' ".......------• *breve GRAMÁTICA OPORTUGUÉS GONTEMPORÄNEO Celso Cunha Llndley Cintra iv brzve gramática do portugues contemporáneo no estudo de certos pormenores nao indispensáveis para uma iniciagao na análise da estrutura da lingua poderiam eventualmente assustar e afastar. Ora um dos nossos objectivos essenciais desde o início do projecto foi, sem prejuízo do rigor científico na descricao da lingua, fornecer, do portugués-padrao actual, um modelo que pudesse servir na aprendizagem da lingua e principalmente da lingua" esctita, na forma que presentemente se pode considerar «correctav>. Alias sempře acentuámos o nosso propósito de que, neste sentido (que nao exclui a aceitacao de inovacoes), a propria versao iniciál da Nova Gramátka do Portugušs Contemporáneo já tivesse um aspecto normativo e uma aplicacao pedagógica. Vincámos até que essa característica deliberadamente a afastava de outras gramáticas de carácter essencialmente especulativo. Que esta obra, na sua versao breve, seja um factor no ensino que contri-bua para que a juventude portuguesa, brasileira e africana de lingua oficial portuguesa — dispondo de um guia de fácil acesso e leitura que até ousamos classificar como muitas vezeš atractiva— aprenda a melhorar a suaescrita e o seu falar da lingua portuguesa é, sem dúvidá, a maior aspiracao dos autores e editor e a melhor recompensa possível para o trabalho feito e aqui apresentado. Setembro de 1985. Os Autores Indice geral Apresentacao, III Capitulo i conceitos gerais, i Linguagem, lingua, discurso, estilo 1 • Lingua e sociedade: variagao e con,serva$ao linguistica, 2 Diversidade geografica da lfngua: dialecto e falar, -? A nocao de correcto, $ Capitulo 2 dominio actual da lingua portuguesa, / Unidade e diversidade da lingua portuguesa, / Os dialectos do portugues europeu, j Os dialectos das ilhas atlanticas, 12 Os dialectos brasileiros, 13 O portugues dc Africa, da Asia e da Oceania, 16 Capitulo 3 fonetica e fonologia, l8 Os sons da fala, iS Som e fonema, 21 Ckssifica$ao dos sons Hnguisticos, 24 » Classificacao das vogais, 2j ■■ Classifica$ao das consoantes, }2 Encontros vocalicos, 37 Sikba, 41 Acento tonico, 42 Capitulo 4 Ortografia, 4J Letra e alfabeto, 4} Nota^ocs lexiens, 46 Regras de accntua$ao, // 1 Divergcncias entre as ortografias oficialmcntc adoptadas em Portugal e no Brasil, // vi breve gramática do portugues contemporäneo Capítulo 5 Classe, estrutura e forma^äo de palavras, /7 índice vn Palavra e morfema, jj Formacäo de palavras, 62 Estrutura das palavras, jp Fámfiias de palavras, 62 Capítulo 6 Deriva^äo e COMPOS15Ä0, 63 Derivaíjao prefixal, 63 Derivacäo sufixal, 66 Derivacäo regressiva, 7/ Derivacäo imprópria, 76 Composicäo, 77 Compostos eruditos, 7p Hibridismo, 84 Onomatopeia, 84 Abreviacäo vocabular, 8j Capltulo 7 Frase, ora^ao, período, 87 A frase e a 'Sua coristituicao, 87 . A oracao e os seus termos essendais, fp O sujeko, pí O predicado, p/ A oracao e os seus termos integrantes, 102 Complcmcato nominal, 103 ■■ Coinplementos verbais, 104 A oracao e os seus termos acessórios, 110 Adjunto adnominal, 111 Adjunto adverbial, 112 Aposto, 114 Vocatívo, 117 Colocacao dos termos na oracao, 117 Entoacáo oracional, 122 Capítulo 8 SUBSTANTTVO, I30 Classificacjio dos substantivos, 130 Flexoes dos substantivos, 133 Numero, 133 . FormacSo do plural, 134 Géncro, 141 Formac2o do feminino, 143 Substantivos uniformes, 148 Grau, /// Emprego do substantivo, ijí Capítulo 9 Artigo, ijj Artigo definido e indefinido, ij; Formas do artigo, ij6 Valores do artigo, ijp Emprego do artigo definido, 160 Repetilo do artigo definido, 172 Omissäo do artigo definido, 173 Emprego do artigo indefinido, 17; Omissäo do artigo' indefinido, 177 Capítulo 10 Adjectwo, 180 183 Flexoes dos adjectivos, Numero, 183 Género, 184 Grau, 186 Emprego do adjectivo, 1P3 Concordáncia do adjectivo com o substantive, zpé Adjectivo adjunto adnominal, ip6 Adjectivo predicativo de sujeito composto, ip8 Capítulo 11 Pronomes, 200 Pronomes substantivos e pronomes adjectivos, 200 Pronomes pessoais, 200 Emprego dos pronomes rectos, 20/ Pronomes de tratamento, 20p Emprego dos pronomes oblíquos, 214 Pronomes possessivos, 227 Pronomes demonstratives, 23} Pronomes relativos, 241 Pronomes interrogativos, 246 Pronomes indefinidos, 24p Capítulo 12 Numerais, 2ff Espécics de numerais, 2jj Flexäo dos numerais, 2jé Capítulo 13 Verbo, 263 Nocöes preliminares, 263 Tempos simples, 271 Veřbos auxiliares e o seu emprego, 278 Conjugacäo dos verbos reguläres, 287 Conjugacäo da voz passiva, 287 vni , a « ■ ÍNDICE BREVE GRAMA'nCA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO - Cotijugacäo dos verbos irreguläres, 290 aP Verbos com alternäncia vocálica, 291 Outros tipos de irregularidade, 299 Verbos de partictpio irregular, 318 Verbos abundantes, 319 Verbos impessoais, unipessoais e defectivos, }n Sintaxe dos modos e dos tempos, 323 ■ Modo indicativo, 32; Capitulo 19 Emprego dos tempos do indicativo, 32/ Modo conjuntivo, 333 Emprego do conjuntivo, 334 Modo imperativo, 339 Emprego do modo imperativo, 339 Emprego das formas nominais, 341 Emprego do infinitivo, 342 Emprego do gcrundio, 34} Emprego do partidpio, 346 Concordäncia verbal, 348 Regras gerais, 34$ Casos particulares, 3^0 Regéncia, 360 Sintaxe do verbo haver, 362 Capitulo 20 Capitulo 14 Advžrbio, 36} Classificacäo dos advérbios, 366 Gradacäo dos advérbios, 370 Palavras denotativas, 372 Capitulo 21 Capitulo 15 Preposicäo, 374 Funcäo das preposicöes, 374 . Significacäo das preposicöes, 37; Conteudo significativo e funcäo relacional, 377 Capitulo 22 Valores das preposiooes, 380 Capitulo 16 Conjuncao, 390 r Conjuncao coordenativa e subordinativa, 390 Conjuncöes coordenativas, 391 Conjuncöes subordinativas, 392 Locucäo conjuntiva, 39 j indice O PERIODO E SÜA CONSTRUCÄO, 398 Periodo simples e periodo composto, 39 S Coordcnacäo, 400 Subordinacäo, 402 Oracöes redužidas, 408 Figur as de sintaxe, 414 Elipse, 414 Zeugma, 416 Pleonasmo, 417 Hipérbato, 418 Anástrofe, 418 Prolepse, 419 Sínquise, 419 Assíndeto, 419 Polissindeto, 420 Anacoluto, 420 Silepse, 421 DlSCURSO Dl recto, discurso indi recto e discurso indirecto livre, 4Z3 Discurso directo, 423 Discurso indirecto, 42) Discurso indirecto livre, 428 p0ntuacä0, 429 Sinais pausais e sinais melódicos, 429 Sinais que marcam sobretudo a pausa, 429 Sinais que marcam sobretudo a melodia, 434 NOCOES DE versificacäo, 442 Es tru tura do verso, 442 Tipos de verso, 4J0 A rima, 4/9 Estrofacäo, 464 Poemas de forma fixa, 468 Elenco e desenvolvimento das principais abreviaturas, 47I Capitulo 17 Interjeicäo, 396 1. Conceitos gerais Linguagem, lingua, discurso, estilo. r. Linguagem é «um conjunto complexo de processos — resultado de uma čerta actividade psíquica profundamente determinada pěla vida social — que torna possível a aquisicäo e o emprego concreto de uma língua qualquer»1. Usa-se também o termo para designar todo o sistema de sinais que serve de meio de comunicacäo entre os individuos. Desde que se atri-bua valor convencional a deterrninado sinal, existe tima linguagem. A lin-guística interessa particularmente uma espécie de linguagem, ou seja a linguagem falada .ou articulada. 2. língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de individuos. Expressäo da consciěncia de uma colectividade, a língua é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age. Utilizacäo social da faculdade da linguagem, criacäo da sociedade, näo pode ser imutá-vel; ao contrario, tem de viver em perpétua evolucäo, paralela ä do orga-nismo social que a criou. 3. DiscuRSO é a lingua no acto, na execucäo individual. E, como cada individuo tern em si um ideal linguistico, procura ele extrair do sistema idiomático de que se serve as formas de enunciado que melhor lhe exprimam o gosto e o pensamento. Essa escollia entre os diversos meios de expressäo que lhe oferece o rico repertório de possibilidades, que é a lingua, denomina-se estilo2. 1 Tatiana Slama-Casacu, Latigage ei ctmlex/e, Haia, Mouton, 1961, p. 20. 2 Aceitando a distinct} de Jules Marouzeau, podemos dizer que a l£ngua e «a soma dos mcios dc cxpicssio dc que dispomos para formar o cnunciado» e o usitlo «0 aspecto c a qualidadc que rcsultam da escollia cntrc cases meios de expressao» (Pr&u ia»idad, itaciön, individm, detde el ptinls de visla lingilislica, trad, por Fernando Vela. Buenos Aires, Revista do Occidente, 1947, p. 178. 6 Simrortla, diacronta e bistoria; tlproblems del cambio liiig/llslico, 2," ed. Madrid, Gredos, 1973, 7 Veja-se Celso Cunha, Lingua, nafdo, aIiexaf3o, Rio de Janeiro, Nova Fionteira, p. 75-74 e ss. 2. Dominio actual da lingua portuguesa Unidade e diversidade da lingua portuguesa. Na area vastissima e descontínua era que é falado, o portugués apresenta--se como qualquer lingua viva, internamente diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto ä pronúncia, ä gra-mática e ao vocabulário, Embora seja inegável a existencia de tal diferenciacäo, näo é ela sufi-ciente para impedir a superior unidade do nosso idioma, facto, alias, salien-tado pelos dialectólogos. Exceptuando-se o caso especial dos crioulos, que estudaremos adiante, temos, pois, de reconhecer esta verdade: apesar da acidentada história que foi a da sua expansäo na Európa e, principalmente, fora dela, nos distantes e extensíssimos territórios de outros continentes, a Hngua portuguesa con-seguiu manter até hoje apreciável coesäo entre as suas variedades por mais afastadas que se encontrem no espaco. A diversidade interna, contudo, existe e dela importa dar urna visäo tanto quanto possível ordenadai. Os dialectos do portugués europeu. A faixa ocidental da Peninsula Ibérica ocupada pelo galego-portugués apresenta-nos um conjunto de dialectos que, de acordo com certas carac- 1 Vcja-se, sobre o conjunto das variedades do portugués, a Bibliografia diahtlal galego-■prtitgtKsa, publicada pclo Ccntro de Estudos Filológicos, Lisboa 1974. Sobre o portuguôs do Brasil, em particular, possuímos hoje um« bibliografia muito complcta; Wolf Dietrich, Bibliografiu da lingua portuguesa do Brasil, Tübingen, Gunter Narr, 1980. 6 BREVE GRAMiÍTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO DOMINI O ACTUAL DA LINGUA PORTUGUESA 7 teristicas diferenciais de tipo fonético, podem ser classiflcados em trés gran-des grupos: a) dialectos galegos; b) dialectos portugueses setentrionais; C) dialectos portugueses centro-meridi on ais 2, Esta classificacao parece ser apoiada pelo sentimento dos falantes comuns do portugués padräo europeu, isto é, dos que seguem a norma ou conjunto dos usos linguisticos das classes cultas da regiäo Lisboa-Coimbra, e que distinguirao pela fala um natural da GaUza, um hörnern do Norte e urn hörnern do Sul. A distincäo entre tres grupos funda-se principalmente no sistema das sibilantes. Assim: 1. Nos dialectos galegos näo existem as sibilantes sonoras jzf nem [z]: rosa articula-se com a mesma sibilante [s] ou [s] (surda) de passo; fazer, com a mesma sibilante [6] ou [s] (surda) de caca. Näo existe também a fricativa palatal sonora fej, grafada em portugués j ou g (antes de e ou i). Em galego só há a fricativa [fj (surda) do portugués e/jxada. 2. Nos dialectos Portugueses setentrionais existe a sibilante ápico--alveolar [s], identica ä do castclhano setentrional e padräo, em palavras como seis, paBBO. A ela corresponde a sonora [z] de rosa. Em alguns dialectos mais conservadores coexistem com estas sibilantes as predorsodentais [s] (em cinco, caca) e [z] (em fazer), que, noutros dialectos, com elas se funcUtam, provocando a igualdade da sibilante de cinco c caca com a que aparece em seis e passo, ou seja [s], bem como a da Ac fazer com a que se ouve em rosa, isto é [z]. 2 Quanto ä classificacao dialectal aqui adoptada, veja-se Luis Filipe Lindiey Cintra. Nova ptoposta de classificacao dos dialectos galcgo-portugucscs, Bí/í/»'w de Filologa, 22, 81-116 Lisboa, 1971 (ou Estudos dt dialeclologia porlugmsa, Lisboa, Sá da Costa, 1983, p. 117-163). Entre as classiöcacöes anteriores, duns merecem rcalce particular: a de Jose Leite de Vascon-celos c a de Manuel de Paiva Boléo e Maria Helena Santos Silva. A de Leite de Vascon-celos, baseada na divisäo de Portugal em provfncias, é mais geográfica do que linguística. Foi publieada, inidalmente,no seu Mappa diokctohgtio do contintntt portugués (Lisboa, Guillard, Aillaud, 1897)1 depois reproduzida na Bsquisss d'tfíie diabetológie poriugnise (Paris-Lisboa, Aiilaud, igor; z." ed., com aditamentos c correccöes do autor, preparada por Maria Adelaide Valle Cintra, Lisboa, Centro de Estudos Filológicos, 1970) e, com altcracôes, nos Opiíituloi, IV, Filológia, parte II (Coim-bta, 1929, p. 791-796). A de Manuel dc Paiva Doléo c Marin Helena Santos Silva, expostn em: O «Mapa dos dialectos e falarcs de Portugal Continental» {Eoletim dc Fi/ofogi/i, 20: 85-112, Lisbon, 1961), nsscntn cm fnetos linguisticos, principalmente, fonéticos, que, npresentaclos numn certn e possível hicrarquizacúo, permitiriam talvez um mnis clnro agrupamemo das variedades. jj 3. Nos dialectos Portugueses centro-meridionais so aparecem as sibi- j lantes predorso-dentais que caracterizam a lingua padräo: I a) a surda [s], tanto em seis e passo como em cinco e caca 3; i b) a sonora [z], tanto em roaa como em fazer. i< j; As fronteiras entre as tr£s zonas mencionadas atravessam a faixa galego- ! -portuguesa de oeste a leste, ou, mais precisamente, no caso da fronteira !; entre dialectos Portugueses setentrionais e centro-meridionais, de noroeste r a sueste. i: Mas ha outros tracos importantes em que a referida distincäo se funda- ^ menta, sem que, no entanto, as suas fronteiras coincidam perfeitamente com j as das caracteristicas ja indicadas. j Sao eles: i a) a pronüncia como [b] ou [ß] do v gr&fico (emitido como labiodental na ■ pronüncia padräo e na centro-meridional) na maior parte dos dialectos por- Itugueses setentrionais e na totaüdade dos dialectos galegos: biubo, abö por vinbo, avö; b) a pronüncia como africada palatal [tf] do cb da grafia (emitido como j fricativa [j] na pronüncia padräo e em quase todos os dialectos centro- 1 -meridionals) na maior parte dos dialectos Portugueses setentrionais e na i totalidade dos dialectos galegos: tchave, atchar por chave, achar; L' c) a monotongaeäo ou näo monotongaeäo dos ditongos [ovi] e [ej]: \\ a pronüncia [o] e [e] desses ditongos (por exemplo: dru por ouro, ferrero j; por ferreiro) caracteriza os dialectos Portugueses centro-meridionais e, no j caso de [o], a pronüncia padräo, perante os dialectos Portugueses setentrionais e os dialectos galegos4. Merecem mengäo especial —mesmo mima apiesentacäo panorämica i| dos dialectos Portugueses— tres regiöes em que, a par dos tracos gerais jj que acabamos de apontar, aparecem caracteristicas foneticas peculiares que j; afastam muito vincadamente os dialectos nelas falados de todos os outros do mesmo grupo. i Trata-se, em primeiro lugar, de uma regiäo (dentro da zona dos dia- |: lectos setentrionais) em que se observa regularmente a ditongaeäo de [e] I - \- 3 Pronüncia semelhante ä do trances ou do italiano padräo, do castclhano meridional e do !| hispano-americano. j| * Com referenda ao ditongo [ej], a pronüncia padräo c a de Lisboa (ncste caso uma ilhota !! de conservaeäo ao sul) coincidem com os dialectos setentrionais na sua manutenjäo. Note-sc con- i| tudo que, devido a um fenömeno de difcrenciajäo entre os dois clcmentos do ditongo, este se trans- >i formou na referida pronüncia em [cj]. CO Dialectos galegos Dialectos Portugueses setentrionais Dialectos Portugueses cantro--meridionais [||| galego ocidental j I I I gatego oriental ff/ dialectos transmontanos * / * dialectos baixo-mlnhotos dialectos do cenlro *litora.l dialectos do centra -interior e do sul Limite de regtäo subdialectal com caracteristicas pecuTiares bem diferenciadas O Classificagäo dos dialectos galego-portugueses 1. Entre moger (e outras formas em -er) e mugir, mojar e afins; 2. Entro tibere e amo/o: 3. Entre an/io e cordeiro; 4. Entre esp/ga e macaroca; A primeira das formas citadas (ica sempre ao Norte e a Oeste da segunda; 5. Area de recobrimento das formas mais arcaieas; 6- Area de almece; no resto do pals diz-se soro, excepto no Mlnho onde nao se usa nenhuma designate 1 2 3 4 : DOMÍNIO ACTUAL DA LINGUA POR.TUGUESA e [o] acentuados: pjeso por peso, pworto por porto. Abrange uma grande parte do Minho e do Douro Litoral (induindo o falar popular da ddade do Porto e dos seus arredores). Em segundo lugar, temos uma extensa area da Beira-Baixa e do Alto--Alentejo (compreendendo uma faixa pertencente aos dialectos setentrionais, mas, principalmente, uma vasta zona dos dialectos centro-meridionais) em que se regista uma profunda alteracao do timbre das vogais. Os tracos mais salientes sáo: a) a articulacao do u tónico corao [ii] (proximo do // trances), por exemplo tu, miila, por tu, mula; b) a representacao do antigo ditongo grafado oh por [ó] (também semelhante ao som correspon-dente do francés), por exemplo: poea por pouca; c) a queda da vogal átona final grafada -o ou sua reducao ao som [s], por exemplo cop(s)} copfs)s, por copo, copos; tiid(s) por tudo. Por fira, no ocidente do Algarve situa-se outra regiao em que se observam coinddéndas com a anteriormente mencionada, no que se refere ás vogais. Em lugar de u, encontramos [ů]: tu, míila (mas o ou está represen-tado por [o]). Pór outro lado, o a tónico evoluiu para um som semelhante a o aberto: bata é pronunciado quase bota, alteracao de timbre que nao é estranha a alguns lugares da mencionada zona da Beira-Baixa e Alto--Alentejo, embora seja ai mais frequente a passagem, em determinados contextos fonéticos, de a a um som [a] semelhante a [e] aberto, por exemplo: afilhédo, por afilbado, jumér por fumar. A vogal átona final grafada o também cai ou se rcduz a [a]; cop(d), cop(s)s, por copo, copos; tud($) por tudo. Nao sao, porém, apcnas tracos fonéticos que permitem opor os diversos grupos de dialectos galego-portugueses. Se, no que diz respeito a particu-laridades morfológicas e síntáctkas, a grande variedade e irregularidade na distribuicao parcce impedir um delineamento de areas que as tome como base', já no que se refere á distribuicao do léxico podemos observar, ainda que num restrito numero de sectores e casos, certas regularidades. Nao é raro, por exemplo, que os dialectos centro-meridionais se oponham aos setentrionais e aos galegos por neles se designar um objecto ou nocao com um termo de origem árabe enquanto nos últimos permanece o descendente da palavra latina ou vísigótica, É o caso da oposicáo almece j soro (do queijo), ceifar j segar. Talvez ainda mais frequente seja a oposicao lexical entre os dialectos do sul e leste de Portugal, caracterizados por inovacoes vocabulares de vários tipos, e os dialectos do noroeste e centro-norte, que, como os galegos, Alguns Jimites lexicais (v. Orlando Ribdro, A propósito dc areas lexicais..., BdF, 21, icj6j) 5 Qunndo muito, podcr-sc-ii diner, por exemplo, que ccrtos tracos, como oa pcrfcitos cm -/, da i.'1 conjugacito (tupi por laeci, cimli por ), por copo, copos, tttdo, potteo. Quanto ä ilha da Madeira, os seus dialectos apresentam características fonéticas singulares, que só esporadicamente (e nlo todas) aparecem em dialectos continentais. Assim, o u tónico apresenta-se ditongado em [ow], por exemplo: flawa] por lna; o / tónico em [aj], por exemplo: ['fajXa] por filha. Por outro lado, a consoante /, precedida de i, palataliza-se: ['vajXa] por vila, ['fajXa] por fila (confundindo-se portanto, desse modo, fila com filba). Os dialectos brasileiros. Com relacao ao extensíssimo território brasileiro da lingua portuguesa, a insuficiéncia de informacöes rigorosamente científicas sobre as diferencas de natureza fonétka, morfo-sintáctica e lexical que separam as variedades regionais nele existentes näo permite classiřicá4as em bases semelhantes äs que foram adoptadas na classincaeäo dos dialectos do portugués europeu, Deve-se reconhecer, contudo, que a publicaeäo de dois atlas prévios regionais — o do Estado da Bahia? e o do Estado de Minas Gerais« — e a anun-ciada impressäo do já concluído Atlas dos falares de Sergipe9, bem como a claboraeäo de algumas monografias dialectais säo passos importantes no sentido de suprir a lacuna apontada. Entre as classificacöes de conjunto, propostas cóm carácter provisório, sobreleva, pela indiseutível autoridade de quem a fez, a de Antenor Nas- 1 Nelson Rossi. Atlas prime dos falares baicttm. Rio de Janeiro, MEC/INL, 1963. 8 Jose Ribeiro ct alii. Ethfo de um atlas linguhtica de Minas Gerais. t.° vol. Rio dc Janeiro, MEC/Casa dc Rui Batbosa/UFJF, 1977. 9 Elahorado por Nelson Rossi, com a colaborasao de urn gtupo dc professorca da Uni-vetBtdadc Federal da Bahia. breve gramatica do portugues contemporaneo domínio actual da lingua portuguesa *5 ■ LIMITES COM O ESTRANGEIRO ■ LIMITES ESTADUAIS- • LIMITES DOS SU8FALARES centes, fandada em observacdes pessoais colhidas nas suas viagens por todos os Estados do pais. A base desta proposta reside — como no caso do portugués europeu — em diferencas de pronuncia. De acordo com Antenor Nascentes, é possível distinguir dois grupos de dialectos1 o brasileiros —o do Norte e o do Sul—, tendo em conta dois tracos fundamentals: a) a abertura das vogais pretónicas, nos dialectos do Norte, em pala-vras que nao sejam dirninutivos nem advérbios em -mertte: pegar por pegar, chrrer por correr; b) o que ele chama um tanto impressionisticamente a «cadencia» da fak: fala «cantada» no Norte, fala «descansada» no Sul. A fronteira entre os dois grupos de dialectos passa por «uma zona que ocupa uma posicao mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e meridional do pais. Esta zona se estende, mais ou menos, da foz do rio Mucuri, entre Espirito Santo e Bahia, até a cidade de Mato Grosso, no Estado do mesmo nome»11. Em cada grupo, distingue Antenor Nascentes diversas variedades a que chama subfalares. E enumera dois no grupo Norte: a) o amazónico, b) o nordestino. E quatro no grupo Sul: a) baiano, b) o fluminense, f) o mineiro, d) o sulista. Assinale-se, por fim, que as condicoes peculiares da formacao linguistica do Brasil revelam uma dialectalizacao que nao parece tao variada e tao interna como a portuguesa. Revelam, também, estas condicoes que a referida dialectalizacao é muito mais instável que a europeia. Areas lingulsticas do Brasil (divisäo proposta pot Antenor Nascentes) 10 Empregamos o termo dialecto peias razöes adufcidas no Cap/tulo i e para mantermos o paralclismo com a designacäo adoptada para as variedades icg'ionais portugiiesns. Ao que cha-mamos aqui dialecto Nascentes denomina subfalar. 11 Antenor Nascentes. O littgiajar tarhea, 2.» cdicäo complctamcntc refundida. Rio de Jiinciro, Simöes, 1953, p. 2j. Por scr quase despovoada, consideravn clc incaractcrfstica a ärca com-pteendida entre a parte da fiontcira boliviana e a fronteirn de Mato Grosso com o Amazonas e o Pari. r BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEo| ~ DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 17 O portugués de Africa, da Asia e da Oceania. No estudo das formas que veio a assumit a lingua portuguesa em Africa, ?j na Asia e na Oceania, é necessário distinguir, preliminarmente, dois tipos de variedades: as crioulas e as näo-crioulas. As variedades crioulas resultam do contacto que o sistema linguistico portugués estabeleceu, a partir do século XV, com sistemas linguísticos indí-1 genas. Talvez todas elas derivem do mesmo proto-crioulo ou lingua p franca que, durante os primeiros séculos da expansäo portuguesa, serviu de meio de comunicacao entre as populacöes locais e os navegadores, comer- p ciantes e missionaries ao longo das costas da Africa Ocidental e Oriental, 5 da Arabia, da Persia, da índia, da Malásia, da China e do japäo. Aparecem-1 -nos, actualmente, como resultados muito diversificados, mas com algumas * caracteristicas comuns — ou, pelo menos, paralelas —, que se manifestam numa profunda transformaeäo da fonologia e da morfo-sintaxe do portugués que lhes deu origem. O grau de afastamento em relacäo ä língua--mäe é hoje de tal ordern que, mais do que como dialectos, os crioulos devem ser considerados como línguas derivadas do portugués. Os crioulos de origem portuguesa em Africa, que säo os de maior vita-lidade, podem ser distribuídos espacialmente em trés grupos: 1. Crioulos do Arquipélago de Cabo Verde, com as duas varie-^j dades: a) de Barlavento, ao norte, usada nas ilhas de Santo Antäo, Säo Vicente, Säo Nicolau, Sal e Boavista; b) de Sotavento, ao sul, utilizada nas ilhas de Santiago, Maio, Fogo e Brava. 2. Crioulos das ilhas do Golfo da Guiné: a) de Säo Tomé; b) do Principe; e) de Ano Bom (ilha que pertence ä Guiné Equatorial). 3. Crioulos continentals: a) da Guiné-Bissau; b) de Casamance (no Senegal). Dos crioulos da Asia subsistem apenas: a) o de Malaca, conhecido pelas denominacöes de papiá cristSo, niala-qtteiro, malaqms, malaquetibo, malaqmiise, serani, babasa geragau e portugués basu; b) o de Macau, macaista ou macauenho, ainda falado por algumas famí-lias de Hong-Kong; c) o de Sri-Lanka, falado por familias de Vaipim e Batticaloa; d) - os de Chaul, Korlai, Telücherry, Cananor e Cochim, no território da Uniäo Indiana. Na Oceania, sobrevive ainda o crioulo de Tugu, localidade perto de jacarta, na ilha de Java12. Quanto äs variedades näo-crioulas, há que considerar näo só a prc-senca do portugués que é a lingua oficial das repúblicas de Angola, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Mocambique e de Säo Tomé e Principe, mas as variedades faladas por urna parte da populaeäo destes Estados e, tam-bém, de Goa, Damäo, Diu e Macau, na Ásia, e Timor, na Oceania. Trata-se de um portugués com base na variedade euxopeia, porém mais ou menos modi-fieado, sobretudo pelo emprego de um vocabulário proveniente das línguas nativas, e a que näo faltam algumas caracteristicas próprias no aspecto fono-lógico e gramatical. Estas caracteristicas, no entanto, que divergem de regiäo para regiäo, ainda näo foram suficientemente observadas e deseritas, embora muitas delas transparecam na obra de alguns dos modernos eseritores desses países 13. >2 Sobre o estado actual dos crioulos Portugueses, veja-se Celso Cunha. Lingua, natSo, alit-naiSo. Rio de Janeiro, Nova Fronteíra, 1981, p. 37-106, onde se remote íl bibliografia espccialiaada; vuja-se, ainda, José G. Herculano de Carvalho, Deux langues Creoles: le críól du Cap Vert ct lc fotra de S, Tomé, em Biblos: jy, 1-15, 1981. í 13 Sobre a linguagem de um deles, do maior signifícado, o nngolano Luandino Vieira, v. a jese recente de Michel Laban, Uoeiwre litUrairc de Luandino Vieira, Paris 1979 (tese do 3.° eiclo apresentada em 1979 ä Universidade de Paris-Sorbonne); e a de Salvato Trigo, Lnatidim Vitira, 0 bgolela, Potto, Brasilia Editora, 1981. Fonética e fonologia OS SONS DA F ALA Os sons da nossa fala resultam quase todos da accäo de certos órgäos sobre a corrente de ar vinda dos pulmöes. Para a sua producäo, trôs condicôes se fazem necessárias: a) a corrente de ar; b) um obstáculo encontrado por essa corrente de ar; c) urna caixa de ressonáncia. Estas condicôes säo criadas pelos orgaos da fala, denominados, em seu conjunto, aparelho fonador. O aparelho fonador. É constituído das seguintes partes: a) os pulmoes, os erónquios e a traqueia— órgaos respiratórios que fornecem a corrente de ar, matéria-prima da fonacao; b) a laringe, onde se localizam as cordas vocais, que produzem a energia sonora utilizada na fala; c) as cavidades supralaríngeas (FARINGE, boca e FOSSAS nasais), que funcionam como caixas de ressonáncia, sendo que a cavidade bucal pode variar profundamente de forma e de volume, gracas aos movimentos dos órgaos activos, sobretudo da língua, que, de tao ímportante na fonacao, se tornou sinónimo de «idioma». Funcionamento do aparelho fonador. O ar expclido dos pulmoes, por via dos brónquios, penetra na traqueia e chega a laringe, onde, ao atravessar a glote, costuma encontrar o primeiro obstáculo á sua passagem. fonética E FONOLOGIA T9 i A glote, que fica na aítura da chamada ma$ä-de-adäo, pomo-de-ad3o ou, no Brasil, gogó, é a abertura entre duas pregas musculares das paredes superio-res da laringe, conhecídas pelo nome de cordas vocais. O fíuxo de ar pode encontrá-la fechada ou aberta, em virtude de estarem aproxirnados ou afastados os bordos das cordas vocais. No primeiro caso, o ar forea a passagem através das cordas vocais retesadas, fazendo-as vlbrar e produ-zir o som musical caracteristico das articulacôes sonoras, No segundo caso, relaxadas as cordas vocais, o ar escapa-se sem vibracôes laríngeas. As articulacôes produzidas denominam-se, entäo, sordas. A distincäo entre sonora e surda pode ser claramente percebida na pronuncia de duas consoantes que quanto ao mais se identificam. Assim: / b / [= SONORO] j p I [= SURDO] Ao sair da laringe, a corrente expiratória entra na cavidade farín-gea, uma encruziihada, que lhe oferece duas vias de acesso ao exterior: o canal bucal e o nasal. Suspenso no entrecruzar desses dois canais fica o véu Palatino, órgäb dotado de mobilidade capaz de obstruir ou näo o ingresso do ar na cavidade nasal e, consequentemente, de determinar a natureza oral ou nasal de um som. Quando levantado, o véu Palatino cola-se ä parede posterior da faringe, deixando Hvre apenas. o conduto bucal. As articulacôes assim obtidas denominam-se orais (adjectivo derivado do latim os, oris «a boca»), Quando abaixado, o véu Palatino deixa ambas as passagens livtes. A corrente expiratória entäo divide-se, e uma parte dela escoa-se pelas fossas nasais, onde adquire a ressonáncia característica das articulacôes, por este motivo, também chamadas nasais. Compare-se, por exemplo, a pronuncia das vogais: / a / [= oral] / ä / [= nasal] em palavras como: lá / lä mato / manto É, porém, na cavidade bucal que se produzem os movimentos fona-% dores mais variados, gracas a maior ou menor separacäo dos maxilares, I das boche chas e, sobretudo, ä mobilidade da língua e dos labios. P,0<11 fonética e fonologia 1 . Cavidade nasal 2 . palato duro 3. véu palalino 4 . lábios 5 . cavidade bucal 6 . lingua 7 . faringe 8 . epiglote 9 . abóbada palatina 10 . rinofaringe 11 . traqueia 12 . esófago 13. vórtebras 14 . laringe 15. macä-de-adäo 16 . maxilar superior 17 . maxilar inferior SOM E FONEMA Nem todos os sons que pronunciamos em portugués tem o mesmo valor no funcionamento da nossa lingua. Alguns servem para diferenciar palavras que no mais se identificam. Por exemplo, em: a diversidade de timbre (fechado ou aberto) da vogal tónica é suficiente para estabelecer uma oposicao entre substantivo e verbo. Na série: dia tia via fia mia pia Aparelho fonador (a laringe e as cavidades supralarlngcas) temos seis palavras que se distinguem apenas pelo elemento consonántico iniciál. Toda a distincäo significativa entre duas palavras de uma lingua esta-belecida pela oposicäo ou contraste entre dois sons tevela que cada um desses sons representa uma unidade mental sonota diferente. Essa unidade de que o som é a representacao (ou realizaeäo) física recebe o nome de fonema. Correspondent pois, a fonemas diversos os sons vocálicos e conso-nánticos diferenciadores das palavras atrás mencionadas. A disciplina que estuda rninuciosamente os sons da fala, as multiplas realizacöes dos fonemas, chama-se fonética. A parte da gramática que estuda o comportamento dos fonemas numa lingua denomina-se fonologia, fonemática ou fonémica. ■| Descripäo fonética e fonológica. A descricao dos sons da fala (descricao fonetica), para ser completa, deveria considerar sempre: a) como eles sao produzidos; b) como sao transmitidos; e) como sao percebidos. Sobre a impressao auditiva deveria concentrar-se o interesse maior breve GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEo da descricäó, pois é ela que nos deka perceber a variedade dos sons e o seu funcionamento em representacáo dos fonemas. A descricäó fonológica mal se compreende que näo seja de base acústica, A fonética fisiológica, de base articulatória, é urna espedalidade antiga e muito desenvolvida, porque bem conhecidos säo os órgäos fona-dores e o seu funcionamento. Dal serem os fonemas frequentemente des-critos e classificados em funcäo das suas características articulatórias, embora se note, modernamente, urna tendencia de associar a descricäó acústica ä fisiológica, ou de realizá-las parálélamente. .Ttanscricjäo fonética e fonológica. Para simbolizar na escrita a pronúncia teal de um som usa-se um alfabeto especial, o alfabeto fonético. Os sinais fonéticoš säo colocados entre colchetes: []. Por exemplo: ['kaw], pronúncia popular carioca, ['kal], pronúncia portuguesa normal e brasileira do Rio Grande do Sul, para a palavra sempře escrita cal. Os fonemas transcrevem-se entre barras oblíquas: / /. Alfabeto fonético utilizado. Empregamos nas nossas transcribes fonéticas, sempre que possível, o Alfabeto Fonético Internacionál. Tivemos, no entanto, de fazer čerta s adaptacôes e acrescentar alguns sinais necessários para a transcricäo de sons de variedades da lingua portuguesa para os quais näo existe sinal proprio naquele Alfabeto l. Eis o elenco dos sinais aqui adoptados: r. Vogais: [a] —portugués normal de Portugal e do Brasil: pá, gaio portuguěs normal do Brasil: pedro., fsqyr [a] —portugués normal de Portugal: ŕa/wa, fa»a, pdra,fi^er; portugués de Lisboa: hi, leiiha portugués normal do Brasil: cama, c&tia mNĚTICA E FONOLOGIA w - N - [o] - N - [o] - [i] - [u] - portugues normal de Portugal e do Brasil: pk, ferro portugugs normal de Portugal e do Brasil: wedo, sabcr portugues normal do Brasil: regar, sedento portugues normal de Portugal: sede, corre, regar, sedeuto portugues normal de Portugal e do Brasil: pö, co/a portugues normal de Portugal e do Brasil: morro, forfa portugu&s normal do Brasil: correr, morar portugues normal de Portugal e do Brasil: vir, bico portugues normal do Brasil: sede, corre portugues normal de Portugal e do Brasil: bambu, sul, caro portugues normal de Portugal: correr, morar 2J 2, Semivogais: rj] — portugues normal de Portugal e do Brasil: pa\, feito, värw [\v] —portugues normal de Portugal e do Brasil: pau, dgua j. Consoantes: portugues normal de Portugal e do Brasil: bravo (!), ambos W -1 [PI [d] PI [dii [g] M [p] [t] [ť] [tí] 1 Nessas adaptacôes e acrescentaxncntos scguimos, em geral, o alfabeto fonético utilizado pelo grupo do Ccntto dc Lingutstica da Univcrsidadc dc Lisboa, encattegado da elaboracäo do!' Atlas lingu!stíco-itnogŕáfuo dt Vtrtugal e da Galina. ji portugues normal do Brasil: o hoi, aba, barba, abrir -portugues normal de Portugal: o hol, aba, barba, abrir -portugues normal de Portugal e do Brasil: Aar (I), atidar portugues normal do Brasil: ida, espaäa ■ portugues normal de Portugal: o dar, ida, espada -portugues do Rio de Janeiro, de Säo Paulo e de extensas zonas do Brasil: dia, sede -portugues popular do Rio de Janeiro e de algumas zonas pröximas: dia, sede portugues dialectal europeu de zonas fronteiricas muito restritas: Jesus, \aqiwta -portugues normal de Portugal e do Brasil: giiarda (1), franko portugues normal do Brasil: a g/tarda, agora, agrado -portugues normal de Portugal: a guarda, agora, agrado -portugues normal de Portugal e do Brasil: pai, ca^rino -portugues normal de Portugal e do Brasil: tu, canto -portugues do Rio de Janeiro, de Säo Paulo e de extensas zonas do Brasil: Ho, sete -portugues de extensas zonas do Norte de Portugal e de areas näo delimitadas de Mato Grosso e regiöes convizinhas, no Brasil: chave, c/icher portugues popular do Rio de Janeiro e de algumas zonas pröximas: tio, sete 24 breve gramática do portugues contemporáneq f0nética e fonologia 25 [k] —portugußs normal de Portugal e do Brasil: casa, porco, que jmj —portugues normal de Portugal e do Brasil: mar, amigo [n] — portugufis normal de Portugal e do Brasil: tmda, cam fp] —portuguös normal de Portugal e do Brasil: vinha, eammho [1] —portugues normal de Portugal e do Brasil: \ama, cah [l] —portugufis normal de Portugal e de certas zonas do Sui do Brasil; alio, Brasil [X] —portuguös normal de Portugal e do Brasil: filho, Ihe [r] —portugues normal de Portugal e do Brasil: cato, cotes, dar [r] —portugues normal de varias regiöes de Portugal, do Rio Grande do Sul e outras regiöes do Brasil: xoda, catto [R] —portugues normal de Portugal (principalmente de Iisboa), do Rii de Janeiro e de varias zonas costeiras do Brasil: toda, catto [f] —portugues normal de Portugal e do Brasil: filho, aSar [v] —portugues normal de Portugal e do Brasil: xinho, uva [s] — portugues normal de Portugal e do Brasil: saber, pos&o, ceu, caqa [z] —portugues normal de Portugal e do Brasil: azar, casa [s] —portugues de certas zonas do Norte de Portugal: saber, ßosso; noutras zonas, tambdm: du, caqa | [z] —portugues de certas zonas do Norte de Portugal: casa; e, noutrag zonas, tambem: azar [0] —galego normal: ceu, facer (port, fa^er), caza (port, cacd), azar [f] —portugues normal de Portugal e do Brasil: chave, xaroße portugues normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de algumas zona| costeiras do Brasil: esfe [3] —portuguds normal de Portugal e do Brasil: \d, genro portugues normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de algumas zonai costeiras do Brasil: mesmo CLASSIFICAgÄO DOS SONS LINGUlSTICOS Os sons lingufsticos classificam-se em vogats, consoantes e semi-vogais. Vogais e consoantes. I. Do ponto de vista articulatório, as vogais podem ser consideradas; sempře na cavidade bucal obstáculo a passagem da corrente expiratória. 2. Quanto ä funcäo silábica — outro eritério de distincäo — cabe salientar que, na nossa lingua, as vogais säo sempře centro de silaba, ao passo que as consoantes säo fonemas marginais: só aparecem na sílaba junto a uma vogal. Semi vogais. Entre as vogais e as consoantes situam-se as semivogais, que säo os fonemas /i/ e /u/ quando, juntos a uma vogal, com ela formám sílaba. Fone-ticamente estas vogais assilábicas transerevem-se [j] e fw], Exemplificando: Em dtto ['ditu] e viu [Viw] o /i/ é vogal, mas em pat ['paj] e vário ['varju] é semivogal. Também é vogal o /u/ em muro ['muru] e lua ['lua], mas semi-vogal em meu [mew] e quatro ['kwateu]. CLASSIFICAGÄO DAS VOGAIS i. Segundo a classificacäo tradicional, de base fundamentalmente articulatória, as vogais da b'ngua portuguesa podem ser: a) quanto ä regiäo de articulaeäo b) quanto ao grau de abertura e) quanto ao papel das cavidades bučal e nasal É de base aeústica a classificacäo em: anteriores ou palatals centrais ou médias posteriores ou velares abertas semi-abertas semi-fechadas fechadas orais nasais d) quanto á intensidade tonicas átonas sons formados pela vibraeäo das cordas vocais e modificados segundo Š . *' f»11^ ^centemente uma classificacäo das vogais com forma das cavidades supra-iaringeas, que devem estar sempre abertas oil Cert0 *umer<>.de to5°s, ^ säo «^tintivos» numa perspectiva ,__. xj , • j , • i tonoiógica ou toncmaüca, isto e, que apresentam caracteristicas canazes entreabertas a passagem do ar. Na pronúncia das consoantes, ao contrario! ■ , , r, • ».««""«uuii ^ť com 0 que ficou reduzida a [o] e [u] a série das vogais posteriores ou velares. É, pois, o seguinte o quadro das vogais átonas em posicäo näo final absoluta, particularmente em posicäo pretónica: Anteriores ou palatais Média ou central Posteriores ou velares Fechadas w Semi-fechadas [0] Aberta w Exemplos: llgar [li'gar], legar [le'gar], lugar [la'gar], lograr [lo'grar], Ivgar [lu'gat]; alamo ['akmu], vispera f'veJperal.'flKr/^gs [di'alugu], elektron ['siklotron]. 2. Em posilo final absoluta, a série anterior ou palatal apresenta-se reduzida a uma única vogal [i], grafada e; e a série posterior ou velar tam-bém a uma só vogal [u], escrita 0. Temos, assim, trfis vogais em situacao posTÓNrcA final absoluta: Anterior Média Posterior ou palatal ou central ou velar Fechadas W w Aberta w Exemplos: 3. No portugués normal de Portugal, em posicäo átona näo final, tambétn se anulou a distincao entre [e] e [e], mas, em lugar de qualquet destas vogais da série das anteriores ou palatais, aparece geralmente a vogal [a], média ou central, fechada [-1- alta, + recuada, - arredondada], realizacao que näo ocorre em posicäo tónica e é completámente estranha ä0 portugués do Brasil. A série fica, assim, representada apenas pela vogal [i], p0r outro lado, tendo desapaxecido a distincäo entre [o], [o] e [u], toda a série das vogais posteriores ou velares está hoje reduzida a [u], grafado o ou u. Finalmente, ä. vogal média ou central [a], aberta, corresponde a vogal também média ou central, mas semi-fechada ja], grafada naturalmente a. O que foi dito pode ser expresso no seguinte quadro: Anterior Médías Posterior ou palatal ou centrais ou velar Fechadas [i] M Semi-fechada W Exemplos: ligar [H'gar], Jcgar [fe'garj, hgar [la'gar], lograr [lu'grar], lugar [lu'gar]; á/aws ['alamu], véspera ['vefpara], diálogo [di'alugu]. 4. Em posicao final absoluta, a série anterior ou palatal aesaparece e em seu lugar surge a vogal já descrita [a], grafada e; e a série posterior ou velar reduz-se a vogal [u], escrita 0. Donde o quadro: Médias Posterior ou palatals ou velar Fechadas [a] M Semi-fechada M Exemplos: farde ['tardi], povo ['povu], case, ['kazaj. tarde ['tarda], povo ['povu], casa ['kaza]. 32 BREVE GRAAIATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO Obscrvacao: É necessário ressaltar que algumas vogais átonas, por razoes em geral rcla-cionadas com a história dos sons ou com a sua posicao na palavra, nSo sofrc-ram a reduCáo a [a], [a], [u] no portugués de Portugal. Assim acontcceu com as vogais que provém: a) da erase entre duas vogais idénticas do portugués antigo; é o caso do [a] de padeiro (< paadeiró), do [e] de esquecer (< esqueeeer), do [o] de corar (< coorar); V) da monotongacao de urn antigo ditongo, como o [o] que se ouve na pro-nuncia normal de dotirar, doutrina. Também nío se reduzkam as vogais átonas de cultismos, como o [a] de actor, o [z] de director, o [d] de qdopfdo, e bem assim o [o] iniciál absoluto de ovslba, obter, opiniao, o [e] iniciál absoluto de etiorme, erguer, que se pronuncia geral-mente [i], e as vogais [a], [e], [o] protegidas por / implosivo de altar, delgado, soldado, cokhSo, Sttůbal e amável. Finalmente, também nao sofreram, em geral, reducao as vogais tónicas de palavras simples nos vocábulos delas derivados, particularmente com os sufixos -mentě ou -inho (-^inbo): avaramente, brevemente, doeilmente, docemenit, peřinko, avesytiha, amor%inho (mas mesinba, casinba, folhinba, com [3], [a] e [u]). CLASSIFICAgÄO DAS CONSOANTES i. As consoantes da lingua portuguesa, em numero de dezanove, säo tradicionalmente classificadas em funcäo de quatro eritérios, de base essen-cialmente articulatória: a) quanto ao modo de articulaeäo, em b) quanto ao ponto de articulaeäo, em oclusivas constritivas bilabiais labiodentals linguodentais alveolares palatals velares fricativas laterals vibrantes „OHŔľlCA E rONOIiOGIA 33 ť) quanto ao papel das cordas vocais. , em j surdas sonoras d) quanto ao papel das cavidades bučal e nasal, em nasais 2. Recentemente, porém, difundiu-se, como para ms vogais, outro sistema de classificaeäo, com base em certos tracos distintivos. Os tracos que se tém em conta neste sistema relacionam-se também com caracteristicas da articulaclo, mas nem sempře coincidem com os que estäo oa base da classificaeäo anterior. Segundo o novo sistema dassificatório, as consoantes podem ser; a) quanto ao modo de articulaeäo b) quanto ä zona de articulaeäo + contínuas] — contínuas] + laterals] — laterals] + anteriores] — anteriores] -(- coronais] — coronais] t j j • f [+ sonoras] c) quanto ao papel das cordas vocais j sonoras] d) quanto ao papel das cavidades bučal e nasal r r+ \ [— nasais] í) quanto ao efeito aeústico mais ou menos proximo ao de J [+ soante] j [— soante] nasais] nasais É de base mais aeústica do que articulatória a classificaeäo: quanto ao uma vogal Modo de articulaeäo. A articulaeäo das consoantes näo se faz, como a das vogais, com a pas-sagem livre do ar através da cavidade bucal. Na sua pronuncia, a corrente expiratória encontra sempre, em alguma parte da boca, ou um obstáculo total, que a interrompe momentaneamente, ou um obstáculo parcial, que a comprime sem, contudo, interceptá-la. No primeiro caso, as consoantes dizem-se oclusivas ou [- contínuas]-, no segundo, constritivas ou [+ contínuas]. Säo oclusivas as consoantes [p], [b], [t], [d], [k], [g]: pa/a, hala, ta/a, áá-la, cala, gala. Entre as constritivas, distinguem-se as: i. Fricativas, caracterizadas pela passagem do ar através de uma estreita fenda formada no meio da via bucal, o que produz um ruido com-parável ao de uma friccäo. 54 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES C0NTEMP0RÄNE( j,0nÉTIcA e FONOLOGIA Säo fricativas as consoantes [f], [v], [s], [z], [TJ, [3]: fala, vala, Belg (pasBO, céu, caca, proximo), zelo (rosa, exame), xarope (encher), )d (geh)2. 2.. Laterais, caracterizadas pela passagem da corrente expiratória, pelos dois lados da cavidade bucal, em virtude de um obstáculo formado no centro desta pelo contacto da lingua com os alvéolos dos denies ou com o palato. Säo laterais as consoantes [I] e [X]: fila, filha. 3. Vibrantes, caracterizadas pelo movimento vibratório rápido dt um orgäo activo elástico (a lingua ou o véu palatino), que provoca uma ou várias brevissimas interrupcöes da passagem da corrente expiratória. Säo vibrantes as consoantes [r] e [t] ou [R]: cato, catto. O ponto ou zona de articulacäo. O obstáculo (total ou parcial) necessário ä articulacäo das consoantes pode produzir-se em diversos lugares da cavidade bucal. Daí o conceito dc ponto de articulacäo, segundo o qual as consoantes se classificam em i. Bilabiais, formadas pelo contacto dos lábios. Säo as consoantes [p], [b], [m]: pato, hato, mato. z. Labiodentais, formadas pela constricao do ar entre o lábio inferior e os dentes incisivos superiores. Säo as consoantes [fj, [v]: (aca, vaca, 3. Linguodentais (ou dorso-dentais), formadas pela aproximaeäo do pré-dorso da lingua ä face interna dos dentes incisivos superiores, ou pelo contacto desses orgäos. Säo as consoantes [s], [z], [t], [d]: citico, zitico, tarda, Oaráo. 4. Alveolares (ou apico- alveola res), formadas pelo contacto da ponta da lingua com os alvéolos dos dentes incisivos superiores. Säo as consoantes [nj, [1], [r], [rj: nada, calaj cata, catto (na pronüncia de.certas regiöes de Portugal e do Brasil). 35 2 Como dissemos, na ptonúncia normal de Portugal, do Rio dc Janeiro e de alguns pontos da costa do Brasil, as fricativas palatais [J] e [3] aparecem tarnbéra em formas como trit c mismo, rcspcetivamcnte. j. Palatais, formadas pelo contacto do dorso da lingua com o palato duro, ou céu da boca. Säo as consoantes [f], [3], [X], [p]: acho, a)o, alho, önh(7. 6. Velares, formadas pelo contacto da parte posterior da lingua com 0 palato mole, ou véu palatino. Sao as consoantes [k], [g], [R]: calo, galo, tälo. Se considerarmos a zona em que se situam o contacto ou a constricäo que caracterizam a consoante, a classificacäo com base nos tracos distinti-vos será a seguinte: 1. Consoantes [4- anteriores], formadas na zona anterior da cavi-dade bucal: [p], [b], [f], [v], [m], [t], [d], [sj, [z], [n], [1], [r] e [ř]; 2. Consoantes [- anteriores], formadas na zona posterior da cavidade bucal: [fl, [3], [<|, [X], [R]; 3. Consoantes [+ coronais], formadas com a intervengäo da «coroa», ou seja do dorso (pré-dorso, médio-dorso) da lingua: [t], [d], [s], [z], [ľ], [3], w. M» P3. w» M; 4. Consoantes ľ- coronais], formadas sem a intervencäo do dorso da lingua [p], [b], [m], [£], [v], [k], [g], [R]. O papel d03 cotdas vocais. Enquanto as vogais säo normalmente sonoras (só excepcionalmente aparecem ensurdecidas), as consoantes podem ser ou näo produzidas com vibraeäo das cordas vocais. Säo surdas [- sonoras] as consoantes: [pj, [t], [k], [fj, [s], [j], Säo sonoras [+sonoras] as consoantes: [b], [d], [g], [v], [z], [3], [1], [a], [4 [ř], [R], [m], [n], [n]. Papel das cavidades bucal e nasal. Como as vogais, as consoantes podem ser orais [- nasais] ou nasais [_|_ nasais]. Por outras palavras: na sua emissäo, a corrente expiratória pode passar apenas pela cavidade bucal, ou ressoar na cavidade nasal, caso encontre abaixado o vču palatino. Säo nasais as consoantes [m], [n], [n]: avao, ano, anho. Todas as outras säo orais. 3« BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANE( « 10 Ol m .5 c m « o « O ~ (A CS « a n g 2 e a o O w » + to I £ S •S c «'S gy u + a> n « •4-t -M c4 fi rt n 3 § « ä O 5 J3 (A tH > + i « 09 "S t! a tí m *< !3 o o 9 « rt S J h-l + + -SIS s 1« w go 03 2 s s ° CO + m o e o O 00 a « ol u O 2 ö O n CO g 3 .ä .g at n s? n u •o ■a "i3 II •o s S1 (U e í ■s o TJ O 03 co w tí ° S « S ° O entanto apresentar, alem da sílaba tónica fundamental, uma ou mais subtónicas. Dizemos, por exemplo, que as palavras decididamente e inacreditavelmenU säo paroxítonas, pofque sentimos que em ambas o acento básico recai na penúltima sílaba (men). Mas percebemos também que, nas duas palavras, as sílabas restantes näo säo igualmente átonas. Em decididamente, a sílaba -di-, maís fraca do que a sílaba -men-, é sem dúvida mais forte do que as outras. Em inacreditavelmente, as sílabas -ere- e -ta-, embora mais débeis do que a sílaba -men-, säo sensivelmente mais fortes que as demais. Dal con-siderarmos principal o acento que recai sobre a sílaba -men- (nos dois exem-plos) e SECuNDARios os que incidem sobre a sílaba -di- (em decididamente) ou sobre as sílabas -ere- e -ta- (em inacreditavelmente). Enclise e proclise. Denomina-se énclise a situaeäo de uma palavra que depende do acento tónico da palavra anterior, com a qual forma, assim, um todo fonético, Próclise é a situaeäo contraria: a vineulagäo de uma palavra átona ä pala-' vra seguinte, a cujo acento tónico se subordina. Säo proclíticos, por exemplo, o artigo, as preposicöes e as conjuncöes monossilábicas. Säo geral-mentě enclíticos os pronomes pessoais átonos. Acento de insisténcia. Alem dos acentos normais (principal e secundärio), uma palavra pode receber outro, chamado de insisténcia, que serve para realcá-la em determinado contexto, quer impregnando-a de afectividade (emoeäo), quer dando énfase ä ideia que expressa. Daí distinguirmos dois tipos de acento de insisténcia: o acento afectivo e o acento intelectual. 4. Ortografia LETRA E ALFABETO i. Para reproduzirmos na eserita as palavras da nossa lingua eraprega-jnos um certo numero de sinais gráficos chamados letras. O conjunto ordenado das letras de que nos servimos para transerever os sons da linguagem falada denomina-se alfabeto. z. O alfabeto da lingua portuguesa consta fundámentalmente das seguintes letras: abcdefghijlmnopqtstuvxz Alem dessas, há as letras k, w e y, que hoje só se empregam em dois casos: a) na transericao de nomes próprios estrangeiros e de seus derivados portugueses: Franklin Wagner Byron frankliniano wagneriano byroniano b) nas abreviaturas e nos símbolos de uso internacional: K. (= potássio) kg (= quilograma) km (= quilómetro) W. (= oeste) w (= watt) yd. (= Jarda) Observacäo: O h usa-se apenas: d) no início de certas palavras: haver hoje homem 46 breve gramatica do portugues contemporäneq b) no lim de algumas interjeicöes: ahI ohl uhl c) no interior de palavras compostas, em que o segundo elemento, iniciado por b, se uae ao primeiro pór meio de hifen: anti-higiénico pré-histórico super-homem d) nos dígrafos ch, lb e nh: chave talho banho NOTAgÓES LÉXICAS Além das letras do alfabeto, servimo-nos, na lingua escrita, de um certo numero de sinais auxiliares, destinados a indicar a pronúncia exacta da palavra. Estes sinais acessórios da escrita, chamados notacôes lexicas, säo os seguintes: O acento. O acento pode ser agudo ('), grave (*) e circunflexo (a). i. O acento agudo é empregado para assinalar: a) as vogais tónicas fechadas i e u: aí baú horrível acúcar físico lúgubre b) as vogais tónicas abertas e semi-abertas a, e e o: há pé amável tivésseis herói pálido exército inóspito 2. O acento grave 6 empregado para indicar a erase da preposi-cao a com a forma feminina do artigo (a, as) e com os pronomes demonstratives a(s), aqiiek(s), aqmla(s), aqu'tio: ä äs áquele(s) áquela(s) äquilo ortografia^ 47 j. O acento circunflexo é empregado para indicar o timbre semi-fechado das vogais tónicas a, e q o: camara. més avô cánhamo déem pôs hispänico fémea O til. O til (~) emprega-se sobre o a e o o para indicar a nasalidade dessas vogais: maca caixôes mae pôe pao sermöes 0 tréma. O tréma (") só se emprega na ortografia em vigor no Brasil, em que assinala o u que se pronúncia nas sílabas gue, gui, que e qui: agücntar argiiicäo cinqüenta ttanqüilo O apostrofo. O apostrofo (') serve para assinalar a supressäo de um fonema — geral-mente a de uma vogal — no verso, em certas pronúncias populäres ou em palavras compostas ligadas pela preposicäo de: c'roa pau-ďalho esp'ranca pau-ďarco 'ti beml (popular) galinha-ďágua A cedilha, A cedilha (,) coloca-se debaixo do c, antes de a, o e //, para representar a fricativa linguodental surda [s]: cacar práca maci$o eresco agúcar mugulmano bbeve GRAMÁTICA PO PORTUGUES CONTEMPQRÁNEq O hifen. O hifen (-) usa-se: a) para ligar os elementos de palavras compostas ou derivadas poj prefixagao: couve-flor guarda-rr^ioha pao-de-16 pre-escolar super-homem ex-director b) para unir pronomes atonos a verbos: ofereceram-me retive-o leva-la-ei c) para, no fim da linha, separar uma palavra em duas partes: estudan-/te estu-/dante es-/tudante Emprego do hifen nos compostos. O emprego do hifen £ simples convencao. Estabeleceu-se que «s6 st ligam por hifen os elementos das palavras compostas em que se mantem a nocao da composicao, isto e, os elementos das palavras compostas que mantem a sua independencia fonetica, conservando cada um a sua pr6prh acentuacao, porem formando o conjunto perfeita unidade de sentido». Dentro desse principio, deve-se empregar o hifen : i.°) nos compostos, cujos elementos, reduzidos ou nao, perderam a sua significacao propria: agua-marinha, arco-iris, pe-de-meia (= peculio), pdra-cboque, bel-pra^er, is-stieste; 2.0) nos compostos com o primeiro elemento de forma adjectiva, reduzida ou nao: afro-asidtico, ddlko-louro, gahgo-porfugues, greco-romano, bis-torico-geogrdfico, tnfero-aiiterior, laiino-americano, luso-brasileiro, lusitatw-castelbano. 3.0) nos compostos com os radicals (ou pseudoprefixos) auto-, tieo-, proto-, psendo- e semi-, quando o elemento seguinte comeca por vagal, b, t ou s: aiito-educacao, auto-retrato, auto-sugestao, neo-escoldstica, neo-bumanismo, mo--republicano, proto-drico, proto-bistSrko, proto-renascenca, proto-suljureto, pseudo--herdi, psei/do-revelafao, pseudo-sdbio, semi-homem, semi-recta, semi-selvagem; 4.0) nos compostos com os radicals pan- e mal-, quando o elemento seguinte comeca por vagal ou h: pan-americano, pan-be lenico, mal-educado, mal--bttmorado; nos compostos com bem, quando o elemento seguinte tem vidi autonoma, ou quando a pronuncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurat^a; 0RTOGRAFIA 6.°) nos compostos com sem, alem, aquém e recém: sem-cerimónia, além--/fiar, aquém-fronteiras, recém-casado. Advirta-se, por fim, que as abreviaturas e os derivados desses compostos conservam o hífen: ten.-cß {= tenente-coronel), pára-qutdista, bem-.fi-pivfjnho, sem-cerimonioso. Emprego do hifen na prefixaeäo. O prefixo esereve-se geralmente aglutinado ao radical. Há casos, porém, em que a ligaeäo dos dois elementos se deve fazer por hífen. Assim, nos vocábulos formados pelos preíixos: a) contra-, extra-, infra-, intra-, supra- e ultra-, quando seguidos de iadical iniciado por vagal, b, r ou s: contra-almirante, extra-regimental, infra--escritOrintra-hepátho, supra-sumo, ultra-rdpido; exclui-se a palavra extraordinary, cuja aglutinacäo está consagrada pelo uso; b) ante-, anti-, arqui- e sobre-, quando seguidos de radical principiado por b, r ou j; ante-histórico, anti-higiémeo, arqui-rabino, sobre-saia; c) super- e inter- quando seguido de radical comecado por h ou r: super-homem, super-revista, inter-helénico, inter-resistente; d) ab-, ad-, ob-, sob- e sub-, quando seguidos de radical iniciado por r: ab-rogar, ad-rogafäo, ob-reptkio, sob-roda, sub-reino; e) sota-, sota-, vice- (ou w\o~) e ex- (este ultimo com o sentido de ces-samento ou estado anterior): sota-piloto, soto-ministro, vice-reitor, vi^o-rei, ex-director; f) ps~> pré- e pro, quando tém significado e acento próprios; ao contrario das formas homógrafas inacentuadas, que se aglutinam com o radical seguinte: pós-dilmiano, mas pospor; pré-escolar, mas preestabelecer; pró-britů-nico, mas proconsul. Emprego do hifen com as formas do verbo haver. Em Portugal, a ortografia oficialmente adoptada impöe o emprego do hífen entre as formas monossilábicas de haver e a preposicäo de: hei-de, bás-de, há-de, häo-de. No Brasil, näo se usa nestes casos o hífen, escrevendo-se: bei de, has de, bá de, häo de. Particäo das palavras no fim da linha. Quando näo há espago no fim da linha para escrevermos uma palavra inteira, podemos dividi-Ja cm duas partes. Esta separaeäo, que se indica BG-4 5° BREVE GRAIíATICA DO TfORTUGUES CONTEMPORANErj por mcio de ura hífen, obedece äs regtas de silabacäo. Säo inseparáveis os elcmerttos de cada sílaba. Convém, portanto, serem respeitadas as seguintes normas: Näo se separam as letras com que representamos: a) os ditongos e os tritongos, bem como os grupos ťa, ie, to, oa, ua> ue e uo, que, quando átonos finais, soam normalmente numa sílaba (ditongo CRESCENte), mas podem set ptonunciados em duas (hiato) : au-ro-ra mui-to par-tiu a-guen-tar Pa-ra-guai gló-ria cá-rie Má-rio ma-goa lé-gua té-nue con-tí-guo b) os encontros consonantais que iniciam sílaba e os dígrafos ch, lb e nb: pneu-ma-ti-co psi-có-lo-go mne-mó-ni-co a-bro-lhos es-cla-re-cer re-gre-dir ra-char fi-lho ma-nhä 2.a) Separam-se as letras com que representamos: a) as vogais de hiatos: co-or-de-nar ca-í-eis fi-el mi-ú-do ra-i-nha sa-ú-de b) as consoantes seguidas que pertencem a sílabas diferentes: ab-di-car abs-tra-ir bis-ne-to oc-ci-pi-tal sub-ju-gar subs-cre-ver j.a) Separam-se também as letras dos dígrafos rr, ss, se, se e xc: ter-ra pro-fes-sor des-cer abs-ces-so cres-ca ex-ce-der Observances: i.* Quando a palavra j á se escreve com hífen —quer por ser composta, quet por ser uma forma verbal seguida de pronome átono —, e coincidir o fim da linha com o lugar onde cstá o hífen, pode-sc repeci-lo, por clareza, no início da linha seguinte. Assim: couve = couve-/-flor unamo-nos = unamo-/-nos ortografia 2» Embora o sistema ortográŕico vigente o permita, näo se deve escre-ver no princípio ou no fim da linha uma só vogal. Evite-se, por conseguintc, a particäo de vocábulos como água, al, aqui, baú, rua, etc. Melhor será também que se dividarn vocábulos como abrasar, agtientar, agradar, eqmdade, ortografia, pavio e outros apenas nos lugares indicados pelo hífen: abra-sar ecjui-da-de aguen-tar or-to-gra-fia agra-dar pa-vio Ditongos. Vimos no capítulo anterior que, normalmente, se representam por / e u as semivogais dos ditongos orais: Observe-se, porém, que: d) a i.a, 2.3 e 3.