' ".......------• *breve GRAMÁTICA OPORTUGUÉS GONTEMPORÄNEO Celso Cunha Llndley Cintra IV brzve gramática do portugues contemporáneo no estudo de certos pormenores nao indispensáveis para uma iniciagao na análise da estrutura da lingua poderiam eventualmente assustar e afastar. Ora um dos nossos objectivos essenciais desde o início do projecto foi, sem prejuízo do rigor científico na descricao da lingua, fornecer, do portugués-padrao actual, um modelo que pudesse servir na aprendizagem da lingua e principalmente da lingua" esctita, na forma que presentemente se pode considerar «correctav>. Alias sempře acentuámos o nosso propósito de que, neste sentido (que nao exclui a aceitacao de inovacoes), a propria versao iniciál da Nova Gramátka do Portugušs Contemporáneo já tivesse um aspecto normativo e uma aplicacao pedagógica. Vincámos até que essa característica deliberadamente a afastava de outras gramáticas de carácter essencialmente especulativo. Que esta obra, na sua versao breve, seja um factor no ensino que contri-bua para que a juventude portuguesa, brasileira e africana de lingua oficial portuguesa — dispondo de um guia de fácil acesso e leitura que até ousamos classificar como muitas vezeš atractiva— aprenda a melhorar a suaescrita e o seu falar da lingua portuguesa é, sem dúvidá, a maior aspiracao dos autores e editor e a melhor recompensa possível para o trabalho feito e aqui apresentado. Setembro de 1985. Os Autores Indice geral Apresentacao, III Capitulo i conceitos gerais, i Linguagem, lingua, discurso, estilo 1 • Lingua e sociedade: variagao e con,serva$ao linguistica, 2 Diversidade geografica da lfngua: dialecto e falar, -? A nocao de correcto, $ Capitulo 2 dominio actual da lingua portuguesa, / Unidade e diversidade da lingua portuguesa, / Os dialectos do portugues europeu, j Os dialectos das ilhas atlanticas, 12 Os dialectos brasileiros, 13 O portugues dc Africa, da Asia e da Oceania, 16 Capitulo 3 fonetica e fonologia, l8 Os sons da fala, iS Som e fonema, 21 Ckssifica$ao dos sons Hnguisticos, 24 » Classificacao das vogais, 2j ■■ Classifica$ao das consoantes, }2 Encontros vocalicos, 37 Sikba, 41 Acento tonico, 42 Capitulo 4 Ortografia, 4J Letra e alfabeto, 4} Nota^ocs lexiens, 46 Regras de accntua$ao, // 1 Divergcncias entre as ortografias oficialmcntc adoptadas em Portugal e no Brasil, // vi breve gramática do portugues contemporäneo Capítulo 5 Classe, estrutura e forma^äo de palavras, /7 índice vn Palavra e morfema, jj Formacäo de palavras, 62 Estrutura das palavras, jp Fámfiias de palavras, 62 Capítulo 6 Deriva^äo e compos15ä0, 63 Derivaíjao prefixal, 63 Derivacäo sufixal, 66 Derivacäo regressiva, 7/ Derivacäo imprópria, 76 Composicäo, 77 Compostos eruditos, 7p Hibridismo, 84 Onomatopeia, 84 Abreviacäo vocabular, 8j Capltulo 7 Frase, ora^ao, período, 87 A frase e a 'Sua coristituicao, 87 . A oracao e os seus termos essendais, fp O sujeko, pí O predicado, p/ A oracao e os seus termos integrantes, 102 Complcmcato nominal, 103 ■■ Coinplementos verbais, 104 A oracao e os seus termos acessórios, 110 Adjunto adnominal, 111 Adjunto adverbial, 112 Aposto, 114 Vocatívo, 117 Colocacao dos termos na oracao, 117 Entoacáo oracional, 122 Capítulo 8 SUBSTANTTVO, I30 Classificacjio dos substantivos, 130 Flexoes dos substantivos, 133 Numero, 133 . FormacSo do plural, 134 Géncro, 141 Formac2o do feminino, 143 Substantivos uniformes, 148 Grau, /// Emprego do substantivo, ijí Capítulo 9 Artigo, ijj Artigo definido e indefinido, ij; Formas do artigo, ij6 Valores do artigo, ijp Emprego do artigo definido, 160 Repetilo do artigo definido, 172 Omissäo do artigo definido, 173 Emprego do artigo indefinido, 17; Omissäo do artigo' indefinido, 177 Capítulo 10 Adjectwo, 180 183 Flexoes dos adjectivos, Numero, 183 Género, 184 Grau, 186 Emprego do adjectivo, 1P3 Concordáncia do adjectivo com o substantive, zpé Adjectivo adjunto adnominal, ip6 Adjectivo predicativo de sujeito composto, ip8 Capítulo 11 Pronomes, 200 Pronomes substantivos e pronomes adjectivos, 200 Pronomes pessoais, 200 Emprego dos pronomes rectos, 20/ Pronomes de tratamento, 20p Emprego dos pronomes oblíquos, 214 Pronomes possessivos, 227 Pronomes demonstratives, 23} Pronomes relativos, 241 Pronomes interrogativos, 246 Pronomes indefinidos, 24p Capítulo 12 Numerais, 2ff Espécics de numerais, 2jj Flexäo dos numerais, 2jé Capítulo 13 Verbo, 263 Nocöes preliminares, 263 Tempos simples, 271 Veřbos auxiliares e o seu emprego, 278 Conjugacäo dos verbos reguläres, 287 Conjugacäo da voz passiva, 287 vni , a « ■ ÍNDICE BREVE GRAMA'nCA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO - Cotijugacäo dos verbos irreguläres, 290 aP Verbos com alternäncia vocálica, 291 Outros tipos de irregularidade, 299 Verbos de partictpio irregular, 318 Verbos abundantes, 319 Verbos impessoais, unipessoais e defectivos, }n Sintaxe dos modos e dos tempos, 323 ■ Modo indicativo, 32; Capitulo 19 Emprego dos tempos do indicativo, 32/ Modo conjuntivo, 333 Emprego do conjuntivo, 334 Modo imperativo, 339 Emprego do modo imperativo, 339 Emprego das formas nominais, 341 Emprego do infinitivo, 342 Emprego do gcrundio, 34} Emprego do partidpio, 346 Concordäncia verbal, 348 Regras gerais, 34$ Casos particulares, 3^0 Regéncia, 360 Sintaxe do verbo haver, 362 Capitulo 20 Capitulo 14 Advžrbio, 36} Classificacäo dos advérbios, 366 Gradacäo dos advérbios, 370 Palavras denotativas, 372 Capitulo 21 Capitulo 15 Preposicäo, 374 Funcäo das preposicöes, 374 . Significacäo das preposicöes, 37; Conteudo significativo e funcäo relacional, 377 Capitulo 22 Valores das preposiooes, 380 Capitulo 16 Conjuncao, 390 r Conjuncao coordenativa e subordinativa, 390 Conjuncöes coordenativas, 391 Conjuncöes subordinativas, 392 Locucäo conjuntiva, 39 j indice O PERIODO E SÜA CONSTRUCÄO, 398 Periodo simples e periodo composto, 39 S Coordcnacäo, 400 Subordinacäo, 402 Oracöes redužidas, 408 Figur as de sintaxe, 414 Elipse, 414 Zeugma, 416 Pleonasmo, 417 Hipérbato, 418 Anástrofe, 418 Prolepse, 419 Sínquise, 419 Assíndeto, 419 Polissindeto, 420 Anacoluto, 420 Silepse, 421 DlSCURSO Dl recto, discurso indi recto e discurso indirecto livre, 4Z3 Discurso directo, 423 Discurso indirecto, 42) Discurso indirecto livre, 428 P0NTUACÄ0, 429 Sinais pausais e sinais melódicos, 429 Sinais que marcam sobretudo a pausa, 429 Sinais que marcam sobretudo a melodia, 434 NOCOES DE versificacäo, 442 Es tru tura do verso, 442 Tipos de verso, 4J0 A rima, 4/9 Estrofacäo, 464 Poemas de forma fixa, 468 Elenco e desenvolvimento das principais abreviaturas, 47I Capitulo 17 Interjeicäo, 396 1. Conceitos gerais Linguagem, lingua, discurso, estilo. r. Linguagem é «um conjunto complexo de processos — resultado de uma čerta actividade psíquica profundamente determinada pěla vida social — que torna possível a aquisicäo e o emprego concreto de uma língua qualquer»1. Usa-se também o termo para designar todo o sistema de sinais que serve de meio de comunicacäo entre os individuos. Desde que se atri-bua valor convencional a deterrninado sinal, existe tima linguagem. A lin-guística interessa particularmente uma espécie de linguagem, ou seja a linguagem falada .ou articulada. 2. língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de individuos. Expressäo da consciěncia de uma colectividade, a língua é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age. Utilizacäo social da faculdade da linguagem, criacäo da sociedade, näo pode ser imutá-vel; ao contrario, tem de viver em perpétua evolucäo, paralela ä do orga-nismo social que a criou. 3. DiscuRSO é a lingua no acto, na execucäo individual. E, como cada individuo tern em si um ideal linguistico, procura ele extrair do sistema idiomático de que se serve as formas de enunciado que melhor lhe exprimam o gosto e o pensamento. Essa escollia entre os diversos meios de expressäo que lhe oferece o rico repertório de possibilidades, que é a lingua, denomina-se estilo2. 1 Tatiana Slama-Casacu, Latigage ei ctmlex/e, Haia, Mouton, 1961, p. 20. 2 Aceitando a distinct} de Jules Marouzeau, podemos dizer que a l£ngua e «a soma dos mcios dc cxpicssio dc que dispomos para formar o cnunciado» e o usitlo «0 aspecto c a qualidadc que rcsultam da escollia cntrc cases meios de expressao» (Pr&u ia»idad, itaciön, individm, detde el ptinls de visla lingilislica, trad, por Fernando Vela. Buenos Aires, Revista do Occidente, 1947, p. 178. 6 Simrortla, diacronta e bistoria; tlproblems del cambio liiig/llslico, 2," ed. Madrid, Gredos, 1973, 7 Veja-se Celso Cunha, Lingua, nafdo, aIiexaf3o, Rio de Janeiro, Nova Fionteira, p. 75-74 e ss. 2. Dominio actual da lingua portuguesa Unidade e diversidade da lingua portuguesa. Na area vastissima e descontínua era que é falado, o portugués apresenta--se como qualquer lingua viva, internamente diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto ä pronúncia, ä gra-mática e ao vocabulário, Embora seja inegável a existencia de tal diferenciacäo, näo é ela sufi-ciente para impedir a superior unidade do nosso idioma, facto, alias, salien-tado pelos dialectólogos. Exceptuando-se o caso especial dos crioulos, que estudaremos adiante, temos, pois, de reconhecer esta verdade: apesar da acidentada história que foi a da sua expansäo na Európa e, principalmente, fora dela, nos distantes e extensíssimos territórios de outros continentes, a Hngua portuguesa con-seguiu manter até hoje apreciável coesäo entre as suas variedades por mais afastadas que se encontrem no espaco. A diversidade interna, contudo, existe e dela importa dar urna visäo tanto quanto possível ordenadai. Os dialectos do portugués europeu. A faixa ocidental da Peninsula Ibérica ocupada pelo galego-portugués apresenta-nos um conjunto de dialectos que, de acordo com certas carac- 1 Vcja-se, sobre o conjunto das variedades do portugués, a Bibliografia diahtlal galego-■prtitgtKsa, publicada pclo Ccntro de Estudos Filológicos, Lisboa 1974. Sobre o portuguôs do Brasil, em particular, possuímos hoje um« bibliografia muito complcta; Wolf Dietrich, Bibliografiu da lingua portuguesa do Brasil, Tübingen, Gunter Narr, 1980. 6 BREVE GRAMiÍTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO DOMINI O ACTUAL DA LINGUA PORTUGUESA 7 teristicas diferenciais de tipo fonético, podem ser classiflcados em trés gran-des grupos: a) dialectos galegos; b) dialectos portugueses setentrionais; C) dialectos portugueses centro-meridi on ais 2, Esta classificacao parece ser apoiada pelo sentimento dos falantes comuns do portugués padräo europeu, isto é, dos que seguem a norma ou conjunto dos usos linguisticos das classes cultas da regiäo Lisboa-Coimbra, e que distinguirao pela fala um natural da GaUza, um hörnern do Norte e urn hörnern do Sul. A distincäo entre tres grupos funda-se principalmente no sistema das sibilantes. Assim: 1. Nos dialectos galegos näo existem as sibilantes sonoras jzf nem [z]: rosa articula-se com a mesma sibilante [s] ou [s] (surda) de passo; fazer, com a mesma sibilante [6] ou [s] (surda) de caca. Näo existe também a fricativa palatal sonora fej, grafada em portugués j ou g (antes de e ou i). Em galego só há a fricativa [fj (surda) do portugués e/jxada. 2. Nos dialectos Portugueses setentrionais existe a sibilante ápico--alveolar [s], identica ä do castclhano setentrional e padräo, em palavras como seis, paBBO. A ela corresponde a sonora [z] de rosa. Em alguns dialectos mais conservadores coexistem com estas sibilantes as predorsodentais [s] (em cinco, caca) e [z] (em fazer), que, noutros dialectos, com elas se funcUtam, provocando a igualdade da sibilante de cinco c caca com a que aparece em seis e passo, ou seja [s], bem como a da Ac fazer com a que se ouve em rosa, isto é [z]. 2 Quanto ä classificacao dialectal aqui adoptada, veja-se Luis Filipe Lindiey Cintra. Nova ptoposta de classificacao dos dialectos galcgo-portugucscs, Bí/í/»'w de Filologa, 22, 81-116 Lisboa, 1971 (ou Estudos dt dialeclologia porlugmsa, Lisboa, Sá da Costa, 1983, p. 117-163). Entre as classiöcacöes anteriores, duns merecem rcalce particular: a de Jose Leite de Vascon-celos c a de Manuel de Paiva Boléo e Maria Helena Santos Silva. A de Leite de Vascon-celos, baseada na divisäo de Portugal em provfncias, é mais geográfica do que linguística. Foi publieada, inidalmente,no seu Mappa diokctohgtio do contintntt portugués (Lisboa, Guillard, Aillaud, 1897)1 depois reproduzida na Bsquisss d'tfíie diabetológie poriugnise (Paris-Lisboa, Aiilaud, igor; z." ed., com aditamentos c correccöes do autor, preparada por Maria Adelaide Valle Cintra, Lisboa, Centro de Estudos Filológicos, 1970) e, com altcracôes, nos Opiíituloi, IV, Filológia, parte II (Coim-bta, 1929, p. 791-796). A de Manuel dc Paiva Doléo c Marin Helena Santos Silva, expostn em: O «Mapa dos dialectos e falarcs de Portugal Continental» {Eoletim dc Fi/ofogi/i, 20: 85-112, Lisbon, 1961), nsscntn cm fnetos linguisticos, principalmente, fonéticos, que, npresentaclos numn certn e possível hicrarquizacúo, permitiriam talvez um mnis clnro agrupamemo das variedades. jj 3. Nos dialectos Portugueses centro-meridionais so aparecem as sibi- j lantes predorso-dentais que caracterizam a lingua padräo: i a) a surda [s], tanto em seis e passo como em cinco e caca 3; i b) a sonora [z], tanto em roaa como em fazer. i< j; As fronteiras entre as tr£s zonas mencionadas atravessam a faixa galego- ! -portuguesa de oeste a leste, ou, mais precisamente, no caso da fronteira !; entre dialectos Portugueses setentrionais e centro-meridionais, de noroeste r a sueste. i: Mas ha outros tracos importantes em que a referida distincäo se funda- ^ menta, sem que, no entanto, as suas fronteiras coincidam perfeitamente com j as das caracteristicas ja indicadas. j Sao eles: i a) a pronüncia como [b] ou [ß] do v gr&fico (emitido como labiodental na ■ pronüncia padräo e na centro-meridional) na maior parte dos dialectos por- Itugueses setentrionais e na totaüdade dos dialectos galegos: biubo, abö por vinbo, avö; b) a pronüncia como africada palatal [tf] do cb da grafia (emitido como j fricativa [j] na pronüncia padräo e em quase todos os dialectos centro- 1 -meridionals) na maior parte dos dialectos Portugueses setentrionais e na i totalidade dos dialectos galegos: tchave, atchar por chave, achar; L' c) a monotongaeäo ou näo monotongaeäo dos ditongos [ovi] e [ej]: \\ a pronüncia [o] e [e] desses ditongos (por exemplo: dru por ouro, ferrero j; por ferreiro) caracteriza os dialectos Portugueses centro-meridionais e, no j caso de [o], a pronüncia padräo, perante os dialectos Portugueses setentrionais e os dialectos galegos4. Merecem mengäo especial —mesmo mima apiesentacäo panorämica i| dos dialectos Portugueses— tres regiöes em que, a par dos tracos gerais jj que acabamos de apontar, aparecem caracteristicas foneticas peculiares que j; afastam muito vincadamente os dialectos nelas falados de todos os outros do mesmo grupo. i Trata-se, em primeiro lugar, de uma regiäo (dentro da zona dos dia- |: lectos setentrionais) em que se observa regularmente a ditongaeäo de [e] I - \- 3 Pronüncia semelhante ä do trances ou do italiano padräo, do castclhano meridional e do !| hispano-americano. j| * Com referenda ao ditongo [ej], a pronüncia padräo c a de Lisboa (ncste caso uma ilhota !! de conservaeäo ao sul) coincidem com os dialectos setentrionais na sua manutenjäo. Note-sc con- i| tudo que, devido a um fenömeno de difcrenciajäo entre os dois clcmentos do ditongo, este se trans- >i formou na referida pronüncia em [cj]. CO Dialectos galegos Dialectos Portugueses setentrionais Dialectos Portugueses cantro--meridionais [||| galego ocidental j I I I gatego oriental ff/ dialectos transmontanos * / * dialectos baixo-mlnhotos dialectos do cenlro *litora.l dialectos do centra -interior e do sul Limite de regtäo subdialectal com caracteristicas pecuTiares bem diferenciadas O Classificagäo dos dialectos galego-portugueses 1. Entre moger (e outras formas em -er) e mugir, mojar e afins; 2. Entro tibere e amo/o: 3. Entre an/io e cordeiro; 4. Entre esp/ga e macaroca; A primeira das formas citadas (ica sempre ao Norte e a Oeste da segunda; 5. Area de recobrimento das formas mais arcaieas; 6- Area de almece; no resto do pals diz-se soro, excepto no Mlnho onde nao se usa nenhuma designate 1 2 3 4 : DOMÍNIO ACTUAL DA LINGUA POR.TUGUESA e [o] acentuados: pjeso por peso, pworto por porto. Abrange uma grande parte do Minho e do Douro Litoral (induindo o falar popular da ddade do Porto e dos seus arredores). Em segundo lugar, temos uma extensa area da Beira-Baixa e do Alto--Alentejo (compreendendo uma faixa pertencente aos dialectos setentrionais, mas, principalmente, uma vasta zona dos dialectos centro-meridionais) em que se regista uma profunda alteracao do timbre das vogais. Os tracos mais salientes sáo: a) a articulacao do u tónico corao [ii] (proximo do // trances), por exemplo tu, miila, por tu, mula; b) a representacao do antigo ditongo grafado oh por [ó] (também semelhante ao som correspon-dente do francés), por exemplo: poea por pouca; c) a queda da vogal átona final grafada -o ou sua reducao ao som [s], por exemplo cop(s)} copfs)s, por copo, copos; tiid(s) por tudo. Por fira, no ocidente do Algarve situa-se outra regiao em que se observam coinddéndas com a anteriormente mencionada, no que se refere ás vogais. Em lugar de u, encontramos [ů]: tu, míila (mas o ou está represen-tado por [o]). Pór outro lado, o a tónico evoluiu para um som semelhante a o aberto: bata é pronunciado quase bota, alteracao de timbre que nao é estranha a alguns lugares da mencionada zona da Beira-Baixa e Alto--Alentejo, embora seja ai mais frequente a passagem, em determinados contextos fonéticos, de a a um som [a] semelhante a [e] aberto, por exemplo: afilhédo, por afilbado, jumér por fumar. A vogal átona final grafada o também cai ou se rcduz a [a]; cop(d), cop(s)s, por copo, copos; tud($) por tudo. Nao sao, porém, apcnas tracos fonéticos que permitem opor os diversos grupos de dialectos galego-portugueses. Se, no que diz respeito a particu-laridades morfológicas e síntáctkas, a grande variedade e irregularidade na distribuicao parcce impedir um delineamento de areas que as tome como base', já no que se refere á distribuicao do léxico podemos observar, ainda que num restrito numero de sectores e casos, certas regularidades. Nao é raro, por exemplo, que os dialectos centro-meridionais se oponham aos setentrionais e aos galegos por neles se designar um objecto ou nocao com um termo de origem árabe enquanto nos últimos permanece o descendente da palavra latina ou vísigótica, É o caso da oposicáo almece j soro (do queijo), ceifar j segar. Talvez ainda mais frequente seja a oposicao lexical entre os dialectos do sul e leste de Portugal, caracterizados por inovacoes vocabulares de vários tipos, e os dialectos do noroeste e centro-norte, que, como os galegos, Alguns Jimites lexicais (v. Orlando Ribdro, A propósito dc areas lexicais..., BdF, 21, icj6j) 5 Qunndo muito, podcr-sc-ii diner, por exemplo, que ccrtos tracos, como oa pcrfcitos cm -/, da i.'1 conjugacito (tupi por laeci, cimli por o a cabrito; de mafaroea ; a ffj/>7Jtf (de milho), etc. í Advirta-se, por fim, que em relacäo a muitas outras nocöes é grande a | variedade terminológica na faixa galego-portuguesa, sem que se observe j este ou qualquer outro esquema regular de distribuicäo. É que a distribui- j cäo dos tipos lexicais depende de numerosissimos factores, näo só Unguis- j úcos, mas sobretudo histórico-culturais e sociais, que variam de caso para \ caso. A regularidade atrás observada parece depender, em alguns casos, da \ accäo de um mesmo factor historko: a reconquista aos mouros do Centro j e do Sul do território portugués, movimento que teria criado o contraste entre uma Galiza e um Portugal do Noroeste (e parte do Oeste) mais conserva-dores, porque de povoamento antigo, e um Portugal do Nordeste, Este e Sul mais inovador, justamente o que foi repovoado em consequéncia daquele acontecimento historko6. I Os dialectos das ilhas atlanticas. | Os dialectos falados nos arquipélagos atlänticos dos Acores e da Madeira f representam — como era de esperar da história do povoamento destas ilhas, desertas no momento em que os portugueses as descobriram — um prolon-gamento dos dialectos Portugueses continentais. Considerando a maior parte das características fonéticas que neles se observam, pode-se afirmar, com maior precisäo, que prolongam o grupo dos dialectos centro-meridionais. Com efeito, näo se encontram nos dialectos acorianos e madcirenses nem o [s] ápico-alveolar, nem a neutralizacäo da oposicäo entre /v/ e /b/, nem a africada [tf] dos dialectos setentrionais do continente. Quanto ä monotongacäo dos ditongos decrescentes [owj e [ej], observam-se as mesmas tendéncias da lingua padräo: o ditongo [ow] reduz-se normalmente a [o], mas a reducäo de [ej] a [e] é fenómeno esporádico; só ocorre como norma na ilha de Säo Miguel. « Vc|a-sc, a este rcspeito, principalmemc, Luis F. Lindley Cintra, Areas lexicais no territory portugues. Bolttim de Fihlogia, 20: 273-507, 1962; e Orlando Ribeiro, A proposito de areas lexicais no territorio portugues, Boleiim de Filologia, 21: 177-205, 1962-1963 (artiaos rcproduz.dos, ambos, em L. F. Lindley Cintra, Eittutu de diaUctoloya portuguesa, Lisboa 198} p. 5 5-9.1 c 165-202). Cite-sc, ainda, Luis F. Lindley Cintra. Une frontiere lexicale et phonctiqüe dani Ic domainc linguistiquc ponugnis. Bolttim de Fibhtfa, 20; 31-38, 1961 (artigo tambcm rccditado nos refendos Bsttides, p. 95-105). pOMÍNIO ACTUAL DA LINGUA PORTUGUESA Esta ilha, assim como a Madeira, constituem casos excepcionais dentro do portugués insular. Independentemente uma da outra, ambas se afastam do que se pode chamar a norma centro-meridional por acrescentar-lhe um certo numero de tracos muito peculiares. No que se refere ä ilha de Säo Miguel, os mais caracteristkos de entre 0s tracos que afastam os seus dialectos dos das outras ilhas coincidem, curio-samente, com os tracos que, na Peninsula, distinguem a regiäo da Beira--Baixa e do Alto-Alentejo (e também, parcialmente, com os que se observam no ocidente do Algarve): a) o u tónico é articulado como [ü]: Hi, muk; b) o antigo ditongo ou pronuncia-se como [ö]: poca, fára; c) o a tónico tende para o aberto [d]: quase bota por bata; d) a vogal final grafada -o cai ou reduz-se a [s]: cop(s), cop(i)s, tiid(í), pök(t>), por copo, copos, tttdo, potteo. Quanto ä ilha da Madeira, os seus dialectos apresentam características fonéticas singulares, que só esporadicamente (e näo todas) aparecem em dialectos continentais. Assim, o u tónico apresenta-se ditongado em [ow], por exemplo: flawa] por lna; o / tónico em [aj], por exemplo: ['faJAa] por filha. Por outro lado, a consoante /, precedida de i, palataliza-se: ['vajXa] por vila, ['fajXa] por fila (confundindo-se portanto, desse modo, fila com filba). Os dialectos brasileiros. Com relacäo ao extensíssimo território brasileiro da lingua portuguesa, a insuficiéncia de informacöes rigorosamente científicas sobre as diferencas de natureza fonética, morfo-sintáctica e lexical que separam as variedades regionais nele existentes näo permite classJJ&cá-las em bases semelhantes äs que foram adoptadas na classificacäo dos dialectos do portugués europeu, Deve-se reconhecer, contudo, que a publicaeäo de dois atlas prévios regionais — o do Estado da Bahia? e o do Estado de Minas Gerais« — e a anun-ciada impressäo do já concluído Atlas dos falares de Sergipe9, bem como a claboraeäo de algumas monografias dialectais säo passos importantes no sentido de suprir a lacuna apontada. Entre as classificacöes de conjunto, propostas cóm carácter provisório, sobreleva, pela indiseutível autoridade de quem a fez, a de Antenor Nas- 1 Nelson Rossi. Atlas prime das falares baicttm. Rio de Janeiro, MEC/INL, 1963. 8 Jose Ribeiro et alii. Ethfo de um alias Imguhtita de Minas Gerais. t.° vol. Rio dc Janeiro, MEC/Casa dc Rui Barbosa/UFJF, 1977. 9 Elahorado por Nelson Rossi, com a colaboracao de um gtupo de professorca da Uni-vetstdadc Federal da Baliia. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO DOMÍNIO ACTUAL DA LINGUA PORTUGUESA *5 ■ LIMITES COM O ESTRANGEIRO ■ LIMITES ESTADUAIS- • LIMITES DOS SU8FALARES centes, fandada em observacdes pessoais colhidas nas suas viagens por todos os Estados do pais. A base desta proposta reside — como no caso do portugués europeu — em diferencas de pronuncia. De acordo com Antenor Nascentes, é possível distinguir dois grupos de dialectos1 o brasileiros —o do Norte e o do Sul—, tendo em conta dois tracos fundamentals: a) a abertura das vogais pretónicas, nos dialectos do Norte, em pala-vras que nao sejam dirninutivos nem advérbios em -mertte: pegar por pegar, chrrer por correr; b) o que ele chama um tanto impressionisticamente a «cadencia» da fak: fala «cantada» no Norte, fala «descansada» no Sul. A fronteira entre os dois grupos de dialectos passa por «uma zona que ocupa uma posicao mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e meridional do pais. Esta zona se estende, mais ou menos, da foz do rio Mucuri, entre Espirito Santo e Bahia, até a cidade de Mato Grosso, no Estado do mesmo nome»11. Em cada grupo, distingue Antenor Nascentes diversas variedades a que chama subfalares. E enumera dois no grupo Norte: a) o amazónico, b) o nordestino. E quatro no grupo Sul: a) baiano, b) o fluminense, f) o mineiro, d) o sulista. Assinale-se, por fim, que as condicoes peculiares da formacao linguistica do Brasil revelam uma dialectalizacao que nao parece tao variada e tao interna como a portuguesa. Revelam, também, estas condicoes que a referida dialectalizacao é muito mais instável que a europeia. Areas lingulsticas do Brasil (divisäo proposta pot Antenor Nascentes) 10 Empregamos o termo dialecto peias razöes adufcidas no Cap/tulo i e para mantermos o paralclismo com a designacäo adoptada para as variedades icg'ionais portugiiesns. Ao que cha-mamos aqui dialecto Nascentes denomina subfalar. 11 Antenor Nascentes. O littgiajar tarhea, 2.» cdicäo complctamcntc refundida. Rio de Jiinciro, Simöes, 1953, p. 2j. Por scr quase despovoada, consideravn clc incaractcrfstica a ärca com-pteendida entre a parte da fiontcira boliviana e a fronteirn de Mato Grosso com o Amazonas e o Pari. r breve GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEo| ~ DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 17 O portugués de Africa, da Asia e da Oceania. No estudo das formas que veio a assumit a lingua portuguesa em Africa, ?j na Asia e na Oceania, é necessário distinguir, preliminarmente, dois tipos de variedades: as crioulas e as näo-crioulas. As variedades crioulas resultam do contacto que o sistema linguistico portugués estabeleceu, a partir do século XV, com sistemas linguísticos indí-1 genas. Talvez todas elas derivem do mesmo proto-crioulo ou lingua p franca que, durante os primeiros séculos da expansäo portuguesa, serviu de meio de comunicacao entre as populacöes locais e os navegadores, comer- p ciantes e missionaries ao longo das costas da Africa Ocidental e Oriental, 5 da Arabia, da Persia, da índia, da Malásia, da China e do japäo. Aparecem-1 -nos, actualmente, como resultados muito diversificados, mas com algumas * caracteristicas comuns — ou, pelo menos, paralelas —, que se manifestam numa profunda transformaeäo da fonologia e da morfo-sintaxe do portugués que lhes deu origem. O grau de afastamento em relacäo ä língua--mäe é hoje de tal ordern que, mais do que como dialectos, os crioulos devem ser considerados como línguas derivadas do portugués. Os crioulos de origem portuguesa em Africa, que säo os de maior vita-lidade, podem ser distribuídos espacialmente em trés grupos: 1. Crioulos do Arquipélago de Cabo Verde, com as duas varie-^j dades: a) de Barlavento, ao norte, usada nas ilhas de Santo Antäo, Säo Vicente, Säo Nicolau, Sal e Boavista; b) de Sotavento, ao sul, utilizada nas ilhas de Santiago, Maio, Fogo e Brava. 2. Crioulos das ilhas do Golfo da Guiné: a) de Säo Tomé; b) do Principe; e) de Ano Bom (ilha que pertence ä Guiné Equatorial). 3. Crioulos continentals: a) da Guiné-Bissau; b) de Casamance (no Senegal). Dos crioulos da Asia subsistem apenas: a) o de Malaca, conhecido pelas denominacöes de papiá cristSo, niala-qtteiro, malaqms, malaquetibo, malaqmiise, serani, babasa geragau e portugués basu; b) o de Macau, macaista ou macauenho, ainda falado por algumas famí-lias de Hong-Kong; c) o de Sri-Lanka, falado por familias de Vaipim e Batticaloa; d) - os de Chaul, Korlai, Telücherry, Cananor e Cochim, no território da Uniäo Indiana. Na Oceania, sobrevive ainda o crioulo de Tugu, localidade perto de jacarta, na ilha de Java12. Quanto äs variedades näo-crioulas, há que considerar näo só a prc-senca do portugués que é a lingua oficial das repúblicas de Angola, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Mocambique e de Säo Tomé e Principe, mas as variedades faladas por urna parte da populaeäo destes Estados e, tam-bém, de Goa, Damäo, Diu e Macau, na Ásia, e Timor, na Oceania. Trata-se de um portugués com base na variedade euxopeia, porém mais ou menos modi-fieado, sobretudo pelo emprego de um vocabulário proveniente das línguas nativas, e a que näo faltam algumas caracteristicas próprias no aspecto fono-lógico e gramatical. Estas caracteristicas, no entanto, que divergem de regiäo para regiäo, ainda näo foram suficientemente observadas e deseritas, embora muitas delas transparecam na obra de alguns dos modernos eseritores desses países 13. >2 Sobre o estado actual dos crioulos Portugueses, veja-se Celso Cunha. Lingua, natSo, alit-naiSo. Rio de Janeiro, Nova Fronteíra, 1981, p. 37-106, onde se remote íl bibliografia espccialiaada; vuja-se, ainda, José G. Herculano de Carvalho, Deux langues Creoles: le críól du Cap Vert ct lc fotra de S, Tomé, em Biblos: jy, 1-15, 1981. í 13 Sobre a linguagem de um deles, do maior signifícado, o nngolano Luandino Vieira, v. a jese recente de Michel Laban, Uoeiwre litUrairc de Luandino Vieira, Paris 1979 (tese do 3.° eiclo apresentada em 1979 ä Universidade de Paris-Sorbonne); e a de Salvato Trigo, Lnatidim Vitira, 0 bgolela, Potto, Brasilia Editora, 1981. Fonética e fonologia OS SONS DA F ALA Os sons da nossa fala resultam quase todos da accäo de certos órgäos sobre a corrente de ar vinda dos pulmöes. Para a sua producäo, trôs condicôes se fazem necessárias: a) a corrente de ar; b) um obstáculo encontrado por essa corrente de ar; c) urna caixa de ressonáncia. Estas condicôes säo criadas pelos orgaos da fala, denominados, em seu conjunto, aparelho fonador. O aparelho fonador. É constituído das seguintes partes: a) os pulmoes, os erónquios e a traqueia— órgaos respiratórios que fornecem a corrente de ar, matéria-prima da fonacao; b) a laringe, onde se localizam as cordas vocais, que produzem a energia sonora utilizada na fala; c) as cavidades supralaríngeas (FARINGE, boca e FOSSAS nasais), que funcionam como caixas de ressonáncia, sendo que a cavidade bucal pode variar profundamente de forma e de volume, gracas aos movimentos dos órgaos activos, sobretudo da língua, que, de tao ímportante na fonacao, se tornou sinónimo de «idioma». Funcionamento do aparelho fonador. O ar expclido dos pulmoes, por via dos brónquios, penetra na traqueia e chega a laringe, onde, ao atravessar a glote, costuma encontrar o primeiro obstáculo á sua passagem. fonética E FONOLOGIA T9 i A glote, que fica na aítura da chamada ma$ä-de-adäo, pomo-de-ad3o ou, no Brasil, gogó, é a abertura entre duas pregas musculares das paredes superio-res da laringe, conhecídas pelo nome de cordas vocais. O fíuxo de ar pode encontrá-la fechada ou aberta, em virtude de estarem aproxirnados ou afastados os bordos das cordas vocais. No primeiro caso, o ar forea a passagem através das cordas vocais retesadas, fazendo-as vlbrar e produ-zir o som musical caracteristico das articulacôes sonoras, No segundo caso, relaxadas as cordas vocais, o ar escapa-se sem vibracôes laríngeas. As articulacôes produzidas denominam-se, entäo, sordas. A distincäo entre sonora e surda pode ser claramente percebida na pronuncia de duas consoantes que quanto ao mais se identificam. Assim: / b / [= SONORO] j p I [= SURDO] Ao sair da laringe, a corrente expiratória entra na cavidade farín-gea, uma encruziihada, que lhe oferece duas vias de acesso ao exterior: o canal bucal e o nasal. Suspenso no entrecruzar desses dois canais fica o véu Palatino, órgäb dotado de mobilidade capaz de obstruir ou näo o ingresso do ar na cavidade nasal e, consequentemente, de determinar a natureza oral ou nasal de um som. Quando levantado, o véu Palatino cola-se ä parede posterior da faringe, deixando Hvre apenas. o conduto bucal. As articulacôes assim obtidas denominam-se orais (adjectivo derivado do latim os, oris «a boca»), Quando abaixado, o véu Palatino deixa ambas as passagens livtes. A corrente expiratória entäo divide-se, e uma parte dela escoa-se pelas fossas nasais, onde adquire a ressonáncia característica das articulacôes, por este motivo, também chamadas nasais. Compare-se, por exemplo, a pronuncia das vogais: / a / [= oral] / ä / [= nasal] em palavras como: lá / lä mato / manto É, porém, na cavidade bucal que se produzem os movimentos fona-% dores mais variados, gracas a maior ou menor separacäo dos maxilares, I das boche chas e, sobretudo, ä mobilidade da língua e dos labios. P,0<11 FONÉTICA E FONOLOGIA 1 . Cavidade nasal 2 . palato duro 3. véu palalino 4 . lábios 5 . cavidade bucal 6 . lingua 7 . faringe 8 . epiglote 9 . abóbada palatina 10 . rinofaringe 11 . traqueia 12 . esófago 13. vórtebras 14 . laringe 15. macä-de-adäo 16 . maxilar superior 17 . maxilar inferior SOM E FONEMA Nem todos os sons que pronunciamos em portugués tem o mesmo valor no funcionamento da nossa lingua. Alguns servem para diferenciar palavras que no mais se identificam. Por exemplo, em: a diversidade de timbre (fechado ou aberto) da vogal tónica é suficiente para estabelecer uma oposicao entre substantivo e verbo. Na série: dia tia via fia mia pia Aparelho fonador (a laringe e as cavidades supralarlngcas) temos seis palavras que se distinguem apenas pelo elemento consonántico iniciál. Toda a disrincao significativa entxe duas palavras de uma lingua esta-belecida pela oposicao ou contraste entre dois sons tevela que cada um desses sons representa uma unidade mental sonora diferente. Essa unidade de que o som é a representacao (ou realizacao) física recebe o nome de FONEMA. Correspondent pois, a fonemas diversos os sons vocálicos e conso-nánticos diferenciadores das palavras atrás mencionadas. A disciplina que estuda rninuciosamente os sons da fala, as multiplas realizacóes dos fonemas, chama-se fonética. A parte da gramática que estuda o comportamento dos fonemas numa lingua denomina-se fonologia, fonemática ou fonémica. ■| Descricäo fonética e fonológica. A descricäo dos sons da fala (descricäo fonética), para ser completa, deveria considerar sempre: a) como eles säo produzidos; b) como säo transmkidos; e) como säo percebidos. Sobre a impressäo auditiva deveria concentrar-se o Interesse maior BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEq da descricäó, pois é ela que nos deka perceber a variedade dos sons e o seu funcionamento em representacäo dos fonemas. A descricäó fonológica mal se compreende que näo seja de base acústica, A fonética fisiológica, de base articulatória, é urna espeáalidade antiga e muito desenvolvida, porque bem conhecidos säo os órgäos fona-dores e o seu funcionamento. Dal serem os fonemas frequentemente des-critos e classificados em funcäo das suas características articulatórias, embora se note, modernamente, urna tendencia de associar a descricäó acústica ä fisiológica, ou de realizá-las paiálélamente. Ttanscricäo fonética e fonológica. Para simbolizar na escrita a pronúncia teal de um som usa-se um alfabeto especial, o alfabeto fonético. Os sinais fonéticoš säo colocados entre colchetes: []. Por exemplo: ['kaw], pronúncia popular carioca, ['kal], pronúncia portuguesa normal e brasileira do Rio Grande do Sul, para a palavra sempře escrita cal. Os fonemas transcrevem-se entre barras oblíquas: / /. Alfabeto fonético utilizado. Empregamos nas nossas transcribes fonéticas, sempre que possível, o Alfabeto Fonético Internacionál. Tivemos, no entanto, de fazer čerta s adaptacôes e acrescentar alguns sinais necessários para a ttanscricäo de sons de variedades da lingua portuguesa para os quais näo existe sinal proprio naquele Alfabeto l. Eis o elenco dos sinais aqui adoptados: r. Vogais: [a] —portugués normal de Portugal e do Brasil: pá, gaio portugués normal do Brasil: pedra., fsqyr [a] —portugués normal de Portugal: ŕa/wa, fa»a, pdra,fi^er; portugués de Lisboa: hi, leiiha portugués normal do Brasil: cama, c&tia fONĚTICA e fonolqgia m - N - [o] - N - [o] - [i] - [u] - portugues normal de Portugal e do Brasil: pk, ferro portugugs normal de Portugal e do Brasil: medo, sabcr portugues normal do Brasil: regar, sedento portugues normal de Portugal: sede, corre, regar, sedento portugues normal de Portugal e do Brasil: pö, co/a portugues normal de Portugal e do Brasil: morro, forfa portugu&s normal do Brasil: correr, morar portugues normal de Portugal e do Brasil: vir, bico portugues normal do Brasil: sede, corre portugues normal de Portugal e do Brasil: bambu, sul, caro portugues normal de Portugal: correr, morar 2J 2, Semivogais: U] — portugues normal de Portugal e do Brasil: pai, feito, värw [\v] —portugues normal de Portugal e do Brasil: pau, dgua j. Consoantes: portugues normal de Portugal e do Brasil: bravo (!), ambos [PI [d] PI [dii [g] m [p] [t] [ť] [tí] 1 Nessas adaptacôes e acrescentíuncntos scguimos, em gcral, o alfabeto fonético utilizado pelo grupo do Centto dc Lingulstica da Univcrsid.idc dc Lisboa, encartegado da elaboracäo do!' Atlas lingu!stíco-itnogŕáfuo dt Vtrtugal e da Galina. ji portugues normal do Brasil: o hoi, aba, barba, abrir -portugues normal de Portugal: o hol, aba, barba, abrir -portugues normal de Portugal e do Brasil: Aar (I), atidar portugues normal do Brasil: ida, espaäa ■ portugues normal de Portugal: o dar, ida, espada -portugues do Rio de Janeiro, de Säo Paulo e de extensas zonas do Brasil: dia, sede -portugues popular do Rio de Janeiro e de algumas zonas pröxlmas: dia, sede portugues dialectal europeu de zonas fronteiricas muito restritas: Jesus, \aqiwta -portugues normal de Portugal e do Brasil: gtiarda (I), franko portugues normal do Brasil: a gtiarda, agora, agrado -portugues normal de Portugal: a gtiarda, agora, agrado -portugues normal de Portugal e do Brasil: pai, caprino -portugues normal de Portugal e do Brasil: tu, canto -portugues do Rio de Janeiro, de Säo Paulo e de extensas zonas do Brasil: Ho, sete -portugues de extensas zonas do Norte de Portugal e de areas näo delimitadas de Mato Grosso e regiöes convizinhas, no Brasil: chave, c/icher portugues popular do Rio de Janeiro e de algumas zonas pröximas: tio, sete 24 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÁNErj F0NÉTICA E FONOLOGIA 25 [k] —portugußs normal de Portugal e do Brasil: casa, porco, que jmj —portugues normal de Portugal e do Brasil: mar, amigo [n] — portugufis normal de Portugal e do Brasil: tmda, cam rn] —portugues normal de Portugal e do Brasil: viaha, eammho [1] —portugues normal de Portugal e do Brasil: \ama, cah [l] —portugues normal de Portugal e de certas zonas do Sui do Brasil; alio, Brasil [X] —portugues normal de Portugal e do Brasil: filho, Ihe [r] —portugues normal de Portugal e do Brasil: cato, cotes, dar [r] —portugues normal de virias regiöes de Portugal, do Rio Grande do Sul e outras regiöes do Brasil: xoda, catto [R] —portugues normal de Portugal (principalmente de Iisboa), do Rii de Janeiro e de värias zonas costeiras do Brasil: toda, catto [f] —portugues normal de Portugal e do Brasil: filho, aSar [v] —portugues normal de Portugal e do Brasil: xinho, uva [s] — portugues normal de Portugal e do Brasil: saber, pos&o, ceu, caqa [z] —portugues normal de Portugal e do Brasil: azar, casa [s] —portugues de certas zonas do Norte de Portugal: saber, ßosso; noutras zonas, tambern: du, caqa | [z] —portugues de certas zonas do Norte de Portugal: casa; e, noutrag zonas, tambem: azar [0] —galego normal: ceu, facer (port, fa^er), caza (port, cacd), azar [Tj —portugues normal de Portugal e do Brasil: chave, xaroße portugues normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de algumas zona| costeiras do Brasil: esfe [3] —portugues normal de Portugal e do Brasil: \d, genro portugues normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de algumas zonai costeiras do Brasil: mesmo CLASSIFICAgÄO DOS SONS LINGUlSTICOS Os sons lingufsticos classificam-se em vogats, consoantes e semi- vogais. Vogais e consoantes. I. Do ponto de vista articulatório, as vogais podem ser consideradas; ha sempře na cavidade bucal obstáculo a passagem da corrente expkatória. 2. Quanto ä ŕuncäo silábica — outro eritério de distincäo — cabe salientar que, na nossa lingua, as vogais säo sempře centro de sílaba, ao passo que as consoantes säo fonemas marginais: só aparecem na sílaba junto a uma vogal. Semi vogais. Entre as vogais e as consoantes situam-se as semivogais, que säo os fonemas /i/ e /u/ quando, juntos a uma vogal, com ela formám sílaba. Fone-ticamente estas vogais assilábicas transerevem-se [j] e fw], Exemplificando: Em dtto ['ditu] e viu [Viw] o /i/ é vogal, mas em pat ['paj] e vário ['varju] é semivogal. Também é vogal o /u/ em muro ['muru] e lua ['lua], mas semi-vogal em meu [mew] e quatro ['kwatru]. CLASSIFICACÄO DAS VOGAIS i. Segundo a classificacäo tradicional, de base fundamentalmente articulatória, as vogais da lingua portuguesa podem ser: a) quanto ä regiäo de articulaeäo b) quanto ao grau de abertura e) quanto ao papel das cavidades bučal e nasal É de base aeústica a classificacäo em: anteriores ou palatais centrais ou médias posteriores ou velares abertas semi-abertas semi-fechadas fechadas orais nasais d) quanto á intensidade tonicas átonas sons formados pela vibraeäo das cordas vocais e modificados segundo Š . *' f»11^ «centemente uma classificacäo das vogais com forma das cavidades supra-iaringeas, que devem estar sempre abertas oil Cert0 *umer<>.de to5°s, ^e säo «^tintivos» numa perspectiva ,__. xj , • j , • i tonoiógica ou roncmaüca, isto e, que apresentam caracteristicas canazes entreabertas a passagem do ar. Na pronúncia das consoantes, ao contrario! ■ , ■, r, ■ ».««""«uuii ^ť com 0 que ficou reduzida a [o] e [u] a série das vogais posteriores ou velares. É, pois, o seguinte o quadro das vogais átonas em posicäo näo final absoluta, partkularmente em posicäo pretónica: Anteriores ou palatais Média ou central Posteriores ou velares Fechadas w Semi-fechadas [0] Aberta w Exemplos: llgar [li'gar], legar [le'gar], lugar [la'gar], lograr [lo'grar], lugar [lu'gar]; á/amo ['alamu], véspera ['vejpera], diálogo [di'alugu], elektron ['siklotron]. 2. Em posilo final absoluta, a série anterior ou palatal apresenta-se reduzida a uma única vogal [i], grafada e; e a série posterior ou velar tam-bém a uma só vogal [u], escrita 0. Temos, assim, trfis vogais em siruacao posTÓNrcA final absoluta: Anterior Média Posterior ou palatal ou central ou velar Fechadas W w Aberta w Exemplos: 3. No portugués normal de Portugal, em posicäo átona näo final, tanibétn se anulou a distincäo entre [e] e [e], mas, em lugar de qualquet destas vogais da série das anteriores ou palatais, aparece geralmente a vogal [a], média ou central, fechada [-1- alta, + recuada, - arredondada], realizacao que näo ocorre em posicäo tónica e é completámente estranha ä0 portugués do Brasil. A série fica, assim, representada apenas pela vogal [i], p0r outro lado, tendo desapaxecido a distincäo entre [o], [o] e [u], toda a série das vogais posteriores ou velares está hoje reduzida a [u], grafado o ou u. Finalrnente, á vogal média ou central [a], aberta, corresponde a vogal também média ou central, mas semi-fechada ja], grafada naturalmente a. O que foi dito pode ser expresso no seguinte quadro: Anterior Médías Posterior ou palatal ou centrais ou velar Fechadas [i] M Semi-fechada W Exemplos: ligar [H'gar], hgar [fe'gar], hgar [la'gar], lograr [lu'grar], lugar [lu'gar]; álaffjo ['alamu], véspera ['vefpara], diálogo [di'alugu]. 4. Em posicao final absoluta, a série anterior ou palatal aesaparece e em seu lugar surge a vogal já descrita [a], grafada e; e a série posterior ou velar reduz-se a vogal [u], escrita 0. Donde o quadro: Médias Posterior ou palatais ou velar Fechadas [a] M Semi-fechada M Exemplos: tarde ['tardi], povo ['povu], case, ['kazaj. tarde ['tarda], povo ['povu], casa ['kaza]. 32 breve GRAA1ATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO Obscrvacao: é necessário ressaltar que algumas vogais átonas, por razoes em geral rcla-cionadas com a história dos sons ou com a sua posicao na palavra, n3o sofrc-ram a reduCáo a [a], [a], [u] no portugués de Portugal. Assim acontcceu com as vogais que provém: a) da erase entre duas vogais idénticas do portugués antigo; é o caso do [a] de padeiro (< paadeird), do [e] de esquecer (< esqueeeer), do [o] de corar (< coorar); V) da monotongacao de urn antigo ditongo, como o [o] que se ouve na pro-nuncia normal de dotirar, doutrina. Também nío se reduzkam as vogais átonas de cultismos, como o [a] de actor, o [z] de director, o [d] de qdopféo, e bem assim o [o] iniciál absoluto de ovslba, obter, opiniao, o [e] iniciál absoluto de etiorme, erguer, que se pronuncia geral-mente [i], e as vogais [a], [e], [o] protegidas por / implosivo de altar, delgado, soldado, cokhSo, Sttůbal e amável. Finalmente, também nao sofreram, em geral, reducao as vogais tónicas de palavras simples nos vocábulos delas derivados, particularmente com os sufixos -mentě ou -inho (-^inbo): avaramente, brevemente, doeilmente, docemenit, peřinko, avesytiha, amor%inho (mas mesinba, casinka, folhinba, com [3], [a] e [u]). CLASSIFICAgÄO DAS CONSOANTES i. As consoantes da lingua portuguesa, em numero de dezanove, säo tradicionalmente classificadas em funcäo de quatro eritérios, de base essen-cialmente articulatórk: a) quanto ao modo de articulaeäo, em b) quanto ao ponto de articulaeäo, em oclusivas constritivas bilabiais Iabiodentais linguodentais alveolares palatais velares fricativas laterals vibrantes „OHŔľlCA E FONOLOGIA 33 ť) quanto ao papel das cordas vocais. , em j surdas sonoras d) quanto ao papel das cavidades bučal e nasal, em nasals 2. Recentemente, porém, difundiu-se, como para ms vogais, outro sistema de classificaeäo, com base em certos tracos distintivos. Os tracos que se tém em conta neste sistema relacionam-se também com caracteristicas da articulaeäo, mas nem sempře coincidem com os que estäo oa base da classificaeäo anterior. Segundo o novo sistema classificatório, as consoantes podem ser; a) quanto ao modo de articulaeäo b) quanto ä zona de articulaeäo + contínuas] — contínuas] + laterals] — laterals] + anteriores] — anteriores] -f coronais] — coronais] t j j • f [+ sonoras] c) quanto ao papel das cordas vocais j sonoras] d) quanto ao papel das cavidades bučal e nasal r r+ \ [— nasais] í) quanto ao efeito acústico mais ou menos proximo ao de ľ [+ soante] j [— soante] nasais] nasaii É de base mais aeústica do que articulatória a classificaeäo: quanto ao uma vogal Modo de articulaeäo. A articulaeäo das consoantes näo se faz, como a das vogais, com a pas-sagem livre do ar através da cavidade bucal. Na sua pronuncia, a corrente expiratória encontra sempre, em alguma parte da boca, ou um obstáculo total, que a interrompe momentaneamente, ou um obstáculo parcial, que a comprime sem, contudo, interceptá-la. No primeiro caso, as consoantes dizem-se oclusivas ou [- contínuas]-, no segundo, constritivas ou [+ contínuas]. Säo oclusivas as consoantes [p], [b], [t], [d], [k], [g]: pa/a, hala, ta/a, áá-Ia, cala, gala. Entre as constritivas, distinguem-se as: i. Fricativas, caracterizadas pela passagem do ar através de uma estreita fenda formada no meio da via bucal, o que produz um ruido com-parável ao de urna friccäo. 54 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNE( j,0nl-ITCA E FONOLOGIA Säo fricativas as consoaates [f], [v], [s], [z], [Tj, [3]: fälä, vala, se/g (passo, céu, ca<$a, proximo), zelo (rosa, exame), xarope (encher), ji (gelo)2. 2.. Laterais, caracterizadas pela passagem da corrente expiratória. pelos dois lados da cavidade bucal, em virtude de um obstáculo formado no centro desta pelo contacto da lingua com os alvéolos dos denies ou com o palato. Säo laterais as consoantes [I] e [X]: fila, filha. 3. ViBRANTES, caracterizadas pelo movimento vibratório rápido dt um órgäo activo elástico (a lingua ou o véu palatino), que provoca uma ou várias brevíssimas interrupcoes da passagem da corrente expiratória. Säo vibrantes as consoantes [r] e [r] ou [R]: cato, catio. O ponto ou zona de articulacäo. O obstáculo (total ou parcial) necessário ä articulacäo das consoantes pode produzir-se em diversos lugares da cavidade bucal. Daí o conceito dc ponto de articulacäo, segundo o qual as consoantes se classificam em 1. BiLABiAis, formadas pelo contacto dos lábios. Säo as consoantes [p], [b], [m]: pato, hato, máto. 2. Labiodentais, formadas pela constricao do ar entre o lábio inferior e os dentes incisivos superiores. Säo as consoantes [fj, [v]: faca, vaca, 3. LrNGuoDENTAis (ou dorso-dentais), formadas pela aproximaeäo do pré-dorso da lingua ä face interna dos dentes incisivos superiores, ou pelo contacto desses órgaos. Säo as consoantes [s], [z], [ťj, [d]: cinco, zitico, tarda, dVdö. 4. Alveolares (ou Api co- alveola res), formadas pelo contacto da ponta da lingua com os alvéolos dos dentes incisivos superiores. Säo as consoantes [nj, [1], [r], [rj: nada, calaj cata, catto (na pronúncia de.certas regiöes de Portugal e do Brasil). 35 2 Como dissemos, na ptonúncia normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de alguns pontoi da costa do Brasil, as fricativas palatais [J] e [3] aparecem tarnbém em formas como trit c mismo, respcetivamente. j. Palatais, formadas pelo contacto do dorso da lingua com o palato duro, on céu da boca. Säo as consoantes [f], [3], [X], [p]: ačho, a)o, alho, önh(7- 6. Velares, formadas pelo contacto da parte posterior da lingua com 0 palato mole, ou véu palatino. Sao as consoantes [k], [g], [R]: calo, galo, talo. Se considerarmos a zona em que se situam o contacto ou a constricäo que caracterizam a consoante, a classificacäo com base nos tracos distinti-vos será a seguinte: 1. Consoantes [4- anteriores], formadas na zona anterior da cavi-dade bucal: [p], [b], [f], [v], [m], [t], [d], [s], [z], [n], [1], [r] e [f]; 2. Consoantes [- anteriores], formadas na 2ona posterior da cavidade bucal: fj], [3], [ej, [X], [R]; 3. Consoantes [+ coronais], formadas com a intervengäo da «coroa», ou seja do dorso (pré-dorso, médio-dorso) da lingua: [t], [d], [s], [2], [J], [3], W. M» P3. W» M; 4. Consoantes ľ- coronais], formadas sem a intervencäo do dorso da lingua [p], [b], [m], [£], [v], [k], [g], [R]. O papel d*3 cotdas vocais. Enquanto as vogais säo normalmente sonoras (só excepcionalmente aparecem ensurdecidas), as consoantes podem ser ou näo produzidas com vibraeäo das cordas vocais. Säo surdas [- sonoras] as consoantes: [p], [t], [k], [fj, [s], [j], Säo sonoras [+sonoras] as consoantes: [b], [d], [g], [v], [z], [3], [1], w, [r], [í], [R], [m], [n], [p]. Papel das cavidades bucal e nasal. Como as vogais, as consoantes podem ser orais [- nasais] ou nasais [_|_ nasais]. Por outras palavras: na sua emissäo, a corrente expiratória pode passar apenas pela cavidade bucal, ou ressoar na cavidade nasal, caso encontre abaixado o vču palatino. Säo nasais as consoantes [m], [n], [p]: avao, ano, anho. Todas as outras säo orais. 3« BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANE( « 10 Ol M .5 C m « o « O ~ (a cs « a n g 2 e a o O w » + to I £ S •S c «'S gy u + a> n « •4-t -M c4 tí tí *H « § s ä O 5 j3 (A tH > + i « 09 "S t! a tí m k S3 t> o 9 « rt S J h-l + + -SIS s 1« w go 03 s ° CO + tn bi O e o O 00 « ol n O 2 ä a o O n co g 3 .ä .g at n s? n u •o ■a "i3 II a co •o 8 S1 0 1 •s o TJ O 03 co w tí ° S « S ° O entanto apresentar, alem da silaba tónica fundamental, uma ou mais subtónicas. Dizemos, por exemplo, que as palavras decididamente e inacreditavelmenU säo paroxi'tonas, porque sentimos que em ambas o acento básico recai na penúltima silaba (men). Mas percebemos também que, nas duas palavras, as silabas restantes näo säo igualmente átonas. Em decididamente, a silaba -di-, mais fraca do que a silaba -men-, é sem dúvida mais forte do que as outras. Em inacreditavelmenie, as silabas -ere- e -ta-, embora mais débeis do que a silaba -men-, säo sensivelmente mais fortes que as demais. Dai con-siderarmos principal o acento que recai sobre a silaba -men- (nos dois exem-plos) e SECUNDARios os que incidem sobre a silaba -di- (em decididamente) ou sobre as silabas -ere- e -ta- (em inacreditavelmente). Enclise e proclise. Denomina-se énclise a situaeäo de uma palavra que depende do acento tónico da palavra anterior, com a qual forma, assim, um todo fonético, Próclise é a situaeäo contraria: a vineulagäo de uma palavra átona ä pala-' vra seguinte, a cujo acento tónico se subordina. Säo proclíticos, por exemplo, o artigo, as preposicöes e as conjuncóes monossilábicas. Säo geral-mentě enclíticos os pronomes pessoais átonos. Acento de insisténcia. Alem dos acentos normais (principal e secundärio), uma palavra pode receber outro, chamado de insisténcia, que serve para realcá-la em determinado contexto, quer impregnando-a de afectividade (emoeäo), quer dando énfase ä ideia que expressa. Daí distinguirmos dois tipos de acento de insisténcia: o acento afectivo e o acento intelectual. 4. Ortografia LETRA E ALFABETO i. Para reproduzirraos na eserita as palavras da nossa lingua eraprega-jnos um certo numero de sinais gráficos chamados letras. O conjunto ordenado das letras de que nos servimos para transerever os sons da linguagem falada denomina-se alfabeto. z. O alfabeto da lingua portuguesa consta fundámentalmente das seguintes letras: abcdefghijlmnopqtstuvxz Alem dessas, há as letras k, w e j, que hoje só se empregam em dois casos: a) na transericao de nomes próprios estrangeiros e de seus derivados portugueses: Franklin Wagner Byron franklirúano wagneriano byroniano b) nas abreviaturas e nos símbolos de uso internacional: K. (= potassio) kg (= quilograma) km (= quilómetro) W. (= oeste) w (= watt) yd. (= Jarda) Observacäo: O h usa-se apenas: a) no início de certas palavras: haver hoje homem 46 breve gramatica do portugues contemporäneq b) no lim de algumas inter jeicöes: ah I ohl uhl c) no interior de palavras compostas, em que o segundo elemento, iniciado por b, se uae ao prirneiro por meio de hifen: anu-higiénico pré-histórico super-homem d) nos dígrafos ch, lb e nh: chave talho banho NOTAgÓES LÉXICAS Além das letras do alfabeto, servimo-nos, na lingua escrita, de um certo numero de sinais auxiliares, destinados a indicar a pronúncia exacta da palavra. Estes sinais acessórios da escrita, chamados notacôes lexicas, säo os seguintes: O acento. O acento pode ser agudo ('), grave (*) e circunfľexo i. O acento agudo é empregado para assinalar: a) as vogais tónicas fechadas i e u: aí baú horrível aciicar físico lúgubre b) as vogais tónicas abertas e semi-abertas a, e e o: há pé amável tivésseis herói pálido exército inóspito 2. O acento grave 6 empregado para indicar a erase da preposi-cao a com a forma feminina do artigo (a, as) e com os pronomes demonstratives a(s), aqiiek(s), aqmla(s), aqu'tlo: ä äs áquele(s) áquela(s) äquilo ORTOGRAFIA^ 47 j. O acento circunfľexo é empregado para indicar o timbre semi-fechado das vogais tónicas a, e q o: camara. més avô cánhamo déem pôs hispänico fémea O til. O til (~) emprega-se sobre o a e o o para indicar a nasalidade dessas vogais: maca caixôes mae pöe pao sermöes 0 tréma. O tréma (") só se emprega na ortografia em vigor no Brasil, em que assinala o u que se pronúncia nas sílabas gue, gui, que e qui: agücntar argiiicäo cinqüenta tranqüilo O apostrofo. O apostrofo (') serve para assinalar a supressäo de um fonema — geral-mente a de uma vogal — no verso, em certas pronúncias populäres ou em palavras compostas ligadas pela preposicäo de: c'roa pau-ďalho esp'ranca pau-ďarco 'ti beml (popular) galinha-d'água A cedilha, A cedilha (,) coloca-se debaixo do c, antes de a, o e //, para representar a fricativa linguodental surda [s]: cacar práca macico eresco acúcar muculmano breve GRAMÁTICA PO PORTUGUES CONTEMPQRÁNEq O hlfen. O hifen (-) usa-se: a) para ligar os elementos de palavras compostas ou derivadas poj prefixacao: couve-flor guarda-marinha pao-de-16 pre-escolar super-homem ex-director b) para unir pronomes atonos a verbos: ofereceram-me retive-o leva-la-ei c) para, no fim da linha, separar uma palavra em duas partes: estudan-/te estu-/dante es-/tudante Emprego do bifen nos compostos. O emprego do hifen £ simples convencao. Estabeleceu-se que «s6 st ligam por hifen os elementos das palavras compostas em que se mantera a nocao da composicao, isto e, os elementos das palavras compostas que mantem a sua independencia fonetica, conservando cada um a sua pr6prh acentuacao, porem formando o conjunto perfeita unidade de sentido». Dentro desse principio, deve-se empregar o hifen : i.°) nos compostos, cujos elementos, reduzidos ou nao, perderam a sua significacao propria: agua-marinha, arco-iris, pe-de-meia (= peculio), pdra-choque, bel-pra^er, is-stieste; 2.0) nos compostos com o primeiro elemento de forma adjectiva, reduzida ou nao: afro-asidtico, ddlko-louro, gahgo-porfugues, greco-romano, bis-torico-geografico, tnfero-aiiterior, laiino-americano, luso-brasileiro, lusitano-castelbano. 3.0) nos compostos com os radicals (ou pseudoprefixos) auto-, mo-, proto-, psendo- e semi-, quando o elemento seguinte comeca por vagal, b, r ou s: aiito-educacao, auto-retrato, auto-sugestao, neo-escoldstica, neo-humanismo, mo--republicano, proto-drico, proto-bistSrko, proto-renascenca, proto-suljureto, pseudo--herdi, psei/do-revelafao, pseudo-sdbio, semi-homem, semi-recta, semi-selvagem; 4.0) nos compostos com os radicals pan- e mal-, quando o elemento seguinte comeca por vagal ou h: pan-americano, pan-be lenico, mal-educado, mal -bttmorado; nos compostos com bem, quando o elemento seguinte tem vidi autonoma, ou quando a pronuncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurat^a; or.tografia 6.°) nos compostos com sem, alem, aquém e recém: sem-cerimónia, além--/fiar, aquém-fronteiras, recém-casado. Advirta-se, por fim, que as abreviaturas e os derivados desses compostos conservam o hífen: ten.-cß {= tenente-coronel), pára-qutdista, bem--te-vivfinho, sem-cerimonioso. Emprego do hífen na prefixacao. O prefixo esereve-se geralmente aglutinado ao radical. Há casos, porém, em que a ligaeäo dos dois elementos se deve fazer por hífen. Assim, nos vocábulos formados pelos preíixos: a) contra-, extra-, infra-, intra-, supra- e ultra-, quando seguidos de iadical iniciado por vagal, b, r ou s: contra-almirante, extra-regimental, infra--escritOrintra-hepátho, supra-sumo, ultra-rápido; exclui-se a palavra extraordinary, cuja aglutinacáb está consagrada pelo uso; b) ante-, anti-, arqui- e sobre-, quando seguidos de radical principiado por b, r ou j; ante-histórico, anti-higiínko, arqui-rabino, sobre-saia; c) super- e inter- quando seguido de radical comecado por h ou r: super-homem, super-revista, inter-helénico, inter-resistente; d) ab-, ad-, ob-, sob- e sub-, quando seguidos de radical iniciado por r: ab-rogar, ad-rogafäo, ob-reptkio, sob-roda, sub-reino; e) sota-, sota-, vice- (ou vi\o~) e ex- (este ultimo com o sentido de ces-samento ou estado anterior): sota-piloto, soto-ministro, vice-reitor, vi^o-rei, ex-director; f) ps~> pré- e pro, quando tém significado e acento próprios; ao contrario das formas homógrafas inacentuadas, que se aglutinam com o radical seguinte: pós-dilmiano, mas pospor; pré-escolar, mas preestabelecer; pró-britů-nico, mas proconsul. Emprego do hifen com as formas do verbo haver. Em Portugal, a ortografia oficialmente adoptada impöe o emprego do hífen entre as formas monossilábicas de haver e a preposicäo de: hei-de, bás-de, há-de, häo-de. No Brasil, näo se usa nestes casos o hífen, escrevendo-se: bei de, has de, bá de, häo de. Particäo das palavras no fim da linha. Quando näo há espago no fim da linha para escrevermos uma palavra inteira, podemos dividi-Ja cm duas partes. Esta separaeäo, que se indica BG-4 5° BREVE GRAIíATICA DO TfORTUGUES CONTEMPORÄNErj por mcio de ura hífen, obedece äs regtas de silabacäo. Säo insepatáveis os elcmeňtos de cada sílaba. Convém, portanto, serem respeitadas as seguintes normas: Näo se separam as letras com que representamos: a) os ditongos e os tritongos, bem como os grupos ťa, ie, to, oa, na, tie e uo, que, quando átonos finais, soam normalmente numa sílaba (ditongo CRESCENte), mas podem set pronunciados em duas (hiato) : au-ro-ra mui-to par-tiu a-guen-tar Pa-ra-guai gló-ria cá-rie Má-iio ma-goa lé-gua té-mie con-tí-guo b) os encontros consonantais que iniciam sílaba e os dígrafos ch, lb e nh: pneu-ma-ti-co psi-có-lo-go mne-mó-ni-co a-bro-lhos es-cla-re-cer re-gre-dir ra-char fi-lho ma-nhä 2.a) Separam-se as letras com que representamos: a) as vogais de hiatos: co-or-de-nar ca-í-eis fi-el mi-ú-do ra-i-nha sa-ú-de b) as consoantes seguidas que pertencem a sílabas diferentes: ab-di-car abs-tra-ir bis-ne-to oc-ci-pi-tal sub-ju-gar subs-cre-ver j.a) Separam-se também as letras dos dígrafos rr, ss, sc, sf e xe: ter-ra pro-fes-sor des-cer abs-ces-so cres-ca ex-ce-der Observances: i.* Quando a palavra j á se escreve com hífen —quer por ser composta, qucr por ser uma forma verbal seguida de prortome átono —, e coincidir o fim da linha com o lugar onde cstá o hífen, pode-sc icpeci-lo, por clareza, no início da linha seguiate. Assím: couve = couve-/-flor unamo-nos = unamo-/-nos ortografia 51 2» Embora o sistema ortográfico vigente o permita, näo se deve escre-ver no princípio ou no fim da linha uma só vogal. Evite-se, por conseguintc, a particäo de vocábulos como água, al, aqui, baú, rua, etc. Melhor será também que se dividarn vocábulos como abrasar, agtisntar, agradar, eqttidade, ortografia, pavio e outros apenas nos lugares indicados pelo hífen: abra-sar ecjui-da-de aguen-tar or-togra-fia agra-dar pa-vio Ditongos. Vimos no capítulo anterior que, normalmente, se representam por / e u as sernivogais dos ditongos orais: Observe-se, porém, que: a) a i.a, 2.3 e 3.° pessoa do singular do presente do conjuntivo, bem como a }.a pessoa do singular do imperativo dos verbos terminados em -oar escrevem-se com -oe, e näo -oi: abencoe amaldicoes perdoe b) as mesmas pessoas dos verbos terminados em -uar escrevemrse com-»ŕ, e näo -m: cultue habitues preceitue REGRAS DE ACENTUACÄO A acentuacäo gráfica obedece äs seguintes regras: i.a) Assinalam-se com o acento agudo os vocábulos oxítonos que tcrminam em a aberto, e e o semi-abertos, e com acento circunflexo os que acabam em e e o setnifechados, seguidos, ou näo, de s: cajá, bás,jacaré, pe's, serídó, sás; dendi, lés, trisavô; etc. Observacäo: Nesta regra se incluem as formas verbais em que, dcpois dc a, e, o, se assi-milaram o r, o j e o ^ ao / do pronome lo, la, los, las, caindo dcpois o pri-mciro /: dá-lo, conlá-la, fá-lo-á, fé-Ios, movc-las-ia, pô-ios, qtté-ks, sabé-los-emos, trá-lo-ás, etc. BREVE GRAMÁrrCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO ORTOGRAFIA 53 2. a) Todas as palavras proparoxítonas devem ser acentuadas grafi-camentc: rcccbem o acento agudo as que tém na antepenúltima sJlaba as vogais a abcrta, e ou o semi-abertas, i ou //; e levam acento circunflexo aque-las em que figúram na sílaba predominante as vogais a, e, o semifechadas: ára be, exército, gůtko, límpido, loitvaríamos, publico, úmbrko; iámina, lämpada, devíssemos, lém/ires, pendula, fôlego, ncôndito, etc. Observances: i.a Incluem-se neste preceito os vocábulos terminados em encontros vocá* licos que costumam ser pronunciados como ditongos crescentes: area, espon-täneo, ignorancia, imundkie, lirio, tnágoa, regno, vacuo, etc. z'.a Nas palavras proparoxítonas que tém na antepenúltima sílaba as vogais a, e e o seguidas de m ou n, estas säo, no portugués-padräo do Brasil, sempře semifechadas (em geral nasalizadas), razäo por que levam acento circunflexo. No portugués-padräo de Portugal podem ser ou semifechadas ou semi-aber-tas, pelo que a ortografia em vigor manda que se Ihes ponha acento circunflexo, se säo semifechadas, e acento agudo, se semi-abertas. Por isso, de acordo com a pronúncia-padräo, eserevem-se no Brasil: ämago, änimo, fémea, sémola, eßmoro e, da mesma forma, académico, anémona, cénico, Ama^pnia, Antonio, fenoména, qtdlómetro; ao passo que em Portugal, também de acordo com a pronúncia-padräo, se adoptam as grafias ámago, ánimo, ßmea, sémola, Comoro, mas acaděmico, anémona, cénico, Anm^ónia, Antonio, fenómeno, quilómetro. 