Iva Svobodová Universidade de Masaryk, Brno, República Checa 1.a evolução histórica dos nomes dos dias da semana 2.comparar a variabilidade aspetual das construções preposicionais em textos mais antigos 3.mostrar a perpetuação da tradição histórica dos nomes dos dias da semena provérbios - Ò Òorigem de septimana ÒA palavra septimana é de septimanus, a, um de origem latina, e foi introduzida pelo latim eclesiástico nos fins do século IV no significado de: Énúmero 7 Òseptimaní (septimanorum) Ésoldados da séptima legia Òseptimana, ae Ésemana Ò Òorigem de hebdomas Òpalavra grega ecleciástica semanticamente relacionada com o período de 7 dias, meses e anos. (Bechara in Bastos: pg.15) Ònecessidade das civilizações de “contar o tempo em intervalos maiores a um dia, para poder marcar a periodicidade de eventos religiosos e acontecimentos religiosos. Òo dia que separava as semanas era o dia de atos religiosos e transações comerciais Ò„hebdomas“ só no século XIV foi substituída pelo seu equivalente latino semana ÒO sistema de 7 dias foi desenvolvido já pelos Caldeus, mas também foi conhecido pelos Hebreus que iniciavam a semana (hebdomas, domaa, doma) pelo dia de descanso designado – sabbato. Òa ordem das 7 “esferas ptolomaicas“ determinadas pelas distâncias que os planetas então conhecidos (Júpiter, Saturno, Marte, Sol, Vénus, Mercúrio e Lua) guardavam da Terra. Os dias receberam o nome do planeta que presidia a determinada hora: Saturni, Solis, Lunae, Martis Miércuri, Iovis, Veneris diae. Ò esta nomenclatura dos caldeus foi aceite pelo Império Romano, que pôs de lado um complicado sistema das nonas, dos idos, e das calendas. Òhebraico: sabbat = repouso. ÒVulgata: sabbat = repouso = semana ÒGênese: o sabbat (shabbat) =descanso do Senhor, Ðantecedido pelos seis dias da Criação. Ðos judeus uniam-se nas missas. Ðhoje, o sábado é o último dia de seu calendário semanal. ÒOs hebreus de Roma: sabbati =dia Ð denominavam dies Solis por „una (prima) sabbati“ Ð outros dias eram denominados secunda sabbati - sexta sabbati. ÒPara sexta sabbati existiam mais duas variantes que queriam dizer vigílio do sábado: a palavra grega parasceve e a palavra sarda kenápura. ÒDefinition of parasceve Òplural Ò1 archaic : the day of preparation before the Jewish Sabbath or a feast of similar rank Ò2 obsolete : preparation Òorigin: Late Latin, from Greek paraskeuē, literally preparation, from paraskeuazein to get ready, from para- 1para- + skeuazein to prepare, from skeuos vessel, implement — more at skeuomorph Ò Ðusada pelos hebreus e africanos exilados na Sardenha. Ònão encontradas mais informações. ÒSaturni diae - Saturno ÒSolis diae - Sol ÒLunae diae - Lua ÒMartis diae - Marte ÒMiércuri diae - Mercúrio ÒIovis diae - Iúpiter ÒVeneris diae - Vénus Ò ÒEsta nomenclatura dos caldeus foi aceite pelo Império Romano, pondo de lado um complicado sistema das nonas, dos idos, e das calendas. Ò ÒA história do calendário romano tem várias etapas: 1.calendário de 10 meses =o calendário de Rómulo, tendo por base sobretudo os meses lunares, 2.calendário de 12 meses, a partir do calendário de Numa Pompílio 3.calendário Juliano de 12 meses - em que se procurava aproximar os meses lunares do ciclo anual do sol, acrescentando Janeiro e Fevereiro. 