° pessoa do singular do presente do conjuntivo, bem como a }.a pessoa do singular do imperativo dos verbos terminados em -oar escrevem-se com -oes e näo -oi: abencoe amaldicoes perdoe b) as mesmas pessoas dos verbos terminados em -uar escrevemrse com-»ŕ, e näo -m: cultue habitues preceitue REGRAS DE ACENTUACÄO A acentuacäo gráfica obedece äs seguintes regras: i.a) Assinalam-se com o acento agudo os vocábulos oxítonos que tcrminam era a aberto, e e o semi-abertos, e com acento circunflexo os que acabam em e e o semifechados, seguidos, ou näo, de s: cajá, bás,jacaré, pes, seridó, sás; dendi, les, trisavô; etc. Observacäo: Nesta regra se incluem as formas verbais em que, dcpois dc a, e, o, se assi-milaram o r, o s e o z ao / do pronome lo, la, los, las, caindo dcpois o pri-mciro /: dá-lo, eonlá-la, fá-lo-á, fé-Ios, movc-las-ia, pô-ios, qtté-los, sabé-los-emos, trá-lo-ás, etc. BREVE GRAMÁTTCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEQ ORTOGRAFIA 53 2. a) Todas as palavras proparoxítonas devem ser acentuadas grafi-camentc: rcccbem o acento agudo as que tém na antepenúltima sílaba as vogais a abcrta, e ou o semí-abertas, i ou //; e levam acento circunflexo aque-las em que figúram na sílaba predominante as vogais a, e, o semifechadas: ára be, exército, gut ho, límpido, loitvaríamos, publico, úmbrko; lámina, lämpada, devéssemos, lém/ires, pendula, fôlego, recôndito, etc. Observances: i.a Incluem-se neste preceito os vocábulos terminados em encontros vocá* licos que costumam ser pronunciados como ditongos crescentes: área, espon-täneo, ignorancia, imundkie, lirio, mágca, regno, vacuo, etc. z'.a Nas palavras proparoxítonas que tém na antepenúltima sílaba as vogais a, e e o seguidas de m ou n, estas säo, no portugués-padräo do Brasil, sempře semifechadas (em geral nasalizadas), razäo por que levam. acento circunflexo. No portugués-padräo de Portugal podem ser ou semifechadas ou semi-aber-tas, pelo que a ortografia em vigor manda que se Ihes pouhá acento circunflexo, se säo semifechadas, e acento agudo, se semi-abertas. Por isso, de acordo com a pronúncia-padräo, eserevem-se no Brasil: ämago, änimo, fémea, sémola, cômoro e, da mesma forma, académico, anémona, cénico, Ama^ßnia, Antonio, fenoména, quilómetro; ao passo que em Portugal, também de acordo com a pronúncia-padräo, se adoptam as grafias ámago, ánimo, fémea, sémola, cômoro, mas acadimico, anémona, cénico, Anm^ónia, Antonio, fenómeno, quilómetro. 3. a) Os vocábulos paroxítonos finalizados em / ou ti, seguidos, ou näo, de s, marcam-se com acento agudo quando na silaba tónica figurám a aberto, e ou s semi-abertos, / ou //: lápis, béribéri, miosótis, íris,jtíri. Observac5cs: i.a Paralelamente ao que ocorre com as palavras proparoxítonas, nas palavras paroxítonas que tém na penúltima sílaba as vogais a, e c o seguidas dc //; ou n, estas säo, no portugués-padräo do Brasil, sempře semifechadas (em geral nasalizadas), pelo que levam acento circunflexo. Nb portugués-padräo de Portugal podem ser ou semifechadas ou semi-abertas, pelo que recebem acento circunflexo, se säo semifechadas, e acento agudo, se semi-abertas. Estas as razöcs por que se adoptam, no Brasil, as grafias onus, certätiten, e também fémiir, Fénix, tenis, onus, bonus; ao passo que, em Portugal, se eserevem amis, certňmen, mas femur, Fé/iix, tenis, anus, bonus. z.a Entrc as palavras paroxítonas, cumpre ressaltar o caso da lApessoa do plural dos verbos da i.a conjugacíío, que, no presente e no pretérito perfeito do indicativo, apresentam a tónico seguido de m. No portugués-padräo do Brasil (c cm vários dialectos Portugueses meridionals) a vogal é igualmente scrnifechada nos dois tempos, enquanto no portugués-padräo de Portugal ela é semifechada no presente e aberta no pretérito perfeito do indicativo. Assim sendo, nenhuma das formas é acentuada no Brasil, ao passo que, pelo sistema ortográfico portugués, recebe acento agudo a forma do pretérito perfeito: amamos (presente), amámos (pretérito perfeito). 3» Também no portugués-padrao do Brasil a forma démos pronuncia-se com e semifechado [e], seja ela i.a pessoa do presente do conjuntivo ou do pretérito perfeito do indicativo, razäo por que näo recebe nenhum acento gráfico. Já no portugués-padrao europeu, a vogal é semifechada no presente do conjuntivo _[e] e semi-aberta no pretérito perfeito do indicativo [e], pelo que a ortografia portuguesa manda apor-lhe um acento agudo no segundo caso. Daí as grafias démos (presente do conjuntivo) e démos (pretérito perfeito do indicativo). 4, a As palavras paroxítonas terminadas em -oo, apesar de térem a mesma pronúncia em todo o domírůo do idioma, näo säo acentuadas graficamente no portugués de Portugal, ao passo que nó portugués do Brasil recebem um acento circunflexo no primeiro o. Assim: enjoo, voo (em Portugal), en/So, vůo (no Brasil). 5, a-»-Tanto em Portugal como no Brasil emprega-se o acento circunflexo sobre a vogal tónica semifechada da forma půdě, do pretérito perfeito do indicativo, para distingui-la de pode, do presente do indicativo, com vogal tónica semi-aberta. 6, a Pelos sistemas ortográficos vigentes nos dois palses, os paroxítonos terminados em -um, -uns recebem acento agudo na sílaba tónica: album, álbuns, etc. 7-a Também é comum aos dois sistemas ortográficos näo se acentuarem os pseudoprefixos paroxítonos terminados em -/: semi-oficial, etc. 4-a) Pöe-se acento agudo no i e no u tónicos que näo formám ditongo com a vogal anterior: ai, balaústre, cafeína, cais, contraí-la, distribuí-lo, egoísta, faísca, heroina, jui%o, país, peúga, saía, saiíde, timboíwa, vii'wo, etc. Observacoes: 1. a Näo se coloca o acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles näo forma ditongo, säo seguidos de /, n, r ou ^ que näo ini-ciam síiabas e, ainda, nb: adail, contribuinte, demiurga, jm%, paul, retribuirdes, ruitn, ventoinha, etc. 2. a Também näo se assinala com acento agudo a base dos ditongos ■ tónicos iu e ui quando precedidos de vogal: atraiu, contribuiu, pauis, etc. 5. a) Assinala-se com o acento agudo o u tónico precedido de g ou q e seguido de e ou /: argúl, argúis, averigúe, averigúes, oblique, obliques, etc. 6. a) Pöe-se o acento agudo na base dos ditongos semi-abertos éi, éu, ói, quando tónicos: bacharéis, chapéit, jibóia, lóio, paratióico, ronxinóis, etc. BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNErji Obsefvac2o: No portugues-padrao do Brasil distinguem-se na pronúncia dois grupos dc palavras tereninadas em -eta: um em que a vogal é semi-aberta e vera marcada com acento agudo: assembléia, hebréia, idiia; outro em que a vogal é semifechada e» por conseguinte, nao se acentua graficamente: feia, mela, pas-ieia> No portuguěs-padrao de Portugal nao se diferenciam fonicamente estes dois grupos de palavras, tazao por que o e aunca vem acentuado. O ditongo neste caso é sempře pronunciado [aj]. ■j*) Marca-se com o acento agudo o e da terrninacao em ou ens das palavras oxítonas: alguém, arma^im, convém, convéns, detim-lo, mantém-na, para-bens, retém-no, também, etc. Obs,ervacoes: 1. » Náo se acentuam- graficamente os vocábulos paroxítonos finalizados por em ou ens: ontem, ijiiagens, joverts, nuvetts, etc. 2. a A terceira pessoa' do plural do presente do indicativo dos vetbos ter, vir e seus compostos recebe acento circunflexo no e da sílaba tónica: (eltsj contsin, (elas) convim, (eles) tern, (elas) vim, etc. 3» Conserva-se, por clareza gráfica, o acento circunflexo do singular crtt de, U, ve no plural crhm, dhm, Hem, véem e nos compostos desses verbos, como descréem, desdeem, reliem, revkm, etc. 8.a) Sobrepoe-se o acento agudo ao a aberto, ao e ou o semi-abertos e ao z ou u da penúltima sílaba dos vocábulos paroxítonos que acabam em l,n,r& x; e o acento circunflexo ao a, e e o semifechados: acúcar, afável, alú-men, córtex, éter, hífen, aljófar, dmbar, c&non, íxul, etc. ObservacíSo: Nao se acentuam graficamente os prefixos paroxítonos terminados em r: intcr-hitmano, sttper-homem, etc. o.a) Marca-se com o competente acento, agudo ou circunflexo, a vogal da sílaba tónica dos vocábulos paroxítonos acabados em ditongo oral: ógeis, devireis, escrcvesseis, faríeis, férteis, fósseis, fůsseis, imóveis, jóquei, pé/iscis, pnsésseis, qiiisésseis, ťtnbeis, tihicis, útcts, variáveis, etc. io.a) Usa-sc o til para indicar a nasalizacao, e vale como acento tónico se outro acento nao figura no vocábulo: afd, capitaes, coracdo, devocoes,poem, etc. nftTOGRAFIA____ 5; Obser vacäo: Se é átona a sllaba onde figúra o til, acentua-se graficamente a predominante: ucórdäo, béncäo, árfä, etc. íl a) No Brasil, de acordo com a ortografia oficial em vigor, empre-ga-se o trema no » que se pronuncia depois de g ou q e seguido de e ou i: agmntar, argiiicao, eloquente, tranqmlo, etc. Em Portugal, o emprego do trema foi abolido em todos os casos a partir do acordo ortográfico de 1945. 12. a) Recebem acento agudo os seguintes vocábulos que estäo em iiomografia com outros: ás (s. m.), cf. as (contr. da prep, a com o art. ou pron. as); pára (v.), cf. para (prep.); péla, pélas (s. f. e v.), cf. pela, pelas (agl. da piep- Per com 0 ^t. ou pron. la, las); pélo (v.) cf. pelo (agl. da prep, per com o art. ou pron. h)\ péra (el. do s. f. comp, péra-fita), cf. pera (prep, ant); pólo, pólos (s. m.), cf. polo, polos (agl. da prep, por com o art. ou pron. k, los); etc. 13. ») O acento grave assinala as contraccöes da preposicäo a com o artigo a e com os pronomes demonstratives a, aquele, aqueloutro, aqttilo, as quais se escreveräo assim: ä, äs, äquele, aqttela, aquehs, aqueles, äqidlo, äque-lonlro, aqueloutra, aqueloutros, äqueloutras. DIVERGENCIAS ENTRE AS ORTOGRAFIAS OFICIALMENTE ADOPTADAS EM PORTUGAL E NO BRASIL Alem das divergéncias atrás mencionadas que dizem respeito ao emprego do trema, do hífen e, principalmente, da acentuacäo — divergéncia esta que, como vimos, corresponde, em geral, ä diversidade de pronúncia de certas vogais tónicas —, persiste ainda uma importante diferenca entre os sistemas ortográficos oficialmente adoptados em Portugal 1 e no Brasil: o tratamento das chama'das «consoantes mudas». No Brasil, por disposicäo do Formulário Ortográfico de 1943, as consoantes etimológicas finais de sílaba (implosivas), quando näo articuladas —ou ' Em Portugal, a ortografia oficialmente adoptada é a do Accrdo Qrtogrdfiw dc 1945, assinado cm Lisboa, a 10 de Agosto de 194$, por uma Comissäo composia dc mcmbros da Academia das Cidncias de Lisboa e da Academia Brnsileira de Lctras. Essc Acardo niio entrou em vigor no Brasil por näo ter sido ratificado pelo Congrcsso Nacionál. 2 No Brasil vigoram oflcialmetUe as normas do Formiil/lrio Ortográfico de 1943, consubs- BRKVE GRAMÁTICA do portügues CONTEMPORÁNEq: sej a, quando «mudas» — deixaram de se escrever. Em Portugal, no entanto, em conformidade com o texto do Acordo de 1945, continuaram a ser gráfa, das sempre que se seguem äs vogais átonas a (aberta), e ou 0 (semi-abertas), como forma de indicar a abertura dessas vogais3- Por urna razäo de coe, réncia, mantém-se tais consoantes em sílaba tónica nas palavras pertencen, tes a mesma família ou flexäo. Essa forma de distinguir, no portugués europeu, as pretónicas aber-tas ou semi-abertas das reduzidas, näo se justifica no portugués do Brasil, em cuja pronúncia-padräo näo há pretónicas reduzidas, tendo-se as vogais nesta posicäo neutralizado num a aberto e num e ou num 0 semifechados. Dai escrever-se em-Portugal: acto, acfäo, accionar, accionista, baptismo, bapfc %ar, director, correcto, correcfäo, optima, optimismo, adoptar, adopfäo; e no Bra. sil: ato, aßo, acionar, aäonista, bathmo, baü^ar, diretor, correto, corregäo, ótimol otimismo, adotar, adoßo. Existe, no entanto, um certo numero de palavras em que a consoante final de sílaba é articulada tanto em Portugal como no Brasil e, nesse caso, a ortografia dos dois países é uniforme. Assim: autôctone, compacte, apt^ ineplo, etc. Rarlssimos säo os exemplos que se apontam em que esta consoante í efectivamente pronunciada em Portugal e näo no Brasil, como facto (em Portugal) e Jato (no Brasil). Finalmente, há casos em que se verifica uma oscilaeäo em ambas as variantes do portugués e nos quais a ortografia brasileira (e näo a portu-guesa) admite grafias duplas: aspecio j aspeto, dactilografia / datilografia, infec-fäo I infefao, etc. 5. Classe, estrutura e forma^ao de palavras Palavra e morféma. i. Uma lingua é constituída de um conjunto infinito de frases. Čada uma delas possui uma face sonora, ou seja a cadeia falada, e urna face significa-tiva, que corresponde ao seu conteúdo. Uma frase, por sua vez, pode ser dividida em unidades menores de som e signifieado —as palavras — e em unidades ainda menores, que apresentam apenas a face significante — os fonemas. As palavras säo, pois, unidades menores que a frase e maiores que o fonema. Assim, na frase Évora! Ruas ermas sob os céus Cor de violetas roxas... (Florbela Espanca, S, 149.) distinguimos dez palavras, todas com independéncia ortográfica. E em cada urna dessas palavras identificamos um certo numero de fonemas. Por exem-plo, cinco em Évora: M M joj /r/ /a/, e quatro em ruas: N H N N tanciadas no Vocabulitio Orlog/rdfico, publicado no mesmo ano, com as leves alteracoes detcrmi-nadas pcta Lei n.° 5 76J, de 18 de Dezcmbro dc 1971. 3 Hit, porcm, no portuguca-padrao de Portugal vogais prccinicas, proveniences de antiga erase, que conscrvam o timbre abcrto ([a]) ou scmi-aberto ([c], [d]), sem que o facto scja assinalado na cscrira. Assim: podiiro, ptgada, corar. 2. Existem, no entanto, unidades de som e conteúdo menores que as. palavras. Assim, em ruas temos de reconhecer a existencia de duas unidades significativas: rtia e -s. O primeiro elemento —ma— também se emprega como palavra isolada ou serve para formar outras palavras iso-ladas: arritafa, arruamento, etc. Já a forma plurál -s, que vai aparecer no final BREVE GRAMAtICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO de muitas outtas palavras [ermas, céus, violetas, roxas, etc.), nunca poderá realizar-se como palavra individual, autonoma. A essas unidades significativas mínimas dá-se o nome de morfemas, 3. Os morfemas podem apresentar variacäo, por vezes acentuada, nas suas realizacöes fonéticas. É o caso do morféma plural do portuguési cuja pronúncia está sempre condicionada ä natureza do som seguinte. Nos falares de Lisboa e do Ŕio de Janeiro, por exemplo, o -s plural de cases assume forma fonética diferente em cada um dos trés enunciados; Casas amarelas. Casas bonitas. Casas pequenas. Realiza-se: d) como [z], ao ligar-se ä vogal iniciál da palavra amarelas; b) como [3], antes da palavra bonitas, iniciada por consoante sonora; í) como [f], antes da palavra pequenas, iniciada por consoante surda. A ultima realizacäo [f] é também a que apresenta o morféma de plural diante de pausa, como podemos observar nas formas amarelas, bonitas c pequenas dos exemplos citados. A essas manifestacöes fonéticas diferentes de um único morféma dá-se o nome de variante de morféma ou alomorfe. Tipos de morfemas r. Quando, na análise da palavra rttas, distmguimos dois morfemas, observamos que um deles — rua — forma por si só um vocábulo, enquanto o morféma -s näo tem existencia autonoma, aparecendo sempre ligado a um morféma anterior. Os linguistas costumam chamar morfemas ltvres qs que podem figurar sozinhos como vocábulos, e morfemas presos aqueles que näo se encontram nunca isolados, com autonómia vocabular. 2. Quanto ä natureza da signiŕicacäo, os morfemas classiŕicam-se em lexicais e gramaticais. Os morfemas lexicais tém significacäo externa, porque referente a factos do mundo extralinguístico, aos símbolos básicos de rudo o que os falantes distinguem na realidade objectiva ou subjectiva. Assim: Évora céu roxa tristcza erma cor rua violeta CLASSE, ESTRUTURA E FORMACÄO DE PALAVRAS JO Já a significacäo dos morfemas gramaticais é interna, pois deriva das fC]acôes e categorias levadas em conta pela lingua. Assim, na nossa frase-_exempl°> o artigo o, as preposicôes de e sob, a marca de feminino -a (rox-a, tnti-a) e a de plural -s (rua-s, erma-s, o-s, céu-s, violeta-s, roxa-s). 3. Outras caracteristicas, näo semánticas, opôem os morfemas iexi-cais aos gramaticais. Aqueles säo de numero elevado, indeŕinido, em vir-tude de constituírem uma classe aberta, sempre passível de ser acrescida de novos elementos; estes pertencem a urna série fechada, de numero defi-uido e restrito no idioma. Consequentemente, se os examinarmos num dado texto, verificaremos que os primeiros apresentam freqúéncia média baixa, em contraste com a freqúéncia média alta dos últimos. Classes de palavras. 1. Estabelecida a distinglo entre morféma lexical e morféma grama-tical, podemos agora relacionar cada um deles com as classes de palavras. Säo morfemas lexicais os substantivos, os adjectivos, os verbos e os advérbios de modo. Säo morfemas gramaticais os artigos, os pronomes, os numerais, as preposicôes, as conjuncôes e os demais advérbios, bem como as formas indicadoras de numero, género, tempo, modo ou aspecto verbal. 2. As classes de palavras podem ser também agrupadas em variA-veis e invariáveis, de acordo com a possibilidade ou a impossibilidade de sc combinarem com os morfemas flexionais ou desinéncias. Säo variáveis os substantivos, os adjectivos, os artigos e certos numerais e pronomes, que se combinam com morfemas gramaticais que expressem o género e o numero; o verbo, que se liga a morfemas gramaticais deno-tndores do tempo, do modo, do aspecto, do numero e da pessoa. Säo invariáveis os advérbios, as preposi$5es, as conjunfôes e certos pronomes, classes que näo admitem se lhes agregue uma desinéncia. A interjeicäo, vocábulo-frase, fica excluída de qualquer das classifi-cacôes. ESTRUTURA DAS PALAVRAS Radical. Ao que chamámos até agora morféma lexical dá-se tradicionalmente fio BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEQ o nome de radical. É o radical que irmana .is palavras da mesma família, e lhes trnnsmite uma base comum de signiŕkacäo. A ele se agregam, como vimos, os morfemas gramaticais, que podem ser uma desinéncia (ou morféma flexional), am afixo (ou morféma derivacional) ou uma vogal temática. Desinencia. As desinencias, ou morfemas flexionais, Servern para indicar: a) o genero e o nümero dos substantivos, dos adjectivos e de certos pronomes; b) o nümero e a pessoa dos verbos. Assim, no adjectivo ermas e numa forma verbal como renovamos, temos as seguintes desinencias: -a, para caracterizar o feminino (em ermas); -s, para denotar o plural (em ermas); -mos, para expressar a 1.» pessoa do plural (em renovamos). Hä, por conseguinte, em portugues desinencias nominais e desinencias verbais. Afixo. Os AFixos, ou morfemas derivacionais, sao elementos que modifi-cum geralmente de maneira precisa o sentido do radical a que se agregam. Os AFixos que se antepoem ao radical chamam-se prefixos; os que a clc sc pospöem dcnominam-se sufixos. Assim, em desterrar e renovamos aparecem os prefixos: des-, que empresta ao primciro verbo a ideia de separa$äo; re-, que ao segundo acrescenta o sentido de repetilo de um facto. Os sufixos, como as desinencias, unem-se ä parte final do radical, Mas, cnquanto cstas caracterJzam apenas o género, o numero ou a pessoa da palavra, sem Ihe alterar o sentido lexical ou a classe, os sufixos trans-formám substancialmcnte o radical a que se juntám. Assim, em terroso, tet- classe, estrutura e formacao de palavras 61 reiro, novinbo e novamente, encontramos os sufixos : -oso, que do substantivo terra forma um adjectivo (terroso); -eito, que do substantivo terra forma outro substantivo (terreiro); -inho, que do adjectivo novo forma um dirriinutivo (novinbo); -mente, que do ferrdnino do adjectivo novo forma um adverbio (novamente). Vogal temática. Na análise da forma verbal renovamos, distinguimos trés elementos for-mativos: a) o radical: nov- b) a desinéncia número-pessoal: -mos c) o prefixo: re- Falta identificatmos apenas a vogal a, que aparece entre o radical nov-c a desinéncia -mos, vogal que encontramos também na forma de infinitivo fumar, entre o radical fttta- e a desinéncia -r. Nos dois casos, vemos, ela está indicando que os verbos em causa per-tencem a i* conjugaeäo. A essas vogais que caracterizam a conjugaclo dos verbos dá-se o nome de vogais temáttcas. Säo eias: -a-, para os verbos da i.a conjugaeäo (fr/m-a-r, renov-a-mos); -e-, para os da 2.a (dev-e-r, fa^-e-mos); -i-, para os da 3.» (part-i-r, constru-í-mos). O radical acrescido de uma vogal temática, isto é, pronto para receber uma desinéncia (ou um sufixo), denomina-se tem a. Vogal e consoante de ligacao. Os elementos mórficos até aqul estudados entram sempře na estrutura do vocábulo com determinado valor significativo exterao ou interno. Há, porém, outros que sao insignificativos, e servem apenas para evitar disso-náncias (hiatos, encontros consonantais) na juntura daqueles elementos. Se examinarmos, por exemplo, os vocábulos gasómetro e cafeteira, veri-ficamos que: a) o primeiro é formado de dois radicais —gás- + -metro—, Iigados 6i breve gramática do portuguěs contemporaneo pela vogal -o-, sem valor significativo; b) o segundo é constituido do radical café- + o sufixo -eira, entre os quais aparece a consoante insignificativa -t- para evitar o desagradável hiato -éé-. A esses sons, empregados para tornar a pronuncia das palavras mais fácil ou eufónica, dá-se o nome de vogais e consoantes de ligacao. FORMA^ÁO DE PALAVRAS Palavras primitivas e derivadas. Chamam-se primittvas as palavras que náo se formam de nenhuma outra e que, pelo contrário, permitem que delas se originem novas palavras no idioma. Assim: fumo novo pedra Denominam-se derivadas as que se formam de outras palavras da lingua, mediante o acréscimo ao seu radical de um prefixo ou um sufixo. Assim: fumoso defumar marioha marear novinho renovar pedreiro empedrar Palavras simples e compostas. As palavras que possuem apenas um radical, sejam primitivas, sejam derivadas, denominam-se simples. Assim: marinha pcdra pedreiro pedreiro-livre vaivém Säo compostas as que contěm mais de um radical: qucbra-mar guarda-marinha pedra-sabao aguardeate pernalta poatapé FAMÍLIAS DE PALAVRAS Denomina-se família de palavras o conjunto de todas as palavras que se ngrupam em torno de um radical comum, do qual se formaram pelos processos de derivacáo ou de composicao que estudaremos desenvolvida-mente no Capitulo seguinte. 6. Derivajäo e composifäo DERTVACÄO PREFDIAL Os prefixos que aparecem nas palavras portuguesas säo de origem latina ou grega, embora normalmente näo sejam sentidos como tais. Alguns sofrem apreciáveis alteracôes em contacto com a vogal e, prin-cipalmente, com a consoante iniciál da palavra derivante. Assim, o prefixo grego an-, que indica «privacäo» (an-ónimo) assume a forma a- antes de consoante: a-patia; in-, o seu correspondente latino, toma a forma i-antes ie I e m: in-feli^, in-activo; mas i-hgal, i-moral. Näo se devem confundir tais alteracôes com as fotm-u vernáculas, oriundas de evolucäo normal de certos prefixos latinos. Assim: a-, de ad-fa-do far); em- ou en-, de in- (em-barcar, en-terrar). Na lista a seguir, colocaremos em chave as formas que pode assumir o rnesmo prefixo: em primeiro lugar, daremos a forma originária; em ultimo, a vernácula, quando a houver. Prefixos de oxigem latina. Prefixo Semido Exemplifies! cäo ab- abs- a- ad- a- (ar-, as-) ante- circum-(circun-) cis- If abdicar, abjurar afastamento, separacäo.................. i abater, abstrair [ amovível, aversäo },. f adiunto, advcnticio aproximacao, dtteccao.................. | assentir antcrioridade.............................. antebraco, antcpot 1 - ^ circum-adjacente, circun- \ movimento em torno.................. ' J vagar posicäo aquém ........................... cisalpino, cisplatino 64 BREVE GRAmXtICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO Prefixo Sentido Exemplifi cacao com- (con-) co- (cot-) contra- dc- des- dis- di- (dir-) cntre- ex- es-e- extra- In-1 (im-) i- (if-) em- (en-) in-2 (im-) i- (it-) jntra- intro- justa- ob- o- per-pos-pre-pro-re- retro- soto-sota- Bub- su8-8u- Bob- 80- super-sobre- J contiguidade, companhia. oposigäo, accäo conjunta ............ movimento de cima para baixo...... separagäo, accäo contraria ............ sepaxacäo, movimento para diversos kdos, negacäo ........................ posicäo intermediária .................. movimento para fora, estado anterior ....................................... posicäo exterior (fora de) ............ movimento para dentro negacäo, pnvacao posicäo interior......... movimento pnra dentro posicäo ao lado ......... posicäo em frente, oposicäo .... movimento através................ posterioridade ...................... anterioridade......................... movimento para a frente ....... movimento para ttás, repeticäo movimento mais para trás....... posicäo inferior movimento de baixo para cima, in-fcrioridade .............................. posicäo em cima, excesso compor, conter cooperar, corroborar contradizer, contra-selar decair, decrescer desviar, desfazer dissidente, distender dilacerar, dirimir entreabrir, entrelinha exportar, extrair escorrer, estender emigrar, evadir extra-oficial, extraviar ingerir, impedir imigrar, irromper embarcar, eoterrar inacrivo, impermeável ilegal, irrestrito intradorso, intravenoso introversäo, intrometer justapor, justalinear objecto, obstáculo ocorrer, opor percorrer, perfurar pospor, postónico prefácio, pretónico progresso, prosseguir refluir, refazer retroceder, retrospectivo soto-mestre, sotopor sota-vento, sota-voga subir, subalterno suspender, suster suceder, supor sobcstar, sobpor soerguer, soterrar superpor, superpovoado sobiepor, sobrecarga pBRIVACÄO E COMPOSICÄO 65 Prefixo Sentido ExcmpHficacäo Bupra- trans- tras- tres- ultra- posicäo acima, excesso.................. supradito, supra-sumo ,, . . _ f transpor, transalpino movimento para aiém de, posicäo ^ ÜAS?Jszr alem de.............,................... I ^ - „ [ tresvanar, tresmalhar posicäo alem do limite ............... tütrapassar, ultra-som vice-reitor, vice-cönsul visconde, vizo-rei yis-"(vizo-) } substituiclo, em lugar de ............ j J[ prefixos de origem grega. Eis os principais preŕixos de origem grega com as formas que assu-mem em portugués: Prefixo Sentido Exemplifi cacao an- (a-) aná- anfi-anti-apó- átqui- (arc arque-, arce> catá- U) diá- (di-) dis- ec- (ex-) en- (em-, e-) endo- (end-) epi- eu- (ev-) privacäo, negacäo..................... accäo ou movimento inverso, repeticäo ....................................... de um e outro lado, em torno......... oposicäo, accäo contraria............ afastamento, separacäo ............... superioridade.............................. movimento de curia para baixo, oposicäo ................................. movimento atraves de, afastamento dificuldade, mau estado.................. movimento para fora .................. posicäo interior ........................ posicäo interior, movimento para dentro .................................... posicäo superior, movimento para, posterioridade........................... bem, bom ................................. hiper- posicao superior, excesso .......... hipó- posicáo inferior, escassez .......... metá- (met-) posterioridade, mudanca............. pará- (par-) proximidade, ao lado de............. peri- posicao ou movimento em torno. pró- posicžo em frente, anterior ....... sin- (sim-, si-) simultaneidade, companhia........... anarqwa, ateu anagrama, anáfora anfíbio, anfiteatro antíaéreo, antipoda apogeu, apóstata arquiduque, arcanjo arquétípo, arcebispo catadupa, catacrese diagnóstico, diocese dispneia, disenteria eclipse, éxodo eneáfalo, emplastro, elipse endotérmico, endosmose epiderme, epllogo eufónia, evangelho hipérbole, hipertensäo bipodérmico, hipotensäo metacarpo, metátesc paralogismo, paramnesia perimetro, perifrasc prólogo, prognóstico sinfonia, simpatia, sílaba 66 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÁNE0 oEErvACÄO E COMPOSICÄO 67 DERIVACÄO SUFĽSAL Pela DERivACÄO sufixal formaram-se, e ainda se formam, novos subs-tantivos, adjectivos, verbos e, até, advérbíos (os advérbios em -mentě). Dal ckssificar-se o sufixo em: a) nominal, quando se aglutina a um radical para dar origem a um substantivo ou a um adjectivo: pont-eita, pont-irititt, pont-uáo; b) verbal, quando, ligado a um radical, dá origem a um verbo: bord-e)az, smv-izat, an/anb-ecei; c) adverbial, que é o sufixo -mentě, acrescentado ä forma feminina de um adjectivo: bondosa-metite, fraca-tnente, perígpsa-mente. Sufixos nominais. Entre os sufixos nominais, mencionaremos em primeiro lugar os sufixos aumentativos e diminutivos, cujo valor é mais afectivo do que lógico. Sufixos aumentativos. Eis os principals sufixos aumentativos usados em portugués: Sufixo Exemplificagäo Sufixo Exemplificagäo -äo caldeiräo, paredäo -anzil corpanzil -alhao grandalhäo, vagalhäo -areu fogaréu, provaréu -(z)arräo gatarräo, homenzarräo -arra bocarra, naviarra -ciräo asneiräo, toleiräo -orra beigorra, cabegorra -aga barbaca, barcaca -astro medicastro, poetastro -ago animalago, ricago -az lobaz, roaz -ázio copazio, gatázio -alhaz facalhaz -uca dentuga, carduga -arraz. pratarraz Obscrvagoes: 1Ncm sempře o sufixo aumentativo se junta ao radical de um substantivo. HA dcrivagócs feitas sobre adjectívos (ricaco, de rico; sabichUo, de sábio) e tam-bém sobrc radicais verbais [eborao, de eborar; /nandalo, de mandar). 2.a Nos aumentativos cm -So, o gčnero normál é o masculino, mesmo quando a palavra derivaňte c feminina. Assim: uma mulher—um MidberSo; a casa — o casaräo. Só os adjectivos fazem diferenga entre o masculino e o feminino, diferenga que, oaturalmente, conservam quando substantivados: cliorSo—• chořena; solteirao — solteirona. Sufixos diminutivos. Säo estes os principais sufixos diminutivos empregados em portugués: Sufixo Exemplificagäo Sufixo Exemplificacäo -inho,--a toquinho, vozinha -elho, a 1 folhelho, rapazelho -zinho, -a cäozinho, ruazinha -ejo animalejo, lugarejo -ino, -a pequenino, eravina -ilho, -a J pecadilho, tropilha -im espadim, fortun artiguete, lembrete -etc -acho, -a fogacho, riacho -eto, -a esboceto, saleta -icho, -a . governícho, barbicha -itö, -a rapazito, casita -ucho, -a papelucho, casucha -zito, -a jardinzito, florzita -ote, -a velhote, velhota -ebre casebre -eco, -a livreco, soneca -isco, -a chuvisco, talisca -ico, -a burrico, marica(s) -usco, -a chamusco, velhusco -ela ruela, viela -ola fazendola, rapazola Observagöes: i.a O sufixo -inbo (-qinho) e de enorme vitalidade na lingua. Junta-se näo sö a substantivos e adjectivos, mas tambem a adverbios e outras pakvras jnvariäveis: ced'mho, so^iiibo, adeushiho. z.a Ao contrario dos aumentativos em -äo, os diminutivos em -inbo (e tambem em -itd) näo sofrem mudanga de genero. O diminutivo conserva o genero da palavra derivante: casa — casinha; c5o — cäo^inbo, cSotyto, canito. Em forma-göes com outros sufixos näo e, porem, estranha tal mudanga: ilba — ilhote, ilheii; ebtwa — chswisco. Diminutivos eruditos. Na lingua literária e culta, especialmente na terminológia científica, aparecem formacôes modeladas no latim em que entram os sufixos -tdo, (-ula) e -čulo (-čula), com as variantes -ácuh (-ácula), -kulo (-kula), -iíscalo (-áscufa) e -ťmculo (-mienia): 68 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEo corpo coipúsculo nota nótula febre febrícula obra opúsculo globo glóbulo parte partícula gota goticula pele película gräo granulo questäo questiúnoila hörnern homúnculo raÍ2 radlcula modo módulo rei régulo monte raontículo verme vermículo nó nódulo verso versí culo Observacäo: Como vemos, nestas formates latinos, ou feitas em idänticos moldes, o sufixo -ctilo {-a) e sua variante -tínculo {-a) podem juntar-se ao radical dkectamentc (más-culo, boM-tmculo), ou por intermédio da vogal de ligacäo -/- (wrs-í-ciilo, qtiest-i-úncula). Outtos sufixos nomínaia. i. Formám substantivos de outros substantivos: Sufixo -ada -ado -ato •agem -al -alha Sentido Exemplificacäo d) multídäo, coleccäo ............... boiada, papelada V) porgäo contida num objecto... bocada, colherada e) marca feita com um instrumento penada, pincelada d) ferimento ou golpe............ dentada, facada e) produto alimentär, bebida...... bananada, laranjada f) duragäo prolongada............... invernada, temporada g) acto ou movimento cnergico ... cartada, saraivada d) território subordinado a titular. bispado, condado b) instituigäo, titulatura............. almirantado, doutorado d) instituigäo, titulatura............. baronato, cardinalato b) na nomenclature quimica = sal carbonato, sulfato a) nogäo colectiva.................... folhagem, plumagem b) acto ou estado..................... aprendizagem, ladroagcm d) ideia de relagäo, pertinéncia.... dedal, portal b) cultura de vcgetais............... arrozal, cafezal c) nogäo colectiva ou de quanti- dade................................. areal, pombal colectivo-pcjorativo .................. canalha, gentalha dertvacäo e coMPOsrcAO 69 Sufixo Sentido Exemplificacao -afflä -ame -aria -atio -edo -eiro (-a) nogäo colectiva e de quantidade.... nogäo colectiva e de quantidade.... d) actividade, ramo de negócio ... b) nogäo colectiva.................... e) aecäo propria de certos indiví- duos................................. {d) ocupagäo, ofício, profissäo . b) lugar onde se guarda algo. Íd) lugar onde crescem vegetais., b) b) nogäo colectiva d) ocupacäo, ofício, profissäo..... b) lugar onde se guarda algo .... ť) árvore e arbusto.................. d) ideia de intensidade, aumento... e) objecto de uso................... f) nogäo colectiva.................... a) profissäo, titulatura............... b) lugar onde se exerce uma activi- dade................................. f) nogäo colectiva.................... -10 -ite -ugem -ume nogäo colectiva, reuniäo ........... inflamagäo............................... semelhanca (pejorativo) ............. nogäo colectiva e de quantidade... dinheirama, mourama vasilhame, velame carpintaria, Iivraria gritaria, pedraria patifaria, pkataria operário, secretário herbário, vestiirio olivedo, vinhedo laj edo, passaredo barbeiio, copeira galinheiro, tinteiro laranjeira, craveiro nevoeiro, poeira cinzeiro, pulseira berreiro, formigueiro advocacia, baronia delegácia, reitoria cavalaria, clerezia gentio, mulherio bronquite, gastrite ferrugem, penugem cardume, negrume 2. Formám substantivos de adjectivos. Os substantivos derivados, geralmente nomes abstractos, indicam qualidade, propriedade, estado ou modo de ser: Sufixo Exemplificacäo Sufixo Exemplificacäo -dade crueldade, dignidade -ice tolice, velhice -(i)däo gratidäo, mansidäo -ície calvície, imundicic -ez altivez, honradez -or alvor, amargor -eza beleza, riqueza ~(i)tude altitude, magnitude -ia alegria, valcntia -ura alvura, docura 7° BREVE GRAMATICA DO PORTUGOÉS CONTEMPORÄNErj Observagöes: i.» Antes de receberem o sufixo -dade, os adjectivos tenninados em -o%, -ify -i>£ c -vel retomam a forma latina em -ac(i), -ie(i), -oc(i) e -bil(i): sagaz > sagacidade feliz > felicidade atroÄ > arrocidade amável > amabilidade z.a O sufixo -kie só aparece em palavras modeladas sobre o latim: calví-cie (latim Calvities), pláních (latim planities), etc. Também justica näo apresenta propriamente o sufixo -ica, porque a palavra é continuacäo do latim justitia. Da mesma forma cobica (do baixo latim cupiditia), preguica (do latim pigriiia), ctc, 3. Forma substantivos de substantivos e de adjectivos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ismo a) doutriaas ou sis-temas artísticos... filosóficos políticos ... religiosos.. realismo, simbolismo kantismo, positivismo federalismo, fascismo budismo, calvinismo b) modo de proceder ou pensar... d) na terminológia científica ...... heroísmo, servilismo galicismo, neologismo daltonismo, reumatismo 4. Forma substantivos e adjecttvos de outros substantivos e adjectivos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ista a) partidários ou sec- tários de doutri-nas ou sistemas (em -ismo) b) ocupajao, ofício.. í) nomes pátrios e gentílicos artlstícos.. filosóficos. políticos .. religiosos. realista, simbolista kantista, positivista federalista, fascista budista, calvinista dentista, pianista nortista, paulista Observacäo: Nem todos os designativos dc sectários ou partidários de doutrinas ou sistemas cm -ismo sc formám com o sufixo -ista. Por exemplo: a protestantisme correspondente protestante; a maometismo, waometano; a islamismo, islamita. PBRIVA?Ä0 E COMPOSICÄO 71 Formám substantivos de verbos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -an ca »äncia -enca -Ěncia -ante -ente -inte .(d)or -(t)or -(s)or -cäo «säo -douro -tório -(d)ura -(t)uta -(s)ura -mento ac$äo ou o resultado dela, estado. lembranca, vinganca observäncia, tolerancia deserenca, diferen^a anuéncia, concorréncia Iestudante, navegante afluente, combatente ouvinte, pedinte Ijogador, regador inspector, interruptor agressor, ascensor .... f nomeaeäo, traicäo accao ou o resultado dela............ { . ' - * [ agressao, extensao , , ľ bebedouro, suadouro lugar ou instrumente da accao ... j kTOt6rio> vomitório . , . ^ j - ľ pintura, atadura resultado ou instrumente da accao, fotmatura magistratura nocao coiectiva...................... tonsura a) accao ou resultado dela......... acolhimento, ferimento b) instrumento da accao............ ornamento, instrumento c) nocao colectiva................... armamento, fardamento 6. Formám adjectivos de substantivos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -aco estado íntimo, pertinéncia, origem maníaco, austrlnco -ado í a) provido ou cheio de ............ barbado, denteado adamado, amarelado -aico judaico, prosaico -al -ar campal, conjugal escolar, familiar 7* Sufixo -ano -äo -átio -eiro -engo -enho -eno -ease -ěs -(l)ento -esco -is co -este -estie -eu -icio -ico -il -ino -ita -onho -oso -tico -udo B REVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Sentido Exemplificacäo a) proveniéncia, origem, pertenga b) sectário ou partidário de....... c) semelhante ou comparável a... proveniéncia, origem .. relacäo, posse, origem rekjäo, pertinéncia, posse ......... scmelhanca, procedéncia, origem... referencia, origem..................... relacäo, procedéncia, origem. a) provido ou cheio de ...... b) que tem o carácter de...... relacäo, semelhanga, materia, referencia, semelhanca.......... relacäo............................... relagäo ............................... relacäo, procedéncia, origem .. referencia............................ partieipaeäo, referencia.......... referencia, semclhanja............ relacäo, origem, natureza....... pertinéncia, origem............... propriedade, hábito constante provido ou cheio de ............ relacäo ............................... provido ou cheio de ............ romano, serrano luterano, parnasiano bilaquiano, camoniano alemäo, beiräo diário, ftaccionário caseiro, mineiro mulherengo, solarengo fetrenho, estremenho terreno, chileno forense, parisiense cortés, noruegués ciumento, corpulento barrento, vidrento róseo, férreo burlesco, dantesco levantisco, mourisco agreste, celeste campestre, terrestre europeu, hebreu alimenticio, natalicio geométrico, melaneólico febril, senhoril londrino, cristalino ismaelita, israelita enfadonho, risonho brioso, venenoso aromático, rústico pontudo, barbudo Obscrvacflea: 1. a Alguns desses sufixos servem tambem para formar adjectivos de outros adjectivos. Por cxemplo: -a/ junta-se a angelica, formando angelical; -onho acrcs-ccnta-sc a triste, produzindo trhtonko. 2. " Silo peculiaccs aos adjectivos os sufixos eruditos -imo e -issimo, que sc ligam a radicals latinos; Immtl-imo, fidcl-issimo. Do scu valor e emprego tra-tsimos no Capitulo 10. pERIVACÄO e COMPOSICAO 73 7. Formám adjectivos de verbos: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ante -ente -inte .(á)vel -(í)vel -io -(t)ivo -(d)ico -(t)icio -(d)ouro .(t)órío f semelhante, tolerante accäo, quaüdade, estado............... i doente, resistente [ constituinte, seguinte possibiüdade de praticar ou softer f duravel, louvävel uma accäo................................ 1 pereeivel, punivel 1 _ , . . , f fugidio, tardio j accao, referencia, modo de ser...... j afirWtivo, perisativo }possibiüdade de praticar ou softer f movedico, quebradigo uma accäo, referencia................. 1 } } uma accäo, referencia................. j acomodatício, factício duradouro, casadouro preparatório, emigratório accäo, pertinéncia. { Observacäo: Os sufixos -ante, -ente e -inte provem, como dissemos, das terrninacöes do participio presente latino com aglutinacäo da vogal tematica de cada uma das conjugaeöes. Servem para formar substantivos e, com mais frequencia, adjectivos, que se substantivam facilmente. Sufixos verbais. Os verbos novos da lingua formam-se em geral pelo aeréscimo da ter-minaeäo -ar a substantivos e adjectivos. Assim: esqut-at nivel-ar radiograf-ar telefon-ar (a)doc-ar (a)fin-ar (a)frances-ar (a)portugues-ar A terminacao -ar, já o sabemos, é constituída da vogal temática -a-, característica dos verbos da i.a conjugacao, e do sufixo -r, do infinitivo impessoal. Por vezeš, a vogal temática -a- liga-se nao ao radical propriamente dito, mas a uma forma dele derivada, ou, melhor dizendo, ao radical com a adicao de um sufixo. É o caso, por exemplo, dos verbos: afug-ent-ar bord-ej-ar lamb-isc-ar cusp-inh-ar ded-ilh-ar depen-ic-ar salt-it-ar amen-iz-ar, 74 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEn em que encontramos alguns sufixos anteriormente estudados: -ent(o), -ej(o)1 -isc(o), -inh(o), -ic(o) e -it(o). Säo tais sufixos que transmitem a esses verbos matizes significativos especiais: frequentattvo (accao repetida), factittvo (atribuicäo de urna qualidade ou modo de ser), diminutivo e pejorativo. Mas, como neles a combinacäo de sufixo + vogal temätica (-a) -+- sufixo do infinitivo (-r) vale por um todo, costuma-se considerar näo o sufixo em si, mas o conjunto daqueles elementos morficos, o verdadeiro sufixo verbal. Esta conceituacäo, por simplificadora, apresenta evidentes vantagens didäcticas, razäo por que a adoptamos aqui. Eis os principals sufixos verbais, com a indicagäo dos matizes signj. ficativos que denotam: Sufixo Sentido Exemplificacäo -ear -ejar -entar -(i)ficat -icar -ilhar -inhar -iecar -itar -izar rrequentativo, durativo ................ cabecear, folhear frequentativo, durativo ................ gotejar, velejar factitivo.................................... aformosentar, amolentar facfitivo .................................... clarificar, dignificar frequentadvo-diminutivo ............. bebericar, depenicar frequentadvo-diminutivo ............. dedilhar, fervilhar frequentativo-dkrúnutivo-pejoratívo. escrevinhar, cuspinhar frequentaüVo-diminutivo ............. chuviscar, lambiscar frequenlativo-diminutivo ............. dormitar, saltitar factitivo..................................... civilizar, utilizar Das outras conjugates apenas a z.a possui urn sufixo capaz de format verbos novos em portugués. É o sufixo -teer (ou -escer), caracteristico dos verbos chamados tncoativos, ou seja dos verbos que indicam o comeco de um estado e, as vezeš, o scu desenvolvimento: alvor-ecer anoit-ecer amadur-ecer embranqu-ecer envelh-ecer escur-ecer flor-escer rejuven-escer Em verdade, também -eeer nao é sufixo. Decompöe-se esta termina-cäo em: süfixo (-e[s]e-)+ vogal temätica (-;:ošicäo: Forma Sentido Exemplos anemo- vento anemógrafo, anemómetro antropo- hörnern antropófago, antropológia arqueo- anügo arqueografia, arqueologia biblio- livro bibliografia, biblioteca caco- mau cacofonia, cacografia cali- belo califasia, caligrafia cosmo- mundo cosmógrafo, cosmologia cromo- cor cromolitografia, cromossomo crono- tempo cronologia, cronómetro dactilo- dedo dactilografia, dactiloscopia deca- dez decaedro, decalitro di- dois dipétalo, dissilabo enea- nove eneágono, eneassllabo etno- raca etnografia, etnológia farmaco- medicamento farmacologia, farmacopeia fisio- natureza fisiologia, fisionomia helio- sol heliografia, helioscópio hemi- metade hemísfério, hemistíquio hemo- 1 hemato- J sangue hcmoglobina, hcmatócrito hepta- sete heptágono, heptassllabo 82 breve gramática do portugués c0ntemp0 räneo Forma Sentido Exemplos hcxa- seis hexágono, hexámetro hipo- cavalo hipódromo, hipopótamo hom(e)o- semelhante homeopatia, homógrafo ictio- peixe ictíófago, ictiologia 180- igual isócrono, isóscele(s) lito- pedra litografia, litogravura mega(lo)- grande megatério, megalomaníaco melo- canto melódia, melopeia meso- meio mesóclise, Mesopotamia miria- dez mil miriämetro, miríade miao- que odeia misógino, misantropo mito- fabuk mitologia, mitómano necro- morto necrópole, necrotério nco- novo neolatino, neologismo neuro- 1 ncvro- J nervo neurológia, nevralgia octo- oito octossllabo, octaedro odonto- dente odontologia, odontalgia oftalmo- olho oftalmologia, oftalmoscópio onomato- nome onomatologia, onomatopeia oro- montanha orogenia, orografia orto- recto, justo ortografia, ortodoxo oxi- agudo, penetrants oxígono, oxítono paleo- antigo paleografia, paleontológia pan- todos, tudo panteísmo, pan-americano pato- (sentimento) doenca patogenético, patológia pedo- crianca pediatria, pedológia potamo- rio potamografia, potamologia psico- alma, esplrito psicologia, psicanálise quilo- mil quilograma, quilómetro quiro- mao quiromancia, quiróptero rino- nariz rinoceronte, rinoplastia rizo- ralz rizófilo, rizotónico sidcro- ferro siderólita, siderurgia taqui- rapido taquicardia, taquigrafia teo- deus teocracia, teólogo tctra- quatro tetrarca, tetraedro tipo- figura, marca tipografia, tipologia topo- lugar topografia, toponimia xcno- estrangeiro xenofóbia, xenomania xilo- madeiro xilógrafo, xilogravura 200- animal zoógrafo, zoológia derivacäo e composicäo 83 ObservacSo: Como vemos, a maioria destes radícais assume na composisäo uma forma ter-ininada em -o. Alguns empregam-se também como segundo elemento do composto. É o caso, por exemplo, de -antropo (filantropa), -crotw (isócrono), -dáttílo (pteroäáctilo), -fi/o (germanófilo), -lito (aerólito), -pótamo (hipopótamo) e outros. 2. Funcionam, preferentemente, como segundo elemento da composicäo, entre outros, estes radicals gregos: Forma Sentido Exemplos -agogo que conduz demagogo, pedagogo -algia dot cefalalgia, nevralgia -area que comanda heresiarca, monarca -arquia comando, governo autarquia, monarquia .astenia debilidade neurastenia, psicastenia -cefalo cabeca dolicocétalo, microcetalo -cracia poder democracia, plutocracia -doxo que opina heterodoxo, ortodoxo -dromo lugar para correr hipódromo, velódromo -edro base, face pentaedro, poliedro -fagia acto de comer aerofagia, antropofagia -fago que come antropófago, necrófago -filia amizade bibliofília, lusofilia -fobia inimizade, ódio, temor fotofobia, hidrofobia -fobo que odeia, inimigo xenófobo, zoófobo -foro que leva ou conduz electróforo, fósforo -gamia casamento monogamia, poligamia -gamo que casa blgamo, polígamo -geneo que gera heterogéneo, homogéneo -glota, -glossa lingua poliglota, isoglossa -gono ángulo pentágono, polígono -grafia escrita, descricäo ortografia, geografia -grafo que escreve calígrafo, polígrafo -grama escrito, peso telegrama, quilograma -logia discurso, tratado, ciéncia arqueologia, filológia -logo que fala ou trata diálogo, teólogo -mancia adivinhacäo necromancia, quiromancia -mania loucura, tendencia megalomania, monogamia -mano louco, inclinado bibliómano, mitómano -maquia combate logomaquia, tauromaquia -metria medida anttopometria, biometria -metro que mede hidrómetro, pentámetro -morfo que tem a forma antropomorfo, polimorfo 84 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Forma Sentido Exemplos -nomia lei, regra agronómia, astronómia -nomo que regula autonome, metrónomo -peia acto de fazer melopeia, onomatopeia -pólis, -pole cidade Petrópolis, metropole -ptero - asa díptero, helicóptero -scopia acto de ver macroseopia, microseopia -scópio instrumento pata ver microscópio, telescópio -sofia sabedotia filosofia, teosofia -stico verso dístico, monósdco -tcca lugar onde se guarda biblioteca, discoteca -terapia eura fisioterapia, hidroterapia -tomia corte, divisäo dicotomia, nevrotomia -tono tensäo, tom barltono, monótono HIBRIDISMO Säo palavras híbridAS, ou hibridismos, aquelas que se formám de elementos tirados de línguas diferentes. Assim, em automôvel o primeiro radical é grego e o segundo latino; em sociológia, ao contrário, o primeiro é latino e o segundo grego. As formacôes hĺbridas säo em geral condenadas pelos gramáticos, mas existem algumas täo enraizadas no idioma que séria pueril pretender eli-miná-las. É o caso das palavras mencionadas e de outras, como: autoclave bicicleta blgamo dedmetro endovenoso monóculo ONOMATOPEIA monocultura neolatino oleografia As onomatopeias säo palavras imitativas, isto é, palavras que proeuram reproduzir aproximadamente certos sons ou certos ruídos: tique-taque zás-trás zunzum Em geral, os verbos e os substantivos denotadores de vozes de animals těm origem onomatopeiea. Assim: ciciar chilrcar coaxat cicio (da cigarra) chilreio (dos pássaros) coaxo (da rä, do sapo) perivacso e composicäo 85 ABREVIACÄO VOCABULAR O ritmo acelerado da vida intensa dos nossos dias obriga-nos, neces-sariamente, a uma elocugäo mais rápida. Economizar tempo e palavras é uma tendencia geral do mundo de hoje. Observamos, a todo momento, a reducäo de frases e palavras até Hmi-tes que fläo prejudiquem a compreensäo. É o que sucede, por exemplo, com os vocábulos longos, e em particular com os compostos greco-latinos de criacäo recente: auto (por automôvel), foto (por fotografia), moto (por moto-cicleta), ónibus (por auto-ónibus), pneu (por pneumático), quilo (por quilograma), etc. Em todos eles a forma abreviada assumiu o sentido da forma plena. Siglas. Também moderno —e cada vez mais generalizado— é o processo de criacäo vocabular que consiste em reduzir longos títulos a meras siglas, constituídas das letras iniciais das palavras que os compöem. Actualmente, instituicöes de natureza varia —■ como orgardzacôes inter-nacíonais, partidos políticos, servigos públicos, sociedades comerciais, associates operárias, patronais, estudantis, culturais, recteativas, etc. — säo, em geral, mais conhecidas pelas siglas do que pelas denominacöes com-pletas. Assim: ONU = Organizagäo das Nacôes Unidas UNESCO = United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization OEA = Organizagäo dos Estados Americanos OUA = Organizacäo de Unidade Afričana ABI = Associagäo Brasileira de Imprensa APU = Alianca Povo Unido PCP = Partido Comunista Portugués PPM = Partido Popular Monárquico PS = Partido Socialista PSD = Partido Social Democrático PDS = Partido Democrático Social PDT = Partido Democrático Trabalhista PMDB — Partido do Movimento Democrático Brasilciro PT = Partido dos Trabalhadores PTB = Partido Trabalhista Brasileiro FRELIMO = Frente de Libettagäo de Mogambique S Ď BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO MPLA = Movimento Popular de Libertacäo de Angola PAIGC = Partido Africano da Independéncia da Guiné e Cabo Verde MEC = Ministério da Educacäo e Cultura CGTP = Confederacäo Geral dos Trabalhadores Portugueses UGT = Uniäo Geral dos Trabalhadores UNE = Uniäo Nacionál dos Estudantes TAP = Transportes Aéteos Portugueses VARIG = Viacäo Aérea Rio-Grandense FIFA = Federation Internationale de Football Association E näo é só. Uma vez criada e vulgarizada, a sigla passa a set sentida como uma palavra primitiva, capaz, portanto, de formar derivados: eegeüsta, petebista, etc. Observacäo: Nem sempře uma instituicäo é conhecida pela mesma sigla em Portugal c no Brasil. No Brasil, por exemplo, denomina-se OTAN (= Organizacäo do Tratado do Atläntico Nořte) o organismo que em Portugal se chama NATO (= North Atlantic Treaty Organization), por ter-se aqui vulgarizado a sigla inglesa. Por vezes hi diferenea de acentuaeäo da sigla nos dois palses. Diz-se, por exemplo, ONÜ em Portugal e ÖNU no Brasil. 7. Frase, oracäo, periodo A FRASE E A SUA CONSTITUigÄO t. Frase é um enunciado de sentido completo, a unidade minima de comunicacäo. A parte da gramática que desereve as regras segundo as quais as pala-vras se combinam para formar frases denomina-se sintaxe. 2. A frase é sempre acompanhada de uma melódia, de uma entoa-gao. Nas frases organizadas com verbo, a entoacäo caracteriza o fim do enunciado, geralmente seguido de forte pausa. É o caso destes exemplos: Bate o vento no postigo... / Cai a chůva lentamente... (Da Costa e Silva, PC, 307.) Se a frase näo possui verbo, a melódia é a única marca por que pode-mos reconhecé-la. Sem ela, frases como Atencäo! Que inocéncia! Que alegria! seriam simples vocábulos, unidades léxicas sem funcäo, sem valor gra-matical. Frase e oracäo. A frase pode confer uma ou mais oracoes. r.°) Contém apenas urna oracäo, quando apresenta: 88 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Ita: d) uma só forma verbal, clara on ocu O dia decorreu sem sobressalto. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL,, 491.) Na cabcca, aquela bonita coroa. Qosué Montello, A, 32.) b) duas ou mais formas verbais, integrantes de uma locucao verbal: — Podem vit os dois... (Vitorino Nemésio, MTC, 446.) 2.0) Contém mais de uma oracao, quando há nela mais de um verbo (seja na forma simples, seja na locucao verbal), claro ou oculto: Busco, / volto, / abandono, / e chamo de novo. (Agustina. Bessa Luis, AM, 38.) O Negrinho comecou a chorar, / enquanto os cavalos iam pastando. (Simoes Lopes Neto, CGLS, 332.) Os anos s3o degraus; / a vida, a escada. (Fernanda de Castro, ANE, 73.) OracSo e periodo. 1. Periodo é a frase organizada em oracao ou oracoes. Pode sen a) simples, quando constituldo de uma só oracao: Cai o crcpúsculo. (Da Costa e Silva, PC, 281.) b) composto, quando formado de duas ou mais oracóes: N3o bulia uma folha, / nao cintilava um luzeiro. (Aquilino Ribeiro, ES, 211.) pRASE, ORACAO, PERIODO 89 2. O período terrnina sempře pór uma pausa bem definida, que se niarca na escrita com ponto, ponto de exclamacao, ponto de interrogacao, reticéncias e, algumas vezes, com dois pontos. A ORACAO E OS SEUS TERMOS ESSENC1AIS Sujeito e predicado. 1. Sao termos essenciais da oracáo o sujeito e 0 predicado. O sujeito é o ser sobre o qual se. faz uma declarajao; o predicado é tudo aquilo que se diz do sujeito. Assim, na oracao Este aluno obteve ontem uma boa nota, temos: oracäo sujeito predicado I Este aluno j obteve ontem uma boa nota | 2. Nem sempře o sujeito e o predicado vém materialmente expressos: Assim em: Andei Ičguas de sombra Dcntro cm meu pensamcnto. (Fcrnando Pessoa, OP, 59.) o sujeito de andei é eu, indicado apenas pela desinéncia verbal. Já em: Boa cidade, Santa Rita. (Mario Palmério, VC, 298.) é a forma verbal é que está subentendida. 9o breve gramática do portugues contemporaneo Chamam-se elípticas as oracôes a que falta um termo essencial. E, con-forme o caso, diz-se que o sujeito ou o predicado estäo eiípttcos. Sintagma nominal e verbal. 1. Na oracäo: Este aluno obteve ontem uma boa nota, distinguimos duas unidades maiores: a) o sujeito: este aluno; b) o predicado: obteve ontem uma boa nota. Examinando, porém, o sujeito, vemos que ele é formado de duas palavras: este aluno O demonstrative este é um determinante (det) do substantivo (n) aluno, palavra que constitui o núcleo da unidade. Toda unidade que tern por núcleo um substantivo recebe o nome de slntagma nominal (sn). A oracäo que estamos estudando apresenta, assim, dois sintagmas nominais: a) snI = este aluno; b) sn2 = uma boa nota. 2. Podem ocorrer muitos sintagmas nominais (sn) na oragäo, mas somente urn deles será o sujeito. E, como veremos adiante, a sua posicäo na ordem directa e lógica do enunciado é ä esquerda do verbo, Os demais Sintagmas nominais encaixam-se no predicado. 3. O substantivo, núcleo de um sintagma nominal, admite a presenca de determlnantes (det) —que säo os artigos, os numerais e os prono-mcs adjectivos — e de modificadores (mod), que, no caso, säo os adjec-tivos ou expressôes adjectivas. Os dois sintagmas nominais da oracäo em exame podem ser assim esque-matizados: frase, oracäo, periodo 91 sn1 sn2 I aluno j 4. O sintagma verbal (sv) constitui o predicado. Nele há sempře um verbo, que, quando significativo, é o seu núcleo. O sintagma verbal pode ser complementado por sintagmas nominais e modificado por advérbios ou expressôes adverbiais (mod). A oracäo que nos serve de exemplo obedece, pois, ao seguinte esquema: DET I Este I I aluno | obteve det n mqd j ontem | [ uma| | nota| boa O SUJEITO Reprcsentacao do sujeito. Os sujeitos da i.a e da 2.* pessoa säo, respectivamente, os pronomes pessoais eu e tu, no singular; nos e vós (ou combinacôes equivalentes: eti e tu, tu e ele, etc.), no plural. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO jirASE, ORá^ÁO, PERÍODu 93 Os sujeitos da 3-a pessoa podem ter como núcleo: a) um substantivo: Matilde entendia disso. (Agustina Bessa Luis, OM, 170.) b) os pronomes pessoais ele, ela (singular); eles, elas (plural): Estavam de bracos dados, ele arrumava a gravata, ela ajeitava o chapdu. (Érico Veríssimo, IS, 128.) <■) um pronome demonstrative, relativo, interrogativo, ou indefinido: lato nao lhe arrefece o ánimo? (Augusto Abelaira, NC, 3$.) Achava consolo nos Iivros, que o afastavam cada vez mais da vida. (Érico Veríssimo, LS, 131.) Quem disse isso? (Fernanda Botelho, X, 150.) Tudo parara ao redor de nos. (Clarice Lispector, BF, 81.) a") um numeral: Ambos alteraram os roteiros originais. (Nélida Piňon, FD, 86.) í) uma palavra ou uma expressao substantivada: Infanta, no cxllio amargo, só o existirdes me consola. (Tasso da Silveira, PC, 367.) O por fazer é só com Deus. (Fernando Pessoa, OP, 16.) f) uma oragao substantiva subjectiva: Era forgoso / que foaac assim. (Antonio Sérgio, E, IV, 245.) Sujeito simples e composto. Sujeito simples. Quando o sujeito tem um só núcleo, isto é, quando o verbo se refere ■a um só substantivo, ou a um só pronome, ou a um só numeral, ou a uma só palavra substantivada, ou a uma só oracao substantiva, o sujeito é simples. Esse o caso do sujeito de todos os exemplos atrás mencionados. Sujeito composto. É composto o sujeito que tem mais de um núcleo, ou seja o sujeito constituído de: a) mais de um substantivo: As vozes e os passos aproximam-se. (Manuel da Fonseca, SV, 248.) b) mais de um pronome: Ele e eu somos da mesma raca. (David Mourao-Ferreira, I, 98.) f) mais de uma palavra ou expressao substantivada: Falam por mim os abandonados de justica, os simples de coragao. (Carlos Drummond de Andrade, R, 148.) d) mais de uma oragao substantiva: Era melhor esquecer o nó e pensar numa cama igual á de seu Tomáš da bolandeira, (Graciliano Ramos, VS, 62.) Sujeito oculto (deterininado). 1. É aquele que nao está materialmente expresso na oracao, mas pode ser identificado. A identificacao faz-se: 94 BREVE G RAMATI CA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO a) pela desinéncia verbal: Ficamos um bocado sem falar. (Luis Bernardo Honwana, NMCT, 10.) O sujeito de ficamos, indicado pela desinéncia -mos, é nás. b) pela presenga do sujeito em outra oragäo do mesmo periodo ou de periodo contíguo: Soropita ali viera, na véspera, lá d ormira; e agora retornava a casa. (Guimaräes Rosa, CB, II, 467.) O sujeito de viera, dormira e retornava é Soropita, mencionado na primeira oragäo, antes de viera, 2. Pode ocorrer que o verbo näo tenha desinéncia pessoal e que o sujeito venha sugerido pela desinéncia de outro verbo. Por exemplo, neste periodo: Antes de comunicar-vos uma descoberta que considero de algum interesse para o nosso pais, deixai que vos agradega. o sujeito de considero, indicado pela desinéncia -o, é eu, também sujeito de comunicar, verbo na forma iníinitiva sem desinéncia pessoal. Sujeito indeterminado. Algumas vezes o verbo näo se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quern executa a accäo, ou por näo haver interesse no seu conhecimento. Dizemos, entäo, que o sujeito 6 indeterminado. Nestes casos em que 0 sujeito näo vem expresso na oragäo nem podc ser identificado, pöe-se o verbo: a) ou na j.a pessoa do plural: Reputavam-no o maior comiläo da cidade. (Ciro dos Anjos, MS, 44.) b) ou na 3.a pessoa do singular, com 0 pronome se: Ainda se vivia num mundo de certezas. (Agustina Bessa Luis, OM, 296.) prase, oracäo, período 9J Os dois processos de indeterminaeäo podem concorrer num mesmo periodo: Na Casa pisavam sem sapatos, e falava-se baixo. (Anibal M. Machado, JT, 13.) Oragäo sem sujeito. Näo deve ser confundido o sujeito indeterminado, que existe, mas näo se pode ou näo se deseja identificar, com a inexisténcia do sujeito. Em oragöes como as seguintes: Chove. Anoitece. Faz firio. interessa-nos o processo verbal em si, pois näo o atribuímos a nenhum ser. Diz-se, entäo, que o verbo é impessoal; e o sujeito, inexistente. Eis os principais casos de inexisténcia do sujeito: a) com verbos ou expressöes que denotam fenómenos da natureza: Amanheceu a chover. (Antonio Botto, OA, 235.) b) com o verbo haver na acepgäo de «existir»: Na sala havia ainda trés quadros do pintor. (Fernando Namora, DT, 206.) c) com os verbos haver, fa^er e ir, quando indicam tempo decorrido: Morava no Rio havia muitos anos, desligado das coisas de Minas. (Ciro dos Anjos, MS, 327.) Faz hoje oito dias que comecei. (Augusto Abelaira, B, 133.) Vai para uns quinze anos eserevi uma crónica do Curvelo. (Manuel Bandeira, PP, II, 338.) d) com o verbo ser, na indicagäo do tempo em geral: Era por altura das Iavouras. (Agustina Bessa Luis, S, 187.) BREVE GRAMÁTICA. DO PORTUGUES CONTEMPORANEO ObscrvacÖcs: i.