3. a) Os vocábulos paroxítonos finalizados em / ou u, seguidos, ou näo, de s, marcam-se com acento agudo quando na silaba tónica figurám a aberto, e ou s semi-abertos, / ou //: lápis, béribéri, miosótis, íris,jtíri. Observa§öcs: i.a Paralelamente ao que ocorre com as palavras proparoxítonas, nas palavras paroxitonas que tém na penúltima sílaba as vogais a, e c o seguidas dc //; ou n, estas säo, no portugués-padräo do Brasil, sempře semifechadas (em geral nasalizadas), pelo que levam acento circunflexo. No portugués-padtäo de Portugal podem ser ou semifechadas ou semi-abertas, pelo que recebem acento circunflexo, se säo semifechadas, e acento agudo, se semi-abertas. Estas as razöcs por que se adoptam, no Brasil, as grafias amis, certämen, e também fimiir, Fénix, tenis, onus, bonus; ao passo que, em Portugal, se escrevem anus, certňmen, mas Jéninr, Fénix, tenis, anus, bonus. z.a Enttc as palavras paroxitonas, cumpre ressaltar o caso da lApessoa do plural dos verbos da i.a conjugaeäo, que, no presente e no pretérito perfeito do indicativo, aprcsentam a tónico scguido de m. No portugués-padräo do Brasil (c cm vários dialectos Portugueses meridionals) a vogal é igualmente semifechada nos dois tempos, enquanto no portugués-padräo de Portugal ela é semifechada no presente e aberta no pretérito perfeito do indicativo. Assim sendo, nenhuma das formas é acentuada no Brasil, ao passo que, pelo sistema ortográfico portugués, recebe acento agudo a forma do pretérito perfeito: amamos (presente), amámos (pretérito perfeito). 3» Também no portugués-padrao do Brasil a forma démos pronuncia-se com e semifechado [e], seja ela i.a pessoa do presente do conjuntivo ou do pretérito perfeito do indicativo, razäo por que näo recebe nenhum acento gráfico. Já no portugués-padrao europeu, a vogal é semifechada no presente do conjuntivo _[e] e semi-aberta no pretérito perfeito do indicativo [e], pelo que a ortografia portuguesa manda apor-lhe um acento agudo no segundo caso. Daí as grafias démos (presente do conjuntivo) e démos (pretérito perfeito do indicativo). 4. a As palavras paroxitonas terminadas em -oo, apesar de térem a mesma pronúncia em todo o doininjo do idioma, näo säo acentuadas graficamente no portugués de Portugal, ao passo que nó portugués do Brasil recebem um acento circunflexo no primeiro o. Assim: enjoo, voo (em Portugal), en/So, vůo (no Brasil). 5. a^-Tanto em Portugal como no Brasil emprega-se o acento circunflexo sobre a vogal tónica semifechada da forma půdě, do pretérito perfeito do indicativo, para dístingui-la de pode, do presente do indicativo, com vogal tónica semi-aberta. 6. a Pelos sistemas ortográficos vigentes nos dois palses, os paroxítonos terminados em -um, -uns recebem acento agudo na sílaba tónica: album, álbuns, etc. 7-a Também é comum aos dois sistemas ortográficos näo se acentuarem os pseudoprefixos paroxítonos terminados em -/: semi-opcial, etc. 4-a) Pöe-se acento agudo no i e no u tónicos que näo formám ditongo com a vogal anterior: al, balaústre, cafeína, cafs, contraí-la, distribuí-lo, egoísta, faísca, heroina, juí%o, pais, peúga, saia, saítdc, timboíwa, vii'wo, etc. Observacoes: 1. a Näo se coloca o acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles näo forma ditongo, säo seguidos de /, n, r ou % que näo ini-ciam sílabas e, ainda, nh: adail, contribuinte, demiurga, Jui%, paul, retribuirdes, ruim, ventoinha, etc. 2. a Também näo se assinala com acento agudo a base dos ditongos ■ tónicos in e ui quando precedidos de vogal: atraiu, contribuiu, pauis, etc. 5. a) Assinala-se com o acento agudo o u tónico precedido de g ou q c seguido de e ou /: argúi, argúis, averigúe, averigúes, oblique, obliques, etc. 6. a) Pöe-se o acento agudo na base dos ditongos semi-abertos éi, éu, ói, quando tónicos: bacbaréis, chapéit, jibóia, lóio, paranóico, rouxinóis, etc. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNErji ObservacSo: No portugués-padrao do Brasil distínguem-se na pronúncia dois grupos dc palavras tereriinadas em -eta: um em que a vogal é semi-aberta e vetn marcada com acento agudo: assembléia, hebréia, idiia; ourro em que a vogal é semifechada e» por conseguinte, nao se acentua graficamente: feia, meia, pas-seia. No portuguěs-padrao de Portugal nao se diferenciarn fonicamente estes dois grupos de palavras, tazao por que o e aunca vem acentuado. O ditongo neste caso é sempře pronunciado [aj]. ■j*) Marca-se com o acento agudo o e da terminacao em ou ens das palavras oxítonas: alguém, arma^ém, convém, convéns, detim-lo, mantém-na, para-bens, retém-no, também, etc. Obs,ervacoes: 1.» Náo se acentuam graficamente os vocábulos paroxítonos finalizados por em ou ens: ontem, yttagens, Jovens, nuvens, etc. z.a A tetceira pessoa' do plural do presente do indicativo dos vetbos ter, vir e seus compostos recebe acento rircunftexo no e da silaba tónica: (eles) content, (elas) convittt, (eles) tern, (elas) vim, etc. 3» Conserva-se, por clareza gráfica, o acento circunflexo do singular crtt de, U, ve no plural créem, deem, iiet/t, véem e nos compostos desses verbos, como descréem, desďeem, reliem, revkm, etc. 8. a) Sobrepoe-se o acento agudo ao a aberto, ao e ou o semi-abertos e ao i ou u da penúltima silaba dos vocábulos paroxítonos que acabam em I, n, r e. x; e o acento circunflexo ao a, e e o semifechados: acúcar, afável, alú-men, cortex, éter, hífen, aljófar, ámbar, tánon, íxul, etc. Observac3o: Nao se acentuam graficamente os prefixos paroxítonos terminados em r: ittter-humatto, sttper-homem, etc. 9. a) Marca-se com o competente acento, agudo ou circunflexo, a vogal da sílaba tónica dos vocábulos paroxítonos acabados em ditongo oral: ágeis, devireis, escrcvesseis, faríeis, férteis, fósseis, fůsseis, imóveis, jóquei, pé/iscis, pnsésseis, qnisésseis, tinbeis, tthicis, títcis, variáveis, etc. 10. a) Usa-sc o til para indicar a nasalizacao, e vale como acento tónico se outro acento nao figura no vocábulo: afa, capitaes, coraffio, devopes,poem, etc. nftTOGRAPIA____ 5; Obser vacäo: Se é átona a silaba onde figúra o til, acentua-se graficamente a predominante: ucórdäe, béncäo, árfä, etc. íl a) No Brasil, de acordo com a ortografia oficial em vigor, empre-ga-se o trema no » que se pronuncia depois de g ou q e seguido de e ou i: agmntar, argiiicao, eloquente, tranqňilo, etc. Em Portugal, o emprego do trema foi abolido em todos os casos a partir do acordo ortográfico de 1945. 12. a) Recebem acento agudo os seguintes vocábulos que estäo em iiomografia com outros: ás (s. m.), cf. its (contr. da prep, a com o art. ou pron. as); pára (v.), cf. para (prep.); péla, pélas (s. f. e v.), cf. pela, pelas (agl. da piep- Per com 0 ait- ou pron. la, las); pe'k (v.) cf. pelo (agl. da prep, per com o art. ou pron. h)\ péra (el. do s. f. comp, péra-fita), cf. pera (prep, íint); pólo, pólos (s. m.), cf. polo, polos (agl. da prep, por com o art. ou pron. k, los); etc. 13. ») O acento grave assinala as contraccöes da preposicäo a com o artigo a e com os pronomes demonstrativos a, aquele, aquelotitro, aqtiilo, as quais se escreveräo assim: a, as, aquele, aqttela, aquehs, äqtteles, aqtiilo, aquelotitro, aqueloutra, aqueloutros, äqueloutras. DIVERGÉNCIAS ENTRE AS ORTOGRAFIAS OFICIALMENTE ADOPTADAS EM PORTUGAL E NO BRASIL Alem das divergéncias atrás mencionadas que dizem respeito ao emprego do trema, do hifen e, principalmente, da acentuacäo — divergéncia esta que, como vimos, corresponde, em geral, ä diversidade de pronúncia de certas vogais tónicas —, persiste ainda uma importante diferenca entre os sistemas ortográficos oficialmente adoptados em Portugal 1 e no Brasil: o tratamento das chama'das «consoantes mudas». No Brasil, por disposicäo do Formt/lário Ortográfico de 1943, as consoantes etimológicas finais de sílaba (implosivns), quando näo articuladas —ou ' Bm Portugal, a ortografia oficialmente adoptada é a do Accr/to Qrlogrdfiw dc 1945, assinado cm Lisboa, a 10 de Agosto de 194$, por uma ComissSo composia de mcmbros da Academia das Cičncias dc Lisboa e da Academia Brnsileira de Letras. Essc Acardo niio entrou cm vigor no Brasil por näo tec sido ratificado pelo Congrcsso Nacionál. 2 No Brasil vigornm oficialmente as normas do Formiil/lrio Ortográfico de 1943, consubs- BRKVE GRAMÁTICA do portügues CONTEMPORÁNEq: sej a, quando «mudas» — deixaram de se escrever. Em Portugal, no entanto, em conformidade com o texto do Acordo de 1945, continuaram a ser gráfa, das sempre que se seguem äs vogais átonas a (aberta), e ou 0 (semi-abertas), como forma de indicar a abertura dessas vogais3- Por uma razäo de coe, réncia, mantém-se tais consoantes em sílaba tónica nas palavras pertencen, tes a mesma família ou flexäo. Essa forma de distinguir, no portugués europeu, as pretónicas aber-tas ou semi-abertas das reduzidas, näo se justifica no portugués do Brasil, em cuja pronúncia-padräo näo há pretónicas reduzidas, tendo-se as vogais nesta posicäo neutralizado num a aberto e num e ou num 0 semifechados. Dai escrever-se em-Portugal: acto, acfäo, accionar, accionista, baptismo, bapfc %ar, director, correcto, correcfäo, optima, opHmismo, adoptar, adopfäo; e no Bra. sil: ato, aßo, acionar, acionista, batismo, baü^ar, diretor, correto, corregäo, ótimol otimismo, adotar, adoßo. Existe, no entanto, um certo numero de palavras em que a consoante final de sílaba é articulada tanto em Portugal como no Brasil e, nesse caso, a ortografia dos dois países é uniforme. Assim: autôctone, compacte, apt^ ineplo, etc. Rarissimos säo os exemplos que se apontam em que esta consoante í efectivamente pronunciada em Portugal e näo no Brasil, como facto (em Portugal) e Jato (no Brasil). Finalmente, há casos em que se verifica uma oscilaeäo em ambas as variantes do portugués e nos quais a ortografia brasileira (e näo a portu-guesa) admite grafias duplas: aspecio j aspeto, dactilografia / datilografia, infec-fäo I infefao, etc. 5. Classe, estrutura e forma^ao de palavras Palavra e morféma. i. Uma lingua é constituída de um conjunto infinito de frases. Čada uma delas possui uma face sonora, ou seja a cadeia falada, e urna face significa-tiva, que corresponde ao seu conteúdo. Uma frase, por sua vez, pode ser dividída em unidades menores de som e signifieado —as palavras — e em unidades ainda menores, que apresentam apenas a face significante — os fonemas. As palavras säo, pois, unidades menores que a frase e maiores que o fonema. Assim, na frase Évora! Ruas ermas sob os céus Cor de violetas roxas... (Fiorbela Espanca, S, 149.) distinguimos dez palavras, todas com independéncia ortográfica. E em cada urna dessas palavras identificamos um certo numero de fonemas. Por exem-plo, cinco em Évora: M M joj /r/ /a/, e quatro em ruas: w H N M tanciadas no Vocabulitio Orlog/rdfico, publicado no mesmo ano, com as leves alteracoes detcrmi-nadas pcta Lei n.° 5 76J, de 18 de Dezcmbro dc 1971. 3 Hit, porcm, no portuguca-padrao de Portugal vogais prccinicas, provenientes de antiga erase, que conscrvam o timbre abcrto ([a]) ou scmi-aberto ([c], [d]), sem que o facto scja assinalado na cscrira. Assim: podiiro, ptgada, carat. 2. Existem, no entanto, unidades de som e conteúdo menores que as. palavras. Assim, em ruas temos de reconhecer a existencia de duas unidades significativas: ma e -s. O primeiro elemento —ma— também se emprega como palavra isolada ou serve para formar outras palavras iso-ladas: arritafa, arruamento, etc. Já a forma plurál -s, que vai aparecer no final breve gramática do portugués contemporáneo de muitas outras palavras [ermas, céus, violetas, roxas, etc.), nunca podetá realizar-se como palavra individual, autonoma, A essas unidades significativas mínimas dá-se o nome de morfemas, 3. Os morfemas podem apresentar variacäo, por vezeš acentuada, nas suas realizacöes fonéticas. É o caso do morféma plural do portugués, cuja pronúncia está sempře condicionada ä natureza do som seguinte. Nos falares de Lisboa e do Rio de Janeiro, por exemplo, o -s plural de cases assume forma fonética diferente em cada um dos trés enunciados; Casas amarelas. Casas bonitas. Casas pequenas. Realiza-se: d) como [z], ao ligar-se ä vogal iniciál da palavra amarelas; b) como [3], antes da palavra bonitas, iniciada por consoante sonora; c) como [f], antes da palavra pequenas, iniciada por consoante surda. A ultima realizacäo [f] é também a que apresenta o morféma de plural diante de pausa, como podemos observar nas formas amarelas, bonitas c pequenas dos exemplos citados. A essas manifestacöes fonéticas diferentes de um único morféma dá-se o nome de variante de morféma ou alomorfe. Tipos de morfemas 1. Quando, na análise da palavra mas, distinguimos dois morfemas, observamos que um deles — rua — forma por si só um vocábulo, enquanto o morféma -s näo tem existencia autonoma, aparecendo sempře ligado a um morféma anterior. Os linguistas costumam chamar morfemas ltvres qs que podem figurar sozinhos como vocábulos, e morfemas presos aqueles que näo se encontram nunca isolados, com autonómia vocabular. 2. Quanto ä natureza da significacäo, os morfemas classificam-se em lexicais e gramaticais. Os morfemas lexicais tém significacäo externa, porque referente a factos do mundo extralinguístico, aos símbolos básicos de tudo o que os falantes distinguem na realidade objectiva ou subjectiva. Assim: Évora céu roxa tristcza erma cor rua violeta classe, estrutura e formacäo de palavras jo Já a significacäo dos morfemas gramaticais é interna, pois deriva das rclacóes e categorias levadas em conta pela lingua. Assim, na nossa frase-.exemplo, o artigo o, as preposicôes de e sob, a marca de feminino -a (rox-a, tnti-a) e a de plural -s (rua-s, erma-s, o-s, céu-s, violeta-s, roxa-s). 3. Outras caracteristicas, näo semánticas, opôem os morfemas lexicais aos gramaticais. Aqueles säo de numero elevado, indefinido, em vir-tude de constituírem uma classe aberta, sempre passível de ser acrescida de novos elementos; estes pertencem a urna série fechada, de numero defi-uido e restrito no idioma. Consequentemente, se os examinarmos num dado texto, verificaremos que os primeiros apresentam frequéncia média baixa, em contraste com a frequéncia média alta dos últimos. Classes de palavras. 1. Estabelecida a distinclo entre morféma lexical e morféma grama-tical, podemos agora relacionar cada um deles com as classes de palavras. Säo morfemas lexicais os substantivos, os adjectivos, os verbos e os advérbios de modo. Säo morfemas gramaticais os artigos, os pronomes, os numerais, as preposicôes, as conjuncôes e os demais advérbios, bem como as formas indicadoras de numero, género, tempo, modo ou aspecto verbal. 2. As classes de palavras podem šer também agrupadas em varia-veis e invariáveis, de acordo com a possibilidade ou a impossibilidade de sc combinarem com os morfemas flexionais ou desinéncias. Säo variáveis os substantivos, os adjectivos, os artigos e certos numerais e pronomes, que se combinam com morfemas gramaticais que expressem o género e o numero; o verbo, que se liga a morfemas gramaticais deno-tndores do tempo, do modo, do aspecto, do numero e da pessoa. Säo invariáveis os advérbios, as preposi$5es, as conjunfôes e certos pronomes, classes que näo admitem se lhes agregue uma desinéncia. A interjeicäo, vocábulo-frase, fica excluída de qualquer das classifi-cacôes. ESTRUTURA DAS PALAVRAS Radical. Ao que chamámos até agora morféma lexical dá-se tradicionalmente fio BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEQ o nome de radical. É o radical que irmana .is palavras da mesma família e lhes trnnsmite uma base comum de signiŕícacäo. A ele se agregam, como vimos, os morfemas gramaticais, que podem ser uma desinéncia (ou morféma flexional), um afixo (ou morféma derivacional) ou uma vogal temática. Desinencia. As desinencias, ou morfemas flexi on Ais, Servern para indicar: a) o genero e o nümero dos substantivos, dos adjectivos e de certos pronomes; b) o nümero e a pessoa dos verbos. Assim, no adjectivo ermas e numa forma verbal como renovamos, temos as seguintes desinencias: -a, para caracterizar o feminino (em ermas); -s, para denotar o plural (em ermas); -mos, para expressar a 1.» pessoa do plural (em renovamos). Hä, por conseguinte, em portugues desinencias nominais e desinen- CIAS VERBAIS. Aüxo. Os afixos, ou morfemas derivacionais, säo elementos que modifi-cnm geralmente de mnneira prerisa o sentido do radical a que se agregam. Os afixos que se antepoem ao radical chamam-se prefixos; os que a clc sc pospöem dcnominam-se sufixos. Assim, em desterrar e renovamos aparecem os prefixos: des-, que empresta ao primciro verbo a ideia de separacäo; re-, que ao segundo acrescenta o sentido de repeticäo de um facto. Os sufixos, como as desinencias, unem-se ä parte final do radical, Mas, cnquanto cstas caracterJzam apenas o género, o numero ou a pessoa da palavra, sem Ihe altcrar o sentido lexical ou a classe, os sufixos trans-formám substancialmcnte o radical a que se juntám. Assim, em terroso, tet- CLASSE, ESTRUTURA E FORMACAO DE PALAVRAS 61 reiro, novinbo e novamente, encontramos os sufixos : -oso, que do substantivo terra forma um adjectivo (terroso); -eiro, que do substantivo terra forma outro substantivo (terreiro); -inho, que do adjectivo novo forma um diroinutivo (novinho); -mente, que do ferninino do adjectivo novo forma um adverbio (novamente). Vogal temática. Na análise da forma verbal renovamos, distinguimos trés elementos forma« vos: a) o radical: nov- b) a desinéncia nomero-pessoal: -mos c) o prefixo: re- Falta identificatmos apenas a vogal a, que aparece entre o radical nov-c a desinéncia -mos, vogal que encontramos também na forma de infinitivo fumar, entre o radical fum- e a desinéncia -r. Nos dois casos, vemos, ela está indicando que os verbos em causa per-tencem i i.1 conjugaeäo. A essas vogais que caracterizam a conjugaclo dos verbos dá-se o nome de vogais temáticas. Säo eias: -a-, para os verbos da i.a conjugaeäo (fr/m-a-r, renov-a-mos); -e-, para os da 2.a (dev-e-r, faz-e-mos); -i-, para os da 3.» (part-i-r, constru-í-mos). O radical acrescido de uma vogal temática, isto é, pronto para receber uma desinéncia (ou um sufixo), denomina-se tem a. Vogal e consoante de ligacao. Os elementos mórficos até aqui estudados entram sempře na estrutura do vocábulo com determinado valor significativo externo ou interno. Há, porém, outros que sao insignificativos, e servem apenas para evitar disso-náncias (hiatos, encontros consonantais) na juntura daqueles elementos. Se examinarmos, por exemplo, os vocábulos gasómetro e cafeteira, veri-ficamos que: a) o primeiro é formado de dois radicais —gás- + -metro—, Iigados 6i breve gramática do portuguěs CONTEMPORÄNE0 pela vogal -o-, sem valor significativo; b) o segundo é constituido do radical café- + o sufixo -eira, entre os quais aparece a consoante insignificativa -t- para evitar o desagradável hiato -éé-. A esses sons, empregados para tornar a pronuncia das palavras mais fácil ou eufónica, dá-se o nome de vogais e consoantes de ligacao. FORMA£AO DE PALAVRAS Palavras primitivas e derivadas. Chamam-se primittvas as palavras que nao se formam de nenhuma outra e que, pelo contrário, permitem que delas se originem novas palavras no idioma. Assim: fumo novo pedra Denominam-se dertvadas as que se formam de outras palavras da lingua, mediante o acréscimo ao seu radical de um prefixo ou um sufixo. Assim: fumoso defumar marinha rriarear novinho renovar pedreiro empedrar Palavras simples e compostas. As palavras que possuem apenas um radical, sejam primitivas, sejam derivadas, denominam-se simples. Assim: marinha pcdra pedreiro pedreiro-livre vaivém Säo compostas as que contěm mais de um radical: qucbra-mar guarda-marinha pcdra-sabäo aguardente pernalta pontapé FAMÍLIAS DE PALAVRAS Denomina-se família de palavras o conjunto de todas as palavras que se agrupam em torno de um radical comum, do qual se formaram pelos processos de derivacáo ou de composicao que estudaremos desenvolvida-mente no Capitulo seguinte. 6. Derivajäo e composifäo DERIVACÄO PREFIXAL Os prefixos que aparecem nas palavras portuguesas säo de origem latina ou grega, embora normalmente näo sejam sentidos como tais. Alguns sofrem apreciáveis alteracôes em contacto com a vogal e, prin-cipalmente, com a consoante iniciál da palavra derivante. Assim, o prefixo grego an-, que indica «privacäo» (an-ónimo) assume a forma a- antes de consoante: a-patia; in-, o seu correspondente latino, toma a forma i-antes ie I e in: in-feli^, in-activo; mas i-hgal, i-moral. Näo se devem confundir tais alteracôes com as fotm-u vernáculas, oriundas de evolucäo normal de certos prefixos latinos. Assim: a-, de ad-(a-dofar); em- ou en-, de in- (em-barcar, en-terrar). Na lista a seguir, colocaremos em chave as formas que pode assumir o niesmo prefixo: em primeiro lugar, daremos a forma originária; em ultimo, a vernácula, quando a houver. Prefixos de oxigem latina. Prefixo Semido Exemplifies! cäo ab- abs- a- ad- a- (ar-, as-) ante- circum-(circun-) cis- If abdicar, abjurar afastamento, separacäo.................. i abater, abstrair [ amovível, aversäo },. f adjunto, advcntício aproximacao, direccao.................. | assentir anterioridade.............................. antebraco, antcpor 1 - ^ circum-adjacente, circun- \ movimento em torno.................. ' posicäo aqucm ........................... cisalpino, cisplatino 64 BREVE GRAmXtICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO Prefixo Sentido Exemplifi cacao com- (con-) co- (cot-) contra- dc- des- dis- di- (dir-) cntre- ex- es-e- extra- In-1 (im-) i- (if-) em- (en-) in-2 (im-) i- (it-) jntra- intro- justa- ob- o- per-pos-pre-pro-re- retro- soto-aota- sub-sus- 8U- Bob- 80- super-sobre- J contiguidade, companhia. oposigäo, accäo conjunta ............ movimento de cima para baixo...... separagäo, accäo contraria ............ sepaxacäo, movimento para diversos kdos, negacäo ........................ posicäo intermediária .................. movimento para fora, estado anterior ....................................... posicäo exterior (fora de) ............ movimento para dentro negacäo, pnvacao posi^ao interior......... movimento para dentro posicäo ao lado ......... posicäo em frente, oposicäo .... movimento através................ posterioridade ...................... anterioridade......................... movimento para a frente ....... movimento para trás, repericäo movimento mais para trás....... posicäo inferior movimento de baixo para cima, in-fcrioridade .............................. posicäo em cima, excesso compor, confer cooperar, corroborar contradizer, contra-selar decair, decrescer desviar, desfazer dissidente, distender dilacerar, dirimir entreabrir, entrelinha exportar, exttair escorrer, estender emigrar, evadir extra-oficial, extraviar ingerir, impedir imigrar, irromper embarcar, enterrar inacrivo, impermeável ilegal, irrestrito intradorso, intravenoso introversäo, intrometcr justapor, justalinear objecto, obstáculo ocorrer, opor percorrer, perfurar pospor, postónico prefácio, pretónico progresso, prosseguir refluir, refazer retroceder, retrospectivo soto-mestre, sotopor sota-vento, sota-voga subir, subalterno suspender, suster suceder, supor sobcstar, sobpor soerguer, soterrar superpor, superpovoado sobiepor, sobrecarga pBRIVACÄO E COMPOSICÄO 65 Prefixo Sentido Excmplificacäo Bupra- trans- tras- tres- ultra- posicäo acima, excesso.................. supradito, supra-sumo ,, . . _ f transpor, transalpino movimento para alem de, posicäo ^ ÜAS?Jszr alem de.............,................... I ^ - „ [ tresvanar, tresmalhar posicäo alem do limite ............... ultrapassar, ultra-som vice-reitor, vice-consul visconde, vizo-rei vis-~(vizo-) } substituiclo, em lugar de ............ j J[ prefixo8 de origem grega. Eis os principais prefixos de origem grega com as formas que assu-mem em portugués: Prefixo Sentido Exemplificacäo an- (a-) aná- anfi-anti-apó- árqui- (arc arque-, arce> catá- U) diá- (di-) dis- ec- (ex-) en- (em-, e-) endo- (end-) epi- eu- (ev-) pnvacäo, negacäo..................... accäo ou movimento inverso, repe-ticäo ....................................... de um e outro lado, em torno......... oposicäo, accäo contraria............ afastamento, separacäo ............... superioridade.............................. movimento de cima para baixo, oposicäo ................................. movimento atravds de, afastamento dificuldade, mau estado.................. movimento para fora .................. posicäo interior ........................ posicäo interior, movimento para dentro .................................... posicäo superior, movimento para, posterioridade........................... bem, bom ................................. hiper- posicao superior, excesso .......... hipó- posicáo inferior, escassez .......... metá- (met-) posterioridade, mudanca............. pará- (par-) proximidade, ao lado de............. peri- posicao ou movimento em torno. pró- posicžo em frente, anterior ....... sin- (sim-, si-) simultaneidade, companhia........... anarquia, ateu anagrama, anáfora anfíbio, anfiteatro antíaéreo, antipoda apogeu, apóstata arquiduque, arcanjo arquétípo, arcebispo catadupa, catacrese diagnóstico, diocese dispneia, disenteria eclipse, éxodo eneáfalo, emplastro, elipse endotérmico, endosmose epiderme, epllogo eufónia, evangelho hipérbole, hipertensäo hipodérmico, hipotensäo metacarpo, metátesc paralogismo, paramnesia perlmctro, perlfrasc prólogo, prognóstico sinfonia, simpatia, sílaba 66 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNE0 OERIVACÄO E COMPOSICÄO 67 DERJVACÄO SUFĽSAL Pela derivacäo sufixal formaram-se, e ainda se formam, novos subs-tantivos, adjectivos, verbos e, até, advérbíos (os advérbios em -mentě). Dal ckssificar-se o sufixo em: a) nominal, quando se aglutina a um radical para dar origem a um substantivo ou a um adjectivo: pont-eita, pont-ivňaa, pont-xAo; b) verbal, quando, ligado a um radical, dá origem a um verbo: bord-e)at, suav-xcAt, amanh-ecez; c) adverbial, que é o sufixo -mentě, acrescentado ä forma feminina de um adjectivo: bondosa-metite, fraca-tnente, perigosa-mente. Sufixos nominais. Entre os sufixos nominais, mencionaremos em primeiro lugar os sufixos AUMENTATivos e DiMiNUTivos, cujo valor é mais afectivo do que lógico. Sufixos aumentativo8. Eis os principals sufixos aumentativos usados em portugués: Sufixo Exemplificagäo Sufixo Exemplificagäo -äo caldeiräo, paredäo -anzil corpanzil -alhao grandalhäo, vagalhäo -areu fogaréu, provaréu -(z)arräo gatarräo, homenzarräo -arra bocarra, naviarra -ciräo asneiräo, toleiräo -orra beigorra, cabegorra -aga barbaca, barcaca -astro medicastro, poetastro -ago animalago, ricago -az lobaz, roaz -ázio copázio, gatazio -alhaz facalhaz -uca dentuga, carduga -arraz. pratarraz Obscrvacoes: 1P Ncm sempře o sufixo aumentativo se junta ao radical de um substantivo. HA dcrivagócs feitas sobre adjectivos (ricaco, de rico; sabichUo, de sábio) e tam-bém sobrc radicais verbais [eborao, de eborar; mandao, de mandar). z." Nos aumentativos cm -So, o gčnero normál é o masculino, mesmo quando a pakvta deri vaňte c femiaina. Assim: uma mulher—um mtilhtrdo; a easa — o casaräo. Só os adjectivos fazem diferenca entre o masculino e o feminino, diferenga que, naturalmente, conservam quando substantivados: c/jorSo— cho-rona; solteirao — solteirona. Sufixos diminutívos. Säo estes os principals sufixos diminutívos empregados em portugués: Sufixo Exemplificacäo Sufixo Exemplificacäo -inho,--a toquioho, vozinha -elho, a 1 folhelho, rapazelho -zinho, -a cäozinho, ruazinha -ejo animalejo, lugarejo -ino, -a pequenino, eravina -ilho, -a J pecadilho, tropilha -im espadim, fortim artiguete, lembrete -etc -acho, -a fogacho, riacho -eto, -a esboceto, saleta -icho, -a . governícho, barbicha -itö, -a rapazito, casita -ucho, -a papelucho, casucha -žito, -a jardinzito, florzita -ote, -a velhote, velhota -ebre casebre -eco, -a livreco, soneca -isco, -a chuvisco, talisca -ico, -a burrico, marica(s) -usco, -a chamusco, velhusco -ela ruela, viela -ola fazendola, rapazola Observacöes: i.a O sufixo -inbo (-qinho) e de enorme vitalidade na lingua. Junta-se näo sö a substantivos e adjectivos, mas tambem a adverbios e outras pakvras invariäveis: eed'mho, so^inbo, adeiuhtho. z.a Ao contrario dos aumentativos em -äo, os dimimitivos em -inbo (e tambem em -ito) näo softem mudanga de genero. O diminutivo conserva o genero da palavra derivante: easa — casinha; c5o — cäo^inbo, cSotyto, canito. Em forma-göes com outros sufixos näo e, porem, estranha tat mudanga: ilba — ilhote, ilheii; chuva — ehswiseo. Diminutívos eruditos. Na lingua literária e culta, especialmente na terminológia científica, aparecem formacôes modeladas no latim em que entram os sufixos -tilo, (-ula) e -čulo (-čula), com as variantes -áculo (-ácula), -kulo (-kula), -ňsculo (-áscufa) e -ťmculo (-mienia): 68 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEq corpo coipúsculo nota nótula febre febrícula obra opúsculo globo glóbulo parte partícula gota goticula pele película gräo granulo questäo questiúnaila hörnern homúnculo raíz radlcula modo módulo rei régulo monte raontlculo verme vermículo nó nódulo verso versí čulo Observacäo: Como vemos, nestas formacôes latinas, ou feitas em idänticos moldes, o sufixo -ctilo {-a) e sua variante -tínculo {-a) podem juntar-se ao radical dkectamentc (más-culo, hoM-únctth), ou por intermédio da vogal de ligacäo -/- (wrs-í-ctilo, qitest-i-tíncitla). Outtos sufixos nomínaia. i. Formám substantivos de outros substantivos: Sufixo -ada -ado -ato -agem -al -alha Sentido Exemplificacäo d) multídäo, coleccäo ............... boiada, papelada b) porcäo contida num objecto... bocada, colherada c) marca feita com um instrumento penada, pincelada d) ferimento ou golpe............ dentada, facada ŕ) produto alimentär, bebida...... bananada, laranjada f) duracäo prolongada............... invernada, temporada g) acto ou movimento cnérgico ... cartada, saraivada d) território subordinado a titular. bispado, condado b) instituicäo, titulatura............. almirantado, doutorado a) instituicäo, títulatura............. baronato, cardinalato b) na nomenclatura química = sal carbonato, sulfato a) nocäo colectiva.................... folhagem, plumagem b) acto ou estado..................... aprendizagem, ladroagcm d) ideia de relacäo, pertinéncia.... dedal, portal b) cultura de vcgetais............... arrozal, cafezal c) nocäo colectíva ou de quanti- dade................................. areál, pombal colectívo-pcjorativo .................. canalha, gentalha nnRivACÄo e composicao 69 Sufixo Sentido Exemplificacäo -afflä -ame -aria -árxo -edo -eiro (-a) nocäo colectiva e de quantidade.... nocäo colectiva e de quantidade.... a) actividade, ramo de negócio ... b) nocäo colectiva.................... c) aecäo propria de certos indiví- duos................................. {d) ocupacäo, ofício, profissäo . b) lugar onde se guarda algo. Íd) lugar onde crescem vegetais., b) b) nocäo colectiva d) ocupacäo, ofício, profissäo..... b) lugar onde se guarda algo .... ť) árvore e arbusto.................. d) ideia de intensidade, aumento... e) objecto de uso................... f) nogäo colectiva.................... a) profissäo, titulatura............... b) lugar onde se exerce uma activi- dade ................................. c) nocäo colectiva.................... -10 -ite -ugem -ume nogäo colectiva, reuoiäo ........... inflamacäo............................... semelhanca (pejorativo) ............. nocäo colectiva e de quantidade... dinheirama, mourama vasilhame, velame carpintaria, Iivraria gritaria, pedraria patifaria, pirataria operário, secretário herbário, vestiirio olivedo, vinhedo laj edo, passaredo barbeiio, copeira galinheiro, tinteiro laranjeira, craveiro nevoeiro, poeira cinzeiro, pulseira berreiro, formigueiro advocacia, baronia delegácia, reitoria cavalaria, clerezia gentio, mulherio bronquite, gastrite ferrugem, penugem cardume, negrume 2. Formám substantivos de adjectivos. Os substantivos derivados, geralmente nomes abstractos, indicam qualidade, propriedade, estado ou modo de ser: Sufixo Exemplificacäo Sufixo Exemplificacäo -dade crueldade, dignidade -ice tolice, velhice -(i)däo gratidäo, mansidäo -ície calvície, imundicic -ez altivez, honradez -or alvor, amargor -eza beleza, riqueza ~(i)tude altitude, magnitude -ia alegria, valcntia -ura alvura, docura 7° BREVE GRAMATICA DO PORTUGOÉS CONTEMPORÄNEq Observagöes: i.» Antes de receberem o sufixo -dade, os adjectivos tenninados em -o%, -ify -i>£ c -vel retomam a forma latina em -ac(i), -ie(i), -oc(i) e -bil(i): sagaz > sagacidade feliz > felicidade atroÄ > atrocidade amável > amabilidade z.a O sufixo -kie só aparece em palavras modeladas sobre o latím: calví-cie (latim Calvities), planície (latim planities), etc. Também justina näo apresenta propriamente o sufixo -ica, porque a palavra é continuacäo do latim justitia. Da mesma forma cobica (do baixo latim cupiditid), preguica (do latim pigritia), ctc, 3. Forma substantivos de substantivos e de adjecttvos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ismo a) doutrinas ou sis-temas artísticos... filosóficos políticos ... religiosos.. realismo, simbolismo kantismo, positivismo federalismo, fascismo budismo, calvinismo b) modo de proceder ou pensar... d) na terminológia científica ...... heroísmo, servilismo galicismo, neologismo daltonismo, reumatismo 4. Forma substantivos e adjecttvos de outros substantivos e adjectivos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ista a) partidários ou sec- tários de doutrinas ou sistemas (em -ismo) b) ocupajao, ofício.. í) nomes pátrios e gentílicos artlstícos.. filosóficos. políticos .. religiosos. realista, simbolista kantista, positivista federalista, fascista budista, calvinista dentista, pianista nortista, paulista Observacäo: Nem todos os designativos dc sectärios ou partidários de doutrinas ou sistemas em -ismo sc formám com o sufixo -ista. Por exemplo: a protestantisme cotrespondente protestante; a maometismo, waometano; a islamismo, islamita. pBRiVACÄo e COMPOS19Ä0 71 Formám substanttvos de verbos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -anca »äncia -enca -encia -ante -ente -inte .(d)or -(t)or -(s)or -cäo -säo -douro -tório -(d)ura -(t)uta -(s)ura -mento accäo ou o resultado dela, estado. lembranca, vinganca observäncia, tolerancia deserenca, diferenca anuéncia, concorréncia Iestudante, navegante afluente, combatente ouvinte, pedinte Ijogador, regador inspector, interruptor agressor, ascensor .... f nomeacäo, traicäo accao ou o resultado dela............ { . ' - * [ agressao, extensao , , ľ bebedouro, suadouro lugar ou instrumente da accao ... j kTOt6rio> vomitório . , . ^ j - ľ pintura, atadura resultado ou instrumenta da accao, %otmx% magistratura nocao coiectiva...................... tonsura d) accäo ou resultado dela......... acolhimento, ferimento b) instrumento da accäo............ ornamento, instrumento c) nocäo colectiva................... armamento, fardamento 6. Formám adjectivos de substantivos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -aco estado íntimo, pertinéncia, origem maníaco, austrlnco -ado í a) provido ou cheio de ............ barbado, denteado adamado, amarelado -aico judaico, prosaico -al -ar campal, conjugal escolar, familiar 7* Sufixo -ano -äo -átio -eiro -engo -enho -eno -ease -ěs -(l)ento -esco -is CO -este -estie -eu -icio -ico -il -ino -ita -onho -oso -tico -udo B REVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Sentido Exemplificacäo a) proveniéncia, origem, pertenca b) sectário ou partidário de....... c) semelhante ou comparável a... proveniéncia, origem .. relagäo, posse, origem relagäo, pertinéncia, posse ......... semelhanca, procedéncia, origem... referencia, origem..................... relacäo, procedéncia, origem. a) provído ou cheio de ...... b) que tem o carácter de...... relacäo, semelhanca, matéria, referencia, semelhanca.......... relacäo............................... relagao ............................... relacäo, procedéncia, origem .. referencia............................ participacäo, referencia.......... referencia, semclhanga............ relacäo, origem, natureza....... pertinéncia, origem............... propriedade, hábito constante provido ou cheio de ............ relacäo ............................... provido ou cheio de ............ romano, serrano luterano, parnasiano bilaquiano, camoniano alemäo, beiräo diário, fraccionário caseiro, mineiro mulherengo, solarengo ferrenho, estremenho terreno, chileno forense, parisiense cortés, noruegués ciumento, corpulento barrento, vidrento róseo, férreo burlesco, dantesco levantisco, mourisco agreste, celeste campestre, terrestre europeu, hebreu alimentício, natalício geométrico, melancólico febril, senhoril londrino, cristalino ismaelita, israelita enfadonho, risonho brioso, venenoso aromático, rústico pontudo, barbudo Obscrvacflea: 1. a Alguns desses sufixos servem tambem para formar adjectivos de outros adjectivos. Por cxemplo: -at junta-se a angelica, formando angelical; -onho acrcs-ccnta-sc a triste, produzindo trhtonko. 2. " Sao pcculiarcs aos adjectivos os sufixos eruditos -imo e -issimo, que sc ligam a radicals latinos; Immll-imo, fidcl-issimo. Do scu valor e emprego tra-tsimos no Capltulo 10. pERIVACÄO E COMPOSICAO 73 7. Formám adjectivos de verbos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ante -ente -inte .(á)vel -(í)vel -io -(t)ivo .(d)ico -(t)icio -(d)ouio .(t)ório f semelhante, tolerante accäo, quaüdade, estado............... i doente, resistente [ constituinte, seguinte possibiüdade de praticar ou softer f duravel, louvävel uma accäo................................ 1 pereeivel, punivel 1 . r » ■ , f fugidio, tardio j accao, refereacia, modo de Ser...... j afirmativo, pensativo ipossibilidade de praticar ou softer f movedigo, quebradico uma accäo, referencia................. I } } uma accäo, referencia................. j acomodatício, factício duradouro, casadouro preparatório, emigratório accäo, pertinéncia. { Observajäo: Os sufixos -ante, -ente e -inte provem, como dissemos, das terminacöes do participio presente latino com aglutinacäo da vogal tematica de cada uma das conjugaeßes. Servem para formar substantivos e, com mais frequencia, adjectivos, que se substantivam facilmente. Sufixos verbais. Os verbos novos da lingua formam-se em geral pelo aeréscimo da ter-minaeäo -ar a substantivos e adjectivos. Assim: esqui-ar nivel-ar radiograf-ar telefon-ar (a)doc-ar (a)fin-ar (a)frances-ar (a)portugues-ar A terminacao -ar, já o sabemos, é constituída da vogal temática -a-, característica dos verbos da i.a conjugacao, e do sufixo -r, do infinitivo impessoal. Por vezeš, a vogal temática -a- liga-se nao ao radical propriamente dito, mas a uma forma dele derivada, ou, melhor dizendo, ao radical com a adicao de um sufixo. É o caso, por exemplo, dos verbos: afug-ent-ar bord-ej-ar lamb-isc-ar cusp-inh-ar ded-ilh-ar depen-ic-ar salt-it-ar amen-iz-ar, 74 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANeq em que encontramos alguns suflxos anteriormente estudados: -ent(o), -ej(o)1 -isc(o), -inh(o), -ic(o) e -it(o). Sao tais sufixos que transmitem a esses verbos matizes significativos especiais: frequentattvo (accao repetida), factittvo (atribuicao de urna qualidade ou modo de ser), dimtnutivo e pejorativo. Mas, como neles a combinacao de sufixo -f- vogal temAtica (-a) -f- sufixo do rNFiNiTivo (-r) vale por um todo, costuma-se considerar nao o sufixo em si, mas o conjunto daqueles elementos morficos, o verdadeiro sufixo verbal. Esta conceituagao, por simplificadora, apresenta evidentes vantagens didacticas, razao por que a adoptamos aqui. Eis os principals sufixos verbais, com a indicagao dos matizes signi. ficativos que denotam: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ear -ejar -entar -(i)ficat -icar -ilhar -inhar -iecar -itar -izar firequentativo, durativo ................ cabecear, folhear frequentativo, durativo ................ gotejar, velejar factitivo.................................... aformosentar, amolentar factitivo .................................... clarificar, dignificar frequentativo-diminutivo ............. bebericar, depenicar frequentativo-dirninutivo ............. dedilhar, fervilhar frequentativo-diminutivo-pejoradvo. escrevinhar, cuspinhar frequentaüvo-diminudvo ............. chuviscar, lambiscar frequentativo-durrinutivo ............. dormitar, saltitar factitivo..................................... civilizar, utilizar Das outras conjugates apenas a z.a possui um sufixo capaz de format verbos novos em portugués. É o sufixo -teer (ou -escer), caracteristico dos verbos chamados tncoativos, ou seja dos verbos que indicam o comeco de um estado e, as vezeš, o scu desenvolvimento: alvor-ecer anoit-ecer amadur-ecer ernbranqu-ecer envelh-ecer escur-ecer flor-escer rejuven-escer Em verdade, também -eeer näo é sufixo. Decompöe-se esta termina-cäo em: sufixo (-e[s]e-)+ vogal temática (-;:ošicäo: Forma Sentido Exemplos anemo- vento anemógrafo, anemómetro antropo- hörnern antropófago, antropológia arqueo- antigo arqueografia, arqueologia biblio- livro bibliografia, biblioteca caco- mau cacofonia, cacografia cali- belo califasia, caligrafia cosmo- mundo cosmografo, cosmologia cromo- cor cromoütografia, cromossomo crono- tempo cronologia, cronómetro dactilo- dedo dactilografia, dactiloscopia deca- dez decaedro, decalitro di- dois dipétalo, dissílabo enea- nove eneágono, eneassílabo etno- raca etnografia, etnológia farmaco- medicamento farmacologia, farmacopeia fisio- natureza fisiobgia, fisionomia helio- sol heliografia, helioscópio hemi- metade hemisfério, hemistlquio hemo- 1 hemato- J sangue hcmoglobina, hcmatócrito hepta- sete heptágono, heptassilabo 82 breve gramática do portugués c0ntemp0 räneo Forma Sentido Exemplos hcxa- seis hexágono, hexámetro hipo- cavalo hipódromo, hipopótamo hom(e)o- semelhante homeopatia, homógrafo ictio- peixe ictíófago, ictíologia 180- igual isócrono, isóscele(s) lito- pedra litografia, litogravura mega(lo)- grande megatério, megalomaníaco melo- canto melódia, melopeia meso- meio mesóclise, Mesopotamia miria- dez mil rnkiämetro, miríade miso- que odeia misógino, misantropo mito- fabula mitologia, mitómano necro- morto necrópole, necrotério nco- novo neolatino, neologismo neuro- 1 ncvro- J nervo neurológia, nevralgia octo- oito octossilabo, octaedro odonto- dente odontologia, odontalgia oftalmo- olho oŕtalmologia, oftalmoscópio onomato- nome onomatologia, onomatopeia oro- montanha orogenia, orografia orto- recto, justo ortografia, ortodoxo oxi- agudo, penetrante oxígono, oxítono paleo- antigo paleografia, paleontológia pan- todos, tudo panteísmo, pan-americano pato- (sentimento) doenca patogenético, patológia pcdo- crianfa pediatria, pedológia potamo- rio potamografia, potamologia psico- alma, espirito psicologia, psicanálise quilo- mil quilograma, quilómetro quiro- mao quiromancia, quiróptero rino- nariz rinoceronte, rinoplastia rizo- raiz rizófilo, rizotónico sidcro- ferro siderólita, siderurgia taqui- rapido taquicardia, taquigrafia teo- deus teocracia, teólogo tetra- quatro tetrarca, tetraedro tipo- figura, marca típografia, tipologia topo- lugar topografia, toponimia xcno- estrangeiro xenofóbia, xenomania xilo- madeiro xilógrafo, xilogravura 200- animal zoógrafo, zoológia derivacäo e composicäo 83 ObservacSo: Como vemos, a maioria destes radicais assume na composisäo uma forma ter-minada em -o. Alguns empregam-se também como segundo elemente do composto. É o caso, por exemplo, de -antropo (filantropa), -crono (isócrono), -dáctilo (pterodáctilo), -filo (germanofilo), -lito (aerólito), -pótamo (hipopótamo) e outros. 2. Funcionam, preferentemente, como segundo elemento da composisäo, entre outros, estes radicais gregos: Forma Sentido Exemplos -agogo que conduz demagogo, pedagogo -algia dot cefalalgia, nevralgia -area que comanda heresiarca, monarca -arquia comando, governo autarquia, monarquia .astenia debilidade neurastenia, psicastenia -cefalo cabega dolicocéfalo, microcefalo -cracia poder democracia, plutocracia -doxo que opina heterodoxo, ortodoxo -dromo lugar para correr hipódromo, velódromo -edro base, face pentaedro, poliedro -fagia acto de comer aerofagia, antropofagia -fago que come antropófago, necrófago -filia amizade bibliofilia, lusofilia -fobia inirnizade, ódio, temor fotofobia, hidrofobia -fobo que odeia, inimigo xenófobo, zoófobo -foro que leva ou conduz eleetróforo, fósforo -garni a casamento monogamia, poligamia -gamo que casa blgamo, polígamo -geneo que gera heterogéneo, homogéneo -glota, -glossa lingua poliglota, isoglossa -gono ángulo pentágono, polígono -grafia escrita, descricäo ortografia, geografia -grafo que escreve calígrafo, polígrafo -grama escrito, peso telegrama, quilograma -logia discurso, tratado, ciéncia arqueologia, filológia -logo que rala ou trata diálogo, teólogo -mancia adivinhacäo necromancia, quiromancia -mania loucura, tendencia megalomania, monogamia -mano louco, inclinado bibliómano, mitómano -maquia combate logomaquia, tauromaquia -metria medida antropometria, biometria -metro que mede hidrómetro, pentámetro -morfo que tem a forma antropomorfo, polimorŕb 84 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Forma Sentido Exemplos -nomia lei, regra agronómia, astronómia -nomo que regula autonome, metrónomo -peia acto de fazer melopeia, onomatopeia -polis, -pole cidade Petrópolis, metropole -ptero - asa díptero, helicóptero -scopia acto de ver macroseopia, microseopia -scópio instrumento para ver microscópio, telescópio -sofia sabedoria filosofia, teosofia -stico verso dístico, monósdco -tcca lugar onde se guarda biblioteca, discoteca -terapia eura fisioterapia, hidroterapia -tomia corte, divisäo dicotomia, nevrotomia -tono tensäo, tom barltono, monótono HIBRIDISMO Säo palavras híbridAS, ou hibridismos, aquelas que se formám de elementos tirados de línguas diferentes. Assim, em automôvel o primeiro radical é grego e o segundo latino; em sociológia, ao contrário, o primeiro é latino e o segundo grego. As formacôes hĺbridas säo em geral condenadas pelos gramáticos, mas existem algumas täo enraizadas no idioma que séria pueril pretender eli-miná-las. É o caso das palavras mencionadas e de outras, como: autoclave bicicleta blgamo decímetro endovenoso monóculo ONOMATOPEIA monocultura neolatino oleografia As ONOMATOPEiAs säo palavras imitativas, isto é, palavras que proeuram reproduzir aproximadamente certos sons ou certos ruídos: tique-taque zás-trás zunzum Em geral, os verbos e os substantivos denotadores de vozes de ani-mais těm origem onomatopeiea. Assim: ciciar chilrcar coaxar cicio (da cigarra) chilreio (dos pássaros) coaxo (da rä, do sapo) perivacäo e composicäo «5 ABREVIACÄO VOCABULAR O ritmo acelerado da vida intensa dos nossos dias obriga-nos, neces-sariamente, a uma elocugäo mais rápida. Economizar tempo e palavras é uma tendencia geral do mundo de hoje. Observamos, a todo momento, a reducäo de frases e palavras até limi-tes que fläo prejudiquem a compreensäo. É o que sucede, por exemplo, com os vocábulos longos, e em particular com os compostos greco-latinos de criacäo recente: auto (por automôvel), foto (por fotografia), moto (por moto-cicleta), ónibus (por auto-ónibus), pneu (por pneumático), quilo (por quilogramá), etc. Em todos eles a forma abreviada assumiu o sentido da forma plena. Siglas. Também moderno —e cada vez mais generalizado— é o processo de criacäo vocabular que consiste em reduzir longos títulos a meras siglas, constituídas das letras iniciais das palavras que os compöem. Actualmente, instituicöes de natureza varia —■ como organizacôes inter-nacíonais, partidos políticos, servigos públicos, sociedades comerciais, asso-ckcöes operárias, patronais, estudantis, culturais, recreativas, etc. — säo, em geral, mais conhecidas peks siglas do que peks denominacöes com-pletas. Assim: ONU = Organizacäo das Nagôes Unidas UNESCO = United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization OEA = Organizagäo dos Estados Americanos OUA = Organizacäo de Unidade Afričana ABI = Assockcäo Brasileira de Imprensa APU = Alianca Povo Unido PCP = Partido Comunista Portugués PPM = Partido Popular Monárquico PS = Partido Socialista PSD = Partido Social Democrático PDS = Partido Democrático Social PDT = Partido Democrático Trabalbista PMDB — Partido do Movimento Democrático Brasilciro PT = Partido dos Trabalhadores PTB = Partido Trabalbista Brasileiro FRELIMO = Frente de Libertagäo de Mogambique S Ď BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO MPLA = Movimento Popular de Libertacäo de Angola PAIGC = Partido Africano da Independéncia da Guiné e Cabo Verde MEC = Ministério da Educacäo e Cultura CGTP = Confederacäo Geral dos Trabalhadores Portugueses UGT = Uniäo Geral dos Trabalhadores UNE = Uniäo Nacionál dos Estudantes TAP = Transportes Aéreos Portugueses VARIG = Viacäo Aérea Rio-Grandense FIFA = Federation Internationale de Football Association E näo é só. Uma vez criada e vulgarizada, a sigla passa a ser sentida como uma palavra primitiva, capaz, portanto, de formar derivados: eegeüsta, petebista, etc. Observa^o: Nem sempře uma instituigäo é conhecida pela mesma sigla em Portugal c no Brasil. No Brasil, por exemplo, denomina-se OTAN (= Organizacäo do Tratado do Atläntico Nořte) o organismo que em Portugal se chama NATO (= North Atlantic Treaty Organization), por ter-se aqui vulgarizado a sigla inglesa. Por vezes hi diferenga de acentuaeäo da sigla nos dois palses. Diz-se, por exemplo, ONÜ em Portugal e ÖNU no Brasil. 7. Frase, oracäo, periodo A FRASE E A SUA CONSTITUIC/ÄO r. Frase é um enunciado de sentido completo, a unidade minima de comunicacäo. A parte da gramática que desereve as regras segundo as quais as pala-vras se combinam para formar frases denomina-se sintaxe. 2. A frase é sempre acompanhada de uma melódia, de urna entoa-gao. Nas frases organizadas com verbo, a entoacäo caracteriza o fim do enunciado, geralmente seguido de forte pausa. É o caso destes exemplos: Bate o vento no postigo... / Cai a chuva lentamente... (Da Costa e Silva, PC, 307.) Se a frase näo possui verbo, a melódia é a única marca por que pode-mos reconhecé-la. Sem ela, frases como Atencäo! Que inocéncia! Que alegria! seriam simples vocábulos, unidades léxicas sem funcäo, sem valor gra-matical. Frase e oracäo. A frase pode conter urna ou mais oracoes. r.°) Contém apenas urna oracäo, quando apresenta: 88 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Ita: d) uma só forma verbal, clara on ocu O dia decorreu sem sobressalto. (Joaquim Pago d'Arcos, CVL,, 491.) Na cabcca, aquela bonita coroa. Qosué Montello, A, 32.) h) duas ou mais formas verbais, integrantes de uma locucao verbal: — Podem vit os dois... (Vitorino Nemésio, MTC, 446.) 2.0) Contém mais de uma oracao, quando há nela mais de um verbo (seja na forma simples, seja na locucao verbal), claro ou oculto: Busco, / volto, / abandono, / e chamo de novo. (Agustína Bessa Luis, AM, 38.) O Negrinho comecou a chorar, / enquanto os cavalos iam pastando. (Simoes Lopes Neto, CGLS, 332.) Os anos s3o degraus; / a vida, a escada. (Fernanda de Castro, ANE, 73.) Orac3o e periodo. 1. Período é a frase organizada em oracao ou oracoes. Pode sen a) simples, quando constituldo de uma só oracao: Cai o crcpúsculo. (Da Costa e Silva, PC, 281.) b) composto, quando formado de duas ou mais oracóes: N3o bulia uma folha, / nao cintilava um luzeiro. (Aquilino Ribeiro, ES, 211.) pRASE, ORACAO, PERIODO 89 2. O período termina sempře por uma pausa bem definida, que se niarca na escrita com ponto, ponto de exclamacao, ponto de interrogacSo, reticéncias e, algumas vezes, com dois pontos. A ORACAO E OS SEUS TERMOS ESSENC1AIS Sujeito e predicado. 1. Sao termos essenciais da oracáo o sujeito e o predicado. O sujeito é o ser sobre o qual se. faz uma declaracao; o predicado é rudo aquilo que se diz do sujeito. Assim, na oracao Este aluno obteve ontem uma boa nota, temos: oracao sujeito predicado I Este aluno j obteve ontem uma boa nota | 2. Nem sempře o sujetto e o predicado vém materialmente expressos: Assim em: Andei leguas de sombra Dentro cm meu pensamento. (Fcrnando Pessoa, OP, 59.) o sujeito de andei é eu, indicado apenas pela desinéncia verbal. Já em: Boa cidade, Santa Rita. (Mario Palmério, VC, 298.) é a forma verbal é que está subentendida. 9o BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Chamam-se elípticas as oracôes a que falta um termo essencial. E, con-forme o caso, diz-se que o sujEiTO ou o predicado estäo eiípttcos. Sintagma nominal e verbal. 1. Na oracäo: Este aluno obteve ontem uma boa flota, cUstinguimos duas unidades maiores: a) o sujEiTO: este aluno; b) o predicado : obteve ontem uma boa nota. Exarninando, porém, o sujeito, vemos que ele é formado de duas palavras: este aluno O demonstrative este é um deterrninante (det) do substantivo (n) aluno, palavra que constitui o núcleo da unidade. Toda unidade que tern por núcleo um substantivo recebe o nome de slntagma nominal (sn). A oracäo que estamos estudando apresenta, assim, dois sintagmas nominais: a) sni = este aluno; b) sn2 = uma boa nota. 2. Podem ocorrer muitos sintagmas nomlnais (sn) na oragäo, mas somente um deles será o sujeito. E, como veremos adiante, a sua posicäo na ordem directa e lógica do enunciado é ä esquerda do verbo, Os demais Sintagmas nominais encaixam-se no predicado. 3. O substantivo, núcleo de um sintagma nominal, admite a presenca de determlnantes (det) —que säo os artigos, os numerais e os prono-mes adjectivos — e de modificadores (mod), que, no caso, säo os adjec-tivos ou expressôes adjectivas. Os dois sintagmas nominais da oracäo em exame podem ser assim esque-matizados: PRASE, 0RACÄ0, PERIODO 91 SN1 SN 2 I aluno j 4. O sintagma verbal (sv) constitui 0 predicado. Nele há sempře um verbo, que, quando significativo, é o seu núcleo. O sintagma verbal pode ser complementado por sintagmas nominais e modificado por advérbios ou expressôes adverbiais (mod). A oracäo que nos serve de exemplo obedece, pois, ao seguinte esquema: HET I Este I I aluno | obteve det N mqd I ontem | [ urna| | nota| boa O SUJEITO Reprcsentacao do sujeito. Os sujeitos da i.a e da 2.* pessoa säo, respectivamente, os pronomes pessoais eu e tu, no singular; nos e vós (ou combinacôes equivalentes: eti e tu, tu e ele, etc.), no plural. breve gramatica do portugués contemporáneo jirASE, ORÁCÁO, PERÍODu 93 Os sujEiTOS da 3-a pessoa podem ter como núcleo: a) um substantivo: Matilde entendia disso. (Agustina Bessa Luis, OM, 170.) b) os pronomes pessoais ele, ela (singular); eles, elas (plural): Estavam de bracos dados, ele arrumava a gravata, ela ajeitava o chapéu. (Érico Veríssimo, IS, 128.) <■) um pronome demonstrativo, relativo, interrogativo, ou indefinido: lato nao lhe arrefece o ánimo? (Augusto Abelaira, NC, 3$.) Achava consolo nos Iivros, que o afastavam cada vez mais da vida. (Érico Veríssimo, LS, iji.) Quem disse isso? (Fernanda Botelho, X, 150.) Tudo parara ao redor de nós. (Clarice Lispector, BF, 81.) a") um numeral: Ambos alteraram os roteiros originais. (Nélida Piňon, FD, 86.) e) uma palavra ou uma expressao substantivada: Infanta, no cxllio amargo, só o existirdes me consola. (Tasso da Silveira, PC, 567.) O por fazer é só com Deus. (Fernando Pessoa, OP, 16.) f) uma oracao substantiva subjectiva: Era forgoso / que foaac assim. (Antonio Sérgio, E, IV, 245.) Sujeito simples e composto. Sujeito simples. Quando o sujeito tem um só núcleo, isto é, quando o verbo se refere ^ um só substantivo, ou a um só pronome, ou a um só numeral, ou a uma só palavra substantivada, ou a uma só oracao substantiva, o sujeito é simples. Esse o caso do sujeito de todos os exemplos atrás mencionados. Sujeito composto. É composto o sujeito que tem mais de um núcleo, ou seja o sujeito constituído de: a) mais de um substantivo: As vozes e os passos aproximam-se. (Manuel da Fonseca, SV, 248.) b) mais de um pronome: Ele e eu somos da mesma raca. (David Mourao-Ferreira, I, 98.) f) mais de uma palavra ou expressao substantivada: Falam por mim os abandonados de justica, os simples de coracab. (Carlos Drummond de Andrade, R, 148.) d) mais de uma oracao substantiva: Era melhor esquecer o nó e pensar numa cama igual á de seu Tomáš da bolandeira, (Graciliano Ramos, VS, 62.) Sujeito oculto (deterrninado). 1. É aquele que nao está materialmente expresso na oracao, mas pode ser identificado. A identificacao faz-se: 94 breve g ramati ca do portugues contemporaneo a) pela desinéncia verbal: Ficamos um bocado sem faJar. (Luis Bernardo Honwana, NMCT, io.) O sujeito de ficamos, indicado pela desinéncia -mos, é nás. b) pela presenga do sujeito em outra oragäo do mesmo periodo ou de periodo contíguo: Soropita ali viera, na véspera, lá d ormira; e agora retornava a casa. (Guimaräes Rosa, CB, II, 467.) O sujeito de viera, dormira e retornava é Soropita, mencionado na primeira oragäo, antes de viera, 2. Pode ocorrer que o verbo näo tenha desinéncia pessoal e que o sujeito venha sugerido pela desinéncia de outro verbo. Por exemplo, neste periodo: Antes de comunicar-vos uma descoberta que considero de algum interesse para o nosso pais, deixai que vos agrade$a. o sujeito de considero, indicado pela desinéncia -o, é eu, também sujeito de comunicar, verbo na forma iriíinitiva sem desinéncia pessoal. Sujeito indeterminado. Algumas vezes o verbo näo se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quern executa a accäo, ou por näo haver interesse no seu conhecimento. Dizemos, entäo, que o sujeito e indeterminado. Nestes casos em que 0 sujeito näo vem expresso na oragäo nem podc ser identificado, pöe-se o verbo: a) ou na j,1 pessoa do plural: Reputavam-no o maior comiläo da cidade. (Ciro dos Anjos, MS, 44.) b) ou na 3.a pessoa do singular, com 0 pronome se: Ainda se vivia num mundo de certezas. (Agustina Bessa Luis, OM, 296.) prase, oracäo, perí odo 9J Os dois processos de indeterminagäo podem concorrer num mesmo periodo: Na Casa pisavam sem sapatos, e falava-se baixo. (Anibal M. Machado, JT, 13.) Oragäo sem sujeito. Näo deve ser confundido o sujeito indeterminado, que existe, mas näo se pode ou näo se deseja identificar, com a inexisténcia do sujeito. Em oragöes como as seguintes: Chove. Anoitece. Faz firio. interessa-nos o processo verbal em si, pois näo o atribuímos a nenhum ser. Diz-se, entäo, que o verbo é impessoal; e o sujeito, inexistente. Eis os principals casos de inexisténcia do sujeito: a) com verbos ou expressöes que denotam fenómenos da natureza: Amanheceu a chover. (Antonio Botto, OA, 235.) b) com o verbo haver na acepgao de «existir»: Na sala havia ainda trěs quadros do pintor. (Fernando Namora, DT, 206.) r) com os verbos haver, fa^er e ir, quando indicam tempo decorrido: Morava no Rio havia muitos anos, desligado das coisas de Minas. (Ciro dos Anjos, MS, 327.) Faz hoje oito dias que comecei. (Augusto Abelaira, B, 133.) Vai para uns quinze anos eserevi uma erónica do Curvelo. (Manuel Bandeira, PP, II, 338.) d) com o verbo ser, na indicagäo do tempo em geral: Era por altura das Iavouras. (Agustina Bessa Luis, S, 187.) BREVE GRAMATICA. DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Observances: i.° Nas oracôes impcssoais o verbo ser concorda em numero e pessoa com o predicative Veja-sc, a propósito, o Capítulo i}. z,& Também ocorre a impessoalidade nas locucôes verbais: Como podia haver tantas casas e tanta gente? (Graciliano Ramos, VS, 109.) j.1 Na linguagem coloquial do Brastl é corrente o emprego do verbo ter como impessoal, á semelhanca de haver. Escritores modernos —e alguns dos maiores — näo tém duvidado em algar a construcäo á lingua literária, Hoje tem festa no brejo! (Carlos Drummond de Andrade, R, 16.) O uso de ter impessoal deve estender-se ao poitugués das nacôes africanas. Da sua vitalidade em Angola há abundante documentagäo na obra de Luan-dino Vieira. — Aqui tem galinha, tem quintal... (L, 63.) 4.a Em sentido íigurado, os verbos que exprimem fenómenos da natu-reza podem ser empregados com sujeíto: Choviam os ditos ao passo que ela seguia pelas mesas. (Almada Negreiros, NG, 92.) Da atitude do sujcito. Com os verbos dc accäo. Quando o verbo exprime uma accäo, a atitude do sujeito com referencia ao processo verbal pode ser de actividade, de passividade, ou de acti-vidade e passividade ao mesmo tempo. 1. Neste exemplo: Maria levantou o menino. o sujeito Maria exceuta a accäo expressa pela forma verbal levantou. O sujcito č, pois, o agente. FRASE, ORACÄO, PERIODO 2. Neste exemplo: O menino foi levantado por Maria. a accäo näo é praticada pelo sujeito o menino, mas pelo agente da passiva — Maria. O sujeito, no caso, sofre a accäo; é dela o paciente. 3. Neste exemplo: Maria levantou-se. a accäo é simultaneamente exercida e sofrida pelo sujeito Maria. O sujeito é entäo, a um tempo, o agente e o paciente dela. Como vemos, na voz activa, o termo que representa o agente é o sujeito do verbo; o que representa o paciente é o objecto directo. Na voz passiva, o objecto (paciente) torna-se o sujeito do verbo. Com os verbos de estado. 1. Quando o verbo evoca um estado, a atitude da pessoa ou da coisa que dele participa é de neutralidade. O sujeito, no caso, náo é o agente nem o paciente, mas a sede do processo verbal, o lugar onde ele se desenvolve: Pedro é magro. Joao permanece doente. O porteiio ficou pálido. 2. Incluem-se naturalmente entre os verbos que evocam um estado, ou melhor, uma mudanca de estado, os incoativos como adoecer, emagrecer, empalidecer, equivalentes a ficar doente, ficar magro, ficar pálido. O PREDICADO O predicado pode ser nominal, verbal ou verbo-nominal. Predicado nominal. O predicado nominal é formado por um verbo de ligacao + pre-dicattvo. breve GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNeq i. O verbo de ligacäo pode expressar: a) estado permanente: Hitório era o herdeiro da quinta. (Carlos de Oliveira, CD, 90.) b) estado tiansitório: O velho esteve entre a vida e a morte durante uma semana. (Castro Soromenho, TM, 236.) c) mudanga de estado: Amaro ňcou muito perturbado. (Érico VerlssimOj LS, 137.) d) continuidade de estado: O Barbacas continuava alheado e sorridente. (Fernando Namora, TJ, 177.) é) aparéncia de estado: Ela parecia uma figura de retrato. (Autran Dourado, TA, 14.) Observaclo: Os VERBOs de LiGACÄo (ou copuLATivos) servem para estabelecer a uniäo entre duas palavras ou expressôes de carácter nominal. Näo trazem propria-mcnte ideia nova ao sujeito; funcionam apenas como elo entre este e o seu predicativo. Como há verbos que se empregam ora como copulativos, ora como signifi-cativos, convém atentar sempře no valor que apresentam em determined o tcxto a fim de classificá-los com acerto. Comparem-se, por exemplo, cstas frases: Estavas triste. Estavas em casa. Andci muito preocupado. Andei muito hoje. Fiquei pcsaroso. Fiquei no meu posto. Continuamos silenciosos. Continuamos a marcha. FRASE, ORACÄO, PERÍODO íjcj Nas primeiras, os verbos estar, andar, ficar e continuar säo verbos de ligacäo; nas segundas, verbos sígnificativos. 2. O predicativo pode ser representado: d) por substantivo ou expressäo substantivada: — O boato é um vício detestável. (Carlos de Oliveira, AC, 183.) Todo momenta de achar é um perder-se a si próprio. (Clarice Lispectar, PSGH, 12.) b) por adjectivo ou locucäo adjectiva: A praia estava deserta. (Branquinho da Fonseca, MS, 11.) — Esta linha é de morte. (Carlos Drummond de Andrade, CJ3, 93.) c) por pronome: Vou calar-me e fingir que eu sou eu... (Abgar Renault, LSL, XVHE.) d) por numeral: Tua alma o um que säo dois quando dois säo um... (Fernando Pessoa, OP, 298.) é) por oracäo substantiva predicativa: Uma tarefa fundamental é / preservar a história humana. (Nélida Piňon, FD, 73.) Observacôes: i.a O pronome e, quando funciona como predicativo, č demonstrative: Čada coisa é o que é. (Fernando Pessoa, OP, 175.) breve gramática do portugués contemporáneo O predicativo pode referir-se ao objecto, aplicacao esta que estuda-rcmos adiante. j.a Quando se deseja dar énfase ao predicativo, costuma-se rclembrá-lo com o pronome demonstrative o: Tive depois mořivo para crer que o perverso e a peste fora-o ele pró-prio, na intengáo de fazer valer um bom service (Raul Pompéia, A, 50.) é o que se cháma predicativo pleonástico. Predicado verbal. O predicado verbal tem como núcleo, isto é, como elemento principal da declaracao que se faz do sujeito, um verbo significativo. Verbos significativos sao aqueles que trazem uma ideia nova ao ! sujeito. Podem ser intransitivos e transitivos. Verbos intransitivos. Nestas oracoes de Da Costa e Silva: Sobe a névoa... A sornbra desce... (PC, 281.) ; verificamos que a accao está integralmente contida nas formas verbais sobe e desce. Tais verbos sao, pois, intransitivos, ou seja, nao transitivos: a accao nao vai alem do verbo. 1 Verbos transitivos. j i Nestas oracoes de Fernanda Botelho: j i Ele nao me agradece, / nem eu lhe dou tempo. (X, 41.) ; vemos que as formas verbais agradece e dou exigem certos termos para com-pletar-lhes o significado. Como o processo verbal nao está integralmente ' contido nelas, mas se transmite a outros elementos (o pronome me na pri- ' meira oracao, o pronome lhe e o substantivo tempo na segunda), estes verbos cliamam-se transitivos. , FRASE, ORACÄO, PERIODO Os verbos transitivos podem ser directos, indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo. 1. Verbos transitivos directos. Neste exemplo de Agustina Bessa Luis: Ela invejava os homens. (OM, 207.) a accäo expressa por invejava transmite-se a outro elemento (os homens) direc-tamente, ou seja, sem o auxílio de preposicäo. é, por isso, chamado verbo transitivo DiRECTO, e o termo da oraeäo que lhe integra o sentido recebe o nome de objecto di recto. 2. Verbos transitivos indirectos. Neste exemplo: Perdoem ao pobre tolo. (Ciro dos Anjos, DR, 235.) a accäo expressa por perdoem transita para outro elemento da oraeäo (o pobre tolo) indirectamente, isto é, por meio da preposicäo a. Tal verbo denominate, por conseguinte, transitivo indirecto. O termo da oraeäo que com-pleta o sentido de um verbo transitivo indirecto denomina-se objecto indirecto. 