Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt O Fidalgo Aprendiz. Farsa que se presente a suas altezas . 238 Figuras que falam: Dom Gil Cogominho, Afonso Mendes, Beltrão, Isabel, Brites, um mestre de esgrima, um mestre de dançar, um poeta, um moço de cavalos, ũa comadre, um homem que passa, um homem das almas. Primeira Jornada. Sai Alfonso Mendes vestido à portuguesa antiga, botas, barbas, festo, pelote, gorra, espada em talabarte: Sou velho já fui mancebo 238a cousa que mal que lhes pês virá por vossas mercês naci no Lagar do Sebo 238b faz hoje setenta e três 5 fui prezado fui temido passei sóis passei serenos 239a rompi bons vintadozenos já nunca mudei vestido e inda fato mudei menos 10 sei o Açougue no Ressio os Estaus na Inquisição vi el rei dom Sebastião sem dinheiro quis ter brio fiquei perpétuo rescão 15 hoje sirvo não sei donde lá de riba um escudeiro enfronhado em cavaleiro que de andar posto em ser conde se não conde é cond’Andeiro 20 Texto estabelecido a partir da impressão de 1665. Rub. A edição de 1676 designa a farsa como Auto do Fidalgo Aprendiz, explicando que foi tirada das Obras de D. Francisco Manuel e Melo. presente: a edição de 1676 grafa representou. Rub. Alfonso: a edição de 1676 grafa Afonso. 11 Ressio: a edição de 1676 moderniza para Rocio. 15 rescão: no original tescão. A edição de 1676 grafa rascão. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt com dous mil e cento a seco me tomou para seu aio sou seu paje e seu lacaio e ainda hei de ser seu Pacheco conforme a tudo me ensaio 25 se nũa sandice encalha dou-o ò demo que é testudo presume de homem sisudo de nada sabe migalha e anda enxovalhando tudo 30 morto por ser namorado contrabaxo e trovador cavaleiro dançador enfim fidalgo acabado valentão e caçador 35 mas ũa comadre minha molher para muita aquela anda armando-lhe esparrela c’uma filha bonitinha que eu fico que caia nela 40 oh pesar de meu pai torto (descreo dos castelhanos) pois à fé que é de bons panos e ressurgir pode um morto mas que seja de cem anos 45 entra na dança comigo um chapado velhacão que eu crismei em dom Beltrão inculquei-lho por amigo e o negócio anda em feição 50 porque o tal Beltrão pretende 239b a menina tal que era 30 anda: na edição de 1676 ande. 38 esparrela: a edição de 1676 a crescenta artigo definido: a esparrela. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt a velha está como cera mas faz que nada entende só pelo ganho que espera 55 eis meu amo. Sai dom Gil como de por casa, gualteira, balandrau e chinelas e um pito ao pescoço e venha assoviando. Gil Olá criados Almeida, Costa, Miranda malovento a ess’outra banda que desta já são lançados sacratário há tal dormir? 60 Estribeiro, aio. Afonso Senhor. Gil Se chamara o confessor tinha jeito de não vir. Afonso Que manda vossa mercê? Gil Que tenhais mais cortesia. 65 Afonso Que mandais? Gil A senhoria não sei para quando é. Afonso Basta que tomou teiró de querer mais do que é seu. Gil Aio não sejas sandeu 70 que nisso não sou eu só os criados donde são? Afonso Todos são dos seus lugares. Gil Folgais de me dar pesares pergunto-vos donde estão. 75 Afonso Em casa do inculcador. 54 nada: no original nade. A edição de 1676 corrige. Rub.e venha: no original exenha. A edição de 1676 corrige. 58 ess’outra: a edição de 1676 altera para estoutra 60 sacratário. A edição de 1676 leu como erro e corrige para secretário. No entanto, a forma de 1665 ocorre em textos do século XVI. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Que dizeis Afonso Mendes? Afonso Que os tenhais já que os não tendes e então pedimos senhor. Gil Só por isso eu os terei. 80 Afonso Bem podeis quando quiserdes que para quando os tiverdes conta deles vos darei. Batem à porta. 240a Gil Enquanto não há porteiro vêde quem bate a essa porta. 85 Afonso Isso sim é o que importa ser ginete e ser sendeiro Chega à porta e torna logo. o maestre de esgrima chama que vos vem a dar lição. Gil Venha mas como quem sam 90 que bate como ũa dama ensinai-o a falar fora. Entra o Mestre da Esgrima com grandes guedelhas, colete de anta, espada muito comprida e embuçado como valente. Mestre de Esgrima Guarde Deos a vossancé. Gil Ó aio pois isto é o que eu vos disse inda agora? 95 Afonso Pois se ele termo não tem que importa que fale assim? Gil Vem-me ele ensinar a mim. Pois ensinai-o também. 78 tenhais: no original tehais. A edição de 1676 corrige. 85 essa: a edição de 1676 altera para esta. Rub. anta: no original ante. A edição de 1676 corrige. 98 Vem-me ele: a edição de 1676 grafa com inversão sintáctica: Vem ele me. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Mestre de Esgrima Se lição há de tomar 100 depachemos que tem homem outros mil que lição tomem. Gil Que me haveis vós de ensinar? Mestre de Esgrima Quê? Dous talhos sacudidos um mão dobre um alta baxo 105 três tretas de unhas abaxo quatro panos seis surzidos. Gil Sabeis mais? Mestre de Esgrima Não não sei al. Gil Pois se vós bem que secreta não me dais algũa treta 110 que ninguém me empeça em mal que posto me faça a mouco nem por toque ou por remoque ferro nenhum me não toque 240b digo-vos que sabeis pouco. 