TEORIAS O conto fantástico na literatura portuguesa H:\FANTASTICO\images.jpg Literatura recomendada —TODOROV, Tzvetan. Úvod do fantastické literatury. 1. české vyd. Praha: Univerzita Karlova v Praze, nakladatelství Karolinum, 2010 — —HAZAIOVÁ, Lada. Skryté tváře fantastična. Praha: Univerzita Karlova v Praze, Filozofická fakulta, 2007 — —LOVECRAFT, H. P. Bezejmenné město a jiné povídky ;Nadpřirozená hrůza v literatuře a jiné texty. Edited by H. P. Lovecraft, Translated by Ivan Adamovič. Vyd. 1. Praha: Aurora, 1998 — —TRAILL, NANCY H. Possible worlds of the fantastic: The Rise of the Paranormal in Fiction. 1. vyd. Praha: Academia, 2011 — —STEINMETZ, Jean-Luc. La littérature fantastique. 2. éd. corr. Paris: Presses universitaires de France, 1990 — —JACKSON, Rosemary. Fantasy: the literature of subversion. London: Routledge, 1991 — —ROAS, David et al. Teorías de lo fantástico. Madrid: Arco/Libros, 2001 O sentido do fantástico: etimologia —através do latim fantasticum remonta ao grego phantasein (dar ilusão, mostrar-se, aparecer) — —o adjetivo fantástico é utilizado na Idade Média — —fr. fantasie – significa até ao século XIX a imaginação (algo quimérico, sem realidade) — —séc. XIX: contos fantásticos – no sentido que nós utilizamos, o fantástico se opõe ao lógico (ligação com quimeras, ilusões, loucura) O sentido do fantástico: fronteiras o maravilhoso, o feérico, ficção científica —O MARAVILHOSO (mirabilia) —ligado ao género da epopeia (manifestações de deuses na terra, bizarrias geográficas, feitos dignos de estranhamento) —tudo o que não foi compreendido, foi relegado à estrutura mitológica do universo —no espaço cristão: os milagres (feitos por Deus e santos), o Mal é atribuído ao Diabo e demónios —várias figuras extraordinárias são introduzidas no barroco (monstros etc.), neoclassicismo: alegorias — —O FEÉRICO: folclore, Mil e uma noite, contos de Perrault (1697) — —SCIENCE-FICTION: desenvolvida talvez a partir das viagens extraordinárias (Poe, Verne), a verdadeira SF nasce com obras de J.H. Rosny e H.G. Wells, confrontação de outros universos etc. Charles Nodier —Du fantastique en littérature (1830) — —uma espécie de história literária sobre manifestações fantásticas na literatura, fala sobre a imaginação do homem: — —1ª etapa: mundo conhecido, material, descrito pelas sensações – a poesia primitiva —2ª etapa: atenção desloca-se do conhecido ao desconhecido, instala-se a mentira como procedente da imaginação —3ª etapa: o mundo fantástico — —o fantástico é oriundo do racionalismo, responde aos desejos do público posterior à Revolução Francesa Pierre-Georges CASTEX —Le conte fantastique en France de Nodier à Maupassant (1951) — —o fantástico é caraterizado pela intrusão brutal dum mistério no espaço da vida real — —é ligado aos estados mórbidos de consciência que projeta as imagens de angústia e terror (relacionado com os pesadelos, delírios etc.) — —parece remontar a 1770 – renascença do irracional, quando se desenvolveram novas práticas de conhecimento (mesmerismo, ocultismo etc.) — —o fantástico é antisocial, introvertido, cria uma ruptura na rotina quotidiana Roger Caillois —Anthologie (1958, prefácio) — —o mundo feérico e o mundo real se interpenetram sem conflito, mas no fantástico, o sobrenatural parece como uma ruptura da coerência universal — —assim se reafirma a necessidade do realismo, duma visão homogénea do real, fraturada pela irrupção do estranho — —o fantástico não existia na Antiguidade nem na Idade Média porque se precisa de um certo estado de ciência — —trata-se duma ficção pura que é um jogo com o medo Tzvetan Todorov —Introduction à la littérature fantastique (1970) — —marcado pelo formalismo e estruturalismo, não há abordagem histórica, nem psicológica — —o fantástico é definido pela maneira com a qual é aceite: não se trata da presença do sobrenatural, mas da maneira como o sobrenatural é percebido pelo leitor e personagem — —importante é a hesitação sobre o caráter do fenómeno — —fronteiras: o maravilhoso, o estranho Psicanálise —Freud: Das Unheimliche (1919) —a inquietante estranheza — —descobre o que está escondido e com isso o familiar transforma-se em não familiar, estranho e inquietante — —o conhecido, o familiar fica alienado através do processo de repressão —o que se encontra no universo de Unheimliche (anjo, demónio, monstro etc.) é só uma projeção inconsciente — —interpretação do conto Der Sandmann de Hoffmann (o herói não é capaz de distinguir entre o ser e o parecer (Clara x Olímpia), a pulsão da morte, a boneca Olímpia – projeção da personalidade feminizada do herói) — —Jung: imagens coletivas Rosemary Jackson —Fantasy: The literature of subversion (1981) —o fantástico trabalha com o material inconsciente, a linguagem do desejo —baseia-se em Freud (Das Unheimliche – The Uncanny) — —refere-se também às análises de H. Cixous: não se trata só da ansiedade sexual freudiana, mas da relação com a morte que é a pura ausência, a morte não pode ser retratada diretamente, aparece na literatura como uma figura (espetro – a morte concretizada), o espetro significa o retorno do não-morto (un-dead), rompendo a linha que separa a vida real da irrealidade da morte: subversão do tabu — —o fantástico introduz a ausência – não há representação linguística