3. Verbos simultaneamente transitivos directos e indirectos. Neste exemplo: O sucesso do seu gesto näo deu paz ao Lomba. (Miguel Torga, NCM, 51.) a accao expressa por deu transita para outros elementos da oraeäo, a um tempo, directa e indirectamente. Por outras palavras: este verbo requer simultaneamente objecto directo e indirecto para completar-lhe o sentido. Predicado yerbo-nominal. Näo säo apenas os verbos de ligaeäo que se constroem com predicativo do sujeito. Também verbos significativos podem scr empregados com ele. breve gramatica do portugués contemporäneo Neste exemplo: Paulo tiu despreocupado. (Afränio Peixoto, RC, 191.) o verbo rir é significativo. Despreocupado refere-se ao sujeito Paulo, qua-lificando-o. A este predicado misto, que possui dois núcleos significativos (um verbo e um predicativo), dá-se o nome de verbo-nominal. Observagäo: No predicado verbo-nominal o predicativo anexo ao sujeito pode vir antecedido de preposicäo, ou do conectívo como: O acto foi acusado de ilegal. Carlos saiu estudante e voltou como doutor. Variabilidade de predicatjäo verbal. A análise da transitividade verbal é feita de acordo com o texto e näo isoladamente. O mesmo verbo pode estar empregado ora intransitivamente, ora transitivamente; ora com objecto directo, ora com objecto indirecto. Comparem-se estes exemplos: Perdoai sempre [= intransitivo]. Perdoai as ofensas [= transitxvo directo]. Perdoai aos inimigos [= TRANsmvo indirecto]. Perdoai as ofensas aos inimigos [— transittvo directo e indirecto]. A ORACÄO E OS SEUS TERMOS INTEGRANTES Examinemos as partes assinaladas nas oracöes abaixo: Alguns colegas mostravam interesse por ele. (Raul Pompéia, A, 234.) Tinha os olhos rasos de lágrimas. (Agustína Bcssa Luis, £R, 272.) Tenho eBcrito bastantes poemas. (Fernando Pessoa, OP, 175.) frase, oracäo, periodo Näo sei que diga do marido relativamente ao baile da ilha. (Machado de Assis, OC, I, 935.) No primeiro exemplo, 0 pronome ele está relacionado com o substan-tivo interesse por meio da preposicäo por; no segundo, o substantivo lágrimas relaciona-se com o adjectivo rasos através da preposicäo de; no terceiro, o substantivo poemas, modificado pelo adjectivo bastantes, Integra o sentido da forma verbal tenho escrito; no quarto, 0 baile da ilha prende-se ao adver-bio relativamente por intermédio da preposicäo a. Vemos, pois, que há palavras que completam o sentido de substan-tivos, de adjectivos, de verbos e de advérbios. As que se ligam por preposicäo a substantivo, adjectivo ou advérbio chamam-se complbmentos nomi-nais. Denominam-se complementos verbais as que integram o sentido do verbo. COMPLEMENTO NOMINAL O complemento nominal vem, como dissemos, ligado por preposicäo ao substantivo, ao adjectivo ou ao advérbio cujo sentido Integra ou limita. A palavra que tem o seu sentido completado ou integrado encerra «'uma ideia de relacäo e o complemento é o objecto desta relacäo». O complemento nominal pode ser representado por: a) substantivo (acompanhado ou näo dos seus modificadores): O pior é a demora do vapot. (Vitorino Nemésio, MIC, 361.) Só Joana parecia alheia a toda essa actividade. (Fernando Namora, TJ, 231.) b) pronome: Tinha nojo de si mesma. (Machado de Assis, OC, I, 487.) c) numeral: A vida dele era necessária a ambas. (Machado de Assis, OC, I, 393.) io4 breve gramatica do portugues contemporaneo jrase, oragao, periodo 105 d) palavra ou expressao substantivada: Passo, fantasma do meu ser presente, fibrio, pot intervalos, de urn Alem. (Fernando Pessoa, OP, 392.) e) oracao completiva nominal: Comprei a consciencia de que sou Ho mem de ttocas com a naturcza. (Miguel Torga, CH, 11.) ObservacÖes: 1. * O complemento nominal pode estar integrando o sujeito, o predi-cativo, o objecto directo, o objecto indirecto, o agente da passiva, o adjunto adverbial, o aposto e o vocativo. 2. a Conv&n ter presente que o nome cujo sentido o complemento nominal Integra corresponde, geralmente, a urn verbo transitivo de radical seme-lhante: amor da patria ........................... amar a patria ödio aos injustos........................ odiar 08 injustos COMPLEMENTOS VERB AIS Objecto directo. Objecto directo e o complemento de um verbo 'transitivo directo, ou seja o complemento que normalmente vem ligado ao verbo sem pre-posicäo e indica o ser para o qua! se dirige a accäo verbal. Pode ser representado por: d) substantivo: Vou descobrir mundos, quero glöria e fama!... (Guerra Junqueiro, S, 12.) b) pronome (substantivo): Os jornais nada publicaram. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 135.) c) numeral: — Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? (Carlos Drummond de Andrade, CB, 31.) d) palavra ou expressäo substantivada: Como quem compöe roupas O outrora compúnhamos. (Fernando Pessoa, OP, 206.) Perscrutava na quietude o iniitü de sua vida. (Autran Dourado, TA, 36.) e) oracao substantiva (objectiva directa): Näo quero que fiques triste. (Jose Regio, SM, 295.) Objecto directo preposicionado. 1. O objecto directo costuma vir regido da preposicäo a: d) com os verbos que exprimem sentimentos: Só näo amava a Jorge como amava ao filho. (Joaquim Paco ďArcos, CVL, 156.) b) para evitar ambiguldade: Sabeis, que ao Mestre vai matá-lo. (Marcelino Mesquita, LT, 66.) c) quando vem antecipado, como nos provérbios seguintes: A hörnern pobre ninguém roube. A medico, confessor e letrado nunca enganes. 2. O objecto directo é obrigatoriamente preposicionado quandc expresso por pronome pessoal oblíquo tónico: Rubiäo viu em duas rosas vulgares uma festa imperial, c esqueceu a sala a mulher e a si. (Machado de Assis, OC, I, 679.) io6 breve gramática do portugués contemporaneo frase, oracäo, periodo I07 Objecto directo pleonástico. 1, Quando se quer chamar a atencäo para o objecto directo que precede o verbo, costuma-se relembrá-lo por um pronome oblíquo. É o que se chama objecto directo pleonástico, em cuja constituicäo entra sempre urn pronome pessoal átono: Palavras cria-as o tempo e o tempo as mata. (Jose Cardoso Pires, D, 300.) 2. O objecto directo pleonástico pode também ser constítuído de um pronome átono e de uma forma pronominal tónica preposicionada: Mas näo encontrou Marcelo nenhum. Encontrou-nos a nós. (David Mouräo-Ferreira, I, 23.) Objecto indirecto. r. Objecto indirecto e o complemento de um verbo transitivo indirecto, isto 6, 0 complemento que se liga ao verbo por meio de prepo-sicäo. Pode ser representado por: a) substantivo: Duvidava da riqueza da terra. (Nelida Pinon, CC, 190.) b) pronome (substantivo): Que ela afaste de ti aquelas dores Que fizeram de mim isto que sou! (Florbela Espanca, S, 24.) f) numeral: Os domingos, porem, pertenciam aos dois. (Fernando Namora, CS, 113.) d) palavra ou expressäo substantivada: Mas — quem daria dinheiro aos pobres? (Ciarice Lispector, BF, 138.) Seu formidável vulto solitario Enche de estar presente o mar e o ceu. (Fernando Pessoa, OP, 14.) e) oraeäo substantiva (objectiva indirecta): — Näo te esquecas de que a obediéncia é o primeiro voto das novicas. (Josué Montello, DP, 236.) 2. Näo vem precedido de preposicäo o objecto indirecto representado pelos pronomes pessoais oblíquos me, te, lbe, nos, vos, lbes, e pelo refle-xivo se. Note-se que o pronome obliquo lbe (lbes) é essencialmente objecto indirecto: As noites näo lhe trouxeram repouso, mas deram-lhe, em contrapartida, tempo para a meditaeäo. üoaquim Paco d'Arcos, CVL, 1177.) Luis Garcia dera-se pressa em visitar o filho de Valeria. (Machado de Assis, OC, I, 336.) Objecto indirecto pleonästico. Com a finalidade de realcä-lo, costuma-se repetir o objecto indirecto. Neste caso, uma das formas e obrigatoriamente um pronome pessoal ätono. A outra pode ser um substantivo ou um pronome obliquo tönico antecedido de preposicäo: — Quem lhe disse a voce que estavam no palheiro? (Carlos de Oliveita, AC, 119.) Predicativo do objecto. i. Tanto o objecto directo como o indirecto podem ser modifi-cados por predicativo. O predicativo do objecto só aparecc no predi-cado verbo-NOMiNAL, e é expresso: BREVE G RAMATI C A DO PORTUGUIiS CONTEMPORANEO FRASE, ORACAO, PERIODO IO9 a) por substantivo: Uns a nomeiam primavera. Eu Ihe chamo estado de espirito. (Carlos Drummond de Andrade, FA, 125.) /;) por adjectivo: Os trabalhadores da Gamboa julgam-no assombrado. (Orlando Mendes, P, 140.) 2. Como o predicativo Do sujeito, o do objecto pode vir antece-dido de preposicäo, ou do conectivo como: Quaresma entäo explicou porque o ttatavam por major. (Lima Barreto, TFPQ, 215.) Considero-o como o primeiro dos precursores do espirito moderno. (Antero de Quental, C, 313.) Observacäo: Somente com o verbo cbamar pode ocorrer o predicativo do objecto In-directo: A gente sö ouvia o Pancärio chamar-lhe ladräo e mentiroso. (Castro Soromenho, V, 220.) Agente da passiva. i. Agente da passiva é o complemento que, na voz passiva com auxiliar, dcsigna o ser que pratica a accao sofrida ou recebida pelo sujeito. Este complemento verbal —normalmente introduzido pela preposicao por (ou per) e, algumas vezes, por de— pode ser representado: a) por substantivo ou palavra substantivada: — Esta carta foi escrita por um marinheiro americano. (Fernando Namora, DT, 120.) b) por pronome: A mesma oragäo foi por mim proferida em Säo Jose dos Campos, minha cidade natal. (CassianoJRicardo, VTB, 26.) c) por numeral: Näo devem ser escutadas por todos; tern de ser ouvidas por um. (Joaquim Pago d'Arcos, CVL, 350.) d) por oraeäo substantiva: Mariana era apreciada por todos quantos iam a nossa casa, homens e senhoras. (Machado de Assis, 0C} II, 746.) Transformacäo de oraeäo activa em passiva. 1. Quando uma oragäo contem um verbo construido com objecto directo, ela pode assumir a forma passiva, mediante as seguintes transfor-macöes: a) o objecto directo passa a ser sujeito da passiva; b) o verbo passa ä forma passiva analitica do mesmo tempo e modo; c) o sujeito converte-se em agente da passiva. Tomando-se como exemplo a seguinte oragäo activa: A inflagäo corröi os salärios. poderiamos coloca-Ia no esquema: oraeäo sujeito objecto directo Convertida na oragäo passiva, teriamos: no breve gramática do portugués contbmporáneo frase, ORA9AO, período iii Os salátíos sao corroidos pela inflacao. O seu esquema seria entao: oraglo sujeito agente da passiva 2. Se numa oracao da voz activa o verbo estiver na j.a pessoa do plural para indicar a mdeterminacao do sujeito, na transformagao passiva cala-se o agente. Assim: voz acttva Aumentaram os saldrios. Contiveram a inflacao. voz passiva Os salários foram aumentados. A inflacao foi contida. Observances: 1. a Cumpre nao esquecer que, na passagem de uma oracao da voz activa para a passiva, ou vice-versa, o agente e o paciente continuam os mcsmos; apenas desempenham funcao sintáctica diferente. 2. a Na voz passiva pronominal, a lingua moderna omite sempře o agente: Aumentou-se o salário dos gráficos. Conteve-se a inflacao em níveis razoáveis. A ORACÁO E OS SEUS TERMOS ACESSÓRIOS Chamam-se acessórios os termos quc se juntám a um nome ou a um verbo para lhes precisar o significado. Embora tragam um dado novo á ora$ao, nao sao indispensáveis ao entendimento do enunciado. Dal a sua denominacao. Sáo termos acessórios: a) o adjunto adnominal; b) o adjunto adverbial; c) o aposto. ADJUNTO ADNOMINAL Adjunto adnominal é o termo de valor adjectivo que serve para especificar ou delimitar o significado de um substantivo, quaiquer que seja a funcáo děste. O adjunto adnominal pode vir expresso por: a) adjectivo: Na areia podemos fazer até castelos aoberbos, onde abrigar o nosso íntimo sonho. (Rubem Braga, CCB, 251.) b) locucao adjectiva: Era um homem de consciěncia. (Augusto Abelaira, NC, 15.) c) artigo (definido ou indefinido): O oyo é a cruz que a galinha catrega na vida. (Clarice Lispector, FC, jr.) d) pronome adjectivo: Deposito a miruia dona no limiar da sua moradia. (Fernanda Botelho, X, 118.) e) numeral: Casara-se havia duas semanas. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 29.) f) oragao adjectiva: Os cabelos, que tinha fartos e Hsos, caíram-lhe todos. (Maria Juditě de Carvalho, AV, 116.) 112 i breve gramática do portugués contempqraneo '■ fräse, oracäo, período 113 ADJUNTO ADVERBIAL Adjunto adverbial e, como o nome indica, 0 termo de valor adverbial que denota alguma circunstäncia do facto expresso pelo verbo, ou inten-sifica o sentido deste, de um adjectivo, ou de um adverbio. O adjunto adverbial pode vir representado: a) por adverbio: Amou-a perdidamente. (Lygia Fagundes Teiles, DA, 118.) b) por locucäo ou expressäo adverbial: De subito, eu, o Baräo e a criada comecamos a dancar no meio da sala. (Branquinho da Fonseca, B, 61.) c) por ora.cäo adverbial: Fechemos os olhos ate que o sol comece a declinar. (Anibai M. Machado, CJ, 82.) Classificacao dos adjuntos adverbiais. é dificil enumerar todos os tipos de adjuntos adverbiais. Muitas : vezeš, só em face do texto se pode propor uma classificacao exacta. Näo obstante, convém conhecer os seguintes: i a) de causa: j i Por que lhes dais tanta dor?l | (Augusto Gil, LJ, 25.) [ b) de companhia: I Vivi com Daniel perto de dois anos. I (Clarice Lispector, BF, 79.) <■) de dúvida: Talvez Nina tivesse razäo... (Vitorino Nemésio, MTC, 105.) d) de hm: Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo. (Marqués de Marica, M, 87.) e) de instrumento: Dou-te com o chicote, ouvistel (Luandino Vieira, L, 41.) f) de intensidade: Gosto muito de ti. (Miguel Torga, NCM, 32.) g) de lug ar: O vulto escuro entrou no jar dim, sumiu-se em meio as árvores. (Érico Veríssimo, LS, 13;.) h) de materia: Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melan-colia. (Machado de Assis, OC, I, 413.) t) de meio: Estarei talvez confundindo as coisas, mas Anlbal ainda viajava de bici-cleta, imagineml (Augusto Abelaira, NC, 19.) j) de modo: Vagarosamente ela foi recolhendo o fio. (Lygia Fagundes Teiles, ABV, 7.) /) de negacäo: —■ Näo, senhor Cónego, vejo. Mas näo concordo, näo aceito. (Bernardo Santareno, TPM, 109.) breve gramática do portugues contemporáneo m) de tempo: Todas as manhäs ele sentava-se cedo a essa mesa e escrevia até as dez, onze horas. (Pedro'Nava, BO, 330.) APOSTO 1. Aposto é o termo de catácter nominal que se junta a um substan-tivo, a um pronome, ou a um equivalente destes, a título de expiicagäo ou de apreciacäo: Eles, os pobres desesperados, tinham uma eufória de fantoches. (Fernando Namora, DT, 237.) 2. Entre o aposto e o termo a que ele se refere há em geral pausa, marcada na escrita por urna virgula, como no exemplo adma. Mas pode também näo haver pausa entre o aposto e a palavra prin-dpal, quando esta é um termo genérico, espedficado ou individualkado pelo aposto. Por exemplo: A ddade de Lisboa O rd D, Manuel O poeta Bilac O més de Junho Este aposto, chamado de especdticacao, näo deve ser confundido com certas construcôes formalmente semelhantes, como: O clima de Lisboa A época de D. Manuel O soneto de Bilac As festas de Junho em que de Lisboa, de Bilac, de D. Manuel e de Jtmbo equivalem a adjectívos (= lisboeta, bilaquiano, manuelina e juninas) e fundonam, portanto, como atri- butos ou adjuntos adnominais. 3. O aposto pode também: a) ser representado por urna oracäo. Homcm fcio tem esta vantagem: mulher burra näo o persegue. (Gilberto Amado, DP, 254.) , ynASE, ORAGÄO, PERÍODQ_ j, j ' n ! b) referir-se a uma oragäo inteka: O importante é saber para onde puxa mais a corredeira — coisa, aliás sem grandes mistérios. (Márío Palmérío, VC, 375.) c) ser enumerativo, ou recapitulativo: Tudo o fazia lembrar-se dela: a manhä, os pássaros, o mar, o azul do céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobre-tudo as fontes, principalmentc as fontes! \ (Almada Negreiros, NG, 112.) Os porcos do chiqudro, as galinhas, os pés de bogari, o cardeiro da estráda, as cajazeiras, o bode manso, tudo na casa de seu compadre parecia ' mais seguro do que dantes. ; Qosé Lins do Rego, FM, 289.) 1 i Valor sintáctico do aposto. O aposto tem o mesmo valor sintáctico do termo a que se refere. Pode, assim, haver: a) aposto no sujeito: Ela, Dora, foi, de resto, muitíssimo disereta. ; (Maria Judite de Carvalho, A V, 105.) b) aposto no predicativo: Ele era o famoso Ricardäo, o hörnern das beiras do Verde Pcqueno. ; (Guimaräes Rosa, GS-V, 203.) c) aposto no complemento nominal: i Joäo Viegas está ansioso por urn amigo que se demora, o Calisto. : (Machado de Assis, OC, II, 521.) d) aposto no objecto directo: Jogamos uma parüda de xadrez, uma luta renhida, quasc duas horas... (Augusto Abelaira, NC, 54.) ; ŕ) aposto no objecto mdirecto: i Meu pai cortava cana para a égua, sua montaria prcdilcta. i (Jorge Amado, MG, 13.) lití BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO FRASE, ORACÄO, PERIODO "7 /) aposto no agente da passiva: As paiedes foram levantadas por Tomáš Manuel, avô do Engenheiro. (José Cardoso Pires, D, 63.) g) aposto no adjunto adverbial: Vocé näo tem relacôes aqui, no Rio, menino? (Lima Barreto, REIC, 89.) h) aposto no aposto: Os primeiros foram os Vilelas, família composta de Justiniano Vilcla, chefe de seccäo aposentado, D. Margarida, sua esposa, e D. Augusta, sobrinha de ambos. (Msichado de Assis, OC, II, 193.) i) aposto no vocativo: Razäo, irmä do Amor e da Justica, Mais urna vez escuta a minha prece. (Antero de Quental, SC, jt.) Aposto e predicativo. Com o aposto atribui-se a um substantivo a propriedade representada por outro substantivo. Os dois termos designam sempře o mesmo ser, o mesmo objecto, o mesmo facto ou a mesma ideia. Por isso, o aposto näo deve ser confundido com o adjectivo que, cm funcäo de predicativo, costuma vír separado do substantivo que modi-fica por uma pausa sensível (indicada geralmente por vírgula na escrita). Numa ora^äo como a seguinte: E a noite vai descendo muda e calma... (Florbcla Espanca, S, 60.) que também podetia ser enunciada; E a noite, muda e calma, vai descendo... ou: E, muda e calma, a noite vai descendo... muda í- calma é predicativo de um predicado verbo-nominal. O mesmo raciodnio aplica-se ä análise de oiajöes elipticas, cujo corpo se reduz a um adjectivo que nelas desempenha a funcäo de predicattvo. É 0 caso de frases do tipo: Rico, desdenhava dos humildes. em que rico näo é aposto. Equivale a uma oracäo adverbial de causa [= porque era rico], dentro da qual exerce a funcäo de predicativo. O adjectivo, enquanto adjectivo, «näo pode exercer a funcäo de aposto, porque ele designa uma característica do sei on da coisa, e näo 0 proprio ser ou a propria coisa». VOCATIVO Examinando estes versos de Antonio Nobre: Manuel, tens razäo. Venho tarde. Desculpa. (ß, Ji.) Ó sinos de Santa Clara, Por quem dobrais, quem morreu? i3o: a) o ataque da frase comecar por um nível tonal mais alto do que na oracao declarativa; b) na parte medial do segmento melódico, haver um'a queda da voz, que, embora seja mais acentuada do que nas oracöes declarativas, näo altera o carácter ascendente desta modalidade de interrogacäo; c) subir a voz acentuadamente na ultima vogal tónica, ponto culmi-nante da frase; em seguida, softer uma queda brusca, apesar de se manter em nivel tonal elevado.. 3. Comparando esta curva ä da oraclo declarativa estudada, verifica-mos que elas se assemelham por terem ambas a parte iniciál ascendente e a parte medial relativamente uniforme. Distinguem-se, porém: a) quanto ä parte final: descendente, na declarativa; ascendente na interrogativa; b) quanto ao nivel tonal: medio e baixo, na declarativa; alto e altis-simo, na interrogativa; e) quanto ä queda da voz a partir da ultima sílaba tónica: progressiva, na declarativa; brusca, na interrogativa. 4. Por ser a curva melódica descrita pěla voz o úaico elemento que, na frase em exame, contribui para o carácter interrogativo da mensagem, temos de reconhecer que, em casos tais, a entoacao apresenta inequivoco valor funcional na nossa lingua. Oracoes iniciadas por pronome ou adverbio interrogativo. Tomemos como exemplo a oracäo: Como soube disto? Em sua enunciacäo a voz descreve a seguinte curva melódica: co sou mo be dis to breve gramática do portugués contemporaneo Tí6 _______---.----—--—- que poderíamos assim esquematizar: Säo características das oragöes interrogativas děste tipo: a) o ataque da frase que, iniciado em um nível tonal muito alto, sobe, äs vezeš, bruscamente até ä primeira sílaba tónica, sílaba esta que, na maio-ria dos casos, pertence ao pronome ou ao advérbio interrogativo, ou seja, ao elemento que realiza a funcao ínterrogativa da oragäo; b) a curva melódica, que, após a primeira sílaba tónica, decresce pro-gressivamente e de maneira mais acentuada do que nas frases declarativas. Interrogacäo directa e indirecta. 1. Vimos que a interrogacäo pode ser expressa: a) ou por meio de uma oragäo em que a parte final apresenta entoa-gäo ascendente, como em: Os alunos chegaram tarde? b) ou por uma or«.cao inkiada por pronome ou advérbio interrogativo, em que a parte final apresenta entoagäo descendente, por exemplo: Como soube disto? Nestes casos dizemos que a interrogagäo é directa. 2. Existe, porém, um outro tipo de interrogagäo, chamada indirecta, que se faz por meio de um periodo composto, em que a pergunta está contida numa oragäo subordinada de entoagäo descendente. Exemplo: Diga-me como soube disto. 3. Nas oragöes interrogativas indirect as a entoagäo apresenta as seguintes características: a) o ataque da frase comega por um nível tonal alto; hi uma eleva- frase, oracäo, periodo gäo da voz na primeira silaba tönica, seguida de um lento declinio da curva melödica ate o final da frase; b) o nivel tonal da frase e, em geral, mais baixo que o da interrogagäo directa; c) a queda da curva melödica e progressiva, semelhante ä que se observa nas oragöes declarativas. 4. A escrita procura reflectir a diferenga tonal entre essas formas de interrogagäo com adoptar o ponto de interrogacäo para marcar o ter-mino da interrogagäo directa, e o simples ponto, para o da indirecta. Oracao exclamativa, Nas exclamagoes, a entoagao depende de multiplos factores, especial-mente do grau e da natureza da emogao de quem fala. £ a expressao emocional que faz variar o torn, a duragao e a intensidade de uma interjeigao monossilabica, tal como acontece com a interjeicao obi nestes dois versos de Castro Alves: Oh! que doce harmonia traz-me a brisal Oh! ver nao posso este Iabdu malditol Nas formas exclamativas de maior corpo, a expressao emocional con-centra-se fundamentalmente ou na silaba que recebe o acento de insistSncia (se homrr), ou na silaba em que recai o acento normal. Como o primeiro nao rem valor ritrnico, e o acento normal o apice da curva meI6dica. Assim, nas exclamagoes: Bandido! Insolente! Fantastico! a voz eleva-se ate" a silaba tonka e, depois de alguma demora, decai bruscamente. Obedecem elas, pois, ao esquema breve gramática do portugués contemporaneo semclhante ao da entoacäo deckrativa. Já cm exdamagöes como Jesus! Adeus! Imbecili o grupo fónico é ascendente, e aproxima-se do esquema da entoacäo inter-rogativa: 2. Maior variedade em matizes de entoacäo encontramos, natural-mente, nas frases exclamativas constituidas de duas ou mais palavras. A curva melódica dependerá sempře da posicäo da palavra de maior conteudo expres-sivo, porque é sobre a sua sílaba acentuada que iräo incidir o tom agudo, a intensidade mais forte e a maior duracäo. Como a sílaba forte da palavra de maior valor expressivo pode ocupar a posicäo iniciál, medial ou final da oragäo, trés solucöes devem ser con-sidcradas: Se a sílaba em causa for a iniciál, todo o resto do enunciado terá entoacäo descendente. Exemplo: Deus de minha alma I 2.a) Se for a final, a frase inteira terá entoagäo ascendente: Meu amor! frase, oracäo, período A linha tonal de cada um desses casos poderia ser assim esquematizada: Conclusao. Do exposto, verificamos que a linha melodica tern uma fungao essen-cialmente oracional. Com uma simples mudanga de torn, po demos reforcar, atenuar ou, mesmo, inverter o sentido literal do que dizemos. E, por exemplo, a entoagao particular que permite uma forma imperativa exprimir todos os matizes que vao da ordem a siiplica. Pela entoacao que lhes dermos, frases como Pois naol Pois siml podem ter ora valor afirmativo, ora negativo. Enfim: a entoagao reflecte e expressa nossos pensamentos e sentimentos. Se o acento & a «alma da palavra», devemos considera-la a «alma da ora-gao». 3-a) Se for uma das sílabas mediais, a entoagäo será ascendente até a referida sílaba e descendente dela até a final, como nos mostram estes exem-plos colhidos em obra de Marques Rebelo: Sai da frentcl Todo o mundolll I SüBSTANTIVO 131 8. Substantivo 1. Substantivo e a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral. Säo, por conseguinte, substantivos: a) os nomes de pessoas, de lugares, de instituicöes, de um genero, de uma especie ou de um dos seus representantes: Maria Lisboa Senado ärvore cedro b) os nomes de nocöes, accöes, estados e qualidades, tornados como seres: justica colheita velhice largura bondade 2. Do ponto de vista funcional, o substantivo e a palavra que serve, privativammk, de nücleo do sujeito, do objecto directo, do objecto indirecto e do agente da passiva. Toda palavra de outra classe que desempenhe uma dessas funcöes equivalerä forcosamente a um substantivo (pronome substantivo, numeral ou qualquer palavra substantivada). CLASSIFICAgÄO DOS SUBSTANTIVOS Substantivos concretos e abstractos. Chamam-se concretos os substantivos que designam os seres pro-priamcnte ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de institui- cöes, de um genero, de uma especie ou de um dos seus representantes: homem cidade Senado arvore cab Pedro Lisboa Forum cedro cavalo Da-se o nome de abstractos aos substantivos que designam nocoes, accoes, estados e qualidades, considerados como seres: justica colheita velhice largura bondade verda.de viagem doenca optimismo docura Substantivos pröprios e comuns. Os substantivos podem designar a totalidade dos seres de uma especie (design acäo generic a) ou um individuo de determinada especie (design a-cäo especifica). Quando se aplica a todos os seres de uma especie ou quando designa uma abstraccäo, o substantivo e chamado comum. Quando se aplica a determinado individuo da esp6cie, o substantivo e proprio. Assim, os substantivos homem, pais e cidade säo comuns, porque se empre-gam para nomear todos os seres e todas as coisas das respectivas classes. Pedro, 'Brasil e Lisboa, ao contrario, säo substantivos pröprios, porque se aplicam a um determinado homem, a um dado pals e a uma certa cidade. Substantivos colectivos. Colectivos säo os substantivos comuns que, no singulár, designam um. conjunto de seres ou coisas da mesma espécie. Comparem-se, por exemplo, estas duas afirmacôes: Cento e vinte milhôes de brasileiros pensam assim. O povo brasileiro pensa assim. Na primeira enuncia-se um numero enorme de brasileiros, mas reprc-sentados como uma qttantidade de iiidiaidnos. Na segunda, sem indicacäo de numero, sem indicar gramaticalmente a multiplicidadc, isto 6, com uma breve gramáttca do portugués contemporäneo SUBSTANTTVO '33 forma de singular, consegue-se agrupar maior numero ainda de elementos, ou seja todos os brnsileiros como um conjunto harmonice Alem desses colectivos que exprimem um todo, há na lingua oütros que designam: a) uma parte organizada de um todo, como, por exemplo, regimento, batalhäo, companhia (partes do colectivo geral exéráto); b) um grupo acidental, como grnpo, ru/il/iddo, bando: bando de andorí-nbaSj bando de salteadores, bando de ciganos; c) um grupo de seres de determinnda espécie boiada (de bois), ramaria (de ramos). Costumam-se também incluir entre os colectivos os nomes de corpora-cöes sociais, culturais e religiosas, como assembleia, congresso, congregafao, concilio, conclave e consistório. Tais denominates afastam-se, no entanto, do tipo normal dos colectivos, pois näo säo simples agrupamentos de seres, antes representam instituicöes de natureza especial, organizadas em uma entidade superior para determinado fim. Eis alguns colectivos que merecem ser conhecidos: alcateia (de lobos) armento (de gado grande: bois, búfalos, etc.) arqaipélago (de ilhas) atilbo (de espigas) banca (de examinadores) banda (de músicos) bando (de aves, de ciganos, de malfei- tores, etc.) cacbo (de bananas, de uvas, etc.) cáfila (de camelos) cambada (de mnlandros, e, no Brasil, também de caranguejos, de chaves, etc.) camioneiro (conjunto de cancoes, de poe-sias liricas) carovaná (de viaj antes, de peregrinos, de estudantes, etc.) cardume (de peixes) choldra (de assassinos, de malandros, de malfeitores) chnsma (de gente, de pessoas) constelafío (de estrelas) corja (de vadios, dc tratantes, de velha- cos, dc ladtocs) coro (de anjos, de cantores) elenco (de actores) falange (de soldados, de anjos) fardndttla (de ladrôes, de desordeiros, de assassinos, de maltrapilhos e de vadios) fato (de cabras) feixe (de lenha, de capim) frota (de navios mercantes, de autocarros ou onjbus) girándola (de foguetes) borda (de povos selvagens nómadas, de desordeiros, de aventureiros, de ban- didos, de invasores) junta (de bois, de médicos, de credores, de examinadores) legiäo (de soldados, de demónios, etc) magote (de pessoas, de coisas) malta (de desordeiros) manada (de bois, de búfalos, de elefantes) matilba (de cííes dc caca) matula (de vadios, de desordeiros) mi (de gente) molbo (de chaves, de verdura) multidäo (de pessoas) ninbada (dc pintos) pléiadc (de poetas, de ardstas) quadrilha (de ladröes, de bandidos) ramalbete (de flores) rebanho (de ovelhas) récua (de bestas de carga) réstia (de cebolas, de alhos) roda (de pessoas) romanceiro (conjunto de poesias narrati-vas) lúcia (de velhacos, de desonestos) talba (de lenha) tropa (de muares) vara (de porcos) Observacöes: 1. a Excluimos dessa Iista os numerais coLEcrrvos, como novena, decada, du\ta, etc., que designam um nümero de seres absolutamente exaeto. Leia-se, a propösito, o que dizemos no Capitulo 12. 2. a O colectivo especial geralmente dispensa a enunciacäo da pessoa ou coisa a que se refere. Tal omissäo e mesmo obrigatoria quando o colectivo e um meto derivado do substanrivo a que se apüca. Assim, dir-se-ä: A ramaria baloufava ao vento. A papelada estava em ordern. Quando, porem, a significagäo do colectivo näo for espedfica, deve-se nomear o ser a que se refere: Uraa junta de medicos, de bois, etc. Um febte de capim, de lenha, etc. FLEXÔES DOS SUBSTANTTVOS Os substantivos podem variar em numero, género e grao. NUMERO Quanto ä flexäo de numero, os substantivos podem estar: a) no singulár, quando designam um šer unico, ou um conjunto de seres considerados como um todo (substantivo colecttvo): aluno povo b) no plurál, quando designam mais de um ser, ou mais de um desses conjuntos orgänicos: alunos povos 134 breve gramática do portugués contemporäneo sübstantivo FORMACÄO DO PLURAL Substantivos terminados em vogal ou ditongo. Regra geral: O plural dos substantivos terminados em vogal ou ditongo rbrma-se acrescentando-se -s ao singular: Singular mesa estante rinteiro rajá boné javali cipó peru Plural mesas estantes tínteiros rajás bonés javalis cipós perus Singular Plural pai pais pau paus lei leis chapéu chapéus carnafeu camafeus herói heróis boi bois mäe mäes Incluem-se nesta regra os substantivos terminados em vogal nasal. Como a nasalidade das vogais / e/, /i/, /o / e /u/, em pösicäo final, é representada graficamente por -m, e näo se pode escrever -ms, muda-se o -/// em -n. Assim: bem faz no plural bens; flautim faz flautins; som faz sons; atum faz atuns. Regras especiais: i. Os substantivos terrninados em -äo formám o plural de trěs maneiras: a) a maioria muda a terminacäo -äo em -des: Singular Plutal Singular Plural baläo balôes gaviäo gaviöes botäo botôes leäo leöcs cancäo cancôes nacäo nacöes confissäo confissöes operacao operacöes coracäo coracöes opiniäo opiniöes eleicäo eleigöes questäo questöes cstacäo estaföes tubaräo tubaröes fraccäo frac9Öes vulcäo vulcöes 135 Neste grupo se incluem todos os aumentativos: Singular Plural amigalhäo amigalhöes bobalhäo bobalhöes casaräo casaröes chapeläo chapelöes dramalhäo dramalhöes espertalhäo espertalhöes facäo facöes ßgurao figuröes Singular Plural moleiräo narigäo paredäo pobretäo rapagäo sabichlo vagalhäo vozeiräo moleiröes narigôes paredöes pobretöes rapa goes sabichöes vagalhôes vozeiröes b) um reduzido numero muda a ternrinacäb -äo em ~3es: Singular Plural Singular Plural alemäo bastiäo cäo capeläo capitäo cataläo bastiäes cäes capeläes capitaes cataläes charlatan escriväo guardiäo päo sacristäo tabeliäo charlatäes escriväes guardiaes päes sacristäcs tabeliäes c) um numero pequeno de oxítonos e todos os paroxitonos acrescen-tam simplesmente um -s ä forma singular: Singular Plural Singular Plural cidadäo cortesäo cristäo desväo irmäo pagäo cidadaos cortesäos cristäos desväos irmäos pagäos acórdäo bSncäo gólfäo órfáo órgäo sótäo acórdaos' béncäos gólfäos órfäos órgäos sótäos Observacoes: i.* Neste grupo se incluem os monossílabos tónicos ehäo, grao, mäo e väo, que fazem no plural chaos, gräos, mäos e väos. z.a ArtesSo, quando significa «artlficc», faz no plural artesäos; no sentido de «adorno arquitectónico», o seu plural pode ser artesäos ou arlesSes. IJC breve gramatica do portugues contemporaneo %. Para alguns substantivos finalizados em -äo, näo há ainda uma forma de plural definitivamente fixada, notando-se, porém, na linguagem corrente, uma preferencia sensível pela formacäo mais comum, em -Oes. É o caso dos seguintes: sübstanttvo 137 Singular aläo alazäo aldeäo casteläo anciäo corrimäo deäo Plural Singular alilos alôes aläes alazäes alazöes anäos anöes aldeaos aldcöcs aldeäes casteläos castelöes anciäos anciöcs anciäes corrimäos corrknöes deäes deöes ermitäo horteläo rufiäo refräo truäo sultäo verao viläo Plural ermitäes ermitäos ermitöes horteläos hortelöes rufiäes rufiöes refräes refräos truäes truöes sultöes sultäos ' sultäes veröes veräos viläos vilöes Apontam-se os seguintes: abrolho escolho olho rogo carogo esforco osso sobrolho contorno estorvo ovo socorro corcovo fogo pogo tijolo coro forno porco toco corno foro porto tojo corpo fosso posto tordo corvo imposto povo torno despojo jogo reforco troco destrogo miolo renovo trogo 2. Note-se, porém, que muitos substantivos conservam no plural o o fechado do singular. Entre outros, näo alteram o timbre da vogal tónica: acordo encosto raogo potro adorno engodo molho reboco bojo estojo morro repolbo bolo ferrolho mosto restolho cachorro globo namoro rolo coco golfo piloto rosto colmo gosto piolho sopro consolo lobo poldro suborno dorso Iogro polvo topo 3. Por vezes diverge, na formacäo desses plurais, a norma culta de Portugal e a do Brasil. É o caso, por exemplo, dos substantivos almo$o, bolso e sogro, que, no plural, apresentam a vogal aberta [o] em Portugal e a fechada [o] no Brasil. Cumpre advertir, por fim, que, no curso histórico da lingua, certos substantivos alteraram o timbre da vogal tónica no plural e que outros, ainda hoje, vacilam no preferír uma das duas solucöes. Observagäo: Atente-se na distincäo entre molbo «condimento» (por ex.: o molho da carne) e molho «feixe» (por ex.: urn molho de (haves), palavras que consetvam no plural a mesma difcrenga de timbre da vogal tónica. Plural com alteracäo de timbre da vogal tónica. i. Alguns substantivos, cuja vogal tónica é 0 fechado, além de rece-berem a desincncia -s, mudam, no plural, o o fechado [o] para aberto [o]. Substantivos terminados em consoante. r. Os substantivos terminados em -r, e -// formám o plural acres-centando -es ao singular: i38 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUis CONTEMPORANEO substanttvo 139 Singular Plural Singular Plural Singular Plural mar agúcar colher rcitor mares acúcares colheres reitores rapaz xadrez raiz cruz rapazes xadrezes raizes cruzes abdomen canon dolmen liquen abdómenes cänones dólmenes llquenes Observacöes: 1. » O plurál de carácter (escrito caráter na ortografia brasileira) é, tanto em Portugal como no Brasil, caracteres, com deslocagäo do acento tónico e articulaoäo do c que possuía de origem. z.3, Também com deslocajäo do acento é o plurál dos substantivos espé-cimen, Jupiter e Lucifer: especlmmes, Jupíteres e Luclferes. Advirta-se, porém, que, a par de Lucifer, há Lucifer, forma antiga no idioma, cujo plurál é, naturalmente, Lwiferes. 2. Os substantívos terminados em -s, quando oxítonos, formám o plurál acrescentando também -es ao singulár; quando paroxítonos, säo inva-riáveis: Singular Plural Singular Plural 0 ananás os ananases 0 adas os atlas 0 portugués os Portugueses 0 pires os pires 0 revés os reveses 0 lápis os lápis 0 pals os paises 0 oásis os oásis 0 retrós os retroses 0 ónibus os ónibus Observacöes: I.» O monossílabo cais é invariável. Cós é geralmente invariável, mas docu-menta-se também o plurál coses. z.a Como os paroxitonos terminados em -s, os poucos substantivos existentes em -x säo invariáveis: o torax —os torax, o ónix— os ónix. 3. Os substantivos terminados em ~al, -el, -ol e -ul substituem no plural o -/ por -is: Singular Plural Singular Plural animal animais farol faróis papel papéis lencol lencóis móvel móveis álcool álcoois nlqucl nlqueis paul pauis Observacäo: Exceptuam-se as palavras mal, real (moeda) e consul e seus derivados, que fäzem, respectivamente, males, reis, consults e, por este, procônsules, vice-cônsuks. 4. Os substantivos oxítonos terminados em -// mudam o -/ em -s: Singular Plural Singular Plurál ardil ardis runü funis 5. Os substantivos paroxítonos terrninados em terminacäo por -eis: -// substituem esta Singular Plural Singular Plural fóssil fósseis reptil répteis Observacöes: 1.* A palavra projéctíl, paroxítona na norma culta de Portugal, tem aí como plurál projkteis. Ňa norma culta brasileira, a pronůncia mais generalízada é projetil, que apresenta o plurál projetis, zfi Reptil, pronůncia que postula a origem latina da palavra, tem a variante reptil, cujo plurál é, naturalmente, rettis, 6. Nos diminutivos formados com os sufixos -sgnbo e -%ito, tanto o substantivo primitivo como o sufixo vao para o plurál, desaparecendo, porém, o -s do plurál do substantivo primitivo. Assim: Singular Plural baläozinho balöe(s) + zinhos > balöezinhos papelzinho papéi(s) + zinhos > papeizinhos colarzinho colare(s) -f- zinhos > colarezinhos cäozito cäe(s) + zitos > cäezitos Substantivos de um só numero. i. Há substantivos que só se empregam no plural. Assim: alvlssaras cäs fezes primicias 140 breve gramática do portuguľs contemporáneq substantivo 141 anais antolhos arredorcs bclas-artcs calendas condoléncias esponsais exéquias fas tos férias matinas núpcias óculos olheiras pésames víveres copas (naipe) espadas (naipe) ouros (naipe) paus (naipe) 2. Outros substantivos existem que se usam habituaimente no singular. Assim os nomes de metais e os nomes abstractos: ferro, oiiro, cobre; f i, esperanta, caridade, Quando aparecem no plural, tém de regra um sen-tido diferente. Comparem-se, por exemplo, cobre (metal) a cobres (dinheiro), ferro (metal) a ferros (ferramentas, aparelhos). Substantivos compostos. Näo é fácil a forrmeäo do plural dos substantivos compostos. Obser-vem-se, porém, as seguintes normas, com fundamento na grafia: i.a) Quando o substantivo composto é constituído de palavras que se eserevem ligadamente, sem hífen, forma o plural como se fosse um substantivo simples: aguardente(s) clarabóia(s) varapau(s) ferrovia(s) malmequer(es) lobisomen(s) pontapé(s) vaivén(s) z.a) Quando os termos componentes se ligám por hífen, podem variar todos ou apenas um deles: Singular Plural Singular Plural couve-flor obra-prima salvo-conduto couves-flores obras-primas salvos-condutos gräo-mestre guarda-marinha guarda-roupa gräo-mestres guardas-marinha guarda-roupas Note-se, porém, que: d) quando 0 primeiro termo do composto é verbo ou palavra invariá-vcl e 0 segundo substantivo ou adjectivo, só 0 segundo vai para 0 plural: Singular Plural Singular Plural guarda-chuva semprc-viva vice-presidente guarda-chuvas semprc-vivas vice-presidentes bate-boca abaixo-assinado gräo-duque bate-bocas abaixo-assinados gräo-duques b) quando os termos componentes se ligam por preposicáo, só o primeiro toma a forma de plural: Singular Plural Singular Plural chapéu-de-sol päo-de-ló pé-de-cabra chapéus-de-sol päes-de-ló pés-de-eabta peroba-do-campo joäo-de-barro mula-sem-cabega perobas-do-campo joôes-de-barro mulas-sem-eabeca e) também só 0 primeiro toma a forma de plural quando 0 segundo termo da composicäo é um substantivo que funciona como determinante específico: Singular Plural Singular Plural navio-escola salário-familia navios-escola salários-família banana-prata manga-espada bananas-prata mangas-espada d) geralmente ambos os elementos tomam a forma de plural quando 0 composto é constituído de dois substantivos, ou de um substantivo e um adjectivo: Singular Plural Singular Plural carta-bilhete tenente-coronel amor-perfeito cartas-bilhetes tenentes-coronéis amores-perfeitos gentil-homem água-marinha vitória-régia gentís-homens águas-rnarinhas vitórias-régias GÉNERO 1. Há dois géneros em portugués: o masculino e o feminino. O masculino é o termo näo mareado; o feminino, o termo mareado. 2. Pertencem ao género masculino todos os substantivos a que se pode antepor o artigo 0: o aluno o päo o poema o jabuti 14* breve gramáttca do portugués contemporáneq sobstantivo r43 Pertenccm ao género feminino todos os substantivos a que se pode antcpor o artigo a: a casa a mao a ema a juriti 3. O género de um substantívo näo se conhece, de regra, nem pela sua significacäo, nem pela sua terminacäo. Para facilidade de aprendizado, convém, no entanto, saber: Quantr ä signirica$5o: i. Säo geralmente masculinos: a) os nomes de homens ou de funcöes por eles exercidas: Joäo mestre padre rei b) os nomes de animals do sexo masculino: cavalo galo gato peru c) Os nomes de lagos, monies, oceanos, rios e ventos, nos quais se subentendem as palavras /ago, monte, oceano, rio e vento, que säo masculinas: o Amazonas [= o rio Amazonas] o Atläntico [= o oceano Atläntico] o Ladoga [= o Iago Ladoga] o Minuano [= o vento Minuano] os Alpes [= os montes Alpes] d) os nomes de meses e dos pontos cardeais: marjo findo setembro vindöuro o Norte o Sul 2. Säo geralmente femininos: a) os nomes de mulheres ou de funcöes por elas exercidas: Maria professora fřeira rainha b) os nomes de animais do sexo feminino: čgua galinha gata perua f) os nomes de cidades e ilhas, nos quais se subentendem as palavras cidade e ilha, que säo femininas: a antiga Ouro Preto a Sicília as Antilhas Observacäo: Alguns nomes de cidades, como Rio de Janeiro, Porio, Cairo, Havre, säo masculinos pelas razöes que aduzimos, no Capítulo seguinte, ao tratarmos do emprego do artigo. Quanto ä terminacäo: 1. Säo masculinos os nomes terminados em -o átono: o aluflo o livro o lobo o banco 2. Säo geralmente femininos os nomes terminados em -a átono: a aluna a caneta a loba a mesa Exceptuam-se, porém, clima, cometa, dia, fantasma, mapa, planeta, téle-fonema, fonema e outros mais, que seräo estudados adiante. 3. Dos substantivos terminados em -äo, os concretos säo masculinos e os abstractos, femininos: o agriáo o algodäo a educajäo a opinjäo o balcäo o feijäo a produjäo a recordagäo Exceptua-se mäo, que, embora concreto, é feminino. Fora desses casos, é sempře difícil conhecer-se pela terminagäo o género de um dado substantivu. FORMACÄO DO FEMESETNO Os substantivos que designam pessoas e animais costumam flcxionar-se em género, isto é, tém geralmente uma forma para indicar os seres do sexo masculino e outra para indicar os do sexo feminino. Assim: 144 breve gramática do portugues contemporaneo substantivo H5 Masculino Feminino Masculino Feminino honiem mulher bode cabra aluno aiuna galo galinha cidadiio cidada leitäo leitoa cantor cantora baräo baronesa profeta profetisa lebräo lebre Dos exemplos acima verifica-se que a forma do feminino pode ser: a) completamente diversa da do masculino, ou seja proveniente de um radical distinto: bode cabra homem mulher b) derivada do radical do masculino, medíante a substituicäo ou o acréscimo de desinéncias: aluno aluna cantor cantora Examinemos, pois, ä luz desses dois processos, a formacao do feminino dos substantivos da nossa lingua. Masculinos e femininos de radicais diferentes. Convem conhecer os seguintes: Masculino Feminino bode cabra boi (ou touro) vaca cäo cadela carnciro ovelha cavalheiro dama cavalo égua compadre comadre frei sóror (ou soror) Masculino. Feminino genro nota homem mulher macho fémea marido mulher padrasto madrasta padrinho madrinha pai mäe zángäo abelha Femininos derivados de radical do masculino. Regras gerais: i.a) Os substantivos tcrminados em -o átono formám normalmente o feminino subsütuindo essa desiněncia por -a: Masculino Feminino Masculino Feminino gato gata pombo pomba lobo loba aluno aluna Obscrvacäo: Alem das formacöes irreguläres, que vimos, hä um pequeno nümero de substantivos terminados em -os que, no feriunino, substituem essa final por desi-nencias especiais. Assim: Masculino Feniiriino Masculino Feminino diácono galo diaconisa galinha maestro silfo maestrina silfide 2.a) Os substantivos terminados em consoante formám normalmente o feminino com o acréscimo da desinéncia -a, Exemplos: Masculino Feminino Masculino Feminino camponés fregués camponesa freguesa leitor pintot leitora pintora Regras especiais: i.a) Os substantivos terminados em trés maneiras: -äo podem formar o feminino de a) mudando a final -äo em -oa: Masculino Feminino Masculino Feminino ermitäo horteläo ermitoa horteloa leitäo pattäo leitoa patroa breve gramática. do pos.tuguěs contempob-ä.neo substanttvo b) mudando a final -So em -ä: Masculino Feminino Masculino Ferninino aldeäo anäo aldeä flnä casteläo cidadäo eastelä cidadä c) mudando a final -ao em -ona: Masculino Feminino Masculino Feminino bonachäo foJiäo bonachona foliona moleiräo solteiiäo moleirona solteitona !47 Observacäo: De embaixador há, convencionalmente, dois feminiaos: embaixatri^ (a csposa de embaixador) e embaixadora (funcionária chefe de embaixada), 3-a) Certos substantivos que designam títulos de nobreza e dignida-des formám o feminino com as terminacôes -esa, -essa e -isa: Masculino Feminino Masculino Feminino abade abadessa diácono diaconisa baräo baronesa duque duquesa conde condessa sacerdote sacerdotisa Observacoes: i.a Como se ve, os substantivos que fazem o feminino em -ona sao ou aumentativos ou adjectives substantivados. z.a Alem dos anomalos coo e 3$ngao, a que ja nos referimos, nao seguem estes tres processos de formacao os substantivos seguintes: Masculino Feminino Masculino Femúiino baräo baronesa magänäo magana ladräo ladra perdigäo perdiz lebräo lebre sultäo sultana Usa-se äs vezes ladrona por ladra. 2.a) Os substantivos terminados em -or formám normalmente o feminino, como dissemos, com o aeréscimo da desinéncia -a: Masculino Feminino Masculino Feminino pastor pastora remador remadora Alguns, porém, fazem o feminino em -eira. Assim: cantador — canta- deira, ceryidor — cer^ideira. Outros, dentre os finalizados em -dor e -tor, mudam estas te'rminacöes em -tri%. Assim: actor — actri^, tmperador — imperatri%. Observacäo: De prior hi o feminino prioresa (superiora de certas ordens) e priora (irmä da Ordern Terceira). Principe faz no feminino princesa. 4.a) Os substantivos terminados em -e, näo incluídos entre os que acabamos de mencionar, säo geralmente uniformes. Essa igualdade formal para os dois géneros é, como veremos adiante, quase que absoluta nos finalizados em -nte, de regra originários de patticipios presentes e de adjectivos uniformes latinos. Há, porém, um pequeno numero que, ä semelbanca da substituicäo -o (masculino) por -a (feminino), troca o -e por -a. Assim: Masculino Feminino Masculino Feminino elefante elefanta mestre mestra governante governanta monge monja infante infanta parente parenta Observacäo: Os femininos giganta (de gigante), bůsptda (de bóspcde) e presidenta (de presidente) tém ainda curso restrito no idioma. 5-a) Säo dignos de nota os femininos dos seguintes substantivos: 148 breve gramática do portugués contemporáneo í substantivu «49 Masculino Femínino Masculino Femínino avô avó maestro maestrina consul consulesa píton pitonisa czar czarina poeta poetísa fclá felaína profeta profedsa trade freita raja ráni grou grua rapaz rapariga, moca herói heroina rei rainha jogral jogralesa réu ré Observacao: Rapariga é o femínino de rapa% mais usado em Portugal. No Brasil, prefe-re-se motá em razäo do valor pejorativo que, em certas regiôes, o primeiro termo adquiriu. SUBSTANTÍVOS UNIFORMES Substantívos epicenos. Denominam-se epicenos os nomes de animais que possuem um só género gramatical para designar um e outro sexo. Assim: a aguia a baleia a borboleta a cobra a mosca a onca a pulga a sardinha o besouro o condor o crocodilo o gaviäo o polvo o rouxinol o tatu o tígre Observacao: Quando há necessidade de especificar o sexo do animal, juntam-se entäo ao substantivo as palavras macho e fémea: crocodilo macho, crocodilo fšmea; o macho ou a fémea do jacaré. Substantívos sobrecomuns. Observacao: Neste caso, querendo-se disCTiminar o sexo, diz-se, por exemplo: o cSn/uge femínino; urna pessoa do sexo masculino. Substantívos comuns de dois géneros. Aiguns substantívos apresentam urna só forma para os dois géneros, mas distinguem o masculino do femínino pelo género do artigo ou de outro determinativo acompanhante. Chamam-se comuns de dois géneros estes substantívos. Exemplos: Masculino Femínino Masculino Femínino o agente a agente o herege a herege o artista a artista o imigrante a imigrante o camarada a camarada o indígena a indígena o colega a colega o interprete a interprete o colegial a colegial o jovem a jovem o cliente a cliente o jornalista a jornalista o compatriota a compatriota o mártir a mártir o dentista a dentista o selvagem a selvagem o estudante a estudante o servente a servente o gerente a gerente o suicida a suicida Observacôes: i.a Säo comuns de dois géneros todos os substantívos ou adjectivos substantivados terminados em -ista: o pianista, a pianista; um anarquista, urna anarquista. z.a Diz-se, indiferentemente, o personagem ou a personagem čom referencia ao protagonista homem ou mulher. Chamam-se sobrecomuns os substantívos que tém um só género gramatical para designarpessoas de ambos os sexos. Assim: o algoz o apóstolo o carrasco o conjuge o indivlduo o vcrdugo a crianca a críatura a pessoa a testemunha a vítima Mudanca de sentido na mudanca de género. Há um certo numero de substantívos cuja significacäo varia com a mudanca de género: IJO BREVE GRAMÁTICA DO p0rtuguěs c0ntemp0RÁNEO SOBSTANTIVO 151 Masculino o cabe^a o caixa. o capital o cisma o corneta o eura Feminine Masculino Feminino a cabeja a caixa a capital a cisma a corneta a cura guarda guia Iente lingua moral voga a guarda a guia a lente a lingua a moral a voga Substantivos maaculinos terminados em -a. Vimos que, embora a final -a seja de regra denotadora do feminino, há vários masculinos com essa terminacäo: artista, camarada, colega, poeta, projeta, etc. Alguns destes substantivos apresentam uma forma propria para o feminino, como poeta (poetisa) e prof eta (profe tisa); a maioria, no entanto, distingue o género apenas pelo determinativo empregado: 0 compatriota, a compatriota; este jornalista, aquela fornalista; meu camarada, minha camarada. Um pequeno numero de substantivos em -a existe, todavia, que só se usa no masculino por designar profissäo ou actividade propria do hörnern. Assim: jesuita monarca nauta papa patriarca pirata heresiarca tetrarca Observances: i.a Entre os substantivos que designam eoisas, säo masculinos os terminados em -ema e -oma que se originam de palavras gregas: anátema cinema diadema dilema emblema edema estratagema fonema poema problema sistema telefonema tema teoréma trema diploma idioma aroma axioma coma 2.» Embora a palavra grama se use tambem no genero feminino (qmnben-tasgramas), os seus compostos mantem-se no genero masculino: urn miligrama, 0 quilograma. Substantivo de genero vacilante. Substantivos ha em cujo emprego se nota vacilacao de genero. Eis alguns, para os quais se recomenda a seguinte preferencia: a) género masculino: ágape antilope caudal clä contralto diabete(s) b) genero femtnino: abusäo alcfone aluviäo áspide fades filoxera gengibre lanca-perfume praca (soldado) jajanä juriti omoplata sanduiche soprano suéter ordenanca sentinela sucuri GRAU Um substantivo pode apresentar-se: a) com a sua significagäo normal: cbapéu, boca; b) com a sua significaeäo exagerada, ou intensificada disforme ou des-prezivelmente (grau aumentativo) : chapeläo, bocarra; cbapéu grande, boca enorme; c) com a sua significaeäo atenuada, ou valorizada afectivamente (grau diminuttvo) : chapeusfnho, boquinha; cbapéu pequeno, boca minůscula. Vemos, portanto, que a gradacäo do significado de um substantivo se faz por dois processos: a) sinteticamente, mediante o emprego de sufixos especiais, que estudámos no Capitulo 6; assim: cbape-1-äo, boc-arra; cbapeu-^inho, boqu-inha; b) anahticamente, juntando-lhe um adjectivo que indique aumento ou diminuicäo, ou aspectos relacionados com essäs nocöes: cbapéft grande, boca enorme; cbapéu pequeno, boca minůscula. Valor das formas aumentativas e diminutivas. Convém ter presente que o que denominamos aumentattvo e dimi-nutivo nem sempře indica o aumento ou a diminuicäo do tamanho de um ser. Ou melhor, essas nocöes säo expressas em geral pelas formas analíticas, especialmente pelos adjectivos grande e pequeno, ou sinónimos, que acompa-nham o substantivo. Os sufixos aumentativos de regra emprestam ao nome as ideias de des-proporcäo, de disformidade, de brutalidade, de grosseria ou de coisa des-prezível. Assim: narigäo, beiforra, pratalha^ ou pratarra^, atrevidap, porca-Ihäo, etc. Ressalta, pois, na maioria dos aumentativos, esse valor deprecia- tivO ou PEJORATrvO. Os sufixos diminutivos apresentam em geral valor afectivo. O seu emprego mostra o interesse emocional, o sentimento de quem fala ou esereve 152 breve gramática do portugues contemporäneo substantivo 153 naquilo que enunda. Dai a frequentia com que aparecem nas formas de carinho. Especializacäo de formas. Muitas formas, originariamente aumentativas e diminutivas, adquiri-ram, com o correr do tempo, signifkados especiais, por vezes dissociados do sentido da palavra derivante. Nestes casos, näo se pode mais, em rigor, falar em aumentativo ou diminutivo. Säo, na verdade, palavras na sua acepcäo normal. Assim: cartäo ferräo floräo portäo cartilha cavalete corpete lingueta flautim pastilha folhinha (= calendá- vidrilho rio, no Brasil) EMPREGO DO SUBSTANTIVO Fußgöes sintäcticas do substantivo. O substantivo pode figurar na oracäo como: 1. Sujeito: 2. Predicattvo: a) do sujeito: Eu ja näo sou funcionario. (Castro Soromenho, TM, 243.) b) do objecto directo: De toda parte, aclamavam-no heröi. (Raul Pompeia, A, 108.) c) do objecto indirecto: Eram capazes de me cfiamar sacristäo. (Fernando Namora, TJ, 214.) Irmäo Ihc chamaria... (Carlos Drummond de Andrade, R, 169.) 3. Objecto directo: O velbo näo desvia os olhoa. (Alves Redol, FM, 195.) 4. Objecto indirecto: O que Amelia, naquele instante, pediria a Deus? (Jose Lins do Rego, FM, 236.) 5. complemento nomtnal: O talento e um complexo de virtudes, äs vezes inseparäveis de defeitos. (Fernando Namora, E, 119.) 6. Adjunto adverbial: Contemplaram-se em silencio. (Erico Verissimo, LS, 153.) 7. Agente da passiva: A investida e observada de longe pelos sitiantes. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 355.) 8. Aposto: Os dois, governador e filho, encarregaram-se de todos os aprestos da sua viagem para o Paraguai. öaime Cortesäo, IHB, H, 104.) 9. VocATrvo: Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina... (Florbela Espanca, S, 96.) Substantivo como adjunto adnominal. i. Precedido de preposicäo, pode o substantivo formar uma locu-5X0 adjkcttva, que funciona como adjunto adnomdmal. Assim: uma vontade de ferro [ = férrea] um menino as direitas [ = correcto] BREVE GRAMjÍTICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORAnEO 2. Em funcao de adJunto adnomtnal, pode também o substantivo tefcrir-se directamente a outro substantivo. Comparem-se expressoes do tipo: um riso canalha uma recepgao monstro Substantivo, caracterizador de adjectivo- Os adjectivos referentes a cores podem ser modifkados por um substantivo que melhor precise uma de suas tonalidades, um de seus mati-zes. Assim: amarelo-canário verde-garrafa azul-petróleo roxo-batata O substantivo como núcleo das frases sem verbo. As frases nomtnais, organizadas sem verbo, tém o substantivo como centro. É o que se verifica, por exemplo: a) nas exclamacoes: Ó bendita paisagem! Terra estranha De antigos pinheirais e alegres campos, Ei-la siléncio, solidao, montanha! (Teixeira de Pascoaes, OC, IV, 34.) b) nas indicacoes sumárias: Canto litúrgico em latim abastardado: Vozes rurais e gritadas, quase todas fenúrunas. Sobe o pano. Escuro total. Siléncio. (Bernardo Santareno, TPM, 9.) c) em títulos como: Amanha, Benfica e Flamengo no Maracana. Artigo ARTIGO DEFINIDO E INDEFINEDO Dá-se o nome de artigo ás palavras o (com as variacpes a, os, as) e um (com as variacoes uma, uns, mias), que se antepóem aos substantivos para indicar: a) que se trata de um ser já conhecido do leitot ou ouvinte, seja por ter sido mencionado antes, seja por ser objecto de um conhecimento de experiéncia, como neste exemplo: Atravessaram o pátio, deixaram na escuridao o chiqueiro e o cuml, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. (Graciliano Ramos, VS, iťíi.) b) que se trata de um simples representante de uma dada espécie ao qual nao se fez mencao anterior: Vi que estávamos num velho solar, de čerta imponéncia. Uma facbada de muitas janelas perdia-se na escuridao da noite. No alto da escada saía das sombras um alpendre assente em grossas colunas. (Branquinho da Fonseca, J3, 21.) No primeiro caso dizemos que o artigo é definido; no segundo, inde-finido. i56 breve gramáttca do portugués contemporáneq ARTIGO FORMAS DO ARTIGO Formas simples. i. Säo estas as formas simples do artigo: Artigo definido Artigo indcfinido Singular Plural Singular Plural Masculino 0 OS um uns Feminino a as uma umas 2. No portugués antigo havia as formas lo (la, los, las) e el do artigo definido. 3. A forma arcaica el do artigo masculino fossilizou-se na titulatura el-rei, talvez por influéncia da conservadora linguagem da Corte. Formas combinadas do attigo definido. i. Quando o substantivo, em funcäo de complemento ou de adjunto, se constrói com uma das preposicöes a, de, em e por, o artigo definido que o acompanha combina-se com essas preposicöes, dando: Preposicöes Artigo definido OS a ao ä aos äs de do da dos das cm no na nos nas por (per) pelo pela pelos pelas por um acento grave sobre a vogal (a). Assim: Vou a + a cidade = Vou ä cidade preposicäo que introduz o adjunto adverbial do verbo ir. artigo que determina o substantivo cidade. a craseado, a que se aplica o acento grave Näo raro, o a. vale como reducäo sintáctica da expressäo a moda de (= a maneira de, ao estilo de): Mas o major? Por que näo ria á inglesa, nem ä alemä, nem ä fŕancesa, nem á brasileira? Qual o seu género? (Monteiro Lobato, U, 117.) Como se vé, o conhecimento do emprego da forma feminina do artigo definido é de grande importáncia para se aplicar acertadamente o acento grave denotador da erase com a preposicäo a. Tal conhecimento torna-se mesmo imprescindívei no caso dos falantes do portugués do Brasil, que näo djstinguem, pela pronúncia, a vogal singela a (do artigo ou da preposicäo) daquela proveniente de erase. Convém, por ísso, atentar-se sempře na construeäo de determinada palavra com outras preposicöes para se saber se ela exige ou dispensa o artigo. Assim, esereveremos: Vou á feira e, depois, irei a Copacabana. porque também diremos: Vim da feira e, depois, passei por Copacabana. 3. Quando a preposicäo antecede o artigo definido que faz parte do título de obras (livros, revistas, jornais, contos, poemas, etc.), näo há uma prática uniforme. Na lingua eserita, porém, deve-se neste caso: a) ou evitar a contraccäo, pelo modelo: 2. Crase. O artigo definido feminino, quando vem precedido da pre- } posicäo a, funde-se com eia e tal fusäo (= crase) é representada na escrita Camßes é o autor de Os Lusiadas. A notícia saiu em O Globo. 158 breve gramática do portugués contemporäneo artigo x59 b) ou indicar pelo apostrofo a supressáo da vogal da preposicao: Camoes é o autor ďOs Lusíadas. A notícía saiu n'0 Globo. Tenha-se presente que as grafias dos Lusíadas c no Globo —talvez as mais frequentes — deturpam o titulo do poema e do jornal em causa. ObservacSo: As duas solucoes apontadas sao admitidas pela ortografia portuguesa. No Bra-sil, porém, o Formulário Ortográfico de 1943 nao preceiťua o emprego do apostrofo para indicar a supressáo da vogal da preposicao. 4. Quando a preposicao que antecede o artigo está relacionada com o verbo, e nao com o substantivo que o artigo introduz, é aconselhável que os dois elementos fiquem separados, embora nao faltem exemplos da sua aglutinacáo na prática dos melhores escritores: A ciícunstáncia de as vindimas juntarem a família prestava-se a uma reuniao anual na Junceda. (Miguel Torga, V, 159.) Formas combinadas do artigo indeůnido. 1. O artigo indefinido pode contrair-se com as preposicoes em c de, originando: num numa nuns numas dum duma duns dumas 2. As preposicoes em e de, antepostas ao artigo indefinido que integra o titulo de obras, separam-se dele na escrita: Sofríamos do que, em Um olhar sobre a Vida, qualifiquei de «insonia internacionál*. (Genolino Amado, RP, 21.) Ou no caso da outra Maria, a de «Um capitao de voIuntários», criatura esta «mais quente e mais fria do que ninguém». (Augusto Meyer, SE, 45.) 3. Também näo é aconselhável a contraccäo do artigo indefinido com a preposigao que se relaciona com o verbo, e näo com o substantivo que o artigo introduz: A obra atrasou-se em virtude de uns operários se térem acidentado. VALORES DO ARTIGO A determinacao. Quer seja definido (o e suas vameôes a, os,- as), quer seja indefinido (um e suas variacôes uma, uns, umas), o artigo caracteriza-se por ser a pala-vra que introdu2 o substantivo indicando-lhe o género e o numero. Assim sendo: a) qualquer palavra ou expressao antecedida de artigo se torna substantivo : O acto Hterário é o 'cpnjunto do escrever e do ler. (Fernando Namora, E, 111.) Entendem os filósofps que nosso connito essencial e drama talvez único seja mesmo o estar-no-mundo. (Guimaräes Rosa, T, 101.) b) o artigo faz aparecer o género e o numero do substantivo: o Amazonas as amazonas o pires os pires o pianista a pianista um quilograma a ama o päo a mäo o clä a irma o diente a diente as bibliotecas os Astecas um piráta uma gravata o jabuti a. juíiti um baräo a producäo um poema a ema Com isso, permite a distincäo de substantivos homónimos, tais como: o cabeja o caixa o capital a cabeca a caixa a capital o guatda o guia o Ientc a guarda a guia a leňte I (So breve gramática do portugues contemporáneo artigo i6t EMPREGO DO ARTIGO DEFINIDO i. Com os substantivos comuns Na lingua dos nossos dias, o arttgo definido é, em geral, urn mero designativo. Anteposto a um substantivo comum, serve para determiná-lo, ou seja, para apresentá-lo isolado dos outros indivxduos ou objectos da espé-cie. Assim: Sumiu-se a rapariga. (Carlos de Oliveira, AC, 123.) Este seu valor costuma ser enfatizado, quando se pretende acentuar o carácter unico ou universal do elemento representado pelo substantivo: Nao era uma loja qualquer: eta a Loja. (Ciro dos Anjos, MS, 350.) É o que se chama artigo de notoriedade. Emprego como demonstrativo. O artigo definido provém do pronome demonstrativo latino ilk, ilia, Mud (= aquele, aquela, aquilo). Este valor demonstrativo foi-se per-dendo pouco a pouco, mas subsiste ainda, embora enfraquecido, em alguns casos. É o que se observa em frases do tipo; Permaneceu a [ = esta, ou aquela] semana inteira em .casa. Partimos no [ = neste] momento para Sao Paulo. Levarei produtos da [ = desta] regiao. Emprego do artigo pelo possessive r. Este emprego do artigo definido é frequente antes de substantivos que designam: a) partes do corpo: Passci a mao pelo queixo. (Lygia Fagundes Telles, ABV, 15.) /;) pegas de vestuário ou objectos de uso marcadamente pessoal: Abel Matias, calado, veste as calgas e a camisa. (Orlando Mendes, P, 130.) c) faculdades do espirito: Chegou a tomar balanco para as habituais meditagöes. (Augusto Abelaira, D, 10.) d) relagöes de parentesco: — Já näo chamou pela mäe!... (Miguel Torga, V, 186.) 2. Näo se emprega, porém, o artigo quando estes nomes formam com as preposigoes de ou a uma locugäo adverbial. Pus-me de joelhos. Emagrece a olhos vistos, Ficou de bolsos vazios. Guardou isso de memoria. Emprego do artigo antes dos poasessivos. 1. Antes de pronome substantivo possessivo. Em portugués, o emprego ou a omissäo do artigo definido antes de possessivos que funcionam como pronomes substantivos näo tem apenas valor estilístico, mas corresponde a uma clara distingäo significativa. Comparem-se, por exemplo, as frases seguintes: Este cinto é men. Este cinto é o meu. Com a primeira, pretende-se acentuar a simples ideia de posse, Equivale a dizer-se: «Este cinto pertence-me, é de minha propriedade». Com a segunda, porém, faz-se convergir a atengäo para o objecto pos-suido, que se evidencia como distinto de outros da mesma espécie, näo per-tencentes ä pessoa em causa. O seu sentido será: «Este é o meu cinto, o que possuo». 2. Antes de pronome adjectivo possessivo. I. Quando trazem claros os seus substantivos, os possessivos podem usar-se com artigo ou sem eie: Meu amor é só teu. O meu amor é só teu. Estive com tua irmä. Estive com a tua irmä. BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO A prescnga do artigo antes de pronome adjectivo possessivo ocoite com menos frequěncia no portugués do Brasil do que no de Portugal, onde, com excepcäo dos casos adiante mencionados, ela é praticamente obrigató-ria. Comparem-se estes exemplos: — A minha irmä e o meu cunhado costumam receber os seus amigos mais fatimos. (Augusto Abelaira, D, 107.) Meu avô materno foi verdadeiramente minha primeira amizade, companheito de brinquedo da minha primeira infáncía. (Gilbeito Amado, HMI, 4.) 