4.calendário Gregoriano – adotado pelo papa Gregório XIII no século XVI. ÒO primeiro calendário romano era um calendário lunar com dez meses, começando no equinócio da Primavera, implantado, segundo a lenda, por Rómulo, o fundador de Roma aproximadamente em 753 a.c. ÒNeste primeiro calendário romano, o ano tinha 10 meses de 30 ou 31 dias, que totalizavam 304 dias Ò os demais 61 dias que coincidiam com o inverno não entravam no calendário havendo pouco interesse de acompanhamento temporal neste período do ano. Ò Ò Ò Ò Ò Ò ÒMárcio (31 dias) ÒAbril (30 dias) ÒMaio (31 dias) ÒJúnio (30 dias) ÒQuintil (30 dias) ÒSextil (30 dias) ÒSetembro (30 dias) ÒOutubro (31 dias) ÒNovembro (30 dias) ÒDezembro (30 dias) Ò Ò__________________ Òtotal: 303 dias Òfaltam: 33,25 dias Ò Ò Òas nonas eram o quinto ou o sétimo dia, de acordo com o mês. Òos Idos eram a 15 de Março, Maio, Julho e Outubro, e a 13 nos restantes meses. Ficaram célebres os idos de Março do ano 44 a.C.., data em que foi assassinado Júlió César. Dos idos é que provém também a expressão "nos idos de setembro" para expressar uma data para a segunda metade do mês. Ò As calendas, eram o primeiro dia de cada mês quando ocorria a Lua Nova. É desta palavra que se originou o termo calendário e a expressão calendas gregas, representando um dia que nunca chegará, pois era inexistente no calendário grego. Ò ÒA primeira reforma do calendário ocorreu com Numa Pompílio, o segundo dos sete reis de Roma, por volta de 713 a.C., que reduziu os meses de 30 dias para 29 dias e adicionou os meses de Januarius (29 dias) e Februarius (28 dias) no final do calendário aumentando o seu tamanho para 355 dias, transformando-o em um calendário luni-solar, mantendo os inícios dos meses coincidindo com os inícios das fases da Lua e adicionando de tempos em tempos um mês extra para completar o ano solar. ÒPara manter este alinhamento de ciclos, de dois em dois anos deveria ser adicionado um mês extra de 22 ou 23 dias, mensis intercalaris, de nome Marcedônio ou Mercedino, resultando em uma sequência de anos com 355, 377, 355 e 378 dias, com uma média de 366,25 dias ÒMárcio (31 dias) ÒAbril (29 dias) ÒMaio‘ (31 dias) ÒJúnio (29 dias) ÒQuintil (31 dias) ÒSextil (29 dias) ÒSetembro (29 dias) ÒOutubro (31 dias) ÒNovembro (29 dias) ÒDezembro (29 dias) ÒJanuário (29 dias) ÒFebruário (28 dias) Ò__________________ Òtotal: 355 dias Òfaltam: 11,25 dias Ò Ò O sistema de alinhar o ano através destes meses intercalares falhou pelo menos duas vezes. A primeira foi durante e após a Segunda guerra púnica e a segunda falha foi na metade do Século I a.C. e que resultou na reforma instituída por Júlio César que implantou um calendário, posteriormente chamado de calendário juliano, em 46 a.C. Ò Ò ÒO calendário juliano acabou sofrendo sua última modificação em 1582, pelo Papa Gregorio XIII, dando origem ao calendário gregioriano que foi adotado progressivamente por diversos países, e hoje é utilizado pela maioria dos países ocidentais. Ò189 d.C. - o dia de descanso foi = o Domingo, Papa Vítor I - homenagem à ressurreição de Cristo. Ò325 d.C Primeiro Concílio de Niceia Éreconfirmada a mudança do dia de descanso ÉSolis Dies para Dominica Dies (hoje domingo)- o primeiro dia da semana (“Prima Feria”), em que os novos cristãos se uniam em missas e nos mercados. ÉSolis diaes significa Dia do Sol - forma como os pagãos se referiam ao domingo. ÉDominica Dies significa Dia do Senhor e evoluiu para Dominus Dei que deu a origem à palavra domingo. Ò Òproposta do Papa Silvestre feita no século IV, Ònúmero ordinal + feira. Ò ÒMartinho Dume conhecido também como Martinho de Dume, Martinho Dumiense ou ainda Martinho de Braga (ou Martin ho Bracarense) ou Martinho da Panónia. Era um bispo de Braga e de Dume considerado santo pela Igreja Catolica. Martinho nasceu na Panónia, actual Hungria, no século VI. Estudou grego e ciências eclesiásticas no Oriente. De volta ao Ocidente, dirigiu-se para Roma e para França, onde visitou o túmulo do seu conterrâneo Martinho