Säo Torné e Principe... de 1001 km Dona Carlota recusa dizer a idade e tem toda a razäo. Porque ha-veria um "branco" - que ela nao co-nhece de lado nenhum — de querer saber tal coisa? "Puxe o barco e de-pois faz perguntas!" Assim seja. Durante uns loiigos e penosos minutos, homens, mulheres e eriancas puxam a pequcna embarcacäo areia acima, carrcgada de peixe. A tarefa estava terminada, mas Dona Carlota gosta niais de interrogar do que ser inter-rogada: "Nunca viu pescadores na vida? Somos pobrcs, a nossa sortě é o mar farto", explica esta habitante de Nevěs, uma das principals ridades de Säo Torné e Principe. "Tem quam tos tilhos?" Um dedo indicador serve de resposta. "So um? Tristeza. Tenho cinco", explica ela, cnquanto as suas mäos calejadas agarram um volumoso atum. Atarefada e sem grande vontade de fazer conversa mole, despede-se de forma subita, mas amistosa: "Näo es-queca, isto é terra de Deus!" Olhando ä volta, é diticil de dis-cordar. Apesar do lixo espalhado pela praia, apesar das humildes casas de madeira, apesar das águas pouco re-comendáveis do rio Provaz, este é um território mágico. Bašta sair desta aglomeracäo urbana onde resident perto de sete mil almas e regressar ä estráda reabilitada recentementc, com dinheiros da Uniäo Huropeia. A paisagem virgem aeába por se imp or e deixar desconcertado quem nunca aqui pós os pés. É bem provável que tenha sido essa a sensacäo que teve o fidalgo D. Joäo de Paiva e respetivos acompanhantcs quando fundearam por estas bandas, em 14B5. No lugar de Anambó sobrevive um velho padrao que assinala esse desembar-que e a chegada dos primeiros co-lonos Portugueses • - na sua maioria, judeus e prisioneiros condenados ao degredo por D.Joäo II, que percebeu a importáncia estratégica do arqui-pélago, supostamente desabitado até entäo. Em certos sítios, parece que es-tamos no princípio dos tempos e, mesmo quando a rriäo do hörnern rnarca presenca, logo a natureza se encarrega de fazer das suas. É o que acontece quando alguém atravessa o tunel de Santa Catarina, rumo a nořte, e comeca a ver o que o espera do outro lado: coqueiros, muitos co-queiros, de cor alaranjada. Claro que tudo näo passa de um mero efeito de ótica graeas ao sol e ä loealizacäo das árvores.Já agora, convém fazer um es-clarecimento: estamos a falar da costa ocidental de Säo Torné, cpe a gene-ralidade dos especialistas e dos säo--tomenses considera até nem ser a mais bonita do pais. Gostos näo se devem discutir, mas, na qualidadc de escriba independente, aproveita-mos para dar um manifesto e singelo exemplo de injustice: a Lagoa Azul. Sim, o famoso filme homónimo, pro-tagonizado por Brooke Shields, foi feito na Jamaica, mas também poderia ter sido aqui rodado. Contemplar a baía e as águas turquesas do Atlantico desde o morro do Carregado e de-pois serpentear até ä praia da Lagoa Azul é uma experiéncia que dispensa quaisquer comentários. E que só fica completa após prestarmos o devido respeito ao centenário embondeiro que serve de referencia a quem vai a banhos ou mergulha com o propósito de ver os corais que ficam entre os 10 e os 3d metros de profundidade. Isto para näo falar de outras praias até ao extremo sul da ilha e dos ilhéus que pontuam toda a orla oeste. Seja conio for, sublinhe-se a injustica de ser uma regiäo demasiadas vezeš ignorada pelos folhetos turísti-cos e que praticamente nunca aparece entre os ex-líbris do território. O mesmo se poderia dizer do Parque Obô, que cobre quase um terco do pais - 235 quilómetros qua-drados em Säo Torné e outros 85 no Principe (que também fazem parte da biosféra da UNESCO desde 2012). É aí, no centro das duas ilhas, que se concentra toda a Üoresta primitiva e as nascentes dos 50 rios que depois correm até ao oceano. Uma enorme e luxuriante man cha verde que äs vezes parece confundir-se com os ce-nários de Parque Jurássico, de Steven Spielberg, e que em muito contribui para o carácter encantatório deste que é o segundo mais pequeno Estado de Africa. A