ABORDAGEM HISTÓRICA DOS NOMES DOS DIAS DA SEMANA (ANÁLISE SINTÁCTICO-SEMÁNTICA) Mgr.Iva Svobodová, PhD. Universidade de Masaryk, Brno, República Checa 1. Descrição do contexto de investigação O trabalho que aqui apresento, insere-se num projecto de investigação, em curso desde 2001, que visa desenvolver um modelo de análise de, por um lado, valores canónicos e constantes do artigo, mas por outro, dos valores aderentes que consistem na sua variabilidade estilístico-pragmática (Svobodová 2006,2007, 2009,2010). Trata-se de uma investigação lingitudinal que consiste numa observação detalhada e atenta de diversas construções (Det.+Nome) que, por um lado, são consagradas pelo uso, mas, por outro lado, não são formalizadas nem observadas pelas gramáticas da língua portuguesa. A finalidade desta investigação a longo prazo é, sobretudo, (mas não apenas) didáctica, sendo que as gramáticas e os manuais da língua portuguesa acessíveis limitam-se aos processos de determinação e não se ocupam da problemática do uso do artigo do ponto de vista estilístico. (com a excepção de NEVES:2003). 2. Objectivo da presente investigação O propósito do presente trabalho será, além do didáctico, também (e principalmente) traçar a evolução histórica dos nomes dos dias da semana e observar as construções em que os nomes dos dias da semana são introduzidos por preposições seleccionadas, formando ou não crase com o artigo. Observaremos o uso dos dias da semana em diferentes séculos (nos textos de obras literárias de autoria portuguesa, acessíveis no corporas Linguateca-Vercial e Corpus do Português) e compará-los-emos com o modo de uso em português contemporâneo. A parte didáctica do nosso estudo terá como objectivo apresentar, sobretudo, a nossa hipótese de o artigo possuir, no sintagma preposicional, um forte valor „aspectual“, o qual será comprovado tanto frases tiradas dos corpora, como também por uma série de provérbios em que entram os nomes dos dias, porque estes melhor nos documentam o carácter geral, universal e implicitamente reiterativo do artigo. 3. Descrição de metodologia aplicada A investigação terá um percurso interdisciplinar uma vez que aproveitámos as fontes de linguística computacional, histórica, sintática e semântica. Focalizaremos aquelas construções onde o nome do dia da semana é introduzido pelas preposições „EM“ ou „A“ que normalmente „seleccionam“ o artigo (sendo que as que não usam o artigo fazem parte de uma outra investigação[1]). Em ambos os casos tentaremos analisar os diferentes valores aspectuais do artigo em diferentes séculos. Partiremos principalmente da oposição dicotómica: aspecto pontual versus reiterativo: Compare-se, para já, os dois seguintes casos: 1. a) Na segunda-feira estava a ler o livro, quando alguém bateu a porta. b) Na segunda-feira choveu. 2. À segunda-feira vou ao cinema. No primeiro caso (1a, 1b), o sintagma preposicional tem o valor aspectual pontual (b) ou durativo (a), enquanto que no segundo caso (2) tem, evidentemente, o valor aspectual reiterativo (que, como veremos adiante, nos textos antigos não tinha). No nosso estudo incluiremos frases de textos literários acessíveis nos corporas mencionados, mas também, como já foi dito, utilizámos os provérbios em que entram os dias da semana. Opinamos que os resultados da investigação serão importantes também para o ensino do uso da preposição com os nomes dos dias da semana em português contemporâneo e que completarão, significativamente o método didáctico e o ensino desatas construções. 4. Abordagem histórica do conceito „septimana“ A palavra „septimana“ é, evidentemente, de origem latina, e foi introduzida pelo latim eclesiástico nos fins do século IV. O significado da palavra „septimanus, -a. -um“ era „marcado pelo número 7“, à palavra „septimaní(septimanorum)“ associou-se o significado de soldados da séptima legia, a palavra „septimana,-ae, f.