Antônio Candido Antônio Candido de Mello e Souza (Rio de Janeiro RJ 1918). Escritor, crítico literário, sociólogo e professor. Fez o curso complementar no Colégio Universitário da Universidade de São Paulo - USP, entre 1937 e 1938. Militou contra o Estado Novo, em grupos clandestinos como o Grupo Radical de Ação Popular. Em 1939, ingressou no curso de direito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e de ciências sociais e filosofia da USP. Dois anos mais tarde, estreou como crítico literário na revista Clima, fundada em 1941 por ele e outros. Abandonou o direito no quinto ano, e concluiu bacharelado e licenciatura em filosofia, em 1942. Nesse ano, tornou-se docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências - FFLC/USP. Foi aprovado em concurso de literatura brasileira com o título de livre-docente em 1945, e obteve a titulação de doutor em ciências sociais, em 1954. Lançada em 1959, sua obra mais influente e polêmica é a Formação da Literatura Brasileira, na qual estuda os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro. Com outros intelectuais, como Sérgio Buarque de Holanda, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores - PT, em 1980. Recebeu, em 1998, o Prêmio Camões, dos governos do Brasil e de Portugal, em Lisboa; e em 2005, o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, no México. Sua bibliografia é ampla – 378 críticas. LITERATURA DE DOIS GUMES O ensaio mostra como, no Brasil, criou-se uma literatura nacional e ao mesmo tempo universal. Na palestra, analisam-se constituição da literatura e da identidade brasileiras. Autor focalizou-se na literatura como o fato histórico, não estético. O título é meáfora, apresenta oposições: nacionalidade (traços específicos que definem a identidade brasileira) e universal (temas e formas europeias). O ensaio é dividido em tópicos seguintes: Imposição e adaptação cultural, transfiguração da realidade e senso do concreto, tendência genealógica, o geral e o particular nas formas de expressão. Imposição e adaptação cultural O autor explica que as literaturas nos países da América são essencialmete européias, porque adaptavam padrões estéticos e intelectuais da Europa, transportados na era do Humanismo. De um lado foi o homem europeu ligado às fontes greco-latinas, de outro ficava no contato com otras formas da cultura. A literatura brasileira herdeu pouco da Idade Média e muito de uma literatura erudita realista e alegórica da vida. Sendo atuada em regiões desconhecidas, habitadas por povos de cor e tradição diferentes, a literatura foi obrigada exprimir a nova realidade natural e humana. O resultado foram as literaturas nacionais da América Latina que cada vez mais tomavam seus próprios contornos. Candido adverte à ideia enganadora que a literatura foi o fruto do encontro de três raças: português, índio e africano. Últimas duas atuaram de maneira remota na literatura escrita. Assim a literatura foi a expressão da cultura do colonizador e do ângulo político um instrumento eficiente. A literatura desempenhou papel saliente no processo de imposição da cultura, teve função ideológica. As letras deviam exprimir a religião, as normas políticas. Houve tantas comemorações presentas nas sermões, representações teatrais, recitações de poemas, etc. A coisa senelhante ocorria nas Academias cujos fundatores foram altos magistrados. Por isso Academias promoviam a celebração direta da Ordem por meio das Letras. Como Candido completa, a celebração dos valores ideológicos dominantes se apliquem também nas obras não-ocasionais (p.e. O Uruguai de Basílio da Gama, Caramuru de Santa Rita Durão). A certa altura as classes dominantes da Colônia mudaram suas posições e exprimiam-nas através da literatura usando as mesmas formas literárias como o português. Então as obras mencionadas podem ser vistas mesmo contrários, mas igualmente válidos. Candido fala sobre nascida da dinâmica interna da colonização. A literatura pois passava para o controle dos novos grupos dominantes. Transfiguração da realidade Muitos escritores usavam a linguagem metáforica e os jogos de argúcia do espírito barroco como maneiras de comunicar a sua impressão a respeito do mundo e da alma. Isto foi baseado nas condições do ambiente, formado de contrastes entre a inteligência do homem culto e o primitivismo reinante, entre aparência e a realidade, entre grandeza das tarefas e pequenez dos recursos. Este estilo é caraterístico por uso de antítese, hipérboles, mitos, alegorias e outros. Transpõe a realidade local à escala do sonho. Dava alma à natureza, fazendo do país inteiro um corpo vivo. Se criou o sentimento nacional por meio de uma exaltação da realidade física. Como exemplo Candido dá obra Música do Parnaso de Botelho de Oliveira (a série de poemas de hipérbole nativista), Itaparica de Rocha Pita, Prosopopéia de Bento Teixeira, Poemas de Cláudio Manuel da Costa ou cronistas hiperbolizando sem sair do concreto (Simão