10.1. Relates gramaticais y. "Kŕ Um domínio sintáctico de predicacäo — i.e, uma oracäo —, contém dois termos fundamentals: o predicado (abreviadamente, Pred), o constituinte ou sequéncia de constituintes formado pelo predicador e pelo(s) seu(s) argumento(s) interno(s), e o sujeito (abreviadamente, SU), o constituinte que satura o predicado ou, por outras palavras, o argumento externo do predicador (2). 10.1.1. Predicado a De um modo geral, uma oracäo coincide com uma fräse simples e, neste caso, o predicado inclui pelo menos um elemento verbal; vejam-se os seguintes exemplos, em que o predicado está em itálico e o sujeito entre paréntesis rectos: (2) (a) [O miúdo] comeu um gelado. (b) [O miúdo] tinha troqado do irmäo, Em (2a), o predicado é constituído pelo predicador verbal (= comeu) e pelo seu argumento interno (= um gelado); em (2b), o predicado inclui, para alem do predicador verbal (= troqado) e do seu argumento interno {do irmäo), o ver-bo auxiliar (= tinha), que introduz um valor témporo-aspectual. Em ambas as oracöes existe, portanto, um único domínio de predicacáo: a tradicjo gramati-cal luso-brasileira denomina este tipo de predicado predicado verbal. Contudo, há casos em que uma frase simples contém mais do que uma pre-dicagäo. Assim, se considerarmos frases com verbos copulativos, como as exem-plificadas em (3), verificamos que elas contém uma dupla predicacäo: predica-se o adjectivo ou a expressäo nominal em posicäo pós-verbal acerca do sujeito da frase e predica-se toda a expressäo em itálico acerca do mesmo sujeito (cf. 12.1. el3.4.): B f1 (3) ] (a) [O miúdo] está contente. (b) [O miúdo] éfilho do Pedro. Em (3), o predicado inclui um verbo predicativo (está, em (3a); é, em (3b)), para alem de um predicador, adjectival em (3a) (= contente) e nominal em (3b) (2) Ou seja, urna oracäo é o domínio sintáctico em que uma projeccäo maxima de nature-za predicativa fica saturada mediante a existencia de um sujeito. (=ßho), seguido do seu argumento interno (= do Pedro). Por outras palavras, o adjectivo e a expressäo nominal em itálico constituem os predicadores sin-tacticamente secundários das frases (3), sendo os verbos copulativos que nelas ocorrem os predicadores sintacticamente jmmarjös. Na tradicäo gramatical. &^mi^ luso-brasileira os predicados deste tipo säo denominados predicados nominais. A relacäo gramatical dos predicadores (sintácticos) secundários em frases copu-lativas é a de predicativo do sujeito. , Considerem-se agora exemplos como (4): ^^Dtf Jf CuuJ. čQ (4) (a) [0 Joäo] considera a Maria inteligente. — (b) ' [0 Joäo] considera inteligente a Maria/} - tič-f^4^ Nestas frases, existem igualmente dois dominios de predica?äo: o predicador sintáctica e semanticamente primário é um verbo da classe dos transitivos--predicativos (considera), que selecciona como seu complemento um domínio de predicacäo ([a Maria] inteligente), cujo predicador sintáctica e semanticamente secundário é o adjectivo inteligente e cujo sujeito é a expressäo nominal a Maria. Por outras palavras, as frases (4) säo analisáveis numa ora?äo cujo predicado é a sequéncia em itálico em (4) e o sujeito o constituinte o Joäo e numa oracäo pequena, cujo predicado é o constituinte inteligente e o sujeito o constituinte a Maria (3). Em (4b), o predicador primário e o secundário ocorrem adja-centes, formando o predicador complexo considera inteligente. A tradicäo gramatical luso-brasileira denomina este tipo de predicados predicados verbo--nominais. A relacäo gramatical dos predicadores secundários em frases transitivas-predicativas é a de predicativo do objecto directo. Considerem-se ainda exemplos como (5): (5) (a) A teimosia do Joäo tornou a discussäo impossível. (b) O ferreiro pös o ferro em brasa. (c) A cozinheira cortou o päo äs fatias. As frases (5) ilustram construcöes resultativas, i.e., frases em que o constituinte em itálico descreve o estado em que ficou o SN com a rela9äo gramatical de objecto directo como resultado do evento descrito. Impossível, em brasa e äs fatias těm, também, a relacäo gramatical de predicativo do objecto directo. (3) Sobre as propriedades da construcäo transitiva-predicativa em portugués, veja-sc Marrafa (1985). Sobre a análise de frases envolvendo igualmente a existencia de uma oracäo pequena, veja-se 13.4 e a bibliografia aí indicada.