“ recebeu o significado da semana (Latinsko-český slovník, 1955: pg.454). Não obstante, a origem do conceito da semana era a palavra grega ecleciástica „hebdomas“ , semanticamente relacionada com o período de 7 dias, meses e anos. (Bechara in Bastos: 2004, pg.15), facto que pode ser explicado pela necessidade das civilizações de „contar o tempo em intervalos maiores a um dia, para poder marcar a periodicidade de eventos religiosos e acontecimentos religiosos. O dia que separava as semanas era o dia de atos religiosos e transações comerciais“ (ibidem: pg.18). Bechara salientou que a palavra „hebdomas“ só no século XIV tinha sido substituída pelo seu equivalente latino „semana“(ibidem.18). O sistema de 7 dias foi desenvolvido pelos caldeus[2], mas também foi conhecido pelos Hebreus que iniciavam a semana (hebdomas, domaa, doma) pelo dia de descanso designado – sabbato[3]. Com a chegada dos novos cristãos, o dia de descanso foi mudado para o Domingo, facto que se deve ao Papa Vítor I que em 189 d.C. assim decidiu em homenagem à ressurreição de Cristo. Esta decisão foi reconfirmada em 325 d.C, no Primeiro Concílio de Niceia, onde, ao mesmo tempo, foi mudado o nome de Solis Dies[4] para Dominica Dies[5] (hoje domingo), que era o primeiro dia da semana (“Prima Feria”), em que os novos cristãos se uniam em missas e nos mercados. (ibidem: 18) Os nomes dos outros dias da semana, de origem pagã (caldeia), foram substituídos devido à proposta do Papa Silvestre feita no século IV, que propôs utilizar para a designação dos dias da semana (que não eram especiais) o modelo ordinal + feira. Como este modelo numérico é idêntico ao modelo árabe, existem discussões extensas sobre a origem árabe da nomenclatura dos dias da semana em português, como testemunha „Os Nomes dos dias da semana em português“, cujo autor, Manuel de Paiva Boléo. se opõe a Wilhelm Giese, que afirma que os nomes dos dias da semana que não existem nas outras línguas româncias, „não resultam de o povo português ser mais católico que o espanhol, francês ou italiano“ mas sim de ter sido a língua portuguesa influenciada pelo sistema enumerativo usado pelos mouros que chamavam à segunda-feira „dia dois“, à terça „dia três, etc. Para essa influência teria contribuído o facto de a língua portuguesa se ter formado num centro, Lisboa, situado mais ao sul do que os centros de formação das outras línguas.“ (Boléo: 5-6). W.Giese defende a sua convicção com o argumento de que muitas expressões populares correntes em que se encontra a palavra Deus são influenciadas pelos seus equivalentes árabes, como por exemplo „até amanhã se Deus quiser“ (onde se Deus quises corresponde ao árabe in šâa´llâhu onde šâa significa querer), „graças a Deus“ (que corresponde ao árabe alhamdu lillâhi: hamida = louvar, hamdu=graças), „louvado seja Deus“ (mâ šâa ´llâhu, literalmente o que Deus quiser) etc. Não obstante, Boléo refuta radicalmente esta afirmação argumentando que não se pode estabelecer com segurança a precedência do uso nalgumas das frases (Bóleo: 32). Rejeita a opinião de Giese salientado, entre outros factos, a evidente influência do sistema enumerativo judaico-cristão em outras línguas (eslavas e bálticas, por exemplo) que nunca se tinham encontrado sob a influência muçulmana. Aliás, Bóleo admite que em vários povos o sistema enumerativo surgiu independentemente, e que além de corresponder com o sistema da Igreja medieval, correspondem também com o sistema árabe e grego que também igualam „segunda-feira“ com o segundo dia. E questiona a originalidade da nomenclatura árabe, relembrando que os próprios árabes foram buscar a semana de sete dias aos hebreus. Também reforça, que, como explicaremos no parágrafo a seguir, foi também a Igreja que deu à palavra feria significação especial. (Bóleo,1941:10). 5. Abordagem histórica do conceito „feria, feriae - feira Como acabámos de mencionar, Bóleo atribui a significação especial da palavra „feira“ à Igreja.[6]Os nomes latinos da Igreja se referiam primeiramente aos dias festivos de Páscoa e de Pentecostes que não caíssem no domingo e que duraram mais de um dia. O primeiro significado da palavra feria/feriae era, portanto, o dia festivo celebrado na época medieval, quando se organizavam festas e feiras e mercados, em torno das Igrejas, para compras e vendas dos produtos. No latim tardio passou a indicar a própria feira, o mercado próprio. Deste significado evoluiu: as férias, feriado (feriado nacional). (ibidem) Na segunda acepção, a palavra „feira“ passou a designar, entre os primeiros cristãos, os dias de trabalho, os dias úteis, que salvo o domingo, e na tentativa de eliminar os dias da semana pagãos, assumiu praticamente o significado do dia. Assim, ferialis – passou a significar de trabalho /laborais. Saliente-se que estes dois significados ligados à feira se reflectiram na plurissemia da palavra feira. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, menciona no caso do lema „feira“ 9 significados (pg.1718). Nós limitamo-nos a citar apenas dois ( o sexto e oitavo). 6.Confusão de vozes que lembra o barulho que há numa feira ou mercado público, 8. Estado de grande desordem, de grande desorganização e confusão. 6. Evolução histórica dos dias da semana em Espanha e em Portugal Apesar de a iniciativa de impor a nomenclatura litúrigica ter sido desenvolvida já por São Silvestre, na faixa ocidental da Península Ibérica assim se deu graças a Martinho Dume[7] que considerava indigno de bons cristãos que se continuasse a chamar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos de Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies, e fez valer a terminologia eclesiástica (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde os modernos dias em língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira), caso único entre as línguas românicas[8], dado ter sido a única a substituir inteiramente a terminologia pagã pela terminologia cristã. (www.wikipedie.com) . Exitem afirmações relativas ao não uso dos nomes pagãos nos documentos redigidos em português (i.e. textos editados a partir do século XII), que dizem que “não há qualquer vestígio da designação romana pagã dos dias da semana nos textos mais antigos redigidos em português” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_de_Braga)[9], ou que „não há notícia, em documentos, de se haverem empregado algum dia nomes pagãos cosrrepondentes“ (Bóleo: 21). Um dos objectivos do presente estudo foi verificar a validade absoluta das afirmações citadas, nos corpus Linguateca- Vercial[10] e no Corpus do Português. Curiosamente, encontrámos casos de uso dos dias pagãos nas obras literárias, mas não conseguimos integrar, em nossa análise, explicações pormenorizadas das circunstâncias em que foram utilizadas. É possível, que por exemplo, na época de Renascimento, os literatos conhecessem a nomenclatura romana e que fossem usados pelos literatos por razões desconhecidas. Estas ocorrências, não obstante, não nos permitem tirar conclusões definitivas quanto ao uso no português antigo. Por mais esporádicos que sejam os casos de uso destes notes pagãos, consideramos interessante exemplificá-los com trechos concretos. Relembre-se que as tradições pagãs se reflectiram nos provérbios com os nomes dos dias da semana, sendo os que tinham na sua origem pagã „r“, considerados dias de mal azar (Mercurii, Veneris) (veja-se mais adiante – capítulo 8).[11] Exemplos dos corpus http://www.linguateca.pt/CETEMPublico/ : [Braga, Teófilo, „O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, 1885“] Basta lembrar que o deus Marte, consagrado na terça-feira (Dia martes, no Canc.) e dos lunes ao martes foy commendador d ’ Ocres . Exemplos do corpus www.corpusdoportuguês.org: Lues: Neste corpus, encontrámos, na obra de „A Demanda do Santo Graal, na cópia do século XV“, um uso frequente de lues/lunes. Encontrámos 12 frequências de lues e 6 de lunes, número então mais alto, comparativamente com segunda-feira no século XVIII (8 ocorrências). Deus e andarom aquele dia e outro sem aventura achar. Assi que ûû dia lunes lhes aveo, de manhãã, que chagarom a ûa cruz que se partia em… poserom em sa seeda e contarom em qual guisa o matara Galvam. ûû dia lunes chegarom dous cavaleiros a Camaalot que levavam o corpo de Erec. E iam com … [A Demanda do Santo Graal (cópia do século XV).] Martis/Martes: Na obra „Cartas porguguesas de D.Jõao de Portel (1295-1320) verificámos uma maior frequência do uso dos nomes pagãos pelo autor, D.Jõao de Portel, que usou, além de Martis e Lues, também Mercurii, [Cartas portuguesas de D. João de Portel(1295-1320) D. João de Portel] E depos morte de uós ambos, assi como de suso dito é, os dauãdictos logares que a uós damos fiquem liures e quites e in paz, cu quanto b? e cu quanto acrecentamento uós y fezerdes, a nós e a nossa Ordim. E por este nosso feyto seer maes firme e maes stauil in todos uossos dias, assi como de suso dito é, damos a uós, sobredictos dõ Joã Perez d'Avoyn e a uossa muller, dõna Maria Afonso, esta nossa carta seelada de nossos seelos. Ffeyta en Merida, en nosso Cabidoo g?eral, Martes, XX dias andados de Março, da era de mil e CCCº e sex anos. Esta é a carta in como dõ Johan