JINDŘICH TRACHTA: UM THECO EM TERRAS BRASILEIRAS
Professora Doutora Eliane maria de Oliveira Giacon( Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul
Jindřich nasceu na Tchecoslováquia, em 30 de Agosto de 1921, em Žeravice. É o quarto filho de Jakub Trachta e Maria Dobiášová, Jindřich Trachta. O local de nascimento de Jindřich Trachta foi marcado, em 28 de abril de 1616, pela consagracao Amos Komenský como pastor.
Em 1926, Jindřich Trachta e sua família mudam para Viseli nad Moravou, no sul da Morávia e ele inicia seus estudos aos cinco anos.
O ano de 1929 marca uma perda da mäe Marie Trachtová
Dois anos depois da morte da mäe de Jindřich Trachta, seu pai Jakub Trachta, em 1931, entäo viúvo de com quatro filhos se casa com Antonie Karlíkova, viúva com dois filhos, do novo casamento nasceräo mais 4 filhos. A família aumentou e a situacäo financeira ficou mais difícil.
Em 1935, Jindřich Trachta concluiu o Ensino Básico com desempenho superior e dedicacäo e recebe a medalha1 comemorativa dos 85 anos de nascimento do presidente Masaryk, que era oferecida ao melhor aluno.
1 Esta medalha está disposta no Centra de Memoria Jindřich Trachta( Batayporä-MS), criado pela família Trachta em 2002.
No ano de 1936, ele consegue ingressar no Ginásio Real da cidade de Strážnice e recebe uma bolsa de estudos do Ministério da Educa<jáo da Tchecoslováquia.
Jindřich Trachta, neste periodo de sete anos chegou a trabalhar, nas férias, nas escava<joes dos 52 quilómetros do canal Otrokovice-Rohatec, que liga os rios Morava e Odra, conhecido como Canal Bata, pois foi construído pela empresa homónima. A vida de Jindřich Trachta come<ja a melhorar quando ele vai morar com um colega de escola Karel Stajnoch, pois a senhora Ludmila, máe de Karel o trata como filho.
O ano de 1941, entre tanto problemas políticos e sociais vividos pela Tchecoslováquia, intitulada de Protetorado por Hitler, o jovem Jindřich Trachta escreve seus primeiros poemas, que foram encontrados, no acervo do Centra de memória Jindřich Trachta.
MOSTRAR OS POEMAS
Em 1943, Jindřich Trachta para fugir das determinacoes alemas, que levaram mais de 100 mil tchecos, nascidos entre 1918 e 1924, muda-se para Nová Ves u Címěre, trabalhando no campo com parentes até maio do mesmo ano.
Os anos entre 1943 e 1945 seráo fundamentals para "o despertar" do Jindřich Trachta engajado politicamente, pois ao se mudar para Otrokovice, cidade próxima a Zlin, ele trabalha para a empresa Chlud de calcados. Ao final de 1943, Jindřich emprega-se no Departamento de Trabalho, em Zlin, permanecendo neste emprego até 1945.
Ao final da Segunda Guerra, Jindřich Trachta atuou como voluntário, entre maio e junho de 1945, para a libertagáo de Zlin. Incorporado ao novo exército tcheco, ele serviu ao lado do atleta olímpico Emil Zátopek, a Locomotiva de Praga ou Locomotiva Humana.
Entre 1945 e 1946, após o finál da Guerra, Jindřich Trachta muda-se para a casa de sua irmá Hedvika, na cidade de Brno, quando ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Masaryk. Děste periodo ele traz consigo as informacoes de Literatura e Linguística, que iníluenciam a escolha dos livros, que leu e dos textos, que escreveu.
MASARYKOVA UNIVERSITA v BRNE
LEGITIMACE
tjfřé noho posluchače
Outro documento, que acompanha esta carteirinha, o Index Lectionun contém anotacoes das disciplinas estudadas e o nome dos professores, que lecionaram na Universidade de Mazaryk. Muitos dados estáo anotados neste livro. Contudo ele náo termina o curso.
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SEZNAM PŘEDNÁŠEK,
(INDEX LECTIONUM)
do kterých byl zapsán jako rádný posluchač
Ot.c
AKADEMICKÝ Fl :H
UNIVERSITY MASARYKOVY V BRNĚ
Em 1947, aos 26 anos, ele se alista para servir numa escola para reserva de oficiais de Brno, onde permaneceu seis meses. Depois faz contato com Jan F. Bartoš para tentar trabalhar, nas empresas Bata', na India. A ideia era ensinar tcheco para os filhos dos funcionários da empresa da cidade de Batanagar. O que náo se concretiza, visto que Jan F. Bartoš informa por carta, que todos os cargos estáo ocupados.