de Tours. Apóstolo dos Suevos, responsável maior pela sua conversão do arianismo ao catoliscismo. Ò ÒMartinho de Dume considerava indigno de bons cristãos que se continuasse a chamar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos de Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies, e fez valer a terminologia eclesiástica (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde os modernos dias em língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira), caso único entre as línguasromânicas, dado ter sido a única a substituir inteiramente a terminologia pagã pela terminologia cristã. Ò ÒA única excepção é o galego, em que existem, na língua oficial, designações "luns, martes, mércores, xoves, vernes, Sábado e Domingo", mas onde também se admite a forma portuguesa: "segunda, terça, quarta, quinta, sexta, Sâbado e Domingo". Lugrís Freire na Gramática do Idioma Galego, A Cruňa, 1931 menciona formas: carta e sesta feira. Ò ÒMartinho tentou também substituir os nomes dos planetas, mas aí já não foi tão bem sucedido. ÒDr. William Giese: Òos nomes de lunis dies, martis dies, etc. existem nas outras línguas românicas, resultam de ter sido a língua portuguesa influenciada pelo sistema enumerativo usado pelos mouros que chamavam segunda-feira “dia dois“, à terça “dia três, etc. ÒPara essa influência teria contribuído o facto de a língua portuguesa se ter formado num centro, Lisboa, situado mais ao sul do que os centros de formação das outras línguas.“ ÒW.Giese apoia a sua convicção com o argumento de que muitas expressões populares correntes em que se encontra a palavra Deus são influenciadas pelos seus equivalentes árabes, como por exemplo Ò É“até amanhã se Deus quiser“ (Deus quiser corresponde ao árabe in šâa´llâhu) É“graças a Deus“ (corresponde ao árabe alhamdu lillâhi: hamida = louvar, hamdu=graças) É“louvado seja Deus“ (literalmente mâ šâa ´llâhu o que Deus quiser) . Ò Ò ÒM.P. Bóleo: opõe-se radicalmente a esta afirmação argumentando com três pontos importantes: Òo sistema judaico-cristão também era enumerativo, tal como o conceito septimana Òressalta a influência eclesiástica: p.ex. Dominicus Deí e feria também foi implantado pela Igreja ÒE defende também a opinião de que o sistema enumerativo de origem judaico-cristã influenciou também a nomenclatura dos dias da semana em outras línguas (eslavas e bálticas, por exemplo) que nunca se tinham encontrado sob a influência muçulmana. . Ò Òcheco: Òdia 1 pondělí (odin) Òdia 2 úterý (vtornik) Òdia no meio středa Òdia 4 čtvrtek Òdia 5 pátek Òsábado sobota Ònão se faz nada neděle ÒO primeiro significado da palavra “feira” (feria/feriae) era, portanto, o dia festivo celebrado na época medieval, quando se organizavam festas e feiras e mercados, em torno das Igrejas, para compras e vendas dos produtos. Ò Ò Ò1a) No latim tardio passou a indicar a própria feira, o mercado próprio. Ò Ò Ò 1b) Deste significado evoluiu: as férias, feriado (feriado nacional) Ò Ò Ò Ò2 .passou a designar, entre os primeiros cristãos, os dias de trabalho, os dias úteis, que salvo o domingo, e na tentativa de eliminar os dias da semana pagãos, assumiu praticamente o significado do dia. Assim, ferialis – passou a significar de trabalho /laborais. Òplurissemia da palavra feira. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, menciona no caso do lema „feira“ 9 significados (pg.1718). Nós limitamo-nos a citar dois (O 6o e o 8o significado ) Ò6.Confusão de vozes que lembra o barulho que há numa feira ou mercado público,“ e cita um exemplo da Quilino, (Anam Faunos, p.33)…Mas que feira vai ser esta? Calem-se já! „De vozes, relinchos e zurros, armou-e ali uma feira“. Ò8. Estado de grande desordem, de grande desorganização e confusão Ò ÒExistem afirmações relativas ao não uso dos nomes pagãos nos documentos redigidos em português (i.e. textos editados a partir do século XII), que dizem que Ò “não há qualquer vestígio da designação romana pagã dos dias da semana nos textos mais antigos redigidos em português” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_de_Braga), Ò Ò ou que „não há notícia, em documentos, de se haverem empregado nomes pagãos correspondentes“ (Bóleo: 21). Ò Ò ÒLinguateca-Vercial / Corpus do Português. Ò ÒRealmente, há poucos casos de uso dos dias pagãos nas obras literárias, mas não conseguimos integrar, em nossa análise, explicações pormenorizadas das circunstâncias em que foram utilizadas. Ò ÒA Demanda do Santo Graal, na cópia do século XV, um uso frequente de lues/lunes. Encontrámos 12 ocorrências de lues e 6 de lunes, número então mais alto, comparativamente com segunda-feira no século XV (8 ocorrências). Ò Ò Deus e andarom aquele dia e outro sem aventura Ò achar. Assi que ûû dia lunes lhes aveo, de manhãã, Ò que chagarom a ûa cruz que se partia em… Ò Ò ...poserom em sa seeda e contarom em qual guisa o matara Ò Galvam. ûû dia lunes chegarom dous cavaleiros a Camaalot Ò que levavam o corpo de Erec. E iam com … Ò ÒMartis/Martes: ÒNa obra „Cartas porguguesas de D.Jõao de Portel (1295-1320) [Cartas portuguesas de D. João de Portel(1295-1320) D. João de Portel] Ò ÐE depos morte de uós ambos, assi como de suso dito é, os dauã dictos logares que a uós damos fiquem liures e quites e in paz, e cu quanto acrecentamento uós y fezerdes, a nós e a nossa Ordim. E por este nosso feyto seer maes firme e maes stauil in todos uossos dias, assi como de suso dito é, damos a uós, sobredictos dõ Joã Perez d'Avoyn e a uossa muller, dõna Maria Afonso, esta nossa carta seelada de nossos seelos. Ffeyta en Merida, en nosso Cabidoo geral, Martes, XX dias andados de Março, da era de mil e CCCº e sex anos. Esta é a carta in como dõ Johan e sa moller rodou a Steuã Perez o herdamento de Torres. Conuçuda cousa seia a todolos que esta carta uir? que eu, dõ Johan Perez d'Avoym, moordomo d'el rej de Portugal, ensenbra cõ ma moller, dõna Maria Afonso, rendamos a uós, Steuã Perez, almoxarife de Torres Nouas, en uida de nós anbos e de cada uu de nós, todolos herdamentos Ò ÒRelembremos o trabalho de João Pedro Ribeiro que fez uma investigação dos dias dos nomes pagãos nos documentos do português antigo. Encontrou casos esporádicos do uso dos nomes pagãos que citamos adiante: Ò Ò Anno 1455, Indicç.3. anno 3º do Pontific.de Calist.III, die Mercurii a 25 de Junho. Ò [Afonso Gonçalves, notário público por autoridade régio, procuração de D.Afonoso V] Ò Ò 1420, Indict.3ª, die Martis, 28 mensis Maii [Martim Lobo, Cartório do Mosteiro de Sto. Tirso] Ò ÒConcorde-se com Ribeiro que afirma que os casos deste uso são tão esporádicos que “antes de os aceitarmos, seria necessário primeiro estudar de perto as circustâncias em que foram empregadas as designações pagãos . Ò ÒQuanto ao castelhano, ainda nos textos do século XI foram encontrados casos dos nomes dos dias da semana litúrgicos (Boleo:18). Não obstante, estes não passaram a ser adoptados pelos castelhanos. ÒO sistema enumerativo usou-se também em Espanha, não só na parte meridional como também, na parte setentrional, pelos menos durante a primeira metade do século XII: sexta feria, IIIa feria, prima feira. Segundo Bóleo, é impossível estabelecer com segurança até quando se usava o sistema enumerativo em Espanha, sendo que raras vezes vem indicado nos documentos antigos escritos o dia da semana (Boleo percorreu 290 documentos e só em 19 aparece essa indicação). Ò Ò Ò Considerámos muito interessante também a ocorrência do Sprep (a)+ Det.