e sa moller r?dou a Steuã Perez o herdamento de Torres. Conuçuda cousa seia a todolos que esta carta uir? que eu, dõ Johan Perez d'Avoym, moordomo d'el rej de Portugal, ensenbra cõ ma moller, dõna Maria Afonso, rendamos a uós, Steuã Perez, almoxarife de Torres Nouas, en uida de nós anbos e de cada uu de nós, todolos herdamentos Para completar esta problemática, relembremos o trabalho de João Pedro Ribeiro que fez uma investigação dos dias dos nomes pagãos nos documentos do português antigo. Encontrou casos esporádicos do uso dos nomes pagãos que citamos adiante: Anno 1455, Indicç.3. anno 3º do Pontific.de Calist.III, die Mercurii a 25 de Junho. [Afonso Gonçalves, notário público por auotridade régio, procuração de D.Afonoso V] 1420, Indict.3ª, die Martis, 28 mensis Maii [Martim Lobo, Cartório do Mosteiro de Sto. Tirso] Concorde-se com J.P.Ribeiro que afirma que os casos deste uso são tão esporádicos que “antes de os aceitarmos, seria necessário primeiro estudar de perto as circustâncias em que foram empregadas as designações pagãos. Quanto ao castelhano, ainda nos textos do século XI[12] foram encontrados casos dos nomes dos dias da semana litúrgicos (Boleo:18). Não obstante, estes não passaram a ser adoptados pelos castelhanos. 7. Análise sintáctico-semântica e histórica Outro objectivo da presente investigação foi, observar a evolução de determinadas construções Prep.(a)+Det.(a)+Nome, e compará-lo com as construções usadas actualmente (com a ajuda dos corpus: CETEM Publico – Linguateca, Corpus do Português). Devido à extensão limitada do nosso trabalho, reduzimos a análise às preposições em e a, as quais, segundo a nossa opinião, no caso dos dias da semana,melhor representam a oposição dicotómica do aspecto pontual x reiterativo, e que, curiosamente, nos textos antigos, foram usados de um modo levemente diferente do que é o costume hoje em dia. a) encontrámos (por menos regular que seja) a forma não crática no sintagma preposicional: SPrep.(em)+Det.(uma)+N., na função do oblíquo adjunto. Embora não se trate de uma expressão prevalente no casos dos dias de sábado e domingo (usados mais frequentemente na forma crática), o corpora Vercial revelou-nos casos de uso bastante equilibrado de ambas as formas (crática e não crática) com os outros dias, sobretudo com a segunda, terça e quarta-feira. Nas obras literárias de Teófilo Braga, Camilo Castelo Branco e Alexandro Herculano descobrimos o seguinte número de ocorrências: em uma terça-feira: 1 ocorrência x numa terça-feira: 0 ocorrências; em uma quarta-feira: 1 ocorrência x numa quarta-feira 1 ocorrência; em uma segunda-feira 2 ocorrências x numa segunda-feira 3 ocorrências.. [id=«A Caveira da Martir Prosa, Camilo Castelo Branco=1875]»: «Partiu (a armada) do Tejo em uma segunda-feira do ano de 1717, navegando até Génova; e, encontrando aí a de Castela, fez o general castelhano tal pintura da armada dos turcos e da desfeita dos venezianos, e de que não tinham partido algum ainda ambas juntas, que a nossa voltou para Lisboa, sem tentar nem obrar cousa alguma . No corpus do português foram encontrados raros casos deste uso nos textos do século XVIII e XIX: [A Vida do Padre António Vieira, André de Barros, =1727]. Aos 15 do mesmo Fevereiro em uma quarta-feira, dia da Trasladação de SANTO ANTÓNIO, foi batizado este segundo ANTÓNIO, na … Embora as gramáticas aconselhem, em geral, utilizar as formas cráticas no, na, nos, nas, num, numa, encontramos na linguagem literária (e sobretudo na poesia mas também nos textos jornalísticos), e também na linguagem falada, inúmeros casos onde não se dá a crase da preposição e o artigo indefinido (não com os nomes dos dias da semana, mas sim, com outros substantivos). Além disso, opine-se que hoje em dia, neste tipo de construções, o artigo pode ganhar um valor sintaticamente distintivo. Na construção com o Det.(-), o artigo zero/omitido predetermina a função do Nome como argumento obrigatório (estivemos a falar em segunda-feira/estivemos a falar em ti), enquanto que na segunda construção com Det.(+) o artigo predeterminará outra função sintáctica, a do oblíquo adjunto (reunimo-nos na/numa segunda-feira/reunimo-nos ontem). b) Investigámos também uso da construção onde os dias da semana santa são introduzidos apenas pela preposição „em“ sem ou com o artigo Prep (em)+Det.