115 Mestre de Esgrima Se disto para que valho quer saber ensinar-lh’-emos. Gil Ora sus aprenderemos já que tomastes trabalho. Mestre de Esgrima Há espadas? Gil Sou quieto. 120 Mestre de Esgrima Nem adaga? Gil Faz-me mal. Mestre de Esgrima Há montante? Gil Não. Mestre de Esgrima Mangoal? Gil Menos que tudo. Mestre de Esgrima Há espeto? Gil Tenho a casa sem adorno vim há pouco. 110 me dais: no original medias. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Afonso Não riais 125 de tal dito. Gil Quanto mais que eu como assado do forno (com que os espetos escuso) porque é mais tenro ao trinchar. Mestre de Esgrima Há cana de esfolinhar? 130 Gil Nem há cana nem há fuso. Mestre de Esgrima Vou-me logo. Gil Tende mão. Ó aio andai sem tardança e havei-me da vezinhança com que possa dar lição. 135 Afonso Pois eu mesquinho de mi quem me há a mi de dar arneses? Gil Ora buscai que mil vezes acha homem as cousas per i. Vai-se Afonso Mendes. Olhai mestre eu sou morgado 140 não tenho irmão nem irmã tenho um casal na Lousã e não me quero arriscado em prefias nem arrufos. Mestre de Esgrima Eu sei já que quereis. 145 Entra Afonso Mendes com dous chapins velhos na mão. 241a Afonso Ora sus descansareis aqui trago dous pantufos. Gil Chapins trazeis? Ora ide aio não sejais assim. 135 possa: no original passa. A dição de 1676 corrige. 142 Lousã: no original Alouzam. A edição de 1676 grafa o topónimo começando pela consoante. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Afonso Pois eu sei quem c’um chapim 150 faz fataxas como um Cide. Gil Ouvi sempre a minha tia tomar o que o tempo dá que é grão siso dai-os cá. Beje Afonso Mendes os pantufos e lhos entregue. Afonso Tome vossa senhoria. 155 Toma dom Gil os pantufos e convida ao Mestre com qualquer deles. Gil Escolhei, não haja engano já sou frio como a neve. Faz que lhe toma o peso. Vistes vós cousa mais leve? Brigarei com ele um ano. Ponha-se cada um com seu chapim na mão em postura de esgrimir. Mestre de Esgrima Seja a primeira lição 160 que desta arte se vos dê que andeis ligeiro do pé muito mais do que da mão. Gil Tá tá escusai a prosa que eu sei que sois de primor. 165 Mestre de Esgrima Logo os peis havreis de pôr. Gil Já sei. Mestre de Esgrima Onde? Gil Em polvorosa. Mestre de Esgrima Despois dessa entendei logo 241b que em vos chegando a puxar o ponto haveis de tomar. 170 Gil Já sei. As de vila-diogo. 156 escolhei: no original escolley. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Mestre de Esgrima Dai dous talhos ao giolho como quem faz remoinho. Gil Mestre jogai de mansinho que me vazareis um olho. 175 Esgrima só. Afonso Ó Deos que grão desconcórdia. Batem à porta. Gil Batem? Afonso Sim. Gil Respondei lá. Afonso Já vou. Gil Visita será. Afonso Da santa misericórdia. Vai-se Afonso Mendes. Esgrime dom Gil e o Mestre. Gil Axopra que isso é cortar 180 por são tal que vos densembre. Mestre de Esgrima Calai que é por que vos lembre. Gil Prometo de me alembrar. Torna Afonso Mendes. Afonso Quatro mestres juntos vem. Gil Eles tem mui boa andança 185 vem o da solfa? Afonso E o da dança. Gil E o das trovas? Afonso Vem também. Gil Todavia nenhum tarda são finíssimos. Afonso Basbaques. Gil Falta algum? 181 densembre: no original demsembre. A edição de 1676 regista desembre. Edições posteriores corrigem para desmembre. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Afonso Sim. mestre Jaques. 190 Gil E para vós mestre Albarda? Mestre de Esgrima Vós tendes lição tomado 242a vou-me andando. Gil Afonso Mendes dai-lhe ora aí se o tendes um meio vintém selado. 195 Mestre de Esgrima Oh enfreado ele o fora se nos topáramos sós. Gil Eu me lembrarei de vós sem mais talhos ide embora. Vai-se o Mestre de Esgrima. Afonso Qual quereis queentre primeiro? 200 Gil O da dança. Afonso Entra e nô mais. Entra o Mestre da Dança, muito polido, fazendo mesuras. Põe-se de joelhos diante de dom Gil, pega-lhe nas mãos para lhas bejar. Mestre de Dança Dai-me as mãos. Gil Não mas comais que não são mãos de carneiro sois o mestre? Mestre E o rei David mais antigo da cidade. 205 Gil Tereis grande habilidade. Mestre de Dança Estive já em Madrid. Gil Oh se fostes a Castela sabereis cem mil mudanças. Mestre de Dança Para mudanças e danças 210 todos sabemos mais que ela. Rub. Vai-se o Mestre: o original não grafa o artigo definido. A edição de 1676 resgista-o. Rub. por lhos: no orginal porllos. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Ora tiro o balandrau que o aprender sempre é virtude. Tira o capote. Mestre de Dança Há em casa algum laúde? Afonso Não há mais que um birimbau. 215 Mestre de Dança Violas? Afonso Sim achareis na botica. Mestre de Dança Harpa? Afonso De couro. 242b Mestre de Dança Nem um sestro? Afonso Um sestro agouro. Mestre de Dança Nem sequer dous cascavéis? Gil Eu andei com a alma nos dentes 220 est’outros dias passados porque diz que os namorados nunca podem ser contentes despedi toda a capela que em desafinando estroje 225 de sorte que quanto a hoje fareis som numa panela mas por vida dos Coutinhos que isto se fique entre nós mestre que bem sabeis vós 230 que o tempo vai de escarninhos eu quisera-me encampar sem primeiro andar em contos costumando-se homens tontos que o seu viver é matar. 