(uma/uma)+N no aspecto pontual, situação semelhante ao caso que seguirá adiante. Ao contrário do actual uso reiterativo desta construção, foram encontrados casos usados no aspecto pontual. Ò É[id=«O Pároco de Aldeia Prosa Alexandro Herculano =1825»]: Um moço do Bartolomeu da Ventosa, rapazote de quinze anos, quatro meses, vinte e quatro dias e vinte e três horas e três quatros completos (por ter nascido a uma segunda-feira à meia-noite menos um quarto, de 2 para 3 de Março) , neste grande dia do orago pilhara ao moleiro duas graças a um tempo, a de deixar em descanso o seu tonel das Danaides, a implacável joeira, e a de poder assistir à festa e ouvir a missa cantada e o sermão, em vez de ir acabar o pesado sono da madrugada à missa das almas . Ò Ò ÒNo corpus Linguateca - CETEM PUBLICO encontrámos, curiosamente, as mesmas construções num número mais elevado, sendo que a maiora delas apontam para o aspecto reiterativo (embora usados com o pretérito perfeito simples) e uns poucos casos para o aspecto pontual. Veja-se, a diferença entre as seguintes duas frases: Ò Ð[par=ext1535770-clt-91a-1]: Segundo os responsáveis da estação, ainda é cedo para precisar em que dia da semana «Lieutenant Lorena» fará o serão de alguns milhões de franceses, mas «provavelmente será a uma terça-feira» . Ð Ð[par=ext928655-pol-95b-2]: Reunido excepcionalmente a uma quarta-feira - o primeiro-ministro assiste hoje a exercícios das tropas portuguesas que vão para a Bósnia, o Conselho de Ministros aprovou ontem as seguintes medidas : Ò Ò Um caso ainda mais curioso foi o uso do Sprep.(a)+Det (+o/a)+N, no sentido pontual. Esta construção no valor pontual apareceu ainda nos textos do século XV - XVI, por exemplo, nas peças do teatro de Gil Vicente e na Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil (1500). É pouco provável que se continúe a usar no sentido pontual nos textos modernos da língua portuguesa contemporânea. Este uso já não o encotrámos nos textos posteriores a Carta a El-rei Dom Manuel. Ò Ò[id=«Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil Prosa PVC=1500»]: E a noute seguinte, segunda-feira, quando lhe amanheceu, se perdeu da frota Vasco d'Ataíde, com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrairo para poder ser . Ò Ò[id=«Auto da Índia Teatro GV=1509»]: Foi isso à quarta-feira, aquela logo primeira ? Ò Ò Ò a tradição judaico-cristã no modo como é visto o trabalho, o respeito pelos dias de descanso e o calendário religioso. Ò ÒA sexta-feira é normalmente relacionada com a Paixão de Cristo, pode ser, portanto, um dia de luto, tristeza, dor, e um dia “santo”, isto é de forte simbolismo e conotação religiosa. Sexta-feira era dia de oração, de jejum, de abstinência corporal e sexual, de trabalhos leves. Não se cortava o cabelo, por exemplo. ÒSábado era o dia de descanso ÒOutros dias da semana, apesar do forte enraizamento da tradição cristã, seguiam a tradição pagã, nomeadamente romana, e do relacionamento com os deuses que representavam. ÒAssim, havia actividades que não se realizavam num dia por que não era “favorável”, mas noutro, de acordo com o deus tutelar desse dia. Ò Ò ÒÀs terças e sextas-feiras, não cases as filhas nem urdas a teia. Ò vNa tradição romana os dias da semana que tinham “r” (Marte, Mercurio e Vénus/Veneris) eram de pouca sorte (3ª, 4ª e 6ª). Quem nascesse em dia de Marte (3ª feira) morria de “má morte”. Eram também desaconselhados os negócios, como por exemplo, casar a filha. Ò