(-,+). O corpora Vercial revelou-nos casos, em que a preposição em ocorre sem ou com o artigo, sendo mais frequente o uso destes dias com o artigo (Det.+), situação idêntica ao uso actual, onde na linguagem escrita aparecem ambas as formas e na linguagem falada, segundo as nossas observações, há tendência para o uso da forma crática (preposição e artigo). Compare-se: em/na terça-feira maior, em/no sábado santo, em/no domingo da Páscoa, em/na quinta-feira santa, em/na sexta-feira santa, em/na terça-feira gorda, em/na quinta-feira santa, em/na sexta-feira santa, em/no sábado de Aleluia, em/no Domingo de Páscoa, em/no Domingo de Pascoela, em/no Domingo de Ramos. c) Considerámos muito interessante também a ocorrência do Sprep (a)+ Det.(uma/uma)+N no aspecto pontual, situação semelhante ao caso que seguirá adiante (caso d). Ao contrário do actual uso reiterativo desta construção, foram encontrados casos usados no aspecto pontual. [id=«O Pároco de Aldeia Prosa Alexandro Herculano =1825»]: Um moço do Bartolomeu da Ventosa, rapazote de quinze anos, quatro meses, vinte e quatro dias e vinte e três horas e três quatros completos (por ter nascido a uma segunda-feira à meia-noite menos um quarto, de 2 para 3 de Março) , neste grande dia do orago pilhara ao moleiro duas graças a um tempo, a de deixar em descanso o seu tonel das Danaides, a implacável joeira, e a de poder assistir à festa e ouvir a missa cantada e o sermão, em vez de ir acabar o pesado sono da madrugada à missa das almas . No corpora Linguateca - CETEM PUBLICO encontrámos, curiosamente, as mesmas construções num número mais elevado, sendo que a maiora delas apontam para o aspecto reiterativo (embora usados com o pretérito perfeito simples) e uns pouco casos para o aspecto pontual. Veja-se, a diferença entre as seguintes duas frases: Aspecto reiterativo (regularidade da acção) [par=ext1535770-clt-91a-1]:: Segundo os responsáveis da estação, ainda é cedo para precisar em que dia da semana «Lieutenant Lorena» fará o serão de alguns milhões de franceses, mas «provavelmente será a uma terça-feira» . Aspecto pontual [par=ext928655-pol-95b-2]:: Reunido excepcionalmente a uma quarta-feira -- o primeiro-ministro assiste hoje a exercícios das tropas portuguesas que vão para a Bósnia --, o Conselho de Ministros aprovou ontem as seguintes medidas : d) Um caso ainda mais curioso foi o uso do Sprep.(a)+Det (+o/a)+N, no sentido pontual. Esta construção no valor pontual apareceu ainda nos textos do século XV - XVI, por exemplo, nas peças do teatro de Gil Vicente e na Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil (1500). É pouco provável que se continue a usar no sentido pontual nos textos modernos da língua portuguesa contemporânea. Este uso já não o encotrámos nos textos posteriores a Carta a El-rei Dom Manuel. [id=«Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil Prosa PVC=1500»]:: E a noute seguinte, segunda-feira, quando lhe amanheceu, se perdeu da frota Vasco d'Ataíde, com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrairo para poder ser . [id=«Auto da Índia Teatro GV=1509»]: Foi isso à quarta-feira, aquela logo primeira ? Não encontrámos este caso no português moderno, embora haja dúvidas face ao uso regional e dialectológico desta construção no sentido pontual. Mas opine-se que estas construções não são prevalentes, sendo já nos textos antigos mais frequente o seu uso no sentido reiterativo, o que coincide com o uso actual. Na investigação sincrónica revelámos um uso equilibrado entre a expressão em singular (ao domingo) e a expressão intensificada, i.e. através do plural ( aos domingos). 8. O uso aspectual do sintagma preposicional nos provérbios com os dias da semana Para finalizar o trabalho, achamos interessante apresentar a lista dos provérbios que nos testemunham dois factos muito importantes: primeiro, o uso prevalente dos sintagmas preposicioais /a+o/ /a+a/ no aspecto reiterativo, segundo, uma evidente influência das tradições pagãos na formação dos provérbios. Muitos provérbios portugueses, apesar de serem relacionados com a tradição judaico-cristã no modo como é visto o trabalho, o respeito pelos dias de descanso e o calendário religioso, foram influenciados justamente pelas tradições pagãs. Por exemplo, os dias que nos seus equivalentes pagãos continham „r“ eram considerados dias de mal azar. Não raramente aparecem nos provérbios os dias da terça e sexta-feira (Mercurii, Veneris). No povo português(na tradição oral) existem superstições de que so nos mes sem „r“ se pode comer peixe. [13] À continuação, enumeramos a lista dos provérbios encontrados, ordenados segundo o tipo de construção. a) Aspecto reiterativo: Sprep.