Neste mesmo ano, Jindřich Trachta se transfere para Plesná, nos Sudetos, onde assume um cargo de no setor de contabilidade de uma fábrica de artefatos em couro.
Jindřich Trachta, em 15 de dezembro de 1947, aceitou o cargo de Presidente do Comité Popular Municipal de Plesná.
Os comunistas, conforme as anotacoes de Jindřich Trachta, até que tentaram várias vezeš. Eles fizeram propostas vantajosas, só que em todas ele teria de entregar as pessoas, que fossem anticomunistas e obter informacoes sobre os funcionários da empresa Geipel, na qual Jindřich Trachta trabalhava. Ele náo aceitou e na noite de 29 de agosto de 1948, atravessou a fronteira com a Alemanha Oriental com Ondřej Hlavatý, diretor da fábrica Geipel e a filha děste, Anna.
A Bíblia sagrada, a medalha e algumas lembrancas desta viagem estáo dispostas em uma caixa com vidro no Centro de Memória Jindřich Trachta. A Bíblia, o primeiro livro da Biblioteca, que o escritor Jindřich Trachta formaria no Brasil, possui uma anotacáo poética, escrita em Tcheco e traduzida para o Portugués, que resume a sua situacáo de exilado, sem possibilidade de volta á Terra Natal, a presenca da Lingua Tcheca com ele sempře, em meio ás palavras de Deus, e as suas lembrancas do berco até a sepultura.
2 Acervo do Centro de Memória Jindřich Trachta. Anotacöes e cartas catalogadas e traduzidas por Martina Čermáková
Durante quase dois anos, Jindřich Trachta fica em Campo de Refugiados na Alemanha, sendo que o primeiro foi de Schwabach. Depois do Golpe Comunista de 1948, os refugiados vindos de regioes ocupadas pela uniáo soviética, passam a serem considerados políticos. Várias tentativas de Jindřich Trachta nao deram certo e demorou muito para ele conseguir um pais para onde ir. Neste periodo trabalho como contabilista do escritório de refugiados de Ludwigsburg, um dos campos pelos quais passou.
Em 1949, ele consegue uma autorizacäo e residéncia na Alemanha, o que lhe garante morar com sua tia Aloisia em Eisslingen, depois se desloca para Stuttgart, onde trabalha como pedreiro e aguarda a transferéncia para o Brasil, que fora marcada para 24 de abril de 1949. Da Alemanha ele foi de tem até Bagnoli, que era urn local de refugiados, proximo ä Nápoles. O navio General Mac partiu da Academia naval de Bagnoli, Itália para o Rio de Janeiro, Brasil chegando em 09 de maio de 1949. Junto com Jindřich Trachta veio um colega de trabalho da fábrica de Plesná, o senhor Zdeněk Pracuch.
Ao chegar, no Rio de Janeiro, em 1949, Jindřich Trachta, de acordo com os dados da historiadora Martina Čermáková disse as seguintes palavras "Přijetí bylo symbolické, když jsme nad ranním oparem mohli vidět sochu Krista Spasitele, jako by chtěl říci: Pojďte všichni ke mně, kdož hledáte ochranu " O Cristo Reden tor de bracos abertos e acolhedor irá receber um dos muitos refugiados tchecos, que viräo para o Brasil, entre 1949 e 1989, até que com a Revolucäo do Veludo.
Jindřich Trachta foi alojado junto com outros imigrantes, na Hospedaria da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro.
O primeiro passo foi o estudo da Lingua Portuguesa por mais de 4 meses No navio General Mac, Jindřich Trachta aprendeu a escrever, depois a falar e traduzir junto com o padre Janáček um manual de tcheco-portugués para imigrantes.
As possibilidades de emprego para quern estudou Letras eram minimas, no Brasil, pois a cada dia as empresas procuravam quern tinha habilidades manuais. Porém como ele havia aprendido Portugués muito rápido, isso o ajudou a conseguir urn emprego näo bracal na empresa Imbrasic, em Vicente de Carvalho, no Rio de Janeiro como controlador de producäo.
Neste periodo, ele morou na vila Penha e conheceu um pouco do Rio de Janeiro, contudo sua passagem pela empresa encerra, em abril de 1950, devido ao fato de que a empresa teve problemas financeiros e dos 22 tchecos, eles demitiram dois, o que aborreceu Jindřich Trachta, pois ele considerava que os estrangeiros deveriam ser todos por um e um por todos.
