Ephemera. O arquivo privado mais público de Portugal (vídeo 360 graus) Luís Barra José Pacheco Pereira mostra quatro das cerca de quinze salas do seu arquivo. Trata-se da primeira reportagem multimédia em 360 graus do Expresso, que permite “passear” com o historiador, que também assina o texto. Um trabalho pioneiro em Portugal, que “dá a imagem ‘borgeana’ da biblioteca universal, ou daquilo que eram no passado os ‘gabinetes de curiosidades’, que coloca visualmente este arquivo e biblioteca numa linha de combate contra a usura do tempo, que é a da Memória”. Entre connosco na Ephemera O Arquivo / Biblioteca Ephemera é um arquivo (ainda) privado, mas funciona como um arquivo público. Recolhe, trata, inventaria, divulga materiais sobre a história cultural, social, económica e política de Portugal e internacional, numa perspectiva comparada. Está sediado em várias casas particulares na Vila da Marmeleira e tem pontos de recolha e de trabalho em Lisboa (Livraria Ler Devagar, na LX Factory), no Porto (numa sala cedida pelo Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura da Universidade do Porto, e na galeria Mira Forum), em Torres Vedras e em Viana do Castelo (no Café Girassol e numa sala da Associação de Comerciantes). Tem literalmente “salvo” milhares de documentos, e outros materiais por todo o país, na sua maioria por oferta, mas também por aquisição, inclusive fora de Portugal. Mais de cem voluntários trabalham na recolha, digitalização, organização e inventariação dos materiais entrados e existentes, o que torna única esta iniciativa em Portugal e permite um output superior a muitos arquivos existentes, tudo apenas dependendo do valor imenso do trabalho dedicado dos seus voluntários, sem um tostão do Estado. Há outros aspectos únicos na sua actividade, um dos quais é a recolha activa de fotografias, depoimentos, documentos, de todas as manifestações, protestos, formas de conflito social e político em tempo real. Isto inclui, apenas para dar exemplos recentes, desde as manifestações de mulheres, às do PNR ou dos lesados do BANIF, das reuniões sobre a eutanásia aos protestos contra Trump. Outro aspecto pouco comum é a recolha não apenas de material documental, imagens, cartazes, fotografias, mas também de objectos. A orientação seguida é também recolher material electrónico, mas privilegiar os objectos físicos. A grande tarefa para que nos estamos a organizar a curto prazo é a recolha activa dos materiais das eleições autárquicas de 2017, desde as freguesias ao nível nacional, que já começou, mas é muito difícil de fazer pela dispersão nacional das iniciativas. Nas eleições de 2013 recolhemos cerca de 35.000 espécimes, mas ainda nos falta outro tanto. Ninguém faz este trabalho em Portugal. Os seus fundos incluem arquivos fundamentais para a história cultural e política contemporânea, como os papéis de Francisco Sá Carneiro, Vítor Crespo, Sousa e Castro, José Fonseca e Costa, etc., documentos da censura, vários núcleos de correspondência, Militaria, papéis de propagandistas do Estado Novo, o arquivo da Arcada, espólios de organizações sociais e políticas, da extrema-esquerda à extrema-direita, colecções do PCP, PSD, PS, movimentos dos referendos da regionalização e sobre o aborto, milhares de cartazes, autocolantes, pins, fotografias. A colecção é internacional pela sua natureza e inclui importante documentação espanhola, americana, irlandesa e dos PALOPs, contendo espécimes de mais de cem países. Uma lista dos principais arquivos está publicada na Internet. A Biblioteca com cerca de 200.000 títulos, para além do seu valor específico, serve, na sua parte mais especializada, o Arquivo. Esta actividade é divulgada através da Internet, no blogue Ephemera e no site com o mesmo nome, onde cerca de 17.000 pastas de material diverso estão publicadas, e através de várias exposições organizadas, total ou parcialmente, com os fundos do Arquivo (nos 40 anos do 25 de Abril na Assembleia da República; em Almada sobre o aniversário da Revolta dos Marinheiros de 1936; em Lisboa, sobre o 40.º Aniversário das Primeiras Eleições Presidenciais; no Porto, na Universidade do Porto, sobre o Movimento Estudantil do Porto, nos 60 até 1974; em Lisboa, na Escola Superior de Comunicação Social sobre as eleições americanas de 2016, e no Porto e em Torres Vedras sobre a LUAR e Palma Inácio, etc.). Em parceria com a Editora Tinta da China existe uma colecção de livros dedicada a divulgar os fundos do Arquivo que já publicou seis volumes sobre temas muito diversos usando documentos e imagens inéditas. Vários trabalhos de investigação já foram realizados com apoio do material do Arquivo e outros estão em curso, explorando os fundos relativos à comunicação social (Censura e Arcada), à vida musical portuguesa à volta do S. Carlos, etc. Os filmes realizados por Rafael Antunes e a sua equipa em 360º dão uma ideia de quatro salas das cerca de quinze existentes, mas incluem algumas das que contém os espólios mais importantes e que são visualmente mais interessantes. É um trabalho pioneiro em Portugal, e dá a imagem “borgeana” da biblioteca universal, ou daquilo que eram no passado os “gabinetes de curiosidades”, que coloca visualmente este arquivo e biblioteca numa linha de combate contra a usura do tempo, que é a da Memória. O lema do Arquivo e dos “cidadãos arquivistas” que o mantêm é que a preservação da Memória do Passado, é uma arma para a Democracia do Presente. [Pacheco Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia]