O navio de espelhos O navio de espelhos năo navega cavalga Seu mar é a floresta que lhe serve de nível Ao crepúsculo espelha sol e lua nos flancos Por isso o tempo gosta de deitar-se com ele Os armadores năo amam a sua rota clara (Vista do movimento dir-se-ia que pára) Quando chega ŕ cidade nenhum cais o abriga O seu porăo traz nada nada leva ŕ partida Vozes e ar pesado é tudo o que transporta (E no mastro espelhado uma espécie de porta) Seus dez mil capităes tęm o mesmo rosto A mesma cinta escura o mesmo grau e posto Quando um se revolta há dez mil insurrectos (Como os olhos da mosca reflectem os objectos) E quando um deles ala o corpo sobe os mastros e escruta o mar do fundo Toda a nave cavalga (como no espaço os astros) Do princípio do mundo até ao fim do mundo Mário Cesariny