de Vasconcelos). Entretanto houve uma forma mais objetiva de representação direta da realidade. Essa contem poesia didática, poemas científicos e crítica social (As cartas chilenas de Tomás Antônio Gonzaga). As razões da sua crítica foram influência das teorias iluministas e desacordo com padrões culturais. Depois a indipendência política a representação mais realista encontrou no novo gênero do romance (1840) que foi um instrumento da verdadeira sondagem social com traços documental. Tendência genealógica Segundo Candido o século XVIII foi saliente para a formação dos valores que influíram a evolução da sociedade e da cultura. Usa expressão “tendência genealógica” que explica como “a interpretação ideologicamente dirigida do passado como intuito de justificar a situação presente”. A literatura serviu como o meio dejustificação da posição das classes dominantes na sociedade. O eseísta menciona a idealização do índio do ponto de vista social e literário. Tendência genealógica consiste em escolher no passado local os elementos adequados a uma visão que de certo modo é nativista, mas procura se aproximar o mais possíveldos ideias e normas europeias. Por exemplo, relação entre mestiçagem e contato de culturas foi do aspecto cultural sociedade sincrética e no aspecto racial sociedade mestiça. À idealização do índio contribuíram vários fatores: · desde o século XVIII o índio não era mais escravo · status de nobreza dado a alguns chefes · a evocação do índio não tocava no sistema social · como povo índio quase tinha desaparecido A tendência genealógica diventou-se método de correção do passado quando as famílias de nobreza estabeleciam o registro das suas estirpes. A opinião européia da “pura sangue” causou que os linhagistas criaram o mito que as filhas dos chefes tinham-se unido aos primeiros colonos. Esta ideologia permitiu-lhes legitimar a sua posição social. O resultado foi que o índio tornou-se o símbolo nacional e também personagem literário privilegiado (por exemplo nos poemas O Uraguai, Vila Rica, Caramuru). Nas obras é retratado como força pitoresca e humana, símbolo da terra, dos sentimentos locais e como tipo de “homem natural”. Candido compara o tema de Indianismo no periódo de Romantismo a uma paixão nacionalista: autores usaram os nomes indígenas nas suas obras; o alto número dos nobres adotaram nomes e sobrenomes de origem indígena. Segundo Candido, escritores quiseram negar os valores ligados à colonização portuguesa e diferenciar integralmente uma jovem nação em relação à mãe-pátria (Portugal). Realizadores de uma literatura nacional para exprimir a sensibilidade brasileira e a sua visão das coisas foram escritores do Indianismo romântico Gonçalves Dias e José de Alencar. O sociológo conclui esta parte por afirmação que deste momento definimos a literatura nacional brasileira com temas tradicionais, com o gosto pelo sentimentalismo, o patético e a confidência. O geral e o particular nas formas de espressão A literatura e o ambiente cultural do periódo colonial foram algo imposto pelo colonizador português. O Classisismo perturbava o desenvolvimento original da literatura brasileira. Fala de imitação clássica: imposição dos padrões exogéneos (humanismo da influência italiana, barroco da espanhola, neo-classicismo da francesa) e transferência/adaptação deles configuraram a nacionalidade brasileira. Certos traços censurados no Classicismo tornaram-se fatores positivos, p.e. o caráter convencional do discurso. Graças à liberdade e à autonomia espiritual dos intelectuais, ao lado da disciplina, formou-se a expressão ao mesmo tempo geral e particular, universal e local, o que a literatura presentou como conquista sua. O crítico explica que através a convenção livresca os intelectuais manifestaram implicitamente o contraste entre a civilização da Europa (ambiente da sua formação intelectual) e a rusticidade da terra (onde viviam, que amavam e desejavam exprimir). Então, imposição e adaptação de padrões culturais na literatura formaram uma consciência nacional. O exemplo disso é poeta arcádico Gregório de Matos cuja obra contem tanto aspectos europeus (limites convencionais do soneto, poemas amoros e religiosos) quanto aspectos brasileiros (costumes da sociedade em formação, preconceitos, querelas). No lado oposto, o Romantismo representava o espírito nacional que permitiu maior exteriorização dos sentimentos e das atitudes. O escritor expunha claramente o seu desígnio afetivo ou social o que esforçou a sua comunicação imediata. As formas de expressão de Romantismo apoiavam a difusão maior junto aos leitores porque no século XIX a socieade era já constituída como nação. Romantismo tal como classicismo, para obter a expressão particular, se orientou pela via bilateral: do geral (a mentalidade, as normas da Europa) e do particular (aspectos novos proveniente de amadurecimento do Brasil). Esta continuidade é elemento de formação da consciência nacional.