2. O artigo é sistematicamente omitido quando o possessivo: a) é parte integrante de uma formula de tratamento ou de expressöes como Nosso Pat (referente ao Santissimo), Nosso Senbor, Nossa Senbora: Sua Excelencia Reverendíssima escusou-se de recebé-los pessoal-mente. (Bernardo Santareno, TPM, 37.) Nosso Senhor tihha o olhar em pranto. Chorava Nossa Scnhora. (Alphonsus de Guimaraens, OC, 121.) b) faz parte de um vocativo: — Morrer, meu Amo, só uma vezl (Antonio Nobre, S, 106.) f) pertence a certas expressöes feitas: em minha opiniäo, em meu poder, a sen bel-pra^er, por minba vontade, por meu mal, etc. d) vem precedido de um demonstrative: — Näo aguento mais esse teu silěncio antipátíco. (Urbano Tavares Rodrigues, TO, 162,) Observacäo: Se o possessivo estiver posposto ao substantivo, este virá normalmente precedido de artigo: Quanto mistério Nos olhos teus... (Vintcius de Morais, PCP, 334.) artigo_________163 Pode, no entanto, dispensa-lo, quando nos refcrimos a algo de modo impreciso ou vago: Tenho estado ä espera de noticias tuas, mas vejo que näo chegam nunca. (Antonio Nobre, CI, 117.) Emprego genérico. Usa-se äs vezeš o artigo definido junto a urn substantivo no singular para exprimir a totalidade especifica de um género, de uma categoria, de um grupo, de urna substancia: Este emprego é frequente nos provérbios; O hörnern näo é propriedade do hörnern. O päo pela cor, e o vinho pelo sabor. O avarento näo tem e o pródigo näo terá. Se o substantivo é abstracto, o artigo serve, ademais, para personalizá-lo: Era o deus vivo que os tinha na sua mäo, o amigo-inimigo donde Ihes vinha todo o bem e todo o mal, a miséria e o päo, o luto e a alegria. (Branquinho da Fonseca, MS, 173.) Entre os abstractos incluem-se naturalmente os adjectivos substantiva- dos: Eu trabalho com o inesperado. (Clarice Lispector, SV, 14.) Nestes casos pode-se dispensar o artigo, principaJmente quando o substantivo é abstracto, ou quando faz parte de provérbios, frases sentenciosas e compa-ragôes breves: Pobreza näo é vileza. Hörnern näo é bicho. Cäo que ladra näo morde. Preto como azeviche. Emprego em expressöes de tempo. i. Os nomes de meses näo adrnitem artigo, a menos que venham acompanhados de qualificativo: Estou seguro de ir até o Rio em fins de junho ou ptincípios de julho. (Mário de Andradc, CMB, 102). IÖ4 breve gramätica do portugoes contemporaneo Era urn setembro puro. (Miguel Torga, NCM, 63.) artigo 165 Ao meio-dia ja as dguas do porto eram prata fundida. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 47.) Observacäo: Omite-se em geral o artigo antes das datas do mes: O parecer e de 28 de Janeiro de 1640. (Jaime Cortesäo, IHB, II, 218.) Costuma-se, no entanto, usa-lo antes de datas celebres (que adquirem o valor de um substantivo composto de numeral + preposicäo + substanttvo): Por ser precisamente um dos feriados extintos, o 19 de Novembro faz lembrar hoje, aos marmanjos do comeco do seculo, näo so a bandeira como a propria infäncia, täo perdida quanto esse feriado. (Carlos Drummond de Andrade, FA, 116.) 2, Os nomes dos dias da semana vem precedidos de artigo, princi-palmente quando enunciados no plural: Queres ir comigo k Italia no domingo? (Augusto Abelaira, D, 45.) Aos domingos salam cedo para a missa. (Coelho Netto, OS, I, 33.) Mas podem dispensa4o (juntamente com a preposicäo a que se aglu-tinam), quando funcionam como adjunto adverbial. Assim: — Domingo a tarde. Domingo sera a vez do teu moinho... (Fernando Namora, DT, 221.) 3. Näo se usa 0 artigo nas designates das horas do dia, nem com as expressöes meio-dia e meia-noite : Meia-noite? Näo se teria enganado? (Josue Montello, SC, 25-26.) O artigo e, porem, de regra quando, antecedidas de preposicäo, tais formas se empregwn adverbialmente: Ja näo se almoca äs 9 da manhä c näo se janta as 4. (Carlos Drummond de Andrade, MA, 99.) 4. Os nomes das quatro estacoes do ano sao precedidos de artigo: Sera goivo no outono, assim como era, Eternamente mal-aventurada, A alma, que Iirio foi na primavera... (Alphonsus de Guimaraens, OC, 342) Podem, no entanto, dispensa-lo quando, antecedidos da preposicao 'e, funcionam como complements nominal ou como adjunto adnominal: Que noite de invetno! Que frio, que trio I Gelou meu carvao: Mas boto-o a lareira, tal qual pelo estio, Faz sol de vetao! (Antonio Nobre, S, 13.) 5. Os nomes de datas festivas dizem-se com artigo: o Ano-Bom o Carnaval o Natal a Päscoa E, pordm, de regra a omissäo do artigo quando estes nomes funcionam como adjunto adnominal das palavras dia, noite, semana, presente, etc. : O primeiro dia de Carnaval. A noite de Natal, A semana de Päscoa. Um presente de Ano-Bom. Com a palavra casa. i. Dispensam o artigo os adjuntos adverbiais de lugar em que entra a palavra casa: a) desacompanhada de determinagäo ou qualificacäo, no sentido de «residencia», «lar»: Chegada a casa, näo os encontrou. Qoaquim Pago d'Arcos, CVL, 3 5 8.) breve gramática do portuguěs contemporakeo artigo l67 Chorei como todos de casa. (José Lins do Rego, E, 21.) b) em sentido vago, embora acompanhada de qualificacäo: Estava em casa propria lá para Ipanema. (Aquilino Ribeiro, M, 356.) 2. Mas a palavra casa vem de regra antecedida de artigo : a) quando usadá na acepgäo propria de «prédio», «edificio», «esta-belecimento»: Estou cansado, preciso de um socio, alguém que me dirija a casa. (Augusto Abelaira, D, 28.) b) quando está particularizada por adjunto adnominal: Foi um golpe esta carta; näo obstante, apenas fechou a noite, corri ä casa de Virgilia. (Machado de Assis, OC, I, 484.) Observacäo: Diz-se 0 done (ou a dona) da casa para indicar, com precisäo, seja o proprie-tário do prédio, seja o chefe da família. Em sentido vago, dir-se-á, porém: urna boa dona de casa. Emprego com o superlativo relative O artigo definido é de emprego obrigatório com o superlativo rela-tivo. Pode preceder o substantivo: Era o aluno mais estudioso da turma. Ou o superlativo: Era o mais estudioso aluno da turma. Era aluno o mais estudioso da turma. Mas näo deve ser repetido antes do superlativo quando já acompanha o substantivo, como neste exemplo: Era o aluno o mais estudioso da turma. 2. Com os nomes próprios. Sendo por definicäo individualizante, o nome próprio deveria dispensar o artigo. Mas, no curso da história da lingua, razôes diversas concorreram para que esta norma lógica nem sempře fosse observada e, hoje, há mesmo grande numero de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acom-panhamentodo artigo definido. Entre essas razôes, devem ser mencio-nadas: a) a intengäo de reforgar a ideia de individuaUdade, de um todo inti-mamente unido, comó se concebe, em geral, um pais, um continente, um oceano: o Biasil a America o Atläntico b) a de ser o nome próprio originariamente um substantivo comum, construído com o artigo: o Porto o Havre (francés Le Havre = o porto) c) a influéncia sintácqca do italiano, lingua em que os nomes de família, quando empregados isoladamente, vém precedidos de artigo: o Tasso o Ticiano a Patti d) a de cercar o nome próprio de uma atmosféra afectiva ou familiar: — O Adräo foi a novena? — Creio que näo. Quem esteve lá foi a Marta com a Teixeira. (Graciliano Ramos, C, 147.) Com os nomes de pessoas. Os nomes próprios de pessoas (de baptismo e de família) näo levam artigo, principalmente quando se aplicam a personagens muito conhecidos. Assim: Camôes Dante Napoleäo jbreve gramatica do portugues contemp0räne0 \ --_-_-_-_ , .-_ j Emprcga-se, porem, o artigo definido: ; i o) quando o nome de pessoa vem precedido de qualificativo: O romäntico Alencar. O divino Dante. 2.°) quando o nome de pessoa vem acompanhado de deterrninativo ou qualificativo denotadores de um aspecto, de uma epoca, de uma circuns-täncia da vida do individuo: | Era o Daniel de outrora que eu tinha diante de mim. (Josue Montello, DVP, 237,) ; 3.0) quando o nome de pessoa vem enunciado no plural: a) seja para indicar individuos do mesmo nome: ! Os dois Plinios. Os tres Horäcios. b) seja para designar uma colectividade familiar: ; Os Andradas. Os Bragangas. ' c) seja para caracterizar, enfaticamente, classes ou tipos de individuos i que se assemelham a urn vulto ou personagem c&ebre, caso em que o nome proprio vale por urn nome comum: Que importa isso tudo, se, aqui, os Clcmenceaus andam a monte, os Hindemburgos rolam aos tombos, os Gladstones pululam aos cardumcs, os Bismarcks se multiplicam em ninhadas, e os Thiers cobrem o sol como nuvens de gafanhotos. (Rui Barbosa, EDS, 484.) d) para designar obras de um artista (geralmente quadros de um pintor): Os Goyas do Museu do Prado. Com os nomea geograficos. O estado actual do uso do artigo com os nomes geograficos 6 o seguinte: ; i.°) Emprega-se normalmente o artigo definido: ! 1 d) com os nomes de paises, regiöes, continentes, montanhas, vulcöes, artigo _ 169 desertos, constelacöes, rioSj lagos, oceanps, mares e grupos de ilhas: o Brasil o Himalak o Nilo a Franca os Alpes o Lemano os Estados Unidos o Teide o Atläntico a Guin£ o Atacama o Bäldco o Nordeste o Saara o Mediterräneo a Africa o Cruzeiro do Sul os Agores b) com os nomes dos pontos cardeais e os dos colaterais, quer no sen-tido proprio, quer no de regiöes ou ventos: O promontörio tapava para o norte. (Branquinho da Fonseca, MS, 104.) Tambem os ventos nordestinos se acharam presentes: o Notdeste e o Sudeste... (Joaquim Cardoso, SE, 60.) 2.0) Näo se usa em geral o artigo definido: a) com os nomes de cidades, de localidades e da maioria das ilhas: Lisboa Agueda Creta b) com os nomes de planetas e de estrelas: Marte Canöpus 3.0) Näo 6 uniforme o emprego do artigo definido com os nomes dos estados brasileiros e das provfncias portuguesas. A maioria leva artigo. Näo se usam, porem, com artigo: Alagoas Pernambuco Sergipe Goiis Rondonia Ttfls-os-Montes Mato Grosso Santa Catarina Minas Gerais Säo Paulo 4.0) Como os nomes de pessoas, os nomes geograficos passam a adrni-tir o artigo desde que acompanhados de qualifica?äo ou de determinagäo: Ai canta, canta ao luar, rninha guitarra, A Lisboa dos Poetas Cavaleirosl (Antonio Nobre, D, 68.) breve gramática do portugdes contemporáneo Observance: i.a Gettos nomes de países e regiôes costumam, no entanto, rejeitar o artigo. Entre outros: Portugal, Angola, Mocambique, Cabo Verde, Säo Tomé e Principe, Macau, Timor, Andorra, Israel, Säo Salvador, Aragao, Castela, Leäo. z.a A semelhanca dos nomes de países, úsam-se com artigo alguns nomes de ilhas: a Córsega, a Madeira, a Sardenha, a Sicília. 3.» Quando indicam apenas direccäo, os nomes de pontos cardeais podem vír sem artigo: Marcha para oeste Vento de leste Percurso de norte a sul Com os nomes de obras literárias e artísticas. Emprega-se em geral o artigo, mesmo quando näo pertenca ao titulo: Ontem, á noite, comecei a ler a Ana Karenina. (Augusto Abelaira, D, 64.) 3. Casos especiais Antes da palavra outro. 1. Emprega-se o artigo deŕlnido quando a palavra outro tem sentido determinado: Tirei do colégio os meus dois filhos: o mais velbo era um demónio, o outro um anjo. (Camilo Castelo Branco, OS, I, 290.) 2. Cala-se, porém, o artigo quando o seu sentido é indeterminado: A uns amei, a outros estimei, aborreci alguns e alguns mal conheci — mas todosl ail todos, me impregnaram de suas vidas. (Pedro Nava, BC, 228.) Depois das palavras ambos e /odo. Ambos e todo säo as únicas palavras que, em portugués, costumam ante-ceder o artigo pertencente ao mesmo sintagma. i. Se o substantivo determinado pelo numeral ambos estiver claro, é de regra o emprego do artigo definido: Vasco apoiou os cotovelos nela e segurou o rosto com ambas as mäos. (Érico Vcrlssimo, LS, 166.) artigo 2. A presenca ou a auséncia do artigo depois da palavra todo depende, obviamente, de admitir ou rejeitar o substantivo aquela determinaeäo. Diremos, por exemplo: Todo o Brasil pensa assim. Todo Portugal pensa assim. por se construirem de modo diverso esses dois nomes geográficos. 3. Há casos, porém, que precisam de ser considerados particularmente. Assim: i.°) No plural, anteposto ou posposto ao substantivo, todos vem acompanhado de artigo, a menos que ha ja um determinativo que o exclua: Os discipulos amavam-na, prontos a todos os obséquios. (Aquilino Ribeiro, CRG, 100.) Iam-se-me as esperancas todas; terminava a carreira politica. (Machado de Assis, OC, I, 536.) Mas: Todos estes costumes väo desaparecer. (Raul Brandäo, P, 165.) 2.0) Näo se usa o artigo antes do numeral em aposicäo a todos: Vi-os felizes a todos quatro. (Machado de Assis, OC, I, 1126.) Se, no entanto, o substantivo estiver claro, o artigo é de regra: Vi-os felizes a todos os quatro meninos. 3.0) No singular, todo: a) virá acompanhado de artigo, quando indicar a totalidade das partes Toda a praia é um ůnico grito de ansiedade. (Alves Redol, FM, 306.) b) poderá vir ou näo acompanhado de artigo quando exprimir a tota lidade numérica: Falava bem como todo francos. (Gilbcrto Amado, PP, 168,) BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉs CONTEMPORÁNEO artigo 173 Toda a gente sabe que Monica e seriissima. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 120.) Neste ultimo caso e obrigatoria a sua anteposicäo ao substantivo. 4.0) Anteposto ao artigo indefinido, todo significa «inteiro», «completo»: Para conseguir o seu intento cobriu de ridiculo toda uma geracSo, c lancou as bases de toda uma remodelagäb social. (Gilberto Amado, TL, 29.) 5.0) Quanto todo (ou toda) estä empregado com forca adverbial, näo admite naturalmente o acompanhamento do artigo: Todo barbeado de fresco, as cordoveias do pescoco luziam-Ihe grossas como calabres. (Aquilino Ribeiro, CKG, 228.) 6,°) Em numerosas locucöes do portugues contemporaneo, todo (ou toda) vem seguido de artigo. Entre outras, mencionem-se as seguintes: a todo o custo a todo o galope a todo o instante a todo o momento em todo o caso a toda a brida a toda a hora a toda a pressa em toda a parte por toda a parte REPETICÄO DO ARTIGO DEFINIDO Com substantivos. 1. Quando empregado antes do primeiro substantivo de uma serie, o artigo deve anteceder os substantivos seguintes, ainda que sejam todos do mesmo genero e do mesmo nümero: Cantava para os anjos, para os presos, para os vivos e para os mortos. (Jose Lins do Rego, MVA, 347.) 2. Mas a alternäncia de sequencias com artigo e sem ele pode, em cer-tos casos, aprcsentar efeitos estilisticos apreciaveis: Näo viram sumo bem ao dcrredor, Mas sim o mal, a tentacäo, o crime, Orgulho, humilhacocs, rcmorso e dor. (Antonio Correa d'OIiveira, VSVA, 213.) 3. Näo se repete, porém, o artigo: a) quando o segundo substantivo designa o mesmo ser ou a mesma coisa que o primeiro: Presenteou-me este livro o compadre e amigo Carlos. A fruta-de-conde, ou ata, é deliciosa. b) quando, no pensamento, os substantivos se representam como um todo estreitamente unido: O estudo [do folclore] era necessitado pela existencia das histórias, contos de fadas, fábulas, apólogos, superticôes, provérbios, poesia e mitos recolhi-dos da tradicao oral. (Joáo Ribeiro, Fl, 6.) Com adjectives. 1. Repete-se o artigo antes de dois adjectivos unidos por uma das conjuncôcs e e ou quando os adjectivos acentuam qualidades opostas de um mesmo substantivo: Conhecia o novo e o velho Testamento. A boa ou a má fortuna näo o alteraram. 2. Näo se repete, porém, o artigo se os dois adjectivos ligados pelas conjungóes e, ou (e mas) se aplicam a um substantivo com o qual formám um conceito único: Mas porque näo lhe telefona logo ä noite, porque näo recomecam a velha e quase esquecida amizade? (Augusto Abelaira, D, 22.) 3. Se os adjectivos näo vém unidos pelas conjuncóes e e on, deve-se repetir o artigo. Tal construcäo empresta ao enunciado énfase particular: É o povo, o verdadeiro, o nobre, o austero povo portugues. (Augusto Frederko Schmidt, F, 102.) OMISSÄO DO ARTIGO DEFINIDO Do que foi estudado nas páginas anteriores, verificamos que o artigo definido limita sempře a noeäo expressa pelo substantivo. 174 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO ARTIGO 175 1. O seu emprego é, pois, evitado em cerros casos: Quando o género e o numero do substancivo já estäo claramente determinados por outras classes de palavras (pronomes demonstrativos, numerais, etc.). Assim, diremos: Na revolucäo de 17 muito sofrera este padre. (Jose Lins do Rego, MVA, 281.) Antes, ainda no automóvel, Ramiro achara duaa novas pérolas. (Augusto Abelaira, D, 111.) 2.0) Quando queremos indicar a nocäo expressa pelo substantivo de um modo geral, isto é, na plena extensäo do seu significado. Comparem-se, por exemplo, estas trěs frases: Foi acusado do crime [acusacäo precisa]. Foi acusado de um crime [acusacäo vaga], Foi acusado de crime [acusagäo mais vaga ainda]. 3.0) Quando, nas enumeracöes, pretendemos obter um efeito: d) de acumulacäo: Samuel, a princlpio com relutäncia, depois com furia, finalmente com resignacäo, pös-se a morder e a mastigar tudo: lápis, borrachas, pedacinhos de pau, gomos de cana-de-acúcar. (Carlos Drummond de Andradc, CA, 143-4.) b) de dispersäo, como neste exemplo de enumeracäo caotica: Volteiam dentro de mim, Em rodopio, em novelos, Milagres, uivos, castelos, Forcas de luz, pesadelos, Attas tones de marfim. (Mario de Sá-Carneiro, P, 75,) 2. Alem desses casos gerais e de outros particulares, anteriormente examinados, omite-se o artigo definido: a) nos vocativos: Ohl dias da minha infäncia! Ohl meu céu de primaveral (Casimiro de Abreu, 0, 94,) b) nos apostos que indicam simples apreciacäo: Tardes de minha terra, doce encanto, Tardes duma pureza de acucenas. (Florbela Espanca, S, 35.) c) antes de palavras que designam matéria de estudo, empregadas com os verbos aprender, estudar, cursar, ensinar e smónimos. Aprender Ingles. Estudar Latim. Cursar Direito. Ensinar Geometria. d) antes das palavras tempo, ocasiäo, motivo, permissäo, forfa, valor, ámmo (para alguma coisa), complementos dos verbos ter, dar,pedir e seus sinónimos: Näo houve tempo para descanso. Näo dei motivo k crltica. Pedimos permissäo para sair. Näo tive änimo para viajar. EMPREGO DO ARTIGO INDEFINIDO i. Com 03 substantivos comuns. 1. O artigo mdefiriido —já o dissemos— serve principalmente para a apresentagäo de um ser ou de um objecto ainda näo conhecido do ouvinte ou do leitor. Pouco depois, atraído também pelo espectáculo, foi chegando um cabo-clinho magro, com uma taquara na mäo. (Alceu Amoroso Lima, AA, 40.) Uma vez apresentados o ser e o objecto, näo há mais razäo para o emprego do artigo indefinido, e o escritor ou o locutor deverá usar daí por diante o artigo definido. É o que se observa na continuacäo do texto em causa: Pupiks acesas vinham espiar entre as árvorcs, como que tarnbém atraidas pela melódia da taquara do caboclinho. (Ibid.) 2. Para se precisar a classe ou a espécie de um substantivo já deter-rninado por artigo definido, costuma-se repeti-lo, na aposicäo, com o artigo indefinido: Ele sentia o eheiro do impermeável dela: um chciro doce de fruta madura. (Érico Verlssimo, LS, 140.) 176 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO 3. Por sua forca generalizadora, 0 artigo indefinido pode atribuir a um substantivo no singular a representacao de toda a especie: — Aquele, digo-vos eu, aquele e um hörnern. (Branquinho da Fonseca, MS, 16;.) 4. A anteposicäo do plural uns, umas, a cardinais e a forma preferida do idioma para indicar a aproximagäo numerica: Teria, quando muito, uns doze anos. (Urbano Tavares Rodrigues, PC, 168.) 2. Com os nomes prcSprios. i. Emprega-se o artigo mdefinido antes de um nome de pessoa: a) para acentuar a semelhanga ou a conformidade de alguem com um vulto ou um personagem celebre, caso em que o nome proprio passa a ser urn nome comum: Papal era urn Quixote. (Ciro dos Anjos, MS, 298.) b) para indicar ser o indivfduo verdadeiro simbolo de uma especie: A fortuna, toda nossa, 6 que näo temos urn Kant. (Joäo Ribeiro, F, 36.) c) para designar urn indivlduo pertencente a determinada famflia: D. Pedro I do Brasil, que foi D. Pedro IV de Portugal, era urn Braganca. d) para evocar aspectos geralmente imprevistos de uma pessoa: Apesar disso tudo, urn Joaquim risonho, a satisfacäo em pessoa. (GenoHno Amado, RP, 115.) e) para designar obras de um artista (geralmente quadros de um pintor): Tambem dissc, 6 vcrdade, corao era necessärio aprender a custinguit o fado de uma sinfonia, urn Picasso de um calendario. (Vergllio Ferreira, A, 28.) artigo 177 2. Como 0 artigo definido, 0 indefinido pode acompanhar os nomes geograficos, se qualificados: Mais tarde, haveria de ouvir-lhe pessoalmente a sua visäo dum Egeu de deuses vivos. (Luis Forjaa Trigueiros, ME, 2Ö9.) OMISSÄO DO ARTIGO INDEFINIDO Em expressoes de identidade. 1. Evita-se, em geral, empregar o artigo mdefinido quando ja existe, anteposto ao substantivo, um dos pronomes demonstrativos igual, semelbante e tal; ou um dos indefinidos eerto, outro, qualquer e tanto: Certo amigo meu ji usou de igual argumento. Em outra circunstäncia eu aprovaria semelhante atitude. Se continuares com tal inapetencia e com tanta febre, podes tomar o remedio a qualquer hora. 2. Advirta-se, porem, que algumas dessas formas, quando pospostas a um substantivo, passam a ser adjectivos, caso em que se constroem nor-malmente com artigo mdefinido: Ele disse uma coisa certa. Quero um livro igual a esse. Uma hora qualquer irei ve-lo. Tens um modo Bemelhante de falar. Costuma-se, no entanto, calar o artigo indefinido, quando a fräse 6 negativa ou interrogativa: Nunca Ii coisa igual. Jamais se ouviu barbaridade tal! Ja viste trejeitos semelhantes? Em expressoes comparativas. i. Em principio, as formulas comparativas podem admitir a exclusäo do artigo indefinido. E o caso: a) dos comparativos de igualdade formados com täo ou tanto: Nunca passei por lugar täo perigoso como aquele. Trabalhava com tanto cuidado como o pai. I7g BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO J ----" \ i b) dos comparativos de superioridade ou de inferioridade, principal-mente quando expressos sob a forma negativa ou interrogativa: Näo encontrarias melhor amigo nesta emergéneia. Conseguiste maior renda este més? 2. É dispensável também o artigo indefinido em comparacöes do tipo: Qual futacäo, revolveu tudo. Bailava como nume da florcsta. Em expressoes de quantidade. Costuma-se evitar o artigo indefinido antes de expressoes denotadoras de quantidade mdeterminada, constituidas seja por substantivos (como: coisa, gente, infinidade, multiddo,, numero, parte, pessoa, porfäo, quantia, quantidade, soma e equivalentes), seja por adjectivos (como: escasso, excessivo, suficiente e sinónimos): Havia grande numero de pessoas no casamento. Reservou para si boa parte do lucro. artigo b) nos apostos: Meu pai, hörnern de boa familia, possula Fortuna grossa, como näo ignoram. (Graciliano Ramos, AOH, 28.) e sempře que a clareza ou a énfase näo o exigirem. Observacao: Em rigor, nao se trata propriamente nestes casos e nos seguintes de omissao do artigo indefinido, mas de casos onde ele nunca se empregou de forma regular. Na fase primitiva das linguas románicas, o artigo indefinido era de uso res-trito. Com o correr do tempo, esse determinativo foi-se introduzindo em numerosas construgoes e, hoje, os variados matizes do seu emprego constituem uma inestimável riqueza estilistica de todas elas. Com substantivo denotador da espécic. Quando um substantivo no singular é concebido sob o aspecto de categoria, de espécie, e nao sob o de unidade, pode-se calar o artigo indefinido. Esta omissao aparece frequentemente em provérbios: Cao ladrador nunca c bom cacador. Espada na m3o de sandeu, pcrigo de quern lha deo. Outros casos de omissao do artigo indefinido. Alem dos casos mencionados, a lingua portuguesa admite a omissao do artigo indefinido em muitos outros. Como o artigo definido, ele pode faltar: a) nas enumeracoes: Desde at, os campos-santos nab ccssaram de recolher os mortos meus: av6, tios, amigos de inf&ncia, companheiros queridos — a lišta é aterra-dora... (Augusto Frcdcrico Schmidt, GB, 151.) 10. Adjective- O adjectivo é essencialmente um modiŕicadof do substantivo. Serve: para caracterizar os seres, os objectos ou as nocôes nomeadas pelo substantivo, indicando-lhes: a) urna qualidade (ou defeito): inteligencia lúcida b) o modo de ser: pessoa simples f) o aspecto ou aparéncia: céu azul d) o estado: casa arruinada hörnern perverao rapaz delieado vidro fosco laranjeira florida 2.0) para estabelecer com o substantivo uma relacao de tempo, de espaco, de matéria, de finalidade, de propriedade, de procedéncia, etc. (adjecttvo de relacao): nota mensal (= nota relativa ao més) movimento estudantil (— movimento feito por estudantes) casa paterna (= casa onde habitam os pais) vinho portugués (= vinho proveniente de Portugal) adjecttvo 181 gindo-lhe, pois, a extensäo do significado. Näo adrnitem graus de intensi-dade e vém normalmente pospostos ao substantivo. A sua anteposicäo, no caso, provoca uma valorizagäo de sentido muito senslvel. Home substantivo e nome adjectivo. é muito estreita a relacäo entre o substantivo (termo determinado) e o adjectivo (termo determinante). Näo raro, há uma única forma para as duas classes de palavras e, nesse caso, a distincäo só poderá ser feita na frase. Comparem-se, por exemplo: Uma preta velba vendia laranjas. Uma velha preta vendia laranjas. Na primeira oracao, preta é substantivo, porque é a palavra-núcleo, caracterizada por velha, que, por sua vez, é adjectivo na medida em que é a palavra caracterizadora do termo-núcleo. Na segunda oracao, ao contrario, velba é substantivo e preta adjectivo. Como vemos, a subdivisäo dos nomes Portugueses em substantivos e adjectivos obedece a um' eritério basicamente sintáctico, funcional. Substantivacao do adjectivo. Sempře que a qualidade referida a um ser, objecto ou nocao for con-cebida com grande independéncia, o adjectivo que a representa deixará de ser um termo subotdinado para tornar-se o termo nuclear do sintagma nominal. Dá-se, entäo, o que se cháma substantivacao do adjecttvo, facto que se exprime, gramaticalmente, pela anteposicäo de um determina-tivo (em geral, do artigo) ao adjectivo. Comparem-se, por exemplo, estas oracöes: O céu cinzento indica chůva. O cinzento do céu indica chůva. Na primeira, cinzento é adjectivo; na segunda, substantivo. Observacäo: Os adjectivos de relacäo, derivados de substantivos, säo de natureza clas-sificatória, ou seja, precisam o conceito expresso pelo substantivo, restrin- Substitutos do adjectivo. i. Palavras ou expressöes de outra classe gramatical podem também servir para caracterizar o substantivo, ŕicando a ele subordinadas na frase. j 8^ breve gramAtica do portugues contemporáneo Valem, portanto, por verdadeiros adjectivos, semántica e sintacticamente falando. • Costuma-se, por exemplo, com tal finalidade: a) associar ao substantivo principal outro substantivo em forma de aposto: O tie- Joaquim Moga cabeca-de-vento b) empregar locucoes formadas, quer de preposicao + substantivo: Coracao de anjo [= angélico] Indivlduo sena coragcm [= medroso] quer de preposicao -f- adverbio: Jornal de hoje [= hodicrno] Patas de tras [= traseiras] c) substituir o adjectivo por um substantivo abstracto, que passa a ter como complemento nominal o antigo substantivo nuclear. Comparem-se, por exemplo, estas frases: Sofreu o destino cruel. Sofreu a crueldade do destino. 2. A caracterizacao do substantivo pode fazer-se ainda por meio de uma oracao: a) seja desenvolvida (quando encabecada por pronome relativo): Há homens que n3o acham nunca a sua expressao. (Gilberto Amado, TL, 9.) b) seja reduzida: Jorge via a dor andando no corpo, a febre queimando, o pai já apodre-cia por dentro. (Adonias Filho, LP, 53.) Morfológia dos adjectivos. Poucos säo os adjectivos que podemos considerar primitivos, ou seja, «quc designam por si mesmos uma qualidade, sem referencia a urna subs- APJECTTVO ^3 tancia ou accao que a representem» 1. É, por exemplo, o caso de, entre outros, brando, claro, curto, grande, largo, liso, livre, triste e de boa parte dos adjectivos referentes a cor: a^ul, branco, pre to, verde, etc. A maioria dos adjectivos é constituída por aqueles que derivam de um substantivo ou de um verbo, com os quais continuam a relacionar-se do ponto de vista semäntico2. FLEXÖES DOS ADJECTIVOS Como os substantivos, os adjectivos podem flexionar-se em numero, género e grau. Numero O adjectivo torna a forma singular ou plural do substantivo que ele qualifica: aluno estudioso alunos estudiosos mulher hindu mulheres hindus perfume fřancés perfumes franceses Plural dos adjectivos simples. Na formaclo do plural, os adjectivos simples seguem as mesmas regras a que obedecem os substantivos. Plural dos adjectivos compostos. Nos adjectivos compostos, apenas o ultimo elemento recebe a forma de plural: consultórios médico-cirúrgicos institutos afro-asiáticos Observagäo: Exceptuam-se: a) surdo-mudo, que faz surdos-tmidos; b) os adjectivos referentes a cores, que säo invariáveis quando o segundo elemento da composicäo é um substantivo: uniformes verde-oliva canários amarelo-ouro 1 Gonsalo Sobejano. El iplteia m la Urica espďiola, 2* cd. Madrid, Gicdos, 1970, p. 8j. í Quanto aos sufixos que entram nu formacSo dtstcs adjectivos, vcja-st o que disscmos no Capltulo 6, p. 70-72. i84 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO adjectivo Género O substantivo tem sempře um género, o que nao sucede com o adjectivo, que assume o género do substantivo. Do ponto de vista morfológico, o único traco que, na verdade, sin-gulariza o adjectivo como uma parte do discurso diversa das demais é o de poder, na maioria das vezeš, apresentar duas terminacoes de género, sem que, com isso, seja uma palavra de género determinado e sem que o con-ceito por ele designado corresponda a um género real. Formagab do feminino. i. Como dissemos, os adjectivos sao geralmente biformes, isto é, possuem duas formas, uma para o masculino e outra para o feminino: Masculino Feminino Masculino Feminino bom boa mau má formoso formosa nu nua Undo linda portugués portuguesa 2. O processo de formacäo do feminino destes adjectivos é idéntico ao dos substantivos. Assim: i.°) Os terminados em -o átono formám o feminino mudando o -o em -a: belo bela lígeiro ligeira 2.°) Os terminados em -u, -es e -or formám geralmente o feminino acrescentando -a ao masculino : cru crua nu francÉs francesa inglés encantador encantadora morador nua inglesa moradora Exceptuam-se, porém: a) dos finalizados em -»; os gentílicos bindu e que säo invariá- vcis; b) dos finalizados em -és: corUs, descortés, monies e pedrís, que säo inva-riáveis; rs5 c) dos finalizados em -or: os comparativos melbor, pior, wahr, menor, superior, inferior, interior, exterior, posterior, ulterior, citerior e, ainda, formas como multkor, incolor, sensabor e poucas.mais, que säo invariáveis; gerador, motor e outros terminados em -dor e -tor, que mudam es tas sílabas em -trt\: geratri%, motris^, etc.; e um pequeno numero que substitui -or por -eira; tra-balhador, trabalhadeira, etc. 3.0) Os terminados em -äo formám o feminino em -ä ou em -ona: säo sä choräo chorona Beiräo, no entanto, faz no feminino beiroa. -eia: -oa: 4.0) Os terminados em -eu (com e fechado) formám o feminino em europeu europeia plebeu plebeia Exceptuam-se Judeu e sandeu, que fazem, respectivamente, judia e sandia. 5.0) Os terrninados em -éu (com e aberto) formám o feminino em ilhéu ilhoa tabaréu tabaroa 6.0) Alguns adjectivos que no masculino possuem o tónico fechado [o], alérn de receberem a desinéncia -a, mudam o o fechado para aberto [d], no feminino: brioso briosa formoso formosa Outros, porém, conservam no feminino o o fechado [o] do masculino: chocho chocha fosco fosca Adjectivos uniformes. Há adjectivos que tém urna só forma para os dois géneros. Säo de regra uniformes oí adjectivos: a) terminados em -a, muitos dos quais funcionam também como substantivos: bipócrita, homicida, indígena; asteca, celta, israeiita, maia, per sa; agri-cola, sibícola, vinicola, cosmopolita, etc.; i i86 B REVE GRAMATICA DO PORŤUGUES contemp0rane0 ADJECTIVO lB7 b) terminados em -e: drabe, breve, cafre, doce, bumilde, terrestre, torpe, triste e muitos outros, entre os quais se incluem todos os formados com os sufixos -ense, -ante, -ente e -inte: cearense, constante, crescente, pedinte, etc.; c) terminados em cordial, infiel, amdvel,pueril, agil, reinol, a%ul, Sxul, etc.; d) terminados em -ar e em -or (neste caso apenas os comparativos em -or): exemplar, impar, maior, superior, etc.; e) paroxitonos terminados em -s: reks, simples, etc.; /) terminados em auda^,feli^, atro%, etc.; g) terminados em -m grafico: virgem, ruim, comttm, etc.. Observacäo: Fazem excepcäo: andalufy fem. anäalus^a; bom, fem. boa; espanhol, fem. espa-nhola; e a maior parte dos terrninados em -es e -or. I Femiriino dos adjectivos compostos. i i Nos adjectivos compostos, apenas o segundo elemento pode assumir ■■ a forma ferrnnina: j i a literatura hispano-americana uma intervencäo meoico-cirurgica A unica excepcäo 6 surdo-mudo, que faz no ferninino surda-muda: ' um menino surdo-mudo uma crianca surda-muda Grau A gradacäo pode ser expressa em portugues por processos sintacticos ou morfolögicos. | Comparativo e auperlativo. Dois säo os Graus do adjectivo: o comparättvo e o superlattvo. i. O comparativo pode indicar: d) que um ser possui deterrninada qualidade em grau superior, ig/ml ou inferior a outro: Pedro 6 mais cstudioso do que Paulo. ] Äivaro 6 täo cstudioso como [ou quanto] Pedro. i Paulo 6 menos cstudioso do que Alvaro. b) que num mesmo ser deterrninada qualidade é superior, igtial ou infe-rior a outra que possui: Paulo é mais inteligente que estudioso. Pedro é täo inteligente como [ou quanto] estudioso. Alvaro é menos inteligente do que estudioso. Daí a existencia de um comparativo de superioridade, de um com- parattvo de igualdade- e de um comparativo de inferioridade. 2. O superlativo pode denotar: a) que um ser apresenta em elevado grau deterrninada qualidade (superlativo absoluto): Paulo é inteligentissimo. Pedro é muito inteligente. b) que, em comparacäo ä totalidade dos seres que apresentam a mesma qualidade, um sobressai por possuí-la em grau maior ou menor que os demais (superlativo relativo): Carlos é o aluno mais estudioso do Colégio. Joäo é o aluno menos estudioso do Colégio. No primeiro exemplo, o superlativo relattvo é de superioridade; no segundo, de inferioridade. Formagäo do grau comparativo. 1. Forma-se o comparativo de superioridade antepondo-se o advérbio mais e pospondo-se a conjuncäo que ou do que ao adjectivo: Pedro é maÍB idoso do que Carlos. Joäo é mais nervoso que desatento. 2. Forma-se o comparativo de igualdade antepondo-sc o advérbio täo e pospondo-se a conjuncäo como ou quanto ao adjectivo: Carlos é täo jovem como Alvaro. José é täo nervoso quanto desatento. l88 BREVE GRAMÁTICA DO PORTOGUÉS CONTBMPORANEO 3. Forma-se o comparativo de lnferiortdade antepondo-se o advórbio menos e pospondo-se a conjuncäo que ou do que ao adjectivo: Paulo é menos idoso que Alvaro. joäo é menos nervoso do que desatento. Formacao do grau superlativo. Vimos que há duas espécies de superlativo: absoluto e relattvo. O superlativo absoluto pode ser: d) siNTETico, se expresso por uma só palavra (adjectivo + sufixo): amiclssimo acérrimo b) analítico, se formado com a ajuda de outra palavra, geralmente um advérbío indicador de excesso — muito, imensamente, extraordinariamente, exccssivamente, grandemente, etc.: muito estudioso Superlativo absoluto sintético. excessivamente fácil r. Forma-se pelo acréscimo ao adjectivo do sufixo -íssimo: fértil fertiÜssimo original originalíssimo Se o adjectivo terminar em vogal, esta desaparece ao aglutkvar-se o sufixo: belo belissimo lindo lindíssimo 2. Muitas vezeš o adjectivo, ao receber o sufixo -íssimo, reassume a primitiva forma latina. Assim: d) os adjectivos terminados em -vel formám o superlativo em -biltssimo: amavel amabilíssimo terrivel terribillssimo b) os terminados em fazem o superlativo em -císsimo: capaz fcliz capacíssimo felicíssimo c) os terminados em vogal nasal (representada por -m gráfico) formám o superlativo cm -níssimo: adjecttvo 189 d) os terminados no ditongo -äo fazem o superlativo em -anlssimo: paglo väo paganissimo vaníssimo 3. Nlo raro a forma portuguesa do adjectivo difere sensivelmente da latina, da qual se deriva o superlativo. Assim: Normal Superlatívo Normal Superlativo amargo amaríssimo magnífico magnificentíssimo arnigo amicíssimo maiéfico maleficentíssimo antigo antiquíssimo malévolo malevolentissimo benéřico beneficentíssimo miúdo minutissimo benevolo benevolentíssimo nobre nobuíssimo cristäo cristianíssimo pessoal personalíssimo cruel crudelíssimo pródigo prodigal issimo doce dulcíssimo sábio sapientíssimo fiel fidelíssimo sagtado sacratissimo trio frigidíssimo simples simplicissimo ou geral generalissimo simplissimo irůrnigo inirnicissimo soberbo superbíssimo 4. Também os superlativos em -imo e -rimo representam simples for-magöes latinas. Com exclusäo de facilimo, dificílimo e paitpérrimo (superlativos de fácil, dificil e pobre), que pertencem ä linguagem coloquial, säo todos de uso literário e um tanto precioso. Anotem-se os seguintes: Normal Superlativo Normal Superlativo acre célcbre bumilde íntegro Uvre salubre acérrimo celebérrimo hurrulimo (ou humildíssimo) integérrimo libérrimo salubérrimo magro negro pobre macérrimo (ou magrissimo) nigérrimo (ou negrlssimo) paupérrimo (ou pobrissimo) comum comuníssimo Superlativo relativo. 1. O superlativo rela'itvo c sempře analítico. O de superioridade forma-se pela anteposicäo do artigo definido ao comparative de superioridade: ; Este aluno e o mais estudioso do Colegio. Joäo foi o colega mais leal que conheci. O de inferioridade forma-se pela anteposicäo do artigo definido ao comparativo de inferioridade: Este aluno e o menos estudioso do Colegio. Jorge foi o colega menos leal que conheci. ' 2. O termo da comparagäo e expresso por um complemento nominal j introduzido pela preposicäö de (e tambem entre, em e sobre), on por. uma oragäo adjectiva restritiva, como nos exemplos mencionados. 3. O superlativo relativo denotador dos limites da possibilidade for- j ma-se com a posposicäo da palavra passive! ou uma expressäo (ou oraeäo) de sentido equivalente: O arraial era o mais monötono possivel. (Guimaräes Rosa, S, 264.) i Era a pessoa mais cortes deste mundo, e näo deu corpo äs suas aver- j eöcs. (Aquilino Ribeiro, V, 34.) 1 Comparativos e superlaiivos anömalos. j Quatro adjectivos — bom, matt, grande e peqneno — formám o comparativo e o superlativo de modo especial: Comparativo Superlativo Adjectivo de Superioridade Absoluto Relativo bom melhor óptímo 0 melhor mau pior péssimo 0 pior grande maior maximo 0 maior pcqueno menor mlnimo 0 menor Observacoes: i.a Quando se compara a qualidade de dois seres, nao se deve dizer mais bom, mats mau e mais grande; e sim: melhor, pior e maior. Possível é, no entanto, usar as formas analiticas desses adjectivos quando se confrontam duas qua-lidades do mesmo ser: Ele foi mais mau do que desgracado. Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente. Em lugar de menor usa-se. também mais peqneno, que é a forma preferida em Portugal. z.s A par de óptimo, péssimo, maximo e minima, existem os superlativos abso-lutos_ regulares: bonissimo e muiío bom, malissimo e muito mau, grandíssimo e muiío grande, peqmnissimo e muito pequeno. j.a Grande e pequeno possuem dois superlativos: o maior ou o maximo e o menor ou o minima. 4-a Alguns comparativos e superlativos nao tém forma normal usada: Comparativo Superlativo superior supremo ou sumo inferior infimo anterior — posterior póstumo ulterior ultimo As formas superior e inferior, supremo (ou sumo) e infimo podem ser empregadas como comparativo e superlativo de alto e baixo, respectivamente. Outras formas de superlativo. Pode-se formar também o superlativo com: a) o acréscimo de um prefixo ou de um pseudo-preßxo, como arqui-, extra-, biper-, super-, ultra-, etc.: arquimilionärio, extrafino, hipersensivel, super-exaltado, ultra-rápido: b) a repeticäo do proprio adjectivo: É um Abril de pureza: —6 Undo, Undo! (Antonio Patricio, P, 130,) e) uma comparaeäo breve: •—Isso é claro como água. (Castro Soromcnho, TM, 101.) 19* BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÁNEO d) ccrtas expressôes fixas, como podře de rko [= riquíssimo], de mäo cbeia [= excelente, de grandes recursos técnicos), e outras semelhantes: A Zorilda era uma pianista de mäo cheia. (Herberto Sales, DBFM, no.) Adjectivos que näo se flexionam em grau. Vimos que os chamados adjectivos de relacäo näo se flexionam em grau. O mesmo se dá com os outros adjectivos de tipo classificatório, entre os quais se incluem os pertencentes äs terminologias cientificas, que se caracte-rizam por seu sentido específico, unívoco. Assim: atmosférico, morfológico, oviparo, mminante, sincrónico, etc. Para que um adjectivo tenha comparativo e superlativo, é obviamente indispensável que o seu sentido admita variacäo de intensidade. EMPREGO DO ADJECTIVO Funcöes sintäcticas do adjectivo. A rigor, o adjecttvo so existe referido a um substantivo. Conforme se estabeleca a relacäo entre os dois termos na fräse, o adjectivo desempc-nhara as funcöes sintäcticas de adjunto adnominal ou de predicativo. A diferenca entre o adjectivo em fungäo de adjunto adnominal c o adjectivo em funcäo de predicativo baseia-se, principalmente, eia dois pontos: i.°) O primeiro € termo acessorio da oracäo, parte de um termo essencial ou integrante dela; o segundo e, por si proprio, um termo essencial da oracäo. Se dissessemos, por exemplo: O campo e imenso, o adjectivo predicativo näo poderia faltar, pois, sendo termo essencial, sem ele a oracäo näo teria sentido. Se dissessemos, no entanto: O campo imenso esta alagado, o adjectivo imenso seria parte do sujeito, uma dispensävel qualincacäo do ADJECTIVO J93 substantivo que Ihe serve de nucleo, um termo, por conseguinte, acessorio da oracäo. 2,°) A qualidade expressa por um adjectivo em funcäo predicativa vem marcada no tempo, e por essa relacäo cronológica entre a qualidade e o ser é responsável o verbo que liga o adjectivo ao substantivo. Comparem-se estas frases: O bom aluno estuda. Ele está nervoso, mas era calmo. Na primeira, acrescentamos a no^äo de bom a de ahmo sem termos em mentě qualquer referenda ä ideia de tempo. Já na segunda, as noföes expressas pelos adjectivos nervoso e calmo säo por nós atribuídas ao sujeito com a situa-cäo de tempo marcada pelo verbo: nervoso, no presente; calmo, no passado. Emprego adverbial do adjectivo. i. Examinemos as seguintes oracöes: O menino dorme tranquilo. A menina dorme tranquila. Os meninos dormem tranquilos. As meninas dormem tranquilas. Vemos que, nelas, o adjectivo em funcäo predicativa concorda em género e numero com o substantivo sujeito. Mas verificamos, por outro lado, que, servindo embora de predicativo do sujeito, com o qual concorda, o adjectivo modifica em todas elas a aegäo expressa pelo verbo e assume, de alguma forma, um valor também adverbial. Esse valor naturalmente será o preponderate se, em lugar daquelas construcöes, usarmos as seguintes: O menino dorme tranquilamente. A menina dorme tranquilamente. Os meninos dormem tranquilamente. As meninas dormem tranquilamente. Aqui, a forma adverbial, invariável, impede a possibilidade de con-cordáncia, justamente o elo que prendia o adjectivo ao sujeito, e, com isso, faz aflorar com toda a nitidez o modo por que se processa a accäo indicada pelo verbo dormir. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÁNEO 2. É esse emprego do adjectivo em predicados verbo-nominais, com valor fronteirico de advérbio, que nos vai explicar o fenómeno, hoje muito generalizado, da adverbializacäo de adjectivos sem o acréscimo do sufixo -mente. Por exemplo, nestas oracöes: Canta o canário de penas de ouro. AJegre canta. Cantara triste, Se se lembrasse que Hvre outrora Voava com os outros que andam lá fora. (Alberto de OUveira, P, IV, 70.) as palavras akgre, triste e livre säo advérbios. Observacäo: Embora o adjectivo adverbializado deva permanecer invariável, näo faltam abonacöes, mesmo em bons autores, de sua concordäncia com o sujeito da oracäo, facto justificável pela ampla zona de contacto existente, no caso, entre o adjectivo e o advérbio. Colocacao do adjectivo ad j unto adnominal. x. Sabemos que, na oracäo declarativa, prepondera a ordem directa, que corresponde ä sequéncia progressiva do enunciado lógico. Como elemento acessório da oracäo, o adjectivo em funcäo de adjunto adnominajl deverá, portanto, vir com maior frequéncia depois do substantivo que ele qualifica. 2. Mas sabemos, também, que ao nosso idioma näo repugna a ordem chamada inversa, principalmente nas formas afectivas da linguageme que a anteposicäo de um termo é, de regra, uma forma de realcá-lo. 3. Podemos, entäo, estabelecer previamente que: a) sendo a sequéncia substantivo + adjectivo a predominante no enunciado lógico, deriva daí a nocäo de que o adjectivo posposto possui valor objectivo: noite escura dia triste b) sendo a sequéncia adjectivo + substantivo provocada pela énfase dada ao qualificativo, decorre daí a nocäo de que, anteposto, o adjectivo assume um valor subjectivo: escura noite triste dia ADJECTIVO__ Adjectivo posposto ao substantivo. Coiocam-se normalmente depois do substantivo: a) os adjectivos de natureza classificatória, como os técnicos e os de relacäo, que indicam uma categoria na espécie designada pelo substantivo: animal doméstico água mineral b) os adjectivos que designam características muito salientes do substantivo, tais como forma, dimensäo, cor e estado: terreno piano calca preta hörnern baixo mamoeiro carregado c) os adjectivos seguidos de um complemento nominal: um programa fácil de cumprir Adjectivo anteposto ao substantivo. 1. De um modo constante, só se colocam antes do substantivo: a) os superlativos relativos: o ntelhor, o pior, o maior, o menor; O melhor meio de ganhar é poupar. O maior castigo da injuria é havé-la feito. b) certos adjectivos monossilábicos que formám com o substantivo expressöes equivalentes a substantivos compostos: bom dia má hora c) adjectivos que nesta posigäo adquitiram sentido especial, como simples (~ mero, só, único); comparem-se: Nessa ocasiäo ele era um simples eserevente [= um mero eserevente]. Este eseritor tem um estilo simples [= um estilo näo complexo]. 2. Afora esses casos, o adjectivo anteposto assume, em geral, um sentido figurado. Comparem-se, por exemplo: um grande hörnern [= grandeza figurada] um hörnern grande [= grandeza material] uma pobre mulher [= uma mulher infeliz] uma mulher pobre [= uma mulher sem recursos] breve gramática do portuguěs contemporáneo CONCORDANCE DO ADJECTIVO COM O SUBSTANTIVO O adjectivo, dissemos, varia em género e numero de acordo com o género e o numero do substantivo ao qua] se refere. É por essa correspondéncia de flexoes que os dois termos se acham ine-quivocamente relacionados, mesmo quando distantes um do outro na frase. Assim: Dissc o mostrengo, e rodou trés vezes, Ties vezes rodou imundo e grosso... (Fernando Pessoa, OP, 17.) Adjectivo referido a um substantivo. O adjectivo, quer em funcáo de adjunto adnominal, quer em fun-cao de predicativo, desde que se refira a um trnko substantivo, com ele con-corda em género e numero. Assim: O Barao continuava a contar aventuras, pequenos casos que revivia com um prazer doentio. (Branquinho da Fonseca, B, 27.) I A casa ficou vazia, (Aníbal M. Machado. HR. 25j.) Adjectivo referido a mais de um substantivo. j i Quando o adjectivo se associa a mais de um substantivo, importa con- siderar: | a) o género dos substantivos; 1 b) a ruNCAO do adjectivo (adjunto adnominal ou predicativo); j c) a POSiCAO do adjectivo (anteposto ou posposto aos substantivos), condicoes essas que permitem a concordancia do adjectivo com os subs- I tantivos englobados, ou apenas com o mais proximo. j Examinemos as diversas possibilidades, exemplificando-as. , ADJECTIVO ADJUNTO ADNOMINAL | t O adjectivo vem antes dos substantivos. j i Regra gcral. O adjectivo concorda cm género e numero com o subs- | adjecttvo tanrivo mais proximo, ou seja com o primeiro deles: Vivia em tranquilos bosques e montanhas. Vivia em tranquilas montanhas e bosques. Tinha por ele alto respeito e admiracao. Tinha por ele alta admiracao e respeito. Observacao: Quando os substantivos sao nomes proprios ou nomes de parentesco, o adjectivo vai sempre para o plural: Conheci ontem as gentis irma e cunhada de Laura. Portugal cultua os feitos dos her6icos Diogo Cao e Bartolomeu Dias. O adjectivo vem depois dos substantivos. Neste caso, a concordancia depende do genero e do numero dos substantivos. 1. Se os substantivos sao do mesmo genero e do singular, o adjectivo toma o genero (masculino ou feminino) dos substantivos e, quanto ao numero, vai: a) para o singular (concordancia mais comum): A professora estava com um vestido e um chapeu escuro. Estudo a lingua e a literatura portuguesa. b) para o plural (concordancia mais rata): A professora estava com um vestido e um chapeu escuros. Estudo a lingua e a literatura portugucsas. 2. Se os substantivos sao de generos diferentes e do singular, o adjectivo pode concordar: a) com o substantivo mais proximo (concordancia mais comum): A professora estava com uma saia e um chapeu escuro. Estudo o idioma e a literatura portuguesa. b) com os substantivos em conjunto, caso em que vai para o masculino plural (concordancia mais rara): A professora estava com uma saia e um chapeu escuros. Estudo o idioma e a literatura Portugueses. 3. Se os substantivos sao do mesmo genero, mas de ntitmros diversos, o io8 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÁNEO ADJECTIVO 199 adjectivo toma o genero dos substantivos, e vai: a) para o plural (concordancia mais comum): Ela comprou dois vestidos e um chapéu escuros. Estudo as linguas e a civilizagäo ibéricas. rara): b) para o numero do substantivo mais proximo (concordancia mais Ela comprou dois vestidos e um chapéu escuro. Estudo as linguas e a civilizagäo ibérica. 4. Se os substantivos sao de generos diferentes e do plural, o adjectivo vai: a) para o plural e para o genero do substantivo mais pr6ximo (concordancia mais comum): Ela comprou saias e chapeus escuros. Estudo os idiomas e as literaturas ibericas. b) para o masculino plural (concordancia mais rara); Ela comprou chapeus e saias escuros. Estudo os idiomas e as literaturas ibericos. dos casos, as mesmas regras de concordancia a que esta submetido o adjectivo que funciona como adjunto adnominal. Convem salientar, no entanto, que: d) se os substantivos sujeitos sao do mesmo genero, o adjectivo toma o genero dos substantivos e vai, preferentemente, para o plural, ainda que os substantivos estejam no singular: O livro e o caderno sao novos. A porta e a janela estavam abertas. b) se os substantivos sujeitos sao de generos diversos, o adjectivo vai, normalmente, para o masculino plural: O livro e a caneta sao novos. A janela e o portao estavam abertos. Mas, nos dois casos, e tambem possivel que o adjectivo predicativo concorde com o sujeito mais proximo se o verbo de ligacao estiver no singular e anteposto aos sujeitos, como nos exemplos abaixo: Era novo o livro e a caneta. Estava aberta a janela e o portao. 5. Se os substantivos säo de géneros e nůmeros diferentes, 0 adjectivo pode ir: a) para o masculino plural (concordancia mais comum): Ela comprou saias e chapéu escuros. Estudo os falares e a cultura Portugueses. b) para o género e o numero do substantivo mais proximo (concordancia que näo é rara quando 0 ultimo substantivo é um feminino plural): Ela comprou saias e chapéu escuro. Estudo o idioma e as tradicöcs portuguesas. ADJECTIVO PREDICATIVO DE SUJEITO COMPOSTO Observances: 1. a O adjecdvo predicativo do objecto directo obedece, em geral, ás mesmas regras de concordancia observadas pelo adjecdvo predicativo do sujeito. 2. a Como as oragoes, e as palavras tomadas materialmente, se consideram do numero singular e do género masculino, quando o sujeito é expresso por uma oracao (plena ou reduzida), o adjectivo predicativo fica no masculino singular: É justo que uma nagao venere os seus poetas. É honroso morrer pela pátria. Quando 0 adjectivo serve de predicativo a um sujeito múltiplo, cons-tituido de substantivos (ou expressöes equivalentes), observa, na maioria I 11. Pronomes PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJECTIVOS i. Os pronomes desempenham na oracäo as funcöes equivalentes äs exer-cidas pelos elementos norninais. Servern, pois: a) para representar urn substantivo: Os campos, que suportaram a longa presenca solar a queimá-los irtccs-santemente, recebem agora a água abundante com uma gula feliz. (Augusto. Frederico Schmidt, GB, 294.) b) para acompanhar um substantivo determinando-lhe a extensäo do significado: —■ Quanto valem, és capaz de dizer? Leques espanhóis, de seda, de al-guma bisavó do meu tio cónego, com estas péiolas de prata e oiro! ] (Fernando Namora, TJ, 103.) I No primeiro caso desempenham a funcäo de um substantivo e, por ] isso, recebem o nome de pronomes substanttvos; no segundo chamam-se \ pronomes adjectivos, porque modificam 0 substantivo, que acompanham, como se fossem adjectivos. 2. Há seis espécies de pronomes: pessoais, possesstvos, demonstra- i ttvos, relattvos, interrogativos e indefinidos. | i PRONOMES PESSOAIS | Í Os pronomes pessoais caracterizam-se: i.°) por denotarem as tres pessoas gramaticais, isto é, por terem a pronomes 201 capacidade de indicar no colóquio: a) quem fala = i.a pessoa: eu (singular), nás (plural); b) com quern se fala = 2.» pessoa: tu (singular), vós (plural); c) de quem se fala =3.* pessoa: ele, ela (singular); eles, e/as (plural); 2.0) por poderem representar, quando na j.a pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa: Levautaram Dona Rosário, quiseram levantá-la, embora ela se opu-sesse, choramingasse urn pouco, dissesse que näo lhe era possível fazé-lo. (Maria Judite de Carvalho, AV, 137.) 3.0) por variarem de forma, segundo: a) a funcäo que desempenham na oracäo; b) a acentuacäo que nek recebem. Formas dos pronomes pessoais. Quanto a funcäo, as formas do pronome pessoal podem ser rectas ou 0blíquas. Rectas, quando funcionam como sujeito da oracäo; oblí-quas, quando nela se empregam fundamentalmente como objecto (directo ou indirecto). Quanto ä acentuacäo, distinguem-se nos pronomes pessoais as formas tónicas das átonas. O quadro abaixo mostra claramente a correspondéncia entre essas formas: Pronomes pessoais rectos Pronomes pessoais obliquos näo reflexivos Atonos Tónicos f 1.» pessoa eu me mim, comigo Singular -J 2.» pessoa tu te ti, contigo I pessoa ele, ela 0, a, Ihe ele, ela [ pessoa nos nos nós, connosco Plural \ 2.a pessoa vós vos vós, convosco 1 3-a pessoa eles, elas os, as, Ihes eles, elas Formas o, lo e no do pronome obliquo. Quando o pronome obliquo da 3.° pessoa, que funciona como objecto BREVE GRAMATICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÄNEO directo, vem antes do verbo, apresenta-se sempre com as formas o, a, os, as. Assim: Näo o ver para rnim é um suplício. Nunca a encontramos em casa. Joäo ainda nab fez anos; ele os faz hoje. Eies as trouxeram consigo. Quando, porém, está colocado depois do verbo e se liga a este por hifen (pronome enclítico), a sua forma depende da terminacäo do verbo. Assim: i.o) Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empre-gam-se o, a, os, as: PRONOMES Louvo-o Louvava-a Louvei-os Louvou-as 2.0) Se a forma verbal terminar em ~r, -s ou suprimem-se estas con-soantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las, como nestes exemplos: Ve-lo para mim 6 um suplicio. Encontramo-la em casa. Joao ainda nab fez anos; fa-los hoje. Nao quero vende-las. O mesmo se da quando ele vem posposto ao designativo eis ou aos pronomes nos e vos: Ei-lo sorridente. O nome nao vo-lo direi. 3,0) Se a forma verbal terminar em ditongo nasal, o pronome assume as modalidades no, tia, nos, nas. Däo-no Pöe-na Observacöes: Tem-nos Trouxeram-nas i.° As formas antigas do pronome obllquo objecto directo eram Žo(sJ e la(i), proveniences do acusativo do demonstrativo latino ilk, ilia, Mud (= aque-le, aquela, aquilo). Pöspostas a formas verbais terminadas em -r, -s ou o seu /- iniciál assimilou aquelas consoantes, que depois desapareceram: fazer-lo > fazel-lo > fazfi-lo' fazes-Io > fazel-lo > faze-lo fiz-lo > fil-lo > fi-lo Igual assimilacao sofreu o -s de eis, nos e vos, quando em contacto com o /-do pronome. 2. a Com as formas verbais terminadas em nasal, a nasalidade txansrmtiu-se ao /- do pronome, que passou a fazem-lo > fazem-no facam-lo > facam-no 3. a No futuro do presente e no futuro do pretérito1 o pronome oblíquo nao pode ser enclítico, isto é, nao pode vir depois do verbo. Dá-se, entao, a mesóclise do pronome, ou seja a sua colocacao no interior do verbo. Jus-tifica-se tal colocacao por terem sido estes dois tempos formados pela justa-posicao do infinkivo do verbo principal e das formas reduzidas, respectiva-mente, do presente e do imperfeito do indicativo do verbo haver. O pronome empregava-se depois do infinitivo do verbo principal, situacao que, em ultima análise, ainda hoje conserva. E, como todo infinitivo teraiina em -r, também nos dois tempos em causa desaparece esta consoante e o pronome toma as formas lo, la los, las. Assim; Futuro do presente vender-(h)ei veader-(h)ás vender-(h)á vender-(h)emos vender-(h)eis vender-(h)lo vendé-lo-ei vendé-lo-ás vendé-lo-á vendé-lo-emos vendé-lo-eis vendě-lo-ao Futuro do pretérito vender-(h)-ia vender-(h)ias vender-(h)ia vender-(h)íamos vender-(h)íeis vender-(h)iam vendě-lo-ia vendé-Io-ias vendé-lo-ia vendé-lo-íamos vendé-lo-leis vendé-lo-iam 4.* Quanto äs normas que se observam no emprego proclirJco, enclitico ou mesoclitico destes pronomes, veja-se o que dizemos adiante, ao tratarmos da COLOCACÄO DOS PRONOMES OBLIQUOS at0n0s. Pronomes reflexivos e reeiprocos. 1. Quando o objecto directo ou indirecto representa a mesma pessoa ou a mesma coisa que 0 sujeito do verbo, ele d expresso por um pronome reflexivo. O reflexxvo apresenta tres formas pröprias —se, si e consigo—, que se aplicam tanto ä 3.a pessoa do singular como ä do plural: Ele vestiu-se rapidamente. Ela fala sempre de si. 1 Sobre o emprego desta designagäo para as formas que, na tradicäo tcrminologica de Portugal, säo habitualinente chamadas formas de condiCional, v. adiante, p. 3)2. 204 BREVE GR A MATIC A DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO O piatot näo trouxe o quadro consigo. Eies vestiram-se rapidamente. Elas falam setnpre de si. Os pintores näo trouxeram os quadros consigo. Nas demais pessoas, as suas formas identificam-se com as do pronome oblíquo: me, te, nos e vos. Eu me feri. Tu te lavas. Nós nos vestimos. Vós vos levantais. 2. As formas do reflexivo nas pessoas do plural {nos, vos e se) empre-gam-se também para exprimir a reciprocidade da accäo, isto é, para indicar que a accäo é mútua entre dois ou mais indivíduos. Neste caso, diz-se que 6 pronome é recíproco. Carlos e eu abracamo-nos. Vós vos querieis muito. Jose e Antonio näo se cumprimentam. 3. Como säo idénticas as formas do pronome recíproco e do reflexivo, pode haver ambiguidade com um sujeito plural. Por exemplo, uma frase como a seguinte: Joaquím e Antonio enganaram-se. pode significar que o grupo formado por Joaquim e Antonio cometeu o engano, ou que Joaquim enganou Antonio e este z Joaquim. Costuma-se remover a dúvida fazendo-se acompanhar tais pronomes de exprcssöes reforcativas especiais. Assim: a) para marcar expressamente a accäo reflexiva, acrescenta-se-lhes, conforme a pessoa, a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, etc.: Joaquim e Antonio enganaram-se a si mesmos. b) para marcar expressamente a accäo reciproca, junta-se-lhes, ou uma expressäo pronominal, como tmi ao outro, uns aos otitros, entre si: PRONOMES ou urn adverbio, como reciprocamente, mutuamente: Joaquim e Antonio enganaram-se mutuamente. Nao raro, a reciprocidade da accao esclarece-se pelo emprego de uma forma verbal derivada com o prefixo entre-: Marido e mulher entreolharam-se. (Vitorino Nemesio, MTC, 360.) EMPREGO DOS PRONOMES RECTOS Funcoes dos pronomes rectos. 1. Os pronomes rectos empregam-se como: a) sujeito: N6s vamos em busca de luz. (Agostinho Neto, SE, 36.) b) predicattvo do sujeito: Meu Deusl, quando serei tu? (Josd Regio, ED, 157.) 2, Tu e vos podem ser vocativos: O v6s, que, no silfincio e no recolhimento Do campo, conversais a sos, quando anoitece... (Olavo Bilac, P, 158.) Omissao do pronome sujeito. Os pronomes sujeitos eu, tu, ele (ela), no's, vos, eks (elas) sao normal-mente omitidos em portugues, porque as desin^ncias verbals bastam, de regra, para indicar a pessoa a que se refere o predicado, bem como o mimero gramatical (singular ou plural) dessa pessoa: Joaquim e Antonio enganaram-se entrc si, Joaquim c Antonio enganaram-se um ao outro. ando rimos escreves partistcs dormiu voltaram 20(5 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Presenca do pronome sujeito. Emprega-se o pronome sujeito: a) quando se deseja, enfaticamente, chamar a atencao para a pessoa do sujeito: Eu, naufraga da vida, ando a morrerl (Florbela Espanca, S, 31.) b) para opor duas pessoas diferentes: Abracamo-nos ambos contristados, Ele, porque ha de ser, como eu, am velho, E eu, por ter sido ja, como ele, um moco. (Eugenio de Castro, UVj 68.) c) quando a forma verbal e" comum ai^ea;,' pessoa do singular e, por isso, se torna necessario evitar o equivoco: E preclso que eu repita o que ele disse? preciso que ele repita o que eu disse? Extensäo de emprego dos pronomes rectos. Na linguagem formal certos pronomes rectos adquirem valores especiais. Enumeremos os seguintes: i. O plural de modestia. Para evitar o torn impositivo ou muito pessoal de suas opiniöes, costumam os escritores e os oradores tratar-se por ti6s em lugar da forma normal eu. Com isso, procuram dar a impressäo de que as idcias que expöem säo compartilhadas pelos seus leitores ou ouvintes, pois que se expressam como porta-vozes do pensamento colectivo. A este emprego da i.» pessoa do plural pela correspondente do singular chamamos plural de modestia. As ocupacöes oficiais em que nos achamos desdc 1861 a 1867, quer nas rcpublicas de Venezuela, Equador, Peru e Chile, quer nas proprias Antilhas, näo nos deram muita ocasiäo de pensar em semelhante edicäo, para a qual a tö al nos faltavam auxilios. (F. Adolfo Varnhagen, CT A, 9.) PRONOMES ZO7 Advirta-se que, quando o sujeito nós é um plural de modestia, o predicativo ou patticipio, que com ele deve concordar, costuma near no singular, como se o sujeito fosse efectivamente eu. Assim, em vez de: Fiquei perplexo com o que ele disse. podemos dizer: Ficamos perplexo com o que ele disse. 2. O plural de majestade. O pronome nos eta. usado outrora pelos reis de Portugal — e ainda hoje o é pelos altos dignitários da Igreja — como símbolo de grandeza e poder de suas funcoes: Nos, Dom Fernando, pela graca de Deus Rei de Portugal e do Algarve, fazemos saber... é o que se chama plural de majestade. 3. Formula de cortesia (3.11 pessoa pela r.a). Quando fazemos um requerimento, por deferéncia á pessoa a quem nos dirigimos, tratamo-nos a nós próprios pela 3.a pessoa, e nao pela i.a: Fulano de tal, aluno desse Colégio, requer a V. Ex.a se digne mandar passar por certidao as notas mensais por ele obtidas no presente ano lectívo. 4. O vós de cerimónia. O pronome vos praticamente desapareceu da linguagem corrente do Brasil e de Portugal. Mas em discursos enfáticos alguns oradores ainda se servem da 2.a pessoa do plural para se dirigirem cerimoniosamente a um auditório qualificado. Veja-se este passo com que Olavo Bilac termina o seu discurso de in-gresso na Academia das Ciéncias de Lisboa: Ainda de longe, pensarei em vós, e pensarei convosco. Serei um dos menores sacerdotes do culto que nos congrega: o da nossa história e da nossa lingua. E, a mingua do brilho que vos posso dar, poderei dar-vos o fervor da minha crenga e a honestidade do meu labor. (M, j6.) Realce do pronome sujeito. Para dar énfase ao pronome sujeito, costuma-se reforgá-lo: 20g BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO a) sc ja com as palavras mesmo e proprio: — Tu mesmo serás o novo Hercules. (Machado de Assis, OC, II, 548.) Muitas vezes eu proprio me sinto ser o que ela pensa que eu sou. (Augusto Abelaira, B, 129.) b) seja com a expressäo invariável / que: Voces é que morrem, meu alferes, mas nós é que pagamos. (Luandino Vieira, NM, 63.) Precedéncia dos pronomes sujeitos. Quando no sujeito composto há um da i.3 pessoa do singular (eu), é boa norma de civilidade colocá-lo em ultimo lugar: Carlos, Augusto e eu fomos promovidos. Se, porém, o que se declara contém algo de desagradável ou importa responsabilidade, por ele devemos iniciar a série: Eu, Carlos e Augusto fomos os culpados do acidente. Equívocos e incorreccöes. 1. Como o pronome e/e (ela) pode representar qualquer substantivo anteriormente mencionado, convém ficar bem claro a que elemento da frase ele se refere. Por exemplo, uma frase como: Álvaro disse a Paulo que ele chegaria primeiro. é ambigua, pois ele pode aplkar-se tanto a Álvaro como a Panto. 