° Nas oracöes impcssoais o verbo ser concorda em numero e pessoa com o predicatlvo. Veja-sc, a ptopósito, o Capítulo i}. z,& Também ocorre a impessoalidade nas locucöes verbais: Como podia haver tantas casas e tanta gente? (Gracilia.no Ramos, VS, 109.) 3. a Na linguagem coloquial do Brasil é corrente o emprego do verbo /er como impessoal, á scmelhanca de haver. Escritores modernos —e alguns dos majores — näo těm duvidado em alcar a construcäo á lingua literária, Hoje tem festa no brejo! (Carlos Drummond de Andrade, R, 16.) o uso de tor impessoal deve cstender-se ao poitugués das nacöes africanas. Da sua vitalidade em Angola há abundante documentacäo na obra de Luan-dino Vieira. — Aqui tem galinha, tem quintal... (L, 63.) 4. a Em sentido íigurado, os verbos que exprimem fenómenos da natu-reza podem ser empregados com sujeíto: Choviam os ditos ao passo que ela seguia pelas mesas. (Almada Negreiros, NG, 92.) Da atitude do sujcito. Com os verbos dc accao. Quando o verbo exprime uma accao, a atitude do sujeito com referenda ao processo verbal pode ser de actividade, de passividade, ou de acti-vidade e passividade ao mesmo tempo. 1. Neste exemplo: Maria levantou o menino. o sujeito Maria exccuta a accao expressa pela forma verbal levantou. O sujcito C, pois, 0 AGENTE. FRASE, 0racä0, PERIODO 2. Neste exemplo: O menino foi levantado por Maria. a accäo näo é praticada pelo sujeito o menino, mas pelo agente da passiva — Maria. O sujeito, no caso, sofre a accäo; é dela o paciente. 3. Neste exemplo: Maria levantou-se. a accäo é simultaneamente exercida e sofrida pelo sujdto Maria. O sujeito é entäo, a um tempo, o agente e o paciente dela. Como vemos, na voz activa, o termo que representa o agente é o sujeito do verbo; o que representa o padente é o objecto directo. Na voz passiva, o objecto (padente) torna-se o sujeito do verbo. Com os verbos de estado. 1. Quando o verbo evoca um estado, a adtude da pessoa ou da coisa que dele pardcipa é de neutralidade. O sujeito, no caso, náo é o agente nem o padente, mas a sede do processo verbal, o lugar onde ele se desenvolve: Pedro é magro. Joao permanece doente. O porteiio ficou pálido. 2. Induem-se naturalmente entre os verbos que evocam um estado, ou melhor, uma mudanca de estado, os incoativos como adoecer, emagrecer, empalidecer, equivalentes a pear doente, pear magro, ficar pálido. O PREDICADO O predicado pode ser nominal, verbal ou verbo-nominal. Predicado nominal. O predicado nominal é formado por um verbo de ligacao + pre-dicattvo. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNeq i. O verbo de ligacäo pode expressar: a) estado permanente: Hitório era o herdeiro da quinta. (Carlos de Oliveira, CD, 90.) b) estado tiansitório: O velho esteve entre a vida e a morte durante uma semana. (Castro Soromenho, TM, 236.) c) mudanga de estado: Amaro ňcou muito perturbado. (Érico VerlssimOj LS, 137.) d) continuidade de estado: O Barbacas continuava alheado e sorridente. (Fernando Namora, TJ, 177.) e) aparéncia de estado: Ela parecia uma figura de retrato. (Autran Dourado, TA, 14.) Observa^äo: Os verbos de ligacäo (ou copulativos) servem para estabelecer a uniäo entre duas palavras ou expressöes de carácter nominal. Näo trazem propria-mcnte ideia nova ao sujeito; funcionam apenas como elo entre este e o seu predicativo. Como há verbos que se empregam ora como copulativos, ora como signifi-cativos, convém atentar sempre no valor que apresentam em determined o tcxto a fim de classificá-los com acerto. Comparem-se, por exemplo, es tas frases: Estavns triste. Estavas em casa. Andci muito preocupado. Andei muito hoje. Fiquci pesaroso. Fiquei no meu posto. Continuamos silenciosos. Continuamos a marcha. pRASE, oracäo, período 99 Nas primeiras, os verbos estar, andar, ficar e continuar säo verbos de ligaeäo; nas segundas, verbos significativos. 2. O predicativo pode ser representado: d) por substantivo ou expressäo substantivada: — O boato é um vício detestável. (Carlos de Oliveira, AC, 183.) Todo momento de achar é um perder-se a si proprio. (Clarice Lispector, PSGH, 12.) b) por adjectivo ou locueäo adjectiva: A praia estava deserta. (Branquinho da Fonseca, MS, 11.) — Esta linha é de morte. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 93.) c) por pronome: Vou calar-me e fingir que eu sou eu... (Abgar Renault, LSL, XVILT.) d) por numeral: Tua alma o um que säo dois quando dois säo um... (Fernando Pessoa, OP, 298.) e) por oraeäo substantiva predicativa: Uma tarefa fundamental é / preservar a história humana. (Nélida Piňon, FD, 73.) Observacpes: i.a o pronome 0, quando funciona como predicativo, č demonstrative: Cada coisa é o que é. (Fernando Pessoa, OP, 175.) breve gramática do portugués contemporáneo O predicativo pode referir-se ao objecto, aplicacao esta que estuda-rcmos adiante. j.a Quando se deseja dar énfase ao predicativo, costuma-se rclembrá-lo com o pronome demonstrative o: Tive depois motivo para crer que o perverso e a peste fora-o ele pró-prio, na intencáo de fazer valer um bom servigo. (Raul Pompéia, A, 50.) é o que se cháma predicativo pleonástico. Predicado verbal. O predicado verbal tem como núcleo, isto é, como eiemento principal da declaracao que se faz do sujeito, um verbo significativo. Verbos significativos sao aqueles que trazem uma ideia nova ao ! sujeito. Podem ser intransitivos e transitivos. Verbos intransitivos. Nestas oracoes de Da Costa e Silva: Sobe a névoa... A sombra desce... (PC, 281.) ; verificamos que a accao está integralmente contida nas formas verbais sobe e desce. Tais verbos sao, pois, intransitivos, ou seja, nao transitivos: a accao nao vai alem do verbo. 1 Verbos transitivos. j i Nestas oracoes de Fernanda Botelho: j i Ele nao me agradece, / nem eu lhe dou tempo. (X, 41.) ; vemos que as formas verbais agradece e dou exigem certos termos para com-pletar-lhes o significado. Como o processo verbal nao está integralmente ' contido nelas, mas se transmite a outros elementos (o pronome me na pri- ' meira oragao, o pronome lbe e o substantivo tempo na segunda), estes verbos cliamam-se transitivos. , frase, oracäo, periodo Os verbos transitivos podem ser directos, indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo. 1. Verbos transitivos directos. Neste exemplo de Agustina Bessa Luis: Ela invejava os homens. (OM, 207.) a accäo expressa por invejava transmite-se a outro eiemento (os homens) direc-tamente, ou seja, sem o auxilio de preposicäo. é, por isso, chamado verbo transitivo DiRECTO, e o tetmo da oraeäo que lhe integra o sentido recebe o nome de objecto di recto. 2. Verbos transitivos indirectos. Neste exemplo: Perdoem ao pobre tolo. (Ciro dos Anjos, DR, 235.) a accäo expressa por perdoem transita para outro eiemento da oraeäo (o pobre tolo) indirectamente, isto é, por meio da preposicäo a. Tal verbo denominate, por conseguinte, transitivo indirecto. O termo da oraeäo que com-pleta o sentido de um verbo transitivo indirecto denomina-se objecto indirecto. 3. Verbos simultaneamente transitivos directos e indirectos. Neste exemplo: O sucesso do seu gesto näo deu paz ao Lomba. (Miguel Torga, NCM, 51.) a accäo expressa por deu transita para outros elementos da oraeäo, a um tempo, directa e indirectamente. Por outras palavras: este verbo requer simultaneamente objecto directo e indirecto para completar-lhe o sentido. Predicado yerbo-nominal. Näo säo apenas os verbos de ligaeäo que se constroem com predicativo do sujeito. Também verbos significativos podem scr empregados com ele. breve gramática do portuguís contemporäneo Neste exemplo: Paulo tiu despreocupado. (Afränio Peixoto, RQ 191.) o verbo rir é significativo. Despreocupado refere-se ao sujeito Paulo, qua-lificando-o. A este predicado misto, que possui dois nucleos significativos (um verbo e um predicativo), dá-se o nome de verbo-nominal. Observagäo: No predicado verbo-nominal o predicativo anexo ao sujeito pode vir antecedido de preposigäo, ou do conectívo como: o acto foi acusado de ilegal. Carlos saiu estudante e voltou como doutor. Variabilidade de predicacao verbal. A análise da transitividade verbal é feita de acordo com o texto e näo isoladamente. O mesmo verbo pode estar empregado ora intransirivamente, ora transitivamente; ora com objecto directo, ora com objecto indirecto. Comparem-se estes exemplos: Perdoai sempre [= intransitivo]. Perdoai as ofensas [= transittvo directo]. Perdoai aos inimigos [= transittvo indirecto]. Perdoai as ofensas aos inimigos [— transittvo directo e indirecto]. A ORA^ÄO E OS SEUS TERMOS INTEGRANTES Examinemos as partes assinaladas nas oracöes abaixo: Alguns colegas mostravam interesse por ele. (Raul Pompéia, A, 234.) Tinha os olhos rasoa de lágrimas. (Agustína Bcssa Luis, £R, 272.) Tenho eBcrito bastantes poemas. (Fernando Pessoa, OP, 175.) frase, oracäo, periodo Näo sei que diga do marido relativamente ao baiie da ilha. (Machado de Assis, OC, I, 935.) No primeiro exemplo, o pronome ele está relacionado com o substan-tivo interesse por meio da preposicäo por; no segundo, o substantivo lágrimas relaciona-se com o adjectivo rasos através da preposicäo de; no terceiro, o substantivo poemas, modificado pelo adjectivo bastantes, Integra o sentido da forma verbal tenho escrito; no quarto, 0 baue da ilha prende-se ao adver-bio relativamente por intermédio da preposicäo a. Vemos, pois, que há palavras que completam o sentido de substan-tivos, de adjectivos, de verbos e de advérbios. As que se ligam por preposicäo a substantivo, adjectivo ou advérbio chamam-se complbmentos nomi-nais. Deriominam-se complementos verbais as que integram o sentido do verbo. COMPLEMENTO NOMINAL O coMPLEMENTo nominal vem, como dissemos, ligado por preposicäo ao substantivo, ao adjectivo ou ao advérbio cujo sentido Integra ou limita. A palavra que tem o seu sentido completado ou integrado encerra «'uma ideia de relacäo e o complemento é o objecto desta relacäo». O complemento nominal pode ser representado por: a) substantivo (acompanhado ou näo dos seus modificadores): o pior é a demora do vapot. (Vitorino Nemésio, MIC, 361.) Só Joana parecia alheia a toda essa actividade. (Fernando Namora, TJ, 231.) b) pronome: Tinha nojo de si mesma. (Machado de Assis, OC, I, 487.) c) numeral: A vida dele era necessária a ambas. (Machado de Assis, OC, I, 393.) io4 breve gramatica do portugues contemporaneo jrase, oracao, periodo 105 d) palavra ou expressao substantivada: Passo, fantasma do meu ser presente, Ebrio, pot intervalos, de urn Al£m. (Fernando Pessoa, OP, 392.) e) oracao completiva nominal: Comprei a consciencia de que sou Ho mem de ttocas com a natureza. (Miguel Torga, CH, 11.) ObservacÖes: 1. * O complemento nominal pode estar integrando o sujeito, o predi-cativo, o objecto directo, o objecto indirecto, o agente da passiva, o adjunto adverbial, o aposto e o vocativo. 2. a Conv^m ter presente que o nome cujo sentido o complemento nominal Integra corresponde, geralmente, a um verbo transitivo de radical seme-lhante: amor da p&tria ........................... amar a patria ödio aos injustos........................ odiar 08 injustos COMPLEMENTOS VERB AIS Objecto directo. Objecto directo e o complemento de um verbo transitivo directo, ou seja o complemento que normalmente vem ligado ao verbo sem pre-posicäo e indica o ser para o qua! se dirige a accäo verbal. Pode ser representado por: a) substantivo: Vou descobrir mundos, quero glöria e fama!... (Guerra Junqueiro, S, 12.) b) pronome (substantivo): Os jornais nada publicaram. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 135.) c) numeral: — Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? (Carlos Drummond de Andrade, CB, 31.) d) palavra ou expressäo substantivada: Como quem compöe roupas O outrora compúnhamos. (Fernando Pessoa, OP, 206.) Perscrutava na quietude o inútil de sua vida. (Autran Dourado, TA, 36.) e) oracao substantiva (objectiva directa): Näo quero que fiques triste. (Jose Regio, SM, 295.) Objecto directo preposicionado. 1. O objecto directo costuma vir regido da preposicäo a: d) com os verbos que exprimem sentimentos: Só näo amava a Jorge como amava ao filho. (Joaquim Paco ďArcos, CVL, 156.) b) para evitar ambiguldade: Sabeis, que ao Mestre vai matá-lo. (Marcelino Mesquita, LT, 66.) c) quando vem antecipado, como nos provérbios seguintes: A hörnern pobre ninguém roube. A medico, confessor e letrado nunca enganes. 2. O objecto directo é obrigatoriamente preposicionado quandc expresso por pronome pessoal oblíquo tónico: Rubiäo viu em duas rosas vulgares uma festa imperial, c esqucccu a sala a mulher e a si. (Machado de Assis, OC, I, 679.) io6 breve gramática do portugués CONTEMP0RANE0 frase, oracao, periodo I07 Objecto directo pleonástico. 1, Quando se quer chamar a atengäo para 0 objecto directo que precede o verbo, costuma-se relembrá-lo pór um pronome oblíquo. É 0 que se chama objecto directo pleonástico, em cuja constituicäo eritra sempre urn pronome pessoal átono: Palavras cria-as o tempo e o tempo as mata. (Jose Cardoso Pires, D, 300.) 2. O objecto directo pleonástico pode também ser constítuído de um pronome átono e de uma forma pronominal tónica preposicionada: Mas näo encontrou Marcelo nenhum. Encontrou-nos a nós. (David Mouräo-Ferreira, I, 23.) Objecto indirecto. r. Objecto indirecto e o complemento de um verbo transitivo indirecto, isto 6, o complemento que se liga ao verbo por meio de prepo-sicäo. Pode ser representado por: a) substantivo: Duvidava da riqueza da terra. (Nelida Pifion, CC, 190.) b) pronome (substantivo): Que ela afaste de ti aquelas dores Que fizeram de mim isto que sou! (Florbela Espanca, S, 24.) f) numeral: Os domingos, porem, pertenciam aos dois. (Fernando Namora, CS, 113.) d) palavra ou expressäo substantivada: Mas — quem daria dinheiro aos pobres? (Ciarice Lispector, BF, 138.) Seu formidável vulto solitario Enche de estar presente o mar e o céu. (Fernando Pessoa, OP, 14.) e) oraeäo substantiva (objectiva indirecta): — Näo te esquecas de que a obediéncia é o primeiro voto das novicas. (Josué Montello, DP, 236.) 2. Näo vem precedido de preposicäo o objecto indirecto representado pelos pronomes pessoais oblíquos me, te, lbe, nos, vos, lbes, e pelo refle-xivo se. Note-se que o pronome obliquo lbe (lbes) é essencialmente objecto indirecto: As noites näo lhe trouxeram repouso, mas deram-lhe, em contrapartida, tempo para a meditaeäo. üoaquim Paco d'Arcos, CVL, 1177.) Luis Garcia dera-se pressa em visitar o filho de Valeria. (Machado de Assis, OC, I, 336.) Objecto indirecto pleonästico. Com a finalidade de realcä-lo, costuma-se repetir o objecto indirecto. Neste caso, uma das formas e obrigatoriamente um pronome pessoal ätono. A outra pode ser um substantivo ou um pronome obliquo tönico antecedido de preposicäo: — Quem lhe disse a voce que estavam no palheiro? (Carlos de Oliveiia, AC, 119.) Predicativo do objecto. i. Tanto o objecto directo como o indirecto podem ser modifi-cados por predicativo. O predicativo do objecto só aparecc no predi-cado verbo-nominal, e é expresso: breve g ramati c a do portuguľs contemporaneo frase, oracao, periodo IO9 a) por substantivo: Uns a nomeiam primavera. Eu Ihe chamo estado de espirito. (Carlos Drummond de Andrade, FA, 125.) /;) por adjectivo: Os trabalhadores da Gamboa julgam-no assombrado. (Orlando Mendes, P, 140.) 2. Como o predicativo do sujEiTO, o do objecto pode vir antece-dido de preposigäo, ou do conectivo como: Quaresma entäo explicou porque o ttatavam por major. (Lima Barreto, TFPQ, 215.) Considero-o como o primeiro dos precursores do espirito moderno. (Antero de Quental, C, 313.) Observacäo: Somente com o verbo cbamar pode ocorrer o predicativo do objecto In-directo: A gente sö ouvia o Pancärio chamar-lhe ladräo e mentiroso. (Castro Soromenho, V, 220.) Agente da passiva. i. Agente da passiva é o complemento que, na voz passiva com auxiliar, dcsigna o ser que pratica a accao sofrida ou recebida pelo sujeito. Este complemento verbal —normalmente introduzido pela preposicao por (ou per) e, algumas vezes, por de— pode ser representado: a) por substantivo ou palavra substantivada: — Esta carta foi escrita por um marinheiro americano. (Fernando Namora, DT, 120.) b) por pronome: A mesrna oragäo foi por mim proferida em Säo Jose dos Campos, minha cidade natal. (CassianoJRicardo, VTB, 26.) c) por numeral: Näo devem ser escutadas por todos; tern de ser ouvidas por um. (Joaquim Pago d'Atcos, CVL, 350.) d) por oragäo substantiva: Mariana era apreciada por todos quantos iam a nossa casa, homens e senhoras. (Machado de Assis, 0C} II, 746.) Transformacäo de oracao activa em passiva. 1. Quando uma oragäo contem um verbo construido com objecto directo, ela pode assumir a forma passiva, mediante as seguintes transfor-magöes: a) o objecto directo passa a ser sujeito da passiva; b) o verbo passa ä forma passiva analitica do mesmo tempo e modo; c) o sujeito converte-se em agente da passiva. Tomando-se como exemplo a seguinte oragäo activa: A inflacäo corröi os salärios. poderiamos coloca-Ia no esquema: oragäo sujeito objecto directo Convertida na oragäo passiva, teriamos: no BREVE GRAmXtICA DO PORTUGUBS CONTBMPORÁNEO PRASE, ORACAO, PERÍODO III Os salários s3o corroidos pela inflate. O seu esquema seria entao: oracáo sujeito agente da passiva 2. Se numa oracao da voz activa o verbo estiver na j.a pessoa do plural para indicar a mdeterminacao do sujeito, na transformacao passiva cala-se o agente. Assim: voz acttva Aumentaram os salários. Condveram a infla$ao. voz passiva Os salários foram aumentados. A inflacao foi contida. Observances: i.a Cumpre nao esquecer que, na passagem de uma oracao da voz actíva para a passiva, ou vice-versa, o agente e o paciente continuam os mesmos; apenas desempenham funcao sintáctica diferente. 2.1 Na voz passiva pronominal, a lingua moderna omite sempře o agente: Aumentou-se o salário dos gráficos. Conteve-se a inflacao em níveis razoáveis. A ORACÁO E OS SEUS TERMOS ACESSÓRIOS Chamam-se acessórios os termos quc se juntám a um nome ou a um verbo para lhes precisar o significado. Embora tragam um dado novo á oracao, nao sao indispensáveis ao entendimento do enunciado. Dai a sua denominacáo. Sáo termos acessórios: a) o adjunto adnominal; b) o adjunto adverbial; c) o aposto. ADJUNTO ADNOMINAL Adjunto adnominal é o termo de valor adjectivo que serve para especiřlcar ou delimitar o significado de um substantivo, quaiquer que seja a funcáo děste. O adjunto adnominal pode vir expresso por: a) adjectivo: Na areia podemos fazer até castelos aoberbos, onde abrigar o nosso ínrimo sonho. (Rubem Braga, CCB, 251.) b) locucao adjectiva: Era um homem de consciěncia. (Augusto Abelaira, NC, 15.) c) artigo (definido ou indefinido): O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. (Clarice Lispector, FC, jr.) d) pronome adjectivo: Deposito a minha dona no limiar da sua moradia. (Fernanda Botelho, X, 118.) e) numeral: Casara-se havia duas semanas. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 29.) f) oragáo adjectiva: Os cabelos, que tinha fartos e Hsos, caíram-lhe todos. (Maria Juditě de Carvalho, AV, 116.) 112 i BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPQRÁNEO '■ FRÄSE, ORACÄO, PEŘÍ ODO 113 ADJUNTO ADVERBIAL Adjunto adverbial e, como 0 nome indica, o termo de valor adverbial que deriota alguma circunstäncia do facto expresso pelo verbo, ou inten-sifica o sentido deste, de um adjectivo, ou de um adverbio. O adjunto adverbial pode vir representado: a) por adverbio: Amou-a perdidamente. (Lygia Fagundes Teiles, DA, 118.) b) por locucäo ou expressäo adverbial: De subito, eu, o Baräo e a criada comecamos a dancar no mcio da sala. (Branquinho da Fonseca, B, 61.) c) por oracäo adverbial: Fechemos os olhos ate que o sol comece a declinar. (Anibal M. Machado, C], 82.) Classificacäo dos adjuntos adverbiais. é difícil enumerar todos os tipos de adjuntos adverbiais. Muitas : vezeš, só em face do texto se pode propor uma classificacäo exacta. Näo obstante, convém conhecer os seguintes: i a) de causa: j i Por que lhes dais tanta dor?l | (Augusto Gil, LJ, 25.) [ b) DE COMrANHIA: I Vivi com Daniel perto de dois anos. I (Clarice Lispector, BF, 79.) <■) de dúvida: Talvez Nina tivesse razäo... (Vitorino Nemésio, MTC, 105.) d) de hm: Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo. (Marqués de Marica, M, 87.) e) de instrumento: Dou-te com o chicote, ouvistel (Luandino Vieira, L, 41.) f) de lntensidade: Gosto muito de ti. (Miguel Torga, NCM, 32.) g) de lug ar: O vulto escuro entrou no jar dim, sumiu-se em meio as ärvores. (Erico Verissimo, LS, 13;.) h) de materia: Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melan-colia. (Machado de Assis, OC, I, 413.) t) de meio: Estarei talvez confundindo as coisas, mas Anibal ainda viajava de bici-cleta, imagineml (Augusto Abelaira, NC, 19.) j) de modo: Vagarosamente ela foi recolhendo o fio. (Lygia Fagundes Teiles, ABV, 7.) /) de negacäo: —■ Näo, senhor Cónego, vejo. Mas näo concordo, näo aceito. (Bernardo Santareno, TPM, 109.) breve gramatica do portugues contemporaneo m) de tempo: Todas as manhäs ele sentava-se cedo a essa mesa e escrevia até as dez, oáze horas. (Pedro'Nava, BO, 330.) APOSTO 1. Aposto é o termo de carácter nominal que se junta a um substan-tivo, a um pronome, ou a um equivalente destes, a título de expiicagäo ou de apreciacäo: Eles, os pobres desesperados, tinham uma eufória de fantoches. (Fernando Namora, DT, 237.) 2. Entre o aposto e o termo a que ele se refere há em geral pausa, marcada na escrita por urna virgula, como no exemplo adma. Mas pode também näo haver pausa entre o aposto e a palavra principál, quando esta é um termo genérico, especificado ou individualkado pelo aposto. Por exemplo: A cidade de Lisboa O rei D, Manuel O poeta Bilac O més de Junho Este aposto, chamado de especdticacao, näo deve ser confundido com certas consttucôes formalmente semelhantes, como: O clima de Lisboa A época de D. Manuel O soneto de Bilac As festas de Junho em que de Lisboa, de Bilac, de D. Manuel e de Jtmbo equivalem a adjectivos (= lisboeta, bilaquiano, manuelina e juninas) e ŕuncionam, portanto, como atri- butos ou adjuntos adnominais. 3. O aposto pode também: a) ser representado por urna oracäo. Homcm fcio tem esta vantagem: mulher burra näo o persegue. (Gilberto Amado, DP, 254.) I ynASE, ORACÄO, PERÍODO_ j, j ' n ! b) referir-se a urna oragäo inteira: O importante é saber para onde puxa mais a corredeira — coisa, aliás sem grandes mistérios. (Márío Palmérío, VC, 375.) c) ser enumerativo, ou recapitulativo: Tudo o fazia lembrar-se dela: a manhä, os pássaros, o mar, o azul do céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobre-tudo as fontes, principalmente as fontes! \ (Almada Negreiros, NG, 112.) Os porcos do chiqueiro, as galinhas, os pés de bogari, o cardeiro da estráda, as cajazeiras, o bode manso, tudo na casa de seu compadre parecia ' mais seguro do que dantes. ; Qosé Lins do Rego, FM, 289.) i Valor sintáctico do aposto. O aposto tem o mesmo valor sintáctico do termo a que se refere. Pode, assim, haver: a) aposto no sujeito: Ela, Dora, foi, de resto, muitlssimo discreta. ; (Maria Judite de Carvalho, AV, 105.) b) aposto no predicativo: Ele era o famoso Ricardäo, o hörnern das beiras do Verde Pcqueno. ; (Guimaräes Rosa, GS-V, 203.) c) aposto no complemento norninal: i Joao Viegas está ansioso por um amigo que se demora, o Calisto. : (Machado de Assis, OC, II, 521.) d) aposto no objecto directo: Jogamos uma partida de xadrez, uma luta renhida, quasc duas horas... (Augusto Abelaira, NC, 54.) ; e) aposto no objecto indirecto: i Meu pai cortava cana para a égua, sua montaria prcdilcta. i (Jorge Amado, MG, 13.) lití BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO frase, oracäo, periodo "7 /) aposto no agente da passiva: As paiedes foram levantadas por Tomáš Manuel, avô do Engenheiro. (José Cardoso Pires, D, 63.) g) aposto no adjunto adverbial: Vocé näo tem relacôes aqui, no Rio, menino? (Lima Barreto, REIC, 89.) h) aposto no aposto: Os primeiros foram os Vilelas, família composta de Justiniano Vilek, chefe de seccäo aposentado, D. Margarida, sua esposa, e D. Augusta, sobrinha de ambos. (Msichado de Assis, OC, II, 193.) í) aposto no vocativo: Razäo, irmä do Amor e da Justica, Mais uma vez escuta a minha prece. (Antero de Quental, SC, 71.) Aposto e predicativo. Com o aposto atribui-se a um substantivo a propriedade representada por outro substantivo. Os dois termos designam sempře o mesmo ser, o mesmo objecto, o mesmo facto ou a mesma ideia. Por isso, o aposto näo deve ser confundido com o adjectivo que, cm funcäo de predicativo, costuma vír separado do substantivo que modi-fica por uma pausa sensível (indicada geralmente por vírgula na escrita). Numa oracáo como a seguinte: E a noite vai descendo muda e calma... (Florbcla Espanca, S, 60.) que também poderia ser enunciada; E a noite, muda e calma, vai descendo... ou: E, muda e calma, a noite vai descendo... muda í- calma é predicativo de um predicado verbo-nominal. O mesmo raciocínio aplica-se ä análise de oracöes elipticas, cujo corpo se reduz a um adjectivo que nelas desempenha a funcäo de predicattvo. É o caso de frases do tipo: Rico, desdenhava dos bumildes. em que rico näo é aposto. Equivale a uma oracäo adverbial de causa [= porque era rico], dentro da qual exerce a funcäo de predicativo. O adjectivo, enquanto adjectivo, «näo pode exercer a funcäo de aposto, porque ele designa uma característica do set ou da coisa, e näo o proprio ser ou a propria coisa». VOCATTVO Examinando estes versos de Antonio Nobre: Manuel, tens razäo. Venho tarde. Desculpa. (ß, Ji.) Ó sirtos de Santa Clara, Por quem dobrais, quem morreu? balöezinhos papelzinho papéi(s) + zinhos > papeizinhos colarzinho colare(s) -f- zinhos > colarezinhos cäozito cäe(s) + zitos > cäezitos Substantivos de um só numero. i. Há substantivos que só se empregam no plural. Assim: alvlssaras cäs fezes primicias 140 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUĽS CONTEMPORÁNEO SUBSTANTIVO 141 anais antolhos arredorcs bclas-artcs calendas condoléncias esponsais exéquias fas tos férias matinas nuptias óculos olheiras pésames víveres copas (naipe) espadas (naipe) ouros (naipe) paus (naipe) 2. Outros substantivos existem que se usam habituaimente no singular. Assim os nomes de metais e os nomes abstractos: ferro, oiiro, cobre; fé, esperanca, caridade, Quando aparecem no plural, tém de regra um sen-tido diferente. Comparem-se, por exemplo, cobre (metal) a cobres (dinheiro), ferro (metal) a ferros (ferramentas, aparelhos). Substantivos compostos. Näo é fácil a formaeäo do plural dos substantivos compostos. Obser-vem-se, porém, as seguintes normas, com fundamento na grafia: i.a) Quando o substantivo composto é constituído de palavras que se eserevem ligadamente, sem hífen, forma o plural como se fosse um substantivo simples: aguardente(s) clarabóia(s) varapau(s) ferrovia(s) malmequer(es) lobisomen(s) pontapé(s) vaivén(s) z.a) Quando os termos componentes se ligám por hífen, podem variar todos ou apenas um deles: Singular Plural Singular Plural couve-ŕlor obra-prima salvo-conduto couves-flores obras-primas salvos-condutos gräo-mestre guarda-marinha guarda-roupa gräo-mestres guardas-marinha guarda-roupas Note-se, porém, que: d) quando 0 primeiro termo do composto é verbo ou palavra invariá-vcl e 0 segundo substantivo ou adjectivo, só 0 segundo vai para 0 plural: Singular Plural Singular Plural guarda-chuva semprc-viva vice-presidente guarda-chuvas semprc-vivas vice-presidentes bate-boca abaixo-assinado gräo-duque bate-bocas abaixo-assinados gräo-duques b) quando os termos componentes se ligám por preposicäo, só o primeiro toma a forma de plural: Singular Plural Singular Plural chapéu-de-sol päo-de-ló pé-de-cabra chapéus-de-sol päes-de-ló pés-de-eabra peroba-do-campo joäo-de-barro mula-sem-eabega perobas-do-campo joôes-de-barro mulas-sem-eabeca e) também só 0 primeiro toma a forma de plural quando 0 segundo termo da composicäo é um substantivo que funciona como determinante específico: Singular Plural Singular Plural navio-escola salário-familia navios-escola salários-família banana-prata manga-espada bananas-prata mangas-espada d) geralmente ambos os elementos tomam a forma de plural quando 0 composto é constituído de dois substantivos, ou de um substantivo e um adjectivo: Singular Plural Singular Plural carta-bilhete tenente-coronel amor-perfeito cartas-bilhetes tenentes-coronéis amores-perfeitos gentil-homem água-marinha vitória-régia gentis-homens águas-marinbas vitórias-régias GÉNERO 1. Há dois géneros em portugués: o masculino e o feminino. O masculino é o termo näo mareado; o ferninino, o termo mareado. 2. Pertencem ao género masculino todos os substantivos a que se pode antepor o artigo 0: o aluno o päo o poema o jabuti 14* BREVE GRAMÁTTCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEQ SOBSTANTIVO r43 Pertencctn ao género feminino todos os substantivos a que se pode antcpor o artigo a: a casa a mao a ema a juriti 3. O género de um substantívo näo se conhece, de regra, nem pela sua significacäo, nem pela sua terminagäo. Para facilidade de aprendizado, convém, no entanto, saber: Quantr ä significacäo: i. Säo geralmente masculinos: a) os nomes de homens ou de funcöes por eles exercidas: Joäo mestre padre iei b) os nomes de animals do sexo masculino: cavalo galo gato peru c) Os nomes de lagos, monies, oceanos, rios e ventos, nos quais se subentendem as palavras /ago, monte, oceano, rio e vento, que säo masculinas: o Amazonas [= o rio Amazonas] o Atläntico [= o oceano Atläntico] o Ladoga [= o Iago Ladoga] o Minuano [= o vento Minuano] os Alpes [= os montes Alpes] d) os nomes de meses e dos pontos cardeais: marco findo setembro vindöuro o Norte o Sul 2. Säo geralmente fernininos: a) os nomes de mulheres ou de funcöes por elas exercidas: Maria professora fřeira rainha b) os nomes de animais do sexo feminino: egua galinha gata perua f) os nomes de cidades e ilhas, nos quais se subentendem as palavras cidade e ilha, que säo femininas: a antiga Ouro Preto a Sicília as Antilhas Observacäo: Alguns nomes de cidades, como Rio de Janeiro, Porto, Cairo, Havre, säo masculinos pelas razöes que aduzimos, no Capítulo seguinte, ao tratarmos do EMPREGO DO ARTIGO. Quanto ä terminacao: 1. Säo masculinos os nomes terminados em -o átono: o aluflo o livro o lobo o banco 2. Säo geralmente fernininos os nomes terminados em -a átono: a aluna a caneta a loba a mesa Exceptuam-se, porém, elima, cometa, dia, fantasma, mapa, planeta, ték-fonema, fonema e outros mais, que seräo estudados adiante. 3. Dos substantivos terminados em -äo, os coneretos säo masculinos e os abstractos, fernininos: o agriáo o algodäo a educajäo a opiniäo o balcäo o feijäo a produeäo a recordacao Exceptua-se mäo, que, embora concreto, é feminino. Fora desses casos, é sempře difícil conhecer-se pela terminaeäo o género de um dado substantivu. FORMAQÄO DO FEMININO Os substantivos que designam pessoas e animais costumam flexionar-se em género, isto é, tém geralmente uma forma para indicar os seres do sexo masculino e outra para indicar os do sexo feminino. Assim: 144 breve gramática do portogues contemporaneo substanttvo H5 Masculino Feminino Masculino Feminino honiem mulher bode cabra aluno aiuna galo gaiinha cidadiio cidadä leitäo leitoa cantor cantora baräo baronesa profeta profetisa lebräo lebre Dos exemplos acima verifica-se que a forma do feminino pode ser: a) completamente diversa da do masculino, ou seja proveniente de um radical distinto: bode cabra hörnern mulher b) derivada do radical do masculino, medíante a substituicäo ou o acréscimo de desinéncias: aluno aluna cantor cantora Examinemos, pois, a luz desses dois processos, a formacao do feminino dos substantivos da nossa lingua. Masculinos e femininos de radicals diferentes. Convem conhecer os seguintes: Masculino Feminino bode cabra boi (ou touro) vaca cäo cadda carnciro ovelha cavalheiro dama cavalo égua compadre comadre frei sóror (ou soror) Masculino. Feminino genro nora hörnern mulher macho fémea marido mulher padrasto madrasta padrinho madrinha pai mäe zángäo abelba Femininos derivados de radical do masculino. Regras gerais: i.a) Os substantivos tcrminados em -o átono formám normalmente o feminino subsütuindo essa desiněncia por -a: Masculino Feminino Masculino Feminino gato gata pombo pomba lobo loba aluno aluna Obscrvacäo: Alem das formacöes irreguläres, que vimos, hä um pequeno numero de substantivos terrninados em -o, que, no feminino, substituem essa final por desi-nencias especiais. Assim: Masculino Ferninino Masculino Feminino däácono galo diacordsa gaiinha maestro silfo maestrina silfide 2.a) Os substantivos terrninados em consoante formám normalmente o feminino com o acréscimo da desinéncia -a, Exemplos: Masculino Feminino Masculino Feminino camponés fregués camponesa freguesa leitor pintot leitora pintora Regras especiais: i.a) Os substantivos terrninados em trés maneiras: -äo podem formar o feminino de a) mudando a final -äo em -oa: Masculino Feminino Masculino Feminino ermitäo horteläo ermitoa horteloa leitäo pattäo leitoa patroa BREVE GRAMÁTICA DO POS.TUGUÉS CONTEMPORANEO SUBSTANTTVO b) mudando a final -So em -ä: Masculino Feminino Masculino Feminino aldeäo anäo aldeä ana casteläo cidadäo castelä cidadä ť) mudando a final -ao em -ona: Masculino Feminino Masculino Feminino bonachäo foJiäo bonachona foliona moleiräo solteiräo moleiiona solteiiona !47 Observagäo: De embassador há, convencionalmente, dois femininos: embaixa/n'z (a csposa de embaixador) e embaixadora (funcionária chefe de embaixada), 3-a) Certos substantivos que designam títulos de nobreza e dignida-des formám o feminino com as terrninacöes -esa, -essa e -isa: Masculino Feminino Masculino Feminino abade abadessa diácono diaconisa baräo baronesa duque duquesa conde condessa sacerdote sacerdotisa ObservacSes: i.» Como se v&, os substantivos que fazem o feminino em -ona sao ou aumentativos ou adjectives substantivados. z.a Alem dos anomalos coo e qdngao, a que ja nos referimos, nao seguem estes tres processos de formacao os substantivos seguintes: Masculino Feminino Masculino Feminino baräo baronesa magänäo magana ladräo ladra perdigäo perdiz lebräo lebre sultäo sultana Usa-se äs vezes ladrona por ladra. 2.a) Os substantivos terrninados em -or formám normalmente o feminino, como dissemos, com o aeréscimo da desinéncia -a: Masculino Feminino Masculino Feminino pastor pastora remador remadora Alguns, porém, fazem o feminino em -eira. Assim: cantador — canta- deira, ceryidor — cer^ideira. Outros, dentre os finalizados em -dor e -tor, mudam estas terrninacöes em -t rity. Assim: actor — actrity, tmperador— imperativy. Observagäo: De prior hi o feminino prioresa (superiora de certas ordens) e priora (irmä da Ordern Terceira). Principe faz no feminino princesa. 4.a) Os substantivos terrninados em -e, näo incluídos entre os que acabamos de mencionar, säo geralmente uniformes. Essa igualdade formal para os dois géneros é, como veremos adiante, quase que absoluta nos finalizados em -nte, de regra originários de participios presentes e de adjectivos uniformes latinos. Há, porém, um pequeno numero que, ä semelbanga da substituigäo -o (masculino) por -a (feminino), troca o -e por -a. Assim: Masculino Feminino Masculino Feminino elefante elefanta mestre mestra governante governanta monge monja infante infanta parente parenta Observagäo: Os femininos giganta (de gigante), bůspeda (de bóspcde) e presidenta (de presidente) tém ainda curso restrito no idioma. 5-a) Säo dignos de nota os femininos dos seguintes substantivos: 148 breve gramatica do portugués contemporáneo í substantiv o «49 Masculino Femínino Masculino Femínino avô avó maestro maestrina consul consulesa píton pitonisa czar czarina poeta poetisa fclá felaína profeta profetisa fradc freita rajá táni grou grua rapaz rapariga, moca herói heroina rei rainha jogral jogralesa réu ré Obser vacäo: Rapariga é o femínino de rapa^ mais usado em Portugal. No Brasil, prefe-re-se moca em razäo do valor pejorativo que, em certas regiôes, o primeiro termo adquiriu. SUBSTANTÍVOS UNIFORMES Substantívos epicenos. Denominam-se epicenos os nomes de animals que possuem um só género gramatical para designar um e outro sexo. Assim: a aguia a baleia a borboleta a cobra a mosca a onca a pulga a sardinha o besouro o condor o crocodilo o gaviäo o polvo o rouxinol o tatu o tigre Observacao: Quando há necessidade de especificar o sexo do animal, juntam-se entäo ao substantivo as palavras macho e fémea: crocodilo macho, crocodilo fšmea; o macho ou a fémea do jacaré. Substantívos sobrecomuns. Observacao: Neste caso, querendo-se discriminar o sexo, diz-se, por exemplo: o conjuge femínino; uma pessoa do sexo masculino. Substantívos comuns de dois generös. Aiguns substantívos apresentam uma só forma para os dois géneros, mas distinguem o masculino do femínino pelo género do artigo ou de outro determinativo acompanhante. Chamam-se comuns de dois géneros estes substantívos. Exemplos: Masculino Femínino Masculino Feminíno o agente a agente o herege a herege o artista a artista o imigrante a imigrante o camarada a camarada o indígena a indígena o colega a colega o interprete a interprete o colegial a colegial o jovem a jovem o cliente a cliente o jornalista a jornalista o compatriota a compatriota o mártir a mártir o dentista a dentista o selvagem a selvagem o estudante a estudante o servente a servente o gerente a gerente o suicida a suicida Observacôes: i.a Säo comuns de dois géneros todos os substantívos ou adjectivos substantivados terminados em -ista: o pianista, a pianista; um anarquista, uma anarquista. z.a Diz-se, indiferentemente, o ptrsonagem ou a personagem cbm referencia ao protagonista homem ou mulher. Chamam-se sobrecomuns os substantívos que tém um só género gramatical para designarpessoas de ambos os sexos. Assim: o algoz o apóstolo o carrasco o conjuge o indivlduo o vctdugo a cnanca a críatura a pessoa a testemunha a vítima Mudanca de sentido na mudanca de género. Há um certo numero de substantívos cuja significacäo varia com a mudanca de género: IJO BREVE GRAMÁTICA DO P0RTUGUĚS CONTEMPORÁNEO SOBSTANTIVO 151 Masculino o cabeca o caixa o capital o cisma o corneta o eura Feminine Masculino Feminino a cabeca a caixa a capital a cisma a corneta a cura guarda guia Iente lingua moral yoga a guarda a guia a lente a lingua a moral a voga Substantivos maaculinos terminados em -a. Vimos que, embora a final -a seja de regra denotadora do feminino, há vários masculinos com essa terminacäo: artista, camarada, colega, poeta, projeta, etc. Alguns destes substantivos apresentam uma forma propria para o feminino, como poeta (poetisa) e projeta (projetisa); a maioria, no entanto, distingue o género apenas pelo determinativo empregado: 0 compatriota, a compatriota; este jornalista, aquela jornalista; meu camarada, minha camarada. Um pequeno numero de substantivos em -a existe, todavia, que só se usa no masculino por designar profissäo ou actividade propria do hörnern. Assim: jesuita monarca nauta papa patriarca pirata heresiarca tetrarca Observances: i.a Entre os substantivos que designam coisas, säo masculinos os terminados em -ema e -oma que se originam de palavras gregas: anátema cinema diadema dilema emblema edema estratagema fonema poema problema sistema telefonema tema teoréma trema diploma idioma aroma axioma coma i.a Embora a palavra grama se use tambem no genero feminino (qmnben-tasgramas), os seus compostos mantem-se no genero masculino: urn miligratna, 0 quilograma. Substantivo de genero vacilante. Substantivos ha em cujo emprego se nota vacilacao de genero. Eis alguns, para os quais se recomenda a seguinte preferencia: a) género masculino: ágape antilope caudal clä contralto diabete(s) b) género feminino: abusäo alcfone aluviäo áspide fades filoxera gengibre lanca-perfume praca (soldado) jagana juriti omoplata sanduiche soprano suéter ordenanca sentinela sucuri GRAU Um substantivo pode apresentar-se: a) com a sua significagäo normal: cbapéu, boca; b) com a sua significaeäo exagerada, ou intensifjeada disforme ou des-prezivelmente (grau aumentativo) : chapeläo, bocarra; cbapéu grande, boca enorme; c) com a sua significaeäo atenuada, ou valorizada afectivamente (grau diminuttvo) : cbapeusjnho, boquinba; cbapéu pequeno, boca minuscula. Vemos, portanto, que a gradacäo do significado de um substantivo se faz por dois processos: a) srNTETiCAMENTE, mediante o emprego de sufixos especiais, que estudámos no Capitulo 6; assim: cbape-1-äo, boc-arra; cbapeu-^inho, boqu-inha; b) analiticamente, juntando-lhe um adjectivo que kidique aumento ou diminuicao, ou aspectos relacionados com essäs nocöes: cbapéft grande, boca enorme; cbapéu pequeno, boca minuscula. Valor das formas aumentativas e diminutivas. Convém ter presente que o que denominamos aumentativo e dimi-NUTivo nem sempře indica o aumento ou a cUminuicäo do tamanho de um ser. Ou melhor, essas nocöes säo expressas em geral pelas formas analíticas, espedalmente pelos adjectivos grande e pequeno, ou sinónimos, que acompa-nham o substantivo. Os sufixos aumentativos de regra emprestam ao nome as ideias de des-proporcäo, de disformidade, de brutalidade, de grosseria ou de coisa des-prezível. Assim: narigäo, beiforra, pratalba% ou pratarra^, atrevidap, porca-Ihäo, etc. Ressalta, pois, na maioria dos aumentativos, esse valor deprecia- tivO ou pejorativo. Os sufixos diminutivos apresentam em geral valor afectivo. O seu emprego mostra o interesse emodonal, o sentimento de quem fala ou esereve 152 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO SUBSTANTIVO 153 naquilo que enunda. Dai a frequencia com que aparecem nas formas de carinho. Especializacäo de formas. Muitas formas, originariamente aumentativas e diminutivas, adquiri-ram, com o correr do tempo, significados especiais, por vezes dissociados do sentido da palavra derivante. Nestes casos, näo se pode mais, em rigor, falar em aumentativo ou diminutivo. Säo, na verdade, palavras na sua acepcäo normal. Assim: cartäo ferräo floräo portäo cartilha cavalete corpete lingueta flautim pastilha folhinha (= calendá- vidrüho rio, no Brasil) EMPREGO DO SUBSTANTIVO Fußcöes sintäcticas do substantivo. O substantivo pode figurar na oracäo como: 1. Sujeito: 2. Predicattvo: a) do sujeito: Eu ja näo sou funcionario. (Castro Soromenho, TM, 243.) b) do objecto directo: De toda parte, aclamavam-no heröi. (Raul Pompeia, A, 108.) c) do objecto indirecto: Eram capazes de me cfiamar sacristäo. (Fernando Namora, TJ, 214.) Irmäo Ihc chamaria... (Carlos Drummond de Andrade, R, 169.) 3. Objecto directo: O velbo näo desvia os olhoa. (Alves Redol, FM, 195.) 4. Objecto lndirecto: O que Amelia, naquele instante, pediria a Deus? (Jose Lins do Rego, FM, 236.) 5. Complemento nominal: O talento e um complexo de virtudes, äs vezes inseparäveis de defeitos. (Fernando Namora, E, 119.) 6. Adjunto adverbial: Contemplaram-se em silenclo. (Erico Verissimo, LS, 153.) 7. Agente da passiva: A investida 6 observada de longe pelos sitiantes. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 355.) 8. Aposto: Os dois, governador e filho, encarregaram-se de todos os aprestos da sua viagem para o Paraguai. öaime Coftesäo, IHB, LT, 104.) 9. VocATrvo: Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina... (Florbela Espanca, S, 96.) Substantivo como adjunto adnominal. i. Precedido de preposicäo, pode o substantivo formar uma locu-5X0 ADjEcnvA, que funciona como adjunto adnominal. Assim: uma vontade de ferro [ = férrea] um menino äs direitas [ = correcto] BREVE GRAMjÍTICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÍNEO 2. Em funcao de adJunto adnominal, pode também o substantivo tefcrir-se directamente a outro substanttvo. Comparem-se expressoes do tipo: um riso canalha uma recepgao monstro Substantivo, caracterizador de adjectivo- Os adjectivos referentes a cores podem ser modifkados por ran substantivo que melhor precise uma de suas tonalidades, um de seus mati-zes. Assim: amarelo-canário vcrde-garrafa azul-petróleo roxo-batata O substantivo como núcleo das frases sem verbo. As frases nomtnais, organizadas sem verbo, tém o substantivo como centra. É o que se verifica, por exemplo: a) nas exclamacoes: Ó bendita paisagem! Terra estranha De antigos pinheirais e alegres campos, Ei-la sUéneio, solidao, montanha! (Teixeira de Pascoaes, OC, rV, 34.) b) nas indicacoes sumárias: Canto litúrgico em latim abastardado: Vozes rurais e gritadas, quase todas fenúninas. Sobe o pano. Escuro total. Silěncio. (Bernardo Santareno, TPM, 9.) c) em titulos como: Amanha, Benfica e Flamengo no Maracana. Artigo ARTIGO DEFINIDO E INDEFINLDO Dá-se o nome de artigo ás palavras o (com as variacoes a, os, as) e um (com as variacoes uma, uns, mias), que se antepóem aos substantivos para indicar: a) que se trata de um ser já conhecido do leitot ou ouvinte, seja por ter sido mencionado antes, seja por scr objecto de um conhecimento de experiéncia, como neste exemplo: Atravessaram o pátio, deixaram na escuridao o chiqueiro e o curíal, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. (Graciliano Ramos, VS, 161.) b) que se trata de um simples representante de uma dada espécie ao qual nao se fez mencao anterior: Vi que estávamos num velho solar, de čerta imponéncia. Uma facbada de muitas janelas perdia-se na escuridao da noite. No alto da escada saía das sombras um alpendre assente em grossas colunas. (Branquinho da Fonseca, JB, 21.) No primeiro caso dizemos que o artigo é definido; no segundo, inde-finido. i56 BREVE GRAMÁTlCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO ARTIGO FORMAS DO ARTIGO Formas simples. i. Säo estas as formas simples do artigo: Artigo definido Artigo indcfinido Singular Plural Singular Plural Masculino 0 OS um uns Feminino a as uma umas 2. No portugués antigo havia as formas lo (la, los, las) e el do artigo definido. 3. A forma arcaica el do artigo masculino fossilizou-se na titulatura el-rei, talvez por influéncia da conservadora linguagem da Corte. Formas combinadas do attigo definido. i. Quando o substantivo, em funcäo de complemento ou de adjunto, se constrói com uma das preposicöes a, de, em e por, o artigo definido que o acompanha combina-se com essas preposicöes, dando: Preposicöes Artigo definido os a ao ä aos äs de do da dos das cm no na nos nas por (per) pelo pela pelos pelas por urn acento grave sobre a vogal (a). Assim: Vou a 4- a cidade = Vou ä cidade preposicäo que introduz o adjunto adverbial do verbo ir. artigo que determina o substantivo cidade. a craseado, a que se aplica o acento grave Näo raro, o a. vale como reducäo sintáctica da expressäo a moda de (= a maneira de, ao estilo de): Mas o major? Por que näo ria á inglesa, nem ä alemä, nem ä francesa, nem á brasileira? Qual o seu género? (Monteiro Lobato, U, 117.) Como se vé, o conhecimento do emprego da forma feminina do artigo definido é de grande importánda para se aplicar acertadamente o acento grave denotador da erase com a preposicäo a. Tal conhecimento rorna-se mesmo imprescindivei no caso dos falantes do portugués do Brasil, que näo djstinguem, pela pronunda, a vogal singela a (do artigo ou da preposicäo) daquela proveniente de erase. Convém, por ísso, atentar-se sempre na construeäo de determinada palavra com outras preposicöes para se saber se ela exige ou dispensa o artigo. Assim, escreveremos: Vou á feira e, depois, irei a Copacabana. porque também diremos: Vim da feira e, depois, passei por Copacabana. 3. Quando a preposicäo antecede o artigo definido que faz parte do titulo de obras (livros, revistas, jornais, contos, poemas, etc.), näo há urna prática uniforme. Na lingua eserita, porém, deve-se neste caso: a) ou evitar a contraccäo, pelo modelo: 2. Crase. O artigo definido feminino, quando vem precedido da pre- } posicäo a, funde-se com ela e tal fusäo (= crase) é representada na eserita Camßes é o autor de Os Lusíadas. A notícia saiu em O Globo. 158 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEQ ARTIGO x59 b) ou indicar pelo apostrofo a supressäo da vogal da preposicäo: Camöes é o autor ďOs Lusíadas. A notícia saiu n'O Globo. Tenha-se presente que as grafías dos Lusíadas c no Globo —talvez as mais frequentes — deturpam o titulo do poema e do jornal em causa. Observagäo: As duas solucöes apontadas säo admitidas pela ortografia portuguesa. No Brasil, porém, o Formulário Ortográfico de 1943 näo preceiťua o emprego do apostrofo para indicar a supressäo da vogal da preposicäo. 4. Quando a preposicäo que antecede o artigo está relacionada com o verbo, e näo com o substantivo que o artigo introduz, é aconselhável que os dois elementos fiquem separados, embora näo faltem exemplos da sua aglutinacäo na prática dos melhores escritores: A ciicunstäncia de as vindimas juntarem a família prestava-se a uma reuniäo anual na Junceda. (Miguel Torga, V, 159.) Formas combinadas do artigo indefinido. i. O artigo indefinido pode conttair-se com as preposicöes em c de, originando: num numa nuns numas dum duma duns dumas 2. As preposicöes em e de, antepostas ao artigo indefinido que integra o titulo de obras, separam-se dele na escrita: Sofiriamos do que, em Um olhar sobre a Vida, qualifiquei de «insonia intcrnacionab>. (Genolino Amado, RP, 21.) Ou no cnso da outra Maria, a de «Um capitäo de voIuntários», criatura esta «mais quente e mais fria do que ninguém». (Augusto Meyer, SB, 45.) 3. Também näo é aconselhável a contraccäo do artigo indefktido com a preposicäo que se relaciona com o verbo, e näo com o substantivo que o artigo introduz: A obra atrasou-se em virtude de uns operários se térem acidentado. VALORES DO ARTIGO A determinacao. Quer seja definido (o e suas variacôes a, os,- as), quer seja indefinido {um e suas variacôes uma, uns, umas), o artigo caracteriza-se por ser a pala-vra que introduz o substantivo indicando-lhe o género e o numero. Assim sendo: a) qualquer palavra ou expressao antecedida de artigo se torna substantivo : O acto Hterário é o 'cpnjunto do escrever e do ler. (Fernando Namora, E, 111.) Entendem os filósofos que nosso confuto essencial e drama talvez único seja mesmo o estar-no-mundo. (Guimaräes Rosa, T, 101.) b) o artigo faz aparecer o género e o numero do substantivo: o Amazonas as amazonas o pires os pires o pianista a pianista um quilograma a ama o päo a mäo o clä a irmä o diente a diente as bibliotecas os Astecas um piráta uma gravata o jabuti a. juíiti um baräo a produeäo um poema a ema Com isso, permite a distincäo de substantivos homónimos, tais como: o cabeja o caixa o capital a cabeca a caixa a capital o guatda o guia o Ientc a guarda a guia a leňte I (So BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO ARTIGO i6t EMPREGO DO ARTIGO DEFINIDO i. Com os substantivos comuns Na lingua dos nossos dias, o arttgo definido é, em geral, um mero designativo. Anteposto a um substantivo comum, serve para determiná-lo, ou seja, para apresentá-lo isolado dos outros indivxduos ou objectos da espé-cie. Assim: Sumiu-se a rapariga. (Carlos de Oliveira, AC, 123.) Este seu valor costuma ser enfatizado, quando se pretende acentuar o carácter unico ou universal do elemento representado pelo substantivo: Nao era uma loja qualquer: era a Loja. (Ciro dos Anjos, MS, 350.) É o que se chama artigo de notoriedade. Emprego como demonstrative O artigo definido provém do pronome demonstrativo latino ilk, ilia, illud (= aquele, aquela, aquilo). Este valor demonstrativo foi-se per-dendo pouco a pouco, mas subsiste ainda, embora enfraquecido, em alguns casos. É o que se observa em frases do tipo; Permaneceu a [ = esta, ou aquela] semana inteira em .casa. Partimos no [ = neste] momento para Sao Paulo. Levarei produtos da [ = desta] regiao. Emprego do artigo pelo possessive r. Este emprego do artigo definido é frequente antes de substantivos que designam: a) partes do corpo: Passci a mao pelo queixo. (Lygia Fagundes Telles, ABV, 15.) /;) pegas de vestuário ou objectos de uso marcadamente pessoal: Abel Matias, calado, veste as calgas e a camisa. (Orlando Mendes, P, 130.) c) faculdades do espirito: Chegou a tomar balanco para as habituais meditagöes. (Augusto Abelaira, D, 10.) d) relagöes de parentesco: — Já näo chamou pela mäe!... (Miguel Torga, V, 186.) 2. Näo se emprega, porém, o artigo quando estes nomes formam com as preposigoes de on a uma locugäo adverbial. Pus-me de joelhos. Emagrece a olhos vistos, Ficou de bolsos vazios. Guardou isso de memoria. Emprego do artigo antes dos possessivos. 1. Antes de pronome substantivo possessivo. Em portugués, o emprego ou a omissäo do artigo definido antes de possessivos que funcionam como pronomes substantivos näo tem apenas valor estilistico, mas corresponde a uma ciara distingäo significativa. Comparem-se, por exemplo, as frases seguintes: Este cinto é men. Este cinto é o men, Com a primeira, pretende-se acentuar a simples ideia de posse, Equivale a dizer-se: «Este cinto pertence-me, é de minha propriedade». Com a segunda, porém, faz-se convergir a atengňo para o objecto pos-suido, que se evidencia como distinto de outros da mesma espécie, näo per-tencentes ä pessoa em causa. O seu sentido será: «Este é o meu cinto, o que possuo». 2. Antes de pronome adjectivo possessivo. i. Quando trazem claros os seus substantivos, os possessivos podem usar-se com artigo ou sem ele: Meu amor é só teu. O meu amor é só teu. Estive com tua irmä. Estive com a tua irmä. BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO A prescnca do artigo antes de pronome adjectivo possessivo ocoite com menos frequěncia no portugués do Brasil do que no de Portugal, onde, com excepcäo dos casos adiante mencionados, ela é praticamente obrigató-ria. Comparem-se estes exemplos: — A minha irmä e o meu cunhado costumam receber os seus amigos mais fatimos. (Augusto Abelaira, D, 107.) Meu avö materno foi verdadeiramente minha ptimeiia amizade, compaabeito de brinquedo da minha primeira infáncía. (Gilberto Amado, HMI, 4.) 2. O artigo é sistematicamente omitido quando o possessivo: a) é parte integrante de uma formula de tratamento ou de expressöes como Nosso Pat (referente ao Santissimo), Nosso Senbor, Nossa Senbora: Sua Exceléncia Reverendíssima escusou-se de recebé-los pessoal-mente. (Bernardo Santareno, TPM, 37.) Nosso Senhor tihha o olhar em pranto. Chorava Nossa Senhora. (Alphonsus de Guimaraens, OC, 121.) b) faz parte de um vocativo: — Mottet, meu Arno, só uma ve2l (Antonio Nobre, S, 106.) f) pertence a certas expressöes feitas: em minha opiniäo, em meu poder, a sen bel-pra^er, por minba von fade, por meu mal, etc. d) vem precedido de um demonstrative: — Näo aguento mais esse teu silěncio antipátíco. (Urbano Tavares Rodrigues, TO, 162,) Observacäo: Se o possessivo estiver posposto ao substantivo, este virá normalmente precedido de Artigo : Quanto mistério Nos olhos teus... (Vintcius de Morais, PCP, 334.) artigo_________163 Pode, no entanto, dispensá-lo, quando nos iefcrimos a algo de modo impreciso ou vago: Tenho estado ä espera de notícias tuas, mas vejo que näo chegam nunca. (Antonio Nobre, Cl, 117.) Emprego genérico. Usa-se äs vezeš o artigo definido junto a um substantivo no singular para exprimir a totalidade específica de um género, de uma categoria, de um grupo, de uma substancia: Este emprego é frequente nos provérbios; O hörnern näo é propriedade do hörnern. O päo pela cor, e o vinho pelo sabor. O avarento näo tem e o pródigo näo terá. Se o substantivo é abstracto, o artigo serve, ademais, para personalizá-lo: Era o deus vivo que os tinha na sua mäo, o amigo-inimigo donde Ihes vinha todo o bem e todo o mal, a miséria e o päo, o luto e a alegria. (Branquinho da Fonseca, MS, 173.) Entre os abstractos incluem-se naturalmente os adjectivos substantiva- dos: Eu ttabalho com o inesperado. (Clarice Lispector, SV, 14.) Nestes casos pode-se dispensar o artigo, principalmente quando o substantivo é abstracto, ou quando faz parte de provérbios, frases sentenciosas e compa-ragôes breves: Pobreza näo é vileza. Hörnern näo é bicho. Cäo que ladra näo morde. Preto como azeviche. Emprego em expressöes de tempo. i. Os nomes de meses näo admitem artigo, a menos que venham acompanhados de qualificativo: Estou seguro de ir até o Rio em fins de junho ou ptincípios de julho. (Mário de Andradc, CMB, 102). IÖ4 BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGOES CONTEMPORANEO Era urn setembro puro. (Miguel Torga, NCM, 63.) ARTIGO 165 Ao meio-dia ja as dguas do porto eram prata fundida. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 47.) Observacäo: Omite-se em getal o artig o antes das datas do mes: O parecer e de 28 de Janeiro de 1640. (Jaime Cortesäo, IHB, II, 218.) Costuma-se, no entanto, usa-lo antes de datas celebres (que adquirem o valor de um substantivo composto de numeral + preposicäo + substanttvo): Por ser precisamente um dos feriados extintos, o 19 de Novembro faz lembrar hoje, aos marmanjos do comeco do seculo, näo so a bandeira como a propria infäncia, täo perdida quanto esse feriado. (Carlos Drummond de Andrade, FA, 116.) 2, Os nomes dos dias da semana vem precedidos de artigo, princi-palmente quando enunciados no plural: Queres ir comigo ä Italia no domingo? (Augusto Abelaira, D, 45.) Aos domingos salam cedo para a missa. (Coelho Netto, OS, I, 33.) Mas podem dispensa4o (juntamente com a preposicäo a que se aglu-tinam), quando funcionam como adjunto adverbial. Assim: — Domingo ä tarde. Domingo sera a vez do teu moinho... (Fernando Namora, DT, 221.) 3. Näo se usa o artigo nas designates das horas do dia, nem com as expressöes meio-dia e meia-noite : Meia-noite? Näo se teria enganado? (Josue Montello, SC, 25-26.) O artigo e, porem, de regra quando, antecedidas de preposicäo, tais formas se empregwn adverbialmente: Ja näo se almoca äs 9 da manhä c näo se janta as 4. (Carlos Drummond de Andrade, MA, 99.) 4. Os nomes das quatro estacoes do ano sao precedidos de artigo: Serd goivo no outono, assim como era, Eternamente mal-aventurada, A alma, que lirio foi na primavera... (Alphonsus de Guimaraens, OC, 342) Podem, no entanto, dispensa-lo quando, antecedidos da preposicao 'e, funcionam como complemento nominal ou como adjunto adnominal: Que noite de inverno! Que frio, que friol Gelou meu carvao: Mas boto-o a lareira, tal qual pelo estio, Faz sol de vetao! (Antonio Nobre, S, 13.) 5. Os nomes de datas festivas cüzem-se com artigo: o Ano-Bom o Carnaval o Natal a Päscoa E, porem, de regra a omissäo do artigo quando estes nomes funcionam como adjunto adnominal das palavras dia, noite, semana, presente, etc. : O primeiro dia de Carnaval. A noite de Natal, A semana de Päscoa. Um presente de Ano-Bom. Com a palavra casa. i. Dispensam o artigo os adjuntos adverbiais de lugar em que entra a palavra casa: d) desacompanhada de deterrninacäo ou qualificacäo, no sentido de «residencia», «lar»: Chegada a casa, näo os encontrou. Qoaquim Pago d'Arcos, CVL, 3 5 8.) BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORAKEO ARTTGO l67 Chorei como todos de casa. (José Lins do Rego, E, 21.) b) em sentido vago, embora acompanhada de qualificagäo: Estava em casa propria lá para Ipanema. (Aquilino Ribeiro, M, 356.) 2. Mas a palavra casa vem de regra antecedida de artigo : a) quando usadá na acepcäo propria de «prédio», «edificio», «esta-belecimento»: Estou cansado, preciso de um socio, alguém que me dirija a casa. (Augusto Abelaira, D, 28.) b) quando está particularizada por adjunto adnominal: Foi um golpe esta carta; nab obstante, apenas fechou a noite, corri ä casa de Virgilia. (Machado de Assis, OC, I, 484.) Observacäo: Diz-se 0 done (ou a dona) da casa para indicar, com precisäo, seja o proprie-tário do prédio, seja o chefe da família. Em sentido vago, dir-se-á, porém: urna boa dona de casa. Emprego com o superlativo relative O artigo deftnido é de emprego obrigatório com o superlativo rela-tivo. Pode preceder o substantivo: Era o aluno mais estudioso da turma. Ou o superlativo: Era o mais estudioso aluno da turma. Era aluno o mais estudioso da turma. Mas näo deve ser repetido antes do superlativo quando já acompanha o substantivo, como neste exemplo: Era o aluno o mais estudioso da turma. 