Em maio de 1950, o senhor Zdeněk Pracuch, que por ter trabalhado com as Empresas Bata, na República Tcheca, tinha acesso ao senhor Jan Antonín Baťa industrial tcheco, que neste periodo estava fundando várias cidades no Brasil. Entre elas viria a fundar Bataguassu e Batayporä, na porcäo sul de Mato Grosso, iria apresentar
Jindřich Trachta ao seu novo paträo, em Batatuba-SP. O senhor Bata estava precisando de alguém que cuidasse do armazém em Bataguassu-MT. Dois dias depois Jindřich Trachta foi para Presidente Prudente-SP e depois para Bataguassu-MT.companhia
Em 25 de dezembro 1951, Jindřich Trachta se casa com a senhora Marina Goncalves do Amaral, em Presidente Epitácio-SP. Nascem os filhos Dário( 26-11-52). Bataguassu-MT, Leonida( 13-12-54), Dalibor( 21-11-59) Henrique Joäo (30-12-66) em Batayporä-MT. Outros dois filhos seräo adotados pelo casal: Joaquina, mais velha, que Dario e Nelson.
No ano de 1954, ele se torna responsável pela formacäo do núcleo da cidade de Batayporä. No ano seguinte, em 1955, a esposa de Jindřich Trachta, Dona Maria Trachta é nomeada tabeliäo no Cartório de Paz e Tabelionato de Batayporä, sendo que somente em 1964, ela passa no Concurso Público para escriväo efetiva.
Entre 1955 e 1964, Jindřich Trachta continua trabalhando na Companhia da Viacäo Säo Paulo-Mato Grosso, de propriedade de Jan Antonín Bata, até que neste ultimo ano, ele fica muito doente com problemas nos rins e colapso nervoso. Juntou-se a isso a morte de seu paträo Jan Antonin Bata em agosto de 1965. A decisäo final de sair de CVSP-MT e ir trabalhar no cartório se deu em 1965.
Jindřich Trachta deixa de trabalhar na CVSP-MT e passa a trabalhar no Cartório junto com sua esposa Marina Trachta. Ele alimenta o sonho de ser prefeito da cidade, contudo sem naturalizacäo näo consegue. Para tanto ele entrou desde o governo de Juscelino Kubistchek com pedido, contudo só sairia em 07 de novembro de 1967, contudo ele só recebeu em mäos em 22 de maio del969.
Em 1972, Jindřich Trachta se candidata a prefeito de Batayporä e é eleito para o mandato de 1973-1976. Neste periodo ele se destaca no curso de prefeitos, em Cuiabá. Após o término do mandato Jindřich Trachta se dedica as suas leituras, ao trabalho no Cartório, a escrita de cartas e aos cuidados com sua biblioteca
De 1976 a 1980, Jindřich Trachta lecionou como leigo as disciplinas de filosofia, sociologia, contudo ele recebia como leigo, pois teve dificuldades de validar, no Brasil, os seus estudos, na Tchecoslováquia, mesmo assim trabalhou no Cartório e nas escolas de Batayporä como professor até se aposentar em 1980.
Em 1989 com a desintegracäo do Bloco do Leste nasce a esperanca de rev er a sua terra, contudo ele sempře é cauteloso, pois a Tchecoslováquia havia virado uma prisäo e havia a necessidade de verificar o que viria pela frente. A esperanca de voltar esbarra na família e relacöes sociais estabelecidas no Brasil até que insisténcia da filha Leonida e do neto Evandro Trachta ele e a esposa Marina väo para a Tchecoslováquia, no final de 1990, ficando trés meses em casa de parentes em Brno e Viseli nad Moravou.
Em 1992, Jindřich Trachta escreve a sua biografia, que deixa entre seus guardados. Ele planejava voltar ä agora entáo República Tcheca(1993), contudo a saúde foi debilitando, mas ele continua escrevendo, lendo e estudando línguas.
Em 27 de novembra de 2001, aos 79 anos falece Jindřich Trachta, em Batayporä-Ms. Após sua morte, em 2002, a família cria o Centro de Memoria Jindřich Trachta( Batayporä-MS) e o primeiro historiador a organizar o acervo foi o Professor Doutor Jose Carlos Ziliani.
Referéncias:
ČERMÁKOVÁ, Martina(2014), A vida privada na relacäo epistolar do i m i g raňte tcheco, Jindřich Trachta. In Web revista Linguagem, Educagäo e Memoria. Disponível em http://www.giacon.pro.br/lem/EDICOES/06/06.ritm ou http://periodicosonline.uems.br/index.php/LEM
ČERMÁKOVÁ, Martina. Jindřich Trachta: um olhar sobre a memória e a história de um imigrante tcheco. Dissertagáo de Mestrada. Universidade Federal da Grande Dourados, 2015.