adequada para o outro porque não existe no real, a morte é o significante sem o significado, o segredo absoluto — —com isso o fantástico sobverte a estabilidade cultural, opõe-se à ordem institucionalizada, desenvolve os interditos (morte, incesto, necrofilia, vampirismo etc.) Rosemary Jackson: entropia —no fantástico existe o desejo da inorganicidade – ENTROPIA (para Freud é a forma mais radical do princípio de prazer, o desejo de Nirvana), Sade (dissolução das formas, abolição das fronteiras entre as espécies e géneros – entre o homem e a mulher, entre o homem e animal etc.), Lautréamont (desejo da mudança constante de forma, o sujeito é múltiplo, metamórfico) —o desejo de entropia condiciona alguns temas: —1. metamorfose —2. multiplicidade do ser (questionamento da unidade do ser e do caráter – consolidado pela filosofia racionalista e obras realistas, a subversão do eu constitui a mais radical função transgressora do fantástico —A) o homem transforma-se no outro monstruoso, no animal, no objeto etc.) —B) a parte do corpo funciona independentemente (Maupassant: A mão, Gogol: O nariz, Mourão-Ferreira: A boca — C) o homem e o duplo (diabólico, maligno, Stevenson: Dr. Jekyll and Mr. Hyde) — H.P. Lovecraft —Supernatural Horror in Literature (1927) —a emoção humana mais forte e mais velha corresponde ao MEDO, o género do medo mais velho e mais forte é o medo do DESCONHECIDO —os temas macabros e espetrais atraem poucas pessoas – porque exigem o elevado grau de imaginação e a capacidade de se afastar da vida comum — —Porque continua a existir o prazer do horror sobrenatural? —1. trabalha-se com a dimensão onírica —2. trabalha-se com os instintos e o inconsciente —3. nos homens existe um resíduo das fortes associações herdadas dos antepassados – os instintos são fixados no nosso tecido nervoso — —O medo mais efetivo é o medo CÓSMICO ( o caos, abolição das leis naturais) —a intensidade do efeito, nas histórias fantásticas, a mais importante é a atmosfera que cria certa sensação (nível emocional) Jaime Alazraki —o conto (relato) fantástico tem o seu modelo na obra e teoria de Poe (intensidade do efeito único) —sente a necessidade de estabelecer a distinção entre o fantástico clássico (séc. XIX) e o fantástico moderno: o NEOFANTÁSTICO (sem terror, sem gradação, o fenómeno estranho logo no início, sem criar hesitação e medo) —Diferenças na: —1. visão (NF assume o mundo real como uma máscara que oculta a segunda realidade, não há rotura) —2. intenção (não é de provocar medo, são as metáforas) —3. modus operandi (o discurso fantástico parte de uma situação perfeitamente natural para alcançar o sobrenatural, mas o neofantástico parte de um acontecimento sobrenatural para lhe depois dar um ar natural) —o NF é influenciado pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial, vanguarda, Freud e psicanálise, surrealismo e existencialismo — Nancy H. Traill —Possible worlds of the fantastic: The Rise of the Paranormal in Fiction (2011) — —desenvolve as teorias dos mundos possíveis —há dois tipos de mundos ficcionais: natural (fisicamente possível) e sobrenatural (fisicamente impossível) 1.modo disjuntivo (2 tipos de mundos, os elementos sobrenaturais entram no mundo natural, têm vários aspetos (demónios, espíritos etc.), o sobrenatural não pode ser explicado) 2.modo fantasista (existe só o mundo sobrenatural ) 3.modo ambíguo (aquele que exprime a conceção de Todorov, o sobrenatural funciona como uma indeterminação, um “talvez”, um “como se fosse”) 4.naturalização do sobrenatural (corresponde ao sobrenatural explicado) 5.modo paranormal (o natural e o sobrenatural não são categorias opostas, o sobrenatural faz parte do mundo natural: clarividência, telepatia etc. ) — Jean-Luc STEINMETZ —La littérature fantastique (1990) — —OS TEMAS (alguns referidos por Caillois e Vax, mas a repartição é heteróclita – personagens, práticas, atividades: os mortos vivos, ocultismo, monstros, espetros, histórias demoníacas, duplo, pesadelos, delírios etc.) — —Todorov: quer ser mais científico: temas de EU (relação matéria/espírito: multiplicação da personagem, rotura da fronteira entre o sujeito e o objeto, transformação do tempo/espaço etc.) e temas de TU (sexualidade) — —Steinmetz propõe a temática actancial (seres e formas, atos, causas) STEINMETZ: seres e formas —1. fantome (espetro, revenant, sombra, simulacro, aparição) – pode ser homem ou animal, objeto —2. vampiro (striga, lamia, vurdalak etc.) – mito literário consagrado por Bram Stoker (Dracula), o motivo do erotismo (união interdita), atitude tirânica em relação aos vivos (em geral no estado hipnótico, onírico) —3. duplo (diferente de sósia – efeito cómico), em geral uma entidade maligna e perversa (R.L. Stevenson: Dr. Jekyll and Mr. Hyde) —4. autómatos, andróides, bonecas (o mágico confere a vida à matéria inerte (Meyrink: Golem, Hoffmann: Der Sandmann) —5. monstro (M. Shelley: Frankenstein), muitas vezes contos surrealistas STEINMETZ: atos —1. aparição —2. possessão —3. destruição —4. metamorfoses — STEINMETZ: causas —1. onirismo —2. magia —3. ocultismo —4. patologia mental —5. hipnose —6. telepatia —7. loucura — — o fantástico —a transgressão (de tabu e proibições) / a regressão (descida a um mundo em que perduram os medos arcaicos) —