2. Com os Homes próprios. Sendo por definicäo individualizante, o nome próprio deveria dispensar o artigo. Mas, no curso da história da lingua, razôes diversas concorreram para que esta norma lógica nem sempře fosse observada e, hoje, há mesmo grande numero de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acom-panhamentodo artigo deftnido. Entre essas razôes, devem ser mencio-nadas: a) a intengäo de reforcar a ideia de individuaUdade, de um todo inti-mamente unido, comó se concebe, em geral, um pais, um continente, um oceano: o Brasil a America o Atläntico b) a de ser o nome próprio originariamente um substantivo comum, construído com o artigo: o Porto o Havre (francés Le Havre = o porto) c) a influéncia sintácqca do italiano, lingua em que os nomes de família, quando empregados isoladamente, vém precedidos de artigo: o Tasso o Ticiano a Patti d) a de cercar o nome próprio de urna atmosféra afectiva ou familiar: — O Adräo foi a novena? — Creio que näo. Quem esteve lá foi a Marta com a Teixeira. (Graciliano Ramos, C, 147.) Com os nomes de pessoas. Os nomes próprios de pessoas (de baptismo e de família) näo levam artigo, principalmente quando se aplicam a personagens muito cohhecidos. Assim: Camôes Dante Napoleäo jbreve GRAMÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPOrAneo \ --_-_-_-_ , .-_ j Emprcga-se, porem, o artigo definido: ; i o) quando o nome de pessoa vem precedido de qualificativo: O romantico Alencar. O divino Dante. 2.°) quando o nome de pessoa vem acompanhado de determinativo ou qualificativo denotadores de um aspecto, de uma epoca, de uma circuns-täncia da vida do individuo: | Era o Daniel de outrora que eu tinha diante de mim. (Josue Montello, DVP, 237,) ; 3.0) quando o nome de pessoa vem enunciado no plural: a) seja para indicar individuos do mesmo nome: ! Os dois Plinios. Os tres Horäcios. b) seja para designar uma colectividade familiar: ; Os Andradas. Os Bragangas. ' c) seja para caracterizar, enfaticamente, classes ou tipos de individuos i que se assemelham a urn vulto ou personagem celebre, caso em que o nome proprio vale por urn nome comum: Que importa isso tudo, se, aqui, os Clcmenceaus andam a monte, os Hindemburgos rolam aos tombos, os Gladstones pululam aos cardumcs, os Bismarcks se multiplicam em ninhadas, e os Thiers cobrem o sol como nuvens de gafanhotos. (Rui Barbosa, EDS, 484.) d) para designar obras de um artista (geralmente quadros de um pintor): Os Goyas do Museu do Prado. Com os nomes geogräficos. O estado actual do uso do artigo com os nomes geograficos 6 o seguinte: ; i.°) Emprega-se normalmente o artigo definido: ! 1 d) com os nomes de paises, regiöes, continentes, montanhas, vulcöes, artigo _ 169 desertos, constelacöes, rioSj lagos, oceanps, mares e grupos de ilhas: o Brasil o Himalaia o Nilo a Franca os Alpes o Lemano os Estados Unidos o Teide o Atläntico a Guin6 o Atacama o Bäldco o Nordeste o Saara o Mediterrineo a Africa o Cruzeiro do Sul os Agores b) com os nomes dos pontos cardeais e os dos colaterais, quer no sen-tido proprio, quer no de regiöes ou ventos: O promontörio tapava para o norte. (Branquinho da Fonseca, MS, 104.) Tambem os ventos nordestinos se acharam presentes: o Notdeste e o Sudeste... (Joaquim Cardoso, SE, 60.) 2.0) Näo se usa em geral o artigo definido: a) com os nomes de cidades, de localidades e da maioria das ilhas: Lisboa Agueda Creta b) com os nomes de planetas e de estrelas: Marte Canöpus 3.0) Näo e uniforme o emprego do artigo definido com os nomes dos estados brasileiros e das provmcias portuguesas. A maioria leva artigo. Näo se usam, porem, com ardgo: Alagoas Pernambuco Sergipe Goiis Rondonia Tras-os-Montes Maro Grosso Santa Catarina Minas Gerais Säo Paulo 4.0) Como os nomes de pessoas, os nomes geograficos passam a admi-tir o artigo desde que acompanhados de qualificagäo ou de determinagäo: Ai canta, canta ao luar, minha guitarra, A Lisboa dos Poetas Cavaleirosl (Antonio Nobre, D, 68.) breve gramatica do portugues contemporáneo Obscrvacöes: i.a Gettos nomes de países e regiôes costumam, no entanto, rejeitar o artigo. Entre outros: Portugal, Angola, Mocambique, Cabo Verde, Säo Tomé e Principe, Macau, Timor, Andorra, Israel, Säo Salvador, Amgao, Castela, LeSo. z.a A semelhanca dos nomes de países, úsam-se com artigo alguns nomes de ilhas: a Córsega, a Madeira, a Sardenha, a Sicília. 3.» Quando indicam apenas direccäo, os nomes de pontos cardeais podem vir sem artigo: Marcha para oeste Vento de leste Percurso de norte a sul Com os nomes de obras literárias e artísticas. Emprega-se em geral o artigo, mesmo quando näo pertenca ao titulo: Ontem, á noite, comecei a ler a Ana Karenina. (Augusto Abelaira, D, 64.) 3. Casos especiais Antes da palavra outro. 1. Emprega-se o artigo definido quando a palavra outro tem sentido determinado: Tirei do colégio os meus dois filhos: o mais velho era um demónio, o outro um anjo. (Camilo Castelo Branco, OS, I, 290.) 2. Caia-se, porém, o artigo quando o seu sentido é indeterminado: A uns amei, a outros estimei, aborreci alguns e alguns mal conheci — mas todosl ail todos, me impregnaram de suas vidas. (Pedro Nava, BC, 228.) Depois das palavras ambos e todo. Ambos e todo säo as únicas palavras que, em portugués, costumam ante-ceder o artigo pertencente ao mesmo sintagma. i. Se o substantivo determinado pelo numeral ambos estiver claro, é de regra o emprego do artigo definido: Vasco apoiou os cotovelos nela e segurou o rosto com ambas as mäos. (Érico Vcrlssimo, LS, 166.) artigo 2. A presenca ou a auséncia do artigo depois da palavra todo depende, obviamente, de admitir ou rejeitar o substantivo aquela deterrninaeäo. Diremos, por exemplo: Todo o Brasil pensa assim. Todo Portugal pensa assim. por se construírem de modo diverso esses dois nomes geográficos. 3. Há casos, porém, que precisam de ser considerados particularmente. Assim: i.°) No plural, anteposto ou posposto ao substantivo, todos vem acompanhado de artigo, a menos que hajá um determinativo que o exelua: Os diselpulos amavam-na, prontos a todos os obséquios. (Aquiline* Ribeiro, CRG, 100.) Iam-se-me as esperancas todas; terminava a carreira polítíca. (Machado de Assis, OC, I, 536.) Mas: Todos estes costumes väo desaparecer. (Raul Brandäo, P, 165.) 2.°) Näo se usa o artigo antes do numeral em aposicäo a todos: Vi-os felizes a todos quatro. (Machado de Assis, OC, I, 1126.) Se, no entanto, o substantivo estiver claro, o artigo é de regra: Vi-os felizes a todos os quatro meninos. 3.0) No singular, todo: a) virá acompanhado de artigo, quando indicar a totalidade das partes Toda a praia é um ůnico grito de ansíedade. (Alves Redol, FM, 306.) b) poderá vir ou näo acompanhado de artigo quando exprimir a tota lidade numérica: Falava bem como todo franefis. (Gilbcrto Amado, PP, 168,) BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS contemp0ráneo ARTIGO 173 Toda a gente sabe que Monica e seriissima. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 120.) Neste ultimo caso e obrigatoria a sua anteposicäo ao substantivo. 4.0) Anteposto ao artigo indefinido, todo significa «inteiro», «completo»: Para conseguir o seu intento cobriu de ridiculo toda uma geracSo, e lancou as bases de toda uma remodelacao social. (Gilberto Amado, TL, 29.) 5.0) Quanto todo (ou toda) estä empregado com forca adverbial, näo admite naturalmente o acompanhamento do artigo: Todo barbeado de fresco, as cotdoveias do pescoco luziam-Ihe grossas como calabres. (Aquilino Ribeiro, CKG, 228.) 6,°) Em numerosas locucöes do portugues contemporaneo, todo (ou toda) vem seguido de artigo. Entre outras, mencionem-se as seguintes: a todo o custo a todo o galope a todo o instante a todo o momento em todo o caso a toda a brida a toda a hora a toda a pressa em toda a parte por toda a parte REPETICÄO DO ARTIGO DEFINIDO Com substantivos. 1. Quando empregado antes do primeiro substantivo de uma serie, o artigo deve anteceder os substantivos seguintes, ainda que sejam todos do mesmo genero e do mesmo nümero: Cantava para os anjos, para os presos, para os vivos e para os mortos. (Jose Lins do Rego, MVA, 347.) 2. Mas a alternäncia de sequencias com artigo e sem ele pode, em cer-tos casos, aprcsentar efeitos estilisticos apreciaveis: Näo viram sumo bem ao dccredor, Mas sim o mal, a tentacäo, o crime, Orgulho, humilhaoocs, rcmorso e dor. (Antonio Correa d'OIiveira, VSVA, 213.) 3. Näo se repete, porém, o ardgo: a) quando o segundo substantivo designa o mesmo ser ou a mesma coisa que o primeiro: Presenteou-me este livro o compadre e amigo Carlos. A fruta-de-conde, ou ata, é deliciosa. b) quando, no pensamento, os substandvos se representam como um todo estreitamente unido: O estudo [do folclore] era necessitado pela existencia das histórias, contos de fadas, fábulas, apólogos, superticôes, provérbios, poesia e mitos recolhi-dos da tradicäo oral. (Joáo Ribeiro, TI, 6.) Com adjectivos. 1. Repete-se o artigo antes de dois adjecdvos unidos por uma das conjuncôcs e e ou quando os adjectivos acentuam qualidades opostas de um mesmo substandvo: Conhecia o novo e o velho Testamento. A boa ou a má fortuna näo o alteraram. 2. Näo se repete, porém, o artigo se os dois adjectivos ligados pelas conjun?óes e, ou (e mas) se aplicam a um substantivo com o qual formám um conceito único: Mas porque näo lhe telefona logo ä noite, porque näo recomecam a velha e quase esquecida amizade? (Augusto Abelaira, D, 22.) 3. Se os adjectívos näo vém unidos pelas conjuncóes e e on, deve-se repetit o artigo. Tal construcäo empresta ao enunciado énfase particular: É o povo, o verdadeiro, o nobre, o austcro povo portugues. (Augusto Frederico Schmidt, F, 102.) OMISSÄO DO ARTIGO DEFINIDO Do que foi estudado nas páginas anteriores, verificamos que o artigo definido limita sempře a nocäo expressa pelo substantivo. 174 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO ARTIGO 175 1. O seu emprego é, pois, evitado em certos casos: Quando o género e o numero do substancivo já estäo claramente determinados por outras classes de palavras (pronomes demonstrativos, numerais, etc.). Assim, diremos: Na revolucäo de 17 muito sofrera este padre. (Jose Lins do Rego, MVA, 281.) Antes, ainda no automóvel, Ramiro achara duaa novas pérolas. (Augusto Abelaira, D, 111.) 2.0) Quando queremos indicar a nocäo expressa pelo substantivo de um modo geral, isto é, na plena extensäo do seu significado. Comparem-se, por exemplo, estas trés frases: Foi acusado do crime [acusacäo precisa]. Foi acusado de um crime [acusacäo vaga], Foi acusado de crime [acusacao mais vaga ainda]. 3.0) Quando, nas enumeracöes, pretendemos obter um efeito: ä) de acumulacäo: Samuel, a princlpio com relutäncia, depois com furia, finalmente com resignacäo, pös-se a morder e a mastigar tudo: lápis, borrachas, pedacinhos de pau, gomos de cana-de-acúcar. (Carlos Drummond de Andradc, CA, 143-4.) b) de dispersäo, como neste exemplo de enumeracäo caotica: Volteiam dentro de mim, Em rodopio, em novelos, Milagres, uivos, castelos, Forcas de luz, pesadelos, Attas tones de marfim. (Mario de Sá-Carneiro, P, 75,) 2. Alem desses casos gerais e de outros particulars, anteriormente exarninados, omite-se o artigo definido: a) nos vocativos: Ohl dias da minha infäncia! Ohl meu céu de primavera! (Casimiro de Abreu, 0, 94,) b) nos apostos que indicam simples apreciacäo: Tardes de minha terra, doce encanto, Tardes duma pureza de agucenas. (Florbela Espanca, S, 35.) c) antes de palavras que designam matéria de estudo, empregadas com os verbos aprender, estudar, cursar, ensinar e smónimos. Aprender Ingles. Estudar Latim. Cursar Direito. Ensinar Geometria. d) antes das palavras tempo, ocasiäo, motivo, permissäo, forca, valor, ámmo (para alguma coisa), complementos dos verbos ter, dar,pedir e seus sinónimos: Näo houve tempo para descanso. Näo dei motivo k crltica. Pedimos permissäo para sair. Näo tive änimo para viajar. EMPREGO DO ARTIGO INDEFINLDO i. Com 03 substantivos comuns. 1. O artigo mdefinido —já o dissemos— serve principalmente para a apresentagäo de um ser ou de um objecto ainda näo conhecido do ouvinte ou do leitor. Pouco depois, atraído também pelo espectáculo, foi chegando um cabo-clinho magro, com urna taquara na mäo. (Alceu Amoroso Lima, AA, 40.) Urna vez apresentados o ser e o objecto, näo há mais razäo para o emprego do artigo mdefinido, e o escritor ou o locutor deverá usar daí por diante o artigo definido. É o que se observa na continuacäo do texto em causa: Pupilas acesas vinham espiar entre as árvorcs, como que também atraidas pela melódia da taquara do caboclinho. (Ibid.) 2. Para se precisar a classe ou a espécie de um substantivo já deter-minado por artigo definido, costuma-se iepeti-lo, na aposigäo, com o artigo mdefinido: Ele sentia o eheiro do impermeável dela: um chciro doce de fruta madura. (Érico Verlssimo, LS, 140.) 176 BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO 3. Por sua forca generalizadora, 0 artigo indefinido pode atribuir a um substantivo no singular a representacäo de toda a especie: — Aquele, digo-vos eu, aquele e um hörnern. (Branquinho da Fonseca, MS, 16;.) 4. A anteposicäo do plural uns, umas, a cardinais e a forma preferida do idioma para indicar a aproximacäo numerica: Teria, quando muito, uns doze anos. (Urbano Tavares Rodrigues, PC, 168.) 2. Com os nomes prdprios. i. Emprega-se o ardgo mdeftnido antes de um nome de pessoa: a) para acentuar a semelhanga ou a conformidade de alguem com urn vulto ou um personagem celebre, caso em que o nome proprio passa a set urn nome comum: Papal era urn Quixote. (Ciro dos Anjos, MS, 298.) b) para indicar ser o indivfduo verdadeiro simbolo de uma especie: A fortuna, toda nossa, 6 que nao temos urn Kant. (Joäo Ribeiro, F, 36.) c) para designar urn indivlduo pertencente a determinada familia: D. Pedro I do Brasil, que foi D. Pedro IV de Portugal, era urn Braganga. d) para evocar aspectos geralmente imprevistos de uma pessoa: Apesar disso tudo, urn Joaquim risonho, a saüsfacäo em pessoa. (GenoHno Amado, RP, 115.) e) para designar obras de um arüsta (geralmente quadros de um pintor): Tambdm dissc, e vcrdade, corao era necessärio aprender a mstmguir o fado de uma sinfonia, urn Picasso de um calendario. (Vergllio Ferreira, A, 28.) artigo 177 2. Como 0 ardgo definido, 0 indefinido pode acompanhar os nomes geogräficos, se qualificados: Mais tarde, haveria de ouvir-lhe pessoalmente a sua visäo dum Egeu de deuses vivos. (Luis Forjaz Trigueiros, ME, 2Ö9.) OMISSÄO DO ARTIGO INDEFINIDO Em expressoes de identidade. 1. Evita-se, em geral, empregar o artigo indefinido quando ja existe, anteposto ao substantivo, um dos pronomes demonstratives igual, semelbante e tal; ou um dos indefinidos certo, outro, qualquer e tanta: Certo amlgo meu ja usou de igual argumento. Em outra circunstäncia eu aprovaria semelhante atitude. Se continuares com tal inapetencia e com tanta febre, podes tomar o remedio a qualquer hora. 2. Advirta-se, porem, que algumas dessas formas, quando pospostas a um substantivo, passam a ser adjectivos, caso em que se constroem nor-malmente com artigo indefinido: Ele disse uma coisa certa. Quero um livro igual a esse. Uma hora qualquer irei ve-lo. Tens um modo Bemelhante de falar. Costuma-se, no entanto, calar o artigo indefinido, quando a fräse 6 negativa ou interrogativa: Nunca Ii coisa igual. Jamais se ouviu barbaridade tal! Jl viste trejeitos semelhantes? Em expressoes comparativas. i. Em prineipio, as formulas comparativas podem adrnitir a exclusäo do artigo indefinido. E o caso: a) dos comparativos de igualdade formados com täo ou tanto: Nunca passei por lugar täo perigoso como aquele. Trabalhava com tanto cuidado como o pai. I7g BREVE GRAMÄTICA DO PORTTJGUÉS CONTEMPORANEO J ----" \ i b) dos comparativos de superioridade ou de iriferioridade, principal-mente quando expressos sob a forma negativa ou interrogativa: Näo encontrarias melhor amigo nesta emergéneia. Conseguiste maior renda este més? 2. É dispensável também o artigo indefinido em comparacöes do tipo: Quäl futacäo, revolveu tudo. Bailava como nume da Honesta. Em expressoes de quantidade. Costuma-se evitar o artigo mdefinido antes de expressöes denotadoras de quantidade mdeterminada, constituidas seja por substantivos (como: coisa, gente, infinidade, multidäo,, numero, parte, pessoa, porcäo, quantia, quantidade, soma e equivalentes), seja por adjectivos (como: escasso, excessivo, suficiente e sinónimos): Havia grande numero de pessoas no casamento. Reservou para si boa parte do lucro. ARTIGO b) nos apostos: Meu pai, hörnern de boa familia, possuia Fortuna grossa, como näo ignorata. (Graciliano Ramos, AOH, 28.) e sempře que a clareza ou a énfase näo o exigirem. Observacao: Em rigor, nao se trata propriamente nestes casos e nos seguintes de omissao do artigo indefinido, mas de casos onde ele nunca se empregou de forma regular. Na fase primitiva das linguas románicas, o artigo mdefinido era de uso res-trito. Com o correr do tempo, esse determinativo foi-se introduzindo em numerosas construgoes e, hoje, os variados matizes do seu emprego constituem uma inestimável riqueza estílística de todas elas. Com substantivo denotador da espécic. Quando um substantivo no singular é concebido sob o aspecto de categoria, de espécie, e nao sob o de unidade, pode-se calar o artigo indefinido. Esta omissao aparece frequentemente em provérbios: Cao ladrador nunca é bom cacador. Espada na mao de sandeu, pcrigo de quern lha deu. Outros casos de omissao do artigo indefinido. Alem dos casos mencionados, a lingua portuguesa admite a omissao do artigo indefinido em muitos outros. Como o artigo definido, ele pode faltar: a) nas enumeracoes: Desdc at, os campos-santos n3o ccssaram de recolher os inortos meus: avó, tíos, amigos de infftneia, companheiros queridos — a lišta é aterra-dora... (Augusto Frcdcrico Schmidt, GB, 151.) 10. Adjective- O adjectivo é essencialmente um modiŕicadof do substantive Serve: para caracterizar os seres, os objectos ou as nocôes nomeadas pelo substantivo, indicando-lhes: a) uma qualidade (ou defeito): inteligencia lúcida b) o modo de ser: pessoa simples f) o aspecto ou aparéncia: céu azul d) o estado: casa arruinada hörnern perverao rapaz delieado vidro fosco laranjeira florida 2.0) para estabelecer com o substantivo uma relacao de tempo, de espaco, de matéría, de finalidade, de propriedade, de procedéncia, etc. (adjecttvo de relacao): nota mensal (= nota relativa ao més) movimento estudantil (— movimento feito por estudantes) casa paterna (= casa onde habitam os pais) vinho portugués (= vinho proveniente de Portugal) adjecttvo 181 gindo-lhe, pois, a extensäo do significado. Näo adrnitem graus de intensi-dade e vém normalmente pospostos ao substantivo. A sua anteposicäo, no caso, provoca uma valorizaeäo de sentido muito senslvel. Home substantivo e nome adjectivo. é muito estreita a relacäo entre o substantivo (termo determinado) e o adjectivo (termo determinante). Näo raro, há uma única forma para as duas classes de palavras e, nesse caso, a distincäo só poderá ser feita na frase. Comparem-se, por exemplo: Uma preta velha vendia laranjas. Uma velha preta vendia laranjas. Na primeira oracao, preta é substantivo, porque é a palavra-micleo, caracterizada por velha, que, por sua vez, é adjectivo na medida em que é a palavra caracterizadora do termo-núcleo. Na segunda oracao, ao contrario, velba é substantivo e preta adjectivo. Como vemos, a subdivisäo dos nomes Portugueses em substantivos e adjectivos obedece a um' eritério basicamente sintáctico, funcional. Substantivacao do adjectivo. Sempře que a qualidade referida a um ser, objecto ou nocao for con-cebida com grande independéncia, o adjectivo que a representa deixará de ser um termo subordinado para tornar-se o termo nuclear do sintagma nominal. Dá-se, entäo, o que se cháma substantivacao do adjecttvo, facto que se exprime, gramaticalmente, pela anteposicäo de um determina-tivo (em geral, do artigo) ao adjectivo. Comparem-se, por exemplo, estas oracöes: O céu cinzento indica chůva. O cinzento do céu indica chůva. Na primeira, cinzento é adjectivo; na segunda, substantivo. Observacäo: Os adjectivos de relacao, derivados de substantivos, säo de natureza clas-siťicatória, ou seja, precisam o conceito expresso pelo substantivo, restrin- Substitutos do adjectivo. i. Palavras ou expressöes de outra classe gramatical podem também servit para caracterizar o substantivo, ficando a ele subordinadas na frase. j 8^ breve gramática do portugués contemporáneo Valem, portanto, por verdadeiros adjectivos, semantica e sintacticamente falando. • Costuma-se, por exemplo, com tal finalidade: a) associar ao substantivo principal outro substantivo em forma de aposto: O tio Joaquim Moga cabeca-de-vento b) empregar locucoes formadas, qner de preposicao + substantivo: CoracSo de anjo [= angélico] Individuo sem coragcm [= medroso] quer de preposicao + adverbio: Jornal de hoje [= hodicrno] Patas de trás [— traseiras] c) substituir o adjectivo por um substantivo abstracto, que passa a ter como complemento nominal o antigo substantivo nuclear. Comparem-se, por exemplo, estas frases: Sofreu o destino cruel. Sofreu a crueldade do destino. 2. A caracterizacao do substantivo pode fazer-se ainda por meio de uma oracao: a) seja desenvolvida (quando encabecada por pronome relativo): Há homens que n3o acham nunca a sua expressao. (Gilberto Amado, TL, 9.) b) seja reduzida: Jorge via a dor andando no corpo, a febre queimando, o pai já apodre-cia por dentro. (Adonias Filho, LP, 53.) Morfológia dos adjectivos. Poucos säb os adjectivos que podemos considerar primitivos, ou seja, «quc designam por si mesmos uma qualidade, sem referencia a uma subs- ADJECTIVO ^3 tánck ou accao que a representem» 1. É, por exemplo, o caso de, entre outros, brando, claro, curto, grande, largo, liso, livre, triste e de boa parte dos adjectivos referentes a cor: a^ul, branco, pre to, verde, etc. A maioria dos adjectivos é constituída por aqueles que derivam de um substantivo ou de um verbo, com os quais continuam a relacionar-se do ponto de vista semäntico2. FLEXÖES DOS ADJECTIVOS Como os substantivos, os adjectivos podem flexionar-se em numero, género e grau. Numero O adjectivo torna a forma singular ou plural do substantivo que ele qualifica: aluno estudioso alunos estudiosos mulher hindu mulheres hindus perfume fiances perfumes franceses Plural dos adjectivos simples. Na formaclo do plural, os adjectivos simples seguem as mesmas regras a que obedecem os substantivos. Plural dos adjectivos compostos. Nos adjectivos compostos, apenas o ultimo elemento recebe a forma de plural: consultórios médico-cirúrgicos institutos afro-asääticos Obser va§äo: Exceptuam-se: a) surdo-mudo, que faz surdos-mndos; b) os adjectivos referentes a cores, que säo invariáveis quando o segundo elemento da composicäo é um substantivo: uniformes verde-oliva canários amarelo-ouro 1 Gonsalo Sobejano. El ipíteío m la Urica espďiola, 2* cd. Madrid, Grcdos, 1970, p. 8j. 2 Quanto aos sufixos que entram na formacSo destcs adjectivos, veja-st o que dissemos no Capitulo 6, p. 70-72. i84 breve gramática do portugués contemporáneo ADJECTIVO Género O substantivo tem sempře um género, o que nao sucede com o adjectivo, que assume o género do substantivo. Do ponto de vista morfológico, o único traco que, na verdade, sin-gulariza o adjectivo como uma parte do discurso diversa das demais é o de poder, na maioria das vezeš, apresentar duas terminacoes de género, sem que, com isso, seja uma palavra de género determinado e sem que o con-ceito por ele designado corresponda a um género real. Formacao do feminino. i. Como dissemos, os adjectivos sao geralmente biformes, isto é, possuem duas formas, uma para o masculino e outra para o feminino: Masculino Feminino Masculino Feminino bom boa mau má formoso formosa nu nua lindo linda portugués portuguesa 2. O processo de formacäo do feminino destes adjectivos é idéntico ao dos substantivos. Assim: i.°) Os terminados em -o átono formám o feminino mudando o -o em -a: belo bela lígeiro ligeira 2.°) Os terminados em -u, -es e -or formám geralmente o feminino acrescentando -a ao masculino : cru crua nu francÉs francesa inglés encantador encantadora morador nua inglesa moradora .Exceptuam-se, porém: a) dos finalizados em -»; os gentílicos bindu e que säp invariá- vcis; b) dos finalizados em -és: corUs, descortSs, monies e pedrís, que säo inva-riáveis; rs5 c) dos finalizados em -or: os coroparativos melbor, pior, wahr, menor, superior, inferior, interior, exterior, posterior, ulterior, citerior e, ainda, formas como multicor, incolor, sensabor e poucas.mais, que säo invariáveis; gerador, motor e outros terminados em -dor e -tor, que mudam es tas silabas em -trt\: geratriír, motris^, etc.; e um pequeno numero que substitui -or por -eira; tra-balhador, trabalbadeira, etc. 3.0) Os terminados em -äo formám o feminino em -ä ou em -ona: säo sä choräo chorona Beiräo, no entanto, faz no feminino beiroa. -eia: -oa: 4.0) Os terminados em -eu (com e fechado) formám o feminino em europeu europeia plebeu plebeia Exceptuam-se Judeu e sandeu, que fazem, respectivamente, judia e sandia. 5.0) Os terminados em -éu (com e aberto) formám o feminino em ilhéu ilhoa tabaréu tabaroa 6.0) Alguns adjectivos que no masculino possuem o tónico fechado [o], alem de receberem a desinéncia -a, mudam o o fechado para aberto [d], no feminino: brioso briosa formoso formosa Outros, porém, conservam no feminino o o fechado [o] do masculino: chocho chocha fosco fosca Adjectivos uniformes. Há adjectivos que tém urna só forma para os dois géneros. Säo de regra uniformes oí adjectivos: a) terminados em -a, muitos dos quais funcionam também como substantivos: bipócrita, homicida, indlgena; as/eca, celta, israelita, maia, per sa; agri-cola, silvkola, vinicola, cosmopolita, etc.; i i86 breve gramatica do portugues contemp0rane0 ADJECmrO lB7 b) terminados em -e: drabe, breve, cafre, doce, bumilde, terrestre, torpe, triste e muitos outros, entte os quais se incluem todos os formados com os sufixos -ense, -ante, -ente e -inte: cearense, constante, crescente, pedinte, etc.; c) terminados em eordial, infiel, amdvel,pueril, agil, reinol, a%ul, Sxul, etc.; d) terminados em -ar e em -or (neste caso apenas os comparativos em -or): exemplar, impar, maior, superior, etc.; e) paroxitonos terminados em -s: reles, simples, etc.; /) terminados em auda^,feli^, atro%, etc.; g) terminados em -m grafico: virgem, ruim, comttm, etc.. Observacäo: Fazem excepcäo: andalust, fem. andalus^a; bom, fem. boa; espanhol, fem. espa-nhola; e a maior parte dos terminados em -es e -or. I Feminino dos adjectivos compostos. i i Nos adjectivos compostos, apenas o segundo elemento pode assumir ■■ a forma fenvmina: j i a literatura Mspano-americana uma intervencäo medico-cirürgica A ünica excepcäo 6 surdo-mudo, que faz no feminino surda-muda: ' um menino surdo-mudo uma crianca surda-muda Grau A gradacäo pode ser expressa em portugues por processos sintacticos ou morfolögicos. i Comparativo e auperlativo. Dois säo os Graus do adjectivo: o comparättvo e o superlattvo. i. O comparativo pode indicar: d) que um ser possui determinada qualidade em grau superior, ig/ml ou inferior a outro: Pedro 6 mais estudioso do que Paulo. ] Alvaro 6 täo estudioso como [ou quanto] Pedro. i Paulo e menos estudioso do que Alvaro. b) que num mesmo ser determinada qualidade é superior, igtial ou infe-rior a outra que possui: Paulo é maÍ8 inteligente que estudioso. Pedro é täo inteligente como [ou quanto] estudioso. Alvaro é menos inteligente do que estudioso. Daí a existencia de um comparativo de superioridade, de um com- parattvo de igualdade- e de um comparativo de inferioridade. 2. O superlativo pode denotar: d) que um ser apresenta em elevado grau determinada qualidade (superlativo absoluto): Paulo é inteligentlssimo. Pedro é muito inteligente. b) que, em comparacäo ä totalidade dos seres que apresentam a mesma qualidade, um sobressai por possuí-la em grau maior ou menor que os demais (superlativo relativo): Carlos é o aluno mais estudioso do Colégio. Joäo é o aluno menos estudioso do Colégio. No primeiro exemplo, o superlattvo relattvo é de superioridade; no segundo, de inferioridade. Formagäo do grau comparativo. 1. Forma-se o comparativo de superioridade antepondo-se o advérbio mais e pospondo-se a conjuncäo que ou do que ao adjectivo: Pedro é maiB idoso do que Carlos. Joäo é mais nervoso que desatento. 2. Forma-se o comparativo de igualdade antepondo-sc o advérbio täo e pospondo-se a conjuncäo como ou quanto ao adjectivo: Carlos é täo jovem como Alvaro. José é täo nervoso quanto desatento. 188 BREVE GRAMÁTICA DO PORTOGUÉS CONTBMPQRANEO 3. Forma-se 0 comparatd/o de iNFERiORrDADE antepondo-se o adverbio mows e pospondo-se a conjuncao que ou do que ao adjectivo: Paulo e menos idoso que Alvaro. joao e" menos nervosa do que desatento. Formacao do grau superlativo. Vimos que ha duas especies de superlattvo: absoluto e pjelattvo. O superlativo absoluto pode ser: a) sintetico, se expresso por uma s6 palavra (adjectivo + sufixo): amiclssimo acerrimo b) analitico, se formado com a ajuda de outra palavra, geralmente um adverbio indicador de excesso — muito, immsamente, extraordinariamente, execssivamente, grandemente, etc.: muito estudioso Superlativo absoluto sintetico. excessivamente fácií r. Forma-se pelo aeréscimo ao adjectivo do sufixo -issimo: fértil fertiííssimo original originalissimo Se o adjectivo terminar em vogal, esta desaparece ao aglutkvar-se o sufixo: belo belissimo lindo lindíssimo 2. Muitas vezeš o adjectivo, ao receber o sufixo -íssimo, reassume a primitiva forma latina. Assim: d) os adjectivos terminados em -vel formám o superlativo em -bilíssimo: amavel amabilíssimo terrível terribillssimo b) os terminados em fazem o superlativo em -(íssimo: capaz feliz capacíssimo felicíssimo í) os terminados em vogal nasal (representada por -m gráfico) formám o superlativo cm -tiíssimo: ADJECTTVO 189 d) os terrninados no ditongo -ao fazem o superlativo em -anlssimo: pagao vao paganlssimo vaníssimo 3. Nao raro a forma portuguesa do adjectivo difere sensivelmente da latina, da qual se deriva o superlativo. Assim: Normal Superlatívo Normal Superlativo amargo amarissimo magnífico magnificentíssimo amigo amicíssimo maléfico maleficentíssimo antigo antiquíssimo malévolo malevolentissimo benéfico beneficentíssimo miúdo minutlssimo benevolo benevolentíssimo nobre nobiUssimo eristao eristianíssimo pessoal personalíssimo cruel crudelíssimo pródigo prodigal issimo doce dulcíssimo sábio sapientíssimo fiel fidelíssimo sagrado sacratíssimo frio frigidíssimo simples simplicíssimo ou geral generalissimo simplissimo inimigo inimiclssimo soberbo superbíssimo 4. Também os superlativos em -imo e -rímo representam simples for-macoes latinas. Com exclusao de facilimo, dificílimo e paitpérrimo (superlativos de jácil, difícil e pobre), que pertencem á linguagem coloquial, sao todos de uso literário e um tanto precioso. Anotem-se os seguintes: Normal Superlativo Normal Superlativo acre célebre humilde íntegro Uvre salubre acčrrimo celebérrimo humílimo (ou humildíssimo) integérrimo libérrimo salubérrimo magro negro pobre macérrimo (ou magrissimo) nigérrimo (ou negrlssimo) paupérrimo (ou pobrissimo) comum comunissimo Superlativo relativo. 1. O superlativo relativo c sempře analitico. O de superioridade forma-se pela nnteposicao do artigo definido ao comparative de superioridade: ; Este aluno e o mais estudioso do Colegio. Joäo foi o colega mais leal que conheci. O de inferioridade forma-se pela anteposicäo do artigo definido ao comparativo de inferioridade: Este aluno e o menos estudioso do Colegio. Jorge foi o colega menos leal que conheci. ' 2. O termo da comparagäo e expresso por um complemento nominal j introduzido pela preposicäö de (e tambem entre, em e sobre), on por. uma oraeäo adjectiva restritiva, como nos exemplos mencionados. 3. O superlativo relativo denotador dos limites da possibilidade for- j ma-se com a posposicäo da palavra passive! ou uma expressäo (ou oragäo) de sentido equivalente: O arraial era o mais monötono possivel. (Güimaräes Rosa, S, 264.) I Era a pessoa mais cortes deste mundo, e näo deu corpo äs suas aver- j EÖCE. (Aquilino Ribeiro, V, 34.) 1 Comparativos e superlativos anömalos. j Quatro adjectivos — bom, mau, grande e peqneno — formám o comparativo e o superlativo de modo especial: Comparativo Superlativo Adjectivo de Superioridade Absoluto Relativo bom melhor óptimo 0 melhor mau pior péssimo 0 pior grande maior máximo 0 maior pcqueno menor rninimo 0 menor Observac/oes: 1. a Quando se compara a qualidade de dois seres, nao se deve dizer mais bom, mats mau e mais gjrande; e sim: melhor, pior e maior. Possível é, no entanto, usar as formas analiticas desses adjectivos quando se confrontam duas qua-lidades do mesmo ser: Ele foi mais mau do que desgracado. Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente. Em lugar de menor usa-se. também mais peqneno, que é a forma preferida em Portugal. 2. s A par de óptimo, péssimo, máximo e minima, existem os superlativos abso-lutos_ regulares: bonissimo e muito bom, malissimo e muito mau, grandíssimo e muito grande, peqmnissimo e muito pequeno. j.a Grande e pequeno possuem dois superlativos: o maior ou o máximo e o menor ou o minima. 4-a Alguns comparativos e superlativos nao tém forma normal usada: Comparativo Superlativo superior supremo ou sumo inferior infirno anterior — posterior póstumo ulterior ultimo As formas superior e inferior, supremo (ou sumo) e infirno podem ser empregadas como comparativo e superlativo de alto e baixo, respectivamente. Outras formas de superlativo. Pode-se formar também o superlativo com: a) o acréscimo de um prefixo ou de um pseudo-preßxo, como arqui-, extra-, biper-, super-, ultra-, etc.: arquimilionário, extrafino, hipersensivel, super-exaltado, ultra-rápido: b) a repeticäo do proprio adjectivo: É um Abril de pureza: —6 Undo, Undo! (Antonio Patricio, P, 130,) e) uma comparaeäo breve: •—Isso é claro como água. (Castro Sotomenho, TM, 101.) 19* BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO d) ccrtas expressôes fixas, como podře de rko [= riquíssimo], de mao cbeia [= excelente, de grandes recursos técnicos), e outras semelhantes: A Zorilda era uma pianista de mäo cheia. (Herberto Sales, DBFM, no.) Adjectivos que näo se flexionam em grau. Vimos que os chamados adjectivos de relacäo näo se flexionam em grau. O mesmo se dá com os outros adjectivos de tipo classificatório, entre os quais se incluem os pertencentes äs terminologias científicas, que se caracte-rizam por seu sentido específico, unívoco. Assim: atmosférko, morfológko, ovíparo, ruminante, sincrónico, etc. Para que um adjectivo tenha comparativo e superlativo, é obviamente indispensável que o seu sentido admita variacäo de intensidade. EMPREGO DO ADJECTIVO Funcöes sintäcticas do adjectivo. A rigor, o adjectivo so existe referido a um substantivo. Conforme se estabeleca a relacäo entre os dois termos na fräse, o adjectivo desempc-nhara as funcöes sintäcticas de adjunto adnominal ou de predicativo. A diferenca entre o adjectivo em fungäo de adjunto adnominal c o adjectivo em funcäo de predicativo baseia-se, principalmente, eia dois pontos: i.°) O primeiro e termo acessorio da oracäo, parte de um termo essencial ou iNTEGrante dela; o segundo e, por si proprio, um termo essencial da oracäo. Se dissessemos, por exemplo: O campo e imenso, o adjectivo predicativo näo poderia faltar, pois, sendo termo essencial, sem ele a oracäo näo teria sentido. Se dissessemos, no entanto: O campo imenso estd alagado, o adjectivo imenso seria parte do sujeito, uma dispensävel qualificaeäo do adjectivo J93 substantivo que Ihe serve de nucleo, um termo, por conseguinte, acessorio da oracäo. 2,°) A qualidade expressa por um adjectivo em fungäo predicativa vem marcada no tempo, e por essa relacäo cronológica entre a qualidade e o ser é responsável o verbo que liga o adjectivo ao substantivo. Comparem-se estas frases: O bom aluno estuda. Ele está nervoso, mas era calmo. Na primeira, acrescentamos a noeäo de bom a de ahmo sem termos em mentě qualquer referenda a ideia de tempo. Já na segunda, as noföes expressas pelos adjectivos nervoso e calmo säo por nós atribuídas ao sujeito com a situa-§äo de tempo marcada pelo verbo: nervoso, no presente; calmo, no passado. Emprego adverbial do adjectivo. i. Examinemos as seguintes oracöes: O menino dorme tranquilo. A menina dorme tranquila. Os meninos dormem tranquilos. As meninas dormem tranquilas. Vemos que, nelas, o adjectivo em funcäo predicativa concorda em género e numero com o substantivo sujeito. Mas veriflcamos, por outro lado, que, servindo embora de predicativo do sujeito, com o qual concorda, o adjectivo modifica em todas elas a aegäo expressa pelo verbo e assume, de alguma forma, um valor também adverbial. Esse valor naturalmente será o preponderante se, em lugar daquelas construgöes, usarmos as seguintes: O menino dorme ttanquilamentc. A menina dorme tranquilamentc. Os meninos dormem tranquilamente. As meninas dormem tranquilamente. Aqui, a forma adverbial, invariável, impede a possibilidade de con-cordáncia, justamente o elo que prendia o adjectivo ao sujeito, e, com isso, faz aflorar com toda a nitidez o modo por que se processa a accäo indicada pelo verbo dormir. BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPOrAnEO 2. É esse emprego do adjectivo em predicados verbo-nominais, com valor fronteirico de advérbio, que nos vai explicar o fenómeno, hoje muko generalizado, da adverbializacäo de adjectivos sem o acréscimo do sufixo -mentě. Por exemplo, nestas oracöes: Canta o canário de penas de ouro. Alegre canta. Cantara triste, Se se lembrasse que livre outrora Voava com os outros que andam lá fora. (Alberto de Oliveira, P, IV, 70.) as palavras alegre, triste e livre säo advérbios. Observacäo: Embora o adjectivo adverbializado deva permanecer invariável, näo faltam abonacöes, mesmo em bons autores, de sua concordáncia com o sujeito da oracäo, facto justificável pela ampla zona de contacto existente, no caso, entre o adjectivo e o advérbio. Colocacao do adjectivo ad junto adnominal. 1. Sabemos que, na oragäo declarativa, prepondera a ordem directa, que corresponde ä sequéncia progressiva do enunciado lógico. Como elemento acessório da oracäo, o adjectivo em funcäo de adjunto adnominal deverá, portanto, vir com maior frequéncia depois do substantivo que ele qualifica. 2. Mas sabemos, também, que ao nosso idioma näo repugna a ordem chamada inversa, principalmente nas formas afectivas da linguageme que a anteposicäo de um termo é, de regra, uma forma de realcá-lo. 3. Podemos, entäo, estabelecer previamente que: a) sendo a sequéncia substantivo + adjectivo a predominant^ no enunciado lógico, deriva daí a nocäo de que o adjectivo posposto possui valor objectivo: noite escura dia triste b) sendo a sequéncia adjectivo + substantivo provocada pela énfase dada ao qualificativo, decorre daí a nocäo de que, anteposto, o adjectivo assume um valor subjectivo: escura noite triste dia ADJECnVO__ Adjectivo posposto ao substantivo. Colocam-se normalmente depois do substantivo: a) os adjectivos de natureza classificatöria, como os teenicos e os de relacäo, que indicam uma categoria na especie designada pelo substantivo: animal domestico ägua mineral b) os adjectivos que designam caracteristicas muito salientes do substantivo, tais como forma, dimensäo, cor e estado: terreno piano calca preta hörnern baixo mamoeiro carregado c) os adjectivos seguidos de um complemento nominal: um programa facil de cumprir Adjectivo anteposto ao substantivo. 1. De um modo constante, so se colocam antes do substantivo: a) os superlativos relativos: 0 melhor, 0 pior, 0 maior, 0 menor; O melhor meio de ganhar e poupar. O maior castigo da injuria e have-la feito. b) certos adjectivos monossiläbicos que formam com 0 substantivo expressoes equivalentes a substantivos compostos: bom dia ma hora c) adjectivos que nesta posicäo adqukiram sentido especial, como simples {~ mero, so, ünico); comparem-se: Nessa ocasiäo ele era um simples escrevente [= um mero escrevente]. Este escritor tem um estilo simples [= um estilo näo complexo]. 2. Afora esses casos, o adjectivo anteposto assume, em geral, um sentido figurado. Comparem-se, por exemplo: um grande hörnern [= grandeza figurada] um hörnern grande [= grandeza material] uma pobre mulher [= uma mulher infeliz] uma mulher pobre [= uma mulher sem recursos] breve gramática do portuguěs contemporáneo CONCORDÁNCIA DO ADJECTIVO COM O SUBSTANTIVO O ADjECTivo, dissemos, varia em género e numero de acordo com o género e o numero do substantivo ao qual se refere. É por essa correspondéncia de flexoes que os dois termos se achám ine-quivocamente relacionados, mesmo quando distantes um do outro na frase. Assim: Dissc o mostrengo, e rodou trés vezeš, Tiés vezeš rodou imundo e grosso... (Fernando Pessoa, OP, 17.) Adjectivo referido a um substantivo. O adjectivo, quer em funcáo de adjunto adnominaí, quer em funcáo de predicativo, desde que se reíira a um trnko substantiva, com ele con-corda em género e numero. Assim: O Barao continuava a contar aventuras, pequenos casos que revivia com um prazer doentio. (Branquiriho da Fonseca, B, 27.) I A casa ůcou vazia. (Aníbal M. Machado. HR. 25j.) Adjectivo referido a mais de um substantivo. j i Quando o adjectivo se associa a mais de um substantivo, importa con- siderar: | a) o género dos substantivos; 1 b) a ruNCAO do adjectivo (adjunto adnominaí. ou predicattvo) ; 1 c) a posicao do adjectivo (anteposto ou posposto aos substantivos), condicoes essas que permitem a concordáncia do adjectivo com os subs- I tantivos englobados, ou apenas com o mais proximo. j Examinemos as diversas possibilidades, exemplificando-as. , ADJECTIVO ADJUNTO ADNOMINAL | t O adjectivo vem antes dos substantivos. j i Regra gcral. O adjectivo concorda cm género e numero com o subs- | adjectivo tantivo mais proximo, ou seja com o primeiro deles: Vivia em tranquilos bosques e montanhas. Vivia em tranquilas montanhas e bosques. Tinha por ele alto respeito e adnúragao. Tinha por ele alta admiracao e respeito. Observacao: Quando os substantivos sao nomes próprios ou nomes de parentesco, o adjectivo vai sempře para o plural: Conheci ontem as gentís irma e eunhada de Laura. Portugal cultua os feitos dos heróicos Diogo Cao e Bartolomeu Dias. O adjectivo vem depois dos substantivos. Neste caso, a concordáncia depende do género e do numero dos substantivos. 1. Se os substantivos sao do mesmo género e do singular, o adjectivo torna o género (masculino ou feminino) dos substantivos e, quanto ao numero, vai: a) para o singular (concordáncia mais comum): A professora estava com um vestido e um chapéu escuro. Estudo a lingua e a literatura portuguesa. b) para o plural (concordáncia mais rata): A professora estava com um vestido e um chapéu escuros. Estudo a lingua e a literatura portuguesas. 2. Se os substantivos sao de géneros diferentes e do singular, o adjectivo pode concordar: a) com o substantivo mais proximo (concordáncia mais comum): A professora estava com uma saia e um chapéu escuro. Estudo o idioma e a literatura portuguesa. b) com os substantivos em conjunto, caso em que vai para o masculino plural (concordáncia mais rara): A professora estava com uma saia e um chapéu escuros. Estudo o idioma e a literatura Portugueses. 3. Se os substantivos sao do mesmo género, mas de nútmros diversos, o 198 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO ADJECTTVO 199 adjectivo toma o género dos substantivos, e vai: a) para o plural (concordäncia mais comum): Ela comprou dois vestidos e um chapéu escuros. Estudo as linguas e a civilizagäo ibéricas. rara): b) para o numero do substantivo mais proximo (concordäncia mais Ela comprou dois vestidos e um chapéu escuro. Estudo as linguas e a civilizagäo ibérica. 4. Se os substantivos sao á& géneros diferentes e do plurál, o adjectivo vai: d) para o plurál e para o género do substantivo mais próximo (con-cordáncia mais comum): Ela comprou saias e chapéus escuros. Estudo os idiomas e as literaturas ibéricas. b) para o masculino plurál (concordáncia mais rara); Ela comprou chapéus e saias escuros. Estudo os idiomas e as literaturas ibéricos. dos casos, as mesmas regras de concordáncia a que está submetido o adjectivo que funciona como adjunto acmominal. Convém salientar, no entanto, que: d) se os substantivos sujeitos säo do mesmo género, o adjectivo toma o género dos substantivos e vai, preferentemente, para o plural, ainda que os substantivos estejam no singular: O livro e o caderno säo novos. A porta e a janela estavam abertas. b) se os substantivos sujeitos säo de géneros diver sos, o adjectivo vai, normalmente, para o masculino plural: O livro e a caneta säo novos. A janela e o portäo estavam abertos. Mas, nos dois casos, é também possível que o adjectivo predicativo concorde com o sujeito mais próximo se o verbo de ligacäo estiver no singular e anteposto aos sujeitos, como nos exemplos abaixo: Era novo o livro e a caneta. Estava aberta a janela e o portäo. 5. Se os substantivos säo de géneros e nůmeros diferentes, o adjectivo pode ir: a) para o masculino plural (concordáncia mais comum): Ela comprou saias e chapéu escuros. Estudo os falares e a cultura Portugueses. b) para o género e o numero do substantivo mais proximo (concordáncia que näo é rara quando o ultimo substantivo é um feminino plural): Ela comprou saias e chapéu escuro. Estudo o idioma e as tradicöcs portuguesas. ADJECTIVO PREDICATIVO DE SUJEITO COMPOSTO Observacoes: 1. a O adjectivo predicativo do objecto directo obedece, em geral, ás mesmas regras de concordáncia observadas pelo adjeedvo predicativo do sujeito. 2. a Como as oracoes, e as palavras tomadas materialmente, se consideram do numero singular e do género masculino, quando o sujeito é expresso por uma oracao (plena ou reduzida), o adjectivo predicativo fica no masculino singular: É justo que uma nacao venere os seus poetas. É honroso morrer pela pátria. Quando o adjectivo serve de predicativo a um sujeito múltiplo, cons-tituldo dc substantivos (ou expressöes equivalentes), observa, na maioria I 11. Pronomes PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJECTP70S i. Os pronomes desempenham na oracäo as funcöes equivalentes äs exer-cidas pelos elementos nominais. Servern, pois: a) para representar urn substantivo: Os campos, que suportaram a longa presenca solar a queimá-los irtccs-santemente, recebem agora a água abundaate com uma gula felis. (Augusto. Frederico Schmidt, GB, 294.) b) para acompanhar um substantivo determinando-lhe a extensäo do significado: —■ Quanto valem, és capaz de dizer? Leques espanhóis, de seda, de al-guma bisavó do meu tio cónego, com estas pérolas de prata e oiro! ] (Fernando Namora, TJ, 103.) I No primeiro caso desempenham a funcäo de um substantivo e, por ] isso, recebem o nome de pronombs substantivos; no segundo chamam-se \ pronomes ADjECTTvos, porque modificam o substantivo, que acompanham, como se fossem adjectivos. 2. Há seis espécies de pronomes: pessoais, possesstvos, demonstra- i tivos, relatxvos, interrogativos e indefinidos. | i PRONOMES PESSOAIS | í Os pronomes pessoais caractenzam-se: i.°) por denotarem as tres pessoas gramaticais, isto é, por térem a pronomes 201 capacidade de indicar no colóquio: a) quem fala = i.a pessoa: eu (singulár), nós (plurál); b) com quem se fala = 2.» pessoa: tu (singulár), vós (plurál); c) de quem se fala =3.* pessoa: ele, ela (singulár); eles, e/as (plurál); 2.0) por poderem representar, quando na j.a pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa: Levantaram Dona Rosário, quiseram levanta-la, embora eia se opu-sesse, choramingasse um pouco, dissesse que näo lhe era possível fazé-lo. (Maria Juditě de Carvalho, AV, 137.) 3.0) por variarem de forma, segundo: a) a funcäo que desempenham na oracäo; b) a acentuacäo que nela recebem. Formas dos pronomes pessoais. Quanto ä funcäo, as formas do pronome pessoal podem ser rectas ou oblíquas. Rectas, quando funcionam como sujeito da oracäo; oblí-quas, quando nela se empregam fundamentalmente como objecto (directo ou indirecto). Quanto ä acentuagäo, distínguem-se nos pronomes pessoais as formas tónicas das átonas. O quadro abaixo mostra claramente a corresponděncia entre essas formas: Pronomes pessoais rectos Pronomes pessoais obliquos näo reflexivos Átonos Tónicos f 1.» pessoa eu me mim, comigo Singular -J 2.» pessoa tu te ti, contigo 1 pessoa ele, ela 0, a, Ihe ele, ela [ pessoa nós nos nós, connosco Plural i 2.a pessoa vós vos vós, convosco 1 3-a pessoa eles, elas os, as, Ihes eles, elas Formas o, lo e no do pronome oblíquo. Quando o pronome oblíquo da 3.° pessoa, que funciona como objecto breve GRAMÄTICA DO PORIUGUĚS c0ntemp0räne0 directo, vem antes do verbo, apresenta-se sempre com as formas o, a, os, as. Assim: Näo o ver para mim é um supHcio. Nunca a encontramos em casa. Joäo ainda näo fez anos; ele os faz hoje. Eies as trouxeram consigo. Quando, porém, está colocado depois do verbo e se liga a este por hifen (pronome enclítico), a sua forma depende da terminacäo do verbo. Assim: i.o) Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empre-gam-se o, a, os, as: pronomes Louvo-o Louvava-a Louvei-os Louvou-as 2.0) Se a forma verbal terrninar em ~r, -s ou suprimem-se estas con-soantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las, como nestes exemplos: Ve-lo para mim 6 um supllcio. Encontramo-la em casa. Joao ainda nao fez anos; fa-los hoje. Nao quero vende-las. O mesmo se da quando ele vem posposto ao designativo eis ou aos pronomes tws e vos: Ei-lo sorridente. O nome nao vo-lo direi. 3,0) Se a forma verbal terrninar em ditongo nasal, o pronome assume as modalidades no, na, nos, nas. Däo-no Pöe-na ObsetvacSes: Tem-nos Trouxeram-nas i.° As formas antigas do pronome obllquo objecto directo eram Žo(sJ e la(s), provenicntes do acusativo do demonstrativo latino ilk, ilia, illud (= aque-le, aquela, aquilo). Pöspostas a formas verbais terminadas em -r, -s ou o seu /- iniciál assimilou aquelas consoantes, que depois desapareceram: fazer-lo > fazel-lo > faze-lo' fazes-Io > fazel-lo > faze-lo fiz-lo > fil-lo > fi-lo Igual assirrilacao sofreu o -s de eis, nos e vos, quando em contacto com o /-do pronome. 2. a Com as formas verbais terminadas em nasal, a nasalidade transmitiu-se ao /- do pronome, que passou a fazem-lo > fazem-no fagam-lo > facam-no 3. a No futuro do presente e no futuro do pretérito1 o pronome oblíquo nao pode ser enclítico, isto é, nao pode vir depois do verbo. Dá-se, entao, a mesóclise do pronome, ou seja a sua colocacao no interior do verbo. Jus-tifica-se tal colocacao por terem sido estes dois tempos formados pela justa-posicáo do infinitivo do verbo principal e das formas reduzidas, respectiva-mente, do presente e do imperfeito do indicativo do verbo haver. O pronome empregava-se depois do infinitivo do verbo principal, situacao que, em ultima análise, ainda hoje conserva. E, como todo infinitivo teraiina em -r, também nos dois tempos em causa desaparece esta consoante e o pronome toma as formas lo, la los, las. Assim; Futuro do presente vender-(h)ei vender-(h)ás vender-(h)á vender-(h)emos vender-fh)eis vender-(h)lo vendé-lo-ei vendé-lo-ás vendé-lo-á vendé-lo-emos vendé-lo-eis vendě-lo-ao Futuro do pretérito vender-(h)-ia vender-(h)ias vender-(h)ia vender-(h)íamos vender-(h)íeis vender-(h)iam vendě-lo-ia vendé-Io-ias vendé-lo-ia vendé-lo-íamos vendé-lo-leis vendé-lo-iam 4.* Quanto äs normas que se observam no emprego proclitico, enclitico ou mesoclitico destes pronomes, veja-se o que dizemos adiante, ao tratarmos da C0LOCA5Ä0 dos pronomes obliquos atonos. Pronomes reflexivos e reeiprocos. 1. Quando 0 objecto directo ou indirecto representa a mesma pessoa ou a mesma coisa que 0 sujeito do verbo, ele d expresso por um pronome reflexivo. O Reflexivo apresenta tres formas pröprias —se, si e consigo—, que se aplicam tanto ä 3.a pessoa do singular como ä do plural: Ele vestiu-se rapidamente. Ela fala sempre de si. 1 Sobre o emprego desta designagäo para as formas que, na tradisäo terminologies de Portugal, säo habitualinente chamadas formas de condiCional, v. adiante, p. 3)2. 2c-4 BREVE GR A MATIC A DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO O piatot näo trouxe o quadro consigo. Elcs vestiram-se rapidamente. Elas falam sempře de si. Os pintores näo trouxeram os quadros consigo. Nas demais pessoas, as suas formas identificam-se com as do pronome oblíquo: me, te, nos e vos. Eu me feri. Tu te kvas. Nós nos vestimos. Vós vos levantais. 2. As formas do reflexivo nas pessoas do plural (nos, vos e se) empre-gam-se também para exprimir a reciprocidade da accäo, isto é, para indicar que a accäo é mútua entre dois ou mais indivíduos. Neste caso, diz-se que 6 pronome é recíproco. Carlos e eu abracamo-nos. Vós vos querleis muko. José e Antonio näo se cumprimentam. 3. Como säo idénticas as formas do pronome recíproco e do reflexivo, pode haver ambiguidade com um sujeito plural. Por exemplo, uma frase como a seguinte: Joaquim e Antonio enganaram-se. pode significar que o grupo formado por Joaquim e Antonio cometeu o engano, ou que Joaquim enganou Antonio e este a Joaquim. Costuma-se remover a dúvida fazcndo-se acompanhar tais pronomes de exprcssöes reforcativas especiais. Assim: a) para marcar expressamente a accäo reflexiva, acrescenta-se-lhes, conforme a pessoa, a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, etc.: Joaquim e Antonio enganaram-se a si mcsmos. b) para marcar expressamente a accäo recíproca, junta-se-lhes, ou uma expressäo pronominal, como um ao outro, uns aos otitros, entre si: PRONOMES ou urn adverbio, como reciprocamente, mutuamcnte: Joaquim e Antonio enganaram-se mutuamente. Nao raro, a reciprocidade da accao esclarece-se pelo emprego de uma forma verbal derivada com o prefixo entre-: Marido e mulher entreolharam-se. (Vitorino Nemesio, MTC, 360.) EMPREGO DOS PRONOMES RECTOS Funcoes dos pronomes rectos. 1. Os pronomes rectos empregam-se como: a) sujeito: N6s vamos em busca de luz. (Agostinho Neto, SE, 36.) b) predicattvo do sujeito: Meu Deusl, quando serei tu? (Jos6 Regio, ED, 157.) 2, Tu e vos podem ser vocativos: 0 v6s, que, no silencio e no recolhimento Do campo, conversais a sos, quando anoitece... (Olavo Bilac, P, 158.) Omissao do pronome sujeito. Os pronomes sujeitos eu, tu, ele (ela), no's, dos, eks (elas) sao normal-mente omitidos em portugues, porque as desin^ncias verbals bastam, de regra, para indicar a pessoa a que se refere 0 predicado, bem como o mimero gramatical (singular ou plural) dessa pessoa: Joaquim e Antonio enganaram-se entre si, Joaquim c Antonio enganaram-se um ao outro. ando rimos escreves partistcs dormiu voltaram 20(5 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPOrAneO Presenca do pronome sujeito. Emprega-se o pronome sujeito: a) quando se deseja, enfaticamente, chamar a atencao para a pessoa do sujeito: Eu, naufraga da vida, ando a morrerl (Florbela Espanca, S, 31.) b) para opor duas pessoas diferentes: Abracarno-nos ambos contristados, Ele, porque ha de ser, como eu, am velho, E eu, por ter sido ja, como ele, um moco. (Eugenio de Castro, UV, 68.) c) quando a forma verbal 6 comum a i.a e a 3.» pessoa do singular e, por isso, se torna necessario evitar o equivoco: E preciso que eu repita o que ele disse? E preciso que ele repita o que eu disse? Extensäo de emprego dos pronomes rectos. Na linguagem formal certos pronomes rectos adquirem valores especiais. Enumeremos os seguintes: i. O plural de modestia. Para evitar o torn impositivo ou muito pessoal de suas opiniöes, costumam os escritores e os oradores tratar-se por nös em lugar da forma normal eu. Com isso, procuram dar a impressäo de que as idcias que expöem säo compartilhadas pelos seus leitores ou ouvintes, pois que se expressam como porta-vozes do pensamento colectivo. A este emprego da i.a pessoa do plural pela correspondente do singular chamamos plural de modestia. As ocupacöes oficiais em que nos achamos desdc 1861 a 1867, quer nas rcpublicas dc Venezuela, Equador, Peru e Chile, quer nas propnas Antilhas, näo nos deram muita ocasiäo de pensar em semelhante edicäo, para a qual a to al nos faltavam auxilios. (F. Adolfo Varnhagen, CT A, 9.) PRONOMES 207 Advirta-se que, quando o sujeito nós é um plural de modústia, o predicativo ou patticipio, que com ele deve concordar, costuma hear no singular, como se o sujeito fosse efectivamente eu. Assim, em vez de: Fiquei perplexo com o que ele disse. podemos dizer: Ficámos perplexo com o que ele disse. 2. O plural de majestade. O pronome nos era usado outrora pelos reis de Portugal — e ainda hoje o é pelos altos dignitários da Igreja — como símbolo de grandeza e poder de suas funcoes: Nós, Dom Fernando, pela graca de Deus Rei de Portugal e do Algarve, fazemos saber... é o que se chama plural de majestade. 3. Formula de cortesia (3.11 pessoa pela t.»). Quando fazemos um requerimento, por deferéncia á pessoa a quem nos dirigimos, tratamo-nos a nós próprios pela 3.a pessoa, e nao pela i.a: Fulano de tal, aluno desse Colégio, requer a V. Ex.a se digne mandar passar por certidao as notas mensais por ele obtidas no presente ano lectívo. 4. O vós de cerimónia. O pronome vás praticamente desapareceu da linguagem corrente do Brasil e de Portugal. Mas em discursos enfáticos alguns oradores ainda se servem da 2.a pessoa do plural para se dirigirem cerimoniosamente a um auditório qualificado. Veja-se este passo com que Olavo Bilac termina o seu discurso de in-gresso na Academia ďas Ciéncias de Lisboa: Ainda de longe, pensarei em vós, e pensarei convosco. Serei um dos menores sacerdotes do culto que nos congrega: o da nossa história e da nossa lingua. E, a mingua do brilho que vos posso dar, poderei dar-vos o fervor da minha crenca e a honestidade do meu labor. (DN, j6.) Realce do pronome sujeito. Para dar énfase ao pronome sujeito, costuma-se rcforgá-lo: 20g BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUES c0ntemp0rane0 a) sc ja com as palavras mesmo e proprio: — Tu mesmo serás o novo Hercules. (Machado de Assis, OC, II, 548.) Muitas vezes eu proprio me sinto ser o que ela pensa que eu sou. (Augusto Abelaira, B, 129.) b) seja com a expressäo invariável / que: Voces é que morrem, meu alferes, mas nós é que pagamos. (Luandino Vieira, NM, 63.) Precedéncia dos pronomes sujeitos. Quando no sujeito composto há um da i.3 pessoa do singular (eu), é boa norma de civilidade colocá-lo em ultimo lugar: Carlos, Augusto e eu fomos promovidos. Se, porém, o que se declara contém algo de desagradável ou importa responsabilidade, por ele devemos iniciar a série: Eu, Carlos e Augusto fomos os culpados do acidente. Equívocos e incorreccÖes. 1. Como o pronome e/e (ela) pode representar qualquer substantivo anteriormente mencionado, convém near bem claro a que elemento da frase ele se refere. Por exemplo, uma frase como: Álvaro disse a Paulo que ele chegaria primeiro. é ambigua, pois ele pode aplicar-se tanto a Álvaro como a Paulo. 2. Na fala vulgar e familiar do Brasil é muito frequente o uso do pronome ele(s), ela(s) como objecto directo em frases do tipo: Vi ele Encontrei ela Embora esta construeäo tenha raizes antigas no idioma, pois se docu-menta cm eseritores Portugueses dos séculos XIII e XTV, deve ser hoje evitada. pronomes 3. Convém, no entanto, näo confundir tal construeäo com outras, perfeitamente legítimas, em que o pronome em causa funciona como objecto directo. Assim: a) quando, antecedido da preposicäo a, repete o objecto directo enun-ciado pela forma normal átona (o, a, os, as): Näo sei se elas me compreendem Nem se eu as compreendo a elas. (Fernando Pessoa, OP, 160,) b) quando ptececüdo das palavras todo ou só: — Conheco bem todos eles. (Herberto Sales, DBFM, 150.) Contraccäo das preposicöes de e em com o pronome recto da $.a pessoa. As preposigöes de e em contraem-se com o pronome recto de 3.* pessoa ele(s), ela(s), dando, respectivamente, dek(s), dela(s) e nele(s), nela(s). A pasta é dele, e nela está o meu caderno. É de norma, porém, näo haver a contraccäo quando o pronome é sujeito; ou, melhor dizendo, quando as preposicöes de e em se relacionam com o infinitivo, e näo com o pronome. Assim: Pouco depois de eles salrem, levantei-me da mesa. (Luis Bernardo Honwana, NMCT, 96.) PRONOMES DE TRATAMENTO i. Denominam-se pronomes de tratamento certas palavras e locu-cöes que valem por verdadeiros pronomes pessoais, como: vod, 0 senhor, Vossa Exceléticia. Embora designem a pessoa a quem se fala (isto é, a 2.a), esses pronomes levam o verbo para a 3,1 pessoa: — Onde é que voces väo? (Luandino Vieira, NM, 78.) 