235 214 aprender: no original a prẽdor. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Mestre de Dança Senhor das portas adentro todos passam dela e dela mandai que venha a panela. Afonso Ontem deu c’os tampãos dentro. Gil Quebrou-se? Sou desgraçado. 240 Afonso Pois agastais-vos de nada? Gil Não é ela a destampada que vós sois o destampado e calaste-lo. Está bom. Mestre de Dança Eu vos tangerei co a mão. 245 Gil Tangei que eu não dou lição assim sem tom e sem som. Mestre de Dança Passeai por essa casa que vos quero dar o ar. Gil Isso é querer-me aleijar 250 dar-me o ar estando em brasa. Mestre de Dança Fazei mesuras. Faça dom Gil muitas mesuras sem feição. Gil Aos pares. Mestre de Dança Este pé esse acompanha sempre? Afonso Não. Ninguém lhe ganha 243a em mostrar os calcanhares. 255 Mestre de Dança Andai parai dai três voltas ide depressa ide de espaço haveis de andar a compasso. Faz dom Gil tudo quanto o Mestre lhe manda. Gil Melhor é lançar-me soltas. 236 Senhor: no original Sehor. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Mestre de Dança Podeis entrar num sarau 260 segundo o bem que aprendeis. Gil Pois mestre que mais sabeis? Mestre de Dança Ũa alta um pé de xibau galharda pavana, rica e nestas novas mudanças. 265 Gil Tende que isso não são danças senão cousas de botica sabeis o sapateado o tero lero, o vilão o mochachim? Mestre de Dança Senhor não. 270 Gil Pois sois mestre mui minguado. Mestre de Dança Não falais como quem sois. Gil Andai d’i sem mais contenda que eu não sou homem que aprenda por bicos de roxinóis. 275 Afonso Tomai-vos co mentecato mais falido que centeo por lhe não dar outro meo faz dele gato sapato. Gil Andai. Vai-se o Mestre da Dança. Mestre Vou-me que é preciso. 280 Afonso Quem mandais que entre? Gil Esperai que por vida de meu pai que estou cansado de siso mas por saber cousas novas 265 e nestas: na edição de 1676 com estas. 268 sapateado: no original Capateado. A edição de 1676 grafa com cedilha. 280 No original não há indicação da personagem em fala, Mestre. A rubrica que antecede este verso pode servir de indicação de fala, apesar de a sua ocorrência ser mais previsível depois deste verso. A edição de 1676 não altera essa ordem mas indica a personagem em fala com M. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt é tudo bem empregado 285 entre esse licenciado que diz que é mestre das trovas este ofício me contenta 243b que inda que há quebras há sobras e enfim são estas as obras 290 que não gastam ferramenta venha o trovador solene. Vai Afonso Mendes à porta e traz consigo um estudantão muito sujo e muito mal vestido. Entre muito devagar fazendo cortesias. Poeta O claro humor de Pirene em diplúvios fragantes candidice borde, esmalte, retoque, aromatize. 295 Gil Aio este homem vem perene. Poeta A graça, a gentileza, a fidalguia o grão valor, o literário estudo de vossa senhoria. Gil Vêdes aio? Todavia 300 bem disse eu que era sesudo. Poeta Ante vossa presença jaz estático um culto professor do estudo crítico que outros querem chamar humor frenético. Gil Aio ouvis que vem asmático? 305 Chamai-me logo o meu físico que este me há de deixar ético. Afonso Meu senhor nunca se espante que estes tais palram assim. Gil Mestre não faleis latim 310 que eu nunca fui estudante. Poeta Falarei como mandais bom português velho relho. 294 candidice: no original candidices. Cf. rima. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Crede que é melhor conselho. Poeta Venho a ver do que gostais. 315 Gil Sois poeta? Poeta E o declaro. Gil Fazeis motes? Poeta E os remendo. Gil Remendão sois? Ou entendo eu mal, ou não falais claro. Poeta Às vezes sou de obra prima 320 244a calçado velho outra vez chega um fidalgo cortês destes nem prosa nem rima que tem seus jeitos no paço vem de noite sem ser visto 325 mostra um hábito de Cristo pede-me um mote e lho faço outro que engasgado vem com dous versos sem feição pede nô mais de um tacão 330 paga e lanço-lho também quantos namoram na rua que em mi cada qual se fia. Gil Ah por isso eu sempre ouvia: eles bebem e homem sua 335 ora de um enguirimanso chamado como por momo cabeça de motes como vos vai senhor mestre? Poeta Manso querei-lo saber de mim? 340 Dir-vo-lo-ei. 328 engasgado: no original emgasgado. A edição de 1676 corrige. 333 qual: no original quel. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Dizei ora. Poeta Como ora digamos. Gil Nora que anda à roda e não tem fim como se fazem? Poeta Começa preguntando o que mais ousa. 345 Gil Calai senhor que em tal cousa nunca achei peis nem cabeça fazeis sonetos? Poeta Jeitosos. Gil Romances? Poeta Podem-se ler. Gil Décimas? Poeta Quantas quiser. 350 Gil Trecetos? Poeta São vagarosos. Afonso Dai vós ò demo o famaco como ele os homens estreita. Gil Pois fazei-los por receita ou assim trovas em saco? 355 Poeta Os versos tem seu quilate 244b e medidas já sabidas. Gil Oh se os fazeis por medidas sereis poeta alfaiate mas ora sus escutai 360 bem que não tive lição ũa trova com feição. Poeta Podeis dizer. Gil Ei-la vai. Vós estais no vosso estrado jazendo como um prelado 365 343 e: no original ẽ A edição de 1676 mantém a marca de nasalidade. 