na colönia näo seria revertida para a metropole (porque utilizada no pagamento dos trabalhadores). Os proprietários colonials compravam es-cravos dos traficantes metropolita nos e, dessa forma, transferíam para o exterior uma parte significativa da renda gerada pela producäo colonial. Pela mesma razäo, näo interessava a metropole a escravidäo do índío, pois a sua cap-tura e venda seriam negócios internos ä colönia e, portanto, os ganhos děste comércio näo seguiriam para a Europa. Já o negro era obti-do na Africa por meio do escambo para ser vendido na America. O colono comprava o negro e pagava ao traficante metropolitane O dinheiro da venda do negro retornava ä Europa. Era por tal ,;caminho" (Africa-Améri-ca-Europa) que a comercializacäo do negro representava uma fonte de rendas para a metropole. O tráfico negreiro foi controlado pelos Portugueses desde o século XV. Com a introdu-cäo da agricultura de géneros tropicais na America (século XVI), este tráfico se intensi-ficou. Segundo cálculos de Maurício Goulart, o Brasil recebeu, até o fim do século XVIII, cerca de 2 milhóes e 200 mil negros africanos. 36 A ADMINISTRACAO COLONIAL (1530 a 1750) <1> LVTRODUCAO A montagem do sistema colonial reque-reu um tipo de administracao que possibili-tou o encaminhamento da renda colonial para a metropole. Alem disso, a administracao colonial visava á posse efetiva do território con-quistado, preservando-o de invasores, e á ex-ploracao sistemática de seus potenciais eco-nómicos. Portugal já tinha feito sua primeira expe-riéncia administrativa colonial nos arquipéla-gos da Madeira e Acores. Ali havia instalado o sistema de capitanias hereditárias, que, em razáo do sucesso alcancado, foi também utili-zado na Africa (Angola, Arguim, por exem-plo) e no Brasil. A estrutura administrativa colonial intro-duzida no Brasil nao foi, portanto, original. Portugal transplantou também, para sua co-lónia americana, órgaos administrativos exis-tentes na metropole como, por exemplo, as Cámaras Municipals. A cada canto urn grande Conselheiro, que nos quer governor cabana e vinba-, nao sabem governar sua cozinha, e querem governar o Mundo inteiro! Eis aqui a Cidade da Bahia. (Gregorio de Matos Guerra — 1633/1696) É importante salientar que a montagem da administracao colonial näo obedeceu a um piano definido e que nem todas as experién-cias deram bons resultados. Os fracassos, no entanto, determinavam a reorganizacäo do sistema e a criacäo de novos organismos. De qualquer forma, uma coisa permanecia cons-tantc: o centra de decisôes era a metropole, a q u c m a colônia estava po lit i came nte súbor-dinada. O Reino portugués e suas colônias éram regidos pelas famosas "Ordenacoes" (conjunto de leis), que regulavam sua vida administrativa. As "Ordenacoes" receberam os nomes dos reis que codificaram as leis promulgadas des-de o princípio da Monarquia portuguesa. As primeiras, as "Ordenacoes Afonsinas", foram reformadas por D. Manuel em 1521, denomi-nando-se, entäo, "Ordenacoes Manuelinas". Nelas constavam os códigos de processo civil, judicial e penal. 1500 A 1530 (PERIODO PRE COLONIAL) Durante os primeiras trinta anos após o seu descobrimento, o Brasil ocupou lugar se-cundário nas preocupacôes da Coroa portuguesa, inteiramente voltada para o comércio com o Oriente. Foi freqúente a presenca de estrangeiros no litoral brasileiro, entre 1500 e 1530. Algumas expedicôes foram enviadas ao Brasil para reconhecimento e defesa da re-giäo. Entre elas destacam-se as comandadas por Gašpar de Lemos e Américo Vespúcio (1501), Goncalo Coelho e Américo Vespúcio (1503) e Cristóväo Jacques (1516 e 1526). (1) A administracao colonial após 1750 scrá cstudada na