António Nobre Memória (Só) Ora isto, Senhores, deu-se em Trás-os-Montes, Em terras de Borba, com torres e pontes. Portuguęs antigo, do tempo da guerra, Levou-o o Destino pra longe da terra. Passaram os anos, a Borba voltou, Que linda menina que, um dia, encontrou! Que lindas fidalgas e que olhos castanhos! E, um dia, na Igreja correram os banhos. Mais tarde, debaixo dum signo mofino, Pela lua-nova, nasceu um menino. O măes dos Poetas! sorrindo em seu quarto, Que săo virgens antes e depois do parto! Num berço de prata, dormia deitado, Tręs moiras vieram dizer-lhe o seu fado (E abria o menino seus olhos tăo doces): «Serás um Príncipe! mas antes... năo fosses.» Sucede, no entanto, que o Outono veio E, um dia, ela resolve ir dar um passeio. Calcou as sandálias, tocou-se de flores, Vestiu-se de Nossa Senhora das Senhoras: «Vou ali adiante, ŕ Cova, em berlinda, António e já volto...» E năo voltou ainda! Vai o Esposo, vendo que ela năo voltava, Vaí lá ter com ela, por lá se quedava. Ó homem egrégio! de estirpe divina, De alma de bronze e coraçăo de menina! Em văo corri mundos, năo vos encontrei Por vales que fora, por eles voltei. E assim se criou um anjo, o Diabo, a lua; Ai corre o seu fado! a culpa năo é sua! Sempre é agradável ter um filho Virgílio, Ouvi estes carmes que eu compus no exílio, Ouvi-os vós todos, meus bons Portugueses! Pelo cair das folhas, o melhor dos meses, Mas, tende cautela, năo vos faça mal... Que é o livro mais triste que há em Portugal!