347 peis: a edição de 1676 corrige para pés. No entanto, a forma ditongada aparece em 141a32 e volta a aparecer em 253b23. 354 fazei-los: no original fazellos. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt e eu triste na chaminé como um negro bujamé. Poeta Não a fez tal frei Sicrócio. Gil Pois é toda em consoante. Poeta Ora vamos adiante. 370 Gil Ouvi-lhe agora o negócio sendo todos de um terrão minha mana Grimanesa não sei eu por que razão quereis sempre ser princesa 375 e eu seja madraceirão todo o mundo por vós chama que há chamar de muitos modos a mim apupam-me todos do Mocambo intés Alfama. 380 Poeta Há mais? Gil Não. Poeta Estão bem feitos mas falta para dez um. Gil Mestre não falta nenhum são eles todos perfeitos? Poeta Todos mas um falta. Gil Eu sei 385 que não falta. Homem não vês que de cada cousa dez levam ũa para el rei? Pois eu não sou dos de Malta pago como paga o prove 390 de sorte que se tem nove nenhum para dez lhe falta. Chega Afonso Mendes à porta e torna logo. 245aI 366 chaminé: no original chuminé. A edição de 1676 corrige. 374 que: no original qua. A edição de 1676 corrige. 390 Este verso sofreu grande alteração errónea na edição de 1676: pago como pega pobre. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Afonso Dou tais mestres ao pecado ora eis chega dom Beltrão. Gil Vem por mim. Traz coche? Afonso Não. 395 Gil Em que vem? Afonso No seu calçado. Gil Ora embora. Como é perto ir-nos-emos passeando. Poeta. Eu também me vou andando. Gil Ficamos neste concerto: 400 mandar-vos-ei o murzelo vireis cá todos os dias. Poeta Em dobro as senhorias e vou-me muito singelo. Vai-se o Poeta. 245bI Gil Dom Beltrão não quer subir? 405 Afonso Diz que antes quer passear agora o leva a cortar. Gil Ora sus vou-me vestir aio dizei-me é estreita essa rua? Afonso Senhor não. 410 Gil E agora este dom Beltrão é homem de mão direita? Afonso Nada aos amigos negai que essa regra é cousa crua. Gil Não que um fidalgo na rua 415 há de saber como vai. Entram-se ambos, tocam-se as violas e se acaba a primeira jornada. Segunda jornada. 416 saber: no original saher. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Sai Isabel e Brites sua filha, a primeira de velha e a segunda de dama do Bairro Alto. Isabel Adu-lo o teu malvaísco 245aII Brites filha e o solimão que é da arruda? Brites Melhor me fora trovisco 420 que me mudara o carão que essa muda contra ũa firme vontade não há erva nem peçonha com virtude 425 nem amor há com verdade que por mais mudas que ponha que se mude. Isabel Brites não sejas criança fidalguinhos de colher 430 são tormento tudo é vender esperança e quando os haveis mister malovento grandes crenchas penteadas 435 245bII dões fulanos todos dões ai ai ai e se as molheres honradas lhe pedem quatro tostões perdoai. 440 Brites Mas que não tenham ceitil saibam falar português tenham arte olhai lá para um dom Gil mais cansado que um maltês 445 Brites guar-te que é ver um mancebo brando falar de noite a ũa porta donde trata pois vêrde-lo ir andando 450 417 A edição de 1676 transforma o adjectivo possessivo em vocativo: ó tu. 439 tostões: no original tostães. Cf. rima. 449 donde: no original donhe. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt o ar parece que corta e ele mata pois se acaso for à feira 246a passará sem vos trazer ramalhete 455 (sem que nada de vós queira) aquilo a quem o entender põe ferrete um falar com tanto jeito um ditinho de repente 460 que afeiçoa um ter em tudo respeito ai mate-me Deos co a gente de Lisboa. Isabel Meu espelho eu não te tolho 465 que tenhas lá para ti passatempo que a mim em me enchendo o olho também màora era assim no meu tempo 470 mas esse dom Gil que ofendes é mui rico e abastado e é noviço inculcou-mo Afonso Mendes que o traz sendo seu criado 475 a teu serviço também nisso entra o galante que tu conheces e quer ser teu cujo. Brites Qual? Isabel Beltrão. Brites Ai o bargante 480 e vós mãe a lho sofrer ui o sujo. 453 246: no original 146. 464 mate-me: a edição de 1676 altera para meter-me. 468 a mim: no original a mi in. A edição de 1676 corrige. 481 a lho: a edição de 1676 regista aveillo. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Batem à porta. Isabel Vê quem chama. Chegue Brites à porta. Brites Ai eles são. Isabel Sus ao estrado e depressa que ei-los vem. 485 Digam fora batendo: Oulá. 246b Isabel Quem é? Digam fora: Dom Beltrão e dom Gil minha condessa homens de bem. Isabel Brites não é para rir ver qual vem homem de corte 490 o embusteiro? Digam fora: Mandais que possam subir? Brites E decer quando lhe importe. Entra dom Beltrão vestido de cortesão e dom Gil de estranha figura e muito enfeitado. Beltrão Sou primeiro. Isabel Vós sois o mais abelhudo. 495 Beltrão Em servir-vos diligente. Isabel Sede embora. Brites Guarde Deos tanto veludo. Isabel Tomastes-nos de repente. Gil Oh senhora. 