fotografa e cineasta I. Goncalves, que trocou Lisboa pot* 150 I SioTomé e Principe... Säo Tomé há cinco anos, costuma dizer que estas säo "ilhas mágicas". E isso uota-se quaiido nos embrenha-mos na vegetacäo densa ou nos dete-mos a ver os pontos mais altos,muitas vezes envoltos nuni misterioso manto de nevoeiro. Os adeptos dos despor-tos radicals e de aventura nem fazem ideia do que tém aqui ao sen dispor. Bašta dizer que o Pico Cäo Grande - uma elevacäo de origem vulcäniea com 300 metros de altura - é urna das imagens de marca do pais, serve mais de retiro cspiritual aos feitieei-ros locais do que aos poucos alpinistas que cometeram a proeza de chegar ao copo. O niesmo se aplica aos outros picos e montanhas ainda niais altos, onde os stlijons matu e os bolodo de minja (os curandeiros e os massa-gistas) encontram tudo o que pre-cisam para tratar todos os males da bumanidade. Parece exagero? Talvez pense de forma diferente apos ouvir os guias do Jardim Botanico explica-rem as aplicacoes terapeuticas s mi-lagrosas de plantas como o muambli. o paU'purgUi o cubango e a Mimosa pudka — tlor que encolhe quando tocada e e também conhecida por "mulher por-tuguesa". Mitos e lendas que fazem parte de uma cultura crioula que tern an J. C. Silva um dos seus expoentes niais populäres. O carismátíco chefě nunca perde uma oportunidade para subli-nhar a importäncia dos saberes tradi-cionais:"E näo é só na cozinha, é em todas as artes." Se bem o diz, melhor o faz na Ro9a de Säo Joäo dos An-golares, onde fica o seu incontorná-vel restaurante e a casa grande con-vertida em boutique-hotel com uma vista de postal ilustrado. A sua emeiita Säolbmé e Principe... | 151 - variável mas sempře criativa -continua a seduzir os comensais mais exigentes e faz jus aos pratos e produtos indígenas, íhcluindo a feijoada de búzios (com os ditos a provirem da terra e nao do mar), a pedir uin aromático molho picante ironicameute chamado fura-eueca. Para os menos avisados, é im-perioso alertar que nenhuma visita a este pais de 1001 quilómetros quadrados, beni no eentro da Terra — onde a linha do Equador se cruza com o meridiano de Greenwich —, estará completa sem uma desloca-cáo á ilha clo Principe. Com apenas sete mil habitan-tes, ainda mais vcrde e selvagem do que Sao Torné, é um mundo á parte que a dupla insularidade criou para o melhor e para o pior. Para o conhccer, nao chega ficar uns quantos dias nos resorts turís-ticos que existem. E preciso falar com as pessoas que lá vivem e procurar — a pé, de barco ou num todo-o-teřreno — o muito que há para descobrir. Como diz o pro-vérbio sao-tomense, "aquilo que Deus nao nos deu, nao pode-mos tomar a forca"... ▲ Tcxto adaptado, Filipe Fialho in l 'isao GLOSSARIO calejado: endurecido; que tem calos carismatico: fascinante comensal: que come com outras pessoas na mesma mesa; convidado degredo: pena de desterro imposta judicialmente como castigo por um crime grave embrenhar-se: envolver-se; entrar pelo mato farto: repleto; abundante V^CLal. fundear: atracar /Vy\ i,y^AA>U- insularidade: relativo a vida numa ilha; constituido por uma ou mais ilhas p JUJ^h '^jifiXM AjJn^Z 2. "Nag seresquega, islo é terra de Df usl'i 8M MligAvř 3."(...) mesmo quando a mac do homem marca presenga, logo a natureza se encarrega de fazer das suas." 4. "A sua ementa (...) continua a seduzir os comensais mais exigentes e faz jus aos pratos e produtos indígenas (...)." 5. "(.-■) aquilo que Deus nao nos deu, nao podemos tomar á forga." 