Ò Ò Ò ÒComido o Natal à segunda-feira tem o lavrador que alugar a eira. É vEste provérbio relaciona-se com o calendário lunar e agrícola. Faz parte do grupo de adivinhação meteorológica e agrícola. Significa que as colheitas não vão ser boas nesse ano agrícola, e que o lavrador pode alugar a eira pois não vai precisar dela a tempo inteiro. Ò Ò Ò ÒQuem promete à quarta e vem à quinta, não faz falta que se sinta. É vEste provérbio significa que quem chega tarde já não faz falta, não é necessário, visto que o trabalho já foi realizado. Dizia-se dos trabalhadores que “prometiam”, isto é, acordavam com o empregador uma data para trabalhar e depois não cumpriam. Ò Ò Ò ÒNatal à sexta-feira por onde puderes semeia; domingo vende bois e compra trigo. Ò vÉ mais uma adivinhação meteorológica e agrícola. Se o Natal for à sexta-feira o ano agrícola será bom. Se for ao domingo será mau ao ponto de ter que vender os bois, pois serão inúteis e será necessário alimentá-los. Será necessário comprar trigo porque será escasso nesse ano. Ò Ò Ò ÒTalvez chore ao domingo o que ri à sexta-feira. Ò vAqui trata-se de uma inversão de humores. Sexta-feira deve ser um dia de tristeza e recolhimento (Paixão e a morte de Cristo) e Domingo um dia de alegria (ressurreição de Cristo). O provérbio remete para a inversão de valores e posturas do objecto e para a desconexão: o normal seria chorar à sexta e rir ao domingo. Levanta-se a dúvida sobre a adequação dos comportamentos e o encobrimento de uma falsa realidade: será verdadeiro o comportamento do objecto? Ò Ò Ò ÒSábados a chover e bébados a beber, ninguém os pode vencer. v v A característica comum a estes exemplos é a quantidade. Quando chove ao sábado, chove muito. Veja-se o outro provérbio: quando os bêbedos bebem, bebem muito. Está implícita uma comparação quantitativa e a constatação de duas realidades que não se podem mudar. Ò Ò ÒQuem a semana bem parece, ao domingo aborrece. v vSignifica este provérbio que a rotina aborrece, que pretendemos ver sempre algo de novo. Parafraseando o provérbio diria que quem anda bem vestido todos os dias da semana, ao domingo já não traz novidade e daí o desinteresse. Isto relacionava-se com a circunstância de as pessoas andarem com roupa de trabalho durante a semana e vestirem a melhor roupa ao domingo, para se exibirem, para mostrar o que era novo. Está implícita uma ideia de mudança, de renovação. Ò Ò Ò ÒNão há domingo sem missa, nem segunda sem premissa. Ò ÒNão há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem preguiça. . ÒEstes dois provérbios significam a certeza das coisas. São afirmações tidas como certas. Usa-se quando a circunstância é evidente, inevitável. Ò ÒSexta-feira treze dá azar. Ò vO número 13 desde a Antiguidade que é considerado azarento. O mesmo para sexta-feira, dia de Venus/veneris. Daí que juntar os dois azares, é azar a mais. Sexta–feira é também na tradição popular o dia das bruxas. Quem tem medo da sexta-feira treze sofre de frigatriscaidecafobia. Ò Ò Ò ÒServiço começado no sábado nunca tem cabo. ÒObra de sábado nunca acaba. ÒChuva de sábado nunca acaba. Ò vEstes provérbios são de raiz judaica. Como o sábado (shabath) era o dia do descanso (7º dia), lógico que uma obra começada em dia de descanso e não de trabalho, nunca acaba. Ò Ò Ò Ò Ò Ò ÒTer cara de sexta-feira Santa. ÒAndar triste e pesaroso (dia da paixão e morte de Cristo). Expressão derivada da religião cristã. Ò Ò Ò §factores abordados § §calendários §dias da semana pagãos §dias da semana eclesiásticos §Martinho de Dume x papa Silvestre §textos antigos §provérbios §discussão Giesse x Bóleo Ò Ò Ò Ò ÒATÉ SEMPRE! Ò Ò