500 Beltrão Oh senhora ante quem é sem sal o salgado mar se vos vir fale-nos vossa mercê. Rub. estranha: no original estrancha. A edição de 1676 corrige. 503 vos: no original vor. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Isabel Eu não digo só falar 505 mas servir. Gil A vossos peis minha estrela ó dama de grão primor jaz aquele que quanto em vós há de bela 510 tanto de firme amador haverá nele. Brites Tanto amor em poucos dias deveis ser de bom comer 247a sem fastio. 515 Gil Sou contrário de aprofias e se amor cozer me quer sou cotio. Brites Como é senhor vossa graça? Gil Dom Gil Cogominho. 520 Brites Apelo Santiago. Gil Estranhais? Sou de grão raça. Brites Sede antes Gil cogumelo ou saramago. Gil Até Gil nabo se é bom 525 serei, dama, deste dia pois gostais e não só deixar o dom mas a própria senhoria se mandais 530 por vós desejo correr todo o mundo como um galgo trás de Averes / haveres. Brites Se vós flor haveis de ser antes sede meu fidalgo 535 malmequeres tendes dama? Gil Ela me tem. 524 saramago: no original çamarago. A edição de 1676 corrige. 526 deste: a edição de 1676 grafa neste. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Brites É ditosa? Gil Não o nego. Brites Cuitadinho. Gil Preso estou. Brites E ela também? 540 Gil Ela não que eu sou o cego e o cachorrinho. Brites Sois delgado? Gil Tal que quebro. Brites Ui por ele como pega e aprofia. 545 Gil Ó meu anjo e meu requebro quem vos vira a vós a cega e ele a guia. Brites Sois poeta? Gil Assim se roje. Brites Grande? Gil Se estou namorado 550 trato disso. 247b Brites Que obrais? Gil Não trabelho em loje. Brites Sois poeta de sobrado? Gil Isso isso. Brites Tangeis? Gil Qualquer cousa tanjo. 555 Brites Cantais se a dor vos provoca? Gil Se me toma não me gabo eu ora de anjo mas canto que quem tem boca vai a Roma. 560 Brites Que voz? Gil Como voz? Brites Não digo senão se a baxo ou a tenor se entremete. 545 aprofia: no original aprofra. 549 roje. a edição de 1676 grafa rosna, que rimaria com logia, em vez de loje, no verso 552. 552 trabelho: no original trabello. A edição de 1676 corrige para trabalho, e altera o substantivo seguinte para logia. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Dos altos era eu amigo mas hoje só tem louvor 565 o falsete. Brites Entoai por meu prazer qualquer cousa. Gil Sem guitarra? Brites Ei-la tomai. Dá-lhe ũa viola. Tange como que quer cantar. Gil Pois que não posso al fazer. 570 Brites Ai que canta e não escarra. Gil Ora ei-lo vai. Canta dom Gil o melhor que pode o que se segue cantando. Gil Passeava-se Silvana por um corredor um dia. Brites Ai senhor eu não queria 575 senão letra castelhana. Gil Cantarei algaravia se mandais pois que quereis? Brites Ũa letra nova quero. Canta. 248a Gil A cazar va caballero. 580 Brites Ai mãe acinte o fazeis por isso eu me desespero. Gil Ora estai que já entendo quereis romances trovados mis amorosos cuidados 585 cómo se estarán durmendo. Brites Isto foram meus pecados vós cuido que estais zombando ora dizei. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Já me estanco gavião gavião branco 590 vai ferido e vai voando. Brites Ui pelo pássaro manco sabeis algũa ao divino? Gil Sei. Brites Dizei. Gil Pois é famosa andorinha gloriosa. 595 Brites Tendes cousas de menino? Gil Sou todo amor minha rosa. Chegue a falar como em segredo dom Gil e Brites, e diga Isabel a dom Beltrão: Isabel Ora sus pois há de ser e tendes dado recado bom é levá-lo esfaimado 600 e quando o sino correr tende tudo aparelhado as redes lhe vou armar eu vos fico que ele caia. Beltrão E eu que vós tenhais a saia 605 Brites haveis de ensinar. Isabel À minha conta deixai-a. Vai-se Isabel dond’está dom Gil e Brites. Isabel Vêdes como se achega dão-lhe o pé e toma a mão 248b segredinhos isso não 610 falar ninguém vo-lo nega mas falar de cortesão. Gil Senhora dona não cude de mim que sou malfazejo que sei desta casa e vejo 615 607 deixai-a: a edição de 1676 altera para o deixai. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt a honra e muita virtude e viver nela desejo. Isabel Nesta ao menos não será antes ando nessa andança tenho mui má vezinhança 620 e outra casa tenho já lá no bairro da Esperança mas por não ter dez mil reis que venço nas obras pias me não mudei estes dias. 625 Gil Ó senhora que dizeis? Dez mil reis são ninharias. Isabel Ninharias? Ai de mi (ele entrou no labarinto) bofé senhor isso sinto 630 mas por isso eu sempre vi rir-se o farto do faminto. Gil Vou buscá-los venho asinha. Isabel Não tomeis tanta canseira que amenhã é terça feira 635 venderei ũa vasquinha mas que a vá queimar à feira. Gil Fatos vos quisera eu ricos queimados não prefumados. Isabel Não que eu devo dez cruzados 640 afora assi outros bicos que homem vive c’os honrados. Gil Senhora a tudo me ponho que eu compricurtos não safo. Isabel Bom é chegar a bom bafo 645 porque enfim se me envergonho bem sei com quem desabafo o que vós filho vereis (dou a Deos muitos louvores) Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt que em nós como nas melhores 650 cruzados não achareis porém achareis primores 249a Brites é muito muchacha deixai que assim vo-lo diga há de ser mui vossa amiga 655 quanto mais que não é tacha estranhar-se, é rapariga o que agora importa é que vos vades e tragais pois quereis esses reais 660 de que nos fazeis mercê e em dando as nove venhais terei as cousas dispostas ir-nos-emos sem profia a noite a todos confia 665 que este andar c’o fato às costas não honra a gente de dia. Gil Tal dita não teve igual a colher-me em outro estado lá fora todo o morgado 670 que sou de humor liberal além de estar namorado ora pois com termo honesto vosso sou será rezão dar-me a mão. Brites Mão tentação 675 envidai vós vosso resto que então ganhareis a mão. Gil Vou-me enfim. Isabel Ide senhor co a Madalena ide andando. Gil Não irei senão voando. 