2. Na fala vulgar e familiar do Brasil é muito frequente o uso do pronome ele(s), ela(s) como objecto directo em frases do tipo: Vi ele Encontrei ela Embora esta construeäo tenha raizes antigas no idioma, pois se docu-menta cm escritores Portugueses dos séculos XLII e XTV, deve ser hoje evitada. PRONOMES 3. Convém, no entanto, näo confundir tal construeäo com outras, perfeitamente legitimas, em que o pronome em causa funciona como objecto directo. Assim: a) quando, antecedido da preposicäo a, repete o objecto directo enun-ciado pela forma normal átona (0, a, os, as): Näo sei se elas me compreendem Nem se eu as compreendo a elas. (Fernando Pessoa, OP, 160,) b) quando ptececUdo das palavras todo ou só: — Conheco bem todos eles. (Herberto Sales, DBFM, 150.) Contraccao das preposicöes de e em com o pronome recto da 3.* pessoa. As preposigoes de e em contraem-se com o pronome recto de 3.* pessoa ele(s), ela(s), dando, respectivamente, dele(s), dela(s) e nele(s), nela(s). A pasta é dele, e nela está o meu caderno. É de norma, porém, näo haver a contraccao quando o pronome é sujeito; ou, melhor dizendo, quando as preposicöes de e em se relacionam com o infinitivo, e näo com o pronome. Assim: Pouco depois de eles sairem, levantei-me da mesa. (Luis Bernardo Honwana, NMCT, 96.) PRONOMES DE TRATAMENTO i. Denorninam-se pronomes de tratamento certas palavras e locu-cöes que valem por verdadeiros pronomes pessoais, como: vod, 0 senbor, Vossa Exceléticia. Embora designem a pessoa a quem se fala (isto é, a 2.a), esses pronomes levam o verbo para a 3,1 pessoa: — Onde é que voces väo? (Luandino Vieira, NM, 78.) 210 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES c0ntemporane0 PRONOMES 211 2. Convém conhecer as seguintes formas de tratamento reverente e as abreviaturas com que säo indicadas na escrita. Abreviatuxas Tratamento Usado para: V. A. V. Em.4 V. Ex.a V. Mag." V. M. V. Ex.a Rev.ma V.P. V. Rev.* ou V. Rev.ma. V. S. V. S.» Vossa Akeza Vossa Eminencia Vossa Excelencia Vossa Magnificéncia Vossa Majestade Vossa Exceléncia Re-verendissima Vossa Paternidade Vossa Reverenda ou Vossa Reverendissima Vossa Santidade Vossa Senhoria Principes, arquiduques, duques Cardeais No Brasil: altas autoridades do Governo e oficiais generais das Classes Armadas; em Portugal: qualquer pessoa a quem, em principio, se quer manifestar grande respeito. Reitores das Universidades Reis, imperadores Bispos e arcebispos Abades, superiores de conventos Sacerdotes em geral Papa Funcionarios püblicos graduados, oficiais ate coronel; na Hnguagem escrita do Brasil e na popular de Portugal, pessoas de cerimonia. Observacäo: i.* Como dissemos, estas formas aplicam-se ä 2.a pessoa, äquela com quern falamos; para a 3.a pessoa, aquela de quem falamos, usam-se as formas Sua Altera, Sua Etsmiucia, etc. Emprego dos pronomes de tratamento da 2.a pessoa. i. Tu e voce. No portugues europeu normal, o pronome tu e empre-gado como forma propria da intimidade. Usa-se de pais para filhos, de avös ou ttos para netos e sobrinhos, entre irmäos ou amigos, entre marido e mulher, entre colegas de faixa etaria igual ou proxima. O seu emprego tem-se alargado, nos Ultimos tempos, entre colegas de estudo ou da mesma profissäo, entre membros de um partido politico e ate, em certas familias, de filhos para pais, tendendo a ultrapassar os limites da intimidade pro-priamente dita, em consonäncia com uma intencäo igualitaria ou, simples-mente, aproximativa. No portugues do Brasil, o uso de tu restringe-se ao extremo Sul do Pais e a alguns pontos da regiäo Norte, ainda näo suficientemente delimi-tados. Em quase todo o territörio brasileiro, foi ele substituido por voce como forma de mtimidade. Voce tambem se emprega, fora do campo da intimidade, como tratamento de igual para igual ou de superior para inferior. _ este ultimo valor, de tratamento igualitario ou de superior para inferior (em idade, em classe social, em bierarquia), e apenas este, o que voce* possui no portugues normal europeu, onde sö excepcionalmente —e em certas camadas sociais altas — aparece usado como forma carinhosa de intimidade. No portugues de Portugal näo 6 ainda possivel, apesar de certo alar-gamento recente do seu emprego, usar voce* de inferior para superior, em idade, classe social ou bierarquia. 2. O senhor. 0 senior, a senhora (e a senborita, no Brasil, a menina, em Portugal, para a jovem solteira) säo, nas variantes europeia e americana do portugues, formas de respeito ou de cortesia e, como tais, se opöem a tu e voce, em Portugal, e a eoti, na maior parte do Brasil. Em Portugal, quando uma pessoa se dirige a algudm que possui titulo profissional ou exerce detetminado cargo, costuma fazer acompanhar as formas o senhor e a senhora da mencäo do respectivo titulo ou cargo: o senhor doutor o senhor capitäo Mais raramente, usa-se como tratamento o titulo näo precedido de senhor, senhora, o que 6 considerado menos respeitoso que a forma anterior: o doutor o engenheiro Neste caso, é mais frequente apor-se ao titulo o nome proprio (primeiro nome — o que implica certa proximidade — ou nome de família do inter-pelado): o doutor Orlando o engenheiro Silva No Brasil, estas formas de tratamento säo inusitadas. Alias, o emprego dos titulos especiücos, no tratamento ou fora dele, e sensivelmente maior em Portugal do que no Brasil, onde sö em casos especialissimos vem prece-didos de o senhor. Sistematicamente, sö se mencionam no Brasil, seguidos dos nomes pröprios: 212 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPO RÄNEO PRONOMES 213 a) a patente dos militares: O Tenente Bartoso O Major Fagundes b) os altos cargos e títulos nobiliárquicos: O Presidente Bernardes O Embaixador Ouro Preto O Principe D. Joäo A Condessa Pereira Carneiro t) o titulo Dom (escrito abreviadamente D.), para os membros da familia real ou imperial, para os nobres, para os monges beneditinos e para os dignitários da Igreja a partir dos bispos: D. Pedro D. Clemente D. Duarte D. Hélder Observe-se que, se Dom tem emprego restrito no idioma, tanto em Portugal como no Brasil, o feminino Dona (também abreviado em D.) se aplica, em principio, a senhoras de qualquer classe social. De uso bastante generalizado em Portugal e no Brasil é o titulo de Doutor. Recebem-no näo só os medicos e os que defenderam tese de dou-toramento, mas, indiscriminadamente, todos os diplomados por escolas superiores. Também o emprego de Professor é muito frequente tanto em Portugal como no Brasil. Mas, enquanto no Brasil se aplica ao docente de qualquer grau de ensino, em Portugal usa-se sobretudo para os docentes do ensino primário e do ensino superior. Observacäo: As formas vocé e o senior (a senbora) empregam-se normalmente nas funcöes de sujeito, de agente da passiva e de adjunto: — Vocfi amanhä näo vá as ceifas. (Aquilino Ribeiro, M, 354.) Estava desfeiteado, um portador dele fora maltratado pelo senhor. (Jose Lins do Rego, P} 59.) — Deixem-me ir com voces! (Luandino Vieira, NM, 78.) As formas voce (no Brasil) e o senior, a senbora (tanto cm Portugal como no Brasil) estendem-se também äs funcöes de objecto (directo ou indirecto), substituindo com frequéncia as correspondentes átonas o, a e lbe: ■— Devo a vocé e ao doutor Rodrigo. (Jorge Amado, MM, 229.) — Eu aprecio muito o senhor e era incapax de ofendé-lo volunta-riamente. (Rodrigo M. F. de Andrade, V, 124.) 3. Tratamento cerimonioso. As formas de tratamento. propriamente cerimonioso usam-se muito menos no Brasil do que em Portugal. t.°) Vossa Excelěncia (V. Ex.a). Embora o seu emprego, no por-tugués europeu, se tenha restringido bastante nas últimas décadas, e em particular nos Ultimos anos, ainda se usa a forma Vossa Excelincia, na lingua-gem oral, em determinados ambientes (por ex.: Academias, Corpo Diplo-mático) ou situacöes (empregado de comércio dirigindo-se a diente, telefonista dkigindo-se a quem solicita uma Iigacäo, etc.), sem que hajá qual-quer discriminaeäo nitida quanto ä categoria da pessoa interpelada. Pot vezeš aparece reduzida ä forma coloquial Vosséncia. Na linguagem eserita, sob a forma abreviada V. Ex.a, é largo o seu uso, prindpalmente na correspondéncia oficial e comerdal. No Brasil, só se emprega para o Presidente da República, rainistros, governadores dos Estados, senadotes, deputados e oficiais generais. E assim mesmo quase que exclusivamente na comunicaeäo eserita e protocolar. Em requerimentos, petícoes, etc., o seu uso costuma estender-se a presi-dentes de instituicöes, directores de servico e altas autoridades em geral. 2.0) Vossa Senhoria (V. S.a). É um tratamento praticamente inexistente na lingua falada de Portugal e do Brasil. Na língua eserita, emprega-se ainda em ambas as variedades idíomáticas —mas cada vez menos— em cartas comerdais, em requerimentos, em ofícios, etc., quando näo é proprio o tratamento de Vossa Excelincia. 3.0) As outras formas — Vossa Eminéncia, Vossa Magnificéncia, Vossa Santidade, etc. — säo protocolares e só se aplicam aos ocupantes dos cargos atrás indicados. 4. Outras formas de tratamento. Frequente no portugués de Portugal e muito raro no do Brasil, é o emprego de formas nominais antecedidas de artigo em vez das formas pronominais ou pronominalizadas de tratamento. Säo exemplos dessas formas nominais: a) o nome proprio, seja o de baptismo, seja o de familia: — O Manuel já leu este livro? ■—O Martins já leu este livro? 214 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES GONTEMPORANEO PRONOMES " 5 /;) os nomes de parentesco ou equivalentes: — O pai já leu este livro? —O menino já leu este livro? c) outros nomes que situam o interlocutor em relagäo ä pessoa que fala: — O meu amigo já leu este livro? — O paträo já leu este livro? Formulas de repreaenta$äo da i.a pessoa. No colóquio normal, emprega-se a genie por nás e, também, por en: Houve um momento entre nós Em que a gentc näo falou. (Fernando Pessoa, QGP, n.° 270.) — Voce näo calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens. Todos me olham como se quisessem devorar-me. (Ciro dos Anjos, DR, 41.) Como se vé dos exemplos ácima, o verbo deve ficar sempře na 3.a pessoa do singular. EMPREGO DOS PRONOMES OBLfQUOS Formas tónicas. Sabemos que as formas oblíquas tónicas dos pronomes pessoais vém acompanhadas de pteposi$äo. Como pronomes, säo sempře termos da oia-cäo e, de acordo com a preposicäo que as acompanhe, podem desempenhar as funcöes de: a) complemento nominal: Vou ver-me livre de ti... (Bernatdo Santareno, TPM, 24.) b) objecto indirecto: — Posso mandar incumbi-la de mostrar a ti os pontos pitorescos de Pkatininga. (Ciro dos Anjos, M, 302.) c) objecto directo (antecedido da preposicäo a e dependente, em geral, de verbos que exprimem sentimento): Paciente, obreira e dedicada, 6 a ela que em verdade eu amo. (Jose Rodrigues Migueis, GTC, 159.) d) agente da passiva: Os nossos amorcs näo seräo esquecidos nunca, — por mim, esta claro, e estou certo que nem por ti. (Machado de Assis, OC, I, 688.) e) adjunto adverbial: Eu ja te vejo amanhä a colher flores comigo pelos campos. (Fernando Pessoa, OP, 167.) Observacäo: Do cruzamento das duas constru$öes perfeitamente correctas: Isto näo e trabalho para eu fazer e Isto näo e trabalho para mim, surgiu uma terceira: Isto näo e trabalho para mim fazer, em que o sujeito do verbo no infiniüvo assurae a forma obliqua. A construcäo parece ser desconhecida em Portugal, mas no Brasil ela estä muito generalizada na lingua familiär, apesar do sistemaüco combate que lhe movem os gramiticos e os professores do idioma. Emprego enfatico do pronome obliquo tönico. Para se ressaltar o objecto (directo ou indirecto), usa-se, acompanhando um pronome atono, a sua forma tönica regida da preposicäo a: Eie näo via nada, via-se a si mesmo. (Machado de Assis, OC, I, 431.) O Abravezes dava-lhe razäo a ela, em principio... (Urbano Tavares Rodrigues, PC, 20z.) Pronomes precedidos de preposicäo. As formas obliquas tönicas mint, ti, ele (ela), nos, vös, cles (elas) sö se BREVE GRA.MÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO usam antecedidas de preposicäo. Assim: Fez isto para mim. Gosto de ti. A ele cabe decidir. Orai por nös. Confiamos em vös. Näo ha discotdincia entre elas. Se o pronome obliquo for precedido da preposicäo com, dir-se-ä comigo, contigo, conosco e convosco. E regulär, no entanto, a construcäo com ele (com ela, com eles, com elas) : Esrive com ele agora mesmo. Fui com elas visitar o irmäo. Normal e tarnbem o emprego de com nös e com vös quando os pronomes vem reforcados por outros, mesmos, proprios, totlos, ambos ou qualquer numeral: Terä de resolver com nös mesmos. Estava com vös outros. Saiu com nös tres. Contava com todos vös. ObservacSes: i.a Empregam-se as formas eu e tu depois das preposigöes acidentais afora, fora, excepto, menos, salvo e tirante: Afinal, todos excepto eu, sabem o que sou... (Ciro dos Anjos, DR, 43.) zfi A tradicäo gramatical aconselha o emprego das formas obliquas tönicas depois da preposicäo entre. Exemplo: Que difercnca hä entre mim e um fidalgo qualquer? (Sttau Monteiro, FL,, 29.) Na linguagem coloquial predomina, por&n, a construcäo com as formas rectas, construgäo que se vai insinuando na linguagem literaria: Entre eu e tu, Täo profundo e o contrato. Que näo podc haver disputa. (Jos6 Regio, ED, 91.) Entre eu e minha mäe existe o mar. (Ribciro Couto, PK, 365.) PRONOMES zij 3.» Com a preposicäo ate usam-se as formas obliquas mim, ti, etc.. Curvam-se, agarram a rede, erguem-na at£ si. (Raul Brandäo, P, 154.) Se, porem, ate denota inclusäo, e equivale a mesmo, tarnbem, inclusive, constroi-se com a forma recta do pronome: Pois e de pasmar, mas & verdade. E at6 eu ja üve hoje quem me ofe-recesse champanhe. (Jose- Regio, SM, i$6.) Formas atonas. 1. Säo formas pröprias do objecto directo: 0, a, os, as: Ele olhou-a, espantado. (Ferreira de Castro, OC, I, 481.) Angela dominava-08 a todos, vencia-os. (Raul Pomp&a, A, 222.) 2. Säo formas pröprias do objecto indirecto : Ihe, Ibes: Soube inspirar-lhes confianca. (Bernardo Santareno, TPM, 84.) 3. Podem empregar-se como objecto directo ou indirecto: me, te, nos e vos. a) objecto directo: Queres ouvir-me um instante, sensatamente? (Urbano Tavares Rodrigues, PC, 153.) b) objecto indirecto: — Ninguem te vai agradecer. (Aives Redol, BSL, 355.) O pronome obliquo ätono sujeito de um infinitivo. Se compararmos as duas frases: Mandei que ele salsse. Mandei-o sair. BREVE GRAMATICA DO PÖRTUGUES CONTEMPORANEO verificamos que o objecto directo, exigido pela forma verbal mandei, 6 espresso: a) na primeira, pela oraeäo que ele satsse; b) na segunda, pelo pronome seguido do infinitivo: o sair. E verificamos, também, que o pronome o está para o infinitivo sair como o pronome ele para a forma finita satsse, da qual é sujeito. Logo, na frase acima o pronome o desempenha a funcäo de sujeito do verbo sair. Construcöes semelhantes admitem os pronomes me, te, nos, vos (e o reflexivo se, que estudaremos ä parte), Exemplos: Deixc-me falar. Mandam-te entrar. Fez-noa sentar. Emprego enfático do pronome obliquo átono. 1. Para dar realce ao objecto directo, costuma-se colocá-lo no início da frase e, depois, repeti-lo com a forma pronominal o (a, os, as), como nes-tes passos: — Verdades, quem é que as quer? (Fernando Pessoa, OP, 550.) Note-se que, se o objecto directo for constituído de substantivos de géneros diferentes, o pronome que os resume deve ir para o masculino plural — öjv Se Paulo desejava mesmo eseändalo e agitaeäo, teve-os ä vontade. (Mario Palmério, VC, 307.) 2. Também o pronome lie (Ihes) pode reiterar o objecto indirecto colocado no início da frase. Comparem-se os conhecidos provérbios: Ao médico e ao abade, diga-lhes sempře a verdade. O pronome de interesse. Nesta frase: Olhcm-me para ela: é o espelho das donas de casa! (Aquilino Ribeiró, M, 101.) o pronome tue näo desempenha funcäo sintáctica alguma. É apenas um pronomes recurso expressivo de que se serve a pessoa que fala para mostrar que está vivamente interessada no cumprimento da ordern emitida ou da exortaeäo feita. Este pronome de Interesse, também conhecido por dattvo ético ou de PROVEiTO, é de uso frequente na linguagem coloquial, mas näo taro aparece na pena de escritores. Pronome átono com valor possessivo. Os pronomes átonos que funcionam como objecto indirecto (me, te, lbe, nos, vos, Ihes) podem ser usados com sentido possessivo, principalmente quando se aplicam a partes do corpo de uma pessoa ou a objecto» de seu uso particular: Escutaste-lne a voz? Viste-lhe o rosto? (Fagundes Varela, PC, LT, 272.) Valores e empregos do pronome se. O pronome se emprega-se como: a) objecto directo (emprego mais comum): Ao sentir aquela robustez nos bracos, meu pai tranquilizou-se e tran-quilizou-o. (Gilberto Amado, HMI, 114.) b) objecto indirecto: Sofia dera-se pressa em tomar-lhe o braco. (Machado de Assis, OC, I, 656.) emprego menos raro quando exprime a reciprocidade da accäo: Os nossos olhos muito perto, imensos No desespero desse abracp mudo, Confessaram-se tudol (Jose Regio, PDD, 83.) c) sujErro de um infinitivo : Moura Teles deixou-se conduzir passivamente. (Joaquim Paco d'Atcos, CVL, 607.) z zo BR.EVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO PRONOMES z2i d) pronome apassivador: Fez-se novo siléncio. (Coelho Netto, OS, I, 97-) e) simdolo de indeterminacäo do sujeito (junto ä 3.° pessoa do singular de verbos intransitivos, ou de transitivos tornados intransitivamente): Vive-se ao ar livre, come-se a'o ar livre, dorme-se ao ar livre. (Raul Brandäo, P, 165.) f) pALAVRA expletiva (para realgar, com verbos intransitivos, a espontancidade de uma atitude ou de um movimento do sujeito): ... Vao-se as situagöes, e eles com elas. (Adelino Magalhäes, OC, 798.) g) parte integrante de certos verbos que geralmente exprimem sentimente, ou mudanga de estado: admirar-se, arrepender-se, atrever-se, indig-nar-se, queixar-se; congelar-se, derreter-se, etc.: — Atreva-se. Atreva-se, e vera. (Miguel Torga, NCM, 48.) Observagöes: 1. a No portugués contemporáneo só se usa a passiva pronominal quando näo vem expresso o agente. 2. a Em frases do tipo: Vendem-se casas. Compram-se móveis. consideram-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e eompram, razäo por que na linguagem cuidada se evita deixar o verbo no singular. Combinacöes e contraccöes dos pronomes átonos. Quando numa mesma oragäo ocorrem dois pronomes átonos, um objecto directo e outro indirecto, podem combinar-se, observadas as seguin-tcs regras: i.a) Me, te, nos, vos, lbe e Ihes (formas de objecto indirecto) juntam-se a 0, a, os, as (de objecto directo), dando: mo — me + 0 ma = me -f a mos = me 4- os mas = mc -i- as to => te + 0 ta = te + a tos = te + os tas = te + as lho = lhe + 0 1ha = lhe -f a lhos = lhe + os lhas = lhc + as no-lo = nos + [l]o no-la = nos + [l]a no-los = nos + [ljos no-las = nos + [l]as vo-lo = vos + [ljo vo-la = vos + [l]a vo-los = vos 4- [ljos vo-las = vos +■ (ijas lho ■ — Ihes + 0 1ha = Ihes + a lhos = Ihes + os lhas = Ihes + as 2. °) O pronome se' associa-se a me, te, nos, vos, lhe e Ihes (e nunca a 0, a, os, as). Na escrita, as duas formas conservam a sua autonómia, quando antepostas ao verbo, e liganvse por rufen, quando lhe vém pospostas: O coragäo se me confrange... (Olegário Mariano, TVP, I, zi6.) A aventura gorou-se-lhe aos primeiros passos. (Carlos de Oliveira, AC, 155.) 3. *) As formas me, te, nos e vos, quando funcionam como objecto directo, ou quando säo parte integrante dos chamados verbos pronorninais, näo admitem a posposigäo de outra forma pronominal átona. O objecto indirecto assume em tais casos a forma tónica preposicionada: — Como me hei-de livrar de ti? (Jose Regio, JA, 8j.) Obser vagöeB: 1. a As combinagöes lho, Iba (equivalentes a Ihes + 0, Ihes + a) e lhos, lhas (equivalentes a Ihes + os, Ihes + as) encontraro. sua explicagäo no facto de, na lingua antiga, a forma lhe (sem -s) ser empregada tanto para o singular como para o plural. Originariamente, eram, pois, contracgöes em tudo normais. 2. a No Brasil, quase näo se usam as combinagöes mo, to, Ibo, no-lo, vo-lo, etc. Da lingua corrente estäo de todo banidas e, mesmo na linguagem literária, só aparecem geralmente em escritores um tanto artificiais. Colocacäo dos pronomes ätonos. i. Em relagäo ao verbo, o pronome átono pode estar: a) enclítico, isto é, depois dele: Calei-me. b) proclítico, isto é, antes dele: Eu me calei. 222 BREVE GRAmXtICA DO PORTUGUES contemporäne0 PRONOMES 223 c) MEsocLÍnco, ou seja, no meio dele, colocacäo que só é possível com formas do futuro do presents ou do futüro do pretérito: Calar-me-ei. CaJar-me-ia. 2. Sendo o pronome átono objecto dirert-n ou indirecto do verbo, a sua posicäo logica, normal, é a énclise: Na segunda-feira, ao ir ao Morenal, parecera-lhe sentir pelas costas risinhos a escarnecé-la. (Eca de Queirós, O, I, 124.) Há, porém, casos em que, na lingua culta, se evita ou se pode evitar essa colocacäo, sendo por vezeš divergentes neste aspecto a norma portu-guesa e a brasileira. Procuraremos, assim, distinguir os casos de próclise que representam a norma geral do idioma dos que säo optativos e, ambos, daqueles em que se observa uma divergéncia de normas entre as variantes europeia e americana da lingua. RegraB gerais: i. Com um só verbo. r.°) Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, dá-se täo somente a próclise ou a mesóclise do pronome: Eu me calarei. Calar-me-ei. Eu me calaria. Calar-me-ia. z.°) É, ainda, preferida a próclise: a) Nas oracöes que contém uma palavra negativa {näo, ntmca, jamais, ningiiém, nadá, etc.) quando entre ela e o verbo näo há pausa: —'Näo lhes dizia eu? (Mario de Sá-Carneiro, CF, 348.) Nunca o vi täo sereno e obstinado. (Ciro dos Anjos, M, 316). b) nas oracöes iniciadas com pronomes e advérbios interrogativos: Quem mc busca a esta hora tardia? (Manuel Bandeira. PP, I, 406.) ' Como a julgariam os pais se conhecessem a vida dela? (Urbano Tavares Rodiigues, NR, 23.) e) nas oracöes iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas oracöes que exprimem desejo (optativas): — Que Deus o abencoe! (Bernardo Santareno, TPM, 18.) — Bons olhos o vejam! exclamou. (Machado de Assis, OC, I, 483.) d) . nas oracöes subordinadas desenvolvidas, ainda quando a conjun-cäo esteja oculta: — Prefiro que me desdcnhem, que me torturem, a que me deixem só. (Urbano Tavares Rodrigues, NR., 115.) — Que é que desejas te mande do Rio? (Afránio Peixoto, RC, 174.) e) com o gerúndio řegido da preposicäo em: Em se ela anuviando, em a näo vendo, Já se me a luz de tudo anuviava. (Joäo de Deus, CF, 205.) 3.0) Näo se dá a ěnclise nem a próclise com os particípios. Quando o parti cípio vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempře a forma oblíqua regida i'e preposigao. Exemplo: Dada a mim a explicacäo, saiu. 4.0) Com os infinittvos soltos, mesmo quando modificados por nega-gäo, é lícita a próclise ou a énclise, embora hajá acentuada tendéncia para esta ultima colocacäo pronominal: Caata-me cantigas para me embalar! (Guerra Junqueiro, S, 118.) Para itío fitá-lo, deixei cair os olhos. (Machado de Assis, OC, I, 807.) Para assustá-lo, os soldados atiravam a esmo. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 82.) A énclise é mesmo de rigor quando o pronome tern a forma 0 (prin- 224 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES c0ntemp0rane0 PRONOMES "5 cipalmente no feminino a) e o infinitivo vem regido da preposicäo a: Se soubesse, näo continuaria a lé-lo. (Rui Barbosa, EDS, 743.) Logo os outros, Camponeses e Operários, comecam a imitá-ia. (Bernardo Santareno, TPM, 120.) 5.0) Pode-se dizer que, alem dos casos examinados, a lingua portu-guesa tende ä próclise pronominal: a) quando o verbo vem antecedido de certos advérbios (bem, mal, ainda, já, sempře, s6, talve^, etc.) ou expressöes adverbiais, e näo há pausa que os separe: Ao despertar, ainda as encontro lá, sempře se mexendo e diseutindo. (Aníbal M. Machado, C], 174.) Nas pernas me flava eu. (Aquilino Ribeito, M, 88.) b) quando a oraeäo, disposta em ordern inversa, se inicia por objecto directo ou predicativo: — A grande notícia te dou agora. (Fernando Namora, NM, 162.) Razoável lhe parecia a solugáo proposta. c) quando o sujeito da oragäo, anteposto ao verbo, contém o numeral ambos ou algum dos pronomes indefinidos (todo, tudo, algmm, outro, qual-quer, etc.): Ambos se sentiam humildes e embaragados. (Fernando Namora, TJ, 293.) Alguém lhe bate nas costas. (Aníbal M. Machado, JT, 208.) d) nas oracöes alternativas: — Das duas uma: ou as faz ela ou as faco eu. (Sttau Monteiro, APJ, 39.) 6.°) Observe-se por íim que, sempře que houver pausa entre um ele- mento capaz de provocar a próclise e o verbo, pode ocorrer a énclise: Pouco depois, detiveram-se de novo. (Ferreira de Castro, OC, I, 403.) 2. Com uxna locueäo verbal. i. Nas IiOCucöes verbais em que o verbo principal estä no tnfini-rrvo ou no gerundio pode dar-se: Sempre a enclisb ao infinitivo ou ao gerundio: So queto preveni-lo contra as exageracöes do Prologo. (Antero de Quental, C, 314.) Nös lamos seguindo; e, em torno, imensa, Ia desenrolando-se a paisagem, (Raimuado Correia, PCP, 304.) 2.0) A proclise ao verbo auxiliar, quando ocorrem as condicöes exi-gidas para a anteposicäo do pronome a um sö verbo, isto e: a) quando a locueäo verbal vem precedida de palavra negativa, e entre elas näo ha pausa: Rita & minha irmä, näo me ficaria querendo mal e acabaria rindo tamböm. (Machado de Assis, OC, I, 1.051.) —■ Ninguem o havia de dizer. (Aquilino Ribeiro, M, 68.) b) nas oracöes iniciadas por pronomes ou adverbios interrogativos: — Que mal me havia de fazer? (Miguel Torga, NCM, 47.) Como te hei de receber em dia täo posterior? (Cecilia Meireles, OP, 406.) c) nas oracöes iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas oracöes que exprimem desejo (optativas): Como se vinha trabalbsndo mal! Deus nos ha de protegerl 226 B REVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO PRONOMES 227 d) nas oracôes subordinadas desenvolvidas, mesmo quando a con-juncäo está oculta: Ao cabo de cinco dias, mioha mäe amanheceu täo transtornada que orde-nou me mandassem buscar ao seminário. (Machado de Assis, OC, I, 800.) 3.0) A énclise ao verbo auxiliar, quando näo se verificam essas con-dicôes que aconselham a próclise: Väo-me buscar, sem mastros e sem velas, Noiva-menina, as doidas caravelas, Ao ignoto País da minha infäncia... (Florbela Espanca, S, 179.) A cidade ia-se perdendo á medida que o veleiro rumava para Säo Pedro. (Baltasar Lopes da Silva, C, 207.) 2. Quando o verbo principál está no partícipio, o pronome átono näo pode vir depois dele. Viiá, entäo, proclítico ou énclítico ao verbo auxiliar, de acordo com as normas expostas para os verbos na forma simples: — Tenho-o trazido sempre, só hojc é que o viste? (Maria Judite de Carvalho, TM, 152.) — Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe serä perdoado. (Machado de Assis, OC, I, 645.) Que se teria passado? (Coelho Netto, OS, I, 1412.) Queria mesmo dali adivinhar o que se tinha passado na noite da sua ausén- cia. (Alves Redol, F, 195.) Observacäo: A colocacäo dos pronomes átonos no colóquio normal do Brasil, tende ä próclise. Parece suceder o mesmo no portugués falado em África. Esta colocacäo é, assim, possível: a) no início de frases: — Me dcsculpe se falei demais. (Erico Veríssimo, A, 11, 487.) Me arrepio todo... (Luandino Vieira, NM, 138.) b) nas oracôes absolutas, principais e coordenadas näo iniciadas por palavra que exija ou aconselhe tal colocacäo: — Se Vossa Reverendíssima me permite, eu me sento na rede. (Josué Montello, TSL, 176.) ■— A sua prima Júlia, do Golungo, lhe mandou um cacho de bananas. (Luandino Vieira, NM, 54.) f) nas locucôes verbais antes do verbo principál: Será que o pai näo ia se dar ao respeito? (Autran Dourado, SA, 68.) — Näo, näo sabes e näo posso te dizer mais, já näo me ouves. (Luandino Vieira, NM, 46.) PRONOMES POSSESSIVOS Os pronomes POSSESsrvos äcrescentam ä nocäo de pessoa gramarical uma ideia de posse. Säo, de regra, pronomes adjectivos, equivalentes a um adjunto adnominal antecedido da preposicäo de (de mim, de ti, de nós, de vôs, de si), mas podem empregar-se como pronomes substantivos: Meu livro é este. Este livro é o meu. Sempre com suas históriasl Fazer das suas. Formas dos pronomes possessivos. Os pronomes possessivos aprescntam trés serieš de formas, corres-pondentes ä pessoa a que se referem. Em cada série, estas formas variam de acordo com o género e o numero da coisa possuída e com o numero de pessoas representadas no possuidot. breve gramätica do portugues contemporäneo Um possuidor Vários possuidotes Um Vários Um Vários' objecto objectos objecto objectos ' masc. meu meus nosso nossos i.a pessoa fem. minha minhas nossa nossas z.a pessoa ' masc. teu teus vosso vossos fern. tua tuas vossa vossas 1 masc. scu seus seu seus 3.a pessoa fem. sua suas sua suas Concordáncia do pronome possessive 1. O pronome possESsrvo coticorda em género e numero com o subs-tantivo que designa o objecto possuído; e em pessoa, com o possuidor do objecto em causa: Suas mudancas súbitas, seu jeito provocante, sua mimica muito femi-nina me fazem lembrar a Jandira mulher, que tantas vezes desaparece a meus olhos, em nossas conversances. (Gro dos Anjos, DK, r 24.) 2. Quando um só possessivo determina mais de um substantivo, con-corda com 0 que Ihe esteja mais proximo: E o meu corpo, minh'alma e coracäo, Tudo em risos poisci em tua mäo... (Florbela Espanca, S, 177.) Posicäo do pronome adjectivo possessivo. O pronome adjectivo possessivo precede normalmente 0 substantivo que determina, como nos mostram os exemplos até aqui citados. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo: quando este vem desacompanhado do artigo definido: Esperava noticias tuas para dc novo te escrever. (Antonio Nobre, CI, 09.) pronomes 2.0) quando o substantivo ja estä deterrninado (pelo artigo indefinido ou por numeral, por pronome demonstrativo ou por pronome mdefinido): Recebi, no Rio, no dia da posse no Instituto, um teiegtama seu, de felicitaeöes... (Euclides da Cunha, OC, II, 639.) Note este erro seu: näo ha" em mim (que eu seja consciente) o menor espirito de renuncia ou de esquecimento de mim proprio. (Jackson de Figueiredo, C, 177.) Como tu foste infiel A certas ideias minhas! (Fernando Pessoa, QGP, 83.) 3.0) nas interrogates directas: Onde estais, cuidados meus? (Manuel Bandeira, PP, 23.) 4.0) quando hä enfase: — Tu näo lustras as unhas! tu trabalhasl tu es digna filha minha I pobre, mas honesta I (Machado de Assis, OC, I, 672.) Etnprego ambiguo do possessivo de 3.» pessoa. As formas seu, sua, seus, suas aplicam-se indiferentemente ao possuidor da 3.11 pessoa do singular ou da 3.a do plural, seja este possuidor masculino ou feminino. O facto de o possessivo concordar unicamente com o substantivo deno-tador do objecto possuido provoca, näo raro, dtivida a respeito do possuidor. Para evitar qualquer ambiguidade, o portugues nos oferece o recurso de precisar a pessoa do possuidor com a substituicäo de seu(s), sua(s), pelas formas dele(s), deia(s), de voce, do senhor e outras expressöes de tratamento. Por exemplo, a frase: Estando com Julia, Pedro fez comentärios sobre os seus exames. tem um enunciado equivoco: os comentärios de Pedro podem ter sido fei-tos sobre os exames de Julia; ou sobre os exames dele, Pedro; ou, ainda, sobre os exames de ambos. 2}0 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO PRONOMES Assim sendo, o locutor devetá expressar-se, coriforme a sua intencäo: Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames dela. Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames dele. Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames deles. Reforco dos possessivos. O valor possessivo destes pronomes nem sempře é suncientemente forte. Quando há necessidade de realcar a ideia de posse —quer visando ä clareza, quer ä ěnfase—, costuma-se reforgá-los: a) com a palavra proprio ou mesmo: Mais uhidos sigamos e näo tarda Que eu ache a vida em tua propria morte. (Guimaräes Passos, VS, 46.) Era ela mesma; er am os seus mesmos bracks. (Machado de Assis, OC, IT, 484.) b) com as expressôes dele(s), dela(s), no caso do possessivo da 3.» pessoa: Montaigne explica peio seu modo dele a variedade deste livro. (Machado de Assis, OC, II, 556.) Valores dos possessivos. O pronome POSSESsrvo näo exprime sempre urna relacäo de posse ou pertiněncia, real ou figurada, Na lingua moderna, tem ele assumido múlti-plos valores, por vezeš bem distanciados daquele sentido originário. Mencione-se o seu emprego: a) como mdefinido: Tinha tido o seu orgulho, a sua calma, a sua certcza. (Miguel Torga, V, 216.) b) para indicar aproximacäo numčrica: Enttou uma mulherzinha de seus quarenta anos, decidida e de passo firmc. (Fernando Sabino, HN, 164.) c) para designar um hábito: Neste instante, a Juditě voltou-se e, abandonando as companheiras, veio desfazer o cumprimento com um repedte dos seus. (Almada Negreiros, NG, 110.) Sente-se em todos esses empregos do possessivo uma čerta carga afec-tiva, raais acentuada nos que passamos agora a examinar. Valores afectivos. x. Variados säo os matizes afectivos expxessos pelos possesstvos. Servern, por vezeš, para acentuar um sentimento: a) de deferéncia, de respeito, de polidez: — Morrer, meu Arno, só uma vezl (Antonio Nobre, S, 106.), b) de intimidade, de amizade: — Dispöe de mim, meu velho, estou ás suas ordens, bem sabes. (Artur Azevedo, CEM, 6.) f) de simpatia, de Interesse (com referenda a personagem de uma narrativa, a autor de leitura frequente, a clubes ou associagöes de que seja socio ou aficionado, etc.): Ora bem, deixa-me transcrever o meu Saint-Exupery. (Fernando Namotá, KT, 190.) Onde está o meu Tenentes do Diabo? (Jose Lins do Rego, E, 282.) d) de ironia, de malída, de satcasmo: Todos aqueles santos varöes corniam, bebiam o seu vinno do Porto na copa. (Ega de Queirós, 0, II, 17.) Observe-se que, nos dois Ultimos casos, o possessivo vem normalmente acompanhado do artigo definido. z. De acentuado carácter afectivo é também a construcäo em que uma forma feminina plural do pronome completa a expressäo Javier (ou di%er) BREVE GRAmAtiCA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO PRONOMES uma das = praticar uma accäo ou dizer algo particular, geralmente passivel de critica: Com aquele génio esquentado é capaz de fazer uma das dele. (Castro Soromenho, TM, 175.) Nosso de modéstia e de maj es tade. Paralelamente ao emprego do pronome pessoal nás por eu nas formulas de modéstia e de majestade que estudámos, aparece o do possessivo nosso (-a) por men (minba). Comparem-se estes exemplos; d) de modéstia: Este livro nada mais pretende ser do que um pequeno ertsaio. Foi nosso escopo encontrar apoio na história do Brasil, na formacäo e crescimento da sociedade brasileira, para colocar a lingua no seu verdadeiro lugar: expres-säo da sociedade, ioseparável da história da civilizacäo. (Serafim da Silva Neto, IELPB, ri.) b) de majestade: Mandamos que os ciganos, assi homeňs como mulheres, nem outras pessoas, de qualquer nagäo que sejam, que com eles andarem, näo entrem em nossos Reinos e Senhorios. (Ordenacôes Filipinas, Uvro V, titulo 69.) Vosso de cerimónia. O uso do pronome pessoal vós como tratamento cerimonioso aplicado a um indivlduo ou a um auditório qualificado leva, naturalmente, a igual emprego do possessivo vosso (-a). Exemplos: Nunca vosso avô, meu senhor e marido, achou que me näo fosse possi-vel compreender o árdmo dum grande portugués. (José Régio, BBS, 69.) Levareis, Senhores Delegados, aos vossos Governos, á vossa Patria, estas declarapôes que säo a expressäo síncera dos sentimentos do Governo e do Povo Brasileiro. (Baräo do Rio-Branco, D, 98.) Substantivacäo dos poesessivos. Os possessivos, quando substantivados, designam: a) no singular, o que pertence a uma pessoa: A rapariga näo tihha um minuto de seu. (Alberto Rangel, IV, 61.) b) no plural, os parentes de alguem, seus companheiros, compatriotas ou correligionarios: Näo me podia a Sorte dar guarida Por näo ser eu dos seus. (Fernando Pessoa, OP, 12.) PRONOMES DEMONSTRATTVOS 1. Os pronomes demonstrattvos situam a pessoa ou a coisa designada relativamente as pessoas gramaticais. Po dem situa-la no espaco ou no tempo: Lia coisas incrfveis para aquelc lugar e aquele tempo. (Ciro dos Anjos, DR, 105.) A capacidade de mostrar um objecto sem nomea-Io, a cbamada fun-cäo deictica (do grego deiktihos = proprio para demonstrar, demonstra-tivo), e a que caracteriza fundamentalmente esta classe de pronomes. 2. Mas os demonstratives empregam-se tambem para lembrar ao ouvinte ou ao leitor o que ja foi mencionado ou o que se vai mencionar: A ternura näo embarga a discrigäo nem esta diminui aquela. (Machado de Assis, OC, I, 1.124). O mal foi este: criar os filhos como dois principes. (Miguel Torga, V, 309.) E a sua funcao anaförica (do grego anaphorikos — que faz lembrar, aue traz ä memoria). Formas dos pronomes demonstrativos. i. Os pronomes demonstrattvos apresentam formas variäveis e formas invariaveis, ou neutras: *34 BREVE GF.AMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO PRONOMES *3S Variáveis Invatiáveis Masculino Femirrino este estes esta es tas isto esse esses essa essas isso aquele aqueles aquela aquelas aquilo z. As formas variáveis {este, esse, aquele, etc.) podem funcionar como pronomes adjectivos e como pronomes substantivos: Este livro é meu. Meu livro é este. 3. As formas ínvariáveis (isto, isso, aquilo) säo sempře pronomes substantivos. 4. Estes demonstrativos combinam-se com as preposicöes de e em, tomando as formas: děste, desta, disto; neste, nesta, nisto; desse, dessa, disso; nesse, nessa, nisso; daqmle, daquela, daquilo; »aquele, naquela, naquilo. Aquele, aquela e aquilo contraem-se ainda com a preposigäo a, dando: aquele, aquela e äquilo. 5. Podem também set demonstrativ os 0 (a, os, as), mesmo, proprio, semelhante e tal, como veremos adiante. Valores gerais. Considerando-os nas suas relacöes com as pessoas do discurso, podemos estabelecer as seguintes caracteristicas gerais para os pronomes demons-trativos: i.°) Este, esta e isto indicam: a) o que está petto da pessoa que fala: Esta casa estará cheia de fiores! Cá te espero amanhäl Näo te demoresl (Eugénio de Castro, UV, 59.) b) o tempo presente em relacäo ä pessoa que fala: Esta tatde para mim tem uma docura nova. (Ribeiro Couto, PR, 83.) 2.0) Esse, essa e isso designam: a) o que está perto da pessoa a quern se fala: Essas tuas furias avulso, esse teu calor, esse riso, essa amizade mesmo nos ódios que tinhas, procuro-lhes em väo só, que os teus olhos estäo fecha-dos para sempre. (Luandino Vieira, NM, 30.) b) o tempo passado ou futuro com relacäo a época em que se coloca a pessoa que fala: Bons tempos, Manuel, esses que já lá väo! (Antonio Nobre, S, 51.) Desses longes imaginados, dessas expectativas de sonho, passava ele ao examc da situacäo da Europa em geral e da Alemanha cm particular, (Gilberto Amado, DP, 9z.) 3.0) Aquele, aquela e aquilo denotam: a) o que está afastado tanto da pessoa que fala como da pessoa a quern se fala: — Aquele sujeito mora ali há muito tempo? Voce deve saber... — Que sujeito? — Aquele que está escrevendo acolá, no jardim da casa de pensäo, — näo vé? (Artur Azevedo, CFM, 90.) V) um afastamento no tempo de modo vago, ou uma época remota: —■ Naquele tempo era uma boa casa de banho. — Naquele tempo, filho... Ora, naquele tempo! (Maria Juditě de Carvalho, TM, 41.) Diversidade de emprego. Estas distincöes que nos oferece o sistema ternário dos demonstrativos em portugués näo säo, porém, rigorosamente obedecidas na prática. Com frequéncia, na linguagem animada, nos transportamos pelo pen-samento a regičes ou a épocas distantes, a fira de nos referirmos a pessoas ou a objectos que nos interessam particularmente como se estivéssemos em 236 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO PRONOMES 237 sua presenga. Linguisticamente, esta aproximacäo mental traduz-se pelo emprego do pronome este (esta, isto) onde seria de esperar esse ou aquele. Sirva de exemplo esta fräse de um personagem do romance Fogo Morto, de Jose Lins do Rego, em que o adverbio lä se aplica ä sua casa, da qual no momento estava ausente: — Eu so quexia estar Ii para receber estes cachorros a chicote. (FM, 296.) Ao contrario, uma atitude de desinteresse ou de desagrado para com algo que esteja perto de nös pode levar-nos a expressar tal sentimento pelo uso do demonstrativo esse em lugar de este, como no seguinte passo: Tudo e licito aqui nessa Sumatra. (Jorge de Lima, OC, I, 681.) Outros empregos. 1. Este (esta, isto) é a forma de que nos servimos para chamar a aten-cäo sobre aquilo que dissemos ou que vamos dizer: ~ Justamente, traz uma comunicagäo reservada, reservadissima; negó-cios pcssoais. Dá licenca? Dizendo isto, Rubiäo meteu a carta no bolso; o medico saiu; ele respirou. (Machado de Assis, OC, I, 564.) Minha tristeza é esta — A das coisas reals. (Fernando Pessoa, OP, 100.) 2. Para aludirmos ao que por nós foi antes mencionado, costumamos usar também o demonstrativo esse (essa, isso): Näo havia que pedir de fiado nas lojas; a lareira teria sempre lume. Nisso, ao menos, o Agostinho Serra abria bem as máos. (Alves Redol, G, 94.) 3. Esse (essa, isso) é a forma que empregamos quando nos referimos ao que foi dito por nosso interlocutor: — Voce, perdcndo a noite, é eapaz de näo dormir de dia? ■—Já tenho feito isso. (Machado de Assis, OC, II, 586.) 4. Tradicionalmente, usa-se nisto no sentido de «entäo», «nesse momento» : Nisto, ouvimos vozes e passos. (Augusto Abelaira, TM, 112.) 5. Em certas expressöes o uso fixou determinada forma do demonstrativo, nem sempre de acordo com o seu sentido básico. É o caso das locu-goes: além disso, isto é, isto de, por isso (raramente por isto), nem por isso. Posicäo do pronome adjectivo demonstrativo. 1. O demonstrativo, quando pronome adjectivo, precede nor-malmente o substantivo que determina: Estes homens e estas muiheres nasceram para trabalhar. (José Saramago, LC, 327.) 2. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo para melhor espe-cificar o que se disse anteriormente: Por outro lado, Siá Bina era ainda comadre de Nhô Felicio, pois baptizara um filho dele, há poucos anos, filho esse do segundo casamento. (Ribeiro Couto, C, 145.) 3. Usa-se para determinar o aposto, geralmente quando este salienta uma característica marcante da pessoa ou do objecto: Arlequim é o D. Quixote, esse livro aclmirável onde se experimentam ao ar livre, de dia e de noite, e através de todas as eventualidades os preceitos da Honra e das outras teorias. (Almada Negreiros, OC, III, 90.) 4. Esse (e mais raramente este) emprega-se também para pór em relevo um substantivo que Ihe venha anteposto: O padre, esse andava de coracäo em aleluia. (Miguel Torga, CM, 47.) Alusäo a termos precedentes. Quando queremos aludjr, discrirninadamente, a termos já mencio- BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO pronomes nados, scrvimo-nos do demonstrativo aquek para o referido em primeiro lugar, e do demonstrativo este para o que foi nomeado por ultimo: A ternura näo embarga a discrigäo nem esta diminui aquela. (Machado de Assis, OC, I, 1.124.) Rcforco dos demonstrativos. Quando, por motivo de clare2a ou de énfase, queremos precisar a situa-cäo das pessoas ou das coisas a que nos referimos, usamos acompanhar o demonstrativo de algum gesto indicador, ou reforcá-lo: a) com os advérbios aqui, aí, ali, cá, lá, acolá: — Espera ai. Este aqui já pagou. Agora voces é que väo engolir tudo, se maltratarem este rapaz. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 33.) b) com as palavras mesmo e proprio: ■—O Relógio da Sč em casa de Serralheiro? — Esse mesmo. — O da Matriz? — Esse proprio. (D. Francisco Manuel de Melo, AD, 16.) Valores afectivos. 1. Os demonstrativos reúnem 0 sentido de actualizacäo ao de deter-minacäo. Säo verdadeiros «gestos verbais», acompanhados em geral de entoa-cäo particular e, näo raro, de gestos fisicos. A capacidade de fazerem aproximar ou distanciar no espaco e no tempo as pessoas e as coisas a que se referem permite a estes pronomes expressarem variados matizes ifectivos, em especial os irónicos. 2. Nos exemplos ä seguir, servem para intensificar, de acordo com a entoacäo e o contexto, os sentimentos de: a) surpresa, espanto: Passam vintc anos: chega Ele; Vfiem-se (Pásmo) Ele e Ela: ■—Santo Dcusl este é aquele?!... ■—Mas, mcu Deusl esta é aquela?!... (Fontoura Xavier, 0, 172.) b) admiracäo, apreco: Aquilo é que säo homens fortes. (Ferreira de Castro, OC, I, 1J4.) c) indignagäo: — É tudo claro como água: este cäo roubou-me. Acabo ainda hoje com este malandrol Isto näo fica assim. (Fernando Namora, NM, 193.) d) pena, comiseracäo: Coitada de D. Ritinhal Aquilo é que é mesmo uma šanta. (Gastäo Cruls, QR, 442.) e) irónia, malícia: —^Este Brásl Este BrásI Näo lhes digo nadal (A. de Alcantara Machado, NP, 57.) f) sarcasmo, desprezo: ■—Depois transformaram a senhora nisso, D. Adélia. Um ttapo, urna velha sem-vergonha. (Gradliano Ramos, A, 136.) 3. Digno de nota é o acentuado valor irónico, por vezes fortemente depreciativo, dos neutros isto, isso e aquilo, quando aplicados a pessoas, como nestes passos: Aquilo, aquele pobre homenzinho amarelento, dessorado, chocho... (Urbano Tavaies Rodrigues, JE, 158.) Mas, pelos contrastes que näo raro se observam nos empregos afectivos, podem esses demonstrativos expressar também alto aprego por determinada pessoa. Assim: — Bonita mulher. Como aquilo vé-se pouco. Ele teve sorte. (Castro Soromenho, C, 160.) 24° BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO 4. As formas femininas esta e essa fixaram-se em construcoes elipticas do tipo: Ora cseal Essa e boa I Essa, naol Essa ca. me fical Mais estal... Esta 6 final 0(s), a(s) como demonstrativo. O demonstrativo 0 (a, os, as) € sempre pronome substantivo e empre-ga-se nos seguintes casos: a) quando vem determinado por uma oracao ou, mais raramente, por uma expressao adjectiva, e tern o significado de aquele(s), aquela(s), aqttllo: Ingrata para os da terra, boa para os que nSo sao. (Carlos Pena Filho, LG, 120.) b) quando, no singular masculino, equivale a isto, isso, aqttilo, e exerce as funcSes de objecto directo ou de predicativo, referindo-se a um substantivo, a um adjectivo, ao sentido geral de uma frase ou de um termo dela: O valor de uma desilusao, sabia-o ela. (Miguel Torga, NCM, 153.) Nao cuides que nao era sincero, era-o.- (Machado de Assis, OC, I, 893.) Substitutos dos pronomes demonstrativos. Podem tambem funcionar como demonstrativos as palavras tal, mesmo, ptdpr'w e semelhante. 1. Tal 6 demonstrativo quando sinonimo: a) de «este», «esta», ) aspecto incoativo / aspecto conclusivo. O aspecto incoativo exprime um processo considerado em sua fase iniciál, o aspecto conclusivo ou terminativo expressa um processo observado em sua fase final: Aspecto incoativo Aspecto conclusivo Comecei a ler Os Lusiadas. Acabei de ler Os Lusiadas. 3. Säo também de natureza aspectual as oposigôes entre: a) forma simples / eerífrase durativa: Leio Estou lendo (ou estou a ler) A perifrase de estar +■ gerúndio (ou inflnitivo precedido da pre-posicäo a), que designa o «aspecto do momento rigoroso» (Said Ali), esten-de-se a todos os modos e tempos do sistema verbal e pode ser substituída j verbo___ í i por outras perífrases, formadas com ôs auxiliares de movimento (andar, ir, vir, viver, etc.) ou de implicagäo (continuar, ficar, etc.): Ando lendo (ou a ler). Continuo lendo (ou a let). Vai lendo. Ficou lendo (ou a ler). b) Ser f estar: Ele foi ferido. Ele está ferido. A oposicäo ser j estar corresponde a dois tipos de passividade. Ser forma a passiva de acgäo; estar, a passiva de estado. 4. Como vemos, tais oposigôes baseiam-se fundamentalmente na diver-sidade de formagäo das perífrases verbais. De um modo geral, pode-se dizer que as perífrases construídas com o PARTicípio exprimem o aspecto acabado, concluído; e as construídas com o infinittvo ou o gerúndio expressam o aspecto inacabado, näo concluído. Dos seus principals valores aspectuais trataremos adiante ao estudarmos OS verbos auxľliares e aS formas nomtnais do Verbo. Vozes. O facto expresso pelo verbo pode ser representado de trés formas: d) como pratieado pelo sujeito: i Joäo feriu Pedro. Näo vejo rosas neste jardirn. b) como sofrido pelo sujeito: Pedro foi ferido por Joäo. Näo se véem [= säo vistas] rosas neste jardím. c) como pratieado e sofrido pelo sujeito: Joäo feríu-se, DeÍ-me pressa em sair, . No primeiro caso, diz-se que o verbo está na voz activa; no segundo, na voz passiva; no terceiro, na voz reflexiva. Como se verifica dos exemplos acima, o objecto directo da voz activa corresponde ao sujeito da voz passiva; e, na voz reflexiva, o objecto di- g BREVE GRAmAtICA DO PORTUGUKS contemp0räne0 ;to ou indirecto é a mésma pessoa do sujeito. Logo, para que um verbo mita transformacäo de voz, é necessário que ele seja transittvo. Voz paesiva. Exprime-se a voz Passiva: á) com o verbo auxiliar ser e o particípio do verbo que se quer ljugar: Pedro foi ferido por joäb. b) com o pRONOME APAssrvADOR se e uma terceira pessoa verbal, gular ou plural, em concordáncia com o sujeito: Näo se vé [= é vista] uma rosa neste jaidim. Näo se véem [?= säo vistas] rosas neste jardim. Voz reflexiva. Exprime-se a voz reflexiva juntando-se äs formas bais da voz activa os pronomes oblíquos me, te, nos, vos e se (singular e tal): Eu feri-me (ou me feri) f= a mim mesmo] Tu ferlete-te (ou te feriste) [= a ti mesmo] Ele feriu-se (ou se feriu) [= a si mesmo] Nós ferimo-nos (ou nos ferimos) [= a nós mesmos] Vós feristes-vos (ou vos ferietes) [= a vós mesmos] Eles feriram-se (ou se feriram) [= a si mesmos] ervacöcs: i.* Além do verbo ser, há outros auxiliares que, combinados com um par-tictpio, podem formar a voz Passiva. Estäo nesse caso certos verbos que expri-mem estado (estar, andar, viver, etc.), mudanca de estado (ficar) e movimento (ir, vir); Os homens já estavam tocados pela fé. Ficou atormcntado pelo remorso. Os pais vinham acompanhados dos filhos. 1.» Nas formas da voz passiva o particípio concorda cm género e numero :om o sujeito: Ele foi ferido. Eles foram feridos. Ela foi ferida. Elas foram feridas. verbo 269 Formas rizotónicas e arrizotónicas. Em certas formas verbais o acento tónico recai no radical. Assim: ando ande andas andes an da ande an dam andern Em outras, 0 acento tónico recai na terrninacäo. Assim: andamos andemos andais andeis andou andava ar>ť\*r andará As primeiras damos o nome de formas rizotónicas; äs segundas, de formas arrizotónicas. Classiflcacäo do verbo. i. Quanto ä flexäo, o verbo pode ser regular, irregular, defec- TIVp e ABUND ANTE. Os reguläres flexionam-se de acordo com o paradigma, modelo que representa o tipo comum da conjugacao. Tomando-se, por exemplo, cantar, •vender epartir como paraďigmas da i.a, 2.* e 3.» conjugagöes, verificamos que to dos os verbos reguläres da i.a conjugacao formám os seus tempos como cantar; os da 2.a, como vender; os da 3.3, como partir. Säo irreguläres os verbos que se afastam do paradigma de sua conjugacao, como dar, es/ar, fa^er, ser, pedir, ir e vários outrös, que no lugar proprio estudatemos. Verbos defecttvos säo aqueles que näo tem certas formas, como abolir, falir e mais alguns de que tratamos adiante. Entre os defecttvos costumam os gramáticos incluir os unipessoais, e especialmente os impessoais, usados apenas na 3-a pessoa do singular: cbover, ventar, etc. Abundantes säo os verbos que possuem duas ou mais formas equiva-lentes. De regra, essa abundáncia ocorre no particípio. Assim, o verbo acei-tar apresenta os particípios aceitado, aceito e aceite; o verbo eniregar, os parti-cípios entregado e entregue; o verbo matar, os particípios matado e morto. 2. Quanto ä funcäo, o verbo pode ser principál ou auxiliar. Principal é o verbo de significacäo plena, nuclear de uma oracäo Assim: Estudei portugués. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPOrAnEO c) a desinencia pessoal, na 3.B pcssoa do singular do presente do indi-:ativo (cat/fa); na i.a e na 3.» pessoa do singular do imperfeito (cantava), lo mais-que-perfeito (cantara) e do futuro do pretdrito (cantaria) do indica-ivo; e ncstas mesmas pessoas do presente (cante), do imperfeito (cantasse) : do futuro (cantar) do conjuntivo, assim como nas do irifinitivo pessoal 'cantor). Mas, salvo no caso em que a falta de desinencia iguala duas pessoas de im so tempo, perturbando a clareza, a ausencia de qualquer desses elementos lexivos e sempre um sinal patticularizante, pois caracteriza a forma lacunosa >elo seu contraste com as que nao o sao. Formacao doe tempos simples, Como artificio didatico para apreender-se o mecanismo das conjuga-oes, admite-se que o verbo apresente trSs tempos primitivos, sendo os iutros deles derivados. Sao tempos primitivos: o presente do indicativo, o preterito fer- eito do indicattvo e o infinitivo impessoal. derivados do presente do indicativo. Do presente do indicattvo formam-Se o imperfeito do indicativo, > presente do conjuntivo e o imperattvo. i.°) Imperfeito do indicativc E formado do radical do presente crescido: a) na 1.» conjugacao, das terminacoes -ava, -avas, -ava, -dvamos, -dveis, warn (constitufdas da vogal tematica -a- + sufixo temporal -va- + desinen-ias pessoais); b) na 3.* conjugagao, das terminacoes -la, -ias, -ia, -tamos, -less, -iam constituidas da vogal tematica -f- sufixo temporal -a- + desinencias >essoais); e) na z.» conjugacao, das mesmas terminacoes da 3.», por ter a vogal :m£tica -e- passado a -/- antes de -a-. Assim, nos verbos cantar, vender e partir, temos: VERBO *73 Radical do presente i.a conjugacao 2.0 conjugac3o 3." conjugacao cant- ■vend- patt- Preterito imperfeito do indicativo cant-ava cant-avas cant-ava cant-avamos cant-dveis cant-avam vend-ia vend-ias vend-ia vend-iamos vend-ieis vend-iam part-ia part-ias part-ia part-iamos part-ieis part-iam Observacao: Fogem k regra acima os verbos ser, ter, vir e por, que fazem no imperfeito era, tittha, vinba e punha, respectivamente.- z.°) Presente do conjuntivo. Forma-se do radical da i.a pessoa do presente do indicativo, substituindo-se a desinericia -0 pelas flexoes pr6prias do presente do conjuntivo: -e, -es, -e, -emos, -eis, -em, nos verbos da 1.» conjugacao; -a, -as, -a, -amos, -ais, -am, nos verbos da 2.3 e da 3-a conjugacao. Assim: Presente do indicativo i." conjugagao 2.a conjugacao 3.** conjugacao 1.' pessoa do singular cant-o vend-o part-o cant-e vend-a part-a Presente do conjuntivo cant-es cant-e cant-emos vend-as vend-a vend-amos part-as part-a part-amos cant-eis vend-ais part-ais cant-em vend-am part-am Observacao: Dentre todos os verbos da lingua apenas os seguintes nao obedecem a regra anterior; haver, ser, estar, dar, ir, qiierer e saber, que fazem no presente do conjuntivo: haja, seja, esteja, de, vd, queira e saiba. 3.0) Imperattvo. O imperativo afirmativo s6 possui formas pr6prias de 2.a pessoa do singular e 2.a pessoa do plural, derivadas das corresponden-tes do presente do indicativo com a supressao do -s final. Assim: canta(s) vendc(s) parte(s) cantai(s) vendci(s) parti(s) breve gramatica do portugues contemporaneo )bservac3ea: j- : i.a Exceptua-se o verbo ser, que faz se (tu) e sede (vos). , , z!» Costumam perder o -e na 2.a.pessoa do singular do imperativo afir- ; i niativo os verbos di^er, faster, tracer e os terrrdnados em -mjr: diy (ou d>$ \ i iM,faze(ovLfiz)ta,traze(pufraz)ta, adu%e {on adus>) In, traduce {ou tradu^j txx, j ■■ 1 As oiitras pessoas do imperativo afirmativo, bem como todas as do ]\ j mperativo negativo, sao supridas pelas equivalentes do presente do con- j untivo, com o pronome posposto, quando usado. { : t s; | i Derivados do preterito perfeito do indicativo. j Do tema do preterito perfeito formam-se os seguintes tempos sim- >les: ; I i.°) o mais-que-perfeito do d>tdicativo, juntando-se as terminacoes j = sufixo temporal -ra- -\- desinencias pessoais): -ra, -ras, -ra, -ramos, -rets, j ram: Radical do perfeito 1.» conjugacao 2,a conjugacao 3.» conjugacao + vogal tematica canta- vende- parti- canta-ra vende-ra parti-ra Preterito mais-quc-pcrfeito do indicative canta-ras canta-ra canta-ramos canta-reis vende-ras vende-ra vende-ramos vende-reis parti-ras parti-ra parti-ramos parti-reis canta-ram vende-ram parti-ram z.°) o imperfeito do conjuntivo, juntando-se as terminacoes (= sufixo temporal -sse- + desinencias pessoais): -sse, -sses, -sse, -ssemos, -sseis, -ssew: VERBO Radical do perfeito + vogal tematica r.a conjugacao 2.° conjugacao 3-a conjugacao canta- vende- parti- Preterito imperfeito do conjuntivo canta-sse canta-sses canta-sse canta-ssemos canta-sseis canta-ssem vende-sse vende-sses vende-sse vend£-ssemos vende-sseis vende-ssem parti-sse parti-sses parti-sse parti-ssemos parti-sseis parti-ssem 3-°) o futuro do conjuntivo, juntando-se as ternrinacoes (= sufixo temporal -r- + desinencias pessoais): -r, -res, -r, -rmos, -rdes, -rem. Radical do perfeito + vogal tematica i.a conjugacao 2.a conjugacao 3.a conjugacao canta- vende- parti- Futuro do conjuntivo canta-r canta-res canta-r canta-rmos canta-rdes canta-rem vende-r vende-res vende-r vende-rmos vende-rdes vende-rem parti-r parti-res parti-r parti-rmos parti-rdes parti-rem ObservagSes: i.a O tema do preterito perfeito pode ser obtido suprimindo-se a desi-nencia da 2» pessoa do singular ou da i.a pessoa do plural: canta(ste) fize(ste) vie(ste) " puse(stc) canta(mos) fize(mos) vie(mos) puse{mos) 2.3 Embora as suas formas sejam quase scmpre identicas, o futuro do conjuntivo e o infinitivo pessoal tern origem diversa, que deve ser conhecida para evitar-se a frequence confusao que sc cstabclecc nos poucos verbos em que as formas sao distinras: fi^er—faster; for— ser; souber — saber, etc. breve gramatica do portugués contemporaneo Derivados do infinitivo impessoal. Do infinitivo impessoal formam-se os dois futuros simples do indicative, o infinitivo pessoal, o gerúndio e O PARTIcfpiO. r.°) O futuro DO presente, com o simples aeréscimo das terminacôes -ei, -as, -á, -emos, -eis, -äo: Infinitivo impessoal i.s conjugacäo 2.s conjugacäo 3.* conjugacäo cantar vender partir cantar-ei vender-ei partir-ei cantar-ás vender-ás partír-ás Futuco do piesente cantar-á cantar-emos vender-á vender-emos partir-á partir-emos cantar-eis vender-eis partir-eis cantar-äo vender-äo partir-äo 2.0) O futuro do PRETÉRiTO, com o aeréscimo das terminacôes -ia, -ias, -ia, -íamos, -íeis, -iam: Infinitivo impessoal r.a conjugacäo 2.a conjugacäo 3.* conjugacäo cantar vender partir cantar-ia vender-ia partir-ia cantar-ias vender-ias partir-ias Futuro do pretérito cantar-ia cantar-íamos vender-ia vender-íamos partir-ia partir-íamos cantar-íeis vender-íeis partir-leis cantar-iam vender-iam partír-iam Observances: i.a Näo seguem esta regra os verbos ditgr, Javier e tracer, cujas formas do futuro do presentE e do pretérito säo, respectivamente: direi, diria; farei, Jaria; Irarei, traria. z.a O futuro do presente e o futuro do pretérito säo formados pela aglutinacäo do infinitivo do verbo principal äs formas reduzidas do presente c do imperfeito do iNDicATivo do auxiliar haver: amar. + het, amar + + bia (por bavia), etc. verbo 3.0) O infinitivo pessoal, com o aeréscimo das desinéncias pcssoais: -es (z.a pessoa do singular), -mas, -des, -em: Infinito impessoal r.a conjugacäo 2.a conjugacäo 3-a conjugacäo cantar vender partir Infinitivo pessoal cantar cantar-es cantar cantar-mos cantar-des cantar-em vender vender-es vender vender-mos vender-des vender-em partir partir-es partir partk-mos partir-des partir-em 4.0) O gerúndio forma-se substituindo-se 0 sufixo -r do infinitivo pelo sufixo -ndo: Infinitivo impessoal i.a conjugacäo 2.a conjugacäo 3] da z.a e j.a pessoas do singular e da 3.a do plural; nas formas arrizotonicas observa-se a redueäo vocalica normal a [3] ou [u] no portugues europeu e uma oscilaeäo entre [e/ij ou [o/u] no portugues do Brasil, com predominäncia da vogal fechada [i] ou [u] por influencia assi-milatdria da vogal tönica; b) no presente do conjuntivo, derivado da i.a pessoa do presente do indicativo, mantem-se em todas as formas as vogais daquela pessoa, verbo *97 [i] ou [u], conforme o caso; c) no imperativo AFiRMATrvo, a 2.a pessoa do singulár, em corres-pondéncia com a do presente do indicativo, tem a vogal [z] ou [d]; a 2.a do plurál, em consonáncia com a do presente do tndicattvo, apresenta a vogal [9] ou [u], no portugués de Portugal, e [e/i] ou [o/u], no portugués do Brasil; as formas derivadas dp presente do conjuntivo (3." do singulár, i.» e 3-a do plurál e todas as pessoas do imperativo negativo) conservam a vogal [i] ou [u] děste tempo. Observacoes: i.a Seguem o modelo de servir os verbos da 3.» conjugagao que těm e grá-iico no infinitiv o. Assim: aderir advertir aferir compelir competir conferir convergir deferir desferir despir digerir discernir divergir ferir inferir ingerir inserir preferir referir reflectir repelir repetir seguir sugerir vestir e tambem mentir e sentir. Exceptuam-se, no entanto: d) os verbos medir, pedir, despedir e impedir, que apresentam e semi-aberto [E] em todas as formas rizotonicas do presente do indicativo e, por conse-guinte, nas do presente do conjuntivo e dos imperativos afirmativo e negativo : meco, medes, mede, medem; meca, mecas, meca, mecam; peeo, pedes, pede, pedem; pefa, pecas, peca, pecam, etc. b) os verbos agredir, dmegrir, prevenir, progredir, regredir e transgredir, que apresentam [i] nas quatro formas rizotonicas do presente do estoicattvo, em todo o presente do conjuntivo e nas formas dos imperativos afirmativo e negativo dele derivadas: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo agrido agrida agrides agridas agride näo agridas agride agrida agrida näo agrida agredimos agrida mos agridamos näo agridamos agredis agridais agrcdi näo agridais agridem agridam agridam näo agridam breve gramática do portuguěs contemporaneo verbo 299 2.a Seguem o modelo de dormir os verbos da 3-a conjugacäo que tém o gráfico no iNFrNixrvo: tossir, engolir, cobrir (e seus derivados, como descobrir, cmobrir e recabrir). Exceptuam-se, porém: a) os vcrbos em que o 0 corresponde ao antigo ditongo [ow], caso em que se conserva como [o] em toda a conjugacäo: ouco, owes, owe, etc.; b) os verbos polir e sortir, que apresentam fu] nas formas rizotonicas, formas, alias, de pouco uso: puh, pales, pule, pulem; siirto, surtes, surfe, surtem. Modelos: frigir e actidir Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negative frijo freges frege frigimos frigis fregem frija frijas frija frijamos frijais frijam frege frija frijamos frigi frijam näo frijas näo frija näo frijamos näo frijais näo frijam acudo acuda acodes acudas acode näo acudas acode acuda acuda näo acuda acudimos acudamos acudamos näo acudamos acudis acudais acudi näo acudais acodem acudam acudam näo acudam Vemos que, embora tenham [i] e [u] no radical, os verbos frigir e actidir se comportam como se fossem verbos com e e 0 graficos no infinitivo, conjugando-se nos quatro tempos mencionados pelos modelos de servir e dormir. Obsetvacôes: Seguem o modelo de acudir os seguintcs verbos: bulir consumir cuspir escapulir fugir sacudir subir sumir Na llngua corrente e tambem esta a conjugacäo dos verbos entupir e dcscntitpir, que num registo mais culto apresentam, por vezes, as formas reguläres tiitupo, entupes, entupe, entupem; desentupo, desentupes, desentupe, desentupem. z.a Os vcrbos construir, destruir e recotistrulr, dependendo de uma maior ou menor formalizacäo da linguagem, podem ser conjugados: construo, cons- truis ou consirois, construi ou conströi, construem ou constroem, etc. Os outros derivados do latim strutre, como instruir c obstruir, so conhecem a conjugacäo regular: instruo, instruis, instrui, instruem; ebstruo, obstruis, obsirui, obstruent. 3-a Näo apresentam alternäncia voeälica, isto e, conservam o [u] do radical em toda a conjugacäo, entre outros menos usuais, os verbos: aludir assumir e seus derivados. curtir iludir influir presumir lesumir urdir Felo modelo de influir conjugam-se os demais verbos terminados em -air: anuir, arguir, atribtiir, constituir, destitm'r, diluir, diminuir, estatuir, imbuir, insti-tuir, restituir, redargtsir e mir. 4.a Os verbos aspergir e submergir tém e semifechado [e] na i.1 pessoa do singular do presente do indicativo e, consequentemente, em todo o presente do coNjuNTrvo. Na 2,a e 3.a pessoas do singular e na 3.a do plural, a exemplo de servir, apresentam e semi-aberto [e]. OUTROS TIPOS DE IRREGULARIDADE i.a Conjugagäo Embora seja a mais rica em numero de verbos, a i.a conjugagäo é a mais pobre em numero de verbos irreguläres. Além de estar, cuja conjugagäo estudámos, há apenas os seguintes: i. Dar Apresenta irregularidades nestes tempos: MODO INDICATIVO Presente Pretérito perfeito Pretérito mais-que-perfeito dou dei dera das deste deras dá deu dera damos demos deramos dais destes dércis däo deram deram 300 breve gramática do portugués contemporäneo VERBO 301 MODO CONJUNTIVO Presente de des dé demos dejs déem Pretérito imperfeito desse desses desse déssemos désseis dessem Futuro der dereš der dermos derdes derem MODO IMPERATrVO Afirmativo Negativo dá näo dés dé näo dé demos näo demos dal näo deis déem näo déem No mais, conjuga-se como um verbo regular da i.a conjugacäo. O derivado cireundar nao apresenta nenhuma destas irregularidades. Segue em tudo o paradigma dos verbos reguläres da 1.» conjugacäo. 