152 [ Sáo Torné e Principe. Macau Ponto de encontro do Orier\te com o Ociderjte Macau é uma das mais perfeitas simbioses entre a cultura portuguesa e a chinesa. Um local onde se pode lanchar um pastel de nata com a mesma facilidade com que se visita um típico templo budista. Macau, local de contrastes, onde o tradicio-nal se mistura com o mais moderno. Ao percorrermos as mas de Macau encontramos muitas ligacoes com Portugal. As placas corn' os nomes das ruas; alguns objetos ur-banos, como os candeeiros; restau-rantes; e até as pessoas com quem nos cruzamos e que falam portu-gués. Tudo isto nos' faz esquecer a distancia geográfica a que nos encontramos. Um pouco mais á frente, senti-mos que estamos num outro con-tinente: já náo é o asiático nem o europeu, mas o americano. Dado que uma das principals atividades económicas de Macau é o jogo (alem do turismo), é uma das regioes do mundo com mais casinos. Daí que seja chamada de "Las Vegas do Oriente". Ksta designacáo tem que ver nao só com o ambiente de casino, mas também com a arquitetura dos mesmos. A verdade é que Macau atrai quase tantos turistas quanto Las Vegas. Macau tem cerca de 597 498 habitantes. É uma das cidades com maior densidade populacional no mundo. Na medida em que tem uma area tao reduzida, a cidade tem crescido na vertical. Os prédios sao altos, oferecendo vários apartamen-tos cm cada andar. A vida é agitada. Nao há tempo a perder. Digamos que é uma "outra" cidade que nao dorme. Nunca. Por outro lado, é curioso obser-var que algumas pessoas conseguem fugir desta agitacao citadina e pro-curam reťugio nos jardins. Procuram a calma, a tranquilidade, o encontro com eles próprios. Aqui pratica-se tai-chi. Longe do bulício. Há tempo para apreciar a natu-reza, nem que seja numa flor ou num pássaro... Assim sao os macaenses. GLOSSARIO azáfama: atividade intensa; muita pressa bulício: grande movímento de pessoas; burburinho engalanada: omamentada; enfeitada iguaria: comida requintada e saborosa simbiose: uniäo; vida em comum Macau e os crisantemos Enquanto em alguns países o crt-sántenio é uma flor ligada ao culto da morte, em Macau simboliza saúde, prosperidade, felicidade e longevidadc. Oferecer um ramo de crisäntemos é de bom-tom e elegancia. Com as pétalas faz-se uma iiifusäo que se bebe para acompanhar o bolo lunar. A festa de ano novo Esta festa também tra? muitos rituals que těm perdurado ao longo dos alios. Alguns deles bem curiosos como, por exemplo: arrumar a casa. Também a tradicao de oferecer lai si vermelhos (envelopes dentro dos quais se coloca di-nheiro) é muito apreciada. Mas em Macau também se tem a tradiclo de entrar no ano novo com o pé direito. A cor vermelha, que se espalha por todo o lado, simboliza o desejo de fortuna e sortě para o novo ano. Embora com todas estas tradicóes orientals, a ligacao com o Ocidente está patente, entre outras coisas, na lingua: fala-se portuguěs. Ainda que uma outra lingua também seja talada: o patoá (ou crioulo macaense, como alguns lhe chamam). Trata-se de uma lingua crioula de base portugucsa for-mada em Macau a partir do século xvi e inlluenciada pělo chines, malaio e cingalés. Rosta acrescentar que o patoá, atualmente, é ťalado maioritariamente por pessoas de idade avancada. Assim nos ligamos ao Oriente... Explique o sentido das frases de acordo com o texto. 1. "Na medida em que tern uma area tao reduzida, a cidade tem crescido na vertical. 2. "Oferecer um ramo de crisantemos é de bom-tom e elegancia." 3. "Assim nos ligamos ao Oriente..." 198 j Macau 3. Coloque os acentos respetivos nas palavras que devem ser acentuadas graf icamente. a) util b) sofa c) piano d) falamos e) rapaz f) ananas hotel movel figado cantico distante dištancia retem apoio ceramica bau molho subtil gas all la saude sorte centimo 4. Snterjeicoes. Qual a interjei9äo da coluna B mais adequada para ex-pressar as sensacöes da coluna A. A a) Alegria b) Dor c) Surpresa d) Medo e) Estimulo f) Desejo g) Siléncio h) Alivio B 1. Caramba! 2. Quern me dera! 3. Forga! 4. Viva! 5. Chiu! 6. Ai! 7. Ufa! 8. Credo! a) Construa uma frase usando cada uma das interjeicoes do exercfcio anterior. Caramba!_ Quern me dera!_ Forca!_ Viva!_ Chiu!_ Ai!_. Ufa!_ Credo!_ 4. A Boa Escrits. a) Escreve-se com e ou i? _elipse ef_ciěncia v_zinho äns_a ad_antar _dificio b) Escreve-se com o ou u? s_luco p_lir ad_ecer ch va ch ver ac_mular r_preender in_gualável cand_eiro mal_ável agon_a crän_o c rtir c_agir c biča ca s burb rinho b letim