680 Brites Adeos. Gil Adeos meu amor. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Isabel Vindes? Gil Venho. Isabel Às nove? Gil Em dando. Brites Caíu? Isabel Disso duvidais? Brites E esmechou-se? Isabel Na metade do coração. 685 Brites De verdade tendes mão contra estes tais. Isabel Graças à necessidade. 249b Vai-se dom Gil, e dom Beltrão. Isabel Ora sus isto está feito o pelão há de ir pelado tudo tenho concertado 690 meu compadre é para um feito e o Beltrão como pintado se cada qual der ajuda a farsa há de ser de ver. Brites Nela não me hei de meter. 695 Isabel Tu serás figura muda Brites filha isto há de ser esta não foi a primeira nem ele o triste mostrengo lhe há de valer o ser sengo 700 não te lembra na Ribeira a que lhe fiz ao framengo? Brites Mãe olhai que o mundo é bola não vos quisera mais dores. Isabel De outros perigos maiores 705 saí já não sejais tola vivam bons tenho senhores 682 venho: no original venha. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt pois se quem mais o persegue é o criado e o amigo donde está i o perigo? 710 Brites Que o amigo e o criado entregue. Isabel Esse achaque é já antigo Brites não sejas cobarde o feito está resoluto eu cuido que gente escuto 715 recolhamo-nos que é tarde e eles não tardarão muito. Vão-se Isabel e Brites e se acaba a segunda jornada. Terceira jornada. 250 Sai Afonso Mendes com um pano atado na cabeça, carapuça, barbas mudadas, saltimbarca e chuça de beleguim, e dom Beltrão com vara de alcaide, carapuça de rebuço, espada nua, rodela e linterna de furta fogo. Afonso Deve-me já de reção 250a vai correndo por três meses pedi-lhos quarenta vezes 720 não me diz nem sim nem não tomei-lhe tamanho entejo de zombar do meu suor que mas que seja o que for me hei de vingar de sobejo 725 inda temo que se escapa só para o mal sabe bem. Beltrão Calai-vos que se ele vem não me contento co a capa em vós o vendo agarrado 730 espulgai-lhe as algibeiras. Afonso Eu bem lhe sei as maneiras. 711 Que: a edição de 1676 grafa Quer. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Beltrão Partiremos. Afonso Mal pecado. Beltrão Tomemos fala primeiro Afonso Ora eu chamarei: comadre. 735 Bate à porta Afonso Mendes e sai em cima, como da jenela, Isabel com ũa coifa branca, emburulhada em um cobertor, e na mão ũa candea. Isabel Sus quem chama? Afonso É seu compadre são horas. Isabel Vindes lampeiro que horas são? Afonso Já corre o sino. Isabel Bom está e estais em modo? 250b Afonso Outro sino venho eu todo. 740 Isabel E Beltrão? Afonso Oh que menino. Isabel Pois metei-vos em dobrando essa esquina que inda é cedo não vos veja que ele há medo de ũa mosca e em entrando 745 que ele no fato bulir à janela sairei chamarei aqui del rei não tendes senão subir. Afonso Tudo farei puntual 750 pardeos qu’é famosa traça. Isabel Compadre isto vai por graça. Afonso Tendes destas como sal vou fazê-lo sabedor ao amigo. Isabel Ide-vos indo 755 e em vós os gritos ouvindo ala ala mãos a lavor. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Recolhe-se Isabel, faz que cerra a jenela. Escondem-se Afonso Mendes e dom Beltrão e sai por outra porta dom Gil com ũa rodela muito grande, estoque muito comprido, ũa coura e muito mal embuçado. Gil Ora a gente há de tomar em moço as cousas porque nunca andei de noite e à fé 760 que não deixo de estranhar 251a quanto de homens como eu sou mas que venham quatro juntos mas com medo de difuntos já não sei por donde vou 765 as cortes são arriscadas e vivem nelas as gentes não sendo as cousas presentes boas e más as passadas Soe dentro, como ao longe, ruído de cadeas de ferro. ai mãe que grande alarido 770 tudo só e sem candeas mais de trinta mil cadeas vem sobre mim sou perdido Tornem a soar como que se vem chegando. ai que ei-las vem, quem te mete dom Gil em ser rufião? 775 Já não dou por pé nem mão ei-la a fantasma arremete é sem falta o conde Andeiro e mais sem falta é que morro Ladrem cães dentro. vós vêdes quanto cachorro 780 lhe vem fazendo terreiro? Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Se donde escapar tivera destes condes dos demónios eu dera a cem sant’Antónios outros tantos eus de cera 785 Sai correndo um moço em corpo com um mandil em ũa mão e um cabresto na outra. eis vem a negra abujão enfim não tive escapula. Moço Senhor vistes-me aqui a mula do prior de São Gião? 251b Que lhe vim dar de beber 790 teve medo de uns tiçães fugiu ladraram-lhe os cães lançou por i a correr. Gil Ai que não é cousa morta Jesus como estou contente 795 enfim fazer do valente por dissimular me importa ó patife ó vilãozinho pois a um fidalgo embuçado vindes vós com tal recado? 