(a) +Det.(a,o) À quarta-feira nem cases a filha,nem urdas a teia, nem partas em navio para terra alheia. Comido o Natal à segunda-feira tem o lavrador que alugar a eira. [14] Quem a semana bem parece, ao domingo aborrece. [15] Quem promete à quarta e vem à quinta, nao faz falta que se sinta. [16] Natal à sexta-feira por onde puderes semeia; domingo vende bois e compra trigo. [17] Talvez chore ao domingo o que ri à sexta-feira. [18] b)Aspecto reiterativo (intensificado pelo plural) Sprep.(a) +Det.(as) Às terças e sextas-feiras, não cases as filhas nem urdes a teia.[19] c) Outras construções: Não há domingo sem missa, nem segunda sem premissa.Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem preguiça.[20] Sexta-feira treze dá azar. [21] Obra de sábado nunca acaba. Chuva de sábado nunca acaba.[22] Ter cara de sexta-feira Santa. [23] Quem quer couves aos braçados cava-as todos os sábados.[24] Sábados a chover e bébados a beber, ninguém os pode vencer.[25] 9. Conclusão: A presente análise foi desenvolvida em dois eixos essenciais uma vertical (a principal) e outra horizontal (a secundária). No eixo vertical, que finalmente se mostrou como o dominante para o nosso trabalho, tentámos explicar a evolução histórica da concepção semana, feira e dos nomes dos dias da semana. Incluímos, em nossa análise, opiniões relativas a uma possível influência moura ou judaico-cristã na adoptação da nomenclatura pelo povo português e também fizemos uma pequena sondagem do uso dos nomes pagãos nos textos literários. Por mais esporádicos que nos parecessem os casos encontrados, pusemo-los em articulação com os nomes dos dias da semana que entram nos provérbios, onde os dias cujo equivalente pagão continha „r“, eram considerados dias de azar. No âmbito da observação diacrónica dos nomes dos dias da semana, interessou-nos investigar os sintagmas preposicionais nos quais os nomes dos dias da semana eram introduzidos pela preposição a e em. Como o trabalho se vê limitado pela extensão permitida, excluímos da nossa análise outras preposições que normalmente não „seleccionam“ o artigo, sendo estas incluídas no estudo do Nono Congresso de Lusitanística, 2011. Nos textos antigos,do século XV revelámos a ambivalência aspectual da construção PREP.+DET.+N (a+o/a/um/uma+ N). Também descobrimos construções, que hoje seriam consideradas anómalas e peculiares: EM+UM +N na forma não crática. Por outro lado, encontrámos não raros casos do uso da preposição EM+N, sem artigo, no caso dos dias da semana santa. Todas as frases analisadas foram encontradas nos corpus histróricos acessíveis LINGUATECA/VERCIAL e Corpus do Português, mas nem todas puderam ser citadas no nosso trabalho. A análise diacrónica foi acompanhada por uma análise sincrónica, a qual foi melhor desenvolvida no Nono Congresso Alemão. Na presente análise, o estudo diacrónico limita-se apenas a destacar os valores aspectuais das mesmas construções analizadas no português contemporâneo. Na nossa análise incluímos a lista de todos os provérbios em que entram os nomes dos dias da semana e que mostram bem o carácter reiterativo dos sintagmas preposicionais à/ao/às/aos + nome do dia da semana. Summary: This study is a summary of a recent investigation and contains the latest results pertaining to the usage of articles in contemporary Portuguese. It is integrated within a long-term project initiated ten years ago and that has been continually updated with new results from this field of study. The present study focuses on the usage of definite and indefinite articles concerning names of the days. The present study traces the etymological evolution of liturgical names of the days of the week in Portuguese and explains why pagan names are not used. At the same time, we observed the frequency of definite and indefinite articles used when these names are preceded by selected prepositions. We examined different historical texts (from the 16th to 20th centuries), and we tried to see the differences between historic constructions and modern usage. We are trying to prove that articles used with the names of days have a strong aspectual value in texts from the 17th century to today. For our investigation, we used the three corpora: Intercorp, Cetem Público, and Vercial. Referências bibliográficas: Literatura primária: Bóleo, Manuel Paiva (1941), Nomes dos Dias da Semana, Influência Moura ou Cristã? , COImbra Editora Limitada. Hubher, Joseph (1986) ,Gramática do Português Antigo, Lisboa, Calouste Gulbenkian.. Maia, Clarinda de Azevedo (1995), História da Língua Portuguesa. 