2. Verbos terminados em -ear e -iar 1. Os verbos terminados em -ear recebem / depois do e nas formas rizotonicas. Sirva de exemplo o verbo passear, que assim se conjuga no presente do indicativo, no presente do conjuntivo é nos impěrativos afirmativo e negativo: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo passeio passeie passeias passeies passeia näo passeies passcia passeie passeie näo passeie passeamos passeemos passeemos näo passeemos passeais passceis passeai näo passeeis pnssciam passeiem passeiem näo passeiem 2. Os verbos terminados em -iar säo, em geral, reguläres. Sirva de modelo o verbo anunciar: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo anuncio anuncie anuncias anuncies anuncia näo anuncies anuncia anuncie anuncie näo anuncie anunciamos anunciemos anunciemos näo anunciemos anunciais anuncieis anunciai näo anuncieis anunciam anunciem anunciem näo anunciem Observacäo: O verbo mobiliár (port. do Brasil) apresenta, nas formas rizotónicas, o acento na sílaba bi: presente do indicativo: mobtlio, mobílias, mobilia, mobiliam; presente do conjuntivo: mobilie, mabilies, mobilie, mobiliem; etc. Mas, em verdade, tal anomalia é mais gráfica do que fonética. Este verbo também se esereve mobilhar, variante gráfica admitida pelo Vocabulário Oficial e que melhor reproduz a sua. pronůncia corrente. Advirta-se, ainda, que em Portugal a forma preferida é mobilar, conjugada regularmente. 3. Por analógia com os verbos em -ear (já que na pronůncia se confun-dem o e e o ; reduzidos), cinco verbos de infinitivo em -iar mudam o [i] em [ej] nas formas rizotónicas. Säo eles: ansiar, incendiar, mediar, odiar e reme-diar. Tomemos, como exemplo, o verbo incendiar: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo incendeio incendeie incendeias incendeies incendeia näo incendeies incendeia incendeie incendeie näo incendeie incendiamós incendiemos incendiemos näo incendiemos incendiais incendieis incendiai näo incendieis incendeiam incendiem incendeiem näo incendeiem Os demais verbos em -iar säo reguläres na lingua culta do Brasil. 302 BREVE GRAMATICA DO p0rtügues c0ntemp0rane0 4. Finalmente, ha um grupo de verbos em -iar que, no portugues de Portugal e na lingua popular do Brasil, nao seguem uma norma fixa, antes vacilam entre os modelos de anunciar e incendiar. Sao, entre outtos, os verbos ageticiar, comerciar, negociar, obsequiar, premiar e senttnciar. Observacoes: r.a Criar, em qualquer acepcäo, conjuga-se como verbo regular em -iar; crio, crias, cria, criamos, etc. 2.a Convem distinguir, cuidadosamente, certos verbos terminados em -ear e -iar, de forma muito parecida, mas de sentido diverso. Entre outxos: afear (relacionado com feio) e aflar (relacionado com fid), en/rear (relacionado com freie) e enfriar (com frie), estear (relacionado com esteio) e estiar (com estio), estrear (relacionado com estreia) e estriar (com esfria), mear (relacionado com meio) e miar (com mio, tniado), pear (relacionado com peia) e piar (com pie), vadear (relacionado com van) e vadiar (com vadio). z.a Conjugacao Alem dos verbos haver, ser e ter, ja conhecidos, devem ser mencionados os seguintes: 1. Caber Apresenta irregularidades no presente e no preterito perfeito do indicativo, irregularidades que se transmitem as formas deles derivadas, MODO INDICATIVO Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito caibo coube coubera cabes coubeste couberas cabe coube coubera cabemos coubemos couberamos cabcis coubestes coubereis cabem couberam couberam VERBO 303 MODO CONJUNTIVO Presente caiba caibas caiba caibamos caibais caibam Preterito imperfeito coubesse coubesses coubesse coubessemos coubdsseis coubessem Futuro couber couberes couber coubermos couberdes couberem Observacao: No senddo proprio este verbo näo admite imperattvo. a. Crer e ler Sao irreguläres no presente do indicattvo e, em decorr&ncia, no presente do conjuntivo e nos imperattvos afirmattvo e negattvo. Indicative Conjuntivo Imperative- presente presente Afirmativo Negativo creio creia eres creias ere näo creias ere creia creia näo creia cremos creiamos creiamos näo creiamos credos creiais crede näo creiais creem creiam creiam näo creiam leio leia les leias le näo leias Ie leia leia näo leia lemos Ieiamos Ieiamos näo Ieiamos ledes leiais lede näo leiais leem leiam leiam näo leiam Observacao: Assim tambem se conjugam os derivados destes verbos, como descrer, reler, etc. 304 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPOrAnEO 3. Dizer Apenas o pretérito imperfeito do kndicativo e o gerúndio säo reguläres neste verbo. Estas as formas simples: MODO INDICATIVO verbo Presente Pretérito imperfeito Pretérito perfeito digo dizia disse dizes dizias disseste diz dizia disse dizemos diziamos dissemos dizeis dizíeis dissestes dizem diziam disseram Pretérito Futuro do presente Fututo do pretérito mais-que-perfeito dissera direi diria disseras dirás dirias dissera dirá diria disséramos diremos dkiamos 1 disséreis direis diríeis \ disseram diräo diria m \ MODO CONJUNTIVO \ Presente Pretérito imperfeito Futuro diga dissesse disser digas dissesses disseres diga dissesse disser digamos disséssemos dissermos digais dissésseis disserdes digam . dissessem disscrem MODO IMPERATrVO Aficmativo Negativo dize näo digas diga näo diga digamos näo digamos dizei näo digais digam näo digam -~-- w FORMAS NOMINAIS Infinitivo impessoal Infinitivo pessoal Gerúndio Particípio dizer dizer dizeres, etc. dizendo dito Segundo o modelo de äi^er conjugam-se os verbos dele formados: bendiqer, toniradi^er, áesii^er, maláiirer, prediqer, etc. 4. Fazcr Também neste verbo só o pretérito imperfeito do indicativo e o geróndio säo regulares. As outras formas conjugam-se: MODO INDICATIVO Presente Pretérito imperfeito Pretérito perfeito faco fazes faz fazemos fazeis fazem fazia fázias fazia fazíamos fazíeis faziam fiz fizeste fez fizemos fizestes fizeram Pretérito mais-que-perfeito Futuro do presente Futuro do pretérito fizera fizeras fizera fizéramos fizéreis fizeram farei faiás fará farcmos fareis faräo faria farias faria farfamos faríeis fariam MODO CONJUNTIVO Presente Pretérito imperfeito Futuro faca facas faca facamos facais facam fizcsse fizesses fizcsse fizéssemos fizésseis fizcssem fizer fizcres fizer fizermos fizcrdcs fizerem BREVE GRAMÄTICA PO PORTUGUES contemp0raneo MODO IMPERATIVO Afiitnativo Negativo _—■--—--■--r~ faze faca fagamos fazei facam näo facas \ näo faja näo facamos näo facais näo facam FORMAS NOMtNAIS Infinitivo impcssoal Infinitivo pessoal Geründio Particlpio fazer fazer fazeres fazer fazermos fazerdes fazerem razendo feito Obaervacäo: Por fayer se conjugam os seus compostos e derivados, como afaspr, eontra-fai{er, desfcagr, liquefayer, perfumer, rartfa^er, refa^er e satisfa^er. 5. Perder Oferece irregularidade no presente do indicativo e esta transmite-se j äs formas derivadas do presente do conjuntivo e dos imperativos afir- ! mativo e negativo. | \ VERBO Eis as suas formas irreguläres: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo perco petca perdes percas perde näo percas perde perca perca näo perca perdemos percamos percamos näo percamos perdeis percais perdei näo percais perdem percam percam näo percam 6. Podei Apresenta irregularidades no presente e no preterito perfeito do indicativo e, em consequencia, nas formas derivadas destes dois tempos: MODO INDICATIVO Presente Preterito Preterito perfeito mais-que-perfeito posso pude pudera podes pudeste puderas pode pode pudera podcmos pudemos pudefamos podeis pudestes pudereis podem puderatn puderam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro possa pudesse puder' possas pudesses puderes possa pudesse puder possamos pudessemos pudermos possais pudesseis puderdes possam pudessem pudcrcm 3o8 DREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO Obscrvacao: fi desusado o imperativo deste verbo. 7. Por Por, forma contracta do antigo poer (ou poer, derivado do latim pomre), e o unico verbo da lingua que tern o infinitivo irregular, razao por que alguns gramiticos o incluem numa quarta conjugacao, que seria formada por ele e seus derivados. MODO INDICATIVO Presente Preterito imperfeito Preterito perfeito ponho pöes pöe pomos pondes pöem punha punhas punha půnhamos púnhcis punham pus puseste pos pusemos pusestes puseram Preterito mais-que-perfeito Futuro do presente Futuro do preterito pusera puseras pusera puseramos puseteis puseram porei porás porá poremos poreis poräo poria porias poria porlamos porieis poriam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro ponha ponhas ponha ponhamos ponhais ponham pusesse puses ses pusesse puséssemos pusésseis pusessem puser puseres puser pusermos puserdes puserem VERBO 309 MODO IMPERATIVO Afirmativo poe ponha ponhamos ponde ponham Ncgativo nap ponhas nao ponha nao ponhamos nao ponhais nao ponham FORMAS NOMINAIS Infinitivo Infinitivo Gerundio impessoal pessoal Participio pór pôr pondo posto pores pôr pormos pordes porem ObservacSo: Pelo paradigma de per se conjugam todos os seus derivados: antepor, apor, compor, contrapor, decompor, depot, descompor, dispor, expor, impor, opor, prapor, repor, sapor, transpor, etc. 8. Prazer Empregado apenas na 3.* pessoa, este verbo apresenta as seguintes formas irreguläres: MODO INDICATIVO Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito praz prouvb prouvera breve gramätica DO PORTÜGUfes contbmporane' jio BßJiVJJ-------- l MODO CONJUNTIVO Preterito imperfeito Futuro prouvesse prouver ObservagSes: i.a As outras formas, inclusive o presente do conjuntivo (= pra^a), säo reguläres. Por prater se conjugam apra^er e despra^er. z.a O derivado compraysr, alem de näo ser unipessoal, € regular no preterito perfeito e nos tempos formados do seu radical. Assim, comprazh compra^este, compra^eu, etc.; compra^era, compra^eras, compra^era, etc.; com-Prozesse, compra^esses, compra^esse, etc.; compra^er, compra^eres, compra^er, etc. 9. Querer Oferece irregularidades nos seguintes tempos: Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito quero queres quer queremos quereis querem quis quiseste quis quisemos quisestes quiseram quisera quiseras quisera quiseramos quis er eis quiseram MODO CONJUNTWO Presente Pret6rito imperfeito Futuro queira queiras queira quciramos qucirais quciram quisesse quisesses quisesse quisessemos quisesseis quisesscm qui ser quiseres quiser quisermos quiserdes quiserem VERBO Observagöes: i.a A par de quer, 3.a pessoa do singular do presente do indicativo, empre-ga-se tambem quere no portugues europeu, quando a forma verbal vem acom-panhada de um pronome enclitico: quere-a. O derivado requerer taz requeiro na i.a pessoa do presents do indicativo e e regular no preterito perfeito e nos tempos formados do seu radical: requer:, reqitereste, requereu, etc.-requerera, requereras, requerera, etc.; requeresse, requeresses, reqtteresse, etc.; reque-rer, requereres, requerer, etc. Alem disso, emprega-se no imperattvo. Bem--querer e malquerer fazem no participio benquisto e malquisto, respectivamente. z.a £ desusado o imperativo deste verbo. 10. Saber Formas irreguläres: MODO INDICATIVO Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito sei soube soubera sabes soubeste souberas sabe soube soubera sabemos soubemos soubefamos sabeis soubestes soubereis sabem souberam souberam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Fututo saiba soubesse souber saibas soubesses souberes saiba soubesse souber saibamos soubessemos soubermos saibais soubesseis souberdes saibam soubessem soubcrem 3" BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO VERBO MODO IMPERATIVO Afirmativo Negativo sabe näo saibas saiba näo saiba saibamos näo saibamos sabei näo saibais saibam näo saibam ii. Trazer ß regular apenas no preterito imperfeito no indicativo e nas for-mas nominais. Esta a sua conjugacäo: MODO INDICATIVO Presente Preterito imperfeito Preterito perfeito trago trazia trouxe trazes trazias trouxeste traz trazia trouxe trazemos traziamos trouxemos trazeis trazleis trouxestes trazem traziam trouxeram Preterito Futuro do presente Futuro do preterito mais-que-perfeito trouxera trarei traria trouxeras traräs trarias trouxera trara traria trouxeramos traremos trariamos trouxereis trareis trarieis trouxeram traräo trariam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro traga trouxesse trouxer tragas trouxcsses trouxeres traga trouxesse trouxer tragamos trouxcssemos trouxcrmos tragais trouxcsseis trouxerdes tragam trouxessem trouxerem 3r3 MODO IMPERATIVO Afirmativo Negativo traze Mo tragas traga näo traga tragamos näo tragamos trazei näo tragais tragam näo tragam 12. Valer Apresenta irregularidade na i.a pessoa do presents do indicativo, irregularidade que se transmite ao presente do conjuntivo e äs formas do imperattvo dele derivadas. Assim: Indicativo Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo valho valha vales valhas \_e näo valhas vale valha valha nao valha valemos valhamos valhamos näo valhamos valeis valhais valei näo valhais valem valham valham näo valham Observacao: Por valer se conjugam desvaler e eqttivakr. 13, Ver E irregular no presents e no preterito perfeito do indicativo, nas formas deles derivadas, assim como no participio, que e visto. Assim: MODO INDICATIVO Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito vejo vi vita ves viste vkas ve viu vira vemos vimos viramos vedes vistes vlreis veem viram viram 314 \ B REVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO MODO CONJUNTIVO Presente Pretérito imperfeito Futuro veja vejas veja vejamos vejais vejam visse visses visse vissemos vlsseis vissem vir vires vir virmos virdes virem MODO IMPERATIVO Afirmativo Negativo vě näo vejas veja näo veja vejamos näo vejamos vede näo vejais vejam näo vejam Observacôes: i.» Assim se conjugam antever, entrever, prever e rever. zfi Prover, embora formado de ver, é regular no pretérito perfeito do rNDiCATrvo e nas formas dele derivadas: previ, preveste, proveu, etc.; provera, proveras, provera, etc.; provesse, provesses, provesse, etc.; prover, proveres, prover, etc. O particípio é provide, também regular. Por prover conjuga-se o seu derivado desprover. i. Ir é verbo anómalo, somente regular no pretérito imperfeito e nos futúr os do presents e do pretérito do modo indicativo: ia, irei, iria; nas formas nominais—-iNFiNTrivo: ir; gerúndio: indo; particípio: ido. As suas formas do pretérito perfeito do indicativo e do s tempos dele derivados identificam-se com as correspondentes do verbo ser: fui, fóra, fosse e for. Nos demais tempos simples é assim conjugado: Indicativo Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo vou vá vais vás vai näo vás vai vá vá näo vá vamos vamos vamos näo vamos ides vades ide näo vades väo väo väo näo väo 2. Medir e Pedir Além da altemäncia vocálica entre as formas rizotónicas e arrizotónicas, estes verbos apresentam modificacäo do radical med- e ped- na 1.» pessoa do presents do indicativo e, consequentemente, no presents do conjunttvo e nas pessoas do imperativo dele derivadas. Indicativo Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo mego mega medes megas mede näo megas mede mega mega näo mega. medimos megamos megamos näo megamos medis mecais medi näo megais medem megam megam näo megam pego peca pedes pegas pede näo pegas pedc pega pega näo pega pedimos pegamos pegamos näo pegamos pedis pegais pedi näo pegais pedem pegam pegam näo pegam ObservagSes: i.a Por medir conjuga-se desmedir. 3ió breve gramatica do portugués contemporaneo 2.a Conjugatn-se poi ptdir, embora dele näo sejam derivados, os verbos dcspedir, expedir e impedir, bem como os que destes se formám: desimpedir, reexpedir, etc. 3. Ouvir Irregularidade semelhante ä anterior. O radical ouv- muda-se em ouc-na i.a pessoa do presente do indicativo e, em decorréncia, em todo o presente do conjuntivo e nas pessoas do imperativo dele derivadas. Assim: verbo 317 Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo ouco ouca näo oucas ouves oucas ouve ouve ouca ouca näo ouca ouvimos oucamos oucamos näo oucamos ouvis oucais ouvi näo oucais ouvem oucam oucam näo oucam Observagäo: Em Portugal, ao lado de ouco, há oico para a i.a pessoa do singular do presente do indicativo. Esta dualidade fonética estende-se a todo o presente do conjuntivo e äs pessoas do imperativo dele derivadas: ouca ou oica, 01/fiis ou oicas, etc. 4. Rir Apresenta irregularidades nos seguintes tempos: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo rio ria ris rias ri näo rias ri ria ria näo ria rimos riamos riamos näo riamos rides rials ride näo rials riem riam riam näo riam Observagäo: Pelo modelo de rir conjuga-se sorrir. 5. Vir É verbo anómalo, assim conjugado nos tempos simples: MODO INDICATIVO Presente Pretérito imperfeíto Pretérito perfeito venho vinha vim vens vinhas vieste vem vinha veio vimos vlnhamos viemos vindes vínheis viestes vém vinham vieram Pretérito Fututo do presente mais-que-perfeito Future do pretérito viera virei víria vieras virás virias viera virá viria viéramos viremos viriamos viéreis vireis viríeis vieram viräo viriam MODO CONJUNTIVO Presente Pretérito imperfeíto Fututo venha viesse vier venhas viesses vieres venha viesse vier venhamos viéssemos viermos venhais viésseis Vierdes venham viessem vierem ji3 breve gramatica do portugues contemporaneo MODO IMPERATIVU Afirmativo Negativo vem näo vcnhas venlia näo venha venhamos näo venhamos vinde näo venhais venham näo venham FORMAS NOMINAIS Infinítívo impessoal Ihfinitivo pessoal Gerůndio Farticipio vit vir vindo vindo vires vir virmos virdes virem Observacäo: Por este verbo se conjugam todos os seus derivados, como advir, avir, convir, desavir, intervir, provir e sobrevir. 6. VerboB terminados em -u%ir Os verbos assim terminados, como adu^tr, condu^ir, dedu^ir, indusýr, introdn^ir, lusýr, produtýr, redus^ir, relu^ir, tradn^ir, etc., näo apresentam a vogal -ř na 3.a pessoa do singular do presente do tndicativo: (ele) adu^, condus^, dedu%, indu^j introdu^, lu^, etc. VERBOS DE PARTICÍPIO IRREGULAR Há alguns verbos da z.a e da 3.» conjugacäo que possuem apenas par-ticipio irregular, näo tendo conhecido jamais a forma regular em -ido. Säo os seguintes: verbo jr9 Infinitivo Participio Infinitivo Participio dizer dito pór posto escrever escrito abrir aberto fazer feito cobrir coberto ver visto vir vindo Observances: i.» Também os derivados destes verbos apresentam somente o participio irregular. Assim, desdito, de desdhgr; reescrito, de reescrever; eonfrafeito, de con-trafa^er; previsto, de prever; imposto, de impor; entredberto, de entreabrir; des-eoberto, de descobrir; convinäo, de convir, etc. 2.ft Neste grupo devemos incluir trés verbos da i.a conjugacäo —■ ganbar, gastar e pagar — de que outrora se usavam normalmente os dois participios. Na linguagem actual preferem-se, tanto nas construcöes com o auxiliar ser como naquelas em que entra o auxiliar Ur, as formas irreguläres ganho, gasto e pago, sendo que a ultima, substituiu completamente o antigo pagado. VERBOS ABUNDANTES Vimos que sao chamados abundantes os verbos que possuem duas ou mais formas equivalentes. Vimos tambern que, na quase totalidade dos casos, essa abundancia ocorre apenas no participio, o qual, em certos verbos, se apresenta com uma forma reduzida ou anormal ao lado da forma regular em -ado ou -ido. De regra, a forma regular emp$ega-se na constituicao dos tempos com-postos da voz activa, isto e, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de pteferericia, na formacao dos tempos da voz passiva, ou seja acompanhada do auxiliar ser. Examinernos os principals verbos abundantes no participio. j 20 BREVE gramática DO portugués CONTEMPQkAnSO Primeifa conjugacäo Infinitivo Participio regular Participio irregular [ _.- í aceitar entregar enxugar expres sar expulsar isentar matar salvar soltar vagar aceitado entregado enxugado expiessado expulsado isentado matado salvado soltado vagado \ aceito, aceite \ entregue j enxuto 1 expresso } expulso isento i morto I salvo j solto j vago i i i Segunda conjugacäo ] Infinitivo Participio regular Participio irregular f acender benzer eleger incorrer morrer prender romper suspender acendido benzido elegido incorrido morrido prendido rompido suspendido aceso i bento I eleito s incurso ;| morto j preso j roto I suspenso j 1 Terceira conjugacäo |j \ Infinitivo Participio regular Participio irregular emergir exprimir extinguir frigir imergir imprimir inscrir omitir submcrgir emergido exprimido extinguido frigido imergido imprimido inserido omitido submergido emerso expresso exdnto frito imerso impresso inserto omisso submerso VERBO 321 Observacöes: 1. a Somente as formas irreguläres se usam como adjectivos e säo elas as únicas que se combinam com os verbos estar,ficar, atidar, ir e vir. 2. a A lozím.-aceite é mais usada em-Portugal. 3 a Merto é participio de momr e' estendeu-se também a matar. 4.a O participio rompido usa-se também com o auxiliar ser. Ex.: Fotam rompidas as ttossas relates. Roto emprega-se mais como adjectivo. 5-a Imprimir possui duplo participio quando significa «estampara, «gravan>. Na acepcäo de «produzir movimento», c*eJ*rlamo4 outi >o iobre o de Aodrade. IV. ioj.) 4») cm cerat tras— mterrngarivas e exdanmuva», pata üenotar tur-pre*» 00 tndigmc&o: O nooao aroor morreu... Quem o dar»»? (Florbe-, Eapaaca, S, 16«.) 1 °) na» afumacöea rondtoonada*. quando »e refetem a facto« que nlo «e mllutun e que. provavcÉOMPtt, Olo »c icakaarflo: Sc nlo houvease drferenca*, noa aeilaeno» «an» pecto» »o. (GraxáUaoo Ramoa. SB, loa.) ()b*t*rr»c|o; A K+mtMtUmng Crwwmfust Bnäktrm ckmmnu » dinooaaaatlri de Mono COKDTCTONAt. pWl O FCTt;RO DO r»RT*»XTO. Aprjjf de, OO DtOkctO de iV#- if« nlo ie ter adoptado eata úlhma dauyrfo, optat pel o «s cmprego nes ta obex, porque, etn 00*» opiru*o, tc trata. na vetdade, de um tempo (c nlo de tan mode) one «0 ae djferencia do ptrruao 00 raxjxxrs poc te trřexu » facto* panndoa, ao paaao que o aletnio m reUdcicM core facto* preacnrea. K ocreaccmc-te que ambot aparccesn na* aMercoca coodfcmouk*. dependendo o empreftO de «m nu de outro do ten-tKio d» ciraclo ccmdiooaante. Cnraparera-ae: Se eic tier, rdo »aircJ. Se ele vtoK, nlo aalria. x. O futuro do pmerito compoato emprega-te: t.°) pani tndicar que um facto rrria acontecido no piasado, medbnte • reta coodicio: Se cu cxrrcaae d. nada daato M carta pana*do, (Caatro Sotnaaenbo, TM, 14»-) ».•) para cTpnmit a poasibíhdad* dc um facto pvtaado — Sam ti, qaem »aber terta aldo am» gmodt eaaunra. (Anguato Afaekka. B, if>j.) \ *) para indicar a áncerren »obre facto» paasados, etn cetua fraae» MMrrrtifputvai que dup*n»am a reip"»ta do intrilix-otor: *.quclc oaalandro oa tcria eu£oudo? (Carlo» Drammond de Aodrade, CA, 144.) MODO CONrUNTTVO ii.illcativo e conjuntivo. 1. Quaodo no» »ervttnu» do hudo twwcATtvo, comideramoi o facto H»|iřTWM pelo verbo cotno ctrtm, rtnJ, teja 00 preteotr, »cja no paaaado, »eja Ho l'ururo. Ao empr«gannoa o modo conjunttvo. e completameme dtreraa • »»" axitude. Ilnraramo*. entlo. a erütenca» ou nlo erktfixia du fWto crimo nmm i.tta UNirtM. imid»u. tfHItmi ou, mesmo, trrmi. OwiMitin nt por Í34 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO Tempo Modo indicativo Modo conjuntivo Presente Afirmo que ela estuda Duvido que ela estude Imperfeito Afirmei que ela estudava Duvidei que ela cstudasse Perfeito Afirmo que ela esmdou (ou tem estudado) Duvido que ela tenha estudado Mais-que-perfeito Afirmava que ela tinha estudado (ou estudara) Duvidava que ela tivesse estudado 2. Em decorrencia dessas distincöes, podemos, desde jä, estabelecer os seguintes principios gerais, norteadores do emprego dos dois modos nas oracöes subordinadas substantivas: O iNDiCATrvo e usado geralmente nas oracöes que completam o sentido de verbos como afirmar, compreender, eomprovar, crer (no sentido afir> mativo), di^er, pensar, ver, verificar. 2.°) O coNjUNTivo e o modo exigido nas otacöes que dependem de verbos cujo sentidu esta ligado ä ideia de ordern, de proibigäo, de desejo, de vontade, de süplica, de condicäo e outras correlatas. E o caso, por exem-plo, dos verbos desejar, duvidar, implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proi-bir, querer, rogar e suplicar. EMPREGO DO CONJUNTIVO Como o proprio nome indica, o conjuntivo (do larim conjmctivus «que serve para ligar») denota que uma accäo, ainda näo realizada, 6 concebida como ligada a outra, expressa ou subentendida, de que depende (de onde a designacäo alternativa suBjüNTrvo, preferida pela Nomenklatura Gramatical Brasileird). Emprega-se normalmente na oracäo subordinada. Quando usado em oragöes absolutas, ou oracöes principais, envolve sempre a accäo verbal de um matiz afectivo que acentua fortemente a expressäo da vontade do individuo que fala. Conjuntivo indepcndente. Empregado em oracöes absolutas, em oracöes coordenadas ou em oracöes principais, o conjuntivo pode exprimir, alem das nocöes imperati-vas que examinaremos adiante: d) um desejo, um anelo: Chovam liinos de glöria na tua alma! (Antero de Quental, SC, 35.) VERB O 335 h) uma hipótese, uma concessäo: Seja a minha agonia uma centelha De gloriaI... (Olavo Bilac, T, 197.) c) uma dúvida (geralmente precedido do advérbio talveir): Um cachorro talvez rosnasse ou mordesse. (Adonias Filho, LBB, ior.) d) uma ordern, uma proibigäo (na 3.» pessoa): Que näo se apague este Iumel (Augusto Meyer, P, 126.) e) uma exckmacäo denotadora de indignacäo: Raios partám a vida e quem lá anděl (Fernando Pessoa, OP, 316.) Conjuntivo subordinado. O conjuntivo é por excelencia o modo da oracäo subordinada. Emprega-se tanto nas subordinadas substantivas, como nas adjecttvas e nas adverbt Ais. Nas oracöes substantivas. Usa-se geralmente o conjuntivo quando a oracäo principal exprime: a) a vontade (nos matizes que väo do comando ao desejo) com referencia ao facto de que se fala: Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo. (Maria Judite de Carvalho, AV, 119.) b) um sentimento, ou uma apreekfäo que se emite com referencia ao proprio facto em causa: — Pior será que nos enxotem daqui... (Afränio Peixoto, RC, 273.) c) a dúvida que se tern quanto ä realidade do facto enunciado: Receava que eu me tornasse ingrato, que o tratasse mal na velhke. (Augusto Abelaira, NC, 14.) 336 breve gramática do portuguěs contemporäneo Nas oracöes adjectivas. O conjuntivo e de regra nas oracöes adjectivas que exprimem: a) um fim que se pretende alcancar, uma consequencia: — Portanto, quero coisa de igreja, coisa pia, que d6 gosto a um bom sacerdote como 6 padre Esteväo. (Antonio Callado, MC, 99.) b) um facto improvävel: Tristäo podia resolver esta minha luta interior cantando alguma cousa que me obrigasae a ouvi-lo. (Machado de Assis, OC, I, 1.098.) c) uma hipötese, uma conjectura, uma simulacäo: Estaria aü para dar esperanca aos que a tivessem perdtdo? (Maria Judite de Carvalho, AV, 138.) Nas oracöes adverbiais. I. NaS oracöes subordinadas adverbiais o conjunttvo, em geral, näo tern valor proprio. É um mero instrumento sintáctico de emprego regu-lado por certas conjuncöes. Em principio, podemos dizer que o conjuntivo é de regra depois das conjuncöes: a) caus Ais que negam a ideia da causa (näo porque, näo que): Näo que näo quisessc amar, mas amar menos, sem tanto sofrimento. (Lygia Fagundes Teiles, DA, 107.) b) concessivas (embora, ainda que, conquanto, posto que, mesmo que, se bem que, etc.): O povo näo gosta de assassinos, embora inveje os valentes. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 7.) c) flnais (para que, a fim de que, porque) : Para que rudo retomaese a quietude iniciál, e os coelhos se resolves-sem a vir gozar a frcsca, seriam precisas horas, e entäo já näo teria luz. (Miguel Torga, NCM, 64.) verbo- 337 d) temporais, que marcam a anterioridade (antes que, ati que e seme-lhantes): E vai custar muito ate que a pobre assente julzo. (Jos6 Lins do Rego, MR, 227.) Usa-se tambern o conjuntwo, em razäo de ser o modo do eventual e do imaginario, nas: a) oracöes comparativas iniciadas pela hipotetica como se: As perms tremiam-me como se todos os nervos me estivessem gol-peado8. (Camilo Castelo Branco, OS, I, 761.) tética: b) oracöes condicionais, em que a condicäo é irrealizável ou hipo- Ó Morte, dava-te a vida, Se tu lha fosses levari... (Guerra Junqueiro, S, 74.) c) oracöes coNSECunvAs que exprimem «simplesmente uma con-cepgäo, um fim a que se pretende ou pretenderia chegar, e näo uma reali-dade» (Epifánio Dias): — Que quer vomecéř ■— perguntou rudemente, de longe, interrompendo a marcba de modo que ela pudesse chegar até junto dele. (Fernando Namora, TJ, 70.) Tempos do conjuntivo. Dissemos anteriormente que as formas do conjuntivo enunciam a accäo do verbo como eventual, incerta, ou irreal, em depenďěncia estreita com a vontade, a imaginacäo ou o sentimento daquele que as emprega. Por isso, as nocöes temporais que encerram näo säo precisas como as expresses I pelas formas do indicativo, denotadoras de accöes concebidas em sua rea-i lidade. i Feita essa adverténcia, examinemos os principals valores dos tempos * do conjuntivo. breve gramática do portugues contempqráne0 1. O presents do conjuntivo pode indkar um facto: a) piesente: Peaa é que os merunos estejam täo mal providos de roupa. (Otto Lara Resende, SD, 128.) b) futuro: Meus olhos apodrecam se abencoar voce. (Adonias Filho, LP, 140.) 2. O iMPERFEiTo do coNjuNTivo pode ter o valor: a) de passado: Näb havia intencäo que ele näo lhe confessasse, conselho que lhe näo pedisse, (Agustina Bessa Luis, S, 58.) b) de futuro: Alberto era inteligente e se näo se deixasse engazupar, talvez aquilo até lhe fosse um bem... (Ferreira de Castro, OC, I, 87.) f) de presente: Tivesses coracäo, tetias tudo. (Guimaräes Passos, VS, 166.) 3. O PRETERiTO PERFEiTO do conjunttvo pode exprimir um facto: d) passado (supostamente concluldo): Espero que näo a tenha ofendido. (Maria Judite de Carvalho, AV, 109.) b) futuro (terrninado em relacäo a outro facto futuro): Espero que Joäo tenha feito o cxame quando eu voltar. 4. O PRETERiTO mais-que-perfeito do conjunttvo pode indicar: d) uma accäo anterior a outra accäo passada (dentro do sentido even- verbo 339 tual do modo conjuntivo): Esperei-a um pouco, ate que tivesse terrninado sua toilette e pudesscmos sair juntos. (Ciro dos Anjos, DR, 167.) b) uma accäo irreal no passado: Se a vitöria os houvesse coroado com os seus favores, näo lhcs faltaria o aplauso do mundo e a solicitude dos grandes advogados. (Rui Barbosa, EDS, 794.) 5. O futuro do conjuntivo simples marca a eventualidade no futuro, e emprega-se em oracöes subordinadas: d) adverbiais (condicionais, conformativas e temporais), cuja principal vem enunciada no futuro ou no presente: Se quiser, irei ve-lo. Se quiser ve-lo, vä a sua casa. Farei conforme mandares. Faca como souber. Quando puder, passarei por> aqui. Quando puder, venha ver-me. b) adjecttvas, dependentes de uma principal tambem enunciada no futuro ou no presente: Direi uma palavra amiga aos que me ajudarcm. Diga uma palavra amiga aos que o ajudarcm. 6. O futuro do conjuntivo composto indica um facto futuro como terrninado em relacäo a outro facto futuro (dentro do sentido geral do modo conjuntivo) : Quando üverdes acabado, sereis desalojados de vosso precario pouso e devolvidos äs vossas favelas. (Rubem Braga, CCE, 250.) MODO IMPERATrVO EMPREGO DO MODO IMPERATIVO i. Embora a palavra imperativo esteja ligada, pela origem, ao iatim imperare «comandar», näo e para ordern ou comando que, na maioria dos 340 breve gramätica do portugues contemporaneo casos, nos servimos desse modo. Ha, como veremos, outros meios mais efi-cazcs para expressarmos tal nocäo. Quando empregamos o imperattvo, em geral, temos o intuito de exortar o nosso interlocutor a cumprir a accäo indicada pelo verbo. E, pois, mais o modo da exortacäo, do conselho, do convite, do que propriamente do comando, da ordern. 2. Tanto o imperattvo afirmativo como o negativo usam-se somentc em oragöcs absolutas, em oracöes principals, ou em oracöes coordenadas. Ambos podem exprimir: a) uma ordern, um comando: Cala-tc, näo Ihe digas nada. (Carlos de OJiveira, AC, 98.) b) uma exortacäo, um conselho: SS todo em cada coisa. Pöe quanto es No mlnimo que fazes. (Fernando Pessoa, OP, 239.) c) urn convite, uma solicitacäo: Vinde verl Vinde ouvir, homens dc terra estranhal (Olegärio Mariano, TVP, I, 273.) d) uma suplica: Näo me deixes sö, meu filhol... (Luandino Vieira, NM, 82.) 3. Emprega-se tambem o imperattvo para sugerir uma hipötese em lugar de assercöes condicionadas expressas por se + futüro do conjun-Tivo: Suprima a virgula, e o sentido ficarä mais claro. [Sc suprimir a virgula, o sentido ficarä mais claro.] 4. Esses diversos valores dependem do significado do verbo, do sentido geral do contexto e, principalmente, da entoacäo que dermos ä frase imperativa. Por exemplo, numa frase como a seguinte: Saiam da chuva, meninosl (Luis Jardim, AfP, 47.) conforme o torn da voz, a nogäo de comando pode enfraquecer-se at6 chegar ä de süplica. verbo 341 5. Releva ponderar ainda que 0 imperativo 6 enunciado no tempo presente, mas na realidade este «presente do imperativo» tern valor de um futuro, pois a accäo que exprime estä por realizar-se. EMPREGO DAS FORMAS NOMINAIS Caracteristicas gerais. SäO FORMAS NOMINAIS do Verbo O rNFINITIVO, O GERUNDIO e O PARTI CIPIO- Caracterizam-se todas por näo poderem exprimir por si nem o tempo nem o modo. O seu valor temporal e modal esta. sempre em dependencia do contexto em que aparecem. Distinguem-se, fundamentalmente, pelas seguintes peculiaridades: a) o rNFiNrrrvo apresenta o processo verbal em potencia; exprime a ideia da accäo, aproximando-se, assim, do substantivo: Softer por softer, Somente eu sofria. (Cecilia Meireles, OP, 581.) b) o GERUNDIO apresenta o processo verbal em curso e desempenha fungöes exercidas pelo adverbio ou pelo adjectivo: Metendo o barco pela terra dentro, e mesmo possivel ir mais alem. (Miguel Torga, P, 87.) Ouvia-se o cantar de carros de boi, chorando, de muito longe. (Jos6 Lins do Rego, FM, 146.) c) o PARTicfpio apresenta o resultado do processo verbal; acumula as caracteristicas de verbo com as de adjectivo, podendo, em certos casos, receber como este as desinericias -a de fcminjno e -s de plural: Uma das cenas fora filmada numa Ioja do bairro, ampla, bem iluminada, com prateleiras carrcgadas dos mais diversos produtos. (Sttau Monteiro, APJ, 47.) Acrescente-se, ainda, que: a) o infinitivo e o GERUNDIO possucm, ao lado da forma simples, 342 BREVE G RAMATICA DO PQRTUGUES CONTEMPOrAneQ uma forma composta, que exprime a acgäo concluida; apresentam, pois, internamente, uma oposicäo de aspecto: Aspecto näo concluido Aspecto concluido ter lido Infinitivo ler Gerundio lendo tendo lido verbo 343 *) o inftnitivo assume, em portugues, duas formas: uma näo fle-xionada; outta flexionada, como qualquer forma pessoal do verbo; c) o gerundio e invariavel; d) o PARTicfpio näo se flexiona em pessoa. EMPREGO DO INFINITIVO Infinitivo impessoal e infinitivo pessoal. A par do infinitivo impessoal, isto e, do infinitivo que näo tern sujeito, porque näo se refere a uma pessoa gramatical, conhece a lingua portuguesa o inftnitivo pessoal, que tem sujeito proprio e pode ou näo flexionar-se. Assim, era: Se criar e criar-se, cantar e ser. (Emllio Moura, IP, 187.) Ja na fräse: O difScil e cstarmos atentos. (Vergilio Ferreira, NN, 128.) es tamos diante de uma forma do infinitivo pessoal. O infinitivo pessoal flexion ado possui, como dissemos, desinen-cias especiais para as tres pessoas do plural e para a 2.a pessoa do singular. | Emprego da forma näo flexionada. r. O infinitivo conserva a forma näo flexionada: quando i impessoal, ou seja, quando näo se refere a nenhum sujeito: Viver e exprimic-se. (Gilberto Amado, XL, 9.) 2.0) quando tem valor de imperativo: — For mar! —• ordenou o sipaio Jacinto. (Castro Soromenho, V, 197.) 3.0) quando, em frase nominal de acentuado caracter afectivo, tem sentido narrativo ou descritivo (lnflnitivo de narracäo) : Mais dois dias. E Catarina a piorar. (Oscar Ribas, U, 243.) 4.0) quando, precedido da preposicäo de, serve de complemento nominal a adjectivos como facti, possivel, bom, raro e outros semelhantes: Ja näo transitam pelo correio aquelas cartas de letra rruudinha, impos-siveis de ler, gratas de ler, pois derramavas nelas uma intacta ternura... (Carlos Drummond de Andrade, CB, 137.) 5.0) quando, regido da preposicäo a, equivale a um geründio em locu-cöes formadas com os verbos estar, andar,ficar, viver e semelhantes: Andam a montat casa. (Joaquim Pago d'Arcos, CVL, 704.) 2. E tambem normal o emprego do infinitivo näo flexion ado: i.°) quando pertence a uma locucäo verbal e näo estä distanciado do seu auxiliar: Importavam menos as palavras, essas talvez pudcsaem esquecer-se, porque outras se lhes viriam sobrepor e cobri-las, e assirnila-las. (Alves Redol, BC, 57.) 2.0) quando depende dos auxiliares causativos (deixar, mandar, father e sinönimos) ou sensitivos (per, otwir, sentir e sinönimos) e vem imediata-mente depois desses verbos ou apenas separado deles por seu sujeito, expresso por urn pronome obliquo: Deixas correr os dias como as äguas do Paraiba? (Machado de Assis, OC, II, 119.) 344 BREVE GRAMATICA DO PORTUGXJES CQNTEMPOrAnEO Esta viu-os ir pouco a pouco. (Machado de Assis, OC, II, 509.) Neste caso, costuma ocorrer também a forma flexionada, quando entre o auxiliar e o innrutivo se insere o sujeito deste, expresso por substantivo ou equivalente: Domingos mandou os homens levantarem-se. (Castro Soromenho, C, 56.) Finalmente, vlu os trés pastores pcgarem nos alforges e dirigirem-se ao regato, para lavar as mäos. (Ferreira de Castro, OC, I, 404.) E, mais raramente, quando o sujeito é um pronome obliquo: Ele viu-as entrarem, prostrarem-se de bracos estendidos, chorando, e näo se comoveu.,. (Coelho Netto, OS, I, 1328.) Emprego da forma flexionada. O infinittvo assume a forma flexionada: 1. °) quando tem sujeito claramente expresso: Mas o curioso é tu näo perceberes que näo houve nunca «iiusäo» alguma. (Vergilio Ferreira, NN, 312.) 2. °) quando se refere a um agente näo expresso, que se quer dar a conhecer pela desinéncia verbal: — Acho melhor näo fazeres questäo. (Ferreira de Castro, OC, I, 94,) 3.0) quando, na 3» pessoa do plural, indica a mdeterrninacäo do su- jeito: Ouvi dizerem que Maria Jeroma, de todas a mais impressionante, pelo ar desafrontado e pela pintura na cara, ganhara o sertäo. (Gilberto Amado, BMI, 143.) 4.0) quando se quer dar ä fräse maior énfase ou harmonia: Aquelcs homens gotejantes de suor, bébedos de calor, desvairados de verbo 345 insolacäo, / a quebrarem, / a espicacarem, / a torturarem a pcdra, / parc-ciam um punhado de demónios revoltados na sua impotĚncia contra o impas-slvel gigante. (Aluísio Azevedo, C, 66.) Conclusäo. Como vemos, «a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da accäo ou do intuito-ou necessidade de pormos em evidéncia o agente da accäo» (Said Ali). No prirneiro caso, preferiremos o infinitb/o näo flexionado\ no segundo, o flexionado, Trata-se, pois, de um emprego selectivo, mais do terreno da estilistica do que, propriamente, da gramática. EMPREGO DO GERÜNDIO Forma simples e composta. Vimos que o gerúndio apresenta duas formas: uma simples (/endo), outra composta (Undo ou havendo Udo). A forma composta é de carácter perfeito e indica uma accäo concluida anteriormente ä que exprime o verbo da oracäo principal: Näo tendo conseguido dorrnir, fui escaldar um chá na cozinha e dei de cara com a Rosa e a Idalina. (Otto Lara Resende, BD, 112.) A forma simples expressa uma acijäo em curso, que pode ser imediata-mente anterior ou posterior ä do verbo da oracäo principal, ou contempo-ränea dela. Este valor temporal do gerúndio depende quase sempre da sua coloca-cäo na fräse. Gerúndio anteposto ä oracäo principal. Colocado no início do periodo, o gerúndio exprime: a) uma accäo realizada imediatamente antes da indicada na oracäo principal: Ganhando a praca, o engenheiro suspirou livre. (Aníbal M. .Machado, HR, 41.) 34Ö breve gramätica do portugües contemporaneo b) uma acgäo que teve comego antes ou no momento da indicada na oragäo principal e ainda continua: Estalando de dor de cabega, iasone, tenho o coragäo vazio e amargo, (Otto Lara Resende, BD, ji.) Gerundio ao lado do verbo principal. Colocado junto do verbo principal, o geründio expressa de regra uma acgäo simultanea, correspondence a urn adjunto adverbial de modo: Chorou solugando sobre a cabega do cäo. (Castro Soromenho, TM, 203.) Geründio posposto ä oragäo principal. Colocado depois da oragäo principai, o gerundio indica uma acgäo posterior e equivale, na maioria das vezes, a uma oragäo coordenada iniciada pela conjungäo e: As trajectorias recomecaram, processando-se a urn ritmo regular. (Fernanda Botelho, X, ij8.) Geründio antecedido da preposicao em. Precedido da preposigäo em, o gerundio marca enfatkamente a antc-rioridade imediata da acgäo com referenda ä do verbo principal: Em se ihe dando corda, ressurgia nele o tagarela da cidade. (Monteiro Lobato, U, 127.) O geründio na locugao verba!. O geründio combina-se com os auxiliares estar, andar, ir e vir, para marcar diferentes aspectos durativos da acgäo verbal, examinados por n6s ao estudarmos o emprego desses auxiliares. EMPREGO DO PARTICfPIO Elcmento de tempos compostos. O PARTicfpio desempenha importantissimo papel no sistema do verbo verbo 347 com permitk a formagao dos tempos compostos que exprimem o aspecto conclusivo do processo verbal. Emprega-se: a) com os auxiliares ter e haver, para formar os tempos compostos da voz activa: tendo escrito faavia escrito b) com o auxiliar ser, para formar os tempos da voz passiva de acgäo: A carta foi escrita por mim. c) com o auxiliar estar, para formar tempos da voz passiva de estado: Estamos impressionados com a situagäo. Participio sem auxiliar. 1. Desacompanhado de auxiliar, o participio exprime fundamental-mente o estado resultante de uma acgäo acabada: Achada a solugäo do problema, nao mais torturou a cabega. (Afonso Arinos, OC, 456.) 2. O participio dos verbos transitivos tem de regra valor passivo: Lidas uma e outra, procedeu-se äs assinaturas. (Joaquim Pago d'Arcos, CVL, 550.) 3. O participio dos verbos intransitivos tem quase sempre valor activo: Chegado aos pes, olhava-me para cima. (Vergilio Ferreira, NN, 66.) 4. Exprimindo embora o resultado de uma acgäo acabada, o participiu näo indica por si proprio se a acgäo em causa é passada, presente ou futura. Só o contexto a que pertence precisa a sua relagäo temporal. Assim, a mesma forma pode expressar: 348 breve gramática do PORTUGufes CONTEMPORÁNEO a) accäo passada: Aberta uma excepcäo, estávamos peididos. b) accäo presente: Aberta uma excepcäo, estamos pcrdidos. c) accäo futura: Aberta uma excepcäo, estaremos perdidos. Nos casos acima, vemos que a oracäo de particípio tem sujeito dife-rente da principál e estabelece, para com esta, uma relacäo de anterioridade. Mas a relacäo temporal entre as duas oracöes pode ser de simultanei-dade, principalmente se o sujeito for o mesmo: Embaracado, näo consegui chegar ä porta. (Otto Lara Resende, BD, izi.) Encerrados na quinta, Baltasar e Blimunda assistem ao passar dos dias. (Jose Saramago, MC, 19t.) 5. Quando o particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma relacäo temporal, ele' se confunde com o adjectivo: Com a cabeca levantada, olhava o céu. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 156.) O vento enfurecido acoitava a rancharia. (Augusto Meyer, SI, 15.) CONCORDANCE VERBAL 1, A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterioriza-se na concordäncia, isto é, na variabilidade do verbo para con-formar-se ao numero e ä pessoa do sujeito. 2. A concordäncia evita a repeticäo do sujeito, que pode ser indi- verbo HO cado pela flexäo verbal a ele ajustada: Eu acabei por adormecer no regaco de minha tia. Quando acordei, já era tarde, näo vi meu pai. (Aquiline Ribeiro, CRG, 257.) REGRAS GERAIS i. Com um só sujeito. O verbo concorda cm numero e pessoa com o seu sujeito, venha ele claro ou subentendido: A paisagem ficou espiritualizada. Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estráda... (Manuel Bandeira, PP, 70.) 2. Com mais de urn sujeito. O verbo que tern mais de um sujeito (sujeito composto) vai para o plural e, quanto a pessoa, ira: a) para a i.a pessoa do plural, se entre os sujeitos figurar um da 1.» pessoa: So eu e Florencio ficimos calados, a margem. (Ciro dos Anjos, DR, 39.) b) para a 2> pessoa do plural, se, nao existindo sujeito da i.a pessoa, houver um da 2.a: Tu ou os teuB filhos vereis a revolugilo dos espiritos e costumes. (Camilo Castelo Branco, /, I, 21.) c) para a 3.* pessoa do plural, se os sujeitos forem da .3.a pessoa: e a filha chcgaram äs proxim (Fernando Namora, TJ, 227.) Quando o Loas e a filha chcgaram ás proxirnidades da courela, logo se anunciaram. Observacao: Na linguagem corrcnte do Brasil cvitam-sc as formas do sujeito composto que levam o verbo á 2.a pessoa do plural, cm virtude do desuso do tratamento breve gramática do portugués contemp0ráne0 vás e, também, da substituicäo do tratamento tu por vod, na maior parte do pais. Em lugar da 2.a pessoa do plural, encontramos, uma vez por outra, tanto no Brasil como em Portugal, o verbo na j.a pessoa do plural, quando um dos sujeitos é da 2.a pessoa do singulár (tu) e os demais da pessoa: Em que lingua tu e ele falavam? (Rubem Fonseca, C, 35.) — O Pomar e tu os esperam. (Fernando Namora, NM, 242.) CASOS PARTICULARES i. Com um so sujeito O sujeito é uma expressäo partitiva. 1. Quando o sujeito é constituido por uma expressäo partitiva (como: parte de, uma porfäo de, o grosso de, o resto de, metade de e equivalentes) e um substantiv© ou pronome plural, o verbo pode it para o singular ou para o plural: A maior parte deles já näo vai ä fábrical (Bernardo Santareno, TPM, 40.) A maior parte destes quartos näo tinham tecto, nem portas, nem pavimento. (Camilo Castelo Branco, OS, I, 196.) 2. A cada uma destas possibilidades corresponde um novo matiz da expressäo. Deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciar-mos os vários elementos que compoem o todo, O sujeito denota quantidade aproximada. Quando o sujeito, indicador de quantidade aproximada, é formado de um numero plural precedido das expressôes cerca de, mais de, menos de e sirnilares o verbo vai normalmente para o plural: Ainda assim, restavam cerca dc cem viragos... (Joäo Ribeiro, FB, 53.) T / VERBO_;_^____j j 1 Observac3o: Enquanto o sujeito de que participa a expressao menos de dot's leva o verbo ao plural, o sujeito formado pelas expressoes mats de um ou mais que um, segui-das de substantivo, deixa o verbo de regra no singular: Mais de um sujeito cotreu na salvacao do pescoco-pelado. (Jose Candido de Carvalho, CLH, 137.) Emprega-se, porem, o verbo no plural quando tais expressoes vem repetidas, ou quando nelas haja ideia de reciprocidade. Assim: Mais de um velho, mais de uma crianca nao puderam fugit a tempo. Mais de um orador se criticaram mutuamente na ocasiao. O sujeito & o pronome relativo que. 1. O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que concorda em mimero e pessoa com o antecedente deste pronome: Es tu que vais acompanha-lo. (Alves Redol, BC, 343.) 2. Se o antecedente do relativo que 6 um demonstrative que serve de predicativo ou aposto de um pronome pessoal sujeito, o verbo do relativo pode: a) concordar com o pronome pessoal sujeito, principalmente quando o antecedente e o demonstrativo 0 (a, os, as); Nab somos nos os que vamos chamar esses leais companheitos de alern--mundo, ; (Rui Barbosa, EDS, 680.) b) ir para a 3.° pessoa, em concordincia com o demonstrativo, se nao I ha interesse em acentuar a intima relagao entre o predicativo e o sujeito: Fui Essa que nas ruas esmolou E fui a que habitou Pacos Reals... j (Florbela Espanca, S, 103.) I 3. Quando o relativo que vem antecedido das expressoes um dos, uma das (+ substantivo), o verbo de que ele 6 sujeito vai para a 3 .a pessoa do plural ou, mais raramente, para a 3.11 pessoa do singular: Es um dos raros homens que tem o mundo nas maos. (Augusto Abelaira, NC, izi.) 35* breve gramática do portugues contemporáneo Foi um dos poucos do seu tempo que reconheceu a originalidade e importäncia da literatura brasileiia. (Joäo Ribeiro, AC, 326.) Obscrvacäo: O verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relacäo ao qual vem men-cionado, ao contrario do que ocorre se construirmos a oragäo com o verbo no plural. 4. Depois de um dos que (— um daqueles que) o verbo vai normalmente para a 3.» pessoa do plural: Ela passou-se para outro mais decidido, um dos que moravam no quar-tinho dos grandes. (Jose Lins do Rego, T>, 107.) Säo raros exemplos literarios contemporäneos como estes: O hörnern fora um dos que näo resisrira a tal sortilegio. (Fernando Namora, CS, 168.) O bispo de Silves foi um dos que caiu no erro funesto, (Aquilino Ribeiro, PSP, 250.) O sujeito é o pronome relativo quem. 1. O pronome relativo quem constroi-se, de regra, com o verbo na 3.» pessoa do singulár: E näo fui eu quem te salvou? (David Mouräo-Ferreira, I, 91.) 2. Näo faltam, porém, exemplos de bons autores em que o verbo concorda com o pronome pessoal, sujeito da oragäo anterior. Neste caso, pöe-se em relevo, sem rodeios mentais, o sujeito efectivo da accäo expressa pelo verbo: Näo sou eu quem descrevo. Eu sou a tela E oculta mäo colora alguém em mim. (Fernando Pessoa, OP, 55.) Eram os filhos, estudantes nas Faculdades da Bahia, quem os obriga-vam a abandonar os hábitos frugais. (Jorge Amado, GCC, 249.) É csta a construcäo preferida da linguagem populär. verbo 3J3 O sujeito é um pronome intertogativo, demonstrative ou indefinido plural, seguido de de (ou dentré) nás (ou vás). 1. Se o sujeito é formado por algum dos pronomes interrogativos quais? quantos?, dós demonstratives (estes, esses, aquežes) ou dos indefinidos do plural (alguns, muitos, poueos, quaisqner, vários), seguido de uma das expres-sóes de nás, de vás, dentre nás ou dentre vás, o verbo pode ficar na 3." pessoa do plural ou concordar com o pronome pessoal que designa o todo: Quais de vós sois, como eu, desterrados no meio do género humano? (Alexandre Herculano, E, 170.) Muitos de nos andam por ai, querendo puxar conversa com voces. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 163.) 2. Se o interrogativo ou o mdefinido estiver no singular, também no singular deverá ficar o verbo: Quando as nuvens comecaram a existir, qual de nós estava presente? (Cecilia Meireles, OP, 299.) Nenhum de vós, ao meu enterro, Irá mais dándi, olhail do que euí (Antonio Nobre, S, 83.) O sujeito é um plural aparente. Os nomes de lugar, e também os títulos de obras, que tém forma de plural sao tratados como singular, se nao vierem acompanhados de artigo: Mas Vassouras é que nao o esquecerá tao cedo. (Raimundo Correia, PCP, 492,) Comparado, por exemplo, com Agosto As>ul, Regrcssos acusa nalguns capitulos uma hgeira variacSo de timbre. (Urbano Tavares Rodrigues, MTG, 50.) Quando precedidos de artigo, o verbo assume normalmente a forma plural: Os Estados Unidos, entšio, por sua vez, tentam uma demonstragao espectacular. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 308.) 354 breve gramatica do portugués contemporäneo säo. As Memoriae Póstumas de Brás Cubas lhe davam uma outra dimen-(Tbiers Martins Moreira, VVT, 38.) O sujeito é indeterminádo. Nas oracôes de sujeito indeterminádo, já o dissemos, o verbo vai para aj» pessoa do plural: •—Pediram-mc que a procurasse, (Fernanda Botelho, X, 203.) Se, no entanto, a mdeterrninagäo do sujeito for indicada pelo pronome se, o verbo fica na 3.° pessoa do singular: Veio a hora do chá. Depois cantou-se e tocou-se ainda. (Machado de Assis, OC, H, 106.) Concordäncia do verbo ser. r. Em alguns casos o verbo ser concorda com o predicativo. Assim: i.°) Nas oracôes comecadas pelos pronornes interrogativos subs-tantívos que? e quem?: — Que säo seis meses? (Machado de Assis, OC, I, 1041.) Quem teriam sido os primeiros deuses? (Antonio Sergio, E, TV, 245.) 2.0) Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronornes isto, isso, aquilo, tttáo ou o (= aquilo) e o predicativo vem espresso por um substantivo no plural: — Ibío näo säo conversas para ti, pequcna. (Fernando Namora, TJ, 196.) Tal concordäncia explica-se pela tendencia que tem o nosso espírito de preferir destacar como sujeito o que representamos por palavra nocional, pois esta alude a realidades mais evidentes. Mas, neste caso, também näo é rato aparecer o verbo no singular, em concordäncia com o pronome demonstrativo ou com o mdefinido: Tudo era os estudos, brincadeiras. (Luandino Vieira, VE, 49.) verbo 355 Neste exemplo, o escritor, com o singular (isto é, colocando o verbo em concordäncia com o pronome indefinido), procura realgar um con-junto, e näo os elementos que o compôera, a fim de sugerir-nos as dife-tentes realidades transformadas numa só coisa. Atente-se no efeito estilístico provocado pelo contraste de concordäncia neste passo de Camilo Castelo Branca; Há neles muita lágrima, e o que näo é lágrimas säo algemas. 3.0) Quando o sujeito é uma expressäo de sentido colectivo como o resto, o mats: O mais säo casas espatsas. ■(Carlos Dmmmond de Andrade, C A, 73.) 4.0) Nas oragôes impessoais: Säo duas horas da noite. (Antonio Botto, AO, 141.) Observacao: Empregados com referencia as horas do dia, os verbos dar, bater, soar e sinó-nimos concordam com o numero que indica as horas: Soaram doze horas por igrejas daqueles vales. (Camilo Castelo Branco, QA, 163.) Quando há o sujeito relógio (ou sino, sineta, etc.), o verbo naturalmente concorda com ele: O sino da Matrfss bateu seis horas. (Augusto Meyer, P, 159.) 2. Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo nor-malmente concorda com ele, qualquer que seja o numero do predicativo: Ovídio é muitos poetas ao mcsmo tempo, e todos excelentes. (António Feliciano de Castilho, AO, 25.) Todo eu eta olhos e coracäo. (Machado de Assis, OC, 1, 742.) 3. Quando o sujeito é constituído de urna expressäo numérica que sc breve gramática do portugués contemporáneo verbo 357 considers em sua totalidade, o verbo ser fica no singular: Oito anos sempre e alguma coisa. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 146.) 4. Nas frases em que ocorre a locucao invariavel / que, o verbo concorda com o substantivo ou pronome que a precede, pois sao eles efectivamente o seu sujeito: Tu e que deves escolher o skio. (Alves Redol, BC, 543.) 2. Com mais de um sujeito Concordancia com o sujeito mais prbximo. Vimos que o adjectivo que modifica varios substantivos pode, em certos casos, concordar com o substantivo mais proximo. Tambem o verbo que tern mais de um sujeito pode concordar com o sujeito mais pr6ximo: a) quando os sujeitos vem depois dele: Que te seja propicio o astro e a flor, Que a teus pes se incline a Terra e o Mar. (Florbela Espanca, S, 163.) b) quando os sujeitos sao sin6nimos ou quase sinonimos: O amor e a admiracao nas criancas compraz-se dos extremos. (Aquilino Ribeiro, CRG, 86.) c) quando ha uma enumeracao gradativa: A mcsma coisa, o mcsmo acto, a mcsma palavra provocava ora risadas, ora castigos. (Monteiro Lobato, N, 4.) d) quando os sujeitos sao interpretados como se constituissem em con-junto uma qualidade, uma atitude: A grandeza e a significacao das coisas resulta do grau de transcen-dencia que enccrram. (Miguel Torga, TU, 63.) Sujeitos resumidos por um pronome indefinido. Quando os sujeitos sao resumidos por um pronome indefinido (como Iiido, nadá, ninguém), o verbo fica no singular, em concordancia com esse pronome: O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho. (Raquel de Queirós, TR, 15.) A mesma concordancia se faz quando o pronome anuncia os sujeitos: Tudo o fazia lembrar-se dela: a manha, os pássaros, o mar, o azul do céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobretudo as fontes, principalmente as fontes. (Almada Negreiros, NG, 112.) Sujeitos representantes da mesma pessoa ou coisa. Quando os sujeitos, por palavras diferentes, representam uma só pessoa ou uma só coisa, o verbo fica naturalmente no singular: A Ideia, o sumo Bern, o Verbo, a Essěncía, Só se revela aos homens e as nagoes No céu incorruptível da Consciěncia I (Antcro de Quental, SC, 62.) Sujeitos ligados por ou e por mm. 1. Quando o sujeito composto é formado de substantivos no singular ligados pelas conjuncoes ou ou mm, o verbo costuma ir: a) para o plural, se o facto expresso pelo verbo pode ser atribuido a todos os sujeitos: Por muito que o tempo ou a paisagem se repetisscm, cssa teimosia apenas a aproximava da harmonia caprichosa da paisagem da sua infáncia. (Fernando Namora, TJ, 301.) Nem a monotonia nem o tédio a fariam capitular agora. (Ciro dos Anjos, M, 235.) b) para o singular, se o facto expresso pelo verbo só pode scr atribuido 3J8 breve gramática do portugués contemporaneo verbo 359 a um dos sujeitos, isto é, se hi ideia de alternativa: Fui devagar, mas o pé ou o espelho traiu-me. (Machado de Assis, OC, I, 763.) Nem tormenta nern tormento nos poderia paiar. (Cecilia Meireles, OP, 141.) 2. Nota-se, porém, na linguagem coloquial uma tendéncia de anular tais distincoes, principalmente quando os sujeitos estao ligados pela con-juncao nem. Encontra-se frequentemente o plural onde setia de esperar o singular. Assim: Nem Joao nem Carlos serao eleitos presidente do clube. O cargo de presidente é exercido por um só individuo. Logo, o verbo deveria marcar a alternáncia. Outras vezeš, faz-se a concordáncía com o sujeito mais proximo, embora a accao se refira a cada um dos sujeitos. Assim: Nem o sol, nem o vento, nem o ruído das águas, nem mesmo a preocupacáo de que eu pudesse persegui-los, pertutbava o aconchego. (Dinah Silveira de Queirós, EHT, 53.) 3. Se os sujeitos ligados por ou ou por nem nao sao da mesma pessoa, isto é, se entre eles ha algum expresso por pronome da i.a ou da z.a pessoa, o verbo irá normalmente para o plural e para a pessoa que tiver precedéncia. Ou ela ou eu havemos de abandonar para sempře esta casa; e isto hoje mesmo. (Bernardo Guimaraes, EI, 56.) Nem tu nem eu soubemos ser nós uma única vez. (Augusto Abelaira, B, 122.) 4. As expressoes um ou outro e nem um nem outro, empregadas como pronome substantivo ou como pronome adjectivo, exigem notmalmente o verbo no singular: Um ou outro porco era cevado e as salgadeiras de Corrocovo suaviza-ram o inverno. (Carlos de Oliveira, CD, 96.) Nem um nem outro havia idealizado previamcnte este encontro. (Tasso da Silveira, SC, zzo.) Nao é rara, porém, a construcäo com o verbo no plurál quando as expressoes se empregam como pronome substantivo: Nem um nem outro desejavam questionar. (Joaquim Pago d'Arcos, CVL, 1x45.) A locucäo um e outro. A locucäo um e outro pode levar o verbo ao plurál ou, com menos fre-quéncia, ao singulár: Um e outro é sagaz e pressentido. Um e outro aos ladrôes declaram guerra. (Antonio Feliciano de Castilho, F, III, 19.) Sujeitos ligados por com. Quando os sujeitos vém unidos pela partícula com, o verbo pode usar--se no plurál ou em concordáncia com o primeiro sujeito, segundo a valo-rizacäo expressiva que dermos ao elemento regido de com. Assim, o verbo irá normalmente: d) para o plurál, quando os sujeitos estäo em pé de igualdade, e a partícula com os enlaca como se fosse a conjuncäo e: O mestre com o boleeito fizeram a emenda. (Jose Lins do Rego, FM, 94.) b) para o numero do primeiro sujeito, quando pretendemos realcá-lo em detrimento do segundo, reduzido ä condicäo de adjunto adverbial de companhia: A viúva, com o resto da família, mudara-se para Vila Isabel, desde o rompimento. j (Ribeiro Couto, NC, 71.) Sujeitos ligados por conjungäo comparativa. j Quando dois sujeitos estäo unidos por urna das conjuncôcs comparati- breve g ra máti ca do' portuguěs contemporäneo vas como assim como, bem como e equivalentes, a concordända depende da intcr-pretagäo que dermos ao conjunto: Assim, o verbo concordarä: a) Com o primeiro sujelto, se quisermos destaca-lo: O nome, como o corpo, e nos tambem. (Vergilio Ferreira, A, zo.) Neste caso, a conjuncäb conserva pleno o seu valor comparativo; e o segundo termo vem enunciado entre pausas, que se marcam, na escrita, por virgulas. b) Com os dois sujeitos englobadamente (isto e: o verbo irä para o plural), . se os considerarmos termos que se adicionam, que se reforcam, intetpretacäo que normalmente damos, por exemplo, a estruturas correlativas do tipo tanto... como: ß inutil acrescentar que tanto ele como eu esperamos que voce nos de sempre notidas. (Ribeiro Couto, C, 202.) Entre os sujeitos näo liä pausa; logo, näo devem ser separados, na.escrita, por virgula. De modo semelhante se comportam os sujeitos ligados por uma serie aditiva enfatica (näo so... mas [senao ou como]- tambem): Qualquer se persuadirä de que näo s6 a nacäo mas tambem o principe estariam pobres. (Alexandre Herculano, HP, III, 303.) REGENCIA Em geral, as palavras de uma oracäo säo interdependentes, isto e, rela-cionam-se entre si para formar um todo significativo. Essa relacäo necessaria que se estabelece entre duas palavras, uma- das quais serve de complemento a outra, e o que se chama regen Cia. A pala-vra dependente denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente. As relacöes de regencia podem ser indicadas: ; d) pela ordern por que se dispöem os termos na oracäo; verbo___3Ó1 b) pelas preposicöes, cuja fiincäo é justamente a de ligar palavras esta-belecendo entre elas um nexo de dependéncia; c) pelas conjuncöes subordinativas, quando se trata de um periodo composto. Em outros capitulos deste livro, estudamos parceladamente tais relacöes: complementos pedidos por substantivos, por adjectivos, por verbos, por advérbios e, mesmo, por oracöes. Procuraremos, agora, precisar melhor as formas que assume a regéncia verbal. Regéncia verbal, 1. Vimos que, quanto ä predicacäo, os verbos significativos se divi-dem em intransitivos e transitivos. Os iNTRANsrrrvos expressam uma ideia completa: A crianca dormiu. Pedro viajou. Os TRANSiTrvos, mais numerosos, exigem sempře o acompanhamento de uma palavra de valor substantivo (objecto directo ou indirecto) para integrar-lhes o sentido: O menino comprou um livro, O velho carecia de roupa. Pedro deu um presente ao amigo. 2. A ligacäo do verbo com o seu complemento, isto é, a regéncia verbal, pode, como nos mostram os exemplos acima, fazer-se: a) directamente, sem uma preposifäo intermedia, quando o complemento é OBJECTO directo. b) indirectaniente, mediante o emprego de uma preposicäo, quando o complemento é objecto dšidirecto. Diversidade e igualdade de regencia. Verbos hl que admitem mais de uma regéncia. Em geral, a diversidade de regéncia corresponde a uma variacao significativa do verbo. Assim: Aspirar [= sorver, respirar] o ar de montanha. Aspirar [= desejar, pretender] a um alto cargo. 36z BREVE GRAMATrCA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Alguns verbos, no entanto, usam-se na mesma acepcäo com mais de uma regencia. Assim: Meditar num assunto. Meditar sobre um assunto. Outtos, fmalmente, mudam de significacäo, sem variar de regencia. Assim: Carecer [— näo terj de dinheiro. Carecer [= precisar] de dinheiro. Observacao: No estudo da regencia verbal cumpre näo esquecer os seguintes factos: i.° O objecto indirecto so näo vem preposicionado quando 6 expresso pelos pronomes pessoais obliquos me, te se, Ibe, nos, vos e Ibes. z.° Somente as preposicöes que ligam complementos a um verbo (objecto indirecto) ou a um nome (comflemento nominal) estabelecem relagöes de regencia. For isso, convem distingui-las, com clareza, das que encabecam adjuntos adverbiais ou adjuntos adnominais. 3.0 Os verbos intransitivos podem, em certos casos, ser seguidos de objecto dire cto. De regra, isso se da quando i 0 substantivo, niicleo do objecto, e formado da mesma raiz ou contem o sentido fundamental do verbo. Exemplos: Viver uma vida alegre, Chorar lägrimas de amargura. 4.0 Tambem verbos Transitivos costumam scr usados intransitivamentc: O pior cego e o que näo quer ver. Ele e manhoso: näo afirma nem nega. 5.° Muitas vezes, a regencia de um verbo estende-se aos substantives e aos adjectivos cognatos: Obedecer ao chefe. Contentar-se com a sorte. Obediencia ao chefe. Contentamento com a sorte. Obediente ao chefe Contente com a sorte. SINTAXE DO VERBO HAVER >. / O verbo haver, conforme o seu significado, pode empregar-se em todas as pessoas ou apenas na 3 .a pessoa do singular. i. Emprega-se em todas as pessoas: verbo 363 a) quando e auxiliar (com sentido equivalente a (er) de verbo pes-soal, quer junto a participio, quer junto a infinitivo antecedido da pre-posicäo de: Tambem a mim me häo ferido. (Jose Regio, F, 56.) Outros haveräo de ter O que houvermos de perder. (Fernando Pessoa, OP, 17.) b) quando e verbo principal, com as significacöes de «conseguir», «obter», «alcancar», «adquirir»: Donde houveste, 6 pelago revolto, Esse rugido teu? (Goncalves Dias, PCPE, 191.) e) quando e verbo principal, com a forma reflexa, nas acepcöes de «portar-se», «proceder», «comportar-se», «condu2ir-se»: Talvez passasse por eima de tudo, da maneira como ele a tratara, da dureza com que se houvera e se lembrasse de que ele era o seu pai. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 702.) d) quando e verbo principal, tambem com a forma reflexa, no sentido de «entender-se», «avir-se», «ajustar contas»: O mestre padeiro, que era do mesmo sangue do paträo, que se hou-vesse com ele. Qose Lins do Rego, MR, 34.) e) quando e verbo principal, acompanhado de infinitivo sem pre-posicäo, com o senrido equivalente a «ser possivel»: Näo ha negä-Io, o apito e de uso geral e comum. (Machado de Assis, OC, III, 536.) 2. Emprega-se como impessoal, isto e, sem sujeito, quando significa «existir», ou quando indica tempo decorrido. Nestes casos, em qualquer tempo, conjuga-se täo-somente na 3-a pessoa do singular: Ha trovoadas em toda a parte... (Miguel Torga, V, 158.) }64 breve gramática do por.tugues contemporáneo / ._Há dois dias que näo vem trabalharl (Luandino Vieira, NM, 129.) 