800 Levareis pelo focinho a reposta. Faz que lhe dá e diga o Moço chorando: Moço Pois se errei perdoai-me meu senhor. Gil A mim mula do prior nem o ginete del rei. 805 Olhai lá como ele atura 788 aqui: no original a quis. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt vêde-lo vai de corrida pois à fé que em minha vida me hei visto em tal agastura muito há agora de saber 810 que me a mim fizer torvar ora quero-me aprestar que o sino quer já correr caminharei mais sem pejo vou-me aqui pelo Chiado 815 que é bairro mais povoado Saem pela outra parte dous vultos, um emburulhado em ũa mantilha branca e outro em uma capa negra, muito cuberto, com um pedaço de murrão aceso na mão. ai mãe que é aquilo que eu vejo? Eis já que alma se me arranca. Ora o medo não tem regra 252a lá vem ũa cousa negra 820 junto de ũa cousa branca foi do demo esta prefia e à fé que outra me não tome Jesus não poderá home ter amores com de dia 825 pois eu juro se não pasmas Gil que outra vez não te afoite eu digo que toda a noite devem de correr fantasmas ai Deos como ũa é comprida 830 e aquela que traz na mão aquilo é lança ou tição escura da minha vida 811 que: na edição de 1676 quem. 827 afoite: na edição de 1676 açoite. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt não é este oxalá fora o vilão da mula de antes 835 são maiores que gigantes destes não escapo eu ora todavia bom será fazer gesto. Vulto Negro Andar andar. Vulto Branco Se não quiser esperar 840 vá-se embora. Põe-se-lhe diante dom Gil com a espada nua. Gil Quem vem lá? Vulto Branco Ai triste de mi que é isto? Chegai o tição compadre. Vulto Negro Jesus senhora comadre. Gil Digam quem são boto a Cristo. 845 252b Vulto Branco Falai compadre esta vez. Vulto Negro Falai vós. Gil Não sou seguro abujão eu te esconjuro que tu me digas quem és. Vulto Branco Ai de mi que sou perdida 850 Jesus. Vulto Negro Eu morro primeiro. Gil Cousa má eu te requeiro que te vás para outra vida. Vulto Branco Falai compadre. Vulto Negro Não posso que o medo me tem cortado 855 dizei vós. Vulto Branco Sois um cuitado. Vulto Negro Tenho medo padre nosso. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Vulto Branco Senhor não sou cousa má 253a sou Guiomar Lopes parteira vou para cás da padeira 860 que de parto diz que está este pobre é o marido que vai tal que é para ver. Gil Se de ver tal a molher tem rezão de estar sentido 865 ora eu certo no que entendo quando vos vi vir lá atrás tive-vos por cousas más e agora não me arrependo ambos sois gentes de dores 870 a comadre e o compadre que enfim marido e comadre não vi eu cousas piores picai se levais esporas mas olhai que nunca mais 875 meu amigo consintais em ter filhos fora de horas. Vulto Branco Senhor. Vulto Negro Senhor vamos indo. Gil Ide-vos convosco amigos não quanto é destes perigos 880 bem nos vamos nós saindo todavia hei de passar o Postigo da Trindade e se hei de falar verdade não me deixa de enfadar 885 mas a conta é já somada virão medos mas no cabo levo cruz contra o diabo e contra os homens espada Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt oh que grande escuridão 890 que esquinas tão carregadas 253b tudo são encruzilhadas próprias do demo ou ladrão não sei por donde me vim Toquem dentro ũa campainha a compasso como dos homens que encomendam almas. ui que é isto se ouço eu bem 895 eu não diviso ninguém mas ouço talim talim oh pesar de quem me fez boa vai a minha vida ouço ũa voz mui sentida 900 não lhe fujo eu esta vez eu fora um dom Gil ditoso se se acabara esta festa com a parteira ser esta e o seu compadre medroso 905 Tange outra vez a campainha mais perto. tomai lá, que será isto? Já não tenho peis nem mãos escutai. Digam dentro em voz muito sentida: Fiéis cristãos amigos de Jesu Cristo. Gil Axopra que vem jurando 910 em cristãos lhe ouvi falar Rub. homens: no original Homen. A edição de 1676 opta por singularizar: como de homem que encomenda almas. 907 peis: a edição de 1676 corrige para pés. No entanto, a forma ditongada já apareceu em 244a33. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt jurará de os acabar por mim virá começando. Dentro: Lembrai-vos das almas que estão no fogo. Gil Oh que jogo 915 ele fala em alma e fogo sem falta demónio é. 254a Dentro: Do purgatório e as que estão em pecado mortal. Gil Ora esperai lá isto agora 920 ele vem co a maldição purgatório lhe entendi se dirá que vem de lá? Mas ei-lo que chega já que farei triste de mi? 925 Sai um vulto negro de modo dos que custumam encomendar as almas, tocando a campainha. Eis a cousa malfazeja oh sem ventura dom Gil fará tremer trinta mil queira Deos que me não veja ai já me viu. Santo Antão 930 contentara-me de açoutes. Vulto Deos lhe dê mui boas noutes irmão quantas horas são? Gil Se vós fantasma falais não vos hei medo a desoras 935 não sei mas sei que são horas irmão que vos recolhais. Vulto Deo gracias. 922 lhe: no original le. A edição de 1676 corrige. 