210 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGOES CONTEMPORANEO PRONOMES 211 2. Convém conhecer as seguintes formas de tratamento reverente e as abreviaturas com que säo indicadas na escrita. Abreviaturas Tratamento Usado para: V. A. V. Em.4 V. Ex.a V. Mag." V. M. V. Ex.a Rev.ms V.P. V. Rev.a ou V. Rev.ma. V. S. V. S.» Vossa Alteza Vossa Eminencia Vossa Excelencia Vossa Magnificéncia Vossa Majestade Vossa Excelencia Re-verendissima Vossa Paternidade Vossa Reverenda ou Vossa Reverendlssima Vossa Santidade Vossa Senhoria Principes, arquiduques, duques Cardeais No Brasil: altas autoridades do Governo e oficiais generais das Classes Armadas; em Portugal: qualquer pessoa a quem, em principio, se quer manifestar grande respeito. Reitores das Universidades Reis, imperadotes Bispos e arcebispos Abades, superiores de conventos Sacerdotes em geral Papa Funcionarios püblicos graduados, oficiais ate coronel; na Hnguagem escrita do Brasil e na popular de Portugal, pessoas de cerimonia. Observacäo: i.* Como dissemos, estas formas aplicam-se ä 2.a pessoa, äquela com quern falamos; para a 3.a pessoa, aquela de quern falamos, usam-se as formas Sua Altera, Sua Etsmiucia, etc. Emprego dos pronomes de tratamento da 2.a pessoa. i. Tu e voce. No portugues europeu normal, o pronome tu e empre-gado como forma propria da intimidade. Usa-se de pais para filhos, de avös ou ttos para netos e sobrinhos, entre irmäos ou amigos, entre marido e mulher, entre colegas de faixa etäria igual ou proxima. O seu emprego tem-se alargado, nos Ultimos tempos, entre colegas de estudo ou da mesma profissäo, entre membros de urn partido politico e ate, em certas familias, de filhos para pais, tendendo a ultrapassar os limites da intimidade pro-priamente dita, em consonäncia com uma intencäo igualitäria ou, simples-mente, aproximativa. No portugues do Brasil, o uso de tu restringe-se ao extremo Sul do Pais e a alguns pontos da regiäo Norte, ainda näo suficientemente delimi-tados. Em quase todo o territörio brasileiro, foi ele substituido por voce como forma de mtimidade. Voce tambem se emprega, fora do campo da „timidade, como tratamento de igual para igual ou de superior para inferior. E este ultimo valor, de tratamento igualitario ou de superior para inferior (em idade, em classe social, em bierarquia), e apenas este, o que voce* possui no portugues normal europeu, onde sö excepcionalmente —e em certas camadas sociais altas — aparece usado como forma carinhosa de intimidade. No portugues de Portugal näo 6 ainda possivel, apesar de certo alar-gamento recente do seu emprego, usar voci de inferior para superior, em idade, classe social ou bierarquia. 2. O senhor. 0 senior, a senhora (e a senhorita, no Brasil, a menina, em Portugal, para a jovem solteira) säo, nas variantes europeia e americana do portugues, formas de respeito ou de cortesia e, como tais, se opöem a tu e voce, em Portugal, e a eoti, na maior parte do Brasil. Em Portugal, quando uma pessoa se dirige a algudm que possui tltulo profissional ou exerce determinado cargo, costuma fazer acompanhar as formas o senhor e a senhora da mencao do respectivo titulo ou cargo: o senhor doutor o senhor capitäo Mais raramente, usa-se como tratamento o tltulo näo precedido de senhor, senhora, o que 6 considerado menos respeitoso que a forma anterior: o doutor o engenheiro Neste caso, é mais frequente apor-se ao titulo o nome proprio (primeiro nome — o que implica certa proximidade — ou nome de família do inter-pelado): o doutor Orlando o engenheiro Silva No Brasil, estas formas de tratamento säo inusitadas. Alias, o emprego dos titulos especiücos, no tratamento ou fora dele, e sensivelmente maior em Portugal do que no Brasil, onde sö em casos especialissimos vem prece-didos de o senhor. Sistematicamente, so se mencionam no Brasil, seguidos dos nomes próprios: 212 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUŽS CONTEMPO RANEO PRONOMES 213 a) a patente dos militares: O Tenente Bartoso O Major Fagundes b) os altos cargos e títulos nobiliarquicos: O Presidente Bernardes O Embaixador Ouro Preto O Principe D. Joäo A Condessa Pereira Carneiro t) o tltulo Dom (escrito abreviadamente D.), para os membros da familia real ou imperial, para os nobres, para os monges beneditinos e para os dignitários da Igreja a partir dos bispos: D. Pedro D. Clemente D. Duarte D. Hélder Observe-se que, se Dom tem emprego restrito no idioma, tanto em Portugal como no Brasil, o feminino Dona (também abreviado em D.) se aplica, em principio, a senhoras de qualquer classe social. De uso bastante generalizado em Portugal e no Brasil é o título de Doutor. Recebem-no näo só os medicos e os que defenderam tese de dou-toramento, mas, indiscrirninadamente, todos os diplomados por escolas superiores. Também o emprego de Professor é muito frequente tanto em Portugal como no Brasil. Mas, enquanto no Brasil se aplica ao docente de qualquer grau de ensino, em Portugal usa-se sobretudo para os docentes do ensino primário e do ensino superior. Observaclo: As fbrmas vocé e o senior (a seniora) empregam-se normalmente nas funcöes de sujeito, de agente da passiva e de adjunto: — Voce amanhä näo vá as ceifas. (Aquilino Ribeiro, M, 354.) Estava desfeiteado, urn portador dele fora maltratado pelo senhor. (Jose Lins do Rego, P} 59.) — Deixem-rne ir com voces! (Luandino Vieira, NM, 78.) As formas voce (no Brasil) e 0 senhor, a senhora (tanto cm Portugal como no Brasil) cstcndem-se também äs funcöes de objecto (directo ou indirecto), substituindo com frequéncia as correspondentes átonas o, a e lbe: ■— Devo a vocé e ao doutor Rodrigo. (Jorge Amado, MM, 229.) — Eu aprecio muito o senhor e era incapaz de ofendé-lo volunta-riamente. (Rodrigo M. F. de Andrade, V, 124.) 3. Tratamento cerimonioso. As formas de tratamento. propriamente cerimonioso usam-se muito menos no Brasil do que em Portugal. i.°) Vossa Excelěncia (V. Ex.a). Embora o seu emprego, no por-tugués europeu, se tenha restringido bastante nas últimas décadas, e em particular nos Ultimos anos, ainda se usa a forma Vossa Excetöncia, na lingua-gem oral, em determinados ambientes (por ex.: Academias, Corpo Diplo-mático) ou situacöes (empregado de comércio dirigindo-se a diente, telefonista dirigindo-se a quem solicita uma Iigacäo, etc.), sem que haja qualquer discriminacäo nitida quanto ä categoria da pessoa interpelada. Por vezes aparece reduzida ä forma coloquial Vossincia. Na linguagem escrita, sob a forma abreviada V. Ex.a, é largo o seu uso, principalmente na correspondéncia oficial e comercial. No Brasil, só se emprega para o Presidente da República, rainistros, governadores dos Estados, senadotes, deputados e oficiais generais. E assim mesmo quase que exclusivamente na comunicaeäo escrita e protocolar. Em requerimentos, peticoes, etc., o seu uso costuma estender-se a presi-dentes de instituicöes, directores de servico e altas autoridades em geral. 2.0) Vossa Senhoria (V. S.a). É um tratamento praticamente inexistente na lingua falada de Portugal e do Brasil. Na lingua escrita, emprega-se ainda em ambas as variedades idiomáticas —mas cada vez menos— em cartas comerciais, em requerimentos, em oficios, etc., quando näo é proprio o tratamento de Vossa ExceMncia. 3.0) As outras formas — Vossa Eminéncia, Vossa Magnificincia, Vossa Santidade, etc. — säo protocolares e só se aplicam aos ocupantes dos cargos atrás indicados. 4. Outras formas de tratamento. Frequente no portugués de Portugal e muito raro no do Brasil, é o emprego de formas nominais anrecedidas de arti'go em vez das formas pronominais ou pronominalizadas de tratamento. Säo exemplos dessas formas nominais: a) o nome proprio, seja o de baptismo, seja o de familia: — O Manuel já leu este livro? ■—O Martins já leu este livro? 214 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO PRONOMES " 5 /;) os nomes de parentesco ou equivalences: — O pai já leu este livro? —O menino já leu este livro? c) outros nomes que situam o interlocutor em relagao ä pessoa que fala: — O meu amigo já leu este livro? — O paträo já leu este livro? Formulas de representacäo da i.a pessoa. No colóquio normal, emprega-se a genie por nás e, também, por en: Houve um momento entre nos Em que a gentc näo falou. (Fernando Pessoa, QGP, n.° 270.) — Voce näo calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens. Todos me olham como se quisessem devorar-me. (Ciro dos Anjos, DR, 41.) Como se vé dos exemplos äcima, o verbo deve near sempře na 3.a pessoa do singular. EMPREGO DOS PRONOMES OBLfQUOS Formas tónicas. Sabemos que as formas oblíquas tónicas dos pronomes pessoais vém acompanhadas de preposicäo. Como pronomes, säo sempře termos da ora-cäo e, de acordo com a preposicäo que as acompanhe, podem desempenhar as funcöes de: a) complemento nominal: Vou ver-me livre de ti... (Bernatdo Santareno, TPM, 24.) b) objecto indirecto: — Posso mandar incumbi-la de mostrar a ti os pontos pitorescos de Pkatininga. (Ciro dos Anjos, M, 302.) c) objecto directo (antecedido da preposicäo a e dependente, em geral, de verbos que exprimem sentimento): Paciente, obreira e dedicada, 6 a ela que em verdade eu amo. (Jose Rodrigues Migueis, GTC, 159.) d) agente da passiva: Os nossos amores näo seräo esquecidos nunca, — por mim, estä claro, e estou certo que nem por ti. (Macliado de Assis, OC, I, 688.) e) adjunto adverbial: Eu ja te vejo amanhä a colher flores comigo pelos campos. (Fernando Pessoa, OP, 167.) Observacäo: Do cruzamento das duas construcöes perfeitamente correctas: Isto näo e trabalho para eu fazer e Isto näo e trabalho para mim, surgiu uma tereeira: Isto näo e trabalho para mim fazer, em que o sujeito do verbo no infiniüvo assume a forma obliqua. A construeäo parece ser desconhecida em Portugal, mas no Brasil ela estä muito generalizada na lingua familiär, apesar do sistematico combate que lhe movem os gramiticos e os professores do idioma. Emprego cnfatico do pronome obliquo tönico. Para se ressaltar o objecto (directo ou indirecto), usa-se, acompanhando um pronome atono, a sua forma tönica regida da preposicäo a: Ele näo via nada, via-se a si mesmo. (Machado de Assis, OC, I, 431.) O Abravezes dava-lhe razäo a ela, em prineipio... (Urbano Tavares Rodrigues, PC, 20z.) Pronomes precedidos de preposicäo. As formas obliquas tönicas mim, ti, ele (ela), nos, vös, c/es (elas) sö se BREVE GRA.MÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO usam antecedidas de preposicäo. Assim: Fez isto para mim. Gosto de ti. A ele cabe decidir. Oral por nös. Confiamos em vös. Näo ha discotdäncia entre elas. Se o pronome obliquo for precedido da preposicäo com, dir-se-ä comigo, contigo, conosco e convosco. E regulär, no entanto, a construcäo com ele (com ela, com des, com elas) : Esdve com ele agora mesmo. Fui com elas visitar o irmäo. Normal e tambem o emprego de com nös e com vös quando os pronomes vem reforcados por oiitros, mesmos, proprios, todas, ambos ou qualquer numeral: Terä de resolver com nös mesmos. Estava com vös outros. Saiu com nös tres. Contava com todos vös. Observacties: i.» Empregam-se as formas eu e tu depois das preposigöes acidentais afora, fora, excepto, meuos, salvo e tirante: Afinal, todos excepto eu, sabem o que sou... (Ciro dos Anjos, DR, 43.) zfi A tradicäo gramatical aconselha o emprego das formas obllquas tönicas depois da preposicäo entre. Exemplo: Que difercnca hä entre mim e um fidalgo qualquer? (Sttau Monteiro, FL, 29.) Na linguagem coloquial predomina, porem, a construcäo com as formas rectas, construgäo que se vai insinuando na linguagem literara: Entre eu e tu, Täo profundo e o contrato. Que näo podc haver disputa. (Jos6 R£gio, ED, 91.) Entre eu e minha mäe existe o mar. (Ribciro Couto, PR, 365.) PRONOMES zij 3.» Com a preposicäo ate usam-se as formas obllquas mim, ti, etc.. Curvam-se, agarram a rede, erguem-na o\& si. (Raul BrandäOj P, 154.) Se, porem, ate denota inclusäo, e equivale a mesmo, tambem, inclusive, conströi-se com a forma recta do pronome: Pois e de pasmar, mas 6 verdade. E at6 eu ja üve hoje quem me ofe-recesse champanhe. (Jose- Regio, SM, ij6.) Formas atonas. 1. Säo formas pröprias do objecto directo: 0, a, os, as: Ele olhou-a, espantado. (Ferreira de Castro, OC, I, 481.) Angela dominava-os a todos, vencia-os. (Raul Pompem, A, 222.) 2. Säo formas pröprias do objecto indirecto : Ihe, Ibes: Soube inspirar-lhes confianca. (Bernardo Santareno, TPM, 84.) 3. Podem empregar-se como objecto directo ou indirecto: mt, te, nos e ves. d) objecto directo: Queres ouvir-me um instante, sensatamente? (Urbano Tavares Rodrigues, PC, 153.) b) objecto indirecto: — Ninguem te vai agradecer. (Alves Redol, BSL, 355.) O pronome obliquo ätono sujeito de um infinitivo. Se compararmos as duas frases: Mandei que ele saisse. Mandei-o sair. BREVE GRAMÍTICA DO PÖRTUGUES CONTEMPORÁNEO verificamos que o objecto directo, exigido pela forma verbal mandei, e espresso: d) na primeira, pela oragäo que ek saisse; b) na segunda, pelo pronome seguido do infinitivo: o sair. E verificamos, tambem, que o pronome o estä para o irifinitivo sair como o pronome ele para a forma finita saisse, da qual e sujeito. Logo, na frase acima o pronome o desempenha a fungäo de sujeito do verbo sair. Construcöes semelhantes admitem os pronomes me, te, nos, vos (e o reflexivo se, que estudaremos ä parte), Exemplos: Deixe-me falar. Mandam-te entrar. Fez-nos sentar. Emprego enfätico do pronome obllquo atono. 1. Para dar realce ao objecto directo, costuma-se coloca-lo no inicio da frase e, depois, repeti-lo com a forma pronorninal o (a, os, as), como nes-tes passos: — Verdades, quem e que as quer? (Fernando Pessoa, OP, 550.) Note-se que, se o objecto directo for constituido de substantivos de generös diferentes, o pronome que os resume deve ir para o masculino plural — os: Se Paulo desejava mesmo escändalo e agitacäo, teve-os ä vontade. (Mario Palmerio, VC, 307.) 2. Tambem o pronome Ihe (Ihes) pode reiterar o objecto indirecto colocado no inicio da frase. Comparem-se os conhecidos proverbios: Ao m6dico e ao abade, diga-lhes sempre a verdade. O pronome de interesse. Nesta frase: Olhcm-me para ela: e o espelho das donas de casa! (Aquilino Ribeirö, M, 101.) o pronome we näo desempenha fungäo sintactica alguma. E apenas urn PRONOMES recurso expressivo de que se serve a pessoa que fala para mostrar que estd vivamente interessada no cumprimento da ordem emitida ou da exortagäo feita. Este pronome de interesse, também conhecido por dattvo ético ou de provetto, é de uso frequente na linguagem coloquial, mas näo taro aparece na pena de escritores. Pronome átono com valor possessivo. Os pronomes átonos que funcionam como objecto indirecto (me, te, Ihe, nos, vos, Ihes) podem ser usados com sentido possessivo, principalmente quando se aplicam a partes do corpo de uma pessoa ou a objecto» de seu uso particular: Escutaste-lhe a voz? Viste-lhe o rosto? (Fagundes Varela, PC, II, 272.) Valores e empregos do pronome se. O pronome se emprega-se como: a) objecto directo (emprego mais comum): Ao sentir aquela robustez nos bragos, meu pai tranquilizou-se e tran-quilizou-o. (Gilberto Amado, HMI, 114.) b) objecto indirecto: Sofia dera-se pressa em tomar-lhe o braco. (Machado de Assis, OC, I, 656.) emprego menos raro quando exprime a reciprocidade da acgäo: Os nossos olhos muito perto, imensos No desespero desse abracp mudo, Confessaram-se tudol (Jose Regio, PDD, 83.) c) sujetto de um infinitivo: Moura Teles deixou-se conduzir passivamente. (Joaquim Pago d'Atcos, CVL, 607.) z zo BR.EVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO pronomes Z2I d) pronome apassivador: Fez-se novo siléncio. (Coelho Netto, OS, I, 97-) e) simdolo de indeterminacäo do sujeito (junto ä j.a pessoa do singular de verbos intransitivos, ou de transitivos tornados intransitivamente): Vive-se ao ar livre, come-se a'o ar livre, dorme-se ao ar livre. (Raul Brandäo, P, 165.) f) pALAVRA expletiva (para realgar, com verbos intransitivos, a espontancidade de uma atitude ou de um movimento do sujeito): ... Vao-se as situates, e eles com elas. (Adelino Magalhäes, OC, 798.) g) parte integrante de certos verbos que geralmente exprimem sentimente, ou mudanga de estado: admirar-se, arrepender-se, atrever-se, indig-nar-se, queixar-se; congelar-se, derreter-se, etc.: — Atreva-se. Atreva-se, e vera. (Miguel Torga, NCM, 48.) Observagöes: 1. a No portugués contemporáneo só se usa a passiva pronominal quando näo vem expresso o agente. 2. a Em frases do tipo: Vendem-se casas. Compram-se móveis. consideram-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compram, razäo por que na linguagem cuidada se evita deixar o verbo no singular. Combinacöes e contraccöes dos pronomes átonos. Quando numa mesma oragäo ocorrem dois pronomes átonos, um objecto directo e outro indirecto, podem combinar-se, observadas as seguin-tcs regras: i.a) Me, ie, nos, vos, lbe e Ihes (formas de objecto indirecto) juntam-se a 0, a, os, as (de objecto directo), dando: mo — me 4- 0 ma = me -f a mos = me 4- os mas = mc 4- as to => te + 0 ta = te + a tos = te + os tas = te + as lho = lhe 4- 0 lha = lhe + a lhos = lhe + os lhas = lhe 4- as no-lo = nos + [l]o no-la = nos 4- [l]a no-los = nos 4- [ljos no-las = nos 4 [ľjas vo-lo = vos + [l]o vo-la = vos + [l]a vo-los = vos 4- [ljos vo-las = vos 4- (ijas lho ■ — Ihes + 0 lha = Ihes + a lhos = Ihes + os lhas = Ihes + as 2. °) O pronome se' associa-se a me, te, nos, vos, lhe e Ihes (e nunca a 0, a, os, as). Na escrita, as duas formas conservam a sua autonómia, quando antepostas ao verbo, e ligam^se por hifen, quando lhe vém pospostas: O coragäo se me confrange... (Olegário Mariano, TVP, I, zi6.) A aventura gorou-se-lhe aos primeiros passos. (Carlos de Oliveira, AC, 155.) 3. a) As formas me, te, nos e vos, quando funcionam como objecto directo, ou quando säo parte integrante dos chamados verbos pronorninais, näo admitem a posposigäo de outra forma pronominal átona. O objecto indirecto assume em tais casos a forma tónica preposicionada: — Como me hei-de livrar de ti? (Jose Regio, JA, 8j.) Obser vagôeB: i a As combinagöes lho, íha (equivalentes a Ibes + o, Ihes + a) e lhos, lhas (equivalentes a Ibes 4- os, Ibes + os) encontram sua explicagäo no facto de, na lingua antiga, a forma Ibe (sem -s) ser empregada tanto para o singular como para o plural. Originariamente, éram, pois, contracgôes em tudo normais. 2.a No Brasil, quase näo se usam as combinagöes mo, to, lho, no-lo, vo-lo, etc. Da lingua corrente estäo de todo banjdas e, mesmo na linguagem literária, só aparecem geralmente em escritores um tanto artificials. Colocacäo dos pronomes ätonos. i. Em relagäo ao verbo, o pronome átono pode estar: a) enclítico, isto é, depois dele: Calei-me. b) proclítico, isto é, antes dele: Eu me calei. 222 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÄNEO PRONOMES 223 c) mesoclítico, ou seja, no meio dele, colocacäo que só é possível com formas do futuro do presents ou do futuro do pretérito: Calar-me-ei. CaJar-me-ia. 2. Sendo o pronome átono objecto dirercn ou indirecto do verbo, a sua posicäo logica, normal, é a énclise: Na segunda-feira, ao ir ao Morenal, parecera-lhe sentir pelas costas risinhos a escarnecé-la. (Eca de Queirós, O, I, 124.) Há, porém, casos em que, na lingua culta, se evita ou se pode evitar essa colocacäo, sendo por vezeš divergentes neste aspecto a norma portu-guesa e a brasileira. Procuraremos, assim, distinguir os casos de próclise que representam a norma geral do idioma dos que säo optativos e, ambos, daqueles em que se observa uma divergéncia de normas entre as variantes europeia e americana da Hngua. RegraB gerais: i. Com um só verbo. r.°) Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, dá-se täo somente a próclise ou a mesóclise do pronome: Eu me calarei. Calar-me-ei. Eu me calaria. Calar-me-ia. z.°) É, ainda, preferida a próclise: a) Nas oracöes que contém uma palavra negativa (näo, nt/ma, jamais, ningiiém, nadá, etc.) quando entre ela e o verbo näo há pausa: —'Näo lhes dizia eu? (Mario de Sá-Carneiro, CF, 348.) Nunca o vi täo sereno e obstinado. (Ciro dos Anjos, M, 316). b) nas oracöes iniciadas com pronomes e advérbios interrogativos: Quem mc bueca a esta hora tardia? (Manuel Bandeira. PP, I, 406.) ' Como a julgaríam os pais se conhecessem a vida dela? (Uibano Tavares Rodiigues, NR, 23.) e) nas oracöes iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas oracöes que exprimem desejo (optativas): — Que Deus o abencoe! (Bernardo Santareno, TPM, 18.) — Bons olhos o vejam! exclamou. (Machado de Assis, OC, I, 483.) d) . nas oracöes subordinadas desenvolvidas, ainda quando a conjun-cäo esteja oculta: — Prefiro que me desdcnhem, que me torturem, a que me deixem só. (Urbano Tavares Rodrigues, NR, 115.) — Que é que desejas te mande do Rio? (Afránio Peixoto, RC, 174.) e) com o gerúndio řegido da preposicäo em: Em se ela anuviando, em a näo vendo, Já se me a luz de tudo anuviava. (Joäo de Deus, CF, 205.) 3.0) Näo se dá a ěnclise nem a próclise com os particípios. Quando o parti cípio vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempře a forma oblíqua regida i'e preposigao. Exemplo: Dada a mim a explicacäo, saiu. 4.0) Com os iNFiNmvos soltos, mesmo quando modificados por nega-gäo, é lícita a próclise ou a énclise, embora hajá acentuada tendéncia para esta ultima colocacäo pronominal: Canta-me cantigas para me embalar! (Guerra Junqueiro, S, 118.) Pata näo fitá-lo, deixei cair os olhos. (Machado de Assis, OC, I, 807.) Para assustá-lo, os soldados atiravam a esmo. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 82.) A énclise é mesmo de rigor quando o pronome tem a forma o (prin- 224 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO PRONOMES "5 cipalmente no feminino a) e o infinitivo vem regido da preposigäo a: Se soubesse, näo continuaria a lé-lo. (Rui Barbosa, EDS, 743.) Logo os outros, Camponeses e Operários, comecam a imitá-ia. (Bernardo Santareno, TPM, 120.) 5.0) Pode-se dizer que, alem dos casos examinados, a lingua portu-guesa tende ä próclise pronominal: a) quando o verbo vem antecedido de certos advérbios (bem, mal, ainda, já, sempře, s6, talve^, etc.) ou expressöes adverbiais, e näo há pausa que os separe: Ao despertar, ainda as encontro lá, sempře se mexendo e diseutindo. (Aníbal M. Machado, C], 174.) Nas pernas me flava eu. (Aquilino Ribeiro, M, 88.) b) quando a oragäo, disposta em ordern inversa, se inicia por objecto directo ou predicativo: — A grande notícia te dou agora. (Fernando Namora, NM, 162.) Razoável lhe parecia a solugäo proposta. c) quando o sujeito da oragäo, anteposto ao verbo, contém o numeral ambos ou algum dos pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qual-quer, etc.): Ambos se sentiam humildes e embaragados. (Fernando Namora, TJ, 293.) Alguém lhe bate nas costas. (Aníbal M. Machado, JT, 208.) d) nas oragöes alternativas: — Das duas uma: ou as faz ela ou as fajo eu. (Sttau Monteiro, APJ, 39.) 6.°) Observe-se por fim que, sempře que houver pausa entre um ele- mento capaz de provocar a prócuse e o verbo, pode ocorrer a énclise: Pouco depois, detiveram-se de novo. (Ferreira de Castro, OC, I, 403.) 2. Com uma locueäo verbal. i. Nas IiOCucöes Verbais em que o verbo principal estä no infini-rrvo ou no gerundio pode dar-se: i.°) Sempre a enclisb ao infinitivo ou ao gerundio: So quero preveni-lo contra as exageracöes do Prologo. (Antero de Quental, C, 314.) Nös lamos seguindo; e, em torno, imensa, Ja desenrolando-se a paisagem, (Raimundo Correia, PCP, 304.) 2.0) A proclise ao verbo auxiliar, quando ocorrem as condigoes exi-gidas para a anteposigäo do pronome a um $6 verbo, isto e: a) quando a locueäo verbal vem precedida de palavra negativa, e entre elas näo ha pausa: Rita e roinha irmä, näo me ficaria querendo mal e acabaria rindo tamböm. (Machado de Assis, OC, I, 1.051.) — Ninguem o havia de dizer. (Aquilino Ribeiro, M, 68.) b) nas oragöes iniciadas por pronomes ou adverbios interrogativos: — Que mal me havia de fazer? (Miguel Torga, NCM, 47.) Como te hei de receber em dia täo posterior? (Cecilia Meireles, OP, 406.) c) nas oragöes iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas oragöes que exprimem desejo (optativas): Como se vinha trabalhsndo mal! Deus nos ha de protegerl 226 B REVE GRAMÁTICA DO PORTUGUĚS CONTEMPORÁNEO PRONOMES 227 d) nas oracôes subordinadas desenvolvidas, mesmo quando a con-juncäo está oculta: Ao cabo de cinco dias, miaha mäe amanheceu täo transtornada que orde-nou me mandassem buscar ao serninário. (Machado de Assis, OC, I, 800.) 3.0) A énclise ao verbo auxiliar, quando näo se verificam essas con-dicôes que aconselham a próclise: Väo-me buscar, sem mastros e sem velas, Noiva-menina, as doidas caravelas, Ao ignoto País da minha infäncia... (Florbela Espanca, S, 179.) A cidade ia-se perdendo á medida que o veleiro rumava para Säo Pedro. (Baltasar Lopes da Silva, C, 207.) 2. Quando o verbo principál está no partícipio, o pronome átono näo pode vir depois dele. Viiá, entäo, proclítico ou énclítico ao verbo auxiliar, de acordo com as normas expostas para os verbos na forma simples: — Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste? (Maria Judite de Carvalho, TM, 152.) — Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe serä perdoado. (Machado de Assis, OC, I, 645.) Que se tcria passado? (Coelho Netto, OS, I, 1412.) Queria mesmo dali adivinhar o que se tinha passado na noite da sua ausert- cia. (Alves Redol, F, 195.) Observacäo: A colocacäo dos pronomes átonos no colóquio normal do Brasil, tende ä próclise. Parece suceder o mesmo no portugués falado em África. Esta colocacäo é, assim, possível: a) no início de frases: — Me dcsculpe se falei demais. (Erico Veríssimo, A, 11, 487.) Me arrepio todo... (Luandino Vieira, NM, 138.) b) nas oracôes absolutas, principais e coordenadas näo iniciadas por palavra que exija ou aconselhe tal colocacäo: — Se Vossa Reverendíssima me permite, eu me sento na rede. (Josué Montello, TSL, 176.) ■— A sua prima Júlia, do Golungo, lhe mandou um cacho de bananas. (Luandino Vieira, NM, 54.) f) nas locucöes verbais antes do verbo principál: Será que o pai näo ia se dar ao respeito? (Autran Douiado, SA, 68.) — Näo, näo sabes e näo posso te dizer mais, já näo me ouves. (Luandino Vieira, NM, 46.) PRONOMES POSSESSIVOS Os pronomes possessivos acrescentam ä nocäo de pessoa gramatical uma ideia de posse. Säo, de regra, pronomes adjectivos, equivalentes a um adjunto aó^ominal antecedido da preposigäo de (de mim, de ti, de nós, de vôs, de si), mas podem empregar-se como pronomes substantivos: Meu livro é este. Este livro é o meu. Sempre com suas históriasl Fazer das suas. Formas dos pronomes possessivos. Os pronomes possessivos apresentam trés séries de formas, corres-pondentes ä pessoa a que se referem. Em cada série, estas formas variam de acordo com o género e o numero da coisa possuída e com o numero de pessoas representadas no possuidot. BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEQ Um possuidor Vários possuidores Um Vários Um Vários' objecto objectos objecto objectos ' masc. meu meus nosso nossos i.a pessoa fem. minha minhas nossa nossas z.a pessoa ' masc. teu teus vosso vossos fern. tua tuas vossa vossas 1 masc. scu seus seu seus 3.a pessoa fem. sua suas sua suas Concordáncia do pronome possessive 1. O pronome possessivo coticorda em género e numero com o subs-tantivo que designa o objecto possuído; e em pessoa, com o possuidor do objecto em causa: Suas mudancas súbitas, seu jeito provocante, sua mimica muito ferni-runa me fazem lembrar a Jandira mulher, que tantas vezes desaparece a meus olhos, em nossas conversances. (Gro dos Anjos, DK, 124.) 2. Quando um só possessivo determina mais de um substantivo, con-corda com o que Ihe esteja mais proximo: E o meu corpo, minh'alma e coracäo, Tudo em risos poisci em tua mäo... (Florbela Espanca, S, 177.) Posicäo do pronome adjectivo possessivo. O pronome adjectivo possessivo precede normalmente o substantivo que determina, como nos mostram os exemplos até aqui citados. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo: i.°) quando este vem desacompanhado do artigo definido: Esperava noticias tuas para dc novo te escrever. (Antonio Nobre, CI, 09.) PRONOMES 2.0) quando o substantivo ja estä determinado (pelo artigo indefinido ou por numeral, por pronome demonstrativo ou por pronome mdefinido): Recebi, no Rio, no dia da posse no Instituto, um teiegtama seu, de felicitaeöes... (Euclides da Cunha, OC, II, 639.) Note este erro seu: näo ha em mim (que eu seja consciente) o menor espirito de renüncia ou de esquecimento de mim proprio. (Jackson de Figueiredo, C, 177.) Como tu foste infiel A certas ideias minhas! (Fernando Pessoa, QGP, 83.) 3.0) nas interrogates directas: Onde estais, cuidados meus? (Manuel Bandeira, PP, 23.) 4.0) quando hä enfase: — Tu näo lustras as unhas! tu trabalhasl tu es digna filha minha I pobre, mas honesta I (Machado de Assis, OC, I, 672.) Emptego ambiguo do possessivo de 3-a pessoa. As formas seu, sua, seus, suas aplicam-se indiferentemente ao possuidor da 3.11 pessoa do singular ou da 3.a do plural, seja este possuidor masculino ou feminino. O facto de 0 possessivo concordar unicamente com o substantivo deno-tador do objecto possuido provoca, näo raro, dtivida a respeito do possuidor. Para evitar qualquer ambiguidade, o portugues nos oferece o recurso de precisar a pessoa do possuidor com a substituicäo de seu(s), sua(s), pelas formas dek(s), deia(s), de voce, do senhor e outras expressöes de tratamento. Por exemplo, a fräse: Estando com Julia, Pedro fez comentärios sobre os seus exames. tem um enunciado equivoco: os comentärios de Pedro podem ter sido feitos sobre os exames de Julia; ou sobre os exames dele, Pedro; ou, ainda, sobre os exames de ambos. 2J0 breve GRAMÁTICA DO PORTUGuiS CONTEMPORÄNEO PRONOMES Assim sendo, o locutor devetá expressar-se, confotme a sua intencäo: Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre oa exames dela. Estando com Julia, Pedro fez comentários sobre os exames dele. Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames deles. Reforco dos posseasivos. O valor possessivo destes pronomes nem sempře é suficientemente forte. Quando há necessidade de realgar a ideia de posse —quer visando ä clareza, quer ä ěnfase—, costuma-se reforcá-los: a) com a palavra proprio ou mesmo: Mais uhidos sigamos e näo tarda Que eu ache a vida em tua propria morte. (Guimaräes Passos, VS, 46.) Era ela mesma; er am os seus meamos btacps. (Machado de Assis, OC, IT, 484.) b) com as expressôes dele(s), dela(s), no caso do possessivo da 3.» pessoa: Montaigne explica pelo seu modo dele a variedade deste livro. (Machado de Assis, OC, II, 556.) Valores dos possessivos. O pronome possessivo näo exprime sempre urna relacäo de posse ou pertiněncia, real ou figurada, Na lingua moderna, tem ele assumido múlti-plos valores, por vezeš bem distanciados daquele sentido originário. Mencione-se o seu emprego: a) como mdefinido: Tinha tido o seu orgulho, a sua calma, a sua certcza. (Miguel Torga, V, 216.) b) para indicar aproximacäo numčrica: Enttou uma mulheiziriha de seus quatenta anos, decidida e de passo firme. (Fernando Sabino, HN, 164.) c) para designar um hábito: Neste instante, a Juditě voltou-se e, abandonando as companheiras, veio desfazer o cumprimento com um tepente dos seus. (Almada Negreiros, NG, 110.) Sente-se em todos esses empregos do possessivo uma čerta carga afec-tiva, raais acentuada nos que passamos agora a examinar. Valores afectivos. x. Variados säo os matizes afectivos expxessos pelos possesstvos. Servern, por vezeš, para acentuar um sentimento: a) de deferéncia, de respeito, de polidez: — Morrer, meu Arno, só uma vezl (Antonio Nobre, S, 106.), b) de intimidade, de amizade: — Dispöe de mim, meu velho, estou ás suas ordens, bem sabes. (Artur Azevedo, CFM, 6.) f) de simpatia, de Interesse (com referenda a personagem de uma narratíva, a autor de leitura frequente, a clubes ou associagöes de que seja socio ou aficionado, etc.): Ora bem, deixa-me transcrever o meu Saint-Exupery. (Fernando Namotá, RT, 190.) Onde está o meu Tenentes do Diabo? (Jose Lins do Rego, E, 282.) d) de ironia, de malída, de satcasmo: Todos aqueles santos varöes comiam, bebiam o 8eu vinho do Porto na copa. (Ega de Queirós, 0, II, 17.) Observe-se que, nos dois Ultimos casos, o possessivo vem normalmente acompanhado do artígo definido. z. De acentuado carácter afecdvo é também a construcäo em que uma forma feminina plural do pronome completa a expressäo Javier (ou di%er) B REVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNĽO PRONOMES uma das = praticar uma accäo ou dizer algo particular, geralmente passível de crítica: Com aquele génio esquentado é capaz de fazer uma das dele. (Castro Soromenho, TM, 175.) Nosso de modéstia e de majestade. Paralelamente ao emprego do pronome pessoal nos por m nas formulas de modéstia e de majestade que estudámos, aparece o do possessivo nosso (-d) por mu (minba). Comparem-se estes exemplos; d) de modéstia: Este livro nada mais pretende ser do que um pequeno ertsaio. Foi nosso escopo encontrar apoio na história do Brasil, na formacäo e crescimento da sociedade brasileira, para colocar a lingua no seu verdadeiro lugar: expres-säo da sociedade, inseparável da história da civilizagäo. (Serafim da Silva Neto, IELPB, n.) b) de majestade: Mandamos que os ciganos, assi homeňs como mulheres, nem outras pessoas, de qualquer nagäo que sejam, que com eles andatem, näo entrem em nossos Reinos e Senhorios. (Ordenagôes Filipinas, livro V, título 69.) Vosso de cerimónia. O uso do pronome pessoal vós como tratamento cerimonioso aplicado a um indivíduo ou a um auditório qualiŕicado leva, naturalmente, a igual emprego do possessivo vosso (-a). Exemplos: Nunca vosso avô, meu senhor e marido, achou que me näo fosse possí-vel compreender o ánimo dum grande portugués. (José Régio, BBS, 69.) Levareis, Senhores Dclegados, aos vossos Governos, á vossa Patria, estas declaracôes que säo a expressäo sincera dos sentimentos do Governo e do Povo Brasileiro. (Baräo do Rio-Branco, D, 98.) Substantivacäo dos poBseesivos. Os possESSivos, quando substantivados, designam: d) no singular, o que pertence a uma pessoa: A rapariga näo tinha um minuto de seu. (Alberto Rangel, IV, 61.) b) no phrral, os parentes de alguem, seus companheiros, compatriotas ou correligionarios: Näo me podia a Sorte dar guarida Por näo ser eu dos seus. (Fernando Pessoa, OP, 12.) PRONOMES DEMONSTRATIVOS 1. Os PRONOMES DEMONSTRATivos situam a pessoa ou a coisa designada relativamente as pessoas gramaticais. Po dem situa-la no espaco ou no tempo: Lia coisas incrfveis pata aquelc lugar e aquele tempo. (Ciro dos Anjos, DR, 105.) A capacidade de mostrar um objecto sem nomea-Io, a chamada fun-cäo DEiCTiCA (do grego deiktikös = proprio para demonstrar, demonstra-tivo), e a que caracteriza fundamentalmente esta classe de pronomes. 2. Mas os demonstrativos empregam-se tambem para lembrar ao ouvinte ou ao leitor o que ja foi mencionado ou o que se vai mencionar: A ternura näo embarga a discrigäo nem esta diminui aquela. (Machado de Assis, OC, I, 1.124). O mal foi este: criar os filhos como dois principes. (Miguel Torga, V, 309.) E a sua funcao anaförica (do grego anaphorikos — que faz lembrar, aue traz ä memoria). Formas dos pronomes demonstrativos. i. Os pronomes .demonstrativos apresentam formas variäveis e formas invariaveis, ou neutras: *34 breve GRAmXTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO PRONOMES *3S Variáveis Invatiáveis Masculino Feminino este estes esta es tas isto esse esses essa essas isso aquele aqueles aquela aquelas aquilo 2. As formas variáveis {este, esse, aquele, etc.) podem funcionar como pronomes adjectivos e como pronomes substantivos: Este livro é meu. Meu livro é este. 3. As formas ínvariáveis (isto, isso, aquilo) säo sempře pronomes substantivos. 4. Estes demonstrativos combinam-se com as preposicöes de e em, tomando as formas: deste, desta, disto; «este, nesta, nisto; desse, dessa, disso; nesse, »essa, nisso; daqmle, daquela, daqtdlo; naquele, naquela, naquilo. Aquele, aquela e aquilo contraem-se ainda com a preposigäo a, dando: aquele, aquela e aquilo. 5. Podem também set demonstrativ os 0 (a, os, as), mesmo, proprio, semelhante e tal, como veremos adiante. Valores gerais. Considerando-os nas suas relacöes com as pessoas do discurso, podemos estabelecer as seguintes caracteristicas gerais para os pronomes demons-trativos: i.°) Este, esta e isto indicam: a) 0 que está petto da pessoa que fala: Esta casa estará cheia de fiores! Cá te cspero amanhäl Näo te demoresl (Eugénio de Castro, UV, 59.) b) o tempo presente em relacäo ä pessoa que fala: Esta tatde para mim tem uma docura nova. (Ribeiro Couto, PR, 83.) 2.0) Esse, essa e isso designam: a) o que está perto da pessoa a quern se fala: Essas tuas fúrias avulso, esse teu calor, esse riso, essa amizade mesmo nos ódios que tinhas, procuro-lhes em väo só, que os teus olhos estäo fecha-dos para sempre. (Luandino Vieira, NM, 30.) b) o tempo passado ou futuro com relacäo ä época em que se coloca a pessoa que fala: Bons tempos, Manuel, esses que já lá väol (Antonio Nobre, S, 51.) Desses longes imaginados, dessas expectativas de sonho, passava ele ao examc da situacäo da Europa em geral e da Alemanha cm particular, (Gilberto Amado, DP, 92.) 3.0) Aquele, aquela e aquilo denotam: a) o que está afastado tanto da pessoa que fala como da pessoa a quern se fala: — Aquele sujeito mora ali há muito tempo? Voce deve saber... — Que sujeito? — Aquele que está escrevendo acolá, no jardim da casa de pensäo, — näo vé? (Artur Azevedo, CFM, 90.) V) um afastamento no tempo de modo vago, ou uma época remota: —■ Naquele tempo era uma boa casa de banho. — Naquele tempo, filho... Ora, naquele tempo! (Maria Juditě de Carvalho, TM, 41.) Diversidade de emprego. Estas distincöes que nos oferece o sistema ternário dos demonstrativos em portugués näo säo, porém, rigorosamente obedecidas na prática. Com frequéncia, na linguagem animada, nos transportamos pelo pen-samento a regičes ou a épocas distantes, a fira de nos referirmos a pessoas ou a objectos que nos interessam particularmente como se estivčssemos em 236 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO PRONOMES 237 sua presenga. Linguisticamente, esta aproximacäb mental traduz-se pelo emprego do pronome este (esta, isto) onde seria de esperar esse ou aquele. Sirva de exemplo esta fräse de um personagem do romance Fogo Morto, de Jose Lins do Rego, em que o adverbio lä se aplica ä sua casa, da qual no momento estava ausente: — Eu so quexia estar Ii para receber estes cachotros a chicote. (EM, 296.) Ao contrario, uma atitude de desinteresse ou de desagrado para com algo que esteja perto de nös pode levar-nos a expressar tal sentimento pelo uso do demonstrativo esse em lugar de este, como no seguinte passo: Tudo e licito aqui nessa Sumatra. (Jorge de Lima, OC, I, 681.) Outros empregos. 1. Este (esta, isto) é a forma de que nos servimos para chamar a aten-cäb sobre aquilo que dissemos ou que vamos dizer: — Justamente, traz uma comunicagäo reservada, reservadíssima; negó-cios pcssoais. Dá licenca? Dizendo isto, Rubiäo meteu a carta no bolso; o medico saiu; ele respirou. (Machado de Assis, OC, I, 564.) Minha tristeza é esta — A das coisas reals. (Fernando Pessoa, OP, 100.) 2. Para aludirmos ao que por nós foi antes mencionado, costumamos usar também o demonstrativo esse (essa, isso): Näo havia. que pedir de fiado nas lojas; a lareira teria sempre lume. Nisso, ao menos, o Agostinho Serra abria bem as máos. (Alves Redol, G, 94.) 3. Esse (essa, isso) é a forma que empregamos quando nos referimos ao que foi dito por nosso interlocutor: — Voce, perdcndo a noite, é eapaz de näo dormir de dia? ■—Já tenho feito iaso. (Machado de Assis, OC, IL 586.) 4. Tradicionalmente, usa-se nisto no sentido de «entäo», «nesse momento» : Nisto, ouvimos vozes e passos. (Augusto Abelaira, TM, 112.) 5. Em certas expressöes o uso fixou determinada forma do demonstrativo, nem sempre de acordo com o seu sentido básico. É o caso das locu-goes: além disso, isto é, isto de, por isso (raramente por isto), nem por isso. Posicäo do pronome adjectivo demonstrativo. x. O demonstrativo, quando pronome adjectivo, precede nor-malmente o substantivo que determina: Estes homens e estas muiheres nasceram para trabalhar. (José Saramago, LC, 327.) 2. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo para melhor espe-ciŕicar o que se disse anteriormente: Por outro lado, Siá Bina era ainda comadre de Nhô Felicio, pois baptizara um filho dele, há poucos anos, filho esse do segundo casamento, (Ribeiro Couto, C, 145.) 3. Usa-se para determinar o aposto, geralmente quando este salienta uma característica marcante da pessoa ou do objecto: Arlequim é o D. Quixote, esse livro aclmirável onde se experimentam ao ar livre, de dia e de noite, e através de todas as eventualidades os preceitos da Honra e das outras teorias. (Almada Negreiros, OC, III, 90.) 4. Esse (e mais raramente este) emprega-se também para pór em relevo um substantivo que Ihe venha anteposto: O padre, esse andava de coragäo em aleluia. (Miguel Torga, CM, 47.) Alusäo a termos precedentes. Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos já mencio- BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO pronomes nados, scrvimo-nos do demonstratio aquek para o referido em primeiro lugar, e do demonstratio este para o que foi nomeado por ultimo: A terrmra näo embarga a discrigäo nem esta diminui aquela. (Machado de Assis, OC, L 1.124.) Rcforco dos demonstrativos. Quando, por motivo de clare2a ou de énfase, queremos precisar a situa-cäo das pessoas ou das coisas a que nos referimos, usamos acompanhar o demonst r attvo de algum gesto indicador, ou reforcá-lo: a) com os advérbios aqui, aí, ali, cá, lá, acolá: — Espera ai. Este aqui já pagou. Agora voces é que väo engolir tudo, se maltratarem este rapaz. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 33.) b) com as palavras mesmo e proprio: ■—O Relógio da Sč em casa de Serralheiro? — Esse mesmo. — O da Matriz? — Esse proprio. (D. Fraucisco Manuel de Melo, AD, 16.) Valores afectivos. 1. Os demonstrativos reúnem 0 sentido de actualizacäo ao de deter-minacäo. Säo verdadeiros «gestos verbais», acompanhados em geral de entoa-cäo particular e, näo raro, de gestos fisicos. A capacidade de fazerem aproximar ou distanciar no espaco e no tempo as pessoas e as coisas a que se referem permite a estes pronomes expressarem variados matizes -.ifectivos, em especial os irónicos. 2. Nos exemplos ä seguir, servem para intensificar, de acordo com a entoagäo e o contexto, os sentimentos de: a) surpresa, espanto: Passam vintc anos: chega Ele; Vfiem-se (Pásmo) Ele e Ela: ■—Santo Dcusl este é aquele?!... ■—Mas, mcu Deusl esta é aquela?!... (Fontoura Xavier, 0, 172.) b) admiracäo, apreco: Aquilo é que säo homens fortes. (Ferreira de Castro, OC, I, 1J4.) c) indignagäo: — É tudo claro como água: este cäo roubou-me. Acabo ainda hoje com este malandrol Isto näo fica assim. (Fernando Namora, NM, 193.) d) pena, comiseracäo: Coitada de D. Ritinhal Aquilo é que é mesmo uma šanta. (Gastäo Cruls, QR, 442.) e) irónia, malícia: —^Este Brásl Este BrásI Näo lhes digo nadal (A. de Alcantara Machado, NP, 57.) f) sarcasmo, desprezo: ■—Depois transformaram a senhora nisso, D. Adélia. Um trapo, urna velha sem-vergonha. (Graciliaao Ramos, A, 136.) 3. Digno de nota é o acentuado valor irónico, por vezes fortemente depreciativo, dos neutros isto, isso e aquilo, quando aplicados a pessoas, como nestes passos: Aquilo, aquele pobre homenzinho amarelento, dessorado, chocho... (Urbano Tavaies Rodrigues, JE, 158.) Mas, pelos contrastes que näo raro se observam nos empregos afectivos, podem esses demonstrativos expressar também alto aprego por determinada pessoa. Assim: — Bonita mulher. Como aquilo vé-se pouco. Ele teve sorte. (Castro Soromenho, C, 160.) 24° BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO 4. As formas femininas esta e tssa fixaram-se em construcdes elipticas do tipo: Ora cseal Essa 6 boa I Easa, naol Essa ca. me flea I Mais estal... Esta 6 final 0(s), a(s) como demonstrativo. O demonstrativo 0 (a, os, as) € sempie pronome substantivo e empre-ga-se nos seguintes casos: a) quando vem determinado por uma oragao ou, mais raramente, por uma expressao adjectiva, e tern o significado de aqmh(s), aquela(s), aqttllo: Ingrata para os da terra, boa para os que nSo sao. (Carlos Pena Filho, LG, 120.) b) quando, no singular masculino, equivale a isto, isso, aqttilo, e exerce as funooes de objecto directo ou de predicativo, referindo-se a um substantivo, a um adjectivo, ao sentido geral de uma trase ou de um termo dela: O valor de uma desilusao, sabia-o ela. (Miguel Torga, NCM, 153.) Nao cuides que nao era sincero, era-o.- (Machado de Assis, OC, L 893.) Substitutos dos pronomes demonstratives. Podem tambem funcionar como demonstrativos as palavras tal, mesmo, prdprio e semelhante. 1. Tal 6 demonstrativo quando sinonimo: a) de «este», «esta», ) aspecto tncoativo / aspecto coNCLUsrvo. O aspecto incoativo exprime um processo considerado em sua fase iniciál, o aspecto conclusivo ou terminativo expressa um processo observado em sua fase final: Aspecto incoativo Aspecto conclusivo Comecei a ler Os Lusiadas. Acabei de ler Os Lusiadas. 3. Sao também de natureza aspectual as oposigoes entre: a) forma simples / perífrase durativa: Leio Estou lendo (ou estou a ler) A perlfrase de estar +■ gerúndio (ou infinittvo preccdido da pre-posigao a\ que designa o «aspecto do momento rigoroso» (Said Ali), esten-de-se a todos os modos e tempos do sistema verbal e pode ser substituida j verbo___ í I por outras perifrases, formadas com ôs auxiliares de movimento (andar, ir, vir, viver, etc.) ou de implicagäo (continuar, ficar, etc.): Ando lendo (ou a ler). Continuo lendo (ou a ler). Vai lendo. Ficou lendo (ou a ler). b) Ser f e star: Ele foi feiido. Ele está fcrido. A oposigäo ser / estar corresponde a dois tipos de passividade. Ser forma a passiva de acgäo; estar, a passiva de estado. 4. Como vemos, tais oposigoes baseiam-se fundamentalmente na diver-sidade de formagäo das perifrases verbais. De um modo geral, pode-se dizer que as perifrases construidas com o PARTicfpio exprimem o aspecto acabado, concluído; e as construidas com o infinittvo ou o gerúndio expressam o aspecto inacabado, näo concluído. Dos seus principais valores aspectuais trataremos adiante ao estudarmos os verbos auxiliares e as formas nomtnais do Verbo. Vozes. O facto expresso pelo verbo pode ser representado de trés formas: d) como pratieado pelo sujeito: i Joäo feriu Pedro. Näo vejo tosas neste jardim. b) como sofrido pelo sujeito: Pedro foi ferido por Joäo. Näo se véem [== säo vistas] rosas neste jardim. c) como pratieado e sofrido pelo sujeito: Joäo feriu-se, Dei-me pressa em sair, . No primeiro caso, diz-se que o verbo está na voz activa; no segundo, na voz passiva; no tereciro, na voz reflexiva. Como se verifica dos exemplos acima, o objecto directo da voz activa corresponde ao sujeito da voz passiva; e, na voz reflexiva, o objecto di- g BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUKS contemp0räne0 ;to ou indirecto é a mésma pessoa do sujeito. Logo, para que um verbo mita transformacäo de voz, é necessário que ele seja transittvo. Voi paesiva. Exprime-se a voz Passiva: a) com o verbo auxiliar ser e o particípio do verbo que se quer ljugar: Pedro foi ferido por joäb. b) com o pRONOME APAssrvADOR. se e uma terceira pessoa verbal, gular ou plural, em concordáncia com o sujeito: Näo se vé [= é vista] uma rosa neste jardirn. Näo se véem [—i säo vistas] rosas neste jardim. Voz reflexiva. Exprime-se a voz reflexiva juntando-se äs formas bais da voz activa os pronomes oblíquos me, U, nos, vos e se (singular e tal): Eu feri-me (ou me feri) f= a mim mesmo] Tu ferlete-te (ou te feriste) [= a ti mesmo] Ele feriu-se (ou se feriu) [= a si mesmo] Nós ferimo-nos (ou nos ferimos) [= a nós mesmos] Vós feristes-vos (ou vos feristes) [— a vós mesmos] Eles feriram-se (ou se feriram) [= a si mesmos] ervacöcs: i.* Além do verbo ser, há outtos auxiliares que, combinados com um par-tictpio, podem formar a voz Passiva. Estäo nesse caso certos verbos que expri-mem estado (estar, andar, viver, etc), mudanca de estado (ficar) e movimento (ir, vir); Os homens já estavam tocados pela fé. Ficou atormcntado pelo remorso. Os pais vinham acompanhados dos filhos. Nas formas da voz passiva o particípio concorda cm género e numero om o sujeito: Ele foi ferido. Eles foram feridos. Ela foi ferida. Elas foram feridas. verbo 269 Formas rizotónicas e arrizotónicas. Em certas formas verbais o acento tónico recai no radical. Assim: ando ande andas andes an da ande an dam andern Em outras, o acento tónico recai na terminacäo. Assim: andamos andemos andais andeis andou andava ar>ť\*r andará As primeiras damos o nome de formas rizotónicas; äs segundas, de FORMAS ARRIZOTÓNICAS. Classiflcacäo do verbo. i. Quanto ä flexäo, o verbo pode ser regular, irregular, defec- Trvp e ABUND ANTE. Os reguläres fkxionam-se de acordo com o paradigma, modelo que representa o tipo comum da conjugacao. Tomando-se, por exemplo, cantar, •vender epartir como paraďigmas da i.a, 2.* e 3.» conjugates, verificamos que to dos os verbos reguläres da i.a conjugacao formám os seus tempos como cantar; os da 2.a, como vender; os da 3.3, como partir. Säo irreguläres os verbos que se afastam do paradigma de sua conjugacao, como dar, estar, fa^er, ser, pedir, ir e vários outrös, que no lugar proprio esťudatemos. Verbos defecttvos säo aqueles que näo tem certas formas, como abolir, falir e mais alguns de que tratamos adiante. Entre os defecttvos costumam os gramáticos incluir os unipessoais, e especlalmente os impessoais, usados apenas na 3.» pessoa do singular: cbover, ventar, etc. Abundantes säo os verbos que possuem duas ou mais formas equiva-lentes. De regra, essa abundáncia ocorre no particípio. Assim, o verbo acei-tar apresenta os particípios aceitado, aceito e aceite; o verbo eutregar, os parti-cípios entregado e entregue; o verbo matar, os particípios matado e morto. 2. Quanto ä funcäo, o verbo pode ser principal ou auxiliar. Principal é o verbo de significacäo plena, nuclear de uma oracäo Assim: Eatudei portugués. BREVE GRAMjCtICA DO PORTUGUES CONTEMPOrAnEO c) a desinencia pessoal, na 3.B pcssoa do singular do presente do indi-:ativo (canta); na i.a e na 3.» pessoa do singular do imperfeito (cantava), lo mais-que-perfeito (cantara) e do futuro do pretdrito (cantaria) do indica-ivo; e ncstas mesmas pessoas do presente (cante), do imperfeito (cantasse) : do futuro (cantar) do conjuntivo, assim como nas do infinitivo pessoal 'cantor). Mas, salvo no caso em que a falta de desinencia iguala duas pessoas de im so tempo, perturbando a clareza, a ausencia de qualquer desses elementos lexivos e sempre um sinal patticularizante, pois caracteriza a forma lacunosa >elo seu contraste com as que nao o sao. Formacao doe tempos simples, Como artificio didatico para apreender-se o mecanismo das conjuga-oes, admite-se que o verbo apresente tres tempos primitivos, sendo os iutros deles derivados. Sao tempos primitivos: o presente do indicativo, o preterito fer-eito do indicattvo e o infinitivo impessoal. derivados do presente do indicativo. Do presente do indicattvo formam-se o imperfeito do indicativo, > presente do conjuntivo e o imperattvo. i.°) Imperfeito do tndicativo. E formado do radical do presente crescido: a) na i.a conjugagao, das terminates -ava, -avas, -ava, -dvamos, -dveis, warn (constitufdas da vogal tematica -a- + sufixo temporal -va- + desinen-ias pessoais); b) na 3.* conjugagao, das terminacoes -la, -ias, -ia, -tamos, -lets, -iam constituidas da vogal tematica -f- sufixo temporal -a- + desinencias >essoais); c) na z.» conjugagao, das mesmas terrninacoes da 3.», por ter a vogal :matica -e- passado a -/- antes de -a-. Assim, nos verbos cantar, vender e partir, temos: VERBO *73 Radical do presente i.a conjugagao 2.0 conjugagao 3." conjugate cant- ■vend- part- Preterito imperfeito do indicativo cant-ava cant-avas cant-ava cant-avamos cant-dveis cant-avam vend-ia vend-ias vend-ia vend-iamos vend-ieis vend-iam part-ia part-ias part-ia part-lamos part-leis part-iam Observacao: Fogem a regra acima os verbos ser, ter, vir e por, que fazem no imperfeito era, tinha, vinba e punha, respectivamente.- z.°) Presente do conjuntivo. Forma-se do radical da i.a pessoa do presente do indicativo, substituindo-se a desinencia -0 pelas flexoes pr6prias do presente do conjuntivo: -e, -es, -e, -emos, -eis, -em, nos verbos da 1.» conjugagao; -a, -as, -a, -amos, -ais, -am, nos verbos da 2.3 e da 3-a conjugagao. Assim: Presente do indicativo i.a conjugag2o 2.a conjugagao 3.** conjugacao 1.' pessoa do singular cant-o vend-o part-o cant-e vend-a part-a Presente do conjuntivo cant-es cant-e cant-emos vend-as vend-a vend-amos part-as part-a part-amos cant-eis vend-ais part-ais cant-em vend-am part-am Observacao: Dentre todos os verbos da lingua apenas os seguintes nao obedecem a regra anterior; haver, ser, estar, dar, ir, qnerer e saber, que fazem no presente do conjuntivo: haja, seja, esteja, de, vd, qtieira e saiba. 3.0) Imperattvo. O imperativo afirmativo s6 possui formas pr6prias de 2.a pessoa do singular e 2.* pessoa do plural, derivadas das corresponden-tes do presente do indicativo com a supressao do -s final. Assim: canta(s) vendc(s) parte(s) cantai(s) vendci(s) parti(s) BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO )bservac3ea: j- : i.a Exceptua-se o verbo ser, que faz se (tu) e sede (vos). , , z!» Costumam perder o -e na 2.a.pessoa do singular do imperativo afir- ; I niativo os verbos dbgr, fairer, tracer e os terminados em -mjr: diy (ou dhr) ' i tu, fay (p*fa$t^ tray (pvtratt) to, adm& j ■■ 1 As oiitras pessoas do imperativo afirmativo, bem como todas as do ]\ j mperativo negativo, sao supridas pelas equivalentes do presente do con- j untivo, com o pronome posposto, quando usado. { : t s; | i Derivados do preterito perfeito do indicativo. j Do tema do preterito perfeito formam-se os seguintes tempos sim- >les: ; I i.°) o mais-que-perfeito do indicativo, juntando-se as terminacoes j = sufixo temporal -ra- desinencias pessoais): -ra, -ras, -ra, -ramos, -rets, j ram: Radical do perfeito 1.» conjugacao 2,a conjugacao 3.* conjugacao + vogal temdtica canta- vende- parti- canta-ra vende-ra parti-ra Pretdrito mais-quc-pcrfeito do indicativo canta-ras canta-ra canta-ramos canta-reis vende-ras vende-ra vende-ramos vende-reis parti-ras parti-ra parti-ramos parti-reis canta-ram vende-ram parti-ram 2.0) o imperfeito Do conjuntivo, juntando-se as terminacoes (= sufixo temporal -sse- + desinencias pessoais): -sse, -sses, -sse, -ssemos, -sseis, -ssem: VERBO Radical do perfeito + vogal temdtica r.a conjugacao 2.° conjugacao 3-a conjugacao canta- vende- parti- Preterito imperfeito do conjuntivo canta-sse canta-sses canta-sse cantd-ssemos canta-sseis canta-ssem vende-sse vende-sses vende-sse vend£-ssemos vende-sseis vende-ssem parti-sse parti-sses parti-sse parti-ssemos parti-sseis parti-ssem 3.0) 0 futuro do conjuntivo, juntando-se as terminacoes (= sufixo temporal -r- + desinencias pessoais): -r, -res, -r, -rmos, -rdes, -rem. Radical do perfeito + vogal temdtica i.a conjugacao 2.a conjugacao 3.» conjugacao canta- vende- parti- Futuro do conjuntivo canta-r canta-res canta-r canta-rmos canta-rdes canta-rem vende-r vende-res vende-r vende-rmos vende-rdes vende-rem parti-r parti-res parti-r parti-rmos parti-rdes parti-rem ObservacSes: i.a O tema do preterito perfeito pode ser obtido suprimindo-se a desi-nencia da 2» pessoa do singular ou da i.a pessoa do plural: canta(ste) fize(ste) vie(ste) " puse(stc) canta(mos) fize(mos) vie(mos) puse{mos) 2.3 Embora as suas formas sejam quase scmpre idcnticas, o futuro do conjuntivo e o infinitivo pcssoal tern origem diversa, que dcvc ser conhccida para evitar-se a frcqucntc confusao que sc cstabclecc nos poucos verbos em que as formas sao distintas: fi^er—faster; for— ser; souber — saber, etc. breve gramatica do portugués contemporaneo Derivados do infinitivo impessoal. Do infinitivo impessoal formam-se os dois futuros simples do indicative, o infinitivo pessoal, o gerundio e o particípio. r.°) O futuro do presentE, com o simples aeréscimo das terminacôes -ei, -ás, -á, -emos, -eis, -äo: Infinitivo impessoal i.s conjugacäo 2.s conjugacäo 3.* conjugacäo cantar vender partir cantar-ei vender-ei partir-ei cantar-ás vender-ás partír-ás Futuco do presente cantar-á cantar-emos vender-á vender-emos partir-á partir-emos cantar-eis vender-eis partir-eis cantar-äo vender-äo partir-äo 2.0) O futuro do PRETÉRiTO, com o aeréscimo das terminacôes -ia, -ias, -ia, -íamos, -íeis, -jam: Infinitivo impessoal i.a conjugacäo 2.a conjugacäo 3.* conjugacäo cantar vender partir cantar-ia vender-ia partir-ia cantar-ias vender-ias partir-ias Futuro do pretérito cantar-ia cantar-íamos vender-ia vender-íamos partir-ia partir-íamos cantar-íeis vender-íeis partir-ieis cantar-iam vender-iam partír-iam Observances: i.a Näo seguem esta regra os verbos di^er, fa^er e tracer, cujas formas do futuro do presente e do pretérito säo, respectívamente: direi, diria; farei, Jaria; Irarei, traria. z.a O futuro do presente e o futuro do pretérito säo formados pela aglutinacäo do infinitivo do verbo principal äs formas reduzidas do presente c do iMrERFEíTO do iNDicATivo do auxiliar haver: amar. + hú, amar + + bia (por bavia), etc. verbo 3.0) O infinitivo pessoal, com o aeréscimo das desinéncias pcssoais: -es (z.a pessoa do singular), -mas, -des, -em: Infinito impessoal i.a conjugacäo 2.a conjugacäo 3-a conjugacäo cantar vender partir Infinitivo pessoal cantar cantar-es cantar cantar-mos cantar-des cantar-em vender vender-es vender vender-mos vender-des vender-em partir partir-es partir partk-mos partir-des partir-em 4.0) O GERÚNDio forma-se substituindo-se 0 sufixo -r do infinitivo pelo sufixo -ndo: Infinitivo impessoal i.a conjugacäo 2.a conjugacäo 3 conjugacäo formám os seus tempos pelo modelo de cantar; os da pelo de vender; os da pelo de partir. CONJUGAgÄO DA VOZ PASSIVA Modelo: ser huvado MODO INDICAT1VO Presente sou louvado (-a) és louvado (-a) é louvado (-a) somos louvados (-as) :ois louvados (-as) säo louvados (-^.s) Pretérito imperfeito era louvado (-^a) eras louvado (-a) era louvado (-a) éramos louvados (-as) éreis louvados (-as) eram louvados (-as) Pretérito perfeito (simples) fui louvado (-a) foste louvado (-a) foi louvado (-a) fomos louvados (-as) fostes louvados (-as) foram louvados (-as) Pretérito perfeito (composto) tenho sido louvado (-a) tens sido louvado (-a) tem sido louvado (-a) temos sido louvados (-as) tendes sido louvados (-as) těm sido louvados (-as) Pretérito mais-que-perfeito (simples) fora louvado (-a) foras louvado (-a) fora louvado (-a) fôramos louvados (-as) fôreis louvados (-as) foram louvados (-as) Pretérito mais-que-perfcíto (composto) tinlia sido louvado (-a) tinhas sido louvado (-a) tinlia sido louvado (-a) tinhamos sido louvados (-as) tínheis sido louvados (-as) tinham sido louvados (-as) 238 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUĚS CONTEMP0RANE0 VERBO 289 Futuro do presente (simples) Futuro do presente (composto) serei louvado (-a) scrás Jouvado (-a) sera louvado (-a) seremos louvados (-as) scrcis louvados (-as) seräo louvados (-as) Futuro do pretérito (simples) seria louvado (-a) serias louvado (-a) seria louvado (-a) seriamos louvados (-as) serleis louvados (-as) seriam louvados (-as) terei sido louvado (-a) terás sido louvado (-a) terá sido louvado (-a) teremos sido louvados (-as) tereis sido louvados (-as) teräo sido louvados (-as) Futuro do pretérito (composto) teria sido louvado (-a) terias sido louvado (-a) teria sido louvado (-a) teriamos sido louvados (-as) terieis sido louvados (-as) teriam sido louvados (-as) MODO CONJUNTIVO Presente seja louvado (-a) sejas louvado (-a) seja louvado (-a) sejamos louvados (-as) sejais louvados (-as) sejam louvados (-as) Pretetito imperfeito fosse louvado (-a) fosses louvado (-a) fosse louvado (-a) fossemos louvados (-as) fösseis louvados (-as) fössem louvados (-as) Pretérito petfeito tenha sido louvado (-a) tenhas sido louvado (-a) tenha sido louvado (-a) tenhamos sido louvados (-as) tenhais sido louvados (-as) tenham sido louvados (-as) Futuro (simples) for louvado (-a) fores louvado (-a) for louvado (-a) formos louvados (-as) fordes louvados (-as) forem louvados (-as) Pretérito mais-que-perfeito tivesse sido louvado (-a) tivesses sido louvado (-a) tivesse sido louvado (-a) tivéssemos sido louvados (-as) tivésseis sido louvados (-as) tivessem sido louvados (-as) Futuro (composto) tiver sido louvado (-a) tiveres sido louvado (-a) tiver sido louvado (-a) tivermos sido louvados (-as) tiverdes sido louvados (-as) tiverem sido louvados (-as) FORMAS NOMINAIS Infinitivo impessoal presente ser louvado (-a) Infinitivo pessoal presente ser louvado (-a) seres louvado (-a) ser louvado (-a) sermos louvados (-as) serdes louvados (-as) serem louvados (-as) Gerundio presente sendo louvado (-a, -os, -as) Infinitivo impessoal pretérito ter sido louvado (-a) Infinitivo pessoal pretérito ter sido louvado (-a) teres sido louvado (-a) ter sido louvado (-a) termos sido louvados (-as) terdes sido louvados (-as) terem sido louvados (-as) Gerúndio pretérito tendo sido louvado (-a, -os, -as) Particfpio louvado (-a, -os, -as) Observacoes: 1. a So hi uma forma simples na voz passiva, que e o particfpro. Colo-camos, no entanto, entre parenteses, as designacoes simples e composto para lembrar a correspondencia das formas assim nomeadas com as da voz activa que apresentam semelhante oposicao. 