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R., DICIONARIO DE PROVERBIOS, PORTO EDITORA Lda. 2002 Fontes electrónicas: www.wikipedie.com www.corpusdoportugues.org www.linguateca.pt CETEMPUBLICO/VERCIAL www.interkorp.cz ________________________________ [1] Os resultados da investigação do uso do artigo com outras preposições já foram apresentados no Nono Congresso Alemão de Lusitanistas, na Unviersidade de Viena, em Setembro de 2011. Serão também publicados, em 2012, em Actas do Nono Congresso Alemão de Lustitanistas. [2]Os caldeus eram chamados também neobabilônios e originalmente viviam ao sul da Babiônia. O sistema de 7 dias, por eles desenvolvido, relacionava-se com a ordem das 7 „esferas ptolomaicas“ determinadas pelas distâncias que os planetas então conhecidos (Júpiter, Saturno, Marte, Sol, Vénus, Mercúrio e Lua) guardavam da Terra. Os dias receberam o nome do planeta que presidia a determinada hora: Saturni, Solis, Lunae, Martis Miércuri, Iovis, Veneris diae. – esta nomenclatura dos caldeus foi aceita pelo Império Romano, que pôs de lado um complicado sistema das nonas, dos idos, e das calendas. [3] No hebraico sabbat = repouso. No Vulgata também foi usado no sentido de „semana“. De acordo com a Gênese o sabbat (shabbat) era o dia de descanso do Senhor, antecedido pelos seis dias da Criação. No dia chamado “shabbat” os judeus uniam-se nas missas. Hoje, o sábado é o último dia de seu calendário semanal.. Os hebreus de Roma denominavam dies Solis por „una (prima) sabbati“ e outros dias eram denominados secunda sabbati - sexta sabbati. Para sexta sabbati existiam mais duas variantes que queriam dizer vigílio do sábado: a palavra grega „parasceve“ e a palavra sarda „kenápura“, esta usada pelos hebreus e africanos exilados na Sardenha. [4] Solis diaes significa Dia do Sol - forma como os pagãos se referiam ao domingo. [5] Dominica Dies significa Dia do Senhor e evoluiu para Dominus Dei que deu a origem à palavra domingo. [6] Bóleo (1948:7) menciona o nome de Dom Cabrol, Dictionairre d´Archéologgie chrétiennes et de liturgies, Fêtes chrétiennes): em latim clássico existia apenas o plural feriae, com o significado de „dias de descanso“ A designação de feria aplicada aos dias da semana, é já corrente entre os cristãos no tempo de Tertuliano.“ [7] Segundo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_de_Braga : Martinho de Dume, Martinho Dumiense ou ainda Martinho de Braga (ou Martin ho Bracarense) são os vários nomes por que é conhecido Martinho da Panónia, um bispo de Braga e de Dume considerado santo pela Igreja Catolica. Martinho nasceu na Panónia, actual Hungria, no século VI. Estudou grego e ciências eclesiásticas no Oriente. De volta ao Ocidente, dirigiu-se para Roma e para França, onde visitou o túmulo do seu conterrâneo Martinho de Tours. Apóstolo dos Suevos, responsável maior pela sua conversão do arianismo ao catoliscismo. [8] Com a excepção do galego, onde existem na língua oficial designações "luns, martes, mércores, xoves, vernes, Sábado e Domingo", mas onde também se admite a forma portuguesa: "segunda, terça, quarta, quinta, sexta, Sâbado e Domingo". Lugrís Freire na Gramática do Idioma Galego, A Coruňa, 1931 menciona apenas as formas: carta e sesta feira. [9] Martinho tentou também substituir os nomes dos planetas, mas aí já não foi tão bem sucedido. [10] O corpo Vercial contém 309 obras literárias de 55 autores portugueses, digitalizadas pelo projecto Vercial, cujas datas de publicação variam desde 1500 (Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha) a 1933 (Memórias III, de Raul Brandão). [11] O que nos chamou atencão durante o estágio em Portugal, foi a tradição de que só nos meses que não tem „r“ pode ser comido o peixe, i.e.em Maio, Junho, Julho e Agosto). [12] O sistema enumerativo usou-se também em Espanha,mesmo na parte setentrional, pelos menos