l.'nidadĽ 3. capítulo 7, "A Crise do Sistema Colonial" AAdminjstraqío Colonial (1530 a 1750) 37 Foram fundadas feitorias, onde se arma-zenava pau-brasil ate o embarque para Portugal. Segundo Rodolfo Garcia, existiam feitorias no Rio de Janeiro, Pernambuco e Cabo Frio. Nenhuma delas sobreviveu; muitas foram des-truidas pelos indigenas ou mesmo abando-nadas pelos exploradore.s. As feitorias. alem de näo estabelecerem o povoamento portu-gues em terras americanas, näo conseguiram evitar a presenca constante de contrabandis-tas, principalmente franceses. Era necessäria, portanto, a ocupacäo efetiva atraves da colo-nizacäo das terras da America portuguesa. A colonizacäo tambem se fez premente a partir de 1530, quando o imperio oriental portugues comecou a declinar. 1530 A 1580 A primeira tentativa de ocupacäo efetiva do Brasil ocorreu com a expedicäo de Martim Afonso de Sousa. Organizada em 1530 por D. Joäo III, tinha as seguintes finalidades: com-bater os contrabandistas estrangeiros, poli-ciando a costa brasileira; percorrer a regiäo litoränea do Maranhäo ate o rio da Prata para o reconhecimento geogräfico e avaliacäo das possibilidades de exploracäo desta area; fun-dar nücleos de povoamento e estabelecer a agricultura canavieira. Durante sua permanen-cia no Brasil, ocorreu a fundacäo das vilas de Säo Vicente e Piratininga (de curta existen-cia), a instalacäo dos primeiros engenhos no Brasil e a distribuicäo de sesmarias. Ao regressar a Portugal, Martim Afonso en-controu D. Joäo III ja comecando a organizar o regime de capitanias hereditärias para o Brasil (1534-1536). O rei concederia a parti-culares largas faixas de terra denominadas capitanias hereditärias. Os agraciados deve-riam fundar povoacöes, nomear funcionärios, exercer a administracäo e a justica nas suas respectivas capitanias. Este regime oferecia ao Estado a vanta-gem de poder explorar as terras sem grandes custos, pois a decadencia do comercio oriental abalara as financas portuguesas, e a ocupacäo das terras americanas era empreendi-mento dispendioso, exigindo grandes capi- tals. Em virtude da incapacidade econômica da Coroa em financiar a empresa colonizado-ra, foi implantado o sistema de donatarias, que entregava a particulares essa tarefa. Para atrair donatários äs terras americanas, o rei cedia-lhes uma série de privilégios, amplos podereš e títulos. Os direitos e deveres dos capitäes-dona-tários vinham prescritos nas Cartas de Doa-cäo e nos Forais e eram praticamente iguais para todos os donatários. Neles se estabele-cia que aos donatários cabia a jurisdicäo civil e criminal, a fundacäo de vilas, a concessäo de sesmarias e outros direitos. Ao rei estavam reservados os impostos alfandegários, o mo-nopólio das drogas e especiarias, o "quinto'' dos minerais preciosos, o dízimo "devido a Deus", As capitanias eram inalienáveis, ou seja, näo podiam ser vendidas ou arrendadas, pois os donatários näo eram proprieta rios, apenas recebiam a posse da capitania. Eram hereditärias, mas indivisiveis: apenas o filho primo-génito herdava a capitania. O regime de donatarias fracassouC2) por uma série de razôes: falta de recursos e de-sinteresse dos donatários, hostilidades dos indigenas, caréncia de apoio material da Coroa, dištancia da metropole. Além disso, a AMERICA PORTUGUESA PARA. MAftANHAO MARANHAO CAPITANIA DA I LHA DE SAO JOÄO ITAMARACA Pf RNAMBUCO 8AHIA DC TODOS OS SANTOS Q O Z < PORTO SEGUfiO ESPlRITO SANTO SAO TOME SAO VICENTE *< m ..„.,Mi Santos SAO VICENTE SANTANA * Sio Jorg« riui llhöus $ Snnia Crui *PX)O0 ScQufO Vila da Rainha I Janeiro □ Estado do Norte 1 1572 1 I I Estado do Sul J I I Capitanias reais (2) Com excecľäo de Pernambuco e de Säo Vicente.