2, a Na voz passiva nao se usa o imperattvo. Verbo reflexivo e verbo pronominal. I. Muitos verbos säo conjugados com pronomes atonos, a semelhanca dos reflexivos, sem que tenham exactamente o seu sentido. Säo os chama-dos verbos pronominais, de que podemos distinguir dois tipos: a) os que so se usam na forma pronominal, como: apiedar-se condoer-se qucJxar-se suicidar-sc 2CJ° breve gramatica do portugues contemporaneo b) os que se usam tambem na forma simples, mas esta difere ou pelo sentido ou pela construcäo da forma pronominal, como, por exemplo: debater [= discutir] debater-se [= agitar-se] enganar alguém enganar-se com alguém 2. Distingue-se, na pratica, o verbo reflexivo do verbo pronominal porque ao primeiro se podem acrescentar, conforme a pessoa, as expressöes a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, etc. Quando o reflexivo tern valor reci-proco, as expressöes reforcativas passam a ser urn ao outro, reciprocamente, mutuamente, etc. Conjugacäo de um verbo reflexivo. Pareceu-nos desnecessário darmos o modelo da conjugacäo de um verbo reflexivo, porque o pronome átono que os acompanha se coloca de acordo com as normas que indicamos no Capitulo 11. Note-se apenas que, quando o pronome vem enclítico a uma forma verbal da 1.» pessoa do plural, esta perde o lavamo-nos lavemo-nos. CONJUGAgÄO DOS VERBOS IRREGULÄRES Irregularidade verbal. 1. A irregularidade de um verbo pode estar na flexäo ou no radical Se examinarmos, por exemplo, a i.a pessoa do presente do indicativo dos verbos dar e medir, verificamos que: a) a forma dou näo recebe a desin£ncia normal -o da referida pessoa; b) a forma meco apresenta o radical mef-, distinto do radical med-} que aparece no infinitivo e em outras formas do verbo: med-ir, med-es, med-i, med-ira, etc. 2. Num verbo irregular pode haver determinadas formas perfeita-mente reguläres: dava, davas, dava, ddvamos, daveis, davam; media, medias, media, medtamos, medieis, mediam. verbo 291 tuando-se a anomalia que apontamos na conjugacäo dos verbos dar, estar, haver, querer, saber, ser e ir, a irregularidade dos demais 6 sempre constante na forma de cada um dos grupos: i.° grupo 2.0 grupo 3.° grupo Pres. do indicativo Pres. do conjundvo Imperativo Pretérito perfeito do indicativo Pret. mais-que-perf. do indicativo Pretérito imperfeito do conjuntivo Futuro do conjuntivo Futuro do presente Futuro do pretérito Atentando-se, pois, nas formas do presente, do pretérito perfeito e do futuro do presente do modo indicativo, sabe-se se urn verbo é ou näo irregular e, também, como conjugá-lo nos tempos de cada um dos trěs grupos. Irregularidade verbal e discordáncia gráfica. É necessário nao confundir irregularidade verbal com certas discordán-cias gráficas que aparecem em formas do mesmo verbo e que visam apenas a indicar-lhes a uniformidade de pronúncia dentro das convencoes do nosso sistema de escrita. Assim: a) os verbos da i.a conjugacao cujos radicais terminem em -c, -c, e -g mudam estas letras, respectivamente, em -qii, -c e -gu sempre que se Ihes segue um -e: ficar — fiquei justicar —justicei chegar — cheguei b) os verbos da z.a e da 3.a conjugacäo cujos radicais terminem em -c, -g e -gu mudam tais letras, respectivamente, em -c, -j e -g sempre que se lhes segue um -o ou um -a: vencer — venco — venca tanger — tanjo — tatija ergner — ergo — erga ressamr — ressarqo — ressarcao restringir — restrinjo — restrinja extingtiir — extingo — extinga Sao, como vemos, simples acomodacöes gráficas, que näo implicam irregularidade do verbo. VERBOS COM ALTERNÄNCIA VOCÄLICA 3. Para mais facil conhecimento dos verbos irreguläres, convem ter em mente o que dissemos sobre a formacäo dos tempos simples. Excep- Muitos verbos da lingua portuguesa apresentam diferencas de timbre na vogal do radical conforme nele recaia ou näo o acento tónico. Estas dife- BREVE GRAMÁTTCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO rengas näo säo exactamente as mesmas na variante europeia e na variante brasileira da lingua portuguesa, devido sobretudo ao fenóraeno da reducao das vogais em sílaba átona, a que nos referimos no capítulo sobre Fonétíca e Fonologia. Assim, as formas hvamos e kvais — com [3] fechado no portu-guôs normal de Portugal e com [e] semi-fechado no portugués do Brasil — contrapôem-se Uvo, kvas, leva e levam, com e semi-aberto [e]; as formas rogamos e rogais —com [u] no portugués de Portugal e com [o] semi-fechado no por-tuguôs do Brasil — opôem-se rogo, rogas, roga e rogam, com [o] semi-aberto. As vezes a alternäncia vocálica observa-se nas próprias formas rizotónicas. Por exemplo: subo, em contraste com sobes, sobe e sobem; firo, em oposigäo a feres, fere e ferem. Por sofrerem tais mutagóes vocálicas no radical, esses verbos, ou melhor, os pertenčentes ä 3.» conjugagäo, vém de regra incluídos no elenco dos verbos irregtjlares. Cumpre ponderar, no entanto, que essas alternáncias säo características do idioma; os verbos que as apresentam näo formám excepgôes, mas a norma dentro da nossa complexa morfológia. Urna palavra deve ainda ser dita com referencia aos verbos de qualquer conjugagäo que tém no radical a vogal a. No portugués do Brasil näo se observa nenhuma alternäncia na referida vogal, que apresenta o mesmo timbre aberto nas formas rizotónicas e arri-zotónicas, embora nestas ultimas, naturalmente, ela se articule com menos intensidade. Assim: lavo, lavas, lava, lavamos, /avals, lávam; lave, laves, lave, lavemos, lavets, lave m (sempře com o a tónico ou pretónico aberto). No portugués de Portugal, porém, a vogal radical a, sujeita nas formas arrizotónicas ao fenómeno da redugäo vocálica, apresenta, regularmente, o timbre [«]. Temos assim: lavo, lavas, lava, Javam; lave, laves, lave, lavem (com a tónico aberto [a]), mas lavamos, /avals; lavemos, laveis; lavai (com a pretónico semifechado [a]). Quando a vogal radical é a nasal [«], grafada an ou am, näo se regista qualquer alternäncia nem no portugués do Brasil nem no de Portugal, pois a vogal é sempře semi-fechada, como se disse no Capítulo 3. Assim: canto, cante, cantamos, cantemos, etc. (sempře com [«]). Feitas essas consideragôes, examinemos os principals tipos de alternäncia vocálica dos verbos em que existem formas rizotónicas: o presente DO INDICATTVO, O PRESENTE DO CONJUNTTVO, O IMPERATIV O AEIRMATTVO e O IMPERATrVO NEGATIVO. VERBO i.* Conjugagäo Modelo: levar e lograr Indicativo Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo levo leve levas leves leva näo leves leva leve leve näo leve levamos Ievemos Ievemos näo Ievemos levais leveis levai näo leveis levam levem levem näo levem logio logre logras logres logra näo logres logra logre logre näo logre logramos logremos logremos näo logremos lograis logreis lograi näo logreis logram logrem logrem näo logrem Verificamos que, no primeiro, ä vogal fechada [3] do portugués normal de Portugal e ä semifechada [e] do portugués normal do Brasil, que apare-cem na 1.* e 2.» pessoas do plural, corresponde a semi-aberta [s] na r.» 2.a e j.J pessoas do singular enaj.a do plural. No segundo, há uma muta-gäo semelhante: a vogal fechada [u] do portugués normal de Portugal e ä semi-fechada [o] do portugués normal do Brasil, existentes nas formas arrizotónicas, corresponde a semi-aberta [0] nas formas rizotónicas. Observagöes: i.a Seguem o modelo de levar os verbos da 1.» conjugagäo que tem e grá-fico no radical, a menos que esta vogal: a) faga parte do ditongo escrito ei — e pronunciado [ej] no portugués do Brasil e [Kj] no porrugues normal de Portugal —, como cm cheirar, por exemplo: cbeiro, cheiras, cheira, etc. (sempre com [e] ou [a]); b) esteja seguida de consoante nasal articulada ([m], [n] ou [n]): remo, remas, renia, etc.; ordern, ordenas, ordena, etc.; empenho, empenbas, empenha, etc. (no portugués do Brasil sempre com [e]; no portugués de Portugal, com [c] ou [a] antes de [p] nas formas rizotónicas, e com fc] nas arrizotónicas); c) venha seguida de consoante palatal ([J], fcjj'ou [X]): fecho, Jechas, fecha, etc.; descjo, desejas, descja, etc.; aparelho, aparelhas, apare/ha, etc. (no portugués do Brasil sempre com [c]; no portugués normal de Portugal, com [a] ou [e] nas formas rizotónicas, e com [3] nas arrizotónicas). wm BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPGRÄNEO VERBO Apcnas os verbos invejar, embrecbar, frechar e vexar, dentre os em que ao e se segue uma consoante palatal, apresentam a vogal [s] nas formas rizotónicas. 2.a Embora näo se enquadre em nenhuma das excepgöes apontadas, o vetbo chegar (c seus dcrivados, como achegar, conchegar, etc.) conserva a vogal semi--fechada [e] em todas as formas rizotónicas. }.a Scguem o modelo de lograr os verbos da i.a conjugacao que tém o gráfico no radical, salvo nos casos em que esta vogal: a) faz parte do ditongo oi (seguido de consoante) e do antigo ditongo ou; pernoito, pernoitas, pernoita, etc.; douro, dourai, dottra, etc. (sempře com [o]); b) antecede consoante nasal articulada ([m]), [n], [ji]): torno, tomas, torna, etc.; heciono, hceionas, kceiona, etc.; sonho, sonbas, sonha, etc. (no portugués do Brasil sempře com [o]; no portugués de Portugal, com [o] nas formas rizotónicas e com [u] nas arrizotónicas); i) pertence a verbos terrninados em -oar, como war: voo, voas, voa, etc, (tanto no portugués do Brasil como no de Portugal, com [o] nas formas rizotónicas e com [u] nas arrizotónicas). 4.a Os verbos que apresentam no radical e [ě] ou o [ö] nasal conservam estas vogais em todas as formas: tento, tentas, tenta; tentava, tentavas, tentava, etc.; conto, contas, conta; contava, contavas, contava, etc. 2.a Conjugacao Modelos: dever e mover Indicative Conjuntivo Imperativo ptesente presente Afirmativo Negativo devo deva deves devas deve näo devas deve deva deva näo deva devemos devamos devamos näo devamos deveis devais devei näo devais devem devam devam nao devam mqvo mova moves movas move näo movas move mova mova näo mova movemos movamos movamos näo movamos moveis movais movei näo movais movem movam movam näo movam Verificamos que: a) no presents do indicativo, as formas rizotónicas apresentam uma alternáncia da vogal semi-fechada [e] e [o] da i.a pessoa do singular com a vogal semi-aberta [e] e [o] da 2.a e 3.a pessoas do singular e da j.a do plural; nas formas arrizotónicas observa-se a distincäo entre as vogais átonas fecha-das [3] e [u] do portugués de Portugal e as semi-fechadas [e] e jo] do portugués do Brasil. b) no presente do conjuntivo, o portugués do Brasil mantém em todas as formas a vogal [e] ou [o], conservada no portugués de Portugal somente nas formas rizotónicas, pois nas arrizotónicas se dá a redueäo normal a [3] ou [u]. c) no imperativo afirmativo, a 2.a pessoa do singular, em corres-pondéncia com a do presente do indicativo, tem a vogal semi-aberta [e] ou [o]; no portugués do Brasil, a z.a pessoa do plural, forma arrizotónica, e as formas derivadas do presente do conjuntivo ($.a do singular, i.a e j.a do plural e todas as pessoas do imperativo negativo) conservam a vogal semi-fechada [e] ou [o] deste tempo; no portugués de Portugal, as formas rizotónicas derivadas do presente do conjuntivo mantém a vogal semi-fechada [e] ou [o], mas as formas arrizotónicas apresentam a redueäo a [3] ou [uj. Observacoes: 1. a Seguem o modelo de dever os verbos da z.a conjugacao que tém e gráfico no radical, com excepcäo: a) do verbo auerer, cujo presente do conjuntivo é irregular (qneira, queiras, queira; qmiramos, queirais, queiram) e que, no presente do indicativo, apre-senta todas as formas rizotónicas com e semi-aberto [e]: qnero, queres, quer, querem. b) no portugués do Brasil, dos verbos em que o e antecede uma consoante nasal, como temer: terno, temes, feme; temia, temias, temia; temi, temeste, temem, etc. (sempře com [e]); no portugufis de Portugal estes verbos scguem o modelo de dever. 2. a Seguem o modelo de mover os verbos da 2.a conjugacao que tem o gráfico no radical, com excepcäo: a) do verbo poder, em que a vogal semi-aberta [o] aparecc tambčm na i.a pessoa do singular do presente do indicativo e, conscquentcmente, cm todas as formas rizotónicas do presente do conjuntivo: posso, poděs, pode, podem; possa, possas, possa, possam; b) no portugués do Brasil, dos verbos em que o o antecede consoante nasal, a excmplo de comer: como, comes, come; comia, comias, comia, etc. (scmpre com breve gramática do portugues contemporaneo [o]); no portugués normal dc Portugal estes verbos seguem o modelo de mover. Notc-sc que em algunias regiôes do Brasil os verbos em que o o do radical antcccdc consoante nasal seguem também o modelo de mover. 3.a Os verbos que apiesentam no radical e [é] ou 0 [Ö] nasal conservam estas vogais em todas as formas: encho, enehes, enebe; encbia, encbias, encbia, etc.; rompo, rompes, rompe; rompia, rompias, rompia, etc. 3.a Conjuga^äo Modelos: servir e dormir Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo sirvo serves serve servimos servis servem sirva sirvas sirva sirvamos sirvais sirvam serve sirva sirvamos servi sirvam näo sirvas näo sirva näo sirvamos näo sirvais näo sirv~m durmo durma dormes durmas dorme näo durmas dorme durma durma näo durma dormimos durmamos durmamos näo durmamos dormis durmais dormi näo durmais dormem durmam durmam näo durmam Notamos que, nesses verbos, as vogais do radical alternam de modo ainda mais sensivel. Assim; d) no presente do indicativo, as formas rizotonicas apresentam uma alternäncia da vogal fechada [i] ou [u] da i.a pessoa do singular com a vogal semi-aberta [e] ou [:>] da 2.a e j.a pessoas do singular e da 3.a do plural; nas formas arrizotonicas observa-se a redueäo vocalica normal a [3] ou [u] no portugues europeu e uma oscilacao entre [e/i] ou [o/u] no portugues do Brasil, com predominäncia da vogal fechada [i] ou [u] por influencia assi-milatdria da vogal tönica; b) no presente do conjuntivo, derivado da i.a pessoa do presente do indicativo, mantem-se em todas as formas as vogais daquela pessoa, verbo *97 [i] ou [u], conforme o caso; c) no iMPERATrvo AFiRMATrvo, a 2.a pessoa do singulár, em corres-pondéncia com a do presente do indicativo, tem a vogal [z] ou [o]; a 2.a do plurál, em consonáncia com a do presente do indicattvo, apresenta a vogal [9] ou [u], no portugués de Portugal, e [e/i] ou [o/u], no portugués do Brasil; as formas derivadas dp presente do conjuntivo (3." do singulár, i.a e 3-a do plurál e todas as pessoas do imperativo negativo) conservam a vogal [i] ou [u] děste tempo. Observacoes: i.a Seguem o modelo de servir os verbos da 3.» conjugacao que těm e grá-iico no mfinittvo. Assim: aderir advertír aferir compelir competir conferir convergir deferir desferir despir digerir discernir divergir ferir inferir ingerir inserir preferir referir reflectir repelir repetit seguir sugerir vestir e tambem mentir e sentir. Exceptuam-se, no entanto: a) os verbos medir, pedir, despedir e impedir, que apresentam e semi-aberto [E] em todas as formas rizotonicas do presente do indicativo e, por conse-guinte, nas do presente do conjuntivo e dos imperativos afirmativo e negativo: meco, medes, mede, medem; me(a, mecas, meca, mecam; peco, pedes, pede, pedem; peca, pecas, peca, pecam, etc. b) os verbos agredir, demgrir, prevenir, progredir, regredir e transgredir, que apresentam [i] nas quatro formas rizotonicas do presente do DroiCATrvo, em todo o presente do conjuntivo e nas formas dos imperattvos afirmativo e negativo dele derivadas: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo agrido agrida agrides agridas agride näo agridas agride agrida agrida näo agrida agredimos agrida mos ngridamos näo agridnmos agredis agridais agrcdi näo agridais agridem agridam agridam näo agridam breve gramática do portuguěs contemporaneo verbo 299 2.a Seguem o modelo de dormir os verbos da 3-a conjugacäo que tém 0 g'ráfico no iNFrNixrvo: tossir, engolir, cobrir (e seus derivados, como descobrir, cmobrir e recabrir). Exceptuam-se, porém: a) os verbos em que o 0 corresponde ao antigo ditongo [ow], caso em que se conserva como [o] em toda a conjugacäo: ouco, owes, owe, etc.; b) os verbos polir e sortir, que apresentam fu] nas formas rizotónicas, formas, alias, de pouco uso: puh, puks, pule, puhm; siirto, surtes, surfe, surfem. Modelos: frigir e acudir Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo frijo freges frege frigimos frigis fregem frija frijas frija frijamos frijais frijam frege frija frijamos frigi frijam näo frijas näo frija näo frijamos näo frijais näo frijam acudo acuda acodes acudas acode näo acudas acode acuda acuda näo acuda acudimos acudamos acudamos näo acudamos acudis acudais acudi näo acudais acodem acudam acudam näo acudam Vemos que, embora tenham [i] e [u] no radical, os verbos frigir e acudir se comportam como se fossem verbos com e e 0 graficos no infinitivo, conjugando-se nos quatro tempos mencionados pelos modelos de servir e dormir. Obsetvacôes: Seguem o modelo de acudir os seguintcs verbos: bulir consumir cuspir escapulir fugir sacudir subir sumir Na llagua corrente e tambem esta a conjugacäo dos verbos entupir e desentupir, que num registo mais culto apresentam, por vezes, as formas reguläres tiitupo, entupes, entupe, entupem; desentupo, desentupes, desentupe, desenfupem. z.a Os verbos constrtiir, destruir e recoustridr, dependendo de uma maior ou menor fornializagäo da iinguagem, podem ser conjugados: construo, cons- truis ou consirois, construi ou conströi, construem ou constroem, etc. Os outros derivados do latim strutre, como instruir e obstruir, so conhecem a conjugacäo regular: instruo, instruis, instrui, instruem; ebstruo, obstruis, obsirui, obstruent. 3-a Näo apresentam alternäncia voeälica, isto e, conservam o [u] do radical em toda a conjugagäo, entre outros menos usuais, os verbos: aludir assumir e seus derivados. curtir iludir influir presumir resumir urdir Felo modelo de influir conjugam-se os demais verbos terminados em -uir: anuir, arguir, airibtiir, constituir, destitm'r, diluir, diminuir, estatuir, imbuir, insti-tuir, restituir, redarguir e ruir. 4.a Os verbos aspergir e submergir tém e semifechado [e] na i.1 pessoa do singular do presents do indicativo e, consequentemente, em todo o presents do conjuntivo. Na 2.a e 3.a pessoas do singular e na 3.a do plural, a exemplo de servir, apresentam e semi-aberto [e]. OUTROS TIPOS DE IRREGULARIDADE i.a Conjugagäo Embora seja a mais rica em numero de verbos, a i.a conjugacäo é a mais pobre em numero de verbos irreguläres. Além de estar, cuja conjugacäo estudámos, há apenas os seguintes: i. Dar Apresenta irregularidades nestes tempos: MODO INDICATIVO Presente Pretérito perfeito Pretérito mais-que-perfeito dou dei dera das deste deras dá deu dera damos demos deramos dais destes dércis däo deram deram 300 breve gramática do portugués contemporäneo VERBO 301 MODO CONJUNTIVO Presente dé des dé demos dejs déem Pretérito imperfeito desse desses desse déssemos désseis dessem Futuro der dereš der dermos derdes derem MODO IMPERATJVO Afirmativo Negativo dá näo dés dé náo dé demos näo demos dai näo deis déem näo déem No mais, conjuga-se como um verbo regular da i.a conjugacäo. O derivado circundar näo apresenta nenhuma destas irregularidades. Segue em tudo o paradigma dos verbos reguläres da 1.» conjugacäo. 2. Verbos terminados em -ear e -iar 1. Os verbos terminados em -ear recebem / depois do e nas formas rizo-tónicas. Sirva de exemplo o verbo passear, que assim se conjuga no presente do indicativo, no presente do conjuntivo é nOS impěrativos afib^ia- tivo e negativo: Indicative presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo passcio passeie passeias passeies passeia näo passeies passcia passeie passeie náo passeie passeamos passcemos passecmos näo passcemos passcais passceis passeai näo passeeis pnssciam passeiem passeiem näo passeiem 2. Os verbos terminados em -iar säo, em geral, reguläres. Sirva de modelo o verbo anunciar: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo anuncio anuncie anuncias anuncies anuncia näo anuncies anuncia anuncie anuncie näo anuncie anunciamos anunciemos anunciemos näo anunciemos anunciais amincieis anunciai näo anuncieis anunciam anunciem anunciem näo anunciem Observagao: O verbo mobiliár (port. do Brasil) apresenta, nas formas rizotónicas, o acento na sílaba bi: presente do tndicativo: mobilio, mobílias, mobllia, mobiliam; presente do conjunttvo: mobilie, mabilies, mobilie, mobíliem; etc. Mas, em verdade, tal anomalia é mais gráfica do que fonética. Este verbo também se esereve mobilhar, variante gráfica admitida pelo Vocabulário Oficial e que melhor reproduz a sua. pronůncia corrente. Advirta-se, ainda, que em Portugal a forma preferida é mobilar, conjugada regularmente. 3. Por analógia com os verbos em -ear (já que na pronůncia se confun-dem o e e o ; reduzidos), cinco verbos de mfinitivo em -iar mudam o [i] em [ej] nas formas rizotónicas. Säo eles: ansiar, incendiar, mediar, odžar e reme-diar. Tomemos, como exemplo, o verbo incendiar: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negatívo incendeio incendeie incendeias incendeies incendeia näo incendeies incendeia incendeie incendeie näo incendeie incendiamós incendiemos incendiemos näo incendiemos incendiais incendieis incendiai näo incendieis incendeiam incendiem incendeiem näo incendeiem Os demais verbos em -iar säo regulates na lingua culta do Brasil. 302 BREVE GRAMATI CA DO PORTOGUES CONTEMPOrAnEO 4. Finalmente, ha um grupo de verbos em -iar que, no portugues de Portugal e na lingua popular do Brasil, nao seguem uma norma fixa, antes vacilam entre os modelos de anunciar e incendiar. Sao, entre outros, os verbos ageticiar, comerciar, negociar, obsequiar, premiar e senttnciar. Observacoes: r.a Criar, em qualquer acepcao, conjuga-se como verbo regular em -iar; crio, crias, cria, criamos, etc. 2.a Convem distinguir, cuidadosamente, certos verbos terminados em -ear e -iar, de forma muito parecida, mas de sentido diverso. Entre outros: afear (relacionado com feio) e aflar (relacionado com fid), en/rear (relacionado com frets) e enfriar (com frie), estear (relacionado com esteio) e estiar (com estio), estrear (relacionado com estreia) e estriar (com esfria), mear (relacionado com meio) e miar (com mio, tniado), pear (relacionado com peia) e piar (com pie), vadear (relacionado com van) e vadiar (com vadio). z.a Conjugacao Alem dos verbos haver, ser e ter, ja conhecidos, devem ser mencionados os seguintes: 1. Caber Apresenta irregularidades no presente e no preterito perfeito do iNDJCATrvo, irregularidades que se transmitem as formas deles derivadas, MODO INDICATIVE Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito caibo coube coubera cabes coubeste couberas cabe coube coubera cabemos coubemos couberamos cabcis coubestes coubereis cabem couberam couberam verbo 303 MODO CONJUNTIVO Presente caiba caibas caiba caibamos caibais caibam Preterito imperfeito coubesse coubesses coubesse coubessemos coubesseis coubessem Futuro couber couberes couber coubermos couberdes couberem Observacäo: No senddo proprio este verbo näo admite imperattvo. a. Crer e ler Sao irreguläres no presente do indicattvo e, em decorrdncia, no presente do conjunttvo e nos imperattvos afirmattvo e negattvo. Indicative Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo creio creia eres creias ere näo creias ere creia creia näo creia cremos creiamos creiamos näo creiamos credos creiais crede näo creiais creem creiam creiam näo creiam leio leia les leias le näo leias Ie leia leia näo leia lemos Ieiamos Ieiamos näo Ieiamos ledes leiais lede näo leiais leem leiam leiam näo leiam Observacäo: Assim tambem se conjugam os derivados destes verbos, como descrer, reler, etc. 304 BREVE GRAMÁTTCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO 3. Dizer Apenas o pretérito imperfeito do indicativo e o gerúndio säo reguläres neste verbo. Estas as formas simples: MODO INDICATIVO VERBO Presente Pretérito imperfeito Pretérito perfeito digo dizia disse dizes dizias disseste diz dizia disse dizemos diziamos dissemos dizeis dizíeis dissestes dizem diziam disseram Pretérito Futuro do presente Futuro do pretérito mais-que-perfeito dissera direi diría disseras dirás dirias dissera dirá diria disséramos diremos dkiamos 1 disséreis direis diríeis \ disseram diräo diria m \ MODO CONJUNTIVO \ Presente Pretérito imperfeito Futuro diga dissesse disser digas dissesses disseres diga dissesse disser dägamos disséssemos dissermos digais dissésseis disserdes digam . dissessem disscrem MODO IMPERATrVO Aficmativo Negativo dize näo digas diga näo diga digamos näo digamos dizei näo digais digam näo digam -~-- lo FORMAS NOMLNAIS Infinitivo impessoal Infinitivo pessoal Gerúndio Particípio dizer dizer dizeres, etc. dizendo dito Segundo o modelo de äi^er conjugam-se os verbos dele formados: bendisyer, tontradhyer, áesii^er, maláiiyer, prediqer, ete. 4. Fazcr Também neste verbo só o pretérito imperfeito do rNDicArrvo e o gerúndio säo regulares. As outras formas conjugam-se: MODO INDICATIVO Presente Pretérito imperfeito Pretérito perfeito faco fazes faz fazemos fazeis fazem fazia fázias fazia fazíamos fazíeis faziam fiz fizeste fez fizemos fizestes fizeram Pretérito ŕnais-que-perfeito Futuro do presente Futuro do pretérito fizera fizeras fizera fizéramos fizéreis fizeram farei farás fará farcmos fareis faräo faria farias faria farfamos faríeis fariam MODO CONJUNTIVO Presente Pretérito imperfeito Futuro faca fagas faga fagamos facais fagani fizcsse fizesses fizcsse fizéssemos fizésseis fizcssem fizer fizcres fizer fizermos fizcrdcs fizerem BREVE GRAMÄTICA PO PORTUGUES CONTEMPORANEO MODO IMPERATIVO Afurnativo Negativo _—■--—--■--r~ faze faca facamos fazei facam näo facas \ näo faca näo facamos näo facais näo facam FORMAS NOMINAIS Infinitivo iinpcssoal Infinitivo pessoal Geründio Particlpio fazer fazer fazeres fazer fazermos fazerdes fazerem fazendo feito Obaervaeäo: Por fairer se conjugam os seus compostos e derivados, como afaspr, eontra-fairer, desfatrer, liquefayr, perfa%er, rarefayr, refayr e safisfayr. 5. Perder Oferece irregularidade no presente do indicativo e esta transmite-se j äs formas derivadas do presente do conjuntivo e dos imperativos afir- ! mativo e negativo. | \ i VERBO Eis as suas formas irreguläres: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo perco perca perdes percas perde näo percas perde perca perca näo perca perdemos percamos percamos näo percamos perdeis percais perdei näo percais perdem percam percam näo percam 6. Podei Apresenta irregularidades no presente e no preterito perfeito do indicativo e, em consequencia, nas formas derivadas destes dois tempos: MODO INDICATIVO Presente Preterito Preterito perfeito mais-que-perfeito posso pude pudera podes pudeste puderas pode pode pudera podcmos pudemos puddramos podeis pudestes pudereis podem puderam puderam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro possa pudesse puder' possas pudesses puderes possa pudesse puder possamos pudessemos pudermos possais pudesscis puderdes possam pudessem pudercm 3o8 dreve gramatica do portugués contemporäneo Obscrvacao: E desusado o imperativo deste verbo. 7. P6r Por, forma contracta do antigo poer (ou pott, derivado do latim ponere), e o unico verbo da lingua que tern o infinitivo irregular, razao por que alguns gramiticos o incluem numa quarta conjugacao, que seria formada por ele e seus derivados. MODO INDICATIVO Presente Preterito imperfeito Preterito perfeito ponho pöes pöe pomos pondes pöem punha punhas punha punhamos punhcis punham pus puseste pos pusemos pusestes puseram Preterito mais-que-perfeito Futuro do presente Futuro do preterito pusera puseras pusera puseramos puseteis puseram porei poras pora poremos poreis porao poria porias poria porlamos porieis poriam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro ponha ponhas ponha ponhamos ponhais ponham pusesse puses ses pusesse puséssemos pusésseis pusessem puser puseres puser pusermos puserdes puserem VERBO 309 MODO IMPERATIVO Afirmativo poe ponha ponhamos ponde ponham Negativo nap ponhas nao ponha nao ponhamos nao ponhais nao ponham FORMAS NOMINAIS Infinitivo Infinitivo Gerundio impessoal pessoal Participio pór pôr pondo posto pores pôr pormos pordes porem Observacäo: Pelo paradigma de pír se conjugam todos os seus derivados: antepor, apor, compor, contrapor, decompor, depor, descompor, dispor, expor, impor, opor, propor, repor, super, transpor, etc. 8. Prazer Empregado apenas na 3.* pessoa, este verbo apresenta as seguintes formas itregulares: MODO INDICATIVO Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito praz prouvb prouvera breve gramätica do portugues contemporane' JIO BßJiVJJ-------- l MODO CONJUNTIVO Preterito imperfeito Futuro prouvesse prouver Observagöes: i.a As outras formas, inclusive o presente do conjuntivo (= prasfa), säo reguläres. Por prater se conjugam apra^er e despra^er. z.a O derivado compraysr, alem de näo ser unipessoal, € regular no preterito perfeito e nos tempos formados do seu radical. Assim, compra^i, compra^este, compra^eu, etc.; compra^era, compra^eras, compra^era, etc.; com-Prozesse, compra^esses, compra^esse, etc.; compra^er, compra^eres, comprasgr, etc. 9. Querer Oferece irregularidades nos seguintes tempos: Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito quero queres quer queremos quereis querem quis quiseste quis quisemos quisestes quiseram quisera quiseras quisera quisefamos quisereis quiseram MODO CONJUNTIVO Presente Pret6rito imperfeito Futuro queira queiras queira quciramos qucirais quciram quisesse quisesses quisesse quisessemos quisesseis quisesscm qui ser quiseres quiser quisermos quiserdes quiserem VERBO Observacöes: i.a A par de quer, 3.a pessoa do singular do presents do indicativo, empre-ga-se tambem quere no portugues europeu, quando a forma verbal vem acom-panhada de um pronome enclitico: quere-a. O derivado requerer taz requeiro na i.a pessoa do presents do indicativo e e regular no preterito perfeito e nos tempos formados do seu radical: requeri, requereste, requereu, etc.-requerera, requereras, requerera, etc.; requeresse, requeresses, requeresse, etc.; requerer, requereres, requerer, etc. Alem disso, emprega-se no imperattvo. Bem--querer e malquerer fazem no participio benquisto e malquisto, respectivamente. z.a £ desusado o imperativo deste verbo. 10. Saber Formas irreguläres: MODO INDICATIVO Presente Pteterito perfeito Preterito mais-que-perfeito sei soube soubera sabes soubeste souberas sabe soube soubera sabemos soubemos soubefamos sabeis soubestes soubereis sabem souberam souberam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro saiba soubesse souber saibas soubesses souberes saiba soubesse souber saibamos soubessemos soubermos saibais soubesseis souberdes saibam soubessem soubcrem 3" BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO VERBO MODO IMPERATIVO Afirmativo Negativo sabe näo saibas saiba näo saiba saibamos näo saibamos sabei näo saibais saibam näo saibam ii. Trazer E regular apenas no preterito imperfeito do indicativo e nas for-mas nominais. Esta a sua conjugacäo: MODO INDICATIVO Presente Preterito imperfeito Preterito perfeito trago trazia trouxe trazes trazias trouxeste traz trazia trouxe trazemos traziamos trouxemos trazeis trazleis trouxestes trazem traziam trouxeram Preterito Futuro do presente Futuro do preterito mais-que-perfeito trouxera traiei traria trouxeras traräs trarias trouxera trara traria trouxeramos traremos trariamos trouxereis trareis trarieis trouxeram traräo trariam MODO CONJUNTIVO Presente Preterito imperfeito Futuro traga trouxesse trouxer tragas trouxcsses trouxeres traga trouxesse trouxer tragamos trouxcssemos trouxcrmos tragais trouxcsseis trouxerdes tragam trouxessem trouxerem 3r3 MODO IMPERATTVO Afirmativo Negativo traze näo tragas traga näo traga tragamos näo tragamos trazei näo tragais tragam näo tragam 12. Valer Apresenta irregularidade na i.a pessoa do presente do indicattvo, irregularidade que se transmite ao presente do conjuntivo e äs formas do imperattvo dele derivadas. Assim: Indicativo Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo valho valha vales valhas \_Je näo valhas vale valha valha Mo valha valemos valhamos valhamos näo valhamos valeis valhais valei näo valhais valem valham valham näo valham Observacäo: Por valer se conjugam desvaler e eqttivakr. 13, Ver E irregular no presents e no preterito perfeito do indicativo, nas formas deles derivadas, assim como no participio, que e visto. Assim: MODO INDICATIVO Presente Preterito perfeito Preterito mais-que-perfeito vejo vi vita ves viste vkas ve viu vira vemos vimos viramos vedes vistes vlreis veem viram viram 314 \ b reve gramatica do portugues contemporaneo MODO CONJUNTIVO Presente Pretérito irnperfeito Futuro veja vejas veja vejamos vejais vejam visse visses visse vissemos vlsseis vissem vir vires vir virmos virdes virem MODO IMPERATIVO Attrmativo Negativo vě näo vejas veja näo veja vejamos näo vejamos vede näo vejais vejam näo vejam Observagôes: i.» Assim se conjugam antever, entrever, prever e rever. zfi Prover, embora formado de ver, é regular no pretérito perfeito do indicativo e nas formas dele derivadas: provi, preveste, proven, etc.; provera, proveras, provera, etc.; provesse, provesses, provesse, etc.; prover, proveres, prover, etc. O particípio é provide, também regular. Por prover conjuga-se o seu derivado desprover. i. Ir É verbo anómalo, somente regular no pretérito imperfeito e nos futúr os do presents e do pretérito do modo indicativo: ia, irei, iria; nas formas nominais—-infinitivo: ir; gerúndio: inde; particípio: ido. As suas formas do pretérito perfeito do lndicativo e do s tempos dele derivados identificam-se com as correspondentes do verbo ser: fui, fara, fosse e for. Nos demais tempos simples é assim conjugado: lndicativo Conjuntivo Imperativo prcsente presente Afirmativo Negativo vou vá vais vás vai näo vás vai vá vá näo vá vamos vamos vamos näo vamos ides vades ide näo vades väo väo väo näo väo 2. Medir e Pedir Além da altemáncia vocálica entre as formas rizotónicas e arrizotónicas, estes verbos apresentam modificacäo do radical med- e ped- na 1.» pessoa do presents do indicativo e, consequentemente, no presents do conjuntivo e nas pessoas do imperativo dele derivadas. Indicativo Conjuntivo Imperativo presente presente Afirmativo Negativo mego mega medes mecas mede näo mecas mede mega mega näo mega medimos mecamos mecamos näo megamos medis mecais medi näo megais medem mecam megam näo megam pego peca pedes pecas pede näo pegas pedc peca pega näo pega pedimos pegamos pegamos näo pegamos pedis pegais pedi näo pegais pedem pegam pegam näo pegam ObservagSes: i.a Por medir conjuga-se desmedir. 3ió breve gramática do portugues contemporáneo 2.a Conjugam-se por pedir, embora. dele näo sejam derivados, os verbos dcspedir, expedir e impedir, bem como os que destes se formám: desimpedir, reexpedir, etc. 3. Ouvir Irregularidade semelhante ä anterior. O radical oitv- muda-se em ouc-na i.a pessoa do presente do indicativo e, em decorréncia, em todo o presente do conjuntivo e nas pessoas do imperativo dele derivadas. Assim: verbo 317 Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo ouco ouca näo oucas ouves oucas ouve ouve ouga ouca näo ouca ouvimos ougamos ougamos näo ougamos ouvis ougais ouvi näo ougais ouvem oucam oucam näo oucam Obscrvacäo: Em Portugal, ao lado de oufo, há oifo para a i.a pessoa do singular do presente do indicativo. Esta dualidade fonétíca estende-se a todo o presente do conjuntivo e äs pessoas do imperativo dele derivadas: ouea ou oiea, oufas ou oicas, etc. 4. Rir Apresenta irregularidades nos seguintes tempos: Indicativo presente Conjuntivo presente Imperativo Afirmativo Negativo rio ria ris rias ri näo rias ri ria ria näo ria rimos riamos riamos näo riamos rides rials ride näo rials riem riam riam näo riam Observacäo: Pelo modelo de rir conjuga-se sorrir. 5. Vir É verbo anómalo, assim conjugado nos tempos simples: MODO INDICATIVO Presente Pretérito imperfeito Pretérito perfeito venho vinha vim vens vinhas vieste vem vinha veio vimos vlnhamos viemos vindes vinheis viestes vém vinham vieram Pretérito Fututo do presente mais-que-perfeito Future do pretérito viera virei víria vieras vitas virias viera vitá viria viéramos viremos viriamos viéreis vireis virieis vieram viräo viriam MODO CONJUNTIVO Presente Pretérito imperfeito Fututo venha viesse vier venhas viesses vieres venha viesse vier venhamos viéssemos viermos venhais viésseis Vierdes venham viessem vierem ji3 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORAnEO MODO IMPERATIVO Afirmativo Negativo vem näo venhas venha näo venha venhamos näo venhamos vinde näo venhais venham näo venham FORMAS NOMINAIS Infinitivo impessoal Ihfimtivo pessoal Gerůndio Participio vir vii vindo vindo vires vir virmos virdes virem Observacäo: Por este verbo se conjugam todos os seus derivados, como advir, avir, convir, desavir, intervir, provir e sobrevir. 6. VerboB terminados em -u%ir Os verbos assim terminados, como adu^ir, condu^ir, dedtarir, indusýr, introdtitjr, lusýr, produtýr, redus^ir, relu^ir, tradn^ir, etc., näo apresentam a vogal -e na 3-a pessoa do singular do presente do TNDicATrvo: (ele) adu^, condus^, dedu%, indu^j introdu%, lu^, etc. VERBOS DE PARTICÍPIO IRREGULAR Há alguns verbos da z.a e da 3.» conjugacäo que possuem apenas par-ticipio irregular, näo tendo conhecido jamais a forma regular em -ido. Säo os seguintes: verbo jr9 Infinitivo Participio Infinitivo Participio dizer dito pór posto escrever escrito abrir aberto fazer feito cobrir coberto ver visto vir vindo Observacdes: i.» Também os derivados destes verbos apresentam somente o participio irregular. Assim, desdito, de desdhgr; reescrito, de reescrever; eonfrafeito, de con-trafa^er; previsto, de prever; imposto, de impor; entredberto, de entreabrir; des-coberto, de descobrir; eonvindo, de convir, etc. 2.ft Neste grupo devemos incluir trés verbos da i.a conjugacäo —■ ganbar, gastar e pagar — de que outrora se usavam norroalmente os dois partidpios. Na linguagem actual preferem-se, tanto nas construcöes com o auxiliar ser como naquelas em que entra o auxiliar Ur, as formas irreguläres ganho, gasto e pago, sendo que a ultima substituiu completamente o antigo pagado. VERBOS ABUNDANTES Vimos que sao chamados abundantes os verbos que possuem duas ou mais formas equivalentes. Vimos tambem que, na quase totalidade dos casos, essa abundancia ocorre apenas no participio, o qual, em certos verbos, se apresenta com uma forma reduzida ou anorrnal ao lado da forma regular em -ado ou -ido. De regra, a forma regular emp$ega-se na constituicao dos tempos com-postos da voz activa, isto e, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de preferencia, na formagao dos tempos da voz passiva, ou seja acompanhada do auxihar ser. Examinemos os principals verbos abundantes no participio. j 20 BREVE GRAMÁTICA DO PORTuGUÉS CQKTEMP0RANB0 Primeira conjugacäo Infinitivo Participio regular Participio irregular [ _.- í aceitar entregar enxugar expres sar expulsar isentar matar salvar soltar vagar aceitado entregado enxugado expiessado expulsado isentado matado salvado soltado vagado \ aceito, aceite \ entregue j enxuto 1 expresso } expulso isento i morto I salvo j solto j vago i i i Segunda conjugacäo ] Infinitivo Participio regular Participio irregular f acender benzer eleger incorrer morrer prender romper suspender acendido benzido elegido incorrido morrido prendido rompido suspendido aceso i bento I eleito s incurso ;| morto j preso j roto I suspenso j 1 Terceira conjugacäo ;| \ Infinitivo Participio regular Participio irregular emergir exprimir extinguir frigir imergir irnprimir inscrir omitir submcrgir emergido exprimido extinguido frigido imergido imprimido inserido omitido submergido emerso expresso extinto frito imerso impresso inserto omisso submerso VERBO 321 Observacöes: 1. a Somente as formas irreguläres se usam como adjectivos e säo elas as Urticas que se combinam com os verbos estar,ficar, attdar, ir e vir. 2. s A formaaceite é mais usada em-Portugal. 3a Merto é pardclpio de morrer e'estendeu-se também a matar. 4. a O participio rompido usa-se também com o auxiliar ser. Ex.: Fotam rompidas as ttossas relacöes. Koto emprega-se mais como adjectivo. 5. " Imprimir possui duplo participio quando significa «estampaD>, «gravan>. Na acepcäo de «produzir movimento», <, DO pCOJCCtO dc N#> if« nlo te tee adoptado all ultima destgnaclo. opcar pel o «s craprcgo nesta obca porque, etn noaaa opirjtito, «c irata. aa vetdadc, de ua tempo (c nlo dc nan mono) que «ó ae diferenci* do pirruao do mušjsmt* pot te icfczu a facto* pettndoa. ao paaao qua o Uttrtio tm reUdcicM com factoa prcacrtrcs. K oare»ccmc-»e que amhot apareccan nat aMercoca cootbcio«uda». dependendo o empreftO de «m ou dc outto do ten-Ikío da nracio couiiicJoaante. Cacaparcm-ce: Se eic Tier, nao *aircJ. Se ek rtctK, nlo aaitia. X. O fututo do preterito com potto emprcg*-ie: t.°) para indicar que am facto rcria acontecido no pitsado, medtante • eria coodicio: Sc cu cKrreaae ca. nada dano M carta paaaado. (Castro Sotntnenno, TM, tax.) ».•) par* cTpnmir a povabilicia^e de um fano ptiiado — Sam ti, qaacn »aber terra «Mo oasa graode caauura. (Anguato Abelalra. B, lfSj.) \ *) para indicar a tncrrrez» v>bte facto» psssados, em cetua fraact MMrrrtiftarJvai que diipeniam a rctpf.»ta do interlixnttw: *.quclc oaalandro oa tcria en^ou'do? (Carlo» Dramrnond de Annrade, CA. 144-) MODO CONJUNTTVO iiiiHcarivo e coajuntivo. i. Quaado au« »ervitnu» do kudu owtcATtvo. cnntideninot o facto ga|irrwtj pělo verbo no mo ctrtm, rtnJ, teja 00 pretcDtr. »cja no paaaado, »ej» U»i i'uiuro. Ao empregarmoa o modo conjukttvo. c mmpletamerm? dtreraa a a»m»» aiitude. Ilnrararno*. emfx>, a esiaténcia ou nlo erktfnria do facto comn mum i..,u uNirtM. imid»u. tfHltmi ou, meamo, trrmi. O—|mrm att por Í34 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO Tempo Modo indicativo Modo conjuntivo Presente Afirmo que ela estuda Duvido que da estude Imperfeito Afirmei que ela estudava Duvidei que ela cstudasse Perfeito Afirmo que ela estudou (ou tern estudado) Duvido que ela tenha estudado Mais-que-perfeito Afirmava que ela tinha estudado (ou estudara) Duvidava que ela tivesse estudado 2. Em decorrencia dessas distincöes, podemos, desde jä, estabelecer os seguintes principios gerais, norteadores do emprego dos dois modos nas oracöes subordinadas substantivas: O LMDiCATD/o e usado geralmente nas oracöes que completam o sentido de verbos como afirmar, compreender, eomprovar, crer (no sentido afir> mativo), di^er, pensar, ver, verificar. 2.°) O conjunttvo e o modo exigido nas otacöes que dependem de verbos cujo sentidu esta ligado ä ideia de ordern, de proibigäo, de desejo, de vontade, de süplica, de condicäo e outras correlatas. E o caso, por exem-plo, dos verbos desejar, duvidar, implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proi-bir, querer, rogar e supliear. EMPREGO DO CONJUNTIVO Como o proprio nome indica, o conjunttvo (do larim conjmctivus «que serve para ligar») denota que uma accäo, ainda näo realizada, 6 concebida como ligada a outra, expressa ou subentendida, de que depende (de onde a designacäo alternativa suBjüNTrvo, preferida pela Nomenelatura Gramatical Brasileira). Emprega-se normalmente na oracäo subordinada. Quando usado em oragöes absolutas, ou oracöes principais, envolve sempre a accäo verbal de um matiz afectivo que acentua fortemente a expressäo da vontade do individuo que fala. Conjuntivo indepcndente. Empregado em oracöes absolutas, em oracöes coordenadas ou em oracöes principais, o conjunttvo pode exprimir, alem das nocöes imperati-vas que examinaremos adiante: d) um desejo, um anelo: Chovam liinos de glöria na tua alma! (Antero de Quental, SC, 35.) VERB O 335 b) uma hipótese, uma concessäo: Seja a minha agonia uma centelha De gloriaI... (Olavo Bilac, T, 197.) e) uma dúvida (geralmente precedido do advérbio ta/veir): Um cachorro talvez rosnasse ou mordesse. (Adonias Filho, LBB, ior.) d) uma ordern, uma proibigäo (na 3.» pessoa): Que näo se apague este Iumel (Augusto Meyer, P, 126.) e) uma exckmacäo denotadora de indignacäo: Raios partám a vida e quem lá anděl (Fernando Pessoa, OP, 316.) Conjuntivo subordinado. O conjuntivo é por excelencia o modo da oracäo subordinada. Emprega-se tanto nas subordinadas substantivas, como nas adjecttvas e nas ADVERBIais. Nas oracöes substantivas. Usa-se geralmente o conjuntivo quando a oracäo principal exprime: a) a vontade (nos matizes que väo do comando ao desejo) com referencia ao facto de que se fala: Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo. (Maria Judite de Carvalho, AV, 119.) b) um sentimtnto, ou uma apreekfäo que se emite com referencia ao proprio facto em causa: — Pior será que nos enxotem daqui... (Afränio Peixoto, RC, 273.) c) a dúvida que se tem quanto ä realidade do facto enunciado: Receava que eu mc tornasse ingrato, que o tratasse mal na velhke. (Augusto Abelaira, NC, 14.) 336 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO Nas oracöes adjectivas. O conjuntivo e de regra nas oracöes adjectivas que exprimem: a) um fim que se pretende alcancar, uma consequencia: — Portanto, quero coisa de igreja, coisa pia, que de gosto a um bora sacerdote como 6 padre Esteväo. (Antonio Callado, MC, 99.) b) um facto improvävel: Tristäo podia resolver esta minha luta interior cantando alguma cousa que me obrigasae a ouvi-lo. (Machado de Assis, OC, I, 1.098.) c) uma hipötese, uma conjectura, uma simulacäo: Estatia aü para dar esperanca aos que a tivessem perdtdoP (Maria Judite de Carvalho, AV, 138.) Nas oracöes adverbiais. I. Nas oracöes subordinadas adverbiais o conjunttvo, em geral, näo tern valor proprio. É um mero instrumento sintáctico de emprego regu-lado por certas conjuncöes. Em principio, podemos dizer que o conjuntivo é de regra depois das conjuncöes: a) c aus Ais que negam a ideia da causa (näo porque, näo que): Näo que näo quisessc amar, mas amar menos, sem tanto sofrimento. (Lygia Fagundes Teiles, DA, 107.) b) CONCESSIVAS (embora, ainda que, conquanto, posto que, mesmo que, se bem que, etc.): O povo näo gosta de assassinos, embora inveje os valentes. (Carlos Drummond de Andradc, CA, 7.) c) FiNAis (para que, a fim de que, porque) : Para que tudo retomaese a quietude iniciál, e os coelhos se resolves-sem a vir gozar a frcsca, seriam precisas horas, e entäo já näo teria luz. (Miguel Torga, NCM, 64.) VERBO 337 d) temporais, que marcam a anterioridade (antes que, ati que e seme-lhantes): E vai custat muito ate que a pobre assente julzo. (Jose Lins do Rego, MR, 227.) Usa-se também o conjuntwo, em razäo de ser 0 modo do eventual e do imaginário, nas: a) oracöes comparativas iniciadas pela hipotética como se: As perms tremiam-me como se todos os nervos me estivessem gol-peado8. (CamUo Castelo Branco, OS, I, 761.) tética: b) oracöes coNDiciONAis, em que a condicäo é irrealizável ou hipo- Ó Morte, dava-te a vida, Se tu lha fosses levari... (Guerra Junqueiro, S, 74.) c) oracöes consecuttvas que exprimem «simplesmente uma con-cepgäo, um fim a que se pretende ou pretenderia chegar, e näo uma reali-dade» (Epifánio Dias): — Que quer vomecéř ■— perguntou rudemente, de longe, interrompendo a marcha de modo que ela pudesse chegar até junto dele. (Fernando Namora, TJ, 70.) Tempos do conjuntivo. Dissemos anteriormente que as formas do conjunttvo enunciam a accao do verbo como eventual, incerta, ou irreal, em dependěncia estreita com a vontade, a imaginacao ou o sentimento daquele que as emprega. Por isso, as nocoes temporais que encerram n3o sao precisas como as expressas I pelas formas do indicativo, denotadoras de accoes concebidas em sua rea-i lidade. i Feita essa adverténcia, examinemos os principals valores dos tempos * do conjuntivo. BREVE GRAMÁTICA DO PORTUOUES CONTEMPORANE0 1. O presents do coNjUNTivo pode indkar um facto: a) piesente: Peaa é que os merunos estejam täo mal providos de roupa. (Otto Lara Resénde, SD, 128.) b) futuro: Meus olhos apodrecam se abenjoar voce. (Adoaias Filho, LP, 140.) 2. O iMPERFEiTo do conjuntivo pode ter o valor: a) de passado: Näo havia inteacäo que ele näo lhe confessasse, conselho que lhe näo pedisse, (Agustina Bessa Luis, S, 58.) b) de futuro: Alberto era inteligente e se näo se deixasse engazupar, talvez aquilo até lhe fosse um bem... (Ferreira de Castro, OC, I, 87.) f) de presente: Tivesses coracäo, tetias tudo. (Gukaaräes Passos, VS, 166.) 3. O PRETERiTO PERFEiTO do conjunttvo pode exprimir um facto: d) passado (supostamente concluido): Espero que näo a tenha ofendido. (Maria Judite de Carvalho, AV, 109.) b) futuro (terrninado em relacäo a outro facto futuro): Espero que Joäo tenha feito o cxame quando eu voltar. 4. O PRETERiTO mais-que-PERFEiTo do conjunttvo pode indicar: d) uma accäo anterior a outra accäo passada (dentro do sentido even- VERBO 339 tual do modo conjuntivo): Esperei-a um pouco, ate que tivesse terrninado sua toilette e pudesscmos sair juntos. (Ciro dos Anjos, DR, 167.) b) uma accäo irreal no passado: Se a vitöria os houvesse coroado com os seus favores, näo lhcs faltaria o aplauso do mundo e a solicitude dos graades advogados. (Rui Barbosa, EDS, 794.) 5. O futuro do conjuntivo simples marca a eventualidade no futuro, e emprega-se em oraches subordinadas: d) adverbiais (condicionais, conformativas e temporais), cuja principal vem enunciada no futuro ou no presente: Se quiser, irei ve-lo. Se quiser ve-lo, vä a sua casa. Farei conforme mandares. Faca como souber. Quando puder, passarei por> aqui. Quando puder, venha ver-me. b) adjecttvas, dependentes de uma principal tambem enunciada no futuro ou no presente: Direi uma palavra amiga aos que me ajudarcm. Diga uma palavra amiga aos que o ajudarcm. 6. O futuro do conjuntivo composto indica um facto futuro como terrninado em relacäo a outro facto futuro (dentro do sentido geral do modo conjunttvo) : Quando üverdes acabado, sereis desalojados de vosso precario pouso e devolvidos äs vossas favelas. (Rubem Braga, CCE, 250.) MODO IMPERATIVO EMPREGO DO MODO IMPERATIVO i. Embora a palavra imperattvo esteja ligada, pela origem, ao latim imperare «conaandar», näo e para ordern ou comando que, na maioria dos 340 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPOrAnEO casos, nos servimos desse modo. Há, como veremos, outros meios mais efi-cazcs para expressarmos tal nogao. Quando empregamos o imperattvo, em geral, temos o intuíto de exortar o nosso interlocutor a cumprir a accäo indicada pelo verbo. é, pois, mais o modo da exortacäo, do conselho, do convite, do que propriamente do comando, da ordem. 2. Tanto o imperativo afirmativo como o negativo usam-se somentc em oragôcs absolutas, em oracôes principais, ou em oracôes coordenadas. Ambos podem exprlmir: a) uma ordem, um comando: Cala-tc, näo Ihe digas nada. (Carlos de OJiveira, AC, 98.) b) urna exortagäo, um conselho: SS todo em cada coisa. Pfle quanto és No niinimo que fazes. (Fernando Pessoa, OP, 239.) f) um convite, uma solicitacäo: Vinde verí Vinde ouvir, homens dc terra estrarihal (Olegário Mariano, TVP, I, 273.) d) uma súplica: Näo mc deixes só, meu filhol... (Luandino Vieira, NM, 82.) 3. Emprega-se também o imperativo para sugerir uma hipótese em lugar de assercôes condicionadas expressas por se + futuro do conjun-tivo: Suprima a vlrgula, e o sentido ficatá mais claro. [Se suprimir a vlrgula, o sentido ficará mais claro.] 4. Esses diversos valores dependem do significado do verbo, do sentido geral do contexto e, principalmente, da entoacäo que dermos ä frase imperativa. Por exemplo, numa frase como a seguinte: Salam da chuva, meninosl (Luis Jardim, MP, 47.) conforme o tom da voz, a nogäo de comando pode enfraquecer-se até chegar ä de súplica. verbo 341 5. Releva ponderar ainda que o imperativo 6 enunciado no tempo presente, mas na realidade este «presente do imperativo» tern valor de um futuro, pois a accäo que exprime estä por realizar-se. EMPREGO DAS FORMAS NOMTNAIS Caracteristicas gerais. Säo formas nominais do verbo o infinitivo, o gerdndio e 0 parti cipio. Caracterizam-se todas por näo poderem exprimir por si nem o tempo nem o modo. O seu valor temporal e modal esta. sempre em dependencia do contexto em que aparecem. Distinguem-se, fundamentalmente, pelas seguintes peculiaridades: a) o infinitivo apresenta o processo verbal em potencia; exprime a ideia da accäo, aproximando-se, assim, do substantivo: Sotrer por sofirer, Somente eu sofria. (Cecilia Meireles, OP, 581.) b) o gerundio apresenta o processo verbal em curso e desempenha fungöes exercidas pelo adverbio ou pelo adjectivo: Metendo o barco pela terra dentro, e mesmo posslvel ir mais alem. (Miguel Torga, P, 87.) Ouvia-se o cantar de carros de boi, chorando, de muito longe. (Jose Lins do Rego, FM, 146.) c) o PARTicfpio apresenta o resultado do processo verbal; acumula as caracteristicas de verbo com as de adjectivo, podendo, em certos casos, receber como este as desinencias -a de fcminino e -s de plural: Uma das cenas fora filmada numa Ioja do bairro, ampla, bem iluminada, com prateleiras carrcgadas dos mais diversos produtos. (Sttau Monteiro, APJ, 47.) Acrescente-se, ainda, que: a) o infinitivo e o gerundio possucm, ao lado da forma simples, 342 breve g ramatica bo portugues contempqrAneq uma forma composta, que exprime a acgao concluida; apresentam, pois, internamente, uma oposicäo de aspecto: Aspecto näo concluido Aspecto concluido ter lido Infinitivo ler Geründio lendo tendo lido verbo 343 *) o lnftnittvo assume, em portugues, duas formas: uma näo fle-xionada; outra flexionada, como qualquer forma pessoal do verbo; c) o gerundio e invariavel; d) a PARTicfpio näo se flexiona em pessoa. EMPREGO DO INFINITIVO Infinitivo impessoal e infinitivo pessoal. A par do infinitivo impessoal, isto e, do infinitivo que näo tern sujeito, porque näo se refere a uma pessoa gramatical, conhece a lingua portuguesa o infinitivo pessoal, que tem sujeito proprio e pode ou näo flexionar-se. Assim, era: Se criar e criar-se, cantar e ser. (Emilio Moura, IP, 187.) Ja na fräse: O dificil e cstarmos atentos. (Vergilb Ferreira, NN, 128.) es tamos diante de uma forma do infinitivo pessoal. O infinitivo pessoal flexion ado possui, como dissemos, desinen-cias especiais para as tres pessoas do plural e para a 2.a pessoa do singular. | Emprego da forma näo flexionada. r. O infinitivo conserva a forma näo flexionada: 1.0) quando i impessoal, ou seja, quando näo se refere a nenhum sujeito: Viver e exprimir-se. (Gilberto Amado, TL, 9.) 2.0) quando tem valor de imperativo: — For mar! —• ordenou o sipaio Jacinto. (Castro Soromenho, V, 197.) 3.0) quando, em fräse nominal de acentuado caracter afectivo, tem sentido narrativo ou descritivo (inftnitivo de narracäo) : Mais dois dias. E Catarina a piorar. (Oscar Ribas, U, 243.) 4.0) quando, precedido da preposicäo de, serve de complemento nominal a adjectivos como facti, posswel, bom, raro e outros semelhantes: Ja näo transitam pelo correio aquelas cartas de letra rniudinha, impos-siveis de ler, gratas de ler, pois derramavas nelas uma intacta ternura... (Carlos Drummond de Andrade, CB, 137.) 5.0) quando, regido da preposicäo a, equivale a um geründio em locu-cöes formadas com os verbos estar, andar,ficar, viver e semelhantes: Andam a montat casa. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 704.) 2. E tambem normal o emprego do infinitivo näo flexion ado: i.°) quando pertence a uma locucäo verbal e näo estä distanciado do seu auxiliar: Importavam menos as palavras, essas talvez pudcsaem esquecer-se, porque outras se lhes viriam sobrepor e cobri-las, e assimilä-las. (Alves Redol, BC, 57.) 2.0) quando depende dos auxiliares causativos (deixar, mandar, father e sinönimos) ou sensitivos (per, otwir, sentir e sinönimos) e vem imediata-mente depois desses verbos ou apenas separado deles por seu sujeito, expresso por um pronome obliquo: Deixas correr os dias como as äguas do Paraiba? (Machado de Assis, OC, II, 119.) 344 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPOrAnEO Esta viu-os ir pouco a pouco. (Machado de Assis, OC, II, 509.) Neste caso, costuma ocorrer também a forma fiexionada, quando entre o auxiliar e o infinitivo se insere o sujeito deste, expresso por substantivo ou equivalente: Domingos mandou os homens levantarem-se. (Castro Soromenho, C, 56.) Finalmente, vlu os trés pastores pcgatem nos alforges e dirigirem-se ao regato, para lavar as mäos. (Ferreira de Castro, OC, I, 404.) E, mais raramente, quando 0 sujeito é um pronome obliquo: Ele viu-as entrarem, prostrarem-se de braeos estendidos, chorando, e näo se comoveu.,. (Coelho Netto, OS, I, 1328.) Emprego da forma fiexionada. O infinitivo assume a forma flexionada: i.°) quando tem sujeito claramente expresso: Mas o curioso é tu näo perceberes que näo houve nunca «iiusäo» alguma. (Vergilio Ferreira, NN, 312.) 2.0) quando se refere a um agente näo expresso, que se quer dar a conhecer pela desinéncia verbal: — Acho melhor näo fazeres questäo. (Ferreira de Castro, OC, I, 94,) 3.0) quando, na 3» pessoa do plural, indica a mdeterminacäo do su- jeito: Ouvi dizerem que Maria Jeroma, de todas a mais impressioaante, pelo ar desafrontado e pela pintura na cara, ganhara o sertäo. (Gilberto Amado, BMI, 143.) 4.0) quando se quer dar ä fräse maior énfase ou harmonia: Aquelcs homens gotejantes de suor, bébedos de calor, desvairados de verbo 345 insolacäo, / a quebrarem, / a espicacarem, / a torturarem a pcdra, / parc-ciam um punhado de demónios revoltados na sua impotĚncia contra o impas-slvel gigante. (Aluísio Azevedo, C, 66.) Conclusäo. Como vemos, «a escolha da forma kifinitiva depende de cogitarmos somente da accäo ou do intuito.ou necessidade de pormos em evidencia o agente da accäo» (Said Ali). No primeiro caso, preferiremos o infinitivo näo flexionado \ no segundo, o flexion ado, Trata-se, pois, de um emprego selectivo, mais do terreno da estilistica do que, propriamente, da gramatica. EMPREGO DO GERÜNDIO Forma simples e composta. Vimos que o gerundio apresenta duas formas: uma simples (/endo), outra composta (Undo ou havendo Udo). A forma composta 6 de caracter perfeito e indica uma accäo concluida anteriormente ä que exprime o verbo da oracäo principal: Näo tendo conseguido dormir, fui escaldar um cha na cozinha e dei de cara com a Rosa e a Idalina. (Otto Lara Resende, BD, 112.) A forma simples expressa uma acijäo em curso, que pode ser imediata-mente anterior ou posterior ä do verbo da oracäo principal, ou contempo-ränea dela. Este valor temporal do gerundio depende quase sempre da sua coloca-cäo na fräse. Gerundio anteposto ä oracäo principal. Colocado no inicio do periodo, o gerundio exprime: a) uma acgäo realizada imediatamente antes da indicada na oragäo principal: Ganhando a praca, o engenheiro suspirou livre. (Anibal M. .Machado, HR, 41.) 