3. Quando o verbo haver exprime existencia e vem acompanhado dos auxiliares ťr, dever,poder, etc., a locucäo assim formada é, naturalmente, impes-' soal. — Eu näo sei, senhor doutor, mas deve haver leis. (Eca de Queirós, O, I, 164.) Podia haver complicacöes, quem sabe? (Ciro dos Anjos, M, 193.) Observacäo: O verbo haver, quando sinönimo de existir, conströi-se de modo diverso deste. Nesta acepgäo, haver nab tern sujeito e e transitivo dirccto, sendo o seu objecto o nome da coisa existente ou, a substitul-lo, o pronome pessoal 0 (a, lo, la). Existir, ao contrario, e intransitivo e possui sujeito, expresso pelo nome da coisa existente. Dir-se-ä, pois: Ha tantas folhas pelas caicadasl Existent tantas folhas pelas caicadasl 14. Advérbio i. O advérbio é, fundamentalmente, um modificador do verbo: O almoco decorria agora lentamente. (Arnaldo Santos, K, 103.) a. A essa funcäo básica, geral, certos advérbios acrescentam outras que lhes säo privativas. Assim, os chamados advérbios de intensidade e formas semantica-mente correlatas podem reforcar o sentido: a) de um adjectivo: Antes de partir, teve com o padre uma derradeira conversa, muito edi-ficante e vasta. (Guimaräes Rosa, S, 346.) b) de um advérbio: O hörnern caminhava muito devagar. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 156.) 3. Saliente-se ainda que alguns advérbios aparecem, näo raro, modifi-cando toda a ora$äo:1 Possivelmente, näo haverá ceia este ano. (Vergllio Ferreira, A, 137.) Neste ultimo emprego, vem geralmente destacados no início ou no fim da oraeäo, de cujos termos se separam por uma pausa nitida, marcada na escrita por virgula. É o que a Nomenclatura Grsmatical Portiiguesa cháma advérbios de ORA9I0. brevb gramätica do portugues contemporaneo Claesiflcacao dos adverbios. Os adverbios recebem a denominagao da circunstáncia ou de outra ideía acessória que expressam. A Nomenclature Gramatical Brasileira distingue as seguintes espécies: a) adverbios de afirmacao: situ, certamente, efectivamente, realmente, etc.; b) adverbios de dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quifd, talvex, etc.; c) adverbios de intensidade: assa%, bastante, bem, demais, mats, menos, muito, pouco, quanto, quao, quase, tanto, too, etc.; d) adverbios de lugar; abaixo, acima, adiante, at, aíém, alt, aqtiim, aqui, atrás, através, cá, defronte, dentro, detrás, fora, junto, lá, longe, onde, ptrto, etc.; e) adverbios de modo: assim, bem, debalde, depressa, devagar, mal, melhor, pior e quase todos os terminados em -mente: fielmente, levemente, etc.; f) advérbio de negacáo'. nSo; g) adverbios de tempo: agora, ainda, amanba, anteontem, antes, breve, cedo, depots, entao, boje, já, jamais, logo, ntmca, ontem, outrora, sempre, tarde, etc. A Nomenclature. Gramatical Portuguesa acrescenta a essa lišta trés outras espécies: a) adverbios de ordem; primeiramente, ultimamtnte, depots, etc.; • b) adverbios de exclusao e c) adverbios de designacao. Os dois últimos foram incluidos pela Nomenclatura Gramatical Brasileira num grupo á parte, inominado, em razao de nao apresentarem as caracterisricas normais dos adverbios, quais sejam as de modificar o verbo, o adjectivo ou outro advérbio. Deles trataremos adiante sob a denominagao de palavras denotativas. Adverbios interrogativos. Por se empregarem nas interrogagoes directas e mdirectas, os seguintes adverbios de causa, de lugar, de modo e de tempo sao chamados interro-gattvos: a) de causa: por que? Por que nao vieste á festa? Nao sci por que nao vieste á festa. advérbio b) de lugar: onde? Onde esta o livro? Ignoro onde estä o livro. c) de modo: como? Como vais de saude? Dize-me como vais de saüde. d) de tempo: quando? Qiiando voltas aqui? Quero saber quando voltas aqui. Adverbio relative Como dissemos na pagina 351, o tcfotivo ■ onde, por desempenhar nor-malmente a fungäb de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), e considerado por alguns gramäticos adverbio relattvo, designacao que näo consta d- Nomenclatura Gramatical Brasileira, mas que foi acolhida pela Portuguesa. Locugäo adverbial. i. Denomina-se locucäo adverbial o conjunto de duas ou mais palavras que funciona como adverbio. De regra, as locucöes adverbiais formam-se da associaeäo de uma preposigäo com um substantivo, com urn adjectivo ou com urn adverbio. Assim: Fernanda sorriu em silencid. (Erico Verlssimo, LS, 133.) Sorrindo mais, obedeceu de novo. (Ferreira de Castro, OC, I, 4.) — Vou comegar por aqui!... (Manuel da Fonseca, SV, 133.) Mas bä formagöes mais complexas, como: O cachimbo de ägua passou de mäo em m3o. (Castro Soromenho, V, 205.) Respondi-lhc que aquilo devia ser alguma idcia de minha mulher, que de vcz em quando tern uma. (Rubem Braga, CCE, 97.) 3Ó8 BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUÍtS CONTEMPORÁNEO ADVÉRBIO 369 Só de longe em longe se ouvia, vindo das muralhas, o grito de ronda dos soldados. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 184-5.) 2. A semelhanca dos advérbios, as locucöes adverbiais podem ser: a) de afirmacäo (ou dúvida): com certe^a, por certo, sem dúviaa: Atente-se na distincäo: Com certeza [= provavelmente] ele virá. Ele virá com certeza [<= com seguranca]. h) de intensidade: de muito, depouco, de todo, etc.; c) de ldgar: ä direita, ä esquerda, ä dištancia, ao /ado, de dentro, de cima, de longe, de perto, em cima, para dentro, para onde, por ali, por aqni, por dentro, porfora, por onde, por perto, etc.; d) de modo: ä loa, a vontade, ao contrario, ao Uu, äs avessas, äs ciaras, äs direitas, äs pressas, com gosto, com amor, de bom grado, de cor, de má vontade, de regra, em geral, em siléncio, em v3o, gota a gota, passo apasso, por acaso, etc.; e) de negacäo: de forma alguma, de modo nenhum, etc.; f) de tempo: ä noite, ä tarde, ä tardinba, de dia, de manbä, de noite, de qiiando em quando, de ve% em quando, de temps em (a) tempos, em breve,pe!a manbä, etc. Observacäo: Quando 11m preposicäo vem antes do advérbio, nio muda a natureza deste; forma com ele uma locucäo adverbial: de dentro, por detrás, etc. Se, ao contrario, a preposicäo vem depots de um advérbio ou de uma locugäo adverbial, o grupo inteiro transforma-se numa locucäo preposittva: dentro de, por detrás de, etc. Colocacäo dos advérbios. x. Os advérbios que modificam um adjectivo, um particípio isolado, ou um outro advérbio colocam-se de regra antes destes: Invejei o noivo, täo alegre, täo amável, a grossa gargalhada a irromper a cada instante. (Graciliano Ramos, C, 156.) Muito apressado, num visivel nervosismo, veio de casa até ali. (Manuel da Fonseca, SV, 193.) — O teu pai esti muito mal. (Castro Soromenho, TM, 206.) 2. Dos advérbios que modificam o verbo: a) os de modo colocam-se normalmente depois dele: Ela ouvia-o atentamente. (Almada Negreiros, NG, 61.) b) os de tempo e de lugar podem colocar-se antes ou depois do verbo: De manhä, acordei cedo. (Machado de Assis, OC, IT, 537.) Hei-de atirar com esse tipo de cá para fora. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 683.) Cá fora era noite. (Luandino Vieira, VVDX, 73.) c) o de negacäo antecede sempře o verbo: — Entäo näo se cava a terra?... näo se lavra?... näo se aduba?... näo se semeia?... (Aquilino Ribeiro, CRG, 66.) 3. O realce do adjunto adverbial é expresso de regra por sua anteci-pacäo ao verbo: Rapidamente Gertrudes riscou um fósforo e acendcu duas velas. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 54.) Lá fora, na rua, um bonde passou com estrépito. (Fernando Sabino, EM, 83.) Repeticäo de advérbios em -mente. 1. Quando numa fräse dois ou mais advérbios em -mente modificam a mesma palavra, pode-se, para tornar mais Ieve o enunciado, juntar o sufixo apenas ao ultimo deles: É longa a .estráda... Aos rispidos estalos breve gramattca do portugués contemporaneo Do impaciente lätego, os cavalos Correm veloss, larga e fogosamente... (Raimundo Correia, PCP, 123.) 2. Se, no entanto, a intengäo e" realgar as circunstäncias expressas pelos advdrbios, costuma-se omitk a conjuncäo e e acrescentar o sufixo a cada um dos adverbios: De repente, pus-me de p6 e aproximei-me lcntamente, ritmadamente, voluptuosamente, da janela. (Fernando Namora, RT, 169.) GRADACÄO DOS ADVERBIOS Certos adverbios, principalmente os de modo, säo susceptlveis de gra-dacäo. Podem apresentar um comparativo e um superlativo, formados por processos analogos aos que observamos na flexäo correspondente dos adjectivos. Grau comparativo. Forma-se o comparativo: a) de süperioridade — antepondo mais e pospondo que ou do que ao advdrbio: O filho andava mais depressa que (ou do que) o pai. b) de igualdade — antepondo täo e pospondo como ou quanto ao advdrbio: O filho andava täo depressa como (ou quanto) o pai. (?) de tnferioridade — antepondo menos e pospondo que ou do que ao adverbio: O pai andava menos depressa do que (ou que) o filho. Grau superlativo. Forma-se o superlattvo absoluto: d) sintecttco — com o acrescimo de sufixo: muitlssimo pouquissimo adverbio sendo de notar que nos advérbios em -mentě esta terminacäo se pospöe ä forma superlativa feminina do adjectivo de que se deriva o advérbio: Superlativo Adjectivo lento lentlssimo Advérbio lentamente lentišsimamente b) analittco — com a ajuda de um advérbio indicador de excesso: — Fizeste bera mal, muito mal mesmo — repreendeu Elrnira. -(Antonio de Assis Junior, SM, 205.) Outras formas de comparativo e superlativo. 1. Melbor e pior podem ser comparattvos dos adjectivos bom e mau e, tambem, dos adverbios bem e mal. Neste caso säo, naturalmente, invariaveis: Quem escreveu melhor? Quem escreveu bem no Brasil? (Graca Aranha, OC, 708.) ■—E o professor näo estaria aqui pior? (Fernanda Botelho, X, 150.) 2. A par dessas formas anömalas, existem os comparativos reguläres mais bem e mais mal, usados, de prefer£ncia, antes de adjectivos-participios: As paredcs da sala es täo mais bem pintadas que as dos quartos. Näo pode haver vim projecto mais mal executado do que este. Advirta-se, porern, que na posposicäo so se empregam as formas sin-teticas: As paredes das salas estäo pintadas melhor que as dos quartos. Näo pode haver um projecto executado pior do que este. 3. No superlattvo absoluto sintectico, bem apresenta a forma optirnamente; e mal, a forma pessimamente: Maria estä passando optirnamente. O cavalo correu pessimamente. 4. Muito e pouco, quando adverbios, fem como comparativos mais c menos, c como superlativos 0 mais ou muitlssimo e 0 menos ou pouquissimo, BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS c0ntemporane0 / respectivamente: _Dom Juan, quando menos pensava, lá se foi para as profundas do Inferno. (Artur Azevedo, CFM, 9.) — Imagiha tu que a Clara tem um tipo encantador, que a trata muitía-simo bem e que... que... a ajuda... (Sttau Monteirb, APJ, 138.) Esse tipo de publicacäo, pouquíssimo difundido entre nós, é todavia da maior importäncia e largamente praticado em outros palses. (Emanuel Pereira Filho, in TPB, de Gindavo, 13.) O certo é que tinha em mente gastar o menos posBÍvel com o enterro. (Aquilino Ribeiro, V, 368.) 5. O superlattvo iNTENSivo, denotador dos limites da possibilidade, forma-se antepondo 0 mais ou 0 menos aó advérbio e pospondo-Ihe a pala-vra possivel ou urna expressäo (ou oracäo) de sentido equivalente: O administrador ia o mais depressa possivel. (Castro Soromenho, TM, 181.) —Näo quero saber dos santos óleos da teológia; desejo sair daqui o mais cedo que púder, ou já... (Machado de Assis, OC, I, 794.) Diminutivo com valor superlative Na linguagem coloquial 6 comum o advérbio assumir urna forma dimi-nutiva (com os sufixos -inbo e -vgnhô), que tem valor de superlattvo: Vem cedinho, vem logo que amanhecal (Eugénio de Castro, UV, 59.) Advérbios que näo se flexionam em grau. Como sucede com alguns adjectivos, há advérbios que näo se flexionam em grau porque o proprio signiöcado näo admite variagäo de intensidade. Entre outros, apontem-se: aqui, ai, ali, lá, boje, amanhä, diariamente, anmlmente e formacöes semelhantes. PALAVRAS DENOTATIVAS2 i. Certas palavras, por vezes enquadradas imptopriamente entre os 2 A denominaeäo palavras dbnotattvas foi ptoposta pelo professor Jose Oiticica APyJKRIO_____373 advérbios, passaram a ter, com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, classifi-cacäo ä parte, mas sem nome especial. Säo palavras que denotam, por exemplo: a) inclusäO: até, inclusive, mesmo, t'ambém,(etc.: Tudo na Vida engana, até a Glória. (Antonio Nobre, D, 114.) b) exclusäo: apenas, salvo, senäo, só, somente, etc.: Da família só elas duas subsistiarn. (Josué Montelio, DP, 382.) c) design acäo : eis: Eis o dia, eis o Sol, o esposo amadol (Antero de Quental, SC, 4.) d) realce: cd, lá, é que, so, etc.: Eu ca tenho mais medo do sol que dos leôes. (Castro Soromenho, C, 204.) e) recttficacäo: alias, ou antes, isto é, ou melbor, etc.: — Sinto que ele me escapa, ou mclhor: que nunca me pertenceu. (Augusto Abelaira, CF, 226.) f) srruACAo: afinal, agora, entäo, mas, etc.: — Afinal, ela näo tem culpa de set filha de ministro. (Fernando Sabino, EM, 85.) 2. Como vemos, tais palavras näo devem set incluidas entre os advérbios. Näo modificam o verbo, nem o adjectivo, nem outro advérbio. Sao por vezes de classificacäo extremamente dificil. Por isso, na análise, convém dizer apenas: «palavra ou locucäo denotadora de exclusäo, de realce, de rcctÍficacäo», etc. 3. A Nomenclatura Gramatical Portuguesa admite a existencia dos advérbios de exclusäo e de inclusäo e considera advérbios de oracäo o que, neste Capítulo, denominamos palavras denotattvas de situacäo. em seu Manual dl anälitt (lixica 1 sintdtiia), 6.» cd. refundida. Rio de Janeiro, Francisco Alvcs, 1942, p. 50-55. Ä falta de uma designacao mais,precisa c mala generalizada, adoptamos proviso-riamente esta, embora icconheccndo que «denotar» c proprio das unidades lciicais cm geral. 15. Preposicao fREPOSICAO 37J Funcao das preposicSes. Chamam-se preposicoes as palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oragáo, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedents) é explicado ou completado pelo segundo (consequente). Assim: Antecedente Vou Chegaram Todos salram Chorava Estive Concordo Preposicao a a de de com com Consequente Roma tempo casa dor Pedro vocě Forma das preposicoes. Quanto á forma, as preposicoes podem ser: a) simples, quando expressas por um só vocábuio; b) compostas (ou lococoes PREPOSiTTVAs), quando constituídas de dois ou mais vocábulos, sendo o ultimo deles uma preposicao simples (geralmente de). Preposicoes simples. As preposicoes simples säo: a ante após até com contra de dcsdc em entrfe para perantc por (per) sem sob sobre trás Tais preposicoes denomínam-se também essenciais, para sc distin-guirem de certas palavras que, pertencendo normalmente a outras classes, funcionam ás vezes como preposigoes e, por isso, se dizem preposicoes acidentais. Assim: afora, conforme, consoante, durante, excepto, fora, mediante, menos, nSo obstante, salvo, segundo, sendo, Hrante, visto, etc. LocucSes prepositivas. Eis algumas locucöes preposittvas: abaixo de acerca de acima de a despeito de adiante de a firn de alem de antes de ao lado de ao redor de a par de apesar de a respeito de aträs de através de de acordo com debaixo de de ciffla de defronte de dentro de depois de diant" de era baixo de em cima de em freute a em freute de em lugar de em redor de em torno de em vcz de gragas a junto a junto de para baixo de para cima de para com perto de por baixo de por causa de por cima de por detrás de por diante de por entre por trás de Significagäo das preposigöcs. 1. A relagäo que se estabelece entre palavras ligadas por intermédio de preposicao pode implicar movimento ou nao movimento; melhor dizendo: pode exprimir um movimento ou uma situagäo dai resultante. Nos exemplos atrás mencionados, a ideia de movimento está presente em: Vou a Roma. Todos sairam de casa. Säo matcadas pela auséncia de movimento as relagöes que as preposicoes a, de e com estabelecem nas seguintes frases: Chegaram a tempo, Chorava de dor. Estive com Pedro. Concordo com voce. 2. Tanto o movimento como a situacäo (tcrmo que adoptaremos daqui por diante, para indicar a falta de movimento na relagäo cstabelccida) 376 b reve gramáttca do portugués contemporaneo podem ser considerados em referencia ao espaco, ao tempo e ä nocäo. A preposicäo de, por exemplo, estabelece urna relacäo: d) espacial em: Todos saíram de casa. b) temporal em: Trabalha de 8 äs 8 todos os dias. c) nocional em: Chorava de dor. Livro de Pedio. Nos trés casos a preposicäo de relaciona palavras ä base de urna ideia centrál: «movimento de afastamento de um limite», «proceděncia». Em outros casos, mais raros, predomina a nocäo, dal derivada, de «situacäo longe de». Os matizes significativos que esta preposicäo pode adquirir em contextos diversos derivaräo sempře desse conteúdo significativo fundamen-tal e das suas possibilidades de apHcacäo aos campos espacial, temporal ou nocional, com a presenca ou a auséncia de movlmento. 3. Na expressäo de relacôes preposicionais com ideia de movimento considerado globalmente, importa levar em conta um ponto limite (A), em referencia ao qual o movimento será de aproximacäo (B -> A) ou de afastamento (A->C): B -> C Vou a Roma. Trabalharei até amanhä. Foi para o Norte. Venho de Roma. Estou aqui desde ontem. Saíram pela porta. 4. Recapitulando e sintetizando, podemos concluií que, embora as preposicöes apresentem grande variedade de usos, bastante diferenciados no discurso, é possível estabelecer para cada urna delas urna significa$äo fundamental, marcada pela expressäo de movimento ou de situacäo resultante íauséncia de movimento) e aplicável aos campos espacial, temporal e nocional. / / PREPOSICÄO 377 Esquematizando: ] CQNTBtJOO SIGNIFICATTVO FUNDAMENTAL | MOVIMENTO ESPACOJ TEMPO j NOCÄof situacäo Esta subdivisäo possibiüta a anilise do sistema fundonal das preposicöes em portugucs, sem que predsemos levar em conta os variados matizes significativos que podem adquirk em decorrencia do contexto em que vern inseridas. Conteüdo significativo e funcäo relational. r. Q>mparando as frases: Viajei com Pedro. Concordo com voce. observamos que, em ambas, a preposicäo com tem como antecedcnte uma forma verbal (viajei e concordo), ligada por ela a um consequente, que, no primeiro caso, 6 um termo acessörio. (com Pedro = adjunto adverbial) e, no segundo, um termo integrante (com vocS = objecto indirecto) da oracäo. 2. A preposicäo com exprime, fundamentalmente, a ideia de «assoda-cäo», «companhia». E esta ideia bäsica, sentirao-Ia muito mais intensa no primeiro exemplo: Viajei com Pedro, do que no segundo: Concordo com voofi. Aqui o uso da particula com apös o verbo concordar, por ser construgäo ja 378 breve gramatica do portugues contemporäneo fixada no idioma, provoca um esvaecimento do conteüdo significativo de «associacäo», «comparihia», em favor da funcäo relacional pura. 3. Costuma-se nesses casos desprezar o sentido da preposicäo, e con-siderä-la um simples elo sintäctico, vazio de conteüdo nocional. Cumpre, no entanto, salientar que as relacöes sintacticas que se fazem por intermedio de preposicäo obrigatöria seleccionam deterrninadas preposicöes exactamente por causa do seu significado basico. Exemplificando: O verbo concordar elege a preposicäo com em virtude das afinidades que existem entre o sentido do proprio verbo e a ideia de «associacäo» inerente a com. O objecto lndirecto, que em geral e introduzido pelas preposicöes a ou para, corresponde a um ltou-se e desfaleceu. (Graciliano Ramos, I, 81.) 2. Adversativas, que ligam dois termos ou duas oragoes de igual fungao, acrescentando-lhes, porém, uma"ideia de contraste. Assim: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto: Apetece cantar, mas ninguém canta. (Miguel Torga, CH, 44.) 3. Alternativas, que ligam dois termos ou oragoes de sentido dis-tinto, indicando que, ao cumptir-se um facto, o outro nao se cumpre. Sao as conjungoes ou (repetida ou nao) e, quando repetidas, ora, quer, seja, nem, etc.: Ora lia, ora fingia ler para impressionar aos demais passageiros. (Augusto Frederico Schmidt, AP, 74.) 4. CoNCLUSrvAs, que servem para ligar á anterior uma oragSo que exprime conclusao, consequéncia. Sao: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim, etc.: Nas duas frases a expcriéncia é a mcsma. Na primeira nao instrui, logo prejudica. (Almada Negreiros, NG, 150.) 5. Explicattvas, que ligam duas oragoes, a segunda das quais justi-fica a idcia contida na primeira. Sao as conjungoes que, porque, pois, porqitanto, "1 breve gramätica do portugués contemp0ranc0 cm exemplos como: Vamos comer, Acucena, que estou morrendo de fome. (Adonias Filho, LP, 109.) \ Posicao das conjuncoes coordenativas. 1. Das conjuncoes coordenativas apenas mas aparece obrigatoria-mente no comeco da oracao; porim, todavia, contudo, entretanto e no entanto podem vir no infcio da oracao ou apos um de seus termos: E noite, mas toda a noite se pesca. (Raul Brandao, P, 139.) A igreja tambem era velha, porem nao tinha o mesmo prestigio. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 200.) Este ultimo periodo poderia ser tambem enunciado: A igreja tambem era velha; nao tinha, porem, o mesmo prestigio. A igreja tambem era velha; nao tinha o mesmo prestigio, porem. 2. Pots, quando conjuncao conclusiva, vem sempre posposto a um termo da oracao a que pertence: Para ali estavam, pois, horas sem conto, esperando, inutilmente, ludi-briarcm-se a si pr6prios. (Fernando Namora, CS, 83.) 3. As conclosivas logo, portanto e par conseguinte variam de posicao, conforme o ritmo, a entoacao, a harmonia da frase. CONJUNCOES SUBORDINATIVAS 1. As conjuncoes subordinativas classificam-se em causais, con-cessivas, condicionais, ftnais, temporais, comparativas, consecuti- vas e integr antes. As causais, concessivas, condicionais, finais, temporais, comparativas e consecutivas iniciam oracoes adverbiais. As integrantes introduzem oracoes substantivas. conjuncao_^___393 2. A Nomenclatura Gramatical Brasileira inclui ainda as conjuncoes coNFOrmattvas e proporcionais, que a Nomenclatura Gramatical Por-tuguesa nao distingue das comparativas. Observacäo: Saliente-se que as comparativas e consecuttvas introduzem oracoes subor-dinadas adverbiais, mas vém geralmente correlacionadas com um termo da oracäo principal. Exemplifiquemos r 1. Causais (iniciam uma oracäo subordinada denotadora de causa): porque, pais, porquanto, como [= porque], pois que, por isso que, já que, uma ve% que, visto que, visto como, que, etc.: Tenho continuado a poetar, porque decididamente se me renovou o estro. (Antero de Quental, C, 357.) 2. Concessivas (iniciam uma oracäo subordinada em que se admite um facto contrario ä accäo principal, mas incapaz de impedi-la): embora, conqmnto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, por mats que, por menos que, apesar de que, nem que, que, etci: Näo saberei nunca escrever sobre ele, embora tenha tentado mais de uma vez. (Fernando Sabino, G, n, 76.) 3. Condicionais (iniciam uma oracao subordinada em que se indica uma hipótese ou uma condicäo necessária para que seja realizado ou näo o facto principal): se, caso, contanto que, salvo se, sem que [= se näo], dado que, desde que, a menos que, a näo ser que, etc.: Se aquele efltrasse, também os outros poderiam tentar... (Branquinho da Fonseca, MS, 41.) 4. FrNAis (iniciam uma oracäo subordinada que indica a finalidade da oracäo principal): para que, a fim de que, porque [= para que]: Näo bastava a sua boa vontadc para que tudo sc atranjasse. (Almada Ncgrciros, NG, 82.) 5. Temporais (iniciam uma oracäo subordinada indicadora de cir-cunstáncia de tempo): quando, antes que, depois que, ati que, logo que, sempre que, 394 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEq I asstm etc.: que, desde que, todas as ve^es que, coda vest que, apenas, mal, que [= desde que], Quando do Severino voltou da fazenda, trouxe para Luciana um peri- quito. (Gradliano Ramos, Ins., -j$.) 6. Consecutivas (jíiiciam uma oragäo na qual se indica a consequén-cia do que foi declarado na anterior): que (combinada com uma das palavras taž, tanto, täo ou tamanho, presentes ou latentes na oragäo anterior), de forma que, de maneira que, de modo que, de sorte que, etc.: Foi täo ágil e rápida a saída que Jandira achou graca. (Cko dos Anjos, DR, 108.) 7. Comparativas (iniciam uma oragäo que encerra o segundo mem-faro de uma comparagäo, de um confronto): que, do que (depois de mats, menos, maior, menor, melhor e pior), qual (depois de tal), quanta (depois de tanto), conto;' assim como, bem como, como se, que nem: Mais do que as palavras, falavam os factos. (Miguel Torga, V, 278.) 8. Integrantes (servem para introduzir uma oragäo que funciona comc sujeito, objecto directo, objecto indirecto, predicativo, comple- mento nominal ou aposto de outra oragäo). Säo as conjuncöes que e se: Näo sei, sequer, se me viste, Näo vou jutar que me vias. (Jose Regio, F, 54.) Quando o verbo exprime uma certeza, usa-se que: Joäo Garda garantiu que sim, que voltava. (Vitorino Nemésio, MTC, 61.) Quando o verbo exprime incerteza, usa-se se. Por exemplo: a) numa dúvida: Ninguém sabia se estava ferido ou se fcrira alguém. (Luis Jardim, MP, 54-) conjoncxo 395 b) numa interrogagáo indirecta: Pergunto a Deus se estou viva, se estou sonhaado ou acordada. (Cecilia Meireles, OP, 417.) Conjun$5es conformatívas e proporcionais. Como dissemos, a Nomenclature Gramatical Brasileira distingue ainda, entre as conjuncoes subordin ativas, as conformatívas e as proporcionais. 1. As conformatívas iniciam uma oragao subordinada em que se exprime a conformidade de um pensamento com o da oragao principal. Sáo as conjuncoes conforme, como [= conforme], segundo, consoante, etc.: O som de uma sineta, conforme o capricho do vento, aproximava-se ou perdia-se ao longe. (Augusto Meyer, SI, jo.) 2. As proporcionais iniciam uma oracao subordinada em que se men-ciona um facto realizado ou para realizar-se simultaneamente com o da oracao principal. Sáo as conjuncoes a medida que, ao passo que, a proporfao que, enquanto, quanto mats... mats, quanta mats... tanto mats, quanta mats... menos, quanta mats... tanto menos, quanto menos... menos, quanto menos... tanto menos, quanto menos... mats, quanto menos... tanto mats: A medida que avangavam, iam penetrando no coracao da trovoada. (Miguel Torga, V, 295.) Polissemia conjuncional. Algumas conjungoes subordinativas (que, como, porque, se, etc.) podetn pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor está condidonado ao contexto em que se inserem, nem sempře isento de ambiguidades, pois que há circunstáncias fronteiricas: a condigao da concessao, o fim da con-sequéncia, etc. LOCUCAO CONJUNTP7A Como vimos, há numerosas conjungoes formadas da partícula que ante-cedida de advérbios, de preposigoes e de participios: desde que, antes que, já que, até que, sem que, dado que, posto que, visto que, etc. Sao as chamadas locucoes conjunttvas. 17. interjeicao 397 Interjeicao Interjeicao e uma especie de gtito com que traduzimos de modo vivo as nossas emocoes. A mesma reaccao emotiva pode ser expressa por mais de uma interjeicao. Inversamente, uma so interjeicao pode corresponder a sentimentos, variados e, ate, opostos. O valor de cada forma interjectiva depende funda-mentalmente do contexto e da entoacao. Classificacao das interjeicdes. sentimento que denotam. Classificam-se as interjeicöes segundo o Entre as mais usadas, podemos enumerar as: a) de alegria: ah! oh! No Brasil tambem: obal opal b) de ANiMACÄo: avanie! coragem! Ha! vamos! c) de aplauso: bis! bem! bravo! viva I d) de desejo: oh! oxald! e) de dor: at! ui! f) de es panto ou surpresa: ah! chii ih! uei No Brasil tamböm: puxai g) de impaciencia: hum! hem! irral h) de invocacäo: aid! 6! old! psiu! psit! t) de silencio: psiu! silincio! j) de susPENSÄo: alto! basta! alto la! I) de terror: ui! uhl Obaervacöes: i.» Näo inclulmos a interjeicao entre as classes de palavras pc/a razäo adn zida no capitulo if ""au aau- Com efeito, traduzindo sentimentos subitos e espontáneos, säo as interici coes gntos mstujtivos, equivalendo a frases emocionais. e^Mctofl)*' 38 intB^äeB věm de rc8ra acompaohadas do ponto de Locucao interjectiva. Além de interjeicöes expressas por ura só vocábulo, há outras formadas por grupos de duas ou mais palavras. Säo as locucöes interjectivas. Excm-plos: ai de mim! ora, bolasl raios te partami valha-me Deus! 18. o periodo e a sua construcäo 399 O periodo e sua construjao PERÍODO SIMPLES E PERÍODO COMPOSTO No Capítulo 7 ůzemos a análise interna da oragao. Exarninámos, al, os sens termos essenciais, integrantes e acessórios; e, para tal estudo, ser-vimo-nos sobretudo de períodos simples, isto é, de períodos constituidos de uma só oragao, chamada absoluta. Incidentemente, porém, mostrámos que os termos essenciais, xm'&-grantes e acessórios de uma oragao podem ser representados por outra oracáo. é agora o momente de examinarmos mais detidamente esse ponto. Composicäo do periodo. i. Tomemos o seguinte periodo: As horas passam, os homens caem, a poesia fica. (Emílio Moura, ÍP, 169.) Vemos que ele é composto de trés oragoes: 1 » = As horas passam, 2 a = os homens caem, }.a s= a poesia fica. Vemos, ainda, que as trés oragoes säo da mesma natttre^a, pois: a) säo autónomas, independentes, isto é, cada uma tem sentido proprio; b) näo řuncionam como termos de outra oragao, nem a eles se referem: apenas, uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra. A tais oragöes autónomas dá-se o nome de coordenadas, e o periodo por elas formado diz-se composto por coordenacäo. 2. Examinemos agora este periodo: O meu André nío lhe disse que temos aí um holandes que trouxe materiál novo...? (Vitorino Nemésio, MTC, 363.) Aqui, também, estamos diante de um periodo de trés oragóes: 1. a = O meu André nao lhe disse 2. a = que temos aí um holandes 3. a = que trouxe materiál novo Mas a sua estrutura é diferente da do anterior, pois: d) a primeira oragáo contém a declaragao principál do periodo, rege-se por si, e nao desempenha nenhuma fungao sintáctica em outra oragao do periodo; "chama-se, por isso, oracao principál; b) a segunda oragao tem a sua existéncia dependente da primeira, de cujo verbo é objecto directo; funciona, assim, como termo integrante dela; c) a terceira oragao tem a sua existéncia dependente da segunda, de cujo objecto directo é adjunto adnominal; funciona, por conseguinte, como termo ArESsÓRio dela. As oragóes sem autonomia gramatical, isto é, as oragoes que funcio-nam como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oragao chamam-se subordinadas. O periodo constituído de oragoes subordina-das e uma oragao principál denomina-se composto por subordinacao. 3. Vejamos, por fim, este periodo: Moleque Nicanor arregalou os olhos, e eu pensei que ia ouvir as panca-das do seu coragao. (Guimaraes Rosa, S, 216.) Ainda aqui temos um periodo composto de trés oragoes: 1. a = Moleque Nicanor arregalou os olhos, 2. a = e eu pensei 3. a = que ia ouvir as pancadas do seu coragao. A sua estrutura é, porém, distinta das duas que exarninámos, ou melhor, é uma espécie de combinagao delas, pois: d) as duas primeiras oragoes sao coordenadas (a primeira é coor- -denada assindética; a segunda, coordenada sindética aditiva); 4°o BREVE GRAMATICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORAnrO \ / o PERÍOPO S A SUA CONSTRPCAp 401 b) a ultima é subordinada, uma vez que fuflciona como objecto di-recto da oragäo anterior. O periodo que apresenta oracôes coordenadas e subordinadas diz-se composto por coordenacäo e subordinacäo. Conclusäo. Na análise de um periodo composto, cumpre, pois, ter em mente que: a) a oracäo principal näo exerce nenhuma funcäo sintáctica em outra oracäo do periodo; b) a oracäo subordinada desempenha sempre urna funcäo sintáctica (sujeito, objecto directo, objecto indi recto, predicattvo, comple-' mento nominal, agente da passiva, adjunto adn omínal, adjunto adverbial ou APOSTo) em outra oracäo, pois que dela é um termo ou parte de um termo. ŕ) a oracäo coordenada, como a principal, nunca é termo de outra oracäo nem a ela se refere; pode relacionar-se com outra coordenada, mas em sua integridade. Observagäb: A Nomenclatura Gramatical Portuguesa elirninou a designacäo de ORAgXo principal sob o argumento de näo fazer falta ao estudo desses processos e de «dar ensejo a duplas interpretagöes, quer no piano lógico, quer no piano gramatical.» COORDENACÄO Oracôes coordenadas sindéticas e assindétícas. As oracôes coordenadas podem estar: a) simplesmente justapostas, isto é, colocadas urna ao lado da outra, sem qualquer conectivo que as enlace: Será uma vida nova, / comegará hoje, / näo haverá nada para trás. / (Augusto Abclaira, QPN, 19.) b) ligadas por uma conjuncäo coordenattva: A Grecia seduzia-o, / mas Roma dominava-o. / (Graga Aranha, OC, 701.) No primeiro caso, dizemos que' a oracäo coordenada e assinde-tica, ou seja desprovida de conectivo. No segundo, dizemos que ela 6 sindetica, e a esta denominagäo acrescentamos a da especie da conjuncäo coordenattva que a inicia. Oragöes coordenadas sindeticas. Classificam-se, pois, as oracöes coordenadas sindeticas em: i. Coordenada sindetica adittva, se a conjungäo e aditiva: Insisti no ofereeimento da madeira, { e ele estremeceu. / (Graciliano Ramos, SB, 29.) z. Coordenada sindetica adversattva, se a conjungäo e" adversativ a : Estava frio, / mas ela näo o sentia. / (Maria Judite de Carvaüio, TGM, 75.) 3. Coordenada sindetica alternativa, se a conjungäo 6 alternativa: Ou eu me engano muito / ou a egua manqueja. / (Carlos de Oliveira, AC, 25.) 4. Coordenada sindetica conclustva, se a conjungäo e" conclu-SivA: Näo pacteia com a ordern; / e, pois, uma rebelde. / (Joäo Ribeiro, PE, 95.) 5. Coordenada sindetica explicattva, se a conjungäo e expli-cativa: ■— Eh, camarada, espere um poueo, / que isto acaba-se )&. j (Fernando Namora, NM, 233.) breve gramatica do portugu&s contemporaneo ____ —_—- ~-—1 - SUBORD1NACÄO A oracäo subordinada como termo de outra oracäo. ' Dissemos que as oracöes subordinadas funcionam sempre como termos essenciais, tntegrantes ou acessórios de outra oracäo. Esclare-camos melhor tais equivaléncias. 1. No seguinte exemplo: É necessária a tua vinda urgente. o sujeito da oracäo é a tua vinda urgente, termo essential, cujo núcleo é o substantivo vinda. Mas, em lugar dessa construcäo com base no substantivo vinda, podería-mos dizer: É necessário que venhas urgente. O sujeito seria, entäo, que venhas urgente, termo essencial represen-tado por oracäo. 2. Neste exemplo: Ninguém esperava a tua vinda. o objecto directo de esperava í a tua vinda, termo integrante, cujo núcleo é o substantivo vinda. Em vez dessa construcäo nominal, poderiamos ter dito: Ninguém esperava que viesses. Com isso, 0 objecto directo de esperava passaria a set que viesses, termo integrante representado por uma oracäo. 3. Neste exemplo: Näo desaprendi as licöes recebidas. o adjunto adnominal, termo acesSÓRio, está expresso pelo adjectivo recebidas. 1 o período e a sua construcäo Mas, se quiséssemos, poderiamos ter substituído o adjectivo recebidas por que recebi: Näo desaprendi as licöes que recebi. Teríamos, neste caso, como adjunto adnominal de licöes a oracäo que recebi. Por outras palavras: teríamos um termo acessório representado por uma oracäo. 4. Neste exemplo: Ainda näo o tinha visto depois da volta. säo trés os adjuntos adverbiais (termos acessórios) da oracäo: a) ainda'—adjunto adverbial de tempo; b) näo — adjunto adverbial de negacäo; e) depois da volta — adjunto adverbial de tempo. Em lugar da expressäo adverbial de tempo depois da volta, poderiamos ccr empregado urna oracäo —depois que voltara: Ainda näo o tinha visto depois que voltara. Depois que voltara, adjunto adverbial de tinha visto, é, pois, um termo acessório representado por urna oracäo. 5. Do que dissemos uma conclusäo se impöe: o perí odo composto por subordinacäo é, na esséncia, equivalente a um período simples. Dis-tingue-os apenas o facto de os termos (essenciais, integrantes e acessórios) deste sérem representados naquele por oracöes. Classiôcacao das oracöes subordinadas. As oracöes subordinadas classificam-se em substantivas, adjec-tivas e adverbiais, porque as funcöes que desempenham säo compará-vcis äs exercidas por substantivos, adjectivos e advérbios. Oracöes subordinadas substantivas. As oracöes subordinadas substantivas vém normalmente introdu-zidas pela conjuncäo integrante que (äs vezes, por se) e, segundo o seu 4°4 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUĚS CONTEMPOrAneQ valor sintactico, podem ser: 1. Subjecttvas, quando exercem a fungao de sujeito: B certo / que a presenga do dono o sossegava urn pouco. / (Miguel Torga, B, 52-53.) 2. Objectivas directas, quando exercem a fungao de objecto directo: Rcspondi-luc / que ja tinha lido a reeeita em qualquer parte. / (Jose Cardoso Pires, D, 295.) Nao sei / se Padre Bernardino concordat comigo. / (Otto Lata Resende, BD, 109.) 3. Objectivas indirectas, quando exercem a fungao de objecto jndirecto: Nao me esquego / de que estavas doente / quando ele nasceu. (Josue Montello, SC, 31.) 4. Completivas nominais, quando exercem a fungao de complement nominal: Calipsol Ele tern a mania / de que alho fafc bem a saude. / (Augusto Abelaira, NC, 155.) 5. Predicativas, quando exercem a fungao de predicativo: A vetdadc e / que eu ia falar outra vez de Nodmia. / (Agustina Bessa Luis, AM, 39.) 6. Aposittvas, quando exercem a fungao de aposto: fi preciso que o pecador reconhega ao menos isto: / que a Moral cato-lica esta ccrta / e e irrepreensivel. / (Otto Lara Resende, BD, 163.) 7. Agentes da passiva, quando exercem a fungao de agente da pas- siva: — As ordens säo dadas / por quern pode. / (Fernando Namora, NM, 215O 0 PERIODO E a sua c0nstrucäo 405 Observacäo: As oragoes que desempenham a funcäo de agente da passiva iniciam-se por pronomes indefinidos {quem, quantos, qualquer, etc.) precedidos de uma das preposigöes por ou de. Omissao da integrante que. Depois de certos verbos que exprimem uma ordem, um desejo ou uma siiplica, a lingua portuguesa permite a omissao da integrante que: Queira Deus / nao voltes mais triste... / (Manuel Bandeira, PP, 348.) Oracöes subordinadas adjectivas. 1. As oracöes subordinadas adjecttvas vém normalmente introduzi-das por um pronome relativo, e exercem a fungao de adjunto adnominal de um substantivo ou pronome antecedente: Susana, / que näo se sentia bem, / estava de cama. (Miguel Torga, V, 178.) O / que tu ves / é belo; / mais belo o / que suspcitaa; / e o / que igno-ras / muito mais belo ainda. (Raul Brandäo, H, 3.) 2. A ORACÄo subordinada adjectiva pode, como todo adjunto adnominal, depender de qualquer termo da oragao, cujo nucleo seja um subs-tantivo ou um pronome: sujeito, predicativo, complemento nominal, objecto directo, objecto lndirecto, agente da passiva, adjunto adverbial, aposto e, até mesmo, vocativo. Oragoes adjectivas restritivas e explicativas. Quanto ao sentido, as subordinadas adjectivas classificam-se em restritivas e explicativas. i. As restritivas, como o nome indica, restringem, limitám, pre-cisam a significagäo do substantivo (ou pronome) antecedente. Säo, por 40(5 breve gramättca do portugués contemporäneo "1 / J / o periodo e a spa construcäq conseguinte, indispensáveis ao sentido da frase; e, como se ligám ao antecedente sem pausa, dele näo se separam, na escrita, por vírgula. Exemplos: Es um dos raros homens / que těm o mundo nas mSos. / (Augusto Abelaira, NC, izi.) 2, As explicativas acrescentam ao antecedente uma qualidade aces-sória, isto é, esclarecem melhor a sua significacto, ä semelhanca de um aposto. Mas, por isso mesmo, näo säo indispensáveis ao sentido essencial da frase. Na fala, separam-se do antecedente por uma pausa, indicada na escrita por vírgula: Tio Cosme, / que era advogado, / confiava-lhe a cópia de papéis de autos, (Machado de Assiš, OC, I, 734.) Oracöes subordinadas adverbiais. Funcionam como adjunto adverbial de outras oracöes e vém, nor-malmente, introduzidas por uma das conjuncoes subordinattvas (com exclusäo das integrantes que, vimos, iniciam oracöes substantiv as). Segundo a conjuncäo ou locucäo conjuntiva que as encabece, classificam--se em: 1. Causais, se a conjuncäo é subordinativa causal: Näo vestě com Iuxo / porque o tio näo é rico. / (Machado de Assis, OC, II, 204.) 2. Concessivas, se a conjuncäo é subordinativa concessiva: A regra era ir sempře desacompanhado, / mesmo que levasse o gado até aos confins da setra. / (Miguel Torga, B, 101.) 3. Condicionais, se a conjuncäo é subordinativa condicional: Tudo vale a pěna/ Se a alma näo é pequena. / (Fernando Pessoa, OP, 19.) 4. Finais, se a conjuncäo é subordinativa final: Viera um vestido de Marta, / para que a vestissem com ele. / (Jose Lins do Rcgo, A-M, 343.) 407 5. Temporais, se a conjuncäo é subordinativa temporal: / Quando estiou, / partiram. (Carlos de Oliveira, AC, 19.) 6. Consecutivas, se a conjungäo é subordinativa consecutiva: Era uma voz täo grave, / que metia medo. / (Augusto Meyer, SI, 12.) 7. Comparativas, se a conjuncäo é subordinativa comparativa: Näo, meu coracäo näo é maior / que o mundo. / (Carlos Drumrnond de Andrade, R, 60.) ObservacÔes: i.a O primeiro membro da comparacäo pode estar oculto: [ta/] qua/, [taí] como, etc.: Havia já dous anos que nos näo víamos, e eu via-a agora näo / qual era, / mas / qual fora, / quais fôramos ambos, / porque um Ezequias misterioso ŕizera recuar o sol até os dias juvenis. (Machado de Assis, OC, I, 419.) z.a Costuma-se omitir o predieado da oracXo subordinada comparativa, quando repete uma forma do verbo da oracäo principal. Assim: Tu vais a correr sozinho, Ribeirinho, / como eu. / (Fernando Pessoa, QGP, n.0 r 12.) Ou seja: como eu [vou a correr sozinho]. OracÔes conformativas e ptoporcionais. Como, na classificacäo das conjuncoes subordinativas, a Nomenclatura Gramatical Brasileira inclui as conformativas e as proporcionais, conse-quentemente admite ela a existencia de oracôes subordinadas adverbiais: i. Conformativas, quando a conjuncäo que as inicia é subordinativa confotmativa: / Conform* declarei, / Madalena possuía um excelente coracäo. (Graciliano Ramos, SB, 122.) 40 8 breve gramática do portuguěs contbmporaneo o período e a sua C0NSTRUCÄO __4°p 2. Proporcionais, quando encabcgadas por conjungäo subordina-tiva proporcional: / A medida que o tempo decorria / as figuras iam tomando raaior vulto na sua retina. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 29;.) Observacáo: Estas oragoes podem estar em correlagäo com um membro da oracao principal em construgöes do tipo: quanta mats... tanto mats, quanta mats... tanto menos, quanta menos... tanto menos, quanta menos... tanto mats: j Quanto mais o conhego, / tanto mais o admiro. Como nestas oragöes nao raro se omitem as palavras quanto e tanto, é neccs-sário examinar com atengäo o periodo em que elas ocorrem para classifki--las com acerto. Por exemplo, nas construgöes: / Quanto mais o conhego, / mais o admiro. / Mais o conhego, / tanto mais o admiro. / Mais o conhego, / mais o admiro. a primeira oragao é sempře a subordinada adverbial proporcional; e a segunda, a principal. ORACÖES REDUZIDAS Oragoes desenvolvidas e oragoes reduzidas. Estudámos até aqui as oracöes subordinadas encabegadas por nexo subordinativo (pronomes relativos ou conjungöes subordinativas), com o verbo sempre numa forma finita (do indicativo ou do conjuntivo). Vejamos agora outro tipo de oragäo subordinada —a reduzida — isto é, a oragao dependente que näo se inicia por relativo nem por conjungäo subordinativa, e que tem o verbo numa das form as nominais— 0 definitivo, o gerúndio, ou o particípio. Assim: i. Neste periodo de Machado de Assis: Todos nos havemos de morrer; basta / estatmos vivos. / (OC, I, 420.) a oragäo estarmos vivos tem valor substantivo. Näo a encabega, porém, a integrants que, nem o seu verbo se apresenta numa forma finita, mas na do inftnitivo pessoal. A oracao denomina-se, por isso, substantiva reduzida de infinitivo, e pode ser equiparada á oragao subordinada desenvolvida que estejamos vivos; Todos nós havemos de morrer; basta / que estejamos vivos. / 2. Neste periodo de Augusto Frederico Schmidt: Era o sortilégio, a sedugäo / ferindo os coragoes. / {A?, 17.) a oragäo ferindo os coragoes tem valor adjectivo. Näo vem, no entanto, enca-begada por pronome relativo, nem traz o verbo numa forma finita, mas na do gerúndio. A oragao denomina-se, neste caso, adjecttva reduzida de gerúndio, e corresponde ä oragäo desenvolvida que feria os coracdes: Era o sortilégio, a sedugäo / que feria os coragoes. / 3. Neste periodo de Manuel da Fonseca: / Ansiado, / agarrou-se á árvore. (FC, iz6.) a oragäo ansiado tem valor adverbial. Näo está, porém, encabegada por conjungäo subordinativa, nem traz o verbo numa forma finita, mas na do particípio. A oragao denornina-se, entäo, adverbial reduztda de particípio, e equivale ä oragäo desenvolvida porque estava ansiado: I Porque estava ansiado, / agarrou-se á árvore. Oragöes reduzidas de infinitivo. As oracöes reduzidas de inftnittvo podem vir ou näo regidas de preposigäo e, como as desenvolvidas, classtficam-se em: Substantivas: I. SUBJECTIVAS: B preciso / caminhar com o passo certo. / (Costa Andradc, NVNT, 30.) 410 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEQ 2. Objectivas direct as: Espero também / poder confiar em ti. / (Jose Regio, SM, J7-) 3. Objectivas indirect as: Eacarregara-a / de anunciar-se pessoalmente. / (Nélida Piňon, FD, 69.) 4. completivas nominais: Estou ansioso / por ir vé-lo. / (Antero de Quental, C, 228.) 5. Predicattvas: A sua intencao era / comunicar a Augusta o resultado da convcrsa com o preteodente. / (Machado de Assis, OC, II, 97.) 6. Apositivas: A coragem é isto: / meter o pássaro do medo na capanga. / (Luandino Vieira, NM, 116.) Adjectivas: Mas a visäo logo se desvaneceu, ficando apenas os vidros, / a ocultarem, com o seu brilho, o / que lá dentro existia. (Ferreira de Castro, OC, I, 136.) Observacäo: As oracöes adjectivas REDU2IDAS de Infinitivo sao mais frequentes no portugués europeu. No portugués do Brasil empregam-se dc preferencia as adjecttvas reduzidas »b geründic Adverbiais: i. Causais: / o periodo e a sua construcäo I 2. concessivas: 4U I nclas. / Por serem trivialidades quotidlanas tais virtudes, / ninguém repara (Miguel Torga, TU, 63.) / Mesmo sem saber / se jamais chegarei, apetcce-me riv e cantar em honra da beleza das coisas. (Sophia de Mello Breyner Andrescn, CE, 102.) 3. condicionais: / A näo ser isto, / eu preferia ŕicar na sombra, e trabalhar como simples soldado. (Jose de Alencat, CD, 30.) 4. CONSECUTIVAS: O mancebo desprezava o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, que seus olhos furtavam de longe, levou o arrojo / a arrepiar a testa do touro com a ponta da lanca. / (Rebelo da Silva, CL, 178.) 5. Fin Ais: Conheces-lhe a vida / para podereš afirroar tal coisa. / (Augusto Abelaira, CF, 148.) 6. Temporais: Viajante que deixaste As ondas do Panama, Vela / ao cntrares no porto / Aonde o gigante estát (Fagundes Varela, VA, 76.) Oracôes leduzidas de gerúndio. Podem ser adjecttvas ou adverbiais. Adjectivas: Perdeu o desfile da milícia triunfantc, / marchando a quatro de fundo. / (Jose Saramago, MC, 34B.) Observacäo: O cmprego do gerúndio com valor dc oracäo adjectíva tem sido consi-derado por certos gramáticos um galicismo intolerávcl. Cumpre, no entanto, 41 í BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORAnbq ~1 I 0 periodo e a sua construcäo 413 acentuar que é aatiga no idioma a construcäo quando o gerúkdio exptessa a ideia de actívidade actual e passageira. Distinto děste é o emprego, cada vez mais frequente nos dias que correm, do gerúndio como representante de uma ORACÄo adjectiva .que dcsigna um modo de ser- ou uma actívidade permanente do substantivo a que se rcfcrc: Meu coracäo é um portico partido / Dando excessivairiente sobre o mar. / (Fernando Pessoa, OP, 54.) Tal construcäo é um simples decalque do francés. Adverbiaís: Como o GERuNDio tem principalmente sigrúficado temporal, as reduzidas por ele formadas correspondem, na maioria dos casos, a oracöes . subordinadas adverbiaís temporais. Comparem-se, por exemplo: / Pa9sando hoje pela porta do meu compadre José Amaro, / ele me convidou para tomar conta de sua causa. (Jose Lins do Rego, FM, 279.) Mas podem equivaler também a outras oracöes subordinadas adver- biaís: 1. C aus Ais: / Pressentindo / que as suas intencöes haviam sido adivinhadas, Macedo tentou minorar a situacäo. (Ferreira de Castro,.OC, I, 89.) 2. ConcesSivas : Aqui mesmo, / ainda näo sendo padre, / se quiser florear com outros rapazes, e näo souber, M de queixar-se de voce, Maua Gloria. (Machado de Assis, OC, I, 735.) 3. condicionais: Pensando bem, / tudo aquilo era muito estranho. (Augusto Meyer, SI, 25.) Oracöes reduzidas de partieipio. Como as reduzidas de geründio, as de PARTicfpio podem ser adjec- tivas ou adverbiais. Adjectivas: As rosas brancas agrestes / Trazidas do flm dos montes / Vós mas tirastes, que as destes... (Fernando Pessoa, OP, 118.) Adverbiaís: Säo mais comuns as temporais: / Acabada a cerimónia, / demos a volta ao adro. (Vitorino Nemésio, SOP, 90.) Näo raro, ocorrem também as: 1. Causais : / Desesperado, / parecia urn doido por toda a casa. (Miguel Torga, NCM, 36.) 2. Concessivas: Creio, porém, que, / ainda admitidas as cxagctac5es do Jornal do Comércio, / pode-se assegurar que a guerra estd conclufda. (Jose de Alencar, OC, IV, 1.3 31.) 3. CONDICIONAIS: / Dada essa hipótesc, / espero de nossos amigos dedicados que näo sofreräo impassíveis uma oposigäo injusta. (Jose de Alencar, CD, 33.) I 1/ flGtlRAS DE sintaxe 415 19. Figuras de sintaxe Nem sempre as frases se organizam com absoluta coesäo gramatical. O cm-penho de maior expressividade leva-nos, com frequéncia, a superabundant cias, a desvios, a lacunas nas estruturas frásicas tidas por modelares. Em tais construcöes a coesäo gramatical é substituida por uma coesäo signifi-cativa, condicionada pelo contexto geral e pela situagäo. Os processus expressivos que provocam essas particularidades de construcäo denominam-se figoras de sintaxe. Exarninemos as principals: ELIPSE i. Elipse é a omissäo de um termo que o contexto ou a situacäo per-mitem facilmente suprir: Säo correntes, por exemplo, as elipses: a) do sujeito: Ternura sacudiu os ombros, no sústo. Ergueu a cabeca, fixou Manuel: — Para onde? — exelamou, (Aníbal M. Machado, JT, 135.) b) do verbo (parcial ou total): Väo os dois em diálogo peripatético, ele em passo largo, ela no voo. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 26.) Vida ruim, a nossa. (Alves Redol, G, ioj.) c) da preposicäo que introduz certos adjuntos: Miguel foi atrás dela, mäos nos bolsos, falando calmo. (Luandino Vieira, VVDX, 69.) d) da preposicäo de antes da integrante que introduz as oracöes objec-tivas indirectas e as completivas nominais. Bern me lembro que ainda eu mesmo alcancei a casa de Dona Rosinha em cuja porta de entrada passei horas seguidas espiando a maré humana. (Augusto Frederico Schmidt, GB, 44.) Tem medo que fique alguém fora da malhadal... (Alves Redol, G, 65.) e) da conjuncäo integrante que: Näo cuideis seja a masmorra... Näo cuideis seja o degredo... (Cecilia Meireles, OP, 862.) 2. Na análise dessas e de outras oracöes manifestarnente incompletas convém repor'os elementos omitidos. Mas séria uma arbitrariedade pretender reconstruir, nas mesmas bases, formas expressivas elaboradas dentro de princípios linguísticos diversos. é o caso, por exemplo, da frase nominal, organizada sem verbo e, justamente por is-o, mais incisiva: Que talento, que bom gosto, urna dellcial (Augusto Meyer, MA, 153.) ou mais sugestiva: Primavera. Manhä. Que eflúvio de violetas! (Camilo Pessanha, C, 52.) A elipse como processo estillstico. Recurso condensador da expressäo, a elipse é naturalmente usadá de preferencia naqueles tipos de enunciado que se devem caracterizar pela con-cisäo ou pela rapides. Seus efeitos estilisticos säo, portanto, apreciáveis: d) na descricäo esquemática de ambientes, de estados de alma, de . perfis: 4i 6 breve gramatica do portugues contempqraneq pjGüRAS DE SINTAXE Subiu a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro. E a V02 de uma das filhas, em baixo: — PapatI O telefone... (Anlbal M. Machado, CJ, 119.) b) em anotagöes rápidas, como as de um diário íntimo, de um caderno de notas: Paris da guerral De dia apenas o movimento diminuido 25 % e os omnibus desaparecidos. Mas imensa gente. Mulheres lindas, muitas — e deliciosa-mente vestidas. Militates. Poucos feridos. Rara gente de luto. Nenhuma tris-teza. Muitos espectáculos. Cafés do ceatro, cheios. (Mario de Sá-Carneiro, C, 91.) c) na enunciagäo de pensamentos condensados, provérbios, divisas, ' ditos sentenciosos ou irónicos: Cada dia, cada via; cada vida, cada lida. (Luandino Vieira, JV, 63.) d) nas enumeracöes, onde a inexisténcia do artigo, como dissemos no Capitulo 9, costuma sugerir as ideias de acumulacäo ou de dispersäo: Quando voltar, ä tardinha, minha pele vai estar que é só boi, vaca, ovc-lha, leite, couro, remédio, pasto, fumaca, sal, sol, suor. (Antonio Carlos Resende, LD, 1.) ZEUGMA i. A zeugma é uma das formas da elipse. Consiste em fazer participat de dois ou mais enunciados urn termo expresso apenas em urn deles: Na vida dela houve só mudanca de personagens: na dele mudanga de personagens e de cenários. (Joaquim Pago d'Arcos, CVL, 249.) Isto é: na dele houve mudanga de personagens e de cenários. Podemos denominar simples a zeugma em que o termo omitido é exac-tamente o mesmo empregado na oragäo anterior, como no exemplo de Joaquim Pago d'Arcos. 2. Com mais frequéncia, a designagäo aplica-se ä chamada zeugma complexa, que abarca principalmente os casos em que se subentende um verbo já expresso, mas sob outra flexäo. Assim: A igreja era grande e pobre. Os aitares, humildes. (Carlos Drarnmond de Andrade, R, 181.) Entenda-se: Os aitares eram humildes. PLEONASMO 1. Pleonasmo e a superabundincia de palavras para enunciar uma ideia, como se ve nestes passos, em que se procura reproduzir a fala populär: — Sai lä para fora, Joäo. (Miguel Torga, NCM, 228.) 2. Cumpre acentuar que o pleonasmo e a reiteragao da ideia, A repe-tigäo da mesma palavra e um recurso de enfase e, segundo a forma por que sc disponha no periodo ou na oragäo, tem na retörica nome espedal. Näo c, porem, um pleonasmo. Pleonasmo vicioso. O pleonasmo só se justifica para dar maior relevo, para emprestar maior vigor a um pensamento ou sentímento. Quando nada acrescenta ä forga de cxpressäo, quando resulta apenas da ignorancia do sentido exacto dos termos empregados, ou de negligéncia, é uma falta grosseira. Estäo neste caso frases como: Fazer uma breve alocugäo. Ter o monopólio exclusivo. Ser o principal protagonista. Em todas elas o adjectivo representa uma demasia condenável: alo-cticäo é um «discurso breve»; näo há monopólio que näo seja «exclusivo»; c protagonista significa «príncipal personagemw. 418 breve gramatica do portuguěs contemporäneo Pleonasmo e cpíteto de natureza. piguras de sintaxe 4IC) Cumpre, no entanto, distinguir dessas redundäncias viciosas 0 emprego do adjectivo como epíteto de natureza em expressöes do tipo céu aqd, fria neve, prado verde, mar salgado, twite escura e equivalentes. Comparem-sc estes exemplos: Ó mar salgado, quanto do teu sal Säo lágrimas de Portugal 1 (Fernando Pessoa, OP, 19.) E a Noite sou eu propria 1 A Noite escura!! (Florbela Espanca, S, 41.) Aqui näo se trata de inútil reiteragäo da ideia que já se continha no substantive. O adjectivo insiste sobre o carácter intrinseco, normal ou dorninante do objecto. É uma forma de énfase, um recurso literario. Observagäo: Quanto ao objecto (directo e indirecto) pleonästico, leia-se o que dissemos no capitulo 7. HIPERBATO HiPERBATO (do grego byperbaton «inversäo», «transposicäo») e a sepa-ragäo de palavras que pertencem *o mesmo sintagma, pela intercalagäo de um membro ftäsico, como neste passo: Essae que ao vento vem Belas chuvas de junho! (Joaquim Cardoso, SE, 16.) Em sentido corrente, porem, hiperbato e termo generico para designar toda inversäo da ordern normal das palavras na oraeäo, ou da ordern das oracöes no periodo, com finalidade expressiva. ANÄSTROFE AnAstrofe (do grego anastropbe «mudanca de posigao», «inversäo», «transposicäo») 6 o tipo de inversäo que consistc na anteposicäo do deter- passo: fninante (preposicäo+ substantivu) ao determinado, como neste Mas esse astro que fulgente Das águias brilhara á frente, Do Capitólio baixou. (Soares de Passos, P, 91-92.) PROLEPSE Prolepse (do grego prólepsis «aegäo de tomar antes»), figura também conhecida como antecipacäo, consiste na deslocagäo de um termo de uma oragäo para outra que a preceda, com o que adquire exceptional realee: Os pastures parece que vivem no fim do mundo. (Ferreira de Castro, OC, I, 43j.) SÍNQUISE SÍNQUISE (do grego sjgehysis «confusäo» «mistura») é a inversäo de tal modo violenta das palavras de uma fräse, que torna dificil a sua interpre-tacao. É o que se observa, por exemplo, nesta quadra do soneto Taca de coral, de Alberto de Oliveira: Licias, pastor — enquanto o sol recebe, Mugindo, 0 manso armento e ao largo espraia, Em sede abrasa, qual de amor por Febe, — Sede também, sede maior, desmaia. (P, n, in.) Entenda-se: «Licias, pastor,—enquanto o manso armento recebe o sol e, mugindo, espraia ao largo—, abrasa em sede, qual desmaia de amor por Febe, sede também, sede maior.» ASSÍNDETO Dizemos que há assíndeto (do grego asyndeton «näo unido», «näo Jigado») quando as oracöes de um periodo ou as palavras de uma oragäo se sucedem 420 breve gramatica do portugtjžs contemp0rane0 figuras de sintaxe 421 sem conjuncäo coordenativa que poderia enlacá-las. E um vigoroso processo de encadeamento do enunciado, que reclama do leitor ou do ouvinte uma atencäo maior no exame de cada facto, mantido em sua individualidade, em sua independéncia, por forca das pausas ritmicas: Lavava loupas da Baixa, veštia, usava, lavava outra vez, levava. (Luandino Vieira, JV, 103.) Arcos de flores, fachos purpurinos, Trons festivals, bandeiras desfraldadas, Girándolas, clarins, atropeladas Legiöes de povo, bimbalhar de sinos... (Raimundo Correia, PCP, 196.) POLISSÍNDETO O polissíndeto (do grego polysyndeton «que contém muitas conjungöes») é o contrario do assindeto, ou seja, é o emprego reiterado de conjuncôes coordenativas, especialmente das aditivas: Fui cisne, e lítio, e águia, e catedrall (Florbela Espanca, S, 59.) Com o polissíndeto interpenetram-se os elementos coordenados; a expressäo adquire assim uma continuidade, uma fluidez, que a tornam par-ticularmente apta para sugerir movimentos ininterruptos ou vertiginosos, como nos mostram os exemplos citados, e também o seguinte, de Vinícius de Morais: E crescer, e saber, e ser, e haver E perder, e sofrer, e ter horror De ser e amar, e se sentir maldito... (LS, É a este emprego da conjuncäo que se costuma chamar «e de movimento». ANACOLUTO Anacoluto é a mudanca de construcäo sintáctica no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível, como neste exempio: Bomt boml cu parece-me que ainda näo ofendi ninguém! (Jose Regio, SM, 105.) Observe-se que o pronome eu, que se anunciava como sujeito do verbo seguinte, ficou sem funcao. Com a imprevista estrutura assumida pěla frase, a primeira pessoa, por ele representada, passou a objecto indirecto (we). SILEPSE Silepse (do grego sýllepsis, «accäo de reunir, de tomar em conjunto») é a concordäncia que se faz näo com a forma gramatical das pahvras, mas com o sentido, com a ideia que elas expressam. Segundo a acepcäo originária, o termo silepse deveria referir-se apenas ä concordäncia de numero. Cedo, porém, ele passou a ser aplicado a certas anomalias formais na concordäncia de género e pessoa e, hoje, abarca pra-ticamente todo o campo da concordäncia ideológica. Silepse de numero. 1. Pode ocorrer a silepse de numero com todo substantivo singulár concebido como plurál e, particularmente, com os termos colectivos. Assim neste passo de Machado de Assis: Deu-me notícias da gente Aguiar; estäo bons. (OC, I, 1.093.) 2. Há também silepse de numero quando o sujeito da oracäo é um dos pronomes nós e vás, aplicados a uma só pessoa, e permanecem no singulár os adjectivos e participios que a eles se referem. Assim: Sois inju8to comigo. (Alexandre Hetculaao, MC, II, 35.) Silepse de género. Sabemos que as expressöes de tratamento Vossa Majestade, Vossa Excelencia, Vossa Senhoria, etc tem forma gramatical feminina, mas aplicam-sc com frequčncia a pessoas do sexo masculino. Neste caso, quando funciona' 422 BREVE GRAMATICA DO PQRTÜGUES CQNTEMPQrAneq como predicativo, o adjectivo que a elas se refere vai sempře para o mas-culino: _V. Ex.a parece magoado... (Carlos Drummond de Andrade, CB, 119O 20. enun- Silepse de pessoa. 1. Quando a pessoa que fala ou escreve se inclui num sujeito ciado na 3-a pessoa do plural, o verbo pode ir para a r.a pessoa do plural: Todos entramos imediatamente. (Otto Lara Resende, BD, 25.) 2. Se no sujeito expresso na j.a pessoa do plural queremos abränget a pessoa a quem nos dirigimos, e llcito usarmos a 2.a pessoa do plural: Mas suporiho que todos sois da mesma opiniäol Todos acordais cm me condenar e abandonar. (Jose Regio, ERS, 83.) Discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre Estruturas de reproducäo de enunciacöes. Para dar-nos a conhecer os pensamentos e as palavras de personagens reais ou ficticios, dispöe o narrador de trés moldes linguisticos diversos, conhecidos pelos nomes de: a) discurso (ou estilo) directo, b) discurso (ou estilo) indirecto, (} discurso (ou estilo) indirecto livue. DISCURSO DIRECTO Examinando este passo das Memórias póstamas de Brás Citbeis, de Machado de Assis: Virgília replicou: — Promete que algum dia me fara baronesa? (OC I, 462.) vcrificamos que o narrador, após introduzir a personagem, Virgília, clei-xou-a expressar-se por si mesma, limitando-se a reproduzir-lhe as palavras como ela as teria efectivamente seleccionado, organizado e emitido. A essa forma de expressao, em que o personagem č chamado a aprc-scntar as suas próprias palavras, denominamos discurso directo. 4*4 BREVE GRAMÁTICA DO PORTÜGUES CONTEMPORANEO \ / pISCUKSO PIRBCTO, DISCURSO INDIRECTO B DISCURSO INDIRECTO LI VRB 4z? Caractcristicas do discurso directo. i. No plano formal, um enunciado em discurso directo é mar-cado, geralmente, pela presenca de verbos do tipo di^er, afirmar, potiderar, sugerir, perguntar, indagar, responder e sinónimos, que podem introduzi-lo, arrematá-ío, ou nele se inserir: Meneou a cabeca com ar triste e acrescentou: ■—O hörnern acostuma--se a tudo, sim, a tudo, até a esquecer-se que é um hörnern... (Castro Soromenho, C, 66.) É esta a gaveta?'—perguntou ele. (Osman, Lins, V, 53.) Penso — disse meu pai — que te darás meJhor em Letras. (Vergilio Ferreira, A, 26.) Quando falta um desses verbos dicendi, cabe ao contexto e a recursos gráficos —tais como os dois pontos, as aspas, o travessäo e a mudanca de linha — a funcäo de indicar a fala do personagem. É o que observamos nes-tes passos: «Todos vamos ficando diferentes, e vinte e cinco anos é uma vida.» «Para muitos é mais do que isso.» «Qaro que e.» (Maria Juditě de Carvalho, TM, 49.) O amigo abracou-o. E logo recuou com certo espanto: — o seu chapeu, Zé Maria? — Ah, aäo uso mais!... —Felizardol (Anibal M. Machado, HR, 47.) 2. No PLANo EXPRESsrvo, a foica da narracäo em discurso directo provém essencialmente da sua capacidade de actualizar o episódio, fazcndo emergir da situacäo o personagem, tornando-o vivo para o ouvinte, ä maneira de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera funcäo de indi-cador das falas. Dal scr esta a forma de relatar preferentemente adoptada nos actos diá-rios de comunicacäo e nos estilos literários narrativos em que os autores pretcndem rcprescntar diante dos que os léem «a comédia humana, com a maior naturalidade possivel» (E. Zola). DISCURSO INDIRECTO Tomemos como exemplo esta fräse de Machado de Assis: Jose Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que näo era médico. (PC, I, 733.) Ao contrario do que observamos nos enunciados em discurso directo, o narrador (Machado de Assis) incorpora aqui, ao seu proprio falar, uma informagäo do personagem (Jose Dias), contentando-se em transmitir ao leitor apenas o seu conteúdo, sem nenhum respeito ä forma linguistica que teria sido realmente empregada. Este processo de reproduzir enunciados chama-se discurso indirecto. Caracteristicas do diBcurso indirecto. 1. No plano formal, verifica-se que, introduzidas também por um verbo declarativo (di%er, afirmar, ponderar, confessar, responder, etc.), as falas dos personagens apatecem, no entanto, numa oracäo subordinada substantiva, em geral desenvolvida: Joao Garcia garanüu que sim, que voltava. (Vitorino Nemésio, MTC, n.) Nestas oracöes, como vimos, pode ocoxxer a elipse da conjuncäo inte-grante: Como supunha fössemos ter ainda uma quinzena de actividade e pudcssemos esgotar o ptogtama, demorara-me alguns dias em Machado e em Ega. (Ciro dos Anjos, DR, 283.) 2. No plano Expressivo, assinale-se, em primeiro lugar, que o em-prego do discurso indirecto pressupöc um tipo de relato de carácter pre-dominantemente informativo e intclcctivo, sem a feicäo teatral e actuali-zadora do discurso directo. O diálogo é incorporado ä narragäo mediante uma forte subordinacäo semántico-sintáctica estabelecida por meio de nexos c correspondencias verbais entre a fräse reproduzida e a fräse introdutora. Em sintese: no discurso indirecto o narrador subordina a si o personagem, com retirar-Ihe a forma própria e afectivamente matizada da expres- 426 BREVE GRAMATICA do portugués CQNTEMPOrAnEQ säo. Mas näo se conclua dai que tal modalidade de discurso seja uma cons-trucäo estilística pobre. E, na verdade, do emprego sabiamente dosado de um e outro tipo de discurso que os bons escritores extraem da narrativa os mais variados efei-tos artísticos, em consonäncia com intencôes exptessivas que só a análise em profundidade de uma dada obra pode revelar. Transposigäo do discurso directo para o indirecto. x. Do confronto destas duas frases; — A senhora vai sair— disse ela Ela diss e olhando-o muito que olhando-o muito. a senhora ia sair. (Eca de Queirós, 0, I, 878.) verifica-se que, ao passar-se de um tipo de relato para outro, certos ele-mentos do enunciado se modificam, por acomodacäo ao novo molde sin-táctico. 