durante a primeira metade d século XII .III.feira, sexta feria, IIIa feria, Prima feira. Segundo Bóleo, é impossível estabelecer com segurança até quando se usava o sistema enumerativo em Espanha, sendo que raras vezes vem indicado nos documentos antigos escritos o dia da semana (Boleo percorreu 290 documentos e só em 19 aparece essea indicação). [13] A sexta-feira é normalmente relacionada com a Paixão de Cristo. Nos provérbios é considerada, portanto, como um dia de luto, tristeza, dor, e um dia “santo”, isto é de forte simbolismo e conotação religiosa. Sexta-feira era dia de oração, de jejum, de abstinência corporal e sexual, de trabalhos leves. Não se cortava o cabelo, por exemplo. Outros dias da semana, apesar do forte enraizamento da tradição cristã, seguiam a tradição pagã, nomeadamente romana, e do relacionamento com os deuses que representavam. Assim, havia actividades que não se realizavam num dia por que não era “favorável”, mas noutro, de acordo com o deus tutelar desse dia. Assim, nos provérbios portugueses há inúmeras referências culturais e etnográficas que se relacionam com religião, calendários solares, agrícolas e religiosos, a “sabedoria popular” que era baseada na observação/interpretação dos fenómenos naturais e dos acontecimentos quotidianos. [14] Este provérbio relaciona-se com o calendário lunar e agrícola. Faz parte do grupo de adivinhação meteorológica e agrícola. Significa que as colheitas não vão ser boas nesse ano agrícola, e que o lavrador pode alugar a eira pois não vai precisar dela a tempo inteiro. [15] Parafraseando o provérbio diria que quem anda bem vestido todos os dias da semana, ao domingo já não traz novidade o que nos pode parecer desinteresse. Isto relacionava-se com a circunstância de as pessoas andarem com roupa de trabalho durante a semana e vestirem a melhor roupa ao domingo, para se exibirem, para mostrar o que era novo. Está implícita uma ideia de mudança, de renovação. [16] Quem chega tarde já não faz falta. Dizia-se dos trabalhadores que “prometiam”, isto é, acordavam com o empregador uma data para trabalhar e depois não cumpriam. [17] É mais uma adivinhação meteorológica e agrícola. Se o Natal for à sexta-feira o ano agrícola será bom. Se for ao domingo será mau ao ponto de ter que vender os bois, pois serão inúteis e será necessário alimentá-los. Será necessário comprar trigo porque será escasso nesse ano. [18] Aqui trata-se de uma inversão de humores. Sexta-feira deve ser um dia de tristeza e recolhimento (Paixão e a morte de Cristo) e Domingo um dia de alegria (ressurreição de Cristo). O provérbio remete para a inversão de valores e posturas do objecto e para a desconexão: o normal seria chorar à sexta e rir ao domingo. Levanta-se a dúvida sobre a adequação dos comportamentos. [19] Na tradição romana, os dias da semana que tinham “r” (Marte, Mercurio e Vénus/Veneris) eram de pouca sorte (3ª, 4ª e 6ª). Quem nascesse em dia de Marte (3ª feira) morria de “má morte”. Eram também desaconselhados os negócios, como por exemplo, casar a filha. [20] Estes dois provérbios são afirmações tidas como certas. Usa-se quando a circunstância é evidente, inevitável. [21] O número 13 desde a Antiguidade que é considerado azarento. O mesmo para sexta-feira, dia de Venus/veneris. Daí que juntar os dois azares, é azar a mais. Sexta–feira é também na tradição popular o dia das bruxas. . [22] Quando chove a um sábado, a chuva é abundante e parece que nunca acaba. Este provérbio contradiz o que afirma que “não há sábado sem sol…”. [23] Andar triste e pesaroso (dia da paixão e morte de Cristo). Expressão derivada da religião cristã. [24] O original é “cuia” e não “ceia”. Cuia é uma bacia redonda e funda onde se amassava o pão. É mais um provérbio de raiz religiosa. Significa o fim do jejum da Quaresma (o Ramadão dos cristãos), período onde era proibido comer carne. Este período começa no Carnaval (Carne vale – adeus carne). Sábado de Aleluia é o dia antes da Páscoa, que é a festa da Ressurreição de Cristo. Logo, é dia de preparar o fim da Quaresma e fazer a festa da Páscoa com carne e pão. [25] A característica comum a estes exemplos é a quantidade. Quando chove ao sábado, chove muito. Veja-se o outro provérbio: quando os bêbedos bebem, bebem muito. Está implícita uma comparação quantitativa e a constatação de duas realidades que não se podem mudar.