34Ö BREVE GRAMATTCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO b) uma accäo que teve comeco antes ou no momento da indicada na oracäo principal e ainda continua: Estalando de dor de cabeca, insone, tenho o coracäo vazio e amargo, (Otto Lara Resende, BD, 51.) Gerúndio ao lado do verbo principal. Colocado junto do verbo principal, o gerúndio expressa de regra uma acgäo simultanea, correspondente a um adjunto adverbial de modo: Chorou solucando sobre a cabeca do cäo. (Castro Soromenho, TM, 203.) Gerúndio posposto á oracao principal. Colocado depois da oracäo principal, o gerúndio indica uma accäo posterior e equivale, na maioria das vezeš, a uma oracäo coordenada iniciada pela conjungäo e: As trajectórias recomecaram, processando-se a um ritmo regular. (Fernanda Botelho, X, ij8.) Gerúndio antecedido da preposicäo em. Precedido da preposicäo em, o gerúndio marca enfatícamente a antc-rioridade imediata da accäo com referéncia ä do verbo principal: Em se Ihe dando corda, ressurgia nele o tagarela da cidade. (Monteiro Lobato, U, 127.) O gerúndio na locucao verba!. O gerúndio combina-se com os auxiliares estar, andar, ir e vir, para marcar diferentes aspectos durativos da accäo verbal, examinados por nós ao estudarmos o emprego desses auxiliares. EMPREGO DO PARTICÍPIO Elcmento de tempos compostos. O particípio desempenha importantíssimo papel no sistema do verbo verbo 347 com permitir a formacao dos tempos compostos que exprimem o aspecto conclusivo do processo verbal. Emprega-se: a) com os auxiliares ter e haver, para forrnar os tempos compostos da voz activa: tendo escrito faavia escrito b) com o auxiliar ser, para format os tempos da voz passiva de accao: A carta foi escrita por mim. c) com o auxiliar estar, para formar tempos da voz passiva de estado: Estamos impressionados com a situacao. Participio sem auxiliar. r. Desacompanhado de auxiliar, o participio exprime fundamental-mente o estado resultante de uma acgäo acabada: Achada a solucäo do problema, näo mais torturou a cabefa. (Afonso Arinos, OC, 456.) 2. O participio dos verbos transitivos tem de regra valor passivo: Lidas uma e outra, procedeu-se äs assinaturas. (Joaquim Pa50 d'Arcos, CVL, 550.) 3. O participio dos verbos intransitivos tem quase sempre valor activo: Chegado aos pes, olhava-me para cima. (Vergilio Ferreira, NN, 66.) 4. Exptimindo embora o resultado de uma accäo acabada, o particípio näo indica por si proprio se a accäo em causa é passada, presente ou futura. Só o contexto a que pertence precisa a sua relacäo temporal. Assim, a mesma forma pode expressar: 348 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGufes CONTEMPORÄNEO a) accäo passada: Aberta uma excepcäo, estávamos peididos. b) accäo presente: Aberta uma excepcäo, estamos pcrdidos. c) accäo futura: Aberta uma excepcäo, estaremos petdidos. Nos casos acima, vemos que a oracäo de particípio tem sujeito dife-rente da principál e estabelece, para com esta, uma relacäo de anterioridade. Mas a relacäo temporal entre as duas oracöes pode ser de simultanei-dade, principalmente se o sujeito for o mesmo: Embaracado, näo consegui chegar ä porta. (Otto Lara Resende, BD, izi.) Encerrados na quinta, Baltasar e Blimunda assistem ao passar dos dias. (Jose Saramago, MC, 19t.) 5. Quando o particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma relacäo temporal, ele' se confunde com o adjectivo: Com a cabeca levantada, olhava o céu. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 156.) O vento enfurecido acoitava a rancharia. (Augusto Meyer, SI, 15.) CONCORDANCE VERBAL 1, A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterioriza-se na concordäncia, isto é, na variabilidade do verbo para con-formar-se ao numero e ä pessoa do sujeito. 2. A concordäncia evita a repeticäo do sujeito, que pode ser indi- VERBO HO cado pela flexäo verbal a ele ajustada: Eu acabei por adormecer no regaco de minha tia. Quando acordei, já era tarde, näo vi tneu pai. (Aquilino Ribeiro, CRG, 257.) REGRAS GERAIS i. Com um só sujeito. O verbo concorda em numero e pessoa com o seu sujeito, venha ele claro ou subentendido: A paisagem ficou espiritualizada. Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estráda... (Manuel Bandeira, PP, 70.) 2. Com mais de urn sujeito. O verbo que tern mais de um sujeito (sujeito composto) vai para o plural e, quanto a pessoa, ira: a) para a i.a pessoa do plural, se entre os sujeitos figurar um da 1.» pessoa: So eu e Florencio ficimos calados, a margem. (Ciro dos Anjos, DR, 39.) b) para a 2> pessoa do plural, se, nao existindo sujeito da i.a pessoa, houver um da 2.a: Tu ou os teuB filhos vereis a revolugilo dos espiritos e costumes. (Camilo Castelo Branco, /, I, 21.) c) para a 3.* pessoa do plural, se os sujeitos forem da .j.a pessoa: e a filha chcgaram äs proxim (Fernando Namora, TJ, 227.) Quando o Loas e a filha chcgaram ás proximidades da courela, logo se anunciaram. Observacao: Na linguagem corrcnte do Brasil cvitam-sc as formas do sujeito composto que levam o verbo á 2.a pessoa do plural, cm virtude do desuso do tratamento BREVE GRAMÁTtCA DO PORTUGUÉS contemp0ráne0 vás e, também, da substituieäo do tratamento tu por vod, na maior parte do pals. Em lugar da 2.a pessoa do plural, encontramos, uma vez por outra, tanto no Brasil como em Portugal, o verbo na j.a pessoa do plural, quando um dos sujeitos é da 2.a pessoa do singulár (tu) e os demais da pessoa: Em que lingua tu e ele falavam? (Rubem Fonseca, C, 35.) — O Pomar e tu os esperam. (Fernando Namora, NM, 242.) CASOS PARTICULARES i. Com um so sujeito O sujeito é uma expressäo partitiva. 1. Quando o sujeito é constituído por uma expressäo partitiva (como: parte de, uma porfäo de, o grosso de, o resto de, metade de e equivalentes) e um substantiv© ou pronome plural, o verbo pode it para o singular ou para o plural: A maior parte deles já näo vai ä fábrical (Bernardo Santareno, TPM, 40.) A maior parte destes quartos näo tinham tecto, nem portas, nem pavimento. (Camilo Castelo Branco, OS, I, 196.) 2. A cada uma destas possibilidades corresponde um novo matiz da expressäo. Deixamos o verbo no singulár quando queremos destacar o conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciar-mos os vários elementos que compěem o todo, O sujeito denota quantidade aproximada. Quando o sujeito, indicador de quantidade aproximada, é formado de um numero plural precedido das expressôes cerca de, mais de, menos de e similares o verbo vai normalmente para o plural: Ainda assim, restavam cerca dc cem viragos... (Joäo Ribeiro, FB, 53.) T / VERBO_;_^____j j 1 ObservacSb: Enquanto o sujeito de que participa a expressab menos de dot's leva o verbo ao plural, o sujeito formado pelas expressoes mats de um ou mais que am, segui-das de substantivo, deixa o verbo de regra no singular: Mais de um sujeito cotreu na salvacao do pescoco-pelado. (Jose Candido de Carvalho, CLH, 137.) Emprega-se, porem, o verbo no plural quando tais expressoes v£m repetidas, ou quando nelas baja ideia de reciprocidade. Assim: Mais de um velho, mais de uma crianca nao puderam fugit a tempo. Mais de um orador se criticaram mutuamente na ocasiao. O sujeito & o pronome relativo que. 1. O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que concorda em numero e pessoa com o antecedente deste pronome: lis tu que vais acompanbd-lo. (Alves Redol, BC, 343.) 2. Se o antecedente do relativo que 6 um demonstrative que serve de predicativo ou aposto de um pronome pessoal sujeito, o verbo do relativo pode: a) concordar com o pronome pessoal sujeito, principalmente quando o antecedente 6 o demonstrative 0 (a, os, as); Nao somos nos os que vamos chamar esses leais companheitos de alem--mundo, ; (Rui Barbosa, EDS, 680.) b) ir para a 3.° pessoa, em concordincia com o demonstrativo, se nao I ha interesse em acentuar a intima relagao entre o predicativo e o sujeito: Fui Essa que nas ruas esmolou E fui a que habitou Pacos Reais... i (Florbela Espanca, S, 103.) I 3. Quando o relativo que vem antecedido das expressoes um dos, uma das (+ substantivo), o verbo de que ele 6 sujeito vai para a 3 .a pessoa. do plural ou, mais raramente, para a 3.a pessoa do singular: fis um dos raros homens que tcm o mundo nas maos. (Augusto Abelaira, NC, izi.) 35* BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÁNEO Foi um dos poucos do seu tempo que reconheceu a originalidade e importäncia da literatura brasileiia. (Joäo Ribeiro, AC, 326.) Obscrvacäo: O verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relacäo ao qual vem men-cionado, ao contrario do que ocorre se construirmos a oragäo com o verbo no plural. 4. Depots de um dos que (— um daqueles que) o verbo vai normalmente para a 3.» pessoa do plural: Ela passou-se para outro mais decidido, um dos que moravam no quar-tinho dos grandes. (Jose Lins do Rego, D, 107.) Säo raros exemplos literarios contemporäneos como estes: O hörnern fora um dos que näo resisrira a tal sortilegio. (Fernando Namora, CS, 168.) O bispo de Silves foi um dos que caiu no erro funesto, (Aquilino Ribeito, PSP, 250.) O sujeito é o pronome relativo quem. 1. O pronome relativo quem constrói-se, de regra, com o verbo na 3.» pessoa do singulár: E näo fui eu quem te salvou? (David Mouräo-Ferreira, I, 91.) 2. Näo faltam, porém, exemplos de bons autores em que o verbo concorda com o pronome pessoal, sujeito da oragäo anterior. Neste caso, pöe-se em relevo, sem rodeios mentais, o sujeito efectivo da accäo expressa pelo verbo: Näo sou eu quem descrevo. Eu sou a tela E oculta mäo colora alguém em mim. (Fernando Pessoa, OP, 55.) Eram os filhos, estudantes nas Faculdades da Bahia, quem os obriga-vam a abandonar os hábitos frugais. (Jorge Amado, GCC, 249.) É csta a construcäo preferida da linguagem populär. verbo 3J3 O sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ou indefinido plural, seguido de de (ou dentré) nás (ou vás). 1. Se o sujeito é formado por algum dos pronomes interrogativos quais? quantos?, dós demonstratives (estes, esses, aqnežes) ou dos indefinidos do plural (alguns, muitos, poueos, quaisqner, vários), seguido de uma das expres-sóes de nás, de vás, dentre nás ou dentre vás, o verbo pode ficar na 3." pessoa do plural ou concordar com o pronome pessoal que designa o todo: Quais de vós sois, como eu, desterrados no meio do género humano? (Alexandre Herculano, E, 170.) Muitos de nós andam por aí, querendo puxar conversa com voces. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 163.) 2. Se o interrogativo ou o mdefinido estiver no singular, também no singular deverá ficar o verbo: Quando as nuvens comecararn a existir, qual de nós estava presente? (Cecilia Meireles, OP, 299.) Nenhum de vós, ao meu enterro, Irá mais dándi, olhail do que euí (Antonio Nobre, S, 83.) O sujeito é um plural aparente. Os nomes de lugar, e também os títulos de obras, que tém forma de plural sao tratados como singular, se nao vierem acompanhados de artigo: Mas Vassouras é que nao o esquecerá tao cedo. (Raimundo Correia, PCP, 492,) Comparado, por exemplo, com Agosto Asyul, Regressos acusa nalguns capitulos uma ligeira variacSo de timbre. (Urbano Tavares Rodrigues, MTG, 50.) Quando precedidos de artigo, o verbo assume normalmente a forma plural: Os Estados Unidos, entao, por sua vez, tentam uma demonstragao espectacular. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 308.) 354 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO säo. As Memoriae Póstumas de Bras Cubas lhe davam uma outra dimen-(Tbiers Martins Moreira, VVT, 38.) O sujeito é indeterminádo. Nas oracöes de sujeito indeterminádo, já o dissemos, o verbo vai para aj» pessoa do plural: •—Pediram-mc que a procurasse, (Fernanda Botelho, X, 203.) Se, no entanto, a mdeterminacäo do sujeito for indicada pelo pronome se, o verbo fica na 3.° pessoa do singular: Veio a hora do chá. Depois cantou-se e tocou-se ainda. (Machado de Assis, OC, LT, 106.) Concordäncia do verbo ser. r. Em alguns casos o verbo ser concorda com o predicativo. Assim: i.°) Nas oracöes comecadas pelos pronomes interrogativos subs-tantivos que? e quem?: — Que säo seis meses? (Machado de Assis, OC, I, 1041.) Quem teriam sido os primeiros deuses? (Antonio Sergio, E, TV, 245.) 2.0) Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes isto, isso, aquilo, tudo ou 0 (= aquilo) e o predicativo vem espresso por um substantivo no plural: — Ibío näo säo conversas para ti, pequcna. (Fernando Namora, TJ, 196.) Tal concordäncia explica-se pela tendencia que tem o nosso espírito de preferir destacar como sujeito o que representamos por palavra nocional, pois esta alude a realidades mais evidentes. Mas, neste caso, também näo é rato aparecer o verbo no singular, em concordäncia com o pronome demonstrative ou com o mdefinido: Tudo era os estudos, brincadeiras. (Luandino Vieira, VE, 49.) VERBO 355 Neste exemplo, o escritor, com o singular (isto é, colocando o verbo em concordance com o pronome mdefinido), proeura realcar um con-junto, e näo os elementos que o compôera, a fim de sugerir-nos as dife-tentes realidades transformadas numa só coisa. Atente-se no efeito estilístico provocado pelo contraste de concordäncia neste passo de Camilo Castelo Branca; Há neles muita lágrima, e o que näo é lágrimas säo algemas. 3.0) Quando o sujeito é uma expressäo de sentido colectivo como o resto, o mais: O mais säo casas esparsas. ■(Carlos Drummond de Andrade, C A, 73.) 4.0) Nas oracôes impessoais: Säo duas horas da noite. (António Botto, AO, 141.) Observacäo: Empregados com referencia as horas do dia, os verbos dar, hater, soar e sinó-nimos concordam com o numero que indica as horas: Soaram doze horas por igrejas daqueles vales. (Camilo Castelo Branco, QA, 163.) Quando há o sujeito relôgio (ou sino, sineta, etc.), o verbo naturalmente concorda com ele: O sino da Matriz bateu seis horas. (Augusto Meyer, P, 159.) 2. Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo nor-malmente concorda com ele, qualquer que seja o numero do predicativo: Ovídio é muitos poetas ao mesmo tempo, e todos excelentes. (António Feliciano de Castilho, AO, 25.) Todo eu era olhos e coracäo. (Machado de Assis, OC, 1, 742.) 3. Quando o sujeito é constituído de urna expressäo numérica que sc BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO VERBO 357 considers em sua totalidade, o verbo ser fica no singular: Oito anos sempre e alguma coisa. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 146.) 4. Nas frases em que ocorre a locucao invariavel / que, o verbo concorda com o substantivo ou pronome que a precede, pois sao eles efectivamente o seu sujeito: Tu e que deves escolher o skio. (Alves Redol, BC, 543.) 2. Com mais de um sujeito Concordancia com o sujeito mais prbximo. Vimos que o adjectivo que modifka varios substantivos pode, em certos casos, concordar com o substantivo mais proximo. Tambem o verbo que tern mais de um sujeito pode concordar com o sujeito mais pr6ximo: a) quando os sujeitos vem depois dele: Que te seja proplcio o astro e a flor, Que a teus pes se incline a Terra e o Mar. (Florbela Espanca, S, 163.) b) quando os sujeitos sao sin6nimos ou quase sinonimos: O amor e a admiracao nas criancas compraz-se dos extremos. (Aquilino Ribeiro, CRG, 86.) c) quando ha uma enumeracao gradativa: A mcsma coisa, o mcsmo acto, a mcsma palavra provocava ora risadas, ora castigos. (Monteiro Lobato, N, 4.) d) quando os sujeitos sao interpretados como se constituissem em con-junto uma qualidade, uma atitude: A grandeza e a signittcacao das coisas resulta do grau de transcen-dencia que enccrram. (Miguel Torga, TU, 63.) Sujeitos resumidos por um pronome indefinido. Quando os sujeitos sao resumidos por um pronome indefinido (como Iiido, nadá, ninguém), o verbo fica no singular, em concordancia com esse pronome: O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho. (Raquel de Queirós, TR, 15.) A mesma concordancia se faz quando o pronome anuncia os sujeitos: Tudo o fazia lembrar-se dela: a manha, os pássaros, o mar, o azul do céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobretudo as fontes, principalmente as fontes. (Almada Negreiros, NG, 112.) Sujeitos representantes da mesma pessoa ou coisa. Quando os sujeitos, por palavras diferentes, representam uma só pessoa ou uma só coisa, o verbo fica naturalmente no singular: A Ideia, o sumo Bern, o Verbo, a Essěncía, Só se revela aos homens e as nacoes No céu incorruptível da Consciéncia I (Antcro de Quental, SC, 62.) Sujeitos ligados por ou e por mm. 1. Quando o sujeito composto é formado de substantivos no singular ligados pelas conjuncoes ou ou mm, o verbo costuma ir: a) para o plural, se o facto expresso pelo verbo pode ser atribuido a todos os sujeitos: Por muito que o tempo ou a paisagem se repetisscm, cssa teimosia apenas a aproximava da harmonia caprichosa da paisagem da sua infáncia. (Fernando Namora, TJ, 301.) Nem a monotonia nem o tédio a fariam capitular agora. (Ciro dos Anjos, M, 235.) b) para o singular, se o facto expresso pelo verbo só pode scr atribuido 3J8 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO VERBO 359 a um dos sujeitos, isto é, se hi ideia de alternativa: Fui devagar, mas o pé ou o espelho traiu-me. (Machado de Assis, OC, I, 763.) Nem tormenta nem tormento nos poderia parat. (Cecilia Meireles, OP, 141.) 2. Nota-se, porém, na linguagem coloquial uma tendéncia de anular tais distincoes, principalmente quando os sujeitos estao ligados pela con-jungao nem. Encontra-se frequentemente o plural onde setia de esperar o singular. Assim: Nem Joao nem Carlos serao eleitos presidente do clube. O cargo de presidente é exercido por um só individuo. Logo, o verbo deveria marcar a alternincia. Outras vezeš, faz-se a concordáncía com o sujeito mais proximo, embora a accao se refira a cada um dos sujeitos. Assim: Nem o sol, nem o vento, nem o ruído das águas, nem mesmo a preocupacáo de que eu pudesse persegui-los, pertutbava o aconchego. (Dinah Silveira de Queirós, EHT, 5}.) 3. Se os sujeitos ligados por ou ou por nem nao sao da mesma pessoa, isto é, se entre eles ha algum expresso por pronome da i.a ou da z.a pessoa, o verbo irá normalmente para o plural e para a pessoa que tiver precedéncia. Ou ela ou eu havemos de abandonar para sempře esta casa; e isto hoje mesmo. (Bernardo Guimaraes, EI, 56.) Nem tu nem eu soubemos ser nós uma única vez. (Augusto Abelaira, B, 122.) 4. As expressoes um ou outro e nem um mm outro, empregadas como pronome substantivo ou como pronome adjectivo, exigem normalmente o verbo no singular: Um ou outro porco era cevado e as salgadeiras de Corrocovo suaviza-ram o inverno. (Carlos de Oliveira, CD, 96.) Nem um nem outro havia idealizado previamcnte este encontro. (Tasso da Silveira, SC, zzo.) Nao é rara, porém, a construcäo com o verbo no plurál quando as expressoes se empregam como pronome substantivo: Nem um nem outro desejavam questionar. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 1x45.) A locugäo um e outro. A locugäo nm e outro pode levar o verbo ao plurál ou, com menos fre-quéncia, ao singulár: Um e outro é sagaz e pressentido. Um e outro aos ladrôes declaram guerra. (Antonio Feliciano de Castilho, F, III, 19.) Sujeitos ligados por com. Quando os sujeitos vém unidos pela partícula com, o verbo pode usar--se no plurál ou em concordáncia com o primeiro sujeito, segundo a valo-rizacäo expressiva que dermos ao elemento regido de com. Assim, o verbo irá normalmente: d) para o plurál, quando os sujeitos estäo em pé de igualdade, e a partícula com os enlaca como se fosse a conjuncäo e: O mestre com o boleeito fizeram a emenda. (Jose Lins do Rego, FM, 94.) b) para o numero do primeiro sujeito, quando pretendemos realcá-lo em detrimento do segundo, reduzido ä condicäo de adjunto adverbial de companbia: A viúva, com o resto da família, mudara-se para Vila Isabel, desde o rompimento. j (Ribeiro Couto, NC, 71.) Sujeitos ligados por conjungäo comparativa. j Quando dois sujeitos estäo unidos pot' urna das conjuncôcs comparati- BREVE G RA MÁTI CA DO' PORTUGUĚS CONTEMPORÄNEO vas como assim como, bem como e equivalentes, a concordäncia depende da intcr-pretagao que dermos ao conjunto: Assim, o verbo concordara: a) Com o primeiro sujelto, se quisermos destacä-lo: O nome, como o coipo, e nos tambem. (Vergiiio Ferreira, A, 20.) Neste caso, a conjuncäo conserva pleno o seu valor comparativo; e o segundo termo vem enunciado entre pausas, que se marcam, na escrita, por virgulas. b) Com os dois sujeitos englobadamente (isto e: o verbo irä para o plural), . se os considerarmos termos que se adicionam, que se reforcam, interpretacäo que normalmente damos, por exemplo, a estruturas correlativas do tipo tanto... como: E inutil acrescentar que tanto ele como eu esperamos que voce nos de sempre notidas. (Ribeiro Couto, C, 202.) Entre os sujeitos näo ha pausa; logo, näo devem ser separados, na.escrita, por virgula. De modo semelhante se comportam os sujeitos ligados por uma serie aditiva enfatica (näo so... mas [senäo ou como]- tambem) : Qualquer se persuadirä de que näo sö a nacäo mas tambem o principe estariam pobres. (Alexandre Herculano, HP, III, 303.) REGENCIA. Em geral, as palavras de uma oracäo säo interdependentes, isto e, rela-cionam-se entre si para formar um todo significativo. Essa relacäo necessaria que se estabelece entre duas palavras, uma- das quais serve de complemento a outra, e o que se chama regen Cia. A pala-vra dependente denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente. As relacöes de regencia podem ser indicadas: ; d) pela ordern por que se dispöem os termos na oracäo; verbo___jol b) pelas preposicöes, cuja funcäo é justamente a de ligar palavras esta-belecendo entre eias um nexo de dependéncia; c) pelas conjuncöes subordinativas, quando se trata de um periodo composto. Em outros capitulos deste livro, estudamos parceladamente tais relacöes: complementos pedidos por substantivos, por adjectivos, por verbos, por advérbios e, mesmo, por oracöes. Procuraremos, agora, precisar melhor as formas que assume a regéncia verbal. Regéncia verbal, 1. Vimos que, quanto ä predicacäo, os verbos significativos se divi-dem em intransitivos e transitivos. Os intransitivos expressam uma ideia completa: A crianca dormiu. Pedro viajou. Os transitivos, mais numerosos, exigem sempre o acompanhamento de uma palavra de valor substantivo (objecto directo ou indirecto) para integrar-lhes o sentido: O menino comprou urn livro, O velho carecia de roupa. Pedro deu urn presente ao amigo. 2. A ligacäo do verbo com o seu complemento, isto é, a regéncia verbal, pode, como nos mostram os exemplos acima, fazer-se: a) directamente, sem uma preposicäo intermedia, quando o complemento é objecto directo. b) indirectamente, mediante o emprego de uma preposicäo, quando o complemento é objecto indirecto. Diversidade e igualdade de regéncia. Verbos há que admitem mais de uma regéncia. Em geral, a diversidade de regéncia corresponde a uma variaeäo significativa do verbo. Assim: Aspirar [= sorver, respirar] o ar de montanha. Aspirar [= desejar, pretender] a um alto cargo. 36z BREVE GRAMATrCA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO Alguns verbos, no entanto, usam-se na mesma acepcäo com mais de uma regencia. Assim: Meditar num assunto. Meditar sobre um assunto. Outtos, nnalmente, mudam de significacäo, sem variar de regencia. Assim: Carecer [— näo ter] de dinheiro. Carecer [= precisar] de dinheiro. Observacäo: No estudo da regencia verbal cumpre näo esquecer os seguintes factos: i.° O objecto indirecto so näo vem preposicionado quando 6 expresso pelos pronomes pessoais obliquos me, te se, Ibe, nos, vos e Ibes. z.° Somente as preposicöes que ligam complementos a um verbo (objecto indirecto) ou a um nome (complemento nominal) estabelecem relagöes de reg&acia. For isso, convem distingui-las, com clareza, das que encabegam adjuntos adverbiais ou adjuntos adnominais. 3.0 Os verbos intransitivos podem, em certos casos, ser seguidos de objecto directo. De regra, isso se da quando i o substantivo, nticleo do objecto, e formado da mesma raiz ou contem o sentido fundamental do verbo. Exemplos: Viver uma vida alegre, Chorar lägrimas de amargura. 4.0 Tambem verbos Transitivos costumam scr usados intransitivamentc: O pior cego e o que näo quer ver. Ele e manhoso: näo afirma nem nega. 5 .o Muitas vezes, a regencia de um verbo estende-se aos substantives e aos adjectivos cognatos: Obedecer ao chefe, Contentar-se com a sorte. Obediencia ao chefe. Contentamento com a sorte. Obediente ao chefe Contente com a sorte. SINTAXE DO VERBO HAVER >. / O verbo haver, conforme o seu significado, pode empregar-se em todas as pessoas ou apenas na 3 .a pessoa do singular. i. Emprega-se em todas as pessoas: vebbo 363 a) quando e auxiliar (com sentido equivalente a (er) de verbo pes-soal, quer junto a participio, quer junto a infirütivo antecedido da pre-posicäo de: Tambem a mim me häo ferido. (Jose Regio, F, 56.) Outros haveräo de ter O que houvermos de perder. (Fernando Pessoa, OP, 17.) b) quando e verbo principal, com as significacöes de «conseguir», «obter», «alcangar», «adquirir»: Donde houveste, 6 pelago revolto, Esse rugido teu? (Gongalves Dias, PCPE, 191.) e) quando e verbo principal, com a forma reflexa, nas acepcöes de «portar-se», «proceder», «comportar-se», «condu2ir-se»: Talvez passasse por eima de tudo, da maneira como ele a tratara, da dureza com que se houvera e se lembrasse de que ele era o seu pai. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 702.) d) quando e verbo principal, tambem com a forma reflexa, no sentido de «entender-se», «avir-se», «ajustar contas»: O mestre padeiro, que era do mesmo sangue do paträo, que se hou-vesse com ele. Qose Lins do Rego, MR, 34.) e) quando e verbo principal, acompanhado de infinitivo sem pre-posigäo, com o sentido equivalente a «ser possivel»: Näo ha negä-Io, o apito e de uso geral e comum. (Machado de Assis, OC, III, 536.) 2. Emprega-se como impessoal, isto e, sem sujeito, quando significa «existir», ou quando indica tempo decorrido. Nestes casos, em qualquer tempo, conjuga-se täo-somente na 3-a pessoa do singular: Ha trovoadas em toda a parte... (Miguel Torga, V, 158.) 364 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUES CONTEMPORÁNEO / ._Há dois dias que näo vem trabalharl (Luandino Vieira, NM, 129.) 3. Quando o verbo haver exprime existencia e vem acompanhado dos auxiliares ťr, dever, poder, etc., a locucäo assim formada é, naturalmente, impes-' soal. — Eu näo sei, senhor doutor, mas deve haver leis. (Eca de Queirós, O, I, 164.) Podia haver complicacöes, quem sabe? (Ciro dos Anjos, M, 193.) Observacäo: O verbo haver, quando sinönimo de existir, constroi-se de modo diverso deste. Nesta acepgäo, haver näo tern sujeito e € transitivo dirccto, sendo o seu objecto o nome da coisa existente ou, a substitul-lo, o pronome pessoal 0 (a, lo, la). Existir, ao contrario, e intransitivo e possui sujeito, expresso pelo nome da coisa existente. Dir-se-ä, pois: Ha tantas folhas pelas caicadasl Existem tantas folhas pelas caicadasl 14. Advérbio i. O advérbio é, fundamentalmente, tun modificador do verbo: O almoco decorria agora lentamente. (Arnaldo Santos, K, 103.) a. A essa funcäo básica, gerat, certos advérbios acrescentam outras que lhes säo privativas. Assim, os chamados advžrbios de intensidade e formas semantica-mente correlatas podem reforcar o senüdo: a) de um adjectivo: Antes de partir, teve com o padre uma derradeira conversa, muito edi-ficante e vaeta. (Guimaräes Rosa, S, 346.) h) de um advérbio: O hörnern caminhava muito devagar. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 156.) 3. Saliente-se ainda que alguns advérbios aparecem, näo raro, modifi-cando toda a ora$äo:1 Possivelmente, näo haverá ceia este ano. (Vergllio Ferreira, A, 137.) Neste ultimo emprego, vem geralmente destacados no inírio ou no fim da oraeäo, de cujos termos se separam por uma pausa nitida, marcada na escrita por virgula. É o que a Nomenclntura Grsmatical Portiiguesa chama advérbios de oracJĺo. BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPORAneO Claesiflcacao doa advérbios. Os ADVÉRBios recebem a denominacab da ckcunstáncia ou de outra ideía acessória que expressam. A Nomenclature Gramatical Brasileira distingue as seguintes espécies: a) ADVÉRBios de Aftrmacao : sim, certamnte, efectivamente, realmente, etc.; b) adverbios de dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quifá, talve%, etc-> e) advérBios de intenstdade: assa%, bastante, betu, demais, mats, metios, muito, pouco, quanto, quao, quase, tanto, too, etc.; d) advérbios de lugar: abaixo, acima, adiante, aí, aíém, alt, aqtiém, aqui, atrás, através, cá, defronte, dentro, detrás,fora, junto, lá, longe, onde, perto, etc.; e) advérbios de modo: assim, bem, debalde, depressa, devagar, mal, melhor, pior e quase todos os terminados em -mentě: fielmente, levemente, etc.; f) advérbio de negacáo'. nSo; g) advérbios de tempo: agora, ainda, amanba, anteontem, antes, breve, cedo, depots, entao, boje, já, jamais, logo, ntmca, ontem, outrora, sempře, tarde, etc. A Nomenclature. Gramatical Portuguesa acrescenta a essa lišta trés outras espécies: a) advérbios de ordem: primeiramente, ultimamtnte, depot's, etc.; • b) advérbios de exclusao e c) advérbios de design acáo. Os dois últimos foram incluídos pela Nomenclatura Gramatical Brasileira num grupo á parte, inominado, em razao de nao apresentarem as caracteristicas normais dos advérbios, quais sejam as de modificar o verbo, o adjectivo ou outro advérbio. Deles trataremos adiante sob a denominacjfo de palavras denotativas. Advérbios interrogativos. Por se empregarem nas interrogacoes directas e indirectas, os seguiňtes advérbios de causa, de lugar, de modo e de tempo sao chamados interro-gattvos: a) de causa: por que? Por que nao vieste á festa? Nao sci por que nao vieste á festa. ADVÉRBIO b) de lugar: onde? Onde esta o livro? Ignoro onde estä o livro. c) de modo: como? Como vais de saiide? Dize-me como vais de saüde. d) de tempo: quando? Qiiando voltas aqui? Quero saber quando voltas aqui. Adverbio relative Como dissemos na pagina 351, o relarivo'por desempenhar nor-malmente a funcäo de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), e considerado por alguns gramäticos adverbio relattvo, designaeäb que näo consta d" Nomenclatura Gramatical Brasileira, mas que foi acolhida pela Portuguesa. Locucäo adverbial. i. Denomina-se locucäo adverbial o conjunto de duas ou mais palavras que funciona como adverbio. De regra, as locucöes adverbiais formam-se da associaeäo de uma preposicäo com um substantivo, com um adjectivo ou com um adverbio. Assim: Fernanda sortiu em silencio. (Erico Verissimo, LS, 133.) Sorrindo mais, obedeceu de novo. (Ferreira de Castro, OC, I, 4.) — Vou comecar por aqui!... (Manuel da Fonseca, SV, 133.) Mas bä formacöes mais complexas, como: O cachimbo de ägua passou de mäo em m3o. (Castro Soromenho, V, 205.) Respondi-lhc que aquilo devia ser alguma ideia de minha mulher, que de vcz em quando tem uma. (Rubem Braga, CCE, 97.) 3Ó8 BREVE GRAMATICA DO PORTÜGDES CONTEMPORÁNEO ADVÉRBIO 369 Só de longe em longe se ouvia, vindo das muralhas, o grito de ronda dos soldados. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 184-5.) 2. A semelhanca dos advérbios, as locucöes adverbiais podem ser: a) de afirmacäo (ou dúvida): com certe^a, por certo, sem dúvida: Atente-se na distincäo: Com certeza [= provavelmente] ele virá. Ele virá com certeza [<= com seguranca]. b) de intensidade: de mmto, depouco, de todo, etc.; c) de logar: ä direita, ä esquerda, ä dištancia, ao /ado, de dentro, de dma, de longe, de perto, em dma, para dentro, para onde, por alt, por aqni, por dentro, porfora, por onde, por perto, etc.; d) de modo: ä loa, a vontade, ao contrario, ao Uu, äs avessas, äs ciaras, äs direitas, äs pressas, com gosto, com amor, de bom grado, de cor, de má vontade, de regra, em geral, em siléndo, em v3o, gota a gota, passo apasso, por acaso, etc.; e) de negacäo: de forma alguma, de modo nenhum, etc.; f) de tempo: ä noite, ä tarde, ä tardinba, de dia, de manbä, de noite, de qiiando em quando, de ve% em qtiando, de temps em (a) tempos, em breve,pela manbä, etc. Observacäo: Quando mna preposigäo vem antes do advérbio, nio muda a natureza deste; forma com ele uma locucäo adverbial: de dentro, por detrás, etc. Se, ao contrario, a preposicäo vem dtpois de um advérbio ou de uma locucäo adverbial, o grupo inteiro transforma-se numa locucäo preposittva: dentro de, por detrás de, etc. Colocacäo dos advérbios. x. Os advérbios que modificam um adjectivo, um particípio isolado, ou um outro advérbio colocam-se de regra antes destes: Invejei o noivo, täo alegre, täo amável, a grossa gargalhada a irromper a cada instante. (Graciliano Ramos, C, 156.) Muito apressado, num visível nervosismo, veio de casa até ali. (Manuel da Fonseca, SV, 193.) — O teu pai es ti muito mal. (Castro Sorornenho, TM, 206.) 2. Dos advérbios que modificam o ve reo: a) os de modo colocam-se normalmente depois dele: Ela ouvia-o atentamente. (Almada Negreiros, NG, 61.) b) os de tempo e de lug ar podem colocar-se antes ou depois do verbo: De manhä, acordei cedo. (Machado de Assis, OC, IL 537.) Hei-de atirar com esse tipo de cá para fora. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 683.) Cá fora era noite. (Luandino Vieira, VVDX, 73.) c) o de negacäo antecede sempře o verbo: — Entäo näo se cava a terra?... näo se lavra?... näo se aduba?... näo se semeia?... (Aquilino Ribeiro, CRG, 66.) 3. O realce do adjunto adverbial é expresso de regra por sua anteci-pacäo ao verbo: Rapidamente Gertrudes riscou um fósforo e acendcu duas velas. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 54.) Lá fora, na rua, um bonde passou com estrépito. (Fernando Sabino, EM, 83.) Repeticäd de advérbios em -mente. 1. Quando numa fräse dois ou mais advérbios em -mente modificam a mesma palavra, pode-se, para tornar mais Ieve o enunciado, juntar o sufixo apenas ao ultimo deles: É longa a .estráda... Aos rispidos estalos BREVE GRAMÁTTCA DO PORTUGUĚS CONTEMPORANEO Do impaciente lätego, os cavalos Conem veloss, larga e fogosamente... (Raimondo Correia, PCP, 123.) 2. Se, no entanto, a intengäo e realgar as circunstäncias expressas pelos adv6rbios, costuma-se ornitk a conjuncäo e e acrescentar o sufixo a cada um dos adverbios: De repente, pus-me de pe e aproximei-me lcntamente, ritmadamente, voluptuosamente, da janela. (Fernando Namora, RT, 169.) GRADACÄO DOS ADVERBIOS Certos adverbios, principalmente os de modo, säo susceptfveis de gra-dacäo. Podem apresentar um comparativo e um superlattvo, formados por processos analogos aos que observamos na flexäo correspondente dos adjectivos. Grau comparativo. Forma-se o comparativo: a) de superioridade — antepondo mais e pospondo que ou do que ao advdrbio: O filho andava mais depressa que (ou do que) o pai. b) de igualdade — antepondo täo e pospondo como ou quanto ao advdrbio: O filho andava täo depressa como (ou quanto) o pai. (?) de inferioridade — antepondo menos e pospondo que ou do que ao adverbio: O pai andava menos depressa do que (ou que) o filho. Grau superlativo. Forma-se o superlattvo absoluto: a) sintecttco — com 0 acrescimo de sufixo: muitlssimo pouquissimo ADVERBIO sendo de notar que nos advérbios em -mentě esta terminacäo se pospöe ä forma superlativa feminina do adjectivo de que se deriva o advérbio: Superlativo Adjectivo lento lentlssimo Advérbio lentamente lentissimamente b) ANALÍTTCO — com a ajuda de um advérbio indicador de excesso: — Fizeste bera mal, muito mal mesmo — repreendeu Elrnira. -(Antonio de Assis Junior, SM, 205.) Outras formas de comparativo e superlativo. 1. Melhor e pior podem ser comparattvos dos adjectivos bom e mau e, tambem, dos adverbios bem e mal. Neste caso säo, naturalmente, invariaveis: Quem escreveu melhor? Quem escreveu bem no Brasil? (Graca Aranha, OC, 708.) ■—E o professor näo estaria aqui pior? (Fernanda Botelho, X, 150.) 2. A par dessas formas anömalas, existem os comparativos reguläres mais bem e mais mal, usados, de preferencia, antes de adjectivos-participios: As paredcs da sala es täo mais bem pintadas que as dos quartos. Näo pode haver um projecto mais mal executado do que este. Advirta-se, porem, que na posposicäo so se empregam as formas sin-teticas: As paredes das salas estäo pintadas melhor que as dos quartos. Näo pode haver um projecto executado pior do que este. 3. No superlattvo absoluto sintectico, bem apresenta a forma optimamente; e mal, a forma pessimamente: Maria estä passando optimamente. O cavalo correu pessimamente. 4. Muito e poueo, quando adverbios, tem como comparativos mais c menos, c como superlativos 0 mais ou muitlssimo e 0 menos ou pouquissimo, BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO / respectivamente: _Dom Juan, quando menos pensava, lá se foi para as profundas do Inferno. (Artur Azevedo, CFM, 9.) — Imagiha tu que a Clara tern um tipo encantador, que a trata muitis-simo bem e que... que... a ajuda... (Sttau Monteirb, APJ, 138.) Esse tipo de publicacäo, pouquíssimo difundido entre nós, é todavia da maior importäncia e largamente praticado em outros paises. (Emanuel Pereira Filho, in TPB, de Gindavo, 13.) O certo é que tinha em mente gastar o menos posBÍvel com o enterro. (Aquilino Ribeiro, V, 368.) 5. O superlattvo iNTENSivo, denotador dos limites da possibilidade, forma-se antepondo 0 mais ou 0 menos aó advérbio e pospondo-Ihe a pala-vra possivel ou urna expressäo (ou oracäo) de sentido equivalente: O administrador ia o mais depressa possivel. (Castro Soromenho, TM, 181.) —Näo quero saber dos santos óleos da teológia; desejo sair daqui o mais cedo que púder, ou já... (Machado de Assis, OC, I, 794.) Diminutivo com valor superlative Na linguagem coloquial 6 comum o advérbio assurnir urna forma dimi-nutiva (com os sufixos -inbo e -vgnhô), que tern valor de superlattvo: Vem cedinho, vem logo que amahhecal (Eugénio de Castro, UV, 59.) Advérbios que näo se flexionam em grau. Como sucede com alguns adjectivos, há advérbios que näo se flexionam em grau porque o proprio signiôcado näo admite variagäo de intensidade. Entre outros, apontem-se: aqiä, ai, ali, lá, boje, amanhä, diariamente, anmlmente e formacöes semelhantes. PALAVRAS DENOTATTVAS2 i. Certas palavras, por vezes enquadradas imptopriamente entre os 2 A denominacäo palavras dbnotattvas foi ptoposta pelo professor Jose Oiticica APVJKBIO___^_373 advérbios, passaram a ter, com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, classiŕi-cacäo ä parte, mas sem nome especial. Säo palavras que denotam, por exemplo: a) tnclusao: até, inclusive, mesmo, também,(eto: Tudo na Vida engana, até a Glória. (António Nobre, D, 114.) b) exclusäo: apenas, salvo, senäo, só, somen f e, etc.: Da família só elas duas subsistiam. (Josué Montelio, DP, 382.) c) design acäo: eis: Eis o dia, eis o Sol, o esposo amado! (Antero de Quental, SC, 4.) d) realce: cá, lá, é que, só, etc.: Eu cá tenho mais medo do sol que dos leôes. (Gastro Soromenho, C, 204.) e) recttficacäo: alias, ou antes, isto é, ou melbor, etc.: — Sinto que ele me escapa, ou mclhor: que nunca me pertenceu. (Augusto Abelaira, CF, 226.) f) srruAcÄo: afinal, agora, entäo, mas, etc.: — Afinal, ela näo tem culpa de ser filha de ministro. (Fernando Sabino, EM, 85.) 2. Como vemos, tais palavras näo devem ser incluidas entre os advérbios. Näo modificam o verbo, nem o adjectivo, nem outro advérbio. Säo por vezes de classificacäo extremamente difícil. Por isso, na análise, convém dizer apenas: «palavra ou locucäo denotadora de exclusäo, de realce, de rcctíficacäo», etc. 3. A Nomenclatura Gramatical Portuguesa admite a existencia dos advérbios de exclusäo e de inclusäo e considera advérbios de oracao o que, neste Capítulo, denominamos palavras denotaitvas de situacäo. em seu Manual dt enälht (lixica 1 sintdtiia), 6.» cd. refundida. Rio de Janeiro, Francisco Alvcs, 1942, p. 50-55. Ä falta de uma designaclo mais,precisa e mala genernlizada, adoptamos proviso-riamente esta, embora rcconheccndo que «denotar» c proprio das unidades lciicais cm geral. 15. Preposicao frbposicäo 37J Funcao das preposicSes. Chamam-se preposicoes as palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oracáo, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedents) é explicado ou completado pelo segundo (consequente). Assim: Antecedente Vou Chegaram Todos saíram Chorava Estive Concordo Preposicao a a de de com com Consequente Roma tempo casa dor Pedro vocě Forma das preposicoes. Quanto á forma, as preposicoes podem ser: a) simples, quando expressas por um só vocábulo; b) compostas (ou lococoes PREPOsmvAs), quando constituídas de dois ou mais vocábulos, sendo o ultimo deles uma preposicao simples (geralmente de). Preposicoes simples. As preposicoes simples säo: a ante após ate com contra de dcsdc em entrfe para perantc por (per) sem sob sobre trás Tais preposicoes denornínam-se também essenciais, para sc distin-guirem de certas palavras que, pertencendo normalmente a outras classes, funcionam as vezes como preposicoes e, por isso, se dizem preposicoes acidentais. Assim: afora, conforme, consoante, durante, excepto, fora, mediante, /nenos, nSo obstante, salvo, segundo, senSo, tirante, visto, etc. LocucSes prepositivas. Eis algumas locucöes prepositivas: abaixo de acerca de acima de a despeito de adiante de a firn de alérn de antes de ao lado de ao redor de a par de apesar de a respeito de atrás de através de de acordo com debaixo de de dma de defronte de dentro de depois de diant" de era baixo de em cima de em freute a em freute de em lugar de em redor de em torno de em vcz de gracas a junto a junto de para baixo de para cima de para com perto de por baixo de por causa de por cima de por detrás de por diante de por entre por trás de Signiflcacao das preposicoes. 1. A relacäo que se estabelece entre palavras ligadas por intermédio de preposicao pode implicar movimento ou nao movimento; melhor dizendo: pode exprimir urn movimento ou uma situaeäo daí resultante. Nos exemplos atrás mencionados, a ideia de movimento está presente em: Vou a Roma. Todos saíram de casa. Säo matcadas pela auséncia de movimento as relacoes que as preposicoes a, de e com estabelecem nas seguintes frases: Chegaram a tempo, Chorava de dor. Estive com Pedro. Concordo com voce. 2. Tanto o movimento como a situacäo (tcrmo que adoptaremos daqui por diante, para indicar a falta de movimento na rclacäo cstabelccida) 376 b reve gramáttca do portugués contemporaneo podem ser considerados em referencia ao espaco, ao tempo e ä nocäo. A preposicäo de, por exemplo, estabelece urna relacäo: d) espacial em: Todos salram de casa. b) temporal em: Trabalha de 8 ás 8 todos os dias. c) nocional em: Chorava de dor. Livro de Pedro. Nos trés casos a preposicäo de relaciona palavras ä base de urna ideia centrál: «movimento de afastamento de um limite», «proceděncia». Em outros casos, mais raros, predomina a nocäo, dal derivada, de «situacäo longe de». Os matizes significativos que esta preposicäo pode adquirk em contextos diversos derivaräo sempře desse conteúdo significativo fundamen-tal e das suas possibilidades de apHcacäo aos campos espacial, temporal ou nocional, com a presenca ou a auséncia de movimento. 3. Na expressäo de relacôes preposicionais com ideia de movimento considerado globalmente, importa levar em conta um ponto limite (A), em referencia ao qual o movimento será de aproximajäo (B -> A) ou de afastamento (A->C): B -> C Vou a Roma. Trabalharei até amanbä. Foi para o Norte. Venho de Roma. Estou aqui desde ontem. Salram pela porta. 4. Recapitulando e sintetizando, podemos concluir que, embora as preposicöes apresentem grande variedade de usos, bastante diferenciados no discurso, é possivel estabelecer para cada urna delas urna significacäo fundamental, marcada pela expressäo de movimento ou de situacäo resultante íauséncia de movimento) e aplicável aos campos espacial, temporal e nocional. / / PREPOSICÄO 377 Esquematizando: ] contbúpq signtpicattvo fundamental | movimento espaco] tempo 1 NOCÄoJ situacäo Esta subdivisäo possibiüta a anilise do sistema fundonal das preposicöes em portugufis, sem que precisemos levar em conta os variados matizes signi-ficativos que podem adquirk em decorrencia do contexto em que vem inseridas. Conteüdo significativo e funcäo relational. r. Q>mparando as frases: Viajei com Pedro. Concordo com voce. observamos que, em ambas, a preposicäo com tem como antecedcnte uma forma verbal (viajei e concordo), ligada por ela a um consequente, que, no primeiro caso, 6 um termo acessörio. (com Pedro = adjunto adverbial) e, no segundo, um termo integrante (com voce" = objecto indirecto) da oracäo. 2. A preposicäo com exprime, fundamentalmente, a ideia de «associa-cäo», «companhia». E esta ideia bäsica, sentirao-Ia muito mais intensa no primeko exemplo: Viajei com Pedro, do que no segundo: Concordo com vocfe. Aqui o uso da partlcula com apös o verbo concordar, por ser construcäo ja 378 BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUES CONTEMPOrAnBO fixada no idioma, provoca um esvaecimento do conteüdo significativo de «associacäo», «companhia», em favor da funcäo relational pura. 3. Costuma-se nesses casos desprezar o sentido da preposicäo, e con-siderä-la um simples elo sintäctico, vazio de conteüdo nocional. Cumpre, no entanto, salientar que as relacöes sintacticas que se fazem por intermedio de preposicäo obrigatöria seleccionam determinadas pREPOSicöES exactamente por causa do seu significado bdsico. Exemplificando: t O verbo concordar elege a preposicäo com em virtude das afinidades que existem entre o sentido do proprio verbo e a ideia de «associacäo» inerente a com. O objecto lndirecto, que em geral e introduzido pelas preposicöcs a ou para, corresponde a um «movimento em direcgäo a», coincidente com a base significativa daquelas preposicöes. 4. Completamente distinto 6 o caso do objecto directo preposicio-nado, em que o emprego de preposicäo näo obrigatöria transmite ä relacäo um vigor novo, pois o reforco que advern do conteüdo significativo da preposicäo e sempre um elemento intensificador e clarificador da relacäo verbo-objecto: — Duas blasfemias, menina; a primeira 6 que näo se deve amar a nin-gu£m como a Deus. (Machado de Assis, OC, I, 662.) 5. Em resumo: a maior ou menor intensidade significativa da preposicäo depende do tipo de relacäo stntäctica por ela estabelecida. Essa relacäo, como esclareceremos a seguir, pode ser fixa, necessäria ou livre. Relacöes fäxae. Examinando as relacöes sintacticas estabelecidas, nas frases abaixo, pelas PREPOSicöES marcadas em negrita: O rapaz entrou no ca£6 da Rua Luis de Camöes. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 30.) Necessariamente häo-de vencer eles. (Camilo Castelo Branco, OS, I, 653.) paEPOSicÄo 379 Porem poesia näo sai mais de mim senäo de longe em longe. (Mario de Andrade, CMB, 214.) — Entäo, sigo em frente atfi dar com eles. (Aquilino Ribeiro, V, 438.) verificamos que o uso associou de tal forma as preposicöes a determinadas palavras (ou grupo de palavras), que esses elementos näo mais se desvincu-]am: passam a constituir um todo significativo, uma verdadeira palavra composta, Nesses casos, a primitiva funcäo relacional e o sentido mesmo da pre-jiosicÄo se esvaziam profundamente, vindo a preponderar tanto na orga-nizacäo da fräse como no valor significativo o conjunto Iexico resultante da fixagäo da relacäo sintactica preposicional. Em dar com (= «topar»), por exemplo, a preposicäo, fixada ä forma verbal, näo lhe acrescenta apenas novos matizes conotativos, mas altera-lhe a propria denotacäo. Relacöes necessärias. Nas oracöes: ■— Eu ja nem me lembro de nada... (Miguel Torga, NCM, 49.) — Foi vontade de Deus, (Graciliano Ramos, SB, 129.) Ontem fui a Cambridge. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 135.) Um magro procurava saber se a rninha roupa preta tinha sido feita por alfaiate. (Jost Lins do Rego, D, 23,) as preposicöes relacionam ao termo principal um consequente sintacticamente necessario: lembro-me de nada (verbo + objecto indirecto) vontade de Deus (substantivo + complemento nominal) fui a Cambridge (verbo + ad junto adverbial necessario) l feita por alfaiate (particfpio + agente da passiva) 1 «Tratando-se de verbos intransitivos de movimento, o complemento de dircecSo näo pode set considecado elemento meramentc aecssörio» (Antcnor Nascentes. O probhma da rtgin-cia. i.» ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, i960, p. 17-18). i j8o BREVE gramätica DO PORTÜGUES CONTEMPOrAneo Em tais casos, intensifka-se a funcäo relacional das preposicöes com prejulzo do seu conteüdo signincativo, reduzido, entäo, aos tracos caracte-rfsticos rnlnimos. Daf o relevo, no piano expressivo, da relacäo sintactica em si. Relacöes livres. A comparacäo dos enunciados: Encontrar com um amigo. Procurat por alguem. Encontrar um amigo.. Procurar alguem. mostra-nos que a presenca da preposicäo (possivel, mas näo necessaria sintacücamente) actescenta, äs relacöes que estabelece, as ideias de «asso-ciacäo» (com) e de «movimento que tende a completar-se numa direccao' determinada» (por). O emprego da preposicäo em relacöes livres e, normalmente, recurso de alto valor estilistico, por assumir ela na construcäo sintactica a plenitude do seu conteiido significativo. Valotes das preposicöes. A I. Movimento = direccao a um limite: a) no espaco: Rompo ä frente, tomo ä mäo esquerda. (Aquilino Ribeiro, M, 59.) b) no tempo: — Daqui a uma semana o senhor vai la em casa. (Carlos Drummond de Andrade, BV, 18.) c) na nocäo: A sua vida com o marido vai de mal a pior. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 937.) Aquele trabalho em dia destinado a descanso causava mi impressäo e ccnsuravam-no por ali com ccrto azedume. (Rodrigo M. F. de Andrade, V, 133.) nBBP0SICŽO _ 381 2, Situacäo = coincidéncia, concomitáncia: a) no espaco: O que está ao pé é igual ao que cstá ao longe. (VergÜio Ferreira, NN, 43.) b) no tempo: A tantos de novembro houve breves periodos de calmaria intermitente. (Manuel Lopes, FVL, 118.) c) na nocäo: Amanhä, a frio, poderei dizer-te o contrario. (Pepetela, M, 182.) — Näo podemos gastar dinheiro ä toa. (Osman Lins, EP, 157.) Ante Situacäo = anterioridade relativa a um limite: a) no espaco: Parou ante o corpo de sua mäe que esfriava lentamente nas extremi-dades. (Aníbal M. Machado, HR, 194.) b) no tempo (substituida por antes de): Tenho de estar de volta antes das sete horas. (Maria Judite de Carvalho, AV, 84.) c) na nocäo: Ante a subita ideia, Alberto hesitou. (Ferreira de Castro, OC, I, 265.) Ante a nova alianca daqueles territórios soberanos, o povo mardfestou-sc aos gritos. (Nélida Piňon, SA, 25.) Após Situacäo = posterioridade relativamente a um limite proximo. No dis-curso, pode adquirir o efeito secundário de «consequencia»: BREVE GRAMATTCA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO a) no espaco (usa-se também após de)-. Após eles, iam ficando medas de cereal, restolhos <— uma terra saqueada. (Fernando Namora, T J, 152.) b) no tempo: Após meia hora de caminho, vislumbrou a luz amortecida no cimo do cerro do Valmurado. (Manuel da Fonseca, SV, 164.) Ate Movimento = aproximacäo de um limite com insisténcia nele: a) no espaco: Macambira adiantou-se até a acácia, sentou-se no banco. (Coelho Netto, OS, I, 1.237.) b) no tempo: Até meados do més ventou. (Manuel Lopes, FVL, 63.) Observacôes: 1. a No portugués moderno, esta preposicäo, quando rege substantivo acompanhado de artigo, pode vie, ou näo, seguida da preposigäo a. Pode-se dizer que, de um modo geral, o portugués europeu usa, actual-mente, até com a preposicäo a, ao passo que no portugués do Brasil há urna sensível preferencia para a outra construcäo, a de até directamente ligada ao termo regido. 2. ft Cumpre distinguir a preposigäo até, que indica movimento, da pala-vra de forma idéntica, denotadora de inclusäo, que estudamos ä página 373. Quanto ä difereaga de construcäo de urna e outra com o pronome pessoal, leia-sc o que éserevemos no capítuio 11. Com Situacäo = adigäo, associacäo, companhia, comunidade, simultaneidade. Em certos contextos, pode exprimir as nocöes de modo, meio, causa, con-cessäo: PREPOSICÄO 383 na noeäo: — Vou amanhä de manhä com o Rocha. (Castro Soromenho, TM, 242.) A proposta foi recebida com reserva. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 125.) Contra Movimento = direegäo a um limite proximo, direegäo contraria. A nogäo de oposicäo, hostilidade, é um efeito secundário de sentido decor-rente do contexto: a) no espago: Aturdida, a rapariga aperta-se contra ele. (Alves Redol, MB, 329.) b) na nogao: Revoltei-me contra o seu despotismo e näo esperei por ele. (Branquinho da Fonseca, B, 66.) Comecaram a surgir argumentos contra eles. (Afränio Peixoto, RC, 259.) De Movimento = afastamento de um ponto, de um limite, procedéncia, origem. As nocöes de causa, posse, etc., daí derivadas, podem prevalecer cm razäo do contexto: a) no espaco: Vinha de longe o mar... Vinha de longe, dos confins do medo... (Miguel Torga, API, 65.) b) no tempo: Roma fala do passado ao presence. (Afonso Arinos de Melo Franco, AR, 27.) e) na noeäo: Ela vem falar da agricultura, is to 6, da actividadc fundamental do seu 3 84 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUBS CONTEMPORANEO gtupo, que nela assenta a defesa dc todos os seus valores, materials e moral's. (Alfredo Margarido, EL.NA, 317.) Lá dentro, as disdpulas recomecam o barulho do trabalho, dos risos e cantigas. (Luandino Vieira, L, 15.) Deade Movimento = afastamento de um limite com insisténcia no ponto de partida (intensivo de de): a) no espago: Dessa calamidade pattilharam todas as regioes banhadas pelo Atlántico desde as FJandres até o estreito de Gibraltar. (Jaime Cortesao, FDFP, 28.) b) no tempo: Desde o ano passado guardara essa mágoa. (Anlbal M. Machado, HR, 272.) Em 1. Movimento = superagáo de um limite de interíoridade; alcance de uma situagáo dentro de: a) no espago: Os Garcias entratam em casa calados. (Vitorino Ncmésio, MTC, 194.) b) no tempo: Nazário visitava-as de quando em quando. (Coelho Nctto, OS, I, 81.) f) na nogao: Mcu ser dcsfolha-se em Intimas lembrangas, que revivem... (Teixeira de Pascoaes, OC, VH, 140.) E a lagoa entrou cm festa. (Anibal M. Machado, JT, 21.) / pREPOsrcAo 385 2. Situacao = posigao no interior de, dentro dos limites de, em con-tacto com, em cima de: a) no espago: Ttazia no sangue o calor humano da amizade. (Agostinho Neto, SE, 106.) b) no tempo: Tudo aconteceu em 24 horas. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 125.) c) na nogao: Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina. (Joao Cabral de Melo Neto, DA, 172.) Pareceu-lhe que toda a povoagao estava em chamas. (Castro Soromenho, TM, 255.) Entre Situacao = posigao no interior de dois lirnites indicados, interíoridade: a) no espago: Entrou a criada com uma travessa onde fumegava um galo assado, entre batatas loiras. (Branquinho da Fonseca, B, 37.) b) no tempo: Todos os barcos se perdem entre o passado e o futuro. (Cedlia Mcirelcs, OP, 37.) c) na nogao: O cunhado, o Daniel, que tratava da mortalha, movia-sc entre o dever e o desespero. (Miguel Torga, CM, 179,) Prossiga cla sempře dividida Entre compensagoes c desenganos, (VJnlcius de Morais, LS, 74.) }8ltou-se e desfaleceu. (Gracilíano Ramos, I, 81.) 2. Adversativas, que ligam dois termos ou duas oragoes de igual fungáo, acrescentando-lhes, porém, uma"ideia de contraste. Assim: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto: Apetece cantar, mas ninguém canta. (Miguel Torga, CH, 44.) 3. Alternativas, que ligam dois termos ou oragoes de sentido dis-tinto, indicando que, ao cumprir-se um facto, o outro nao se cumpre. Sao as conjungoes ou (repetida ou nao) e, quando repetidas, ora, quer, seja, nem, etc.: Ora lia, ora fingia ler para impressionar aos demais passageiros. (Augusto Fredetico Schmidt, AP, 74.) 4. Conclusivas, que servem para ligar á anterior uma oragáo que exprime conclusáo, consequéncia. Sao: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim, etc.: Nas duas frases a expcriéncia é a mcsma. Na primeira nao instrui, logo prejudica. (Almada Negreiros, NG, 150.) 5. Explicativas, que ligam duas oragoes, a segunda das quais justi-fica a idcia contida na primeira. Sao as conjungoes que, porque, pois, porqitanto, "1 breve gramatica do portugué3 contemporaneo cm exemplos como: Vamos comer, Acucena, que estou morrendo de fome. (Adonias Filho, LP, 109.) \ Posicao das conjuncoes coordenativaB. 1. Das conjuncoes coordenativas apenas mas aparece obrigatoria-mente no comeco da oracao; porim, todavia, contudo, entretanto e no entanto podem vir no infcio da oracao ou apos um de seus termos: E noite, mas toda a noite se pesca. (Raul Brandab, P, 139.) A igreja tambem era velha, porem nao tinha o mesmo prestigio. (Carlos Drummond de Andrade, CA, 200.) Este ultimo periodo poderia ser tambem enunciado: A igreja tambem era velha; nab tinha, porem, o mesmo prestigio. A igreja tambem era velha; nab tinha o mesmo prestigio, porem. 2. Pots, quando conjuncao conclusiva, vem sempre posposto a um termo da oracao a que pertence: Para ali estavam, pois, horas sem conto, esperando, inutilmente, ludi-briarcm-se a si pr6prios. (Fernando Namora, CS, 83.) 3. As concldsivas logo, portanto e por consegidnte variam de posicao, conforme 0 ritmo, a entoacao, a harmonia da frase. CONJUNCOES SUBORDINATIVAS 1. As conjuncoes subordinattvas classificam~se em causais, con- cessivas, condicionais, ftnais, temporais, comparativas, consecuti-vas e integr antes. As causais, concessivas, condicionais, finais, temporais, comparativas e consecutivas iniciam oracoes adverbiais. As integrantes introduzem oracoes substantias. cONjt^215_____393 2. A Nomenclatura Gramatical Brasileira inclui ainda as conjuncoes conformativas e PROPORCiONAis, que a Nomenclatura Gramatical Por-tuguesa nao distingue das comparattvas. Observacäo: Saliente-se que as comparattvas e consecuttvas introduzem oracSes subor-dinadas adverbiais, mas vém geralmente correlacionadas com um termo da oracao principal. Exemplifiquemos r 1. Caüsais (iniciam uma oracao subordinada denotadora de causa): porque, pais, porqttanto, como [= porque], pois que, por isso que, já que, uma ve% que, visto que, visto como, que, etc.: Tenho continuado a poetar, porque decididamente se me renovou o estro. (Antero de Quental, C, 357.) 2. CoNCESsrvAS (iniciam uma oracao subordinada em que se admite um facto contrario ä accäo principal, mas incapaz de impedi-la): embora, conqtianto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, por mats que, por menos que, apesar de que, nem que, que, etci: Näo saberei nunca escrever sobre ele, embora tenha tentado mais de uma vez. (Fernando Sabino, G, n, 76.) 3. Condicionais (iniciam uma oracao subordinada em que se indica uma hipótese ou uma condicäo necessária para que seja realizado ou näo o facto principal): se, caso, contanto que, salvo se, sem que [= se näo], dado que, desde que, a menos que, a näo ser que, etc.: Se aquele entrasse, também os outros poderiam tentar... (Branquinho da Fonseca, MS, 41.) 4. FmAis (iniciam uma oracao subordinada que indica a finalidade da oracao principal): para que, a fim de que, porque [= para que]: Näo bastava a sua boa vontadc para que tudo sc atranjasse. (Almada Ncgrciros, NG, 82.) 5. Temporais (iniciam uma oracao subordinada indicadora de cir-cunstäncia de tempo): quando, antes que, depois que, ati que, logo que, sempre que, 394 BBJEVE gramática DO PORTUGUÉS CONTEMPOrAnE0 I asstm etc.: que, desde que, todas as vetoes que, coda ves^ que, apenas, mal, que [= desde que], Quando do Severino voltou da fazenda, trouxe para Luciana um peri- quito. (GraciUano Ramos, Ins., 6. Consecutxvas (jniciam uma oragäo na qual se indica a consequén-cia do que foi declarado na anterior): que (combinada com uma das palavras tal, tanto, täo ou tamanho, presentes ou latentes na oracäo anterior), de forma que, de maneira que, de modo que, de sorte que, etc.: Foi täo ágil e rápida a saída que Jandira achou graca. (Cko dos Anjos, DR, 108.) 7. Comparattvas (iniciam uma oracäo que encerra o segundo mem-faro de uma comparagäo, de um confronto): que, do que (depois de mais, menos, maior, menor, melhor e pior), qual (depois de tal), quanta (depois de tanto), com;' assim como, bem como, como se, que nem: Mais do que as palavras, falavam os factos. (Miguel Torga, V, 278.) 