2. As principals transposicóes que ocorrem säo: Discurso directo Discurso indirecto: a) enunciado em i.a ou em 2.» d) enunciado em j.a pessoa: pessoa: — Preciso de dinheiro— disse o capitäo. (Agustina Bessa Luis, M, 151.) Disse o capitäo que precisava de dinheiro. Perguntou-lhe Rodrigo se näo achava melhor tirar aquele poncho. — Näo achas melhor tirar esse poncho?— perguntou-lhe Rodrigo. (Ético Verlssimo, A, II, 323.) b) verbo enunciado no presente: b) verbo enunciado no imper- feito: 1 prSCURSQ DIRECTO, DISCURSO INDIRECTO E PrSCURSQ INDIRECTO li VRE 4*7 - Sou a' Julieta — disse, hesitante. (Augusto Abelaira, B, 81.) lieta. Disse, hesitante, que era a Ju- c) verbo enunciado no pretérito c) verbo enunciado no pretérito perfeito: - Nem banho tomei, cla esclarccia. (Nélida Piňon, CP, 82.) mais-que-perfeito: Ela esclarecia que nem banho tinha tornado. d) verbo enunciado no futuro do presente: — Que setá feito do senhor padre Brito? perguntou D, Joaquina Gansoso. (Ega de Queirós, 0, I, 43.) d) verbo enunciado no futuro do pretérito: Perguntou D. Joaquina Gansoso que seria feito do senhor Padre Brito. 0) verbo no modo imperativo: e) verbo no modo conjuntivo: — Näo faca eseándalo — disse a outra. (Osman Lins, V, 100.) f) pronome demonstrativo de i.a (este,esta, isto) ou de 2.a pessoa (esse, essa, isso): — Näo abro a porta a estas horas a ninguém — disse Grácia. (Agustina Bessa Luis, M, 266.) — Isso é um numero muito com-prido, respondeu Cesária. (Graciliano Ramos, AOH, 108.) g) advérbío de lugar aqui: — Aqui amanhece muito cedo ■— disse Sales. (Castro Soromenho, C, 199.) h) enunciado justaposto: ■— Foi um tempo velhaco — disse, concordante e enfastiado. (Fernando Namora, NM, 213.) /) enunciado em forma interrogati-va directa: — «Lá é bom?» — perguntei. (Guimaräes Rosa, GS-V, 103.) Disse a outra que näo fizesse eseándalo. /) pronome demonstrativo de 3.a pessoa (aqtiek, tiqttela, aqui'io) : Disse Grácia que näo abria a porta äquelas horas a ninguém. Cesária respondeu que aquilo era um numero muito comprido. g) advérbio de lugar a/i: Disse Sales que ali amanhecia muito cedo. b) enunciado subordinado, ge-ralmente introduzido pela in-tegrante que: Disse, concordante e enfasda-do, que tinha sido um tempo velhaco. t) enunciado em forma interro-gativa indirecta: Perguntei se lá era bom. 4*8 breve gramáttca do portugués contbmporáneo DISCURSO INDIRECTO LIVRE Na moderna literatura narrativa, tem sido amplamente utilizado um terceiro processo de reproducäo de enunciados, resultante da conciliacäo dos dois anteriormente descritos. é o chamado discurso indirecto livre, forma de expressäo que, em vez de apresentar o personagem em sua voz propria (discurso directo), ou de informar objectívamente o Ieitor sobre o que ele teria dito (discurso indirecto), aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressäo de que passam a falar em uníssono. Atente-se no passo assinalado: O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capa-cida.de sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar i luz aqueles sercs risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. (Clarice Lispector, L.F, 56.) Caracteristicas do discurso indirecto livre. 1. No plano formal, verifíca-se que o emprego do discurso indirecto livre «pressupoe duas condicöes: a absoluta liberdade sintáctica do escritor (factor gramatical) e a sua completa adesäo ä vida do personagem (factor estetico)». Conserva ele toda a afectividade e a expressividade próprias do discurso directo, ao mesmo tempo que mantém as transpo-sicöes de pronomes, verbos e advérbios tipicas do discurso indirecto. z. No plano expressivo, devem šer realcados alguns valores desta construcao híbrida: i.°) Evitando, por um lado, o acúmulo de qnis, ocorrente no discurso indirecto, e, por outro, os cortes das aposigöes dialogadas, pecu-liares ao discurso directo, o discurso indirecto livre permite uma narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais artisticamente elaborados; 2.0) O elo psíquico que se estabelece entre narrador e personagem neste molde frásico torna-o o preferido dos escritores memorialistas cm suas pági-nas de monólogo interior; 3.0) Para a aprcensäo da fala do personagem nos trechos em discurso indirecto livre, cobra importáncia o papel do contexto, pois que a pas-sagem do que seja rclato por parte do narrador a cnunciado real do locutor é muitas vezeš cxtremamente subtil. 21. Pontuajäo SINAIS PAUSAIS E SINAIS MELÓDICOS A lingua escrita näo dispôe dos inumeriveis tecursos rítmicos e melódicos da lingua falada. Para suprir esta caréncia, ou melhor, para reconstituir apro-ximadamente o movimento vivo da elocucäo oral, serve-se da pontuacäo. Os sinais de pontuacäo podem ser classificados em dois grupos: O primeiro grupo compreende os sinais que, fundamentalmente, se destinam a marcar as paus as: a) a virgula (,) b) o ponto (.) c) o ponto e virgula (;) O segundo grupo abarca os sinais cuja funcäo essencial é marcar a melódia, a entoacäo: a) os dois pontos (:) b) o ponto de interrogacäo (?) c) o ponto de exclamacäo (I) d) as reti cen cias (...) é) as asp as (« ») f) OS parénteses ( () ) g) OS colchetes ( [] ) J}) O travessäo (—) SINAIS QUE MARCAM SOBRETUDO A PAUSA A virgula. A vírgula marca uma pausa de pequena duracäo. Emprega-se näo só para separar elementos de urna oracäo, mas tambčm oracöes de um só periodo. 43° breve gramati ca do portuguěs contempqráneq 1 pontüacäo 431 i. No interior da oracao serve: i.°) Para separar elementos que exercem a mesma funcäo sintáctica (sujeito composto, complementos, adjuntos), quando näo vém unidos pelas conjuncöes e, ou e nem. Exemplos: A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrímas, enchem-lhe a voz de formas e de cores... (Teixeira de Pascoaes, OC, VLT, 83.) Os homens em geral säo escravos; vivem presos as suas profissöes, aos seus interesses, aos seus preconceitos. (Gilberto Amado, TL, 12.) ■—Nós vivemos num canto da colónia, longe de tudo, sem recursos, sozinhos. (Castro Soromenho, TM, 246.) z.°) Para separar elementos que exercem funcöes sintácticas diversas, geralmente com a finalidade de realcá-los. Em particular, a virgula é usada; a) para isolar o aposto, ou qualquer elemento de valor meramente explicativo: Alice, a menina, estava feliz. (Fernando Namora, TJ, 30.) b) para isolar o vocativo: — D. Gloria, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? (Machado de Assis, OC, I, 731.) t) para isolar os elementos repetidos: — Só mmha, minha, minha, eu querol... (Luandino Vieira, VE, 86.) d) para isolar o adjunto adverbial antecipado: Lá fora, a chuvada dcspenhou-se por fim. (Carlos de Oliveira, AC, 17.) 3.0) Emprega-se ainda a virgula no interior da oragäo: a) para separar, na datacäo de um escrito, o nome do lugar: Paris, 22 de abril de 1983. b) para indicar a supressäo de uma palavra (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras: No ceu azul, dois fiapos de nuvens. (Augusto Frederico Schmidt, AP, 176.) Observacäo: Quando os adjuntos adverbiais säo de pequeno corpo (um advérbio, por exemplo), costuma-se dispensat a virgula. A virgula é, porém, de regra quando se pretende realcá-los. Comparem-se estes passos: Depois levaram Ricardo para a casa da mäe Avelina. (Jose Lins do Rego, U, 320.) Depois, o engragado säo as passagens de nivel, os aparelhos de sina-lizaeäo, os vagöes-cisternas... (Augusto Abelaira, D, 30.) Depois, tudo caiu em silencio. (Castro Soromenho,. TM, 261.) 2. Entre oragoes, emprega-se a virgula: i.°) Para separar as oragoes coordenadas assindéticas: Subiram ao sótäo, desceram á cave, espreitaram no pogo. (Sophia de Mello Breyncr Andresen, CE, 74.) 2.0) Para separar as oragoes coordenadas sindéticas, salvo as introduzi-das pela conjungäo e: Ou elas tocavam, ou jogávamos' os trés, ou entäo lia-se alguma cousa. (Machado de Assis, OC, II, 497.) 3.0) Para isolar as oragoes intercaladas: «La vera ele com as ralzes», resmungou Paulino, baixando a cabega. (Castro Soromenho, C, 137.) 4-°) Para isolar as oragoes subordinadas adjectivas explicativas: O Loas, que tinha relagöes sobrenaturais, diagnosticara urn espirito.-(Fernando Namora, TJ, 24.) 432 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEQ pONTUACÄO 433 5.0) Para scparar as oracöes subordinadas adverbiais, principalmentc quando antepostas ä principal: Se eu o tivesse amado, talvez o odiasse agora. (Ciro dos Anjos, M, 146.) 6.°) Para separar as oracöes reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio, quando equivalentes a oracöes adverbiais: A näo ser isto, é uma paz regaiada. (Castro Soromenho, C, 225.) Sendo cantos os mortos, enterram-nos onde calha. (José Saramago, MC, 221.) Fatigado, ia dormir. (Lima Barreto, TFPQ, 279.) O ponto. 1. O ponto assinala a pausa maxima da voz depois de um gruj o fónico de final descendente. Emprega-se, pois, fundamentalmente, para indicar o térrnino de uma oracäo declarativa, seja ela absoluta, seja a derradeira de um periodo composto: Entardecer no Angico. Estou paráda, sozinha, na frente da casa da están-cia, olhando para o poente. O sol parece uma grande laranja temporä, cujo sumo escorre pelas faces da tarde. O ar cheira a guaco queitnado. Um silen-cio de paina crepuscular envolve todas as coisas. A terra parece anestesiada, Raras estrelas comecam a apontar no firmamento, mais adivinhadas do que propriamente visiveis. Sinto um Jangor de corpo e espírito. Decerto é a tar-dinha que me contagia com sua doce febre. (Érico Veríssimo, A, Hl, 932.) 2. Quando os períodos (simples ou compostos) se eneadeiam pelos pensamentos que expressam, sucedem-se uns aos outros na mesma linha. Diz-se, neste caso, que estäb separados por um ponto simples. 3. Quando se passa de um grupo a outro grupo de ideias, costuma-se marcar a transposicäo com um maior repouso da voz, o que, na escrita, se representa pelo ponto parágrafo. Deixa-se, entäo, em branco o resto da linha em que termina um dado grupo ideológico, e inicia-se o seguinte na linha abaixo, com o recuo de algumas letras. Assim: O Buzio näo possuía nada, como uma árvore näo possui nada. Vivia com a terra toda que era ele proprio. A terra era sua mäe e sua mulher, sua casa e sua companhJa, sua cama, seu alimento, seu destino e sua vida. Os seus pés descalgos pareciam escutar o chäo que pisavam. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CB, 145.) 4. Ao ponto que encerra urn enunciado escrito dá-se o nome de ponto final. ObservacSo Alem de servir para marcar uma pausa longa, o ponto tem outra uti-lidade. E o sinal que se emprega depois de qualquer palavra escrita abrevia-damente. Assim: V. S.* f Vossa Senhoria), Dr. (DoutorJ, C. F. C. (Conselbo Federal de Culturaj, I. N. I. C. (Institute Nacionál de Investigacäo Cientlfica). Note-se que, sc a palavra assim reduzida estiver no fim do periodo, este encerra--se com o ponto abreviativo, pois näo se coloca outro ponto depois dele. O ponto-e-vírgula. 1. Como 0 nome indica, este sinal serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, podendo aproximar-se ora mais daquele, ora mais desta, segundo os valores pausais e melódicos que representa no texto. No primeiro caso, equivale a uma espécie de ponto reduzido; no segundo, assemelha-se a uma vírgula alongada. 2. Esta imprecisäo do ponto-e-vírgula faz que o seu emprego dependa substancialmente do contexto. Entretanto, podemos estabelecer que, cm principio, ele é usado: r.°) Para separar num periodo as oracöes da mesma natureza que tenham uma certa extensao: Numa tarde de Outono murmuraste; Toda a mágoa do Outono ele me trouxe... (Florbela Espanca, S, 49.) 2.0) Para separar partes de um periodo, das quais uma pelo menos esteja subdividida por vírgula: Chamo-me Inicio; ele, Benedito. (Machado de Assis, OC, II, 680.) 434 BREVE GRAMÁTICA DO FORTUGUÉS CONTEMPORANEo Para separat os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, portarias, regulamentos, etc.). Sirva de exemplo o Título I (Dos fins da Educafäo) da Lei brasileira de Directrizes e Bases da Educacäo Nacionál: Art. i.o A educacäo nacionál, inspirada nos princípios de liberdadc e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: a) a compreensäo dos direitos e deveres da pessoa humana, do ridadäo, do Estado, da família e dos demais gľupos que compöem a comunidade; b) o respeito ä dignidade e äs liberdades fundamentais do hörnern; t) o fortalecimento da unidade nacionál e da solidariedade internacionál; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua parti-cipacäo na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utiližat as possibilidades e vcncer as dificuldades do meio; /) a preservacäo e expansäo do pätrimónio cultural; g) a condenacäo a qualquer tratamento desigual por motivo de con-víccao filosóŕica, polltica ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raca. Valor mclodico dos sinais pausais. Dissemos que a vírgula, o ponto e o ponto-e-vírgula marcam sobreíudo — e näo exclusivamente — a pausa. No cqrrer do nosso estudo, ressaltámos até algumas das suas características melódicas. É o momento de sintetizá-las: a) o pONTo corresponde sempre ä final descendente de um grupo fónico; b) a vírgula assinala que a voz fica em suspenso, ä espera de que o periodo se complete; c) o ponto-e-vírgula denota em geral uma debil inflexäo suspcn-siva, suficiente, no entanto, para indicar que o periodo näo está concluído, SINAIS QUE MARCAM SOBRETUDO A MELÓDIA Os dois pontos. Os dois pontos servem para marcar, na escrita, uma sensível suspensäo da voz na melódia de uma frase näo concluída. Empregam-se, pois, para anunciar: pontuacäo 43 5 i.o) uma citacäo (geralmente depois de verbo ou expressao que signi-fique disgr, responder, pergimtar e smönimos): demente voltou para dizer: — Näo enxerguei ninguem, camarada. Era bicho. (Fernando Namora, NM, uz.) z.°) uma enumeracäo explicativa: Näo fosse ele, outros seriam: pajens, gente de guerra, vactios de estala-gens, andejos das estradas. (Coelho Netto, OS, I, 1420.) 3.0) um esclarecimento, uma sintese ou uma consequencia do que foi enunciado: E a feHcidade traduz-se por isto: criarem-se hrfbitos. (Augusto Abelaira, NC, 154.) Näo era desgosto: eta cansaco e vergonha. (Cochat Osörio, CV, 178.) Observacäo: Depois do vocativo que encabeca cartas, rerjuerimentos, oficios, etc., cos-turaa-se colocar dois pontos, virgula ou ponto, havendo escritores que, no caso, dispensam qualquer pontuacäo. Assim: Prezado senhor: Prezado senhor, Prezado senhor. Prezado senhor Sendo o vocativo iniciál emitido com entoagäo suspensiva, deve ser acom-panhado, preferentemente, de dois pontos ou de vírgula, sinais denoŕadores daquele tipo de inflexäo. O ponto de interrogacäo. 1. É o sinal que se usa no íim de qualquer interrogacäo directa, ainda que a pergunta näo exija resposta: Estará surdo? Estará a tentar irritar-me? (Sttau Monteiro, APJ, ioi.) 2, Nos casos em que a pergunta envolve dúvida, costuma-sc fazcr xcguir de reticčncias o ponto de interrogacäo: — Entäo?... que foi isso?.., a cornadre?... (Attur Azevedo, CFM, 86.) 4}6 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES-CQNTEMPORANEQ j / r^NTüACA0_ 3. Nas perguntas que denotam surpresa, ou naquelas que näo tôni endereco nem resposta, empregam-se por vezes combinados o ponto de interrogacäo e o ponto de exclamacäo: — Ah, é a-senhora?! Pois entre, a casa é sua... (Aníbal M. Machado, HR, 86.) — Quem é que näo conhece CoimbraPI.'t (Branquinho da Fonseca, B, 18.) 437 Empregam-se em casos muito variados. Assim: a) para indicar que o narrador ou a personagem interrompe uma ideia que comecou a exprimir, e passa a consideracôes acessórias: Peca-lhe a sua felicidade, que eu näo faco outra cousa... Uma vcz que voce näo pode ser padre, e prefere as leis... As leis säo belas, sem desfazet na teológia, que é melhor que tudo, como a vida eclesiástica é a mais šanta... Por que näo há de ir estudar leis fora daqui? (Machado de Assis, OC, I, 757.) Observacäo: O ponto de interrogacäo nunca se usa no um de uma interrogajäo indirecta. Como šalientámos no Capítulo 7, a interrogacäo indirecta termina com entoacäo descendente, exigindo, por isso, um ponto. Comparcm-se: — Quem chegou? [= interrogacäo directa] — Diga-me quem chegou. [ = interrogacäo indirecta] O ponto de exclamacäo. E o sinal que se pospöe a qualquer enunciado de entoaeäo exclama-tiva. Emprega-se, pois, normalmente: a) depois de interjeicöcs ou de termos equivalentes, como os voca-tivos intensivos, as apöstrofes: — Credo em cruzl gemeu Raimundo assombrado. (Graciliano Ramos, AOH, 147.) Que formosura täo de corte, de paläcio, de aristocracia 1 Que pureza c correegäo de linhasl Que fidalguia de olhar e falarl (Camilo Castelo Branco, OS, I, 87.) b) depois de um imperativo: — Agarreml — Gentes, agarreml agacrcml (Castro Soromenho, V, 113.) Ab retiefincias. i. As reticéncias marcam uma interrupcäo da frase e, consequente-mente, a suspensäo da sua melódia. b) para marcar suspensôes provocadas por hesitagäo, surpresa, dúvida ou timidez, ou para assinalar certas inflexôes de natureza emocional de quem fala: — Homem, vé lá... Pensa bem no que vais fazer...—avisou o prior. — A Raquel é boa rapariga... Mas a geracäo... Olha, eu näo digo nada. Resolve tu... (Miguel Torga, NCM, 142.) —^Há que tempos eu näo choraval... Pois me vieram lágrimas..., deva-garinho, como gateando, subiram... tremiam sobre as pestanas, luziam um tempinho... e ainda quentes, no arranco do galope, lá caíam elas na polvadeira da estráda, como um pingo ďágua perdido, que nem mosca nem formiga daria com elel... (Simôes Lopes Neto, CGLS, 128.) ť) para indicar que a ideia que se pretende exprimir näo se completa com o término gramatical da frase, e que deve ser suprida com a imaginacäo do leitor: Duas horas te esperei. Duas mais te esperaria. Se gostas de rnim näo sei... Algum dia há de ser dia... (Fernando Pessoa, QGT, n.o 98.) 2. Empregam-se também as reticéncias para reproduzir, nos diálo-gos, näo uma suspensäo do tom da voz, mas o corte da frase de um personagem pela interferencia da fala de outro: — A senhora. ia dizer que... — Nada... nada...—atalhou a mulher. (Aníbal M. Machado, HR, 15.) 438 b ee ve GRAMÁTICA do PORTUGUÉS contemporaneq pONTOACAO 439 3. Usam-se ainda as reticéncias antes de urna palavra ou de uma expressäo que se quer realgar: E as Pedras... essas... pisa-as toda a gentel... (Florbela Espanca, S, 30.) 4. Näo se devem confundir as rettcéncias, que tém valor estilistico apreciável, com os trés pontos que se empregam, como simples sinal tipo-gráfico, para indicar que foram suprimidas palavras no inicio, no meio, ou no rim de uma citagäo Modernamente, para evitar qualquer dúvida, tende a generalizar-se o uso de quatro pontos para marcar tais supressôes, ficando os trés pontos como sinal exclusivo das reticéncias. As aspas. i. Emprcgam-se principalmente: a) no inicio e no fim de uma citagäo para distingui-la do resto do contexto: Definiu Cesar toda a figura da ambígäo quando disse aquelas palavras: «Antes.o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma». (Fernando Pessoa, LD, 100.) b) para fazer sobressair termos ou expressöes, geralmente näo peculia-res a linguagem normal de quem escreve (estrangeirismos, arcaismos, neo-logismos, vulgarismos, etc.): Era melhor que fosse «clown». (Érico Verlssimo, C, 227.) c) para acentuar o valor significativo de uma palavra ou expressäo: A palavra «nordeste» é hoje uma palavra desfigurada pela expressao «obras do Nordeste» que quer dizer: «obras contra as secas». E quase näo sugere senäo as secas. (Gilberto Freyre, OE, 611.) d) para realgar ironicamente uma palavra ou uma expressäo: — Está o mundo pcrdido, até a Judite já tcm «arranjinho»! (Almada Ncgreiros, OC, II, 135.) e) para indicar o título de uma obra: Belinha acaba de ler «Elzira, a Morta Virgem». (Érico Veríssimo, C, 197.) Observacao: No emprego das aspas, cumpre atender a estes preceitos, aprovados nos acordos ortográficos Iuso-brasileiros: «Quando a pausa coincide com o final da expressao ou sentenga que se acha entre aspas, coloca-se o compe-tente sinal de pontuag5o depois delas, se encerram apenas uma parte da pro-posigSo; quando, porém, as aspas abrangem todo ó periodo, sentenga, fxase ou expressao, a respectiva notagao fica abrangida por elas.» Os paténteses. 1. Empregam-se os parénteses para intercalar num texto qualquer indicagao acessória. Seja, por exemplo: d) uma explicagao dada ou uma circunstáncia mencionada inciden-temente: É lá (no café) que se encontra a estalajadeira. (José Cardoso Pires, D, 51.) /;) uma reflexao, um comentário h margem do que se afirma: A minha guerta, como a dos que tinham partido (se é que tinham), come-gava agora. (Jorge de Sena, SF, 295.) c) uma nota emocional, expressa geralmente em forma exclamativa ou interrogat'va: Havia a escola, que era azul e tinha Um mestre mau, de assustador pigarro... (Meu Deusl que é isto? que emogao a minha Quando estas coisas tao singelas narro?) (B. Lopes, H, 6j.) 2. Usam-se também os parénteses para isolar oragóes intercaiadas com verbos declarativos: Quem és (lhe perguntei com grande abalo) Fantasma a quem odeio e a quem amo? (Antero de Quental, SC, 79.) o que se faz mais frequentemente por mcio de vítgulas ou de travessóes. it 440 breve gramätica do portugues contemporäneo pONTCJACÄO Obser vacäo: 441 A posigäo dos parénteses com referencia aos sinais pausais obedece á seguintc norma constante dos acordos ortograficos iuso-brasileiros: «Quando uma pausa coincide com o inlcio da construcäo parentética, o respectívo sinal de pontua-cäo deve ficar depois dos parénteses; mas, estando a proposicäo ou a frase inteira encerrada pelos parénteses, dentro deles sc pôe a competente notaeäo», Os colchetcs. Os colchetes säo uma vaxiedade de parénteses, mas de uso restrito. Empregam-se: a) quando numa transcrigäo de texto alheio, o autor intercala obser-vacöes ptóprias, como nesta nota de Sousa da Silveira a um passo de Casi-miro de Abreu: Entenda-se, pois: «Obrigado! obrigado [pelo teu canto em que] tu res-pondes [á minha pergunta sobre o porvir (versos 11-12) e me acenas para o futuro (versos 14 e 85), embora o que eu percebo no horizonte me pareca apenas urna nuvem (verso (Casimiro de Abreu, Q, 374,) b) quando se quer isolar urna construcäo internamente j á separada por parénteses, á semelhanga do que ocorre com os segundos colchetes do exempio anterior; c) quando se deseja incluit, numa referencia bibliogiáfica, indkagäo que näo conste da obra citada, como neste exempio: Dom Casmurro. Por Machado de Assis, da Academia Brasileira. H. Garnier, Liyreiro-Editor — 71, Rua Moreira César, 71, Rio de Janeiro — ô, Rue des Saínts-Péres, 6 — Paris {1899]. Obsetvagäo': O uso dos colchetes é frequente nos trabalhos de linguística e de filológia. Como dissemos no Capítulo 3, coloca-se entre colchetes urna palavra trans-crita foneticamente. Por exempio: mundo ['müdu] fugir [fu'3Ír] Tambdm entre colchetes se colocam, nas edicôes críucas, os elementos que devem ser introduzidos no texto, encerrando-se entre parénteses os que dele devem ser elirninados. Pata indkar, nos diálogos, a mudanga de interlocutor: — Quern é o seu tabeliao, Dároaso? — O Nunes, na Rua do Ouro... Por que? ■—Ohl nada. (Ega de Queirós, O, II, 388.) 2.0) Para isolar, num contexto, pakvtas ou frases. Neste caso, em que desempenha funcao analoga á dos parénteses, usa-se geralmente o travessao duplo: — A Igreja — atalhou o Bispo — nío pode desinteressar-sc do problema social. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 36.) Mas náo é raro o emprego de um só travessao para destacar, enfaticamente, a parte final de um enunciado: Um povo é tanto mais elevado quanto mais se interessa pelas coisas inú-teis — a filosofia e a arte. (Gilberto Amado, TL, 16.) O travessao. Emprega-se principalmente em dois casos: 22. Nocôes de versificacäo NOCÔESDE VERSIFICACÄO 443 3- O RiTMO é o elemento essenciai do vekso, pois este caracteriza-se em ultima análise, por ser o periodo ritmico que se agrupa em series numa com-posilo poétua. Quando tais períodos rítmicos apresentam o mesmo numero de silabas em todo o poema, a versificacäo diz-se regular. Se näo há igual-dade silábica entre eles, a versificacäo é irregular ou livre. ESTRUTURA DO VERSO Ritmo e verso. 1. Examinemos estes versos do poeta Cruz e Sousa: Vai, Peregtino do caminho santo, Faz da tu'alma lämpada do cego, Iluminando, pego sobre pego, As invisiveis amplidSes do Pranto. Verificamos que as silabas tonkas, marcadas com negrita, se repetem depois de uma, duas ou tres silabas ätonas. Esta sucessäo de silabas fortes e fracas, com intervalos reguläres, ou näo muito espacados (para que a rei-teracäo possa ser esperada e sentida pelo nosso ouvido), e urna fönte de prazer a que chamamos ritmo. 2. A contiguidade de silabas tonicas prejudica o ritmo e, consequen-temente, desagrada ao ouvido. Por isso, a silaba anterior ä ultima tönica e necessariamente ätona. Täo forte e esta exigencia litmica que, mesmo sendo tdnica no vocäbulo isolado, ela se atonifica pela posicäo. Por exem-plo, nestes dissilabos de Casimiro de Abreu: Tu ontem Na danga, Que cansa, Voavas... o pronome tu, monossilabo tonico, sofre uma deflexäo de pronüncia, no primeiro verso, por ser obrigatoriamente acentuado, como silaba final do verso, o 0 de ontem, que lhe estä contiguo. Os limites do verso. i. A forma do verso é determinada pela combinagäo de silabas, acen-tos e pausas, contando-se as suas silabas até a ultima acentuada. Assim, tém igualmente dez silabas métricas os seguintes versos de Augusto dos Arnos: A es ca la dos la ti dos an ces trais No tem po de meu Pai, sob es tes ga lhos Sob a for ma de mí ni mas ca man dulas i z 3 4 5 6 7 8 9 10 poique näo se leva em.conta a átona final da palavra galhos, nem tampouco as duas finais da palavra camdndulas. z. O numero de unidades silábicas que se contém num verso, desde o seu início até a ultima silaba tónica, é indicado por compostos gregos em que entta a forma do numeral seguida do elemento -sílabo: monossí- labo, DISSfLABO, TRISSÍLABO, TETRASSÍLABO, PENTASSÍLABO, HEXASSĹLABO, HEPTASSÍLABO, OCTOSSÍLABO, ENEASSÍLABO, DECASSÍLABO, HENDECASSÍLABO e DODECASSÍLABO. Vejamos agora como se contam estas unidades silábicas. As ligacoes ritmicas. A melodia do verso exige que as pakvras venham ligadas umas as outras mais estreitamente do que na prosa. Sinalefa, elisao e erase. Compatemos estes versos de Olavo Bike, todos com dez silabas metricas: 444 breve gramatica do portuguěs contemporaneo nocoes de versifica^ao 445 Che guci. Che gas te. Vi nhas fa ti ga (da) E txis te, e tris te e fa ti ga doeu vi (nha.) Ti nhas a al ma de so nhos po vo a («*0 Eaal ma de so nhos po vo a da eu ti (nha...) i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Verificamos que no ptimeito haverá sempře, de qualquer forma que o leiamos, dez sílabas até a ultima tónica. Nele a fronteira das silabas é coin-cidente, seja numa leitura pausada ou acelerada, seja na prosa ou no verso, seja, enfim, numa emissäo isolada das palavras, se abandonarmos a ultima sílaba átona. Já näo sucede o mesmo com os trés outros versos, que só atíngém aquela medida pela leitura numa só siiaba da vogal final de uma palavra com a vogal iniciál da palavra seguinte. Assim: d) no segundo verso, temos de juntar numa só emissäo de voz o e final de triste e a vogal da conjuncäo aditiva (duas vezes), bem como o o de fatigado e o ditongo do pronome eu; b) no terceiro verso, ligamos o artigo a ä vogal iniciál de alma; e) no quarto, fixialmente, ŕundimos numa só siiaba as vogais da conjuncäo e, do artigo a, e a iniciál do substantivo alma; e, também, a vogal final do adjectivo povoada e o ditongo constituído pelo pronome eu. Na leitura destes versos, šentimos que há trés solucôes para obtermos a contraccäo numa sílaba de duas ou mais vogais em contacto: 1. a) A primeira vogal pode perder a sua autonómia silábica e tornar-se urna semivogal, que passa a formar ditongo com a vogal seguinte. É o que se observa, por exemplo, na pronúncia: fa / ti / ga / dwew / [= fatigado eu] Dizemos que, neste caso, há sinalefa. 2. a) A primeira vogäl pode desaparecer na pronúncia dianie de uma vogal de natureza diversa. Por exemplo, na pronúncia: fa. / ti / ga / dew / [= fatigada eu] A ešte fenómeno chamamos elisäo. r-se 3 ») A primeira vogal pode ser igual á seguinte e com ela fundi numa só. É o que se dá, por exemplo, com a emissáo: Ti / nhas / al / ma / [= Tinhas a alma] Neste caso, verifica-se o que denominamos crase. Ectlipse. - Exarninámos até aqui encontros vocálicos intervocabulares em que a primeira vogal é oral. Mas pode ocorrer que ela seja nasal; e, neste caso, a regra é manter-se a autonómia silábica, isto é, o hiato das vogais em contacto.' Há, porém, certos encontros de vogal nasal com vogal (oral ou nasal) que na propria lingua corrente costumam ser resolvidos em ditongo, ou mesmo em crase. B o que se observa, por exemplo, em ligacôes como co'a, c'a, c'o (= com a, com o), que a propria ortografia oficial admite que se escreva sem apostrofo, com os elementos totalmente aglutinados (coa, ca, co). A esta fusäo vocálica, facilitada pela perda da ressonáncia nasal da primeira vogal, dá-se o nome de ectlipse. Vejam-se os exemplos ocorrentes nestes versos de Casimiro de Abreu: ■—Jesus 1 Como eras bonita, Co'aa trangas presas na fita, Co'as flores no samburá! Observacab: Como nos mostram os exemplos citados, para que um encontro vocá-hco mtervocabular possa ser pronunciado em uma só siiaba, é nccessário que a sua primeira vogal seja dtona, ou capaz de atonificar-se pela próclise. bendo tonica, a solugao normal é o hiato com a vogal seguinte, seja esta tónica ou átona. ' O hiato intervocabular. Quando num encontro concorrem duas vogais tonkas, elas näo podem fundir-se numa sílaba nem no verso, nem na prosa. Mesmo se houver urn enfraquecimento relativo da primeira vogal, como notámos no dissilabo de Casimiro dc Abreu: 446 breve gramática do portugués contemporaneo nqcôes de versificacäq 447 Tu / on / (tern), tal enfraquecimento näo evitará, normalmente, a separacäo silábica das vogais. Excluindo-se, porém, este caso em que o hiato é inevitável, e outros excepcionais, em que ele vale como recurso de estilo, pode-se afirmar que, desde o século x\n, os poetas da lingua manifestaram mna decidida e definitiva opcäo por solucionarem com sinalefa ou elisäo os encontros vocá-licos intervocabulares, a fim de conseguir para os seus versos uma estrutura mais continua, mais fluente, mais plastica. A medida das palavras. Relativamente ä contagem das silabas no interior das palavras, temos de considerar, em primeiro piano, os factores de ordem gramatical. Como nos ensina a gramática, também no verso os ditongos e os tritongos se contain em uma síiaba e as vogais em hiato, em silabas dife-rentes. Assim, nestes hendecassilabos de Castro Alves: A tar de mor ri al dos ra mos, das las (cas.) Das pe dras, do 11 quen, das he ras, dos car (dos,) As tre vas ras tei ras como ven tre por ter (ra) Sa í am quais ne gros, cru eis le 0 par (dos.) i 2 3 4 5 6 7 8 5> 10 n a palavra rasteiras conta-se em třes silabas e quais, em uma. Esse numero de silabas elas o teräo igualmente na prosa, ou, mesmo, se tomadas isola-damente. O ditongo [ej], que se contém na primeira, e o tritongo [waj], que apresenta a segunda, säo, pois, as pronúncias normais desses encontros vocálicos em todas as formas da lingua. Por outro lado, as palavras morria e saiam, em que há os hiatos / i-a / e / a-í-a /, seräo sempre emitidas em trés silabas, näo importando o tipo de enunciado no qual aparecam. Sinérese. Nas palavras que acabamos de exarninar há perfeita coincidéncia da sflaba gramatical com a silaba métrica. Mas esta concordäncia pode näo existk, porque, em certas condicôes, o verso permite a criacäo de novos diíongos, ou melhor, admite que se ditonguem vogais que, na pronúncia normal, formám hiato. Por exemplo, a palavra magoado é tetrassílabo da lingua corrente, já que apresenta o encontro -od-, ptonunciado de regra com as" vogais em hiato. Também no verso costumam ser assim emitidas, como nos mostra este heptassílabo de Augusto Gii: (do) Täo ma g° a do, täo lin i 2 3 4 5 6 7 Mas 0 seu 0 lhar ma goa i 2 3 4 5 6 7 Nao é raro, porém, o emprego desta palavra no verso como trissí-labo com a transformacäo do hiato /o-a/ no DIXONGO [wa . Compare-se ao que citimos anteriormente este heptassílabo de Augusto (do) Esta passagem de um hiato a ditongo, por exigéncia métrica, chama- -se 5INERESE. Diérese. Menos frequente do que a sinerese é o fenómeno inverso, ou seja a transŕbrmagäo de um ditongo normal em hiato. A esse alongamento silá-bico dá-se o nomc de diérese. Exemplifiquemos : Na lingua viva de nossos dias a palavra saudade é um trissílabo (sau-da-de), e como tal se emprega comumente quer na versificacäo erudita, quer na versificacäo popular. Mas, uma vez por outra, ainda aparece usadá no verso com a antiga pronúncia tetrassilábica (sa-u-da-de). Assim, nesta quadrinha: A auséncia tem uma filha, Que se chama saudade: Eu sustento mäe c filha, Bern contra minha vontade. Crase, aférese, sincopc e apocope. Além dos que estudámos, outros processos tém sido udlizados por, nossos poetas para reduzir ou ampliar o numero de silabas de uma pala- 448 breve gramática do portugués contemporäneo nocoes de versificacäo vra, segundo as necessidades métticas. Entre os processos de redugäo voca-bular, devem ser conhecidos: i.o) A c rase, ou seja a fiisäo de duas vogais ídénticas numa só, o que o'corre, por exémplo, com os dois -aa- contíguos de Saara neste decas-sllabo de Castro Alves: Quan J do eu pas so no Saa ra a mor ta lha 3 4 5 6 7 S 9 10 (da) 2.0) A aférese, ou seja a supressäo de sons no início da palavra. É o caso do emprego da forma 'stan/os por estamos neste decassílabo de Castro Alves: (to) 'Sta mos em ple no mar... Do fir ma men i z 3 4 5 6 7 8 9 10 3.0) A sfNcoPE, ou seja a supressäo de sons no meio da palavta, o que sucede na pronúncia esp'raßfas por esperattfas neste decassílabo de Casimiro de Abreu: (sas) Es p'ran Sas al tas... Ei- las já täo ra i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 4.0) A apocope, ou seja a supressäo de sons no fim da paiavra. Sirva de exemplo o emprego de mármor pela forma mármore neste decassílabo de Castro Alves: (ra) Ar tis ta — cor ta 0 már mor de Car ra i z 3 4 í 6 7 8 9 10 A ce8ura e a pausa final. i. O periodo xítmico formado pelo verso termina sempře numa pausa, que o delimita. Esta pausa pode consistir numa interrupcäo mais ou menos longa da cadeia falada, conforme assinale o final de verso, de estrofe, ou do proprio poema, caso em que é absoluta. Pode ser ela brevíssima, ou, mesmo, näo passar de um simples abaixamento da voz nos pontos de sepa-raeäo dos versos, mas näo pode faltar. Omiti-la é retirar o sinal derermina-dor da extensäo e unidade dos periodos ritmicos em que se estrutura o poema. 449 2. A cesura é um descanso da voz no interior do verso. Ocorre prin-cipalmente nos versos longos, que ficam por ela divididos em grupos font-cos, como dissemos no Capitulo 7. Comparem-se estes exemplos de Olavo Bilac: Cheguei. // Chegaste. // Vinhas fatigada... E um dia assiml // de um sol assiml // E assim a esfera... Despencando os rosais, // sacudindo o arvoredo... Quando o verso apresenta apenas uma cesura, os dois grupos fóni-cos por ela formados recebem o nome de hemistíquios (= metades do verso), embora nem sempře contenham o mesmo numero de sílabas. Acentue-se, ainda, que, ao contrario da pausa final do verso, a cesura que recaia entre duas vogais nao impede que elas se ditonguem ou, até, se fundam pela erase. Cavalgamento («enjambement»). 1. Dissemos que o verso finaliza sempre com uma pausa ou com uma deŕlexäo da voz que, ainda que breve, deve ser suficientemente percebida como o sinal característico do término de um periodo rítmico. Geralmente a pausa final do verso coincide com uma pausa existente, ou possível, na estrutura sintáctica. É o que observamos nestes decassílabos do soneto Nel mesgp del cam min..., de Olavo Bilac: ChegueL Chegaste. Vinhas fatigada / E triste, e triste e fatígado eu vinha. / Tinhas a alma de sonhos povoada, / E a alma de sonhos povoada eu tinha... / 2. Näo raio, no entanto, os poetas servem-se de um recurso estilis-tico, de alto efeito quando usado comedidamente, recurso este que consiste em terminar o verso em discordáncia flagrante com a síntaxe, pela separacáo de palavras estreitamente unidas num grupo fónico. As palavras desloca-das para o verso seguinte adquirem, com isso, um realce extraordinário, como vemos neste passo do mesmo soneto de Bilac: E paráraos de súbito na estráda Da vida: longos anos, preša ä minha A tua mäo, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. 45° breve gramáttca do portugués contemporaneo nocöes de versificacäo A esta biparticäo do grupo fónico pela suspensao inesperada da voz em seu interior e pelo relevo do segundo elemento, ansiosamente esperado pelo ouvinte, dá-se o nome de cavalgamento ou, na designacäo fřancesa, enjambement. TIPOS DE VERSO Os versos tradicionais. Embora näo faltem exemplos de versos de treze e mais silabas desde a poesia dos trovadores galego-portugueses, podemos considerar o dode-cassilabo o verso mais longo normalmente empregado pelos poetas da lingua antes da eclosäo dos movimentos modernistas em Portugal e no Brasil. Monossilabos. Os versos de uma silaba säo de uso raro. Geralmente aparecem combi-nados com outros maiores para obtencäo de certos efeitos sonoros. De Cassiano Ricardo säo estes monossilabos, agrupados em disticos: Rua torta. Lua morta. Tua porta. Dissilabos. Como os monossilabos, os versos de duas silabas näo säo frequentes. Tambem se empregam, de regra, em estrofes polimetricas para obtencäo de efeitos expressivos. Com dissilabos compos Casimiro de Abreu o seu harmonioso poema A Valsa: Quern dera Que sintas As dores De amores Que louco ^—^ Senti! TrissilaboB. Com versos de tres silabas sc ßzeram algüns poemas nas litetaturas dc lingua portuguesa, mas os trissílabos costumam scr mais usados cm estrofes compostas, geralmente combinados com heptassílabos. Alem do acento principal na 3.» silaba, podem os trissílabos apresen-tar ou nao um acento secundário na i.a silaba: Sempre viva... Que padece... Tetrassilabos. Podem apresentar trés cadéncias, que documentamos com versos do poema A lua, de Antonio Botto: a) acentuacao na z.a e na 4_a silaba (mais comum): Na noite negra b) acentuacao na i.a e na 4.a silaba: Gente perdida , t) acentuacao apenas na 4.° silaba: Nos coracSes Como verso auxiliar, o tetrassílabo é usado de preferéncia em com-binacao com o heptassílabo e com o decassílabo. Pentassílabos. Desde a época trovadoresca, o pentassílabo, ou verso de redondilha menor, tem sido usado nas quatro cadéncias possíveis no idioma, aqui docu-mentadas com versos de Joáo de Deus: a) acentuacao na 2.a e na 5,a sílaba (mais comum): Bonina do vale b) acentuacao na i.a, na 3.11 e na 5-a sílaba: Luz dos olhos meus! ť) acentuacao na 3.» e ca 5.11 silaba: Ao romper da aurora d) acentuacao na i.a e na j.a sílaba: Pérola do mar breve gramática do portugues contbmp0ranb0 Hexassílabos. O verso de seis sílabas teve certa voga na poesia trovadotesca. Depois caiu em desuso, para ressurgir no século xvi em combinacoes com o decas-sfiíABO HERÓrco, razao por que também se denomina heróicO quebrado. Readquiriu posteriormente a sua autonomk e, hoje, tem largo emprego entre os nossos poetas. Pode apresentar as seguintes cadéncias, que documentamos com versos do poema Verguntas, de Carlos Drummotid de Andrade: a) acentuacao na 2.», na 4.» e na 6.a silaba: Ou desse mesmo enigma b) acentuacao na 2.a e na 6.a silaba: Propícios a naufřágio f) acentuacao na 4.1 c na 6.a silaba: De me mclinar aflito d) acentuacao na 1,» na 4.1 c na 6.a silaba: Desse calado ltreal e) acentuacao na i.a, na 3.» e na 6.a silaba: ^ Magras xeses, caminhos /) acentuacao na 3.a e na 6.* silaba: Do primciro retrato Heptassilabos. O verso de sete sílabas ou de redondtlha maior foi sempře o verso popular, por exceléncia, das literaturas de lingua portuguesa e espanhola. Verso básico da poesia popular, desde os trovadores medievais aos moder-nos cantadores do Nordeste brasileiro, o heptassílabo nunca foi desprezado pelos poetas cultos, que dele se serviram por vezes em poemas de alta inda-gacáo filosónca. O heptassílabo é usado em oito movimentos rítmicos, que passamos a documentar ™->m excmplos colhidos na obra de José Régio: J nocôes de versificacäo +j ? a) ritmo alternante de sílaba forte e fřaca, ou seja acentuacao na i,a na 3.11, na 5 a e na 7.11 sílaba: Velha, grande, tosca e bela. b) variante do tipo anterior, com faita de acentuacao na 1.* sílaba: O luar no mar espraia c) variante do primeiro tipo, sem acentuacao na j.a sílaba: Sínto os olhos a turvar d) variante também do primeiro tipo, sem acentuacao na i.a e na 5.a sílaba: Na amutada dum veleiro e) acentuacao na 4.1 e na y* silaba: Que me diria, afinal, f) variante do tipo precedente, com acentuacao também na 2.a sílaba: Nas negras noitcs de inverno g) variante do tipo e, com acentuacao também na i.a sílaba: Choupos transidos de mágoa h) acentuacao na 2.a, na j.a e na 7.a sílaba: Da banda de lá do rio A outra cadéncia possível dentro das peculiaridades fonéticas do idioma — o heptassílabo com acentuacao na i.a, na 5.a e na 7,a sílaba —, por sua raridade, näo deve agradar ao ouvido dos poetas. Veja-sc este exemplo, colhido num poema de Cecília Meireles: Sobre o comprimento do ar Octossílabos. Eis os seus movimentos rítmicos, documentados na prática dc Alphon- 1 454 breve ™*«*rreADO_WBOTg^ CONTEMPORAneQ nocoes DE versificacao 45 5 sus de Guimaiaens: a) ritmo akernante de sílaba fraca e forte, isto é, acentuacao na 2.», na 4-a, na 6.a e na 8.a sílaba: Baixava lento. A noite vinna. b) variante do tipo anterior, sem acentuacao na 6.a silaba: Especcros cheios de esperanca. <•) variante do mesmo tipo, sem acentuacao na 2.a sílaba, mas podendo ter ou näo a i.a sílaba acentuada: No campanátio, ao sol incerto Bašta, talvez, a cova enorme d) variante também do primeiro tipo, com acentuacao interna apenas na 4-a sílaba, ou na i.a e na 4.*: O campanário do deserto Cheio de lúgubre mistério ŕ) variante ainda do primeiro tipo, sem acentuacao na 4.* sílaba: Paramos de repente ä porta /) acentuacao na i.a, na y.a, na j.3 e na 8.a sílaba: Era tarde. O sol no poente g) variante do tipo anterior, sem acentuacao na i.a sílaba: Com fadigas, suores e pranto //) variante do mesmo tipo, sem acentuacao na j.a sílaba: Quando o Jubileu se aproxima i) acentuagäo na 2.a, na j.a e na 8.a sílaba: Em ondas o bašto cabelo forte: J) acentuacao na j... na 6 a e na 8 a podendo ter a i.- sílaba também Entrevados de muitos anos Junto dcBtc caixäo informe Eneassílabos. Há dois tipos de versos de nove sílabas, ambos com raizes antigas na literatura portuguesa: O eneassílabo ANAPÉSTico, que apresenta acentuacao na 3.*, na 6.a e na o.a silaba e, por sua cadéncia uniforme e pausada, se tem pres-tado a composicöes de hinos patrióticos e de poemas cuja expressividade ressalta da absoluta regularidade rítmica. Comparem-se estes versos do Hino ä Bandeira (letra de Olavo Bilac): Contemplando o teu vulto sagrado, Compreendemos o nosso dever; E o Brasil, por seus filhos amado, Poderoso e feliz há-de ser. 2.0) O eneassílabo com acento interno fundamental na 4.» sílaba, que, por exigéncia idiomática, recebe forcosamente um outro na 6.a ou na 7a silaba. Seus movimentos rítmicos, sáo, pois, os seguintes, documentados com exemplos colhidos no Só de Antonio Nobre: d) acentuacao na 4.», na 6.a e na 9.* sílaba, podendo ter a i.a ou a 2.a sílaba também forte: O que no Mundo cá o esperava Adeusl ó Lua, Lua dos Meses, Lua dos Mares, ora por nos!,.. b) acentuacao na 4.*, na 7.a e na 9.*, com a possibilidade de ser a i.a ou a 2.a também acentuada: Adeus! Que estranha Visäo é aquela Que vem andando por sobre o mar? Todos exclamara de mSos pata ela, Decassilabos. é longa e complexa a história do decassílabo nas literaturas de lingua portuguesa. Em sua estrutura mais antiga, possuía acento interno fundamental na 4.» sílaba, assemelhando-se, portanto, ao verso primitivo da épica francesa. Cedo, porém, apareceram outros tipos de decassílabo. Desenvolveu-se uma forma, na qual a acentuacao interna, que por vezeš rccaía também na 6.tt sílaba, vcio a basear-se essencialmente nela. E, posteriormente, com a dissolucáo do esquema iniciál, surgiram ainda novas formas: os decassí- 456 breve gramatica do portuguěs contemporáneo nocoes de vbrsificacäo labos com acentuacäo interna fundamental na 5.11 e, mais raramente, na j.a siiaba. Eram essas as formas conhecidas do verso de dez silabas, quando, em principios do século xvi, por influéncia italiana, se fixaram os dois tipos, que kiam predominar até os dias de hoje nas literaturas de lingua portuguesa. Säo eles: a) o decassílabo chamado heróico, acentuado fundamentalmente na 6.a e na io.a sílaba, mas com possibilidades de ter acentuacôes secundá-rias na 8.a e numa das quatro primekas silabas: As minhas mäos magritas, afiladas, Tao brancas como a água da nascente, Lcmbram pálidas rosas entornadas Dum regago de Infanta do Oriente. (Florbeia Espanca) b) o decassílabo chamado sáfico, que apresenta acentuacäo na 4.», na 8.a e na io.a sílaba, podendo, naturalmente, ter a i.a ou a 2.a também fortes: Quando eu te ŕujo e me desvio cauto Da Iuz de fogo que te cerca, oh! bela, Contigo dizes, suspirando amores «—Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!» (Casimiro de Abreu) Mas os antigos ritmos näo se perderam. Mesmo os poetas do periodo clássico näo os olvidaram totalmente. Foram, porém, os simbolistas e os modernistas que souberam reabilitá-los, raostrando os apreciáveis rnovi-mentos melódicos que se podem obter num poema com o emprego do decassílabo em suas variadas cadéncias, Destas formas renovadas merecem referencia especial: a) o decassílabo acentuado na 4.°, na 7." e na io.a sílaba, comumcntc chamado verso de gaita galega, mas de longa tradigäo também na poesia italiana e espanhola: Já vai florir o potnar das macieiras... (Camilo Pessanha) b) o decassílabo com acentuacäo na j.a, na 7-a e na io.a sílaba: Primavcra que durou um momente. (Camilo Pessanha) f) o decassílabo com acentuacäo na j.a, na 7.a (ou na 8 a) e na io,a sílaba, forma que costumava assumk o antigo verso de arte-maior e 457 cadencia frequente do decassilabo francos: Ao meu coraeäo um peso de ferro Eu hei de prender na volta do mar. (Camilo Pessanha) Hendecassilabos. O HENDECASsfLABO foi muito usado pelos nossos poetas romänticos numa cadencia sempre uniforme, ou seja com acentuaeäo na z.a, na j.a, na 8.a e na ii.a siiaba: Nas horas caladas das noites d'estio Sentado sozinho c'oa face na mäo, Eu choro e solugo por quem me chamava — «Oh filho querido do meu coraeäo!» — (Casimiro de Abreu) Este tipo de hendecassilabo nada mais 6 do que a simples restauragäo da forma por que se apresentava com mais frequencia o verso de arte--maior, o verso longo, de quatro acentos, que servia aos poetas peninsula-res em suas composicöes graves e solenes ate principios do seculo xvi, quando comecou a ser eclipsado pelo decassilabo de origem italiana. No nosso seculo tem havido tentativas isoladas de busca de novos ritmos para o hendecassilabo, tentativas de pouca ou nenhuma repercussäo no meio literario. Dodecassílabos. O dodecassílabo é mais conhecido por verso alexandrino, deno-rriinagáo que tem gerado numerosos equlvocos, principalmente pelo facto de existkem, ainda hoje, dois tipos de alexandrino: o alexandrino Frances (de doze silabas) e o alexandrino espanhol (de treze silabas), este ultimo muito pouco cultivado pelos poetas de nossa lingua. O alexandrino Frances apresenta dois tipos ritmicamentc bem dis-tintos: o clíssico e o romAntico. O alexandrino chamado clássico tem a cesura no meio do verso, que fica assim dividido em dois hemistíqutos de partes iguais (6 + 6). Daí icsulta ser acentuado na 6.» e na i2.a sílaba, como se vé destes exemplos de Augusto de Lima: Nessas noites de luz // mais belas do que a aurora, As errantes viaocs // das almas peregrinas Vao voando a cantar // pela amplidšo afora... 4J8 breve gramática do portugués contemporaneq nocöes de versiftcacäo 459 Os romänticos franceses näo desdenharam do clássico ritmo binário (6 4- 6), nem do seu submúltiplo, o tetrámetro (3 + 3 + 3 + 3)> mas dcram énfase a uma forma pouco usadá pelos clássicos, o alexandrino de ritmo ternário (4 -f- 4 + 4). em que a cesura deixa de coincidir com o hemistíquio. A este tipo de dodecassíJabo se dá o nome de trímetro, ou de alexandrino romäntico. Leia-se, por exemplo, este verso de Camilo Pessanha: Adormecei. Näo suspireis. Näo respireis, Sa!iente-se por fim que os poetas da nossa lingua tém obedecido com certo rigor a duas normas na juntura dos hemistíquios dos alexandrinos: a) só empregar palavra grave no final do primeiro hemistíquio se o segundo hemistíquio comecar por vogal, a fim de garantir a integridade do verso pela sinérese das duas vogais em contacto, como nos mostra este verso de Amadeu Amaral: Ora, erespa, referve; // ora é um cristal sem ruga! b) nunca usar palavra esdrúxula no final do primeiro hemistíquio. O verso livre. O verso livre, que foi posto em prática pelo grande poeta norte--americano Walt Whitman na obra Folbas de Erva {Leaves of Grass, 1855), veio a dominar na poetka dos simbolistas de lingua francesa: Gustave Kahn, Jules Laforgue, Emile Verhaeren, Francis- Vielé-Griffin, Henri de Régrůer, Jean Moréas e tantos outros. Gustave Kalin, poeta e principal teorizador do verso livre, proeurou estabelecer-lhe os princípios, que podem ser assim resumidos: a) o verso deve possuir sua existencia propria e interior consubstan-cinda numa coerente unidade semántica e ritmica; b) a unidade do verso será entäo definida como o fragmento mais curto possivel em que haja unia pausa da voz e uma conclusäo de sentido; c) a estrofe näo terá mais um desenho preestabelecido, mas será con-dicionada pelo pensamento ou pelo sentimento; d) a inversäo e o cavalgamento säo reeursos que devem ser banidos do verso. Tais principios se consubstanciam, por exemplo, na Ode maritima, de Fernando Pessoa, como nos mostra este passo: Ah, seja como for, seja por onde for, partirl Largar por al fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar, Ir para Longe, ir para Fora, para a Dištancia Abstracta, Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas, Levado, como a poeira, plos' ventos, plos vendavais I Ir, ir, ir, ir de vez! Mas, como -bem salienta Henri Morier, näo podemos dizer que exista a priori uma técnica uniforme do verso livre 1. Cada poeta procura forjar o seu proprio instrumento, näo sendo raro o mesmo autor ensaiar vátias técnicas, como documenta a obra dos principals poetas modemistas Portugueses e brasiieiros. Advirta-se, por fim, que um verso só pode ser cönsiderado ltvre den-tro de certos tipos de estrutura poemática, estrutura que representa sempre uma organizaeäo interactiva. «A iinha só é unidade poética se há poéma. É o poéma que faz o verso livre, e näo o verso livre que faz o poéma. Exac-tamente como nos versos metricos»2. A RIMA i. Lendo esta quadrinha popular: Tanto limäo, tanta lima, Tanta silva, tanta amora, Tanta menina bonita... Meu pai sem ter uma nora! verificamos que: d) o i.° e o 3.0 verso apresentam uma identidade de vogais a partir da ultima vogal tónica: i-a (/i//;a-Zw;i/a); b) o 2.0 e o 4.0 verso apresentam uma correspondéncia de sons finais ainda mais perfeita, pois, a partir da última vogal tónica, se igualam todos os fonemas (vogais e consoantes): -ora (amora. — «ora). 1 Dietionmire dl poétiqiie et de rbéloriqm, 2." cd Paris P TI F io-m r. ,„...,„1. * «*» Ubn Ä 3 vols. GenĽ, P™«« ASmiJ«; Z'-'lL 1982, p. éJT MeSch0nnÍC- Críti!i"e * V** «ndmpoIogU bi:,oríqM ét /mmí, Paris, Verdier, 460 „»mm GRAMATICA PO PORTUGUBS CONTEMPORANEO n0cöes DE VERSIFICACÄO 2 Esta identidade ou semelhanca de sons em lugares deterrninados dos versos é o que se cháma rima. Se a correspondent de sons e com-Íen a R ma dilse soante, consoante ou, simplesmente, consokancia. t M coXmidade apenas da vogal tónica, ou das vogats a partit da tornca, a RiMA d«iomina-se to ante, assonant* ou, simplesmente, assonancia. A rima e o acento. ser: Quanto ä posicäo a) agddas: do acento tónico, as rimas, como as palavtas, podem Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomar, Que no céu os anjos regam com luar... (Guerra Junqueiro) b) GRAVES: Calfou as sand alias, tocou-se de notes, Vestiu-se de Nossa. Senhora das Dores. (Antonio Nobre) c) ESDRUXuXAS: No ar lento fumam gomas aromáticas, Brilham as navetas, brilham as dalmaticas. (Eugénio de Castro) As rimas agudas säo também chamadas rimas masculinas; e as graves, rimas femintnas. Rima perfeita e rima imperfecta. x. A rima é uma coincidéncia de sons, näo de letras, Por exemplo, há rima soante perfetta nestes versos de Alphonsus de Guimaraens: Céu puro que o Sol trouxe Claro de norte a sul, O tcu olhar é docc, Negro assim, qual se foBsc lhtciramcntc azul. ____461 tanto entre sul e a^ul, como entire as formas trouxe, does e fosse, que apresentam a mesma terminacao gtafada de tres maneiras diferentes. 2. Mas nem sempre ha identidade absoluta entre os sons dispostos em rima, quer soante, quer toante. Algumas discordancias tern sido mcsmo largamente toleradas attaves dos tempos. Entre os casos de rima imperfecta consagrados pelo uso, cabe mencionar: a) o das vogais acentuadas e e 0 abertas com fechadas, pratica iniciada por Gil Vicente, no seculo xvi, e adoptada desde entao pelos poetas da lingua: Quern disse a estrela o caminho Que ela ha de seguir no ceu? A fabiicar o seu ninho Como e que a ave aprendeu? (Almeida Garrett) b) o de rima de vogal oral com vogal nasal: De que ele, o sol, inunda O mar, quando se pöe, Imagem moribunda De um coraeäo que foi... (Jo3o de Deus) Rima pobre e rima lica. 1. Consideram-se pobres as rimas soantes feitas com terminacöes muito correntes no idioma, principalmente as de palavras da mesma classc gramatical. É o caso, por exemplo, dos infinitivos em -ar, dos participios em -ado, dos gerúndios em -ando, dos dirninutivos em -inho, "dos advérbios em -mente, dos adjectivos em -ante, dos substantivos em -do e -e%a, das pala-vras prirmtivas com os scus derivados por prefixaeäo: amor-desamor, ver--rever, etc. 2. Säo Ricas as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diversa ou de finais pouco frequentes, como nestes versos de Alphonsus de Guimaraens: O teu olhar, Senhora, é a estrela da alva Que entre alfombras de nuvens irradia: Salmo de amor, canto de allvio, c salva De palmas a saudar a luz do dia... breve gramática do portugués contemporaneo Alguns metricistas preferem reservat a qualificagäo ricas para as rimas com consoante de apoio, do tipo dia-irradia, sombra-assombra. 3. Denominam-se raras ou preciosas as rimas excepcionais, difi-ceis de encontrar. Foram procuradas sobretudo pelos poetas parnasianos e simbolistas. Veja-se, por exemplo, esta rima de cälix com digitalis, empre-gada nas Horas, de Eugenio de Castro: Oh os seus oihos! suas unhas em ameridoa! e em cälix O seu colo! e os seus dedos de digitalis! — 4. Por vezes, o poeta procura a raridade näo sö no campo fonetico, mas tambem no morfolögico. Do mesmo Eugenio de Castro säo estes versos, em que sc dispöem em rima urn substantivo com uma forma verbo- NOCOES DE VERSIPICACAQ -pronominal. Eis que diz uma: — Meus chapins descalga-mos, Unge meus pes brancos com cheirosos bálsamos. Combinacdes de rimas. 1. Os versos de um poema podem ser monorrimos, isto é, podcni terminar todos pela mesma consonáncia ou pela mesma assonáncia. É o que sucede comumente com os versos dos romances tradicionais, em que uma só assonáncia liga um numero indefinido deles. 2. Mas, em geral, as combinacöes rimicas processam-se dentro de uni-dades menores do poema —as estrokes—, cujos principais tipos estuda-remos adiante. Nas estrofes, as disposicöes mais frequentes de rimas säo as seguinces: a) rimas emparelhadas, quando se sucedem duas a duas: Ele deixava atrás tanta recordagäo! E o pesar, a saudade até no proprio chäo, Debaixo dos seus pes, parece que gemia, Levantava-se 0 sol, vinha rompendo o dia, E o bosque, a selva, o campo, a pradaria em flor Vestiam-sc de luz, como um peito de amor. (Alberto de Oliveira) _____ vi b) rimas altern Adas, quando, de um lado, rimam os versos imparcs (o i.° com o 3.0, etc.); de outro, os versos pares (o z.° com o 4.0, etc.): Tu es um beijo materno! Tu es um riso infantil, Sol entre as nuvens de inverno, Rosa entre as flores de abril! (Joäo de Deus) c) rimas opostas ou Interpoladas, quando o i.° verso rima com o 4.0, e o z.° com o 3.0: Saudadel Olhar de rninha mäe rezando E o pranto lento deslizando em fio... Saudadel Amor da rninha terra... O rio Cantigas de äguas ciaras soiugando. (Da Costa e Silva) d) rimas encadeadas, quando o i.'° verso rima com o 3.0; o z.° com o 4,0 e com o 6.°; o 5.0 com o 7.0 e o 9.0 e assim por diante, como nes-tes versos do poema Uma criatura, de Machado de Assis: Sei de uma criatura antiga e formidävel, Que a si mesma devora os membros e as entranhas Com a sofreguidäo da fome insaciävel. Habita juntamente os vales e as montanhas E no mar, que se rasga, a maneira de abismo, Espreguica-se toda em convulsöes estranhas, Traz impresso na fronte o obscuro despotismo. Cada olhar que despedc, acerbo e mavioso, Parece uma expansäo de amor e de egoismo. Indicacäo esquemática das rimas. esquema das kimas emp!reThadTs ?™T ^ ^ ^ Assil» ° nadas é ababab, etc.; 0Tn^as opn° das älteres, aba-beb-ede, etc P°STAS' ahba' 0 das "mas encadea- 4<54 breve gramática do portogübs contemporáneo Versos sem rima. Elemento importantíssimo na poesia dos povos románticos, a rima serve principalmente a dois fins. É uma sonoridade, uma musicalidade que, introduzida no poema, satisfaz o ouvido. E é, por outro lado, uma forma de marcar enfaticamente o término do periodo rítmico formado pelo verso. Mas näo constituí, como se tern dito, um elemento intrinseco, essencial do verso, tanto assim que era desusada na métrica latina de carácter culro e näo faltam äs literaturas modernas numerosos e admiráveis poemas com-postos de versos brancos, o que vale dizer — sem rima. ESTROFACÄO Estrofe (do grego strophe «volta», «convetsäo») e um agrupamento rítmico formado de dois ou mais versos que, em geral, se combinam pela rima. Quanto maior o numero de versos, tanto maior a possibilidade de variar a distxibuicäo das rimas. Eis os principals tipos de estrofe: O dfstico. É a menor estrofe, constituida de dois versos que rimam entre si, pelo esquema: aa-hb-ec, etc.: Filho meu, de nome escrito da minh'alma no Infinite. Escrito a estrelas e sangue no farol da lua langue... nocôes de versific^^ A quadra. (Cruz e Sousa) O terceto. É a estrofe de trés versos, hoje mais usadá na composicäo do soneto, da qual trataremos adiante. Os poemas estruturados em tercetos seguiram largo tempo o modelo célebre da Divina Comédia, de Dante —a terza rima—, sequencia de tercetos decassilábicos em rima encadeada (esquema: aba-bcb-cdc). O segundo verso do ultimo terceto devia limar com um verso final, rematc do poéma ou do canto (esquema: x%x-%). Posteriormente, compuseram-se tercetos com outras combinacöes rímicas (aab-ccb, abc-abc, etc.), ou mesmo sem rima. É a estrofe de quatro versos, os quais, na poesia culta, se apresentam geralmente em rima alternada (abab) ou oposta (abba), como vimos ante-riormente. Na literatúra popular, onde vale por um verdadeiro poéma de forma fixa, a quadra é, por via de regra, constituida de heptassilabos com uma só rima, do 2.0 com o 4.0 versb, Exemplo: O pouco que Deus nos deu i Cabe numa mäo fechada; O pouco com Deus é muito, O muito sem Deus é nada. A quintilha. É a estrofe de cinco versos. Em suas formas comuns, apresenta a com-binacäo de duas rimas dispostas nas series abbab, abaab e ababa. Da última veja-se este exemplo de Fernando Pcssoa: O tempo que cu hei sonhado Quanto tempo foi de vída í Ah, quanto do meu passado Foi só a vida mentida De um futuro imaginado! (Fernando Pessoa) A sextilha. É a estrofe de seis versos. Nela, a disposicäo das rimas pode variar muito. Gregório de Matos, por exemplo, usava o esquema aabbcc. Nas Sexti-Ihas de Frei Antao, Goncalves Dias rimou apenas os versos pares (abebdb). E assim fizeram outros poetas románticos, os quais preferiam, no entanto, o esquema aabccb. Poetas contemporáneos continuam a empregar a sextilha nas suas múltiplas combinacôes rímicas, algumas muito harmoniosas, como o tipo ababab: Por água brava ou sercna Deixamos nosso cantar, Vendo a voz como é pcquena Sobre o comprimento do ar. Se alguém ouvir temos pena: Só cantamos para o mar... (Cecília Meireles) 466 breve gramática do portugues contempqráneq A estrofe de sete versos. Frequente na poesia trovadoresca de carácter culto, a estrofe de sete versos teve menor fortuna a partir do Renascimento. Aparece em composicöes ligeiras de poetas do periodo ciássico, geral-mente no csquema abbaacc, como nesta volta de uma cantiga de Camňcs: Leva na cabe$a o pote, o těsto nas mäos de prata, cinta de fina escarlata, sainho de chamalote: traz a vasquinha de cott, mais branca que neve pura; vai fermosa, e näo segura. Poetas posteriores usaram outras combinacóes rímicas, entre as quais podem ser citadas as seguintes: aabcbbc (Alvares de Azevedo); abababa, aabcddc, abbcddc (Casimiro de Abreu); abacbac (Vicente de Carvalho); aabaaea, abbacbt (Fernando Pessoa); abedejd, ababeac, abedbec, abcabbc (Cecilia Meireles). A oitava. Da estrofe de oito versos liá um tipo tradicionalmente fixo, a oitava heróica, e outro métrica e rimicamente variável, a oitava iírica. A oitava heróica é formada de oito decassílabos, os seis primeiros com rima alternada e os dots .Ultimos com rima emparelhada (esquema: abababec). Foi a estrofe empregada por Cnmóes em Os Lmiadas: De Formiäo, filósofo elegante, Vereis como Anibal escarnecia, Quando das artes bélicas diante Dele com larga voz tratava e lia. A disciplina militat přestaňte Näo se aprende, senhor, na fantasia Sonhando, imaginando ou estudando, Senäo vendo, tratando e pelejando. (Lus., X, 153.) A oitava lír.ica admite grande variedade de combinagöes rímicas. Por vezeš é uma simples justaposicäo de duas quadras. Assim nos csquc-mas ababeded e abbaedde. Para lhe dar estrutura mais orgänica, procuram os poctas ligar pela rima um verso da primeira metade com um verso da segunda, gcralmcnte o 4.0 com o 8.° Este, por excmplo, o caso dos esquemas abbeadde, ababceb c aaabeceb. nocqes de versificacäo 467 Os poetas romanticos preferiam, nao raro, variantcs desses tipos com falta de rima no i.° e no 3.0 verso, ou no i.° e no 5.0, ou em todos os versos impares. Nao faltam tambem oitavas liricas em que os versos, se distribuem por duas rimas, como nesta de Gomes Leal, que obedece ao esquema abaaabab: Pegou no copo, com graca, E brindou, em lingua estranha... E a rainha, a vista ba$a, Como a urn punhal que a trespassa, Encheu de prantos a taca, E o seu lenco de Bretanha... Chorou baiso, ao ouvir, com graca, Esse brinde, em lingua estranha! A estrofe de nove versos. Embora tenha raizes antigas na literatura portuguesa, a estrofe de nove versos foi sempre pouco usada. Dela se serviu, por exemplo, Machado de Assis, no poema Visto (esquema aabcdbcdb). Mais recentemente, empregou-a Fernando Pessoa em 0 mostrengo (esquema aabaacded), cuja primeira estrofe é a seguinte: O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; A roda da nau voou trés vezes. Voou trés vezes a chiar, E disse: «Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que nao desvendo, Mcus tectos ncgros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo, «E1-Rei D. joao Segundo!» A décima. Em geral, a décima č a simples justaposicao de uma quadra e uma sextiuha, ou de duas quintilhas. No periodo ciássico, a décima em heptas-sllabos era usada para poesias ligeiras: cantigas, glosas, vilancetes e espar-sas. Sá dc Miranda empregou-a nos csqucmas abbaeddced c abaabedded; Camoes, na forma abaabedecd. E Gregório dé Matos, que dela se serviu largamentc nas sátiras, preferia o tipo abbaaaddc, dc que nos dá mostra a seguinte, endc- 468 breve gramatica do portugues contemporáneo recada «a um livreiro que havia comido um canteiro de alfaces com vinagre»: Levou um livreiro a dente De alface todo um canteiro, E comeu, sendo livreiro, Descncadcrnadamente. Porém, eu digo que mente A quern disso o quer tachar;. Antes é para notar Que trabalhou como um mouxo, Pois meter folhas no couro Também é encadernar. A esse tipo de décima de setissilabos, agrupados no esqůema rimico abbaaccddc, dá-se o nome de espinela, por ser atribuida a sua invencao ao poeta espanhol Vicente Espinel. A partir do romantismo, novos tipos de décima těm aparecido, em geral com intercalacor; de versos brancos. Estrofes simples e compostas. Chamam-se simples as estrofes formadas de versos de urna só medida, e compostas as que combinam versos maiores com menores. 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