935 hei: no oriinal hy. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Foi-se sem falta que me elobrigou o alfange Tange dentro outra vez a campainha. ui màora ainda ele tange? 940 Pois inda me sobressalta não mas eu zomba zombando 254b perto sou donde hei de entrar hoje levo que contar enfim ir-me-ei costumando. 945 Faz que anda reconhecendo a rua e a casa. esperai que é má derrota esta é a casa e não aquela esta é sim que na jenela tem um craveiro e ũa rota ó casa que assim lhe custas 950 a um amor tão liberal ora faço-lhe o sinal por que me pague das custas Tira com ũa pedrinha à jenela. ouvis-me minha senhora? Vem Isabel outra vez como quando falou a Afonso Mendes à jenela. Isabel Sois vós? Gil Pois quem senão eu? 955 Já São Roque as nove deu. Isabel Subi manso e vinde embora. Saem da outra parte como a espreitar dom Beltrão e Afonso Mendes. Afonso A burra já jaz no pó ele vem. Beltrão Vêde-lo bem? Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Afonso Bem. Beltrão Vêde-me ora se só vem. 960 Afonso Só vem e se há de ir mais só . Gil Abris ou não? Isabel Abri vós que eu mandei-me ferrolhar por fora por escapar porque estamos aqui sós 965 e há mil homens inquietos 255a contra casas tão honradas. Faz dom Gil que desferrolha com trabalho. Gil À fé que estais ferrolhadas ui para filhos e netos. Desferrolha a porta e faz que entra, e por outra sai Isabel e o toma pela mão, fingindo que está às escuras. Estarão na casa duas ou três troxas de fato. Isabel Andai quedo porque hei medo 970 que nos espreite o vezinho. Gil E Brites? Isabel Falai mansinho. Gil Que é dela? Isabel Estai estai quedo. Gil Que é do fato? Isabel Está liado. Gil Não tendes lume? 975 Isabel Qual lume? Gil Não é esse bom costume. Isabel Porei a roupa a recado tudo o mais bem se fará. Gil Pois adu-los mariolas? Isabel Não somos nós cá tão tolas 980 tudo em troxas tenho já 961 só: no original sós. Cf. rima. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt que são poucas me faz dor cada qual levará a sua ninguém parece na rua. Gil Ora tudo faz amor 985 até carretão serei. Isabel Tende ora esta. Põe-lhe ũa trouxa às costas. Gil Bom descanso ela pesa. Isabel Falai manso Faz que chega Isabel à jenela e grita: 255b ah del rei aqui del rei aqui del rei que um ladrão 990 me rouba e o fato me muda não há ninguém que me acuda? Ah del rei. Gil Isto é treição mofino de mim cuitado antes eu nunca nacera 995 do que tal amor tivera eis-me ainda hoje esquartejado. Entra de súbito dom Beltrão de alcaide e Afonso Mendes de beleguim e pega de dom Gil. Beltrão Da parte del rei estais preso dai-vos em boa fé. Afonso Mendes e Isabel pegam também de D. Gil. Gil Vós não quereis que eu me dê 1000 pois por força me tomais. Beltrão Que fizestes? Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Gil Eu que fiz? Afonso Não é nada não é nada. Beltrão Falai vós senhora honrada. lsabel Eu direi senhor juiz. 1005 Beltrão Merinho direis melhor. Isabel Sim senhor licenciado este velhaco malvado mofateiro enganador arrimou-se à minha porta 1010 por não ver ninguém na rua abriu-ma c’uma gazua fiquei como molher morta. Afonso Com gazua entre cristãos a mim buscá-la me toca. 1015 Mete-lhe Afonso Mendes as mãos nas algibeiras. 256a Gil Falai embora de boca mas deixai estar as mãos. Beltrão Que dizeis vós formigueiro? Gil Senhor alcaide ou que é escuite vossa mercê. 1020 Afonso Inda falais embusteiro estes são os mais daninhos. Gil Ó molher do inferno toda nacida para pôr noda no sangue dos Cogominhos. 1025 Isabel Meu senhor almotacel tudo são disculpas froxas requeiro que veja as troxas. Beltrão Não fez ele más fardel dinheiro também? 1015 buscá-la: no original buscalha. A edição de 1676 corrige. Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt Isabel Contado 1030 em muito belos tostões. Toca-lhe Afonso Mendes nas algibeiras. Afonso Ei-lo tine nos calções. Beltrão Tá tá isto está provado. Gil A um fidalgo de solar tal fazeis? Sabê-lo-á el rei. 1035 Beltrão Saberá que eu lho direi quando fordes a enforcar. Afonso Também fidalgos tem munha. Gil Falai bem dum beleguim. 256b Afonso Português é não latim. 1040 Beltrão Vinde, éreis testemunha levá-lo-emos diante do doutor Francisco Brabo. Gil Enfim isto foi diabo. Afonso Inda resmungais bargante? 1045 Entre tantos empuxões não pesquei mais de um cruzado. Beltrão Quanto lhe tendes chupado? Afonso Fanados quatro tostões. Beltrão Eu vinte, Isabel fez presa 1050 vamos e à rua chegando cada qual se vá safando. Gil Só de desonra me pesa. Beltrão Vamos. Afonso Vamos a chacona. Gil Que dirão de mim na corte 1055 preso dom Gil desta sorte? Beltrão Segui-nos senhora dona. Gil Meu amigo dom Beltrão e meu aio Afonso Mendes Francisco Manuel de Melo O Fidalgo Aprendiz ed. José Camões Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Sala 67, Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa • tel/fax: 21 792 00 86 e-mail: estudos.teatro@mail.fl.ul.pt amigo nem amo tendes 1060 dom Gil tornou-se carvão homens que vos enxeris na corte como em bigorna vêde bem no que se torna qualquer fidalgo aprendiz. 1065 Entram-se todos e se acaba a farsa.