8. Integrantes (servem para introduzir uma oracäo que funciona come sujeito, objecto directo, objecto indirecto, predicativo, comple-mento nominal ou aposto de outra oracäo). Säo as conjuncoes que e se: Näo sei, sequer, se me viste, Näo vou jurar que me vias. (Jose Regio, F, 54.) Quando o verbo exprime uma certeza, usa-se que: Joäo Garda garantiu que sim, que voltava. (Vitorino Nemésio, MTC, 61.) Quando o verbo exprime incerteza, usa-se se. Por exemplo: a) numa duvida: Ninguém sabia se estava ferido ou se fcrira alguém. (Luis Jardim, MP, 54-) c0njuncäo 395 b) numa interrogacao indirecta: Pergunto a Deus se estou viva, se estou sonhando ou acordada. (Cecilia Meireles, OP, 417.) Conjun$oes conformativas e proporcionais. Como dissemos, a Nomenclatura Gramatical Brasileira distingue ainda, entre as conjuncoes subordtnativas, as conformativas e as proporcionais. 1. As conformativas iniciam uma oracao subordinada em que se exprime a conformidade de um pensamento com o da oracao principal. Sao as conjuncoes conforme, como [= conforme], segundo, consoante, etc.: O som de uma sineta, conforme o capricho do vento, aproximava-se ou perdia-se ao longe. (Augusto Meyer, SI, jo.) 2. As proporcionais iniciam uma oracao subordinada em que se men-ciona um facto realizado ou para realizar-se simultanearnente com o da oracao principal. Sao as conjuncoes a medida que, ao passo que, a proporfao que, enquanto, quanta mais... mais, quanta mais... tanto mais, quanto mais... menos, quanta mais... tanto menos, quanto menos... menos, quanto menos... tanto menos, quanto menos... mais, quanto menos... tanto mais; A medida que avaneavam, iam penetrando no coracao da trovoada. (Miguel Torga, V, 295.) Polissemia conjuncional. Algumas conjuncoes subordinativas (que, como, porque, se, etc.) podem pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor esta condicionado ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de ambiguidades, pois que ha circunstancias fronteiricas: a condicao da concessao, o fim da con-sequencia, etc. LOCUClO CONJUNTIVA Como vimos, ha numerosas conjuncoes formadas da particula que ante-cedida de adverbios, de preposicoes e de participios: desde que, antes que, pi que, ate que, sem que, dado que, posto que, visto que, etc. Sao as chamadas locucoes conjunttvas. 17. INTERJEICAO 397 Interjeicao Interjeicao e uma espeeie de gtito com que traduzimos de modo vivo as nossas emocoes. A mesma reaccao emotiva pode ser expressa por mais de uma interjeicao. Inversamente, uma so interjeicao pode corresponder a sentimentos, variados e, ate, opostos. O valor de cada forma interjectiva depende funda-mentalmente do contexto e da entoacao. Ciassificacäo das interjeicöes. sentimento que denotam. Classificam-se as interjeicöes segundo o Entre as mais usadas, podemos enumerar as: a) de alegria: ah! oh! No Brasil tambem: obal opal b) de animacäo: avante! coragem! Ha! vamos! c) de aplauso: bis! bem! bravo! viva! d) de desejo: oh! oxald! e) de dor: at! n't! f) de espanto ou surpresa: ah! chil ih! ue! No Brasil tamböm: puxai g) de impaciencia: hum! hem! irral h) de invocacäo: aid! 6! old! psht! psit! t) de stlencio: psiu! silinciol j) de susPENSÄo: alto! basta! alto la! I) de terror: ui! ub! Obaervacöes: i.» Näo inclulmos a interjeicao entre as classes de palavras pc/a razäo adn zida no capitulo if ""au aau- Com efeito, traduzindo sentimentos súbitos e espontáneos, säo as interici coes gntos mstujtivos, equivalendo a frases emocionais. ^d^äo(^' 38 ÜltC£JcisÖeS Věm de rc8ra acompaohadas do ponto de Locucao interjectiva. Além de interjeicöes expressas por um só vocábulo, há outras formadas por grupos de duas ou mais palavras. Säo as locucöes interjectivas. Excm-plos: at de mim! ora, bolasl raios te partami valha-me Dens! 18. O PERIODO E A SUA CONSTRUCÄO 399 O periodo e sua construjao PERÍODO SIMPLES E PEEÍODO COMPOSTO No Capítulo 7 fizemos a análise interna da oragao. Exarninámos, aí, os sens termos essenciais, integrantes e acessórios; e, para tal estudo, ser-vimo-nos sobretudo de períodos simples, isto é, de períodos constituidos de uma só oracao, chamada absoluta. Incidentemente, porém, mostrámos que os termos essenciais, xm'&-grantes e acessórios de uma oragao podem ser representados por outra oracao. é agora o momente de examinarmos mais detidamente esse ponto. Cornposicäo do periodo. i. Tomemos o seguinte periodo: As horas passam, os homens caem, a poesia fica. (Emílio Moura, IP, 169.) Vemos que ele é composto de trés oragóes: 1 » = As horas passam, 2 a = os homens caem, }.a s= a poesia fica. Vemos, ainda, que as trés oragoes säo da mesma natttre^a, pois: a) säo autónomas, independentes, isto é, cada uma tem sentido proprio; b) näo funcionam como termos de outra oragao, nem a eles se referem: apenas, uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra. A tais oragoes autónomas dá-se o nome de coordenadas, e o periodo por elas formado diz-se composto por coordenacäo. 2. Examinemos agora este periodo: O meu André nío lhe disse que temos al um holandés que trouxe materiál novo...? (Vitorino Nemésio, MTC, 363.) Aqui, também, estamos diante de um periodo de trés oragóes: 1. a = O meu André nao lhe disse 2. a = que temos aí um holandés 3-a = que trouxe materiál novo Mas a sua estrutura é diferente da do anterior, pois: d) a primeira oragáo contém a declaragao principál do periodo, rege-se por si, e nao desempenha nenhuma fungao sintáctica em outra oragao do periodo; "chama-se, por isso, oracao principál; b) a segunda oragao tem a sua existéncia dependente da primeira, de cujo verbo é objecto directo; funciona, assim, como termo tntegraňte dela; c) a terceira oragao tem a sua existéncia dependente da segunda, de cujo objecto directo é adjunto adnominal; funciona, por conseguinte, como termo ArESsÓRio dela. As oragóes sem autonomia gramatical, isto é, as oragóes que funcionam como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oragao chamam-se subordinadas. O periodo constituído de oragoes subordina-das e uma oragao principál denomina-se composto por subordinacao. 3. Vejamos, por fim, este periodo: Moleque Nicanor arregalou os olhos, e eu pensei que ia ouvir as panca-das do seu coragao. (Guimaraes Rosa, S, 216.) Ainda aqui temos um periodo composto de trés oragoes: 1. a = Moleque Nicanor arregalou os olhos, 2. a = e eu pensei 3. a = que ia ouvir as pancadas do seu coragao. A sua estrutura é, porém, distinta das duas que exarninámos, ou melhor, é uma espécie de combinagao delas, pois: d) as duas primeiras oragoes sao coordenadas (a primeira é coor- -denada assindética; a segunda, coordenada sindética aditiva); 4°o breve gramätica do portugués contemporäneo \ / o períopo s a sua CONSTRPCAQ 401 b) a ultima é subordinada, uma vez que funciona como objecto di-recto da oracäo anterior. O periodo que apresenta oracôes coordenadas e subordinadas diz-se composto por coordenacäo e subordinacäo. Conclusao. Na análise de um periodo composto, cumpre, pois, ter em mente que: d) a oracäo principal näo exerce nenhuma funcäo sintáctica em outra oracäo do periodo; b) a oracäo subordinada desemperiha sempre urna funcäo sintáctica (sujeito, objecto directo, objecto indi recto, predicattvo, comple-' mento nominal, agente da passiva, adjunto adn omínal, adjunto adverbial ou APOSTo) em outra oracäo, pois que dela é um termo ou parte de um termo. ŕ) a oracäo coordenada, como a principal, tiunca é termo de outra oracäo nem a ela se refere; pode relacionar-se com outra coordenada, mas em sua integridade. Observacäo: A Nomenclatura Gramatical Portuguesa elirránou a designajäo de oracäo principal sob 0 argumento de näo fazer falta ao estudo desses processos e de «dar ensejo a duplas interpretacöes, quer no piano lógico, quer no piano gramatical.» COORDENACÄO Oracôes coordenadas sindéticas e assindétícas. As oracôes coordenadas podem estar: a) simplesmente justapostas, isto é, colocadas urna ao lado da outra, sem qualquer conectivo que as enlace: Será uma vida nova, / come9ará hoje, / näo haverá nada para trás. / (Augusto Abclaira, QPN, 19.) b) ligadas por uma conjuncäo coordenattva: A Grccia seduzia-o, / mas Roma dominava-o. / (Graca Aranha, OC, 701.) No primeiro caso, dizemos que' a oracäo coordenada e assinde-tica, ou seja desprovida de conectivo. No segundo, dizemos que ela 6 sindetica, e a esta denominaeäo acrescentamos a da esp£cie da conjuncäo coordenattva que a inicia. Oracöes coordenadas sindetkas. Classificam-se, pois, as oracöes coordenadas sindettcas em: 1. Coordenada slndetica adittva, se a conjuncäo e aditiva: Insisti no ofereeimento da madeira, { e ele estremeceu. / (Graciliano Ramos, SB, 29.) 2. Coordenada sindetica adversattva, se a conjuncäo e" adversativ a: Estava ficio, / mas ela näo o sentia. / (Maria Judite de Carvaüio, TGM, 75.) 3. Coordenada sindetica alternativa, se a conjuncäo 6 alternativa: Ou eu rae engano muito / ou a egua manqueja. / (Carlos de Oliveira, AC, 25.) 4. Coordenada sindetica conclustva, se a conjuncäo e" conclu-SivA: Näo pacteia com a ordern; / e, pois, uma rebelde. / (Joäo Ribeiro, PE, 95.) 5. Coordenada sindetica explicattva, se a conjuncäo 6 expli-cativa: ■— Eh, camarada, espere um poueo, / que isto acaba-se ja. / (Fernando Namora, NM, 233.) breve gramatica do portugu&s contemporaneo ____ —_—- ~-—1 - SUBORDINACÄO A oracäo subordinada como termo de outra oracäo. ' Dissemos que as oracöes subordinadas funcionam sempře como termos essenciAis, integrantes ou acessórios de outra oracäo. Esclarc-camos melhoi tais equivaléncias. 1. No seguinte exemplo: É necessária a tua vinda urgente. o sujeito da oracäo é a tua vinda urgente, termo esSencial, cujo núcleo é o substantivo vinda. Mas, em lugar dessa construcäo com base no substantivo vinda, podería-mos dizer: É necessário que venhas urgente. O sujeito seria, entäo, que venhas urgente, termo essencial represen-tado por oracäo. 2. Neste exemplo: Ninguém esperava a ma vinda. o objecto dkecto de esperava í a tua vinda, termo integrante, cujo núcleo é o substantivo vinda. Em vez dessa construcäo nominal, poderiamos ter dito: Ninguém esperava que viesses. Com isso, o objecto dkecto de esperava passaria a ser que viesses, termo integrante representado por urna oracäo. 3. Neste exemplo: Näo desaprendi as licöes recebidas. o adjunto adnominal, termo acesSÓRio, está expresso pelo adjectivo recebidas. 1 o período e a sua construcäo Mas, se quiséssemos, poderiamos ter substituído o adjectivo recebidas por que recebi: Näo desaprendi as licöes que recebi. Teríamos, neste caso, como adjunto adnominal de licöes a oracäo que recebi. Por outras palavras: teríamos um termo acessório representado por uma oracäo. 4. Neste exemplo: Ainda näo o tinha visto depois da volta. säo trés os adjuntos adverbiais (termos acessórioš) da oracäo: d) ainda-—adjunto adverbial de tempo; b) näo — adjunto adverbial de negacäo; c) depois da volta — adjunto adverbial de tempo. Em lugar da expressäo adverbial de tempo depois da volta, poderiamos ccr empregado urna oracäo —depois que voltara: Ainda näo o tinha visto depois que voltara. Depois que voltara, adjunto adverbial de tinha visto, é, pois, um termo acessório representado por urna oracäo. 5. Do que dissemos urna conclusäo se impöe: o periodo composto por subordinacäo é, na esséncia, equivalente a um período simples. Dis-tingue-os apenas o facto de os termos (essenciais, integrantes e acessórioš) deste sérem representados naquele por oracöes. Classificacäo das oracöes subordinadas. As oracöes subordinadas classificam-se em substantivas, adjec-tivas e adverbiais, porque as funcöes que desempenham säo compará-vcis äs exercidas por substantivos, adjectivos e advérbios. Oracöes subordinadas substantivas. As oracöes subordinadas substantivas vém normalmente introdu-zidas pela conjuncäo integrante que (äs vezes, por se) e, segundo o seu 4°4 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUĚS CONTBMPOrAneQ valor sintáctico, podem ser: 1. Subjectivas, quando exercem a fungao de sujeito: É certo / que a presenga do dono o sossegava um pouco. / (Miguel Torga, B, 52-53.) 2. Objectivas directas, quando exercem a fungao de objecto directo: Rcspondi-lhc / que já tinha lido a reeeita em qualquer parte. / (José Cardoso Pires, D, 295.) Nao sei / se Padre Bernardino concordará comigo. / (Otto Lata Resende, BD, 109.) 3. Objectivas indirectas, quando exercem a fungao de objecto jndirecto: Nao me esquego / de que estavas doente / quando ele nasceu. (Josué Montello, SC, 31.) 4. Completivas nominais, quando exercem a fungao de complement nominal: Calipsol Ele tern a mania / de que alho faz bem a saúde. / (Augusto Abelaira, NC, 155.) 5. Predicativas, quando exercem a fungao de predicativo: A vetdadc é / que eu ia falar outra vez de Noémia. / (Agustina Bessa Luis, AM, 39.) 6. Apositivas, quando exercem a fungao de aposto: É preciso que o pecador reconhega ao menos isto: / que a Moral cató-lica está ccrta / e é irrepreensivel. / (Otto Lara Resende, BD, 163.) 7. Agentes da passiva, quando exercem a fungao de agente da pas- siva: — As ordens säo dadas / por quern pode. / (Fernando Namora, NM, 215.) 0 periodo E a sua c0nstrucäo 40J Observacäo: As oragoes que desempenham a fungäo de agente da passiva iniciam-se por pronomes indefinidos {quem, quantos, qualquer, etc.) precedidos de uma das preposigöes por ou de. Otnissao da integrante que. Depois de certos verbos que exprimem uma ordern, urn desejo ou uma siiplica, a lingua portuguesa permite a omissäo da integrante que: Queira Deus / näo voltes mais triste... / (Manuel Bandeira, PP, 348.) Oragöes subordinadas adjectivas. 1. As oracöes subordinadas adjectivas vém normalmente introduzi-das por um pronome relativo, e exercem a fungäo de adjunto adnominal de um substantivo ou pronome antecedente: Susana, / que näo se sentia bem, / estava de cama. (Miguel Torga, V, 178.) O / que tu ves / é belo; / mais belo o / que suspcitaa; / e o / que igno-ras / muito mais belo ainda. (Raul Brandäo, H, 3.) 2. A oracäo subordinada adjectiva pode, COmO todo adjunto adnominal, depender de qualquer termo da oragäo, cujo núcleo seja urn substantivo ou um pronome: sujeito, predicativo, complemento nominal, objecto directo, objecto indirecto, agente da passiva, adjunto adverbial, aposto e, até mesmo, vocativo. Oragöes adjectivas restritivas e explicativas. Quanto ao sentido, as subordinadas adjectivas classificam-se em restritp7as e explicativas. i. As restritivas, como o nome indica, restringem, limitám, pre-cisam a significagäo do substantivo (ou pronome) antecedente. Säo, por 40(5 BREVE GRAMÄTICA DO p0rtugués CONTEMPORANEQ "1 / J / 0 PERfODQ E A SPA CQNSTRUCÄQ conseguinte, indispensáveis ao sentido da frase; e, como se ligám ao ante-cedente sem pausa, dele nao se separam, na escrita, por vírgula. Exemplos: Es um dos raros homens / que těm o mundo nas mSos. / (Augusto Abelaira, NC, izi.) 2, As explicativas acrescentam ao antecedente uma qualidade aces-sória, isto é, esclarecem melhor a sua significacao, á semelhanca de um aposto. Mas, por isso mesmo, nao sáo indispensáveis ao sentido essencial da frase. Na fala, separam-se do antecedente por uma pausa, indicada na escrita por vírgula: Tio Cosme, / que era advogado, / confiava-lhe a cópia de papéis de autos, (Machado de Assiš, OC, I, 734.) Oragoes subordinadas adverbiais. Funcionam como adjunto adverbial de outras oracoes e vém, nor-malmente, introduzidas por uma das conjuncoes subordinativas (com exclusao das integrantes que, vimos, iniciaci oracoes substantiv as). Segundo a conjungao ou locu$ab conjuntiva que as encabece, classificam--se em: 1. Causais, se a conjuncao é subordinativa causal: Nao vestě com Iuxo / porque o tio náo é rico. / (Machado de Assis, OC, II, 204.) 2. Concessivas, se a conjuncao é subordinativa concessiva: A regra era ir sempře desacompanhado, / mesmo que levasse o gado até aos conftns da setra. / (Miguel Torga, B, 101.) 3. Condicionais, se a conjuncao é subordinativa condicional: Tudo vale a pena./ Se a alma náo é pequena. / (Fernando Pessoa, OP, 19.) 4. FmAis, se a conjuncao é subordinativa finál: Viera um vestido de Marta, / para que a vestissem com ele. / (José Lins do Rcgo, A-M, 343.) 407 5. Temporais, se a conjuncao é subordinativa temporal: / Quando estiou, / partiram. (Carlos de Oliveira, AC, 19.) 6. Consecutivas, se a conjungäo é subordinativa consecutiva: Era urna voz täo grave, / que metia medo. / (Augusto Meyer, SI, 12.) 7. CoMPARATiVAS, se a conjunglo é subordinativa comparativa: Näo, meu coracäo näo é maior / que o mundo. / (Carlos Drummond de Andrade, R, 60.) ObservacÔes: i.a O primeiro membro da comparacäo pode estar oculto: \tal\ qua/, [iaí] como, etc.: Havia já dous anos que nos näo víamos, e eu via-a agora näo / qual era, / mas / qual fora, / quais fôramos ambos, / porque um Ezequias misterioso fizera recuar o sol até os dias juvenis. (Machado de Assis, OC, I, 419.) z.a Costuma-se oraitír o predieado da oracXo subordinada compara-ttva, quando repete uins forma do verbo da oracäo principal. Assim: Tu vais a correr sozinho, Ribeirinho, / como eu. / (Fernando Pessoa, QGP, n.° r 12.) Ou seja: como eu [vou a correr sozinho]. Oracôes conformativas e ptoporcionais. Como, na classificacäo das conjuncoes subordinativas, a Nomenclatura Gramatical Brasileira inclui as conformativas e as proporcionais, conse-quentemente admite ela a existéncia de oracôes subordinadas adverbiais: i. ConformATrvAS, quando a conjuncao que as inicia é subordinativa confotmativa: / Conforme declare!, / Madalena possuía um excelcnte coracäo. (Graciliano Ramos, SB, 122.) 40 8 breve gramática do portuguěs contbmporaneo o periodo e a sua C0NSTRUCÄO __40p 2. Proporcionais, quando encabcgadas por conjuncao subordina-tiva proporcional: / A medida que o tempo decorria / as figuras iam tomando maior vulto na sua retina. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 29;.) Observagab: Estas oracoes podem estar em correlagäo com um membro da oracao principal em construgoes do tipo: quanta mats... tanto mats, quanta mats... tanto menos, quanta menos... tanto menos, quanta menos... tanto mats: j Quanto mais o conhego, / tanto mais o admiro. Como nestas oragöes näo raro se omitem as palavras quanto e tanto, é neccs-sário examinar com atengäo o periodo em que elas ocorrem para classifki--las com acerto. Por exemplo, nas construgoes: / Quanto mais o conhego, / mais o admiro. / Mais o conhego, / tanto mais o admiro. / Mais o conhego, / mais o admiro. a primeira oragäo é sempre a subordinada adverbial proporcional; e a segunda, a principal. ORACOES REDUZroAS Oragöes desenvolvidas e oragöes reduzidas. Estudámos are aqui as oracoes subordinadas encabegadas por ncxo subordinativo (pronomes relativos ou conjungöes subordinativas), com o verbo sempre numa forma finita (do indicativo ou do conjuntivo). Vejamos agora outro tipo de oragäo subordinada —a reduzida — isto é, a oragäo dependente que näo se inicia por relativo nem por conjun-gäo subordinativa, e que tem o verbo numa das form as nomtnais — 0 infinitivo, o GERÚNDio, ou o particípio. Assim: i. Neste periodo de Machado de Assis: Todos nós havemos de morrer; basta / estarmos vivos. / (OC, I, 420.) a oragäo estarmos vivos tem valor substantivo. Näo a encabega, porém, a integrants que, nem o seu verbo se apresenta numa forma finita, mas na do inftnitivo pessoal. A oragäo denomina-se, por isso, substantiva reduzida de infinitivo, e pode ser equiparada á oragäo subordinada desenvolvida que estejamos vivos; Todos nós havemos de morrer; basta / que estejamos vivos. / 2. Neste periodo de Augusto Frederico Schmidt: Era o sortilégio, a sedugäo / ferindo os coragöes. / {A?, 17.) a oragäo ferindo os eoraeoes tem valor adjectivo. Näo vem, no entanto, enca-begada por pronome relativo, nem traz o verbo numa forma finita, mas na do GERÚNDIO. A oragäo denomina-se, neste caso, adjecttva reduzida de gerúndio, e corresponde ä oragäo desenvolvida que feria os eoraeoes: Era o sortilégio, a sedugäo / que feria os coragöes. / 3. Neste periodo de Manuel da Fonseca: / Ansiado, / agarrou-se ä árvore. (FC, iz6.) a oragäo ansiado tern valor adverbial. Näo está, porém, encabegada por conjungäo subordinativa, nem traz o verbo numa forma fimta, mas na do particípio. A oragäo denomina-se, entäo, adverbial reduzida de particípio, e equivale ä oragäo desenvolvida porque estava ansiado: I Porque estava ansiado, / agarrou-se á árvore. Oragöes reduzidas de infinitivo. As oracoes reduzidas de infinitivo podem vir ou näo regidas de preposigäo e, como as desenvolvidas, classtficam-se em: Substantivas: i. SuBjECTrvAs: E preciso / caminhar com o passo certo. / (Costa Andradc, NVNT, 30.) 410 BREVE GRAMATICA DO PORTüGUES CONTEMPORANEQ 2. Objectivas direct as: Espero também / poder confiar em ti. / (Jose Regio, SM, J7-) 3. Objectivas indirect as: Encarregara-a / de anunciar-se pessoalmente. / (Nélida Piňon, FD, 69.) 4. COMPLETrVAS NOMINAIS: Estou ansioso / por ir ve-lo. / (Antero de Quental, C, 228.) 5. Predicattvas: A sua intencao era / comunicar a Augusta o resultado da convcrsa com o pretendente. / (Machado de Assis, OC, II, 97.) 6. Apositivas: A coragem é isto: / meter o pássaro do medo na capanga. / (Luandino Vieira, NM, 116.) Adjectivas: Mas a visäo logo se desvaneceu, ficando apenas os vidros, / a ocultarem, com o seu brilho, o / que lá dentro existia. (Ferreira de Castro, OC, I, 136.) Obser vacäo: As oracöes adjectivas REDUziDAS de Infinitivo säo mais frequentes no portugués europeu. No portugués do Brasil empregam-se dc preferencia as ADJECTtVAS reduzidas ob geróndic Adverbiais: i. Causais: / o PERIODO E A SUA CONSTRUCÄO I 2. CONCESSIVAS: 4u I nclas. / Por serem trivialidades quotidianas tais virtudes, / ninguém tepara (Miguel Torga, TU, 63.) / Mcsmo sem saber / se jamais chcgarei, apetcce-me riv e cantar em honra da beleza das coisas. (Sophia de Mello Breyner Andrescn, CE, 102.) 3. Condicionais : / A näo ser isto, / eu preferia near na sombra, e trabalhar como simples soldado. (Jose de Alencat, CD, 30.) 4. Consecutivas: O mancebo desprezava o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, que seus olhos furtavam de longe, levou o arrojo / a arrepiar a testa do touro com a ponta da lanca. / (Rebelo da Silva, CL, 178.) 5. Fin Ais: Conheces-lhe a vida / para podereš afirrnar tal coisa. / (Augusto Abelaira, CF, 148.) 6. Temporais: Viajante que deixaste As ondas do Panama, Vela / ao entrares no porto / Aonde o gigante está! (Fagundes Vatela, VA, 76.) Oragoes reduzidas de gerúndio. Podem ser adjectivas ou adverbiais. Adjectivas: Perdeu o desfile da milícia triunfantc, / marchando a quatro de fundo. / (Jose Saramago, MC, 34B.) Observacäo: O emprego do gerúndio com valor dc oracäo adjectiva tem sido consi-derado por certos gramáticos um galicismo intolerávcl. Cumpre, no entanto, 41 í BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORAneO ~1 I 0 PERIODO E A SUA CONSTRUCÄO 413 acentuar que é aatiga no idioma a construcäo quando o gerúkdio exptessa a ideia de actívidade actual e passageira. Distinto děste é o emprego, cada vez mais frequente nos dias que correm, do gerúndio como representante de uma ORACÁo adjectiva .que dcsigna ■am modo de ser- ou uma actívidade permanente do substantivo a que se rcfcrc: Meu coracäo é um pórdco partído / Dando excessivamente sobre o mar. / (Fernando Pessoa, OP, 54.) Tal construcäo é um simples decalque do francés. Adverbiaís: Como o GERuNDio tem principalmente significado temporal, as reduzidas por ele formadas correspondem, na maioria dos casos, a oracöes . subordinadas adverbiaís temporais. Comparem-se, por exemplo: / Pa9sando hoje pela porta do meu compadre José Amaro, / ele me convidou para tomar conta de sua causa. (Jose Lins do Rego, FM, 279.) Mas podem equivaler também a outras oracöes subordinadas adver- biaís: 1. C aus Ais: / Pressentindo / que as suas intencöes haviam sido adivinhadas, Macedo tentou minorar a situacäo. (Ferreira de Castro,.OC, I, 89.) 2. ConcesSivas : Aqui mesmo, / ainda näo sendo padre, / se quiser florear com outros rapazes, e näo souber, ha de queixar-se de voce, Maaa Gloria. (Machado de Assis, OC, I, 735.) 3. Condicionais: Pensando bem, / tudo aquilo era muito estranho. (Augusto Meyer, SI, 25.) Oracöes reduzidas de partieipio. Como as reduzidas de geründio, as de partici~pio podem ser adjec- tivas ou adverbiais. Adjectivas: As rosas brancas agrestes / Trazidas do tun dos montes / Vós mas tirastes, que as destes... (Fernando Pessoa, OP, 118.) Adverbiaís: Sä o mais comuns as temporais: / Acabada a cerimónia, / demos a voita ao adro. (Vitorino Nemésio, SOP, 90.) Näo raro, ocorrem também as: 1. Causais : / Desesperado, / parecia urn doido por toda a casa. (Miguel Torga, NCM, 36.) 2. Concessivas: Creio, porém, que, / ainda admitidas as cxagctacSes do Jornal do Comércio, / pode-se assegurar que a guerra esta conclulda. (Jose de Aiencar, OC, IV, 1.3 31.) 3. Condicionais: / Dada essa hipotcsc, / espero de nossos amigos dedicados que näo sofreräo impassíveis uma oposigäo injusta. (Jose de Aiencar, CD, 33.) I 1/ flGtlRAS DE SINTAXE 415 19. Figuras de sintaxe Nem sempre as frases se organizam com absoluta coesäo gramatical. O cm-penho de maior expressividade leva-nos, com frequéncia, a superabundant, cias, a desvios, a lacunas nas estruturas frásicas tidas por modelares. Em tais construcöes a coesäo gramatical é substituida por uma coesäo signifi. cativa, condicionada pelo contexto geral e pela situagäo. Os processus expressivos que provocam essas particularidades de cons-trucäo denominam-se figoras de sintaxe. Examinemos as principals: ELIPSE i. Elipse é a omissäo de um termo que o contexto ou a situacäo per-mitem facilmente suprir: Sáo correntes, por exemplo, as elipses: a) do sujeito: Temura sacudiu os ombros, no sústo. Ergueu a cabeca, fixou Manuel: — Para onde? — exelamou, (Aníbal M. Machado, JT, 135.) b) do verbo (parcial ou total): Väo os doís em diálogo peripatético, ele em passo largo, ela no voo. (Carlos Drummond de Andrade, CB, z6.) Vida ruim, a nossa. (Alves Redol, G, ioj.) c) da preposicäo que introduz certos adjuntos: Miguel foi atrás dela, mäos nos bolsos, falando calmo. (Luandino Vieira, VVDX, 69.) d) da preposicäo de antes da integrante que introduz as oracôes objec-tivas indirectas e as completivas nominais. Bern me lembro que ainda eu mesmo alcancei a casa de Dona Rosinha em cuja porta de entrada passei horas seguidas espiando a maré humana. (Augusto Frederico Schmidt, GB, 44.) Tem medo que fique alguém fora da malhadal... (Alves Redol, G, 65.) e) da conjuncäo integrante que: Näo cuideis seja a masmorra... Näo cuideis seja o degredo... (Cecilia Meircles, OP, 862.) 2. Na análise dessas e de outras oracôes manifestamente incompletas convém repor'os elementos omitidos. Mas seria uma arbitrariedade pretender reconstruir, nas mesmas bases, formas expressivas elaboradas dentro de principios linguisticos diversos. é o caso, por exemplo, da frase nominal, organizada sem verbo e, justamente por is-o, mais incisiva: Que talento, que bom gosto, uma delicia! (Augusto Meyer, MA, 153.) ou mais sugestiva: Primavera. Manhä. Que eflúvio de violetas! (Camilo Pessanha, C, 52.) A elipse como processo estillstico. Recurso condensador da expressäo, a elipse é naturalmente u sada de preferencia naqueles tipos de enunciado que se devem caracterizar pela con-cisfio ou pela rapidez. Seus efeitos estilisticos säo, portanto, apreciáveis: a) na descrigäo esquemática de ambientes, de estados de alma, dc . perfis: 4i 6 BREVE GRAMÁTICA do PORTUGUfcS CONTEMPQRANEQ pjGüRAS DE SINTAXE Subiu a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro. E a V02 de uma das filhas, em baixo: — PapatI O telefone... (Anlbal M. Machado, CJ, 119.) b) em anotacöes rápidas, como as de um diário íntimo, de um caderno de notas: Paris da guerral De dia apenas o movimento mminuido 25 % e os omni-bus desaparecidos. Mas imensa gente. Mulheres lindas, muitas — e deliciosa-mente vestidas. Militates. Poucos feridos. Rara gente de luto. Nenhuma tris-teza. Muitos espectáculos. Cafés do centro, cheios. (Mario de Sá-Carneiro, C, 91.) c) na enunciacäo de pensamentos condensados, provérbios, divisas, ' ditos sentenciosos ou irónicos: Cada dia, cada via; cada vida, cada lida. (Luandino Vieira, JV, 63.) d) nas enumeracöes, onde a inexisténcia do artigo, como dissemos no Capitulo 9, costuma sugerir as ideias de acumulacäo ou de dispersäo: Quando voltar, ä tardinha, minha pele vai estar que é só boi, vaca, ovc-lha, leite, couro, temédio, pasto, fumaca, sal, sol, suor. (Antonio Carlos Resende, LD, 1.) ZEUGMA 1. A zeugma é uma das formas da elipse. Consiste em fazer participar de dois ou mais enunciados um termo expresso apenas em um deles: Na vida dela houve só mudanca de personagens: na dele mudanca de personagens e de cenários. (Joaquim Paco d'Arcos, CVL, 249.) Isto é: na dele houve mudanga de personagens e de cenários. Podemos denominar simples a zeugma em que o termo omitido é exac-tamente o mesmo empregado na oracäo anterior, como no exemplo de Joaquim Paco d'Arcos. 2. Com mais frequěncia, a designacao aplica-se á cbamada zeugma complexa, que abarca principalmente os casos em que se subentende um verbo já expresso, mas sob outra flexao. Assim: A igreja era grande e pobre. Os aitares, humildes. (Carlos Drammond de Andrade, R, 181.) Entenda-se: Os aitares eram humildes. PLEONASMO 1. Pleonasmo é a superabundáncia de palavras para enunciar uma ideia, como se vé nestes passos, em que se procura reproduzir a fala popular: — Sai lá para fora, Joäo. (Miguel Torga, NCM, 228.) 2. Cumpre acentuar que o pleonasmo é a reiteracao da ideia, A repe-tigäo da mesma palavra é um recurso de énfase e, segundo a forma por que sc disponha no período ou na oragäo, tern na retórica nome especial. Näo c, porém, um pleonasmo. Pleonasmo vicioso. O pleonasmo só se justiíica para dar maior relevo, para emprestar maior vigor a um pensamento ou sentknento. Quando nada acrescenta á forca de cxpressäo, quando resulta apenas da ignorancia do sentido exacto dos termos cmpregados, ou de negligéncia, é uma falta grosseira. Estäo neste caso frascs como: Fazer uma breve alocucäo. Ter o monopólio exclusivo. Ser o principal protagonista. Em todas elas o adjectivo representa uma demasia condenável: alocucäo é um «discurso breve»; näo há monopólio que näo seja «exclusivo»; c protagonista significa «príncipal pcrsonagemw. 418 breve gramatica do portuguěs contemporäneo Pleonasmo e cpíteto de natureza. figu ras de sintaxe 4IC) Cumpre, no entanto, distinguir dessas redundäncias viciosas o emprego do adjectivo como epíteto de natureza em expressöes do tipo céu aqd, fria neve, prado verde, mar salgado, noite escura e equivalentes. Comparem-sc estes exemplos: Ó mar salgado, quanto do teu sal Säo lágrimas de Portugal 1 (Fernando Pessoa, OP, 19.) E a Noite sou eu propria 1 A Noite escura!! (Florbela Espanca, S, 41.) Aqui näo se trata de inútil reiteragäo da ideia que já se continha no substantive. O adjectivo insiste sobre o carácter intrinseco, normal ou dominante do objecto. É urna forma de énfase, um recurso literario. Observagäo: Quanto ao objecto (directo e indirecto) pleonästico, leia-se o que dissemos no capitulo 7. HIPERBATO Hiperbato (do grego byperbaton «inversäo», «transposigäo») e a sepa-ragäo de palavras que pertencem *o mesmo sintagma, pela intercalagäo de um membro fräsico, como neste passo: Essas que ao vento vem Belas chuvas de junho! (Joaquim Cardoso, SE, 16.) Em sentido corrente, porem, hiperbato e termo generico para designar toda inversäo da ordern normal das palavras na oraeäo, ou da ordern das oracöes no periodo, com finalidade expressiva. ANÄSTROFE AnAstrofe (do grego anastropbe «mudanca de posigao», «inversäo», «transposicäo») 6 o tipo de inversäo que consistc na anteposicäo do deter- passo: jninante (preposicäo+ substantivo) ao determinado, como neste Mas esse astro que fulgente Das águias brilhara á frente, Do Capitólio baixou. (Soares de Passos, P, 91-92.) PROLEPSE Prolepse (do grego prólepsis «aegäo de tomar antes»), figura também conhecida como antecipacäo, consiste na deslocagäo de um termo de uma oragäo para outra que a preceda, com o que adquire exceptional realee: Os pastures parece que vivem no fim do mundo. (Ferreira de Castro, OC, I, 43j.) SÍNQUISE SÍNQUISE (do grego sjgehysis «confusäo» «mistura») é a inversäo de tal modo violenta das palavras de uma fräse, que torna dificil a sua interpre-tacao. É o que se observa, por exemplo, nesta quadra do soneto Taca de coral, de Alberto de Oliveira: Licias, pastor — enquanto o sol recebe, Mugindo, 0 manso armento e ao largo espraia, Em sede abrasa, qual de amor por Febe, — Sede também, sede maior, desmaia. (P, n, in.) Entenda-se: «Licias, pastor,—enquanto o manso armento recebe o sol e, mugindo, espraia ao largo—, abrasa em sede, qual desmaia de amor por Febe, scde também, sede maior.» ASSÍNDETO Dizemos que há assíndeto (do grego asyndeton «näo unido», «näo Jigado») quando as oracöes de um periodo ou as palavras de uma oragäo se sucedem 420 BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUÉS contemp0rane0 FIGURAS DE SINTAXE 421 sem conjuncäo coordenativa que poderia enlacá-las. É um vigoroso processo de encadeamento do enunciado, que reclama do leitor ou do ouvinte uma atencäo maior no exame de cada facto, mantido em sua individualidade, em sua independéncia, por forca das pausas ritmicas: Lavava loupas da Baixa, vestia, usava, lavava outra vez, levava. (Luandino Vieira, JV, 103.) Arcos de flores, fachos purpurinos, Trons festivals, bandeiras desfraldadas, Girándolas, clarins, atropeladas Legiöes de povo, bimbalhar de sinos... (Raimundo Correia, PCP, 196.) POLISSÍNDETO O polissíndeto (do grego polysyndeton «que contém muitas conjuncöes») é o contrario do assíndeto, ou seja, é o emprego reiterado de conjuncöes coordenativas, especialmente das aditivas: Fui cisne, e lírio, e águia, e catedrall (Florbela Espanca, S, 59.) Com o polissíndeto interpenettam-se os elementos coordenados; a expressäo adquire assim uma continuidade, uma fluidez, que a tornam par-ticularmente apta para sugerir movimentos ininterruptos ou vertiginosos, como nos mostram os exempios citados, e também o seguinte, de Vinícius de Morais: E crescer, e saber, e ser, e haver E perder, e softer, e ter horror De ser e amar, e se sentir maldito... {LS, É a este emprego da conjuncäo que se costuma chamar «e de movimento». ANACOLUTO Anacoluto é a mudanca de construcäo sintáctica no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensivel, como neste exemplo: Bomt boml cu parece-me que ainda näo ofendi ninguém! (Jose Regio, SM, 105.) Observe-se que o pronome eu, que se anunciava como sujeito do verbo seguinte, ficou sem funcäo. Com a imprevista estrutura assumida pela frase, a primeira pessoa, por ele representada, passou a objecto indirecto (we). SILEPSE Silepse (do grego syllepsis, «accäo de reunir, de tomar em conjunto») é a concordäncia que se faz näo com a forma gramatical das palavras, mas com o sentido, com a ideia que elas expressam. Segundo a acepcäo originária, o termo silepse deveria referir-se apenas ä concordäncia de numero. Cedo, porém, ele passou a ser aplicado a certas anomalias formais na concordäncia de género e pessoa e, hoje, abarca pra-ticamente todo o campo da concordäncia ideológica. Sílepse de numero. 1. Pode ocorrer a sílepse de numero com todo substantivo singulár concebido como plurál e, particularmente, com os termos colectivos. Assim neste passo de Machado de Assis: Deu-me notícias da gente Aguiar; estäo bons. (OC, I, 1.093.) 2. Há também sílepse de numero quando o sujeito da oracäo é um dos pronoraes nós e vás, aplicados a uma só pessoa, e permanecem no singulár os adjectivos e participios que a eles se referem. Assim: Sois inju8to comigo. (Alexandre Hetculano, MC, II, 35.) Silepse de genero. Sabemos que as expressoes de tratamento Vossa Majestade, Vossa Tixce-lencia, Vossa Senhoria, etc. tern forma gramatical feminina, mas aplicam-sc com frequencia a pessoas do sexo masculino. Neste caso, quando funciona' 422 BREVE GRAMATICA do PORTUGuts CQNTEMPQrAneo como predicativo, o adjectivo que a elas se refere vai sempře para o mas-culino: _V. Ex.a parece magoado... (Carlos Drummond de Andrade, CB, 119O 20. enun- Silepse de pessoa. 1. Quando a pessoa que fala ou escreve se inclui num sujeito ciado na 3-a pessoa do plural, o verbo pode ir para a r.a pessoa do plural: Todos entramos imediatamente. (Otto Lara Resende, BD, 25.) 2. Se no sujeito expresso na j.a pessoa do plural queremos abranger a pessoa a quem nos dirigimos, e licito usarmos a 2.a pessoa do plural: Mas suporiho que todos sofe da mesma opiniäol Todos acordais cm me condenar e abandonar. (Jose Regio, ERS, 83.) Discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre Estruturas de reproducäo de enunciacöes. Para dar-nos a conhecer os pensamentos e as palavras de personagens reais ou ficticios, dispöe o narrador de trés moldes linguisticos diversos, conhecidos pelos nomes de: a) DISCURSO (OU ESTILO) DIRECTO, b) DISCURSO (OU ESTILO) INDIRECTO, (} DISCURSO (OU ESTILO) INDIRECTO LIVUE. DISCURSO DIRECTO Examinando este passo das Memórias póstamas de Brás Citbeis, de Machado de Assis: Virgília replicou: — Promete que algum dia me fará baronesa? (OC I, 4fe.) vcrificamos que o narrador, após introduzir a personagem, Virgília, clei-xou-a expressar-se por si mesma, limitando-se a reproduzir-lhe as palavras como ela as teria efectivamente seleccionado, organizado e emitido. A essa forma de expressao, em que o personagem č chamado a aprc-scntar as suas próprias palavras, denominamos discurso directo. 4*4 BREVE GRAMÁTICA DO PORTÜGUES CONTEMPORANEO \ / pISCURSO PIRBCTO, DISCURSO INDIRECTO B PISCURSO INDIRECTO LI VRE 4z? Caractcristicas do discurso directo. i. No plano formal, um enunciado em discurso directo é mar-cado, geralmente, pela presenca de verbos do tipo di^er, afirmar, potiderar, sugerir, perguntar, indagar, responder e sinónimos, que podem introduzi-lo, arrematá-ío, ou nele se inserir: Meneou a cabeca com ar triste e aciescentou: ■—O hörnern acostuma--se a tudo, sim, a tudo, até a esquecer-se que é um hörnern... (Castro Soromenho, C, 66.) É esta a gaveta?'—perguntou ele. (Osman Lins, V, 53.) Penso — disse meu pai — que te darás meJhor em Letras. (Vergilio Ferreira, A, 26.) Quando falta um desses verbos dicendi, cabe ao contexto e a recursos gráficos —tais como os dois pontos, as aspas, o travessäo e a mudanca de linha — a funcäo de indicar a fala do personagem. É o que observamos nes-tes passos: «Todos vamos ficando diferentes, e vinte e cinco anos é uma vida.» «Para muitos é mais do que isso.» «Qaro que e.» (Maria Juditě de Carvalho, TM, 49.) O amigo abracou-o. E logo recuou com certo espanto: — o seu chapeu, Zé Maria? — Ah, aäo uso mais!... —Felizardol (Anibal M. Machado, HR, 47.) 2. No PLANo EXPREssrvo, a forca da narracäo em discurso directo provém essencialmente da sua capacidade de actualizar o episódio, fazcndo emergir da situacäo o personagem, tornando-o vivo para o ouvinte, ä maneira de uma cena teatral, em que o nartador desempenha a mera funcäo de indi-cador das falas. Dai scr esta a forma de relatar preferentemente adoptada nos actos diá-rios de comunicacäo e nos estilos literários narrativos em que os autores pretcndem rcprescntar diante dos que os léem «a comédia humana, com a maior naturalidade posslvel» (E. Zola). DISCURSO INDIRECTO Tomemos como exemplo esta fräse de Machado de Assis: Jose Dias deixou-se estar calado, suspitou e acabou confessando que nao era médico. (PC, I, 733.) Ao contrario do que observamos nos enunciados em discurso directo, o narrador (Machado de Assis) incorpora aqui, ao seu proprio falar, uma informagäo do personagem (Jose Dias), contentando-se em transmitir ao leitor apenas o seu conteúdo, sem nenhum respeito ä forma linguistica que teria sido realmente empregada. Este processo de reproduzir enunciados chama-se discurso lndirecto. Caracteristicas do diBcurso indirecto. 1. No plano formal, verifica-se que, introduzidas também por um verbo declarativo (di%er, afirmar, ponderar, confessar, responder, etc.), as falas dos personagens aparecem, no entanto, numa oragäo subordinada substantiva, em geral desenvolvida: Joao Garcia garanüu que sim, que voltava. (Vitorino Nemésio, MTC, n.) Nestas oragöes, como vimos, pode ocorxer a elipse da conjuncäo inte-grante: Como supunha fössemos ter ainda uma quinzena de actividade e pudcssemos esgotar o programa, demorara-me alguns dias em Machado e em Eca. (Ciro dos Anjos, DR, 283.) 2. No plano expressivo, assinale-se, em primeiro lugar, que o em-prego do discurso indirecto pressupöc um tipo de relato de carácter pre-dominantemente informativo e intclcctivo, sem a feicäo teatral e actuali-zadora do discurso directo. O diálogo é incorporado ä narragäo mediante uma forte subordinacäo semántico-sintáctica estabelecida por meio de nexos c correspondencias verbais entre a fräse reproduzida e a fräse introdutora. Em sintese: no discurso indirecto o narrador subordina a si o personagem, com retirar-Ihe a forma própria e afectivamente matizada da expres- 426 BREVE GRAMÁTICA DO PQRTUGUÉS CONTEMPOrAnEQ säo. Mas näo se conclua daí que tal modalidade de discurso seja uma construcäo estilística pobre. E, na verdade, do emprego sabiamente dosado de um e outro tipo de discurso que os bons escritores extraem da narrativa os mais variados efei-tos artísticos, ém consonäncia com intencöes expressivas que só a análise em profundidade de uma dada obra pode revelar. Transposigäo do discurso directo para o indirecto. 1. Do confronto destas duas frases; — A senhora vai sair— disse ela Ela disse olhando-o muito que olhando-o muito. a senhora ia sair. (Eca de Queirós, 0, I, 878.) verifica-se que, ao passar-se de um tipo de relato para outro, certos ele-mentos do enunciado se modificam, por acomodacäo ao novo molde sin-táctico. 2. As principals transposicöes que ocorrem säo: Discurso directo Discurso indirecto: a) enunciado em i.a ou em 2.a a) enunciado em j.a pessoa: pessoa: — Preciso de dinheiro— disse o capitäo. (Agustina Bessa Luis, M, 151.) Disse o capitäo que precisava de dinheiro. Perguntou-lhe Rodrigo se näo achava melhor tirar aquele poncho. — Näo achas melhor tirar esse poncho?— perguntou-lhe Rodrigo. (Ético Verlssimo, A, II, 323.) b) verbo enunciado no presente: b) verbo enunciado no imper- feito: 1 DISCURSO DIRECTO, DISCURSO INDIRECTO E DISCURSO INDIRECTO LI VRE 4*7 - Sou a' Julieta — disse, hesitante. (Augusto Abelaira, B, 81.) lieta. Disse, hesitante, que era a Ju- c) verbo enunciado no pretérito c) verbo enunciado no pretérito perfeito: - Nem banho tomei, cla esclarccia. (Nélida Piňon, CP, 82.) mais-que-perfeito: Ela esclarecia que nem banho tinha tornado. d) verbo enunciado no futuro do presente: — Que setá feito do senhor padre Brito? perguntou D, Joaquina Gansoso. (Ega de Queirós, 0, I, 43.) d) verbo enunciado no futuro do pretérito: Perguntou D. Joaquina Gansoso que seria feito do senhor Padre Brito. 0) verbo no modo imperativo: e) verbo no modo conjuntivo: — Näo faca eseándalo — disse a outra. (Osman Lins, V, 100.) f) pronome demonstrative de i.a (este,esta, isto) ou de 2.a pessoa (esse, essa, is so): — Näo abro a porta a estas horas a ninguém — disse Gracia. (Agustina Bessa Luis, M, 266.) — Isso é um numero muito com-prido, respondeu Cesária. (Graciliano Ramos, AOH, 108.) g) advérbio de lugar aqui; — Aqui amanhece muito cedo •— disse Sales. (Castro Soromenho, C, 199.) h) enunciado justaposto: ■— Foi um tempo velhaco — disse, concordante e enfastiado. (Fernando Namora, NM, 213.) /) enunciado em forma interrogati-va directa: — «Lá é bom?» — perguntei. (Guimaräes Rosa, GS-V, 103.) Disse a outra que näo fizesse eseándalo. /) pronome demonstrativo de 3.a pessoa (aquele, aqtiela, aquilo) : Disse Gracia que näo abria a porta äquelas horas a ninguém. Cesária respondeu que aquilo era um numero muito comprido. g) advérbio de lugar alt: Disse Sales que ali amanhecia muito cedo. b) enunciado subordinado, ge-ralmente introduzido pela integrante que: Disse, concordante e enfasda-do, que tinha sido um tempo velhaco. i) enunciado em forma interro-gativa indirecta: Perguntei se lá era bom. 4*8 BREVE GRAMÁTTCA DO PORTÜGUES CONTBMPORÄNEO DISCURSO INDIRECTO LIVRE Na moderna literatura narrativa, tem sido amplamente utilizado um terceiro processo de reproducäo de enunciados, resultante da conciliacäo dos dois anteriormente descritos. é o chamado discurso indirecto livre, forma de expressäo que, em vez de apresentar o personagem em sua voz propria (discurso directo), ou de informar objectívamente o Ieitor sobre o que ele teria dito (discurso indirecto), aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressäo de que passam a falar em uníssono. Atente-se no passo assinalado: O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capa-cidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar i luz aqueles sercs risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. (Clarice Lispector, LF, 56.) Características do discurso indirecto livre. 1. No plano formal, verifica-se que o emprego do discurso indirecto livre «pressupoe duas condicöes: a absoluta liberdade sintáctica do escritor (factor gramatical) e a sua completa adesäo ä vida do personagem (factor estetico)». Conserva ele toda a afectividade e a expressividade próprias do discurso directo, ao mesmo tempo que mantém as transpo-sigöes de pronomes, verbos e advérbios tipicas do discurso indirecto. z. No plano expressivo, devem ser realcados alguns valores desta construcao híbrida: Evitando, por um lado, o acúmulo de qnis, ocorrente no discurso indirecto, e, por outro, os cortes das aposigöes dialogadas, pecu-liares ao discurso directo, o discurso indirecto livre permite uma narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais artisticamente elaborados; 2.0) O elo psiquico que se estabelece entre narrador e personagem neste molde frásico torna-o o preferido dos escritores memorialistas cm suas pági-nas de monólogo interior; 3.0) Para a aprcensäo da fala do personagem nos trechos em discurso indirecto livre, cobra importáncia o papel do contexto, pois que a pas-sagem do que seja rclato por parte do narrador a cnunciado real do locutor é muitas vezeš cxtremamente subtil. 21. Pontuajäo SINAIS PAUSAIS E SINAIS MELÓDICOS A lingua escrita näo dispôe dos inumeriveis tecursos rítmicos e melódicos da lingua falada. Para suprir esta caréncia, ou melhor, para reconstituir apro-ximadamente o movimento vivo da elocucäo oral, serve-se da pontuacäo. Os sinais de pontuacäo podem ser classificados em dois grupos: O primeiro grupo compreende os sinais que, fundamentalmente, se destinam a marcar as paus as: a) a virgula (,) b) o ponto (.) c) o ponto e vírgula (;) O segundo grupo abarca os sinais cuja funcäo essencial é marcar a melódia, a ENTOACÄ0: a) os dois pontos (:) b) o ponto de interrogacäo (?) c) o ponto de exclamacäo (i) d) as reticéncias (...) fi) as asp as (« ») f) OS PARÉNTESES ( () ) g) OS colchetes ( [] ) J}) o travessäo (—) SINAIS QUE MARCAM SOBRETUDO A PAUSA A virgula. A virgula marca uma pausa de pequena duracäo. Emprega-se näo só para separar elementos de urna oracäo, mas tambčm oracöes de um só periodo. 43° BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEO 1 PONTUACÄO 431 i. No interior da oracao serve: i.°) Para separat elementos que exercem a mesma funcäo sintäctica (sujeito composto, complementos, adjuntos), quando näo vem unidos pelas conjuncöes e, ou e nem. Exemplos: A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lägrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores... (Teixeira de Pascoaes, OC, VLT, 83.) Os homens em geral säo escravos; vivem presos as suas profissöes, aos seus interesses, aos seus preconceitos. (Gilberto Amado, TL, 12.) ■—Nos vivemos num canto da colonia, longe de tudo, sem recursos, sozinhos. (Castro Soromenho, TM, 246.) z.°) Para separat elementos que exercem funcöes sintacticas diversas, geralmente com a finalidade de realcd-los. Em particular, a virgula e usada; a) para isolar o aposto, ou qualquer elemento de valor meramente explicativo: Alice, a menina, estava feliz. (Fernando Namora, TJ, 30.) b) para isolar o vocativo: — D. Gloria, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminario? (Machado de Assis, OC, I, 731.) t) para isolar os elementos repetidos: — So minha, minha, minha, eu querol... (Luandino Vieira, VE, 86.) d) para isolar o adjunto adverbial antecipado: La fora, a chuvada dcspenhou-se por fim. (Carlos de Oliveira, AC, 17.) 3.0) Emprega-se ainda a virgula no interior da oracäo: a) para separar, na datacäo de um escrito, o nome do lugar: Paris, 22 de abril de 1983. b) para indicar a supressäo de uma palavra (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras: No céu azul, dois fiapos de nuvens. (Augusto Frederico Schmidt, AP, 176.) Observacäo: Quando os adjuntos adverbiaís säo de pequeno corpo (um advérbio, por exemplo), costuma-se dispensar a virgula. A virgula é, porém, de regra quando se pretende realcá-los. Comparem-se estes passos: Depois levaram Ricardo para a casa da mäe Aveiina. (José Lins do Rego, U, 320.) Depois, o engragado säo as passagens de nivel, os aparelhos de sina-lizacäo, os vagôes-cisternas... (Augusto Abelaira, D, 30.) Depois, tudo caiu em siléncio. (Castro Soromenho,. TM, 261.) 2. Entre oracdes, emprega-se a virgula: i.°) Para separar as oracčes coordenadas assindéticas: Subiram ao sótäo, desceram á cave, espreitaram no pogo. (Sophia de Mello Breyncr Andresen, CE, 74.) 2.0) Para separar as oracôes coordenadas sindéticas, salvo as introduzi-das pela conjungäo e: Ou elas tocavam, ou jogávamos' os trés, ou entäo lia-se alguma cousa. (Machado de Assis, OC, II, 497.) 3.0) Para isolar as oracôes intercaladas: «Lá vera ele com as ralzes», resmungou Paulino, baixando a cabcca. (Castro Soromenho, C, 137.) 4-°) Para isolar as oragoes subordinadas adjectivns explicativas: O Loas, que tinha relacôes sobrenaturais, diagnostícara um esplrito.-(Fernando Namora, TJ, 24.) 432 BREVE GRAMATICA DO PORTUGOĚS CONTEMPORANBQ pONTüACÄO 433 5.0) Para scparar as oragöes subordinadas adverbiais, principalmentc quando antepostas ä principal: Se eu o tivesse amado, talvez o odiasse agora. (Ciro dos Anjos, M, 146.) 6.°) Para separar as oragöes reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio, quando equivalentes a oragöes adverbiais: A näo ser isto, é uma paz regaiada. (Castro Soromenho, C, 225.) Sendo cantos os mortos, enterram-nos onde calha. (Jose Saramago, MC, 221.) Fatigado, ia dormir. (Lima Barreto, TFPQ, 279.) O ponto. 1. O ponto assinala a pausa maxima da voz depois de um gruj o fónico de final descendente. Emprega-se, pois, fundamentalmente, para indicar o término de uma ORACÄo declarativa, seja ela absoluta, seja a derradeira de um periodo composto: Entardecer no Angico. Estou paráda, sozinha, na frente da casa da están-cia, olhando para o poente. O sol parece uma grande laranja temporä, cujo sumo escorre pelas faces da tarde. O ar cheira a guaco queimado. Um silen-cio de paina crepuscular envolve todas as coisas. A terra parece anestesiada, Raras estrelas comegam a apontar no řirmamento, mais adivmhadas do que propriamente vislveis. Sinto um langor de corpo e espírito. Decerto é a tar-dinha que me contagia com sua doce febre. (Érico Veríssimo, A, Hl, 9J2.) 2. Quando os períodos (simples ou compostos) se encadeiam pelos pensamentos que expressam, sucedem-se uns aos outros na mesma linha. Diz-se, neste caso, que estäo separados por um ponto simples. 3. Quando se passa de um grupo a outro grupo de ideias, costuma-se marcar a transposigäo com um maior repouso da voz, o que, na eserita, se representa pelo ponto parágrafo. Deixa-se, entäo, em branco o resto da linha em que termina um dado grupo ideológico, e inicia-se o seguinte na linha abaixo, com o recuo de algumas letras. Assim: O Buzio näo possuía nada, como uma árvore näo possui nada. Vivia com a terra toda que era ele proprio. A terra era sua mäe e sua mulher, sua casa e sua companhia, sua cama, seu alimento, seu destino e sua vida. Os seus pes descalgos pareciam escutar o chäo que pisavam. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CB, 145.) 4. Ao ponto que encerra um enunciado escrito dá-se 0 nome de ponto FINAL. ObservacSo Alem de servir para marcar uma pausa longa, o ponto tem outra uti-lidade. E o sinal que se emprega depois de qualquer palavra eserita abrevia-damente. Assim: V. S.* (Vossa Senhoria), Dr. (DoutorJ, C. F. C. (Conselbo Federal de Culturaj, I. N. I. C. (Institute Nacionál de Investigacäo Científica). Note-se que, sc a palavra assim reduzida estiver no fim do periodo, este encerra--se com o ponto abreviativo, pois näo se coloca outro ponto depois dele. O ponto-e-vírgula. 1. Como o nome indica, este sinal serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, podendo aproximar-se ora mais daquele, ora mais desta, segundo os valores pausais e melódicos que representa no texto. No primeiro caso, equivale a uma espécie de ponto reduzido; no segundo, assemelha-se a uma vírgula alongada. 2. Esta imprecisäo do ponto-e-vírgula faz que o seu emprego dependa substancialmente do contexto. Entretanto, podemos estabelecer que, cm prindpio, ele é usado: i.°) Para separar mim periodo as oragöes da mesma natureza que tenham uma čerta extensäo: Numa tarde de Outono murmuraste; Toda a mágoa do Outono ele me trouxe... (Florbela Espanca, S, 49.) 2.0) Para separar partes de um periodo, das quais uma pelo menos esteja subdividida por vírgula: Chamo-me Inácio; ele, Benedito. (Machado de Assis, OC, II, 680.) 434 BREVE GRAMÁTICA DO FORTUGUÉS CONTEMPORÄNEO Para separat os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, portarias, regulamentos, etc.). Sirva de exemplo o Título I (Dos fins da Educacäo) da Lei brasüeira de Directrizes e Bases da Educacäo Nacionál: Art. i." A educacäo nacionál, inspirada nos prindpios de liberdadc e nos ideais de solidariedade humana, tem pot rim: a) a compreensäo dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadäo, do Estado, da família e dos demais gľupos que compöem a comunidade; b) o respeito ä dignidade e äs liberdades fundamentals do hörnern; c) o fortalecimento da unidade nacionál e da solidariedade internacionál; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua parti-cipacäo na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utiližat as possibilidades e vcncer as dificuldades do meio; /) a preservacäo e expansäo do pätrimónio cultural; g) a condenacäo a qualquer tratamento desigual por motivo de con-víccäo filosóŕica, polltica ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raca. Valor melódico dos sinais pausais. Dissemos que a vírgula, o ponto e o ponto-e-vírgula marcam sobretudo — e näo exclusivamente — a pausa. No cqrrer do nosso estudo, ressaltámos até algumas das suas características melódicas. É o momento de sintetizá-las: a) o pONTo corresponde sempre ä final descendente de um grupo fónico; b) a vírgula assinala que a voz ŕica em suspenso, ä espera de que o periodo se complete; c) o ponto-e-vírgula denota em geral uma debil inflexäo suspcn-siva, suíiciente, no entanto, para indicar que o periodo näo está concluído, SINAIS QUE MARCAM SOBRETUDO A MELÓDIA Os dois pontos. Os dois pontos servem para marcar, na escrita, urna sensível suspensäo da voz na melódia de urna frase näo concluída. Empregam-se, pois, para anunciar: pontuacäo 43 5 i.o) uma citacao (geralmente depois de verbo ou expressao que signi-fique di%er, responder, pergimtar e smonimos): Clemente voltou para dizer: — Nao enxerguei ninguem, camarada. Era bicho. (Fernando Namora, NM, nz.) z.°) uma enumeracao explicativa: Nao fosse ele, outros seriam: pajens, gente de guerra, vactios de estala-gens, andejos das estradas. (Coelho Netto, OS, I, 1420.) j.°) um esclarecimento, uma sintese ou uma consequencia do que foi enunciado: E a fehcidade traduz-se por isto: criarem-se hiibitos. (Augusto Abelaira, NC, 154.) Nao era desgosto: era cansaco e vergonha. (Cochat Osorio, CV, 178.) Observacao: Depois do vocativo que encabeca cartas, rerjuerimentos, oflcios, etc., cos-turaa-se colocar dois pontos, vfrgula ou ponto, havendo escritores que, no caso, dispensam qualquer pontuacao. Assim: Prezado senhor: Prezado senhor, Prezado senhor. Prezado senhor Seňdo o vocativo iniciál emitido com entoa^äo suspensiva, deve ser acom-panhado, preferentemente, de dois pontos ou de vírgula, sinais denoradores daquele tipo de inflexäo. O ponto de interrogacäo. 1. É o sinal que se usa no hrn de qualquer interrogacäo directa, ainda que a pergunta näo exija resposta: Estará surdo? Estará a tentar irritar-me? (Sttau Monteiro, APJ, ioi.) 2, Nos casos em que a pergunta envolve dúvida, costuma-sc fazcr xcguir de reticěncias o ponto de interrogacäo: — Entäo?... que foi isso?.., a comadre?... (Attur Azevedo, CFM, 86.) 4j6 BREVE GRAMÄTICA DO PORTUGUÉS-CONTEMPORANEQ j / P0NTUACA0_ 3. Nas pergiintas que denotam surpresa, ou naquelas que näo tôni ciidcrefo nem resposta, empregam-se por vezeš combinados o ponto de interrogacäo e o ponto de exclama5äo: — Ah, é a-senhora?! Pois entre, a casa é sua... (Aníbal M. Machado, HR, 86.) — Quem é que näo conhece Coimbra?!!! (Branquinho da Fonseca, B, 18.) 437 Empregam-se em casos muito variados. Assim: a) para indicar que o narrador ou a personagem interrompe uma ideia que come$ou a exprimir, e passa a consideracôes acessórias: Pe$a-lhe a sua felicidade, que eu näo fa$o outra cousa... Uma vez que vocé näo pode ser padre, e prefere as leis... As leis säo belas, sem desfazet na teológia, que é melhor que tudo, como a vida eclesiástica é a mais šanta... Por que näo há de ir estudar leis fora daqui? (Machado de Assis, OC, I, 757.) Observacäo: O ponto de interrogacäo nunca se usa no íim de uma interrogajäo indirecta. Como šalientámos no Capítulo 7, a interrogacäo indirecta tcrrrána com entoacäo descendente, exigindo, por isso, um ponto. Comparcm-se: — Quem chegou? [= interrogacäo directa] — Diga-me quem chegou. [ = interrogacäo indirecta] O ponto de exelamaeäo. E o sinal que se pospöe a qualquer enunciado de entoa$äo exclama-tiva. Emprega-se, pois, normalmente: a) depois de interjeicöcs ou de termos equivalentes, como os voca-tivos intensivos, as apöstrofes: — Credo em cruzl gemeu Raimundo assombrado. (Graciliano Ramos, AOH, 147.) Que formosura täo de corte, de paläcio, de aristocracia 1 Que pureza c correccäo de linhasl Que fidalguia de olhar e falarl (Camilo Castelo Branco, OS, I, 87.) b) depois de um imperativo: — Agarreml — Gentes, agarreml agarreml (Castro Soromenho, V, 113.) Ab reticěncias. i. As reticěncias marcam uma interrupcäo da frase e, consequente-mente, a suspensäo da sua melódia. b) para marcar suspensôes provocadas por hesitagäo, surpresa, dúvida ou timidez, ou para assinalar certas inflexôes de natureza emocional de quem fala: — Homem, vé lá... Pensa bem no que vais fazer...—avisou o prior. — A Raquel é boa rapariga... Mas a geracäo... Olha, eu näo digo nada. Resolve tu... (Miguel Torga, NCM, 142.) —^Há que tempos eu näo choraval... Pois me vieram lágrimas..., deva-garinho, como gateando, subiram... tremiam sobre as pestanas, luziam um tempinho... e ainda quentes, no arranco do galope, lá caíam elas na polvadeira da estráda, como um pingo ďágua perdido, que nem mosca nem formiga daria com elel... (Simôes Lopes Neto, CGLS, 128.) ť) para indicar que a ideia que se pretende exprimir näo se completa com o térrnino gramatical da frase, e que deve ser suprida com a imagiriacäo do leitor: Duas horas te esperei. Duas mais te esperaria. Se gostas de rnim näo sei... Algum dia há de ser dia... (Fernando Pessoa, QGT, n.o 98.) 2. Empregam-se também as reticéncias para reproduzir, nos diálo-gos, näo uma suspensäo do tom da voz, mas o corte da frase de um personagem pela interferencia da fala de outto: — A senhora ia dizer que... — Nada... nada...—atalhou a mulher. (Aníbal M. Machado, HR, 15.) 438 B EE VE GRAMÁTICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORANEQ pONTUACAO 439 3. Usam-se ainda as reticéncias antes de urna palavra ou de uma expressäo que se quer realgar: E as Pedras... essas... pisa-as toda a gentel... (Florbela Espanca, S, 30.) 4. Näo se devem confundir as rettcénci as, que tém valor estilístico apreciável, com os trés pontos que se empregam, como simples sinal tipo-gráfico, para indicar que foram suprimidas palavras no initio, no meio, ou no ŕim de uma citagäo Modernamente, para evitar qualquer dúvida, tende a generalizar-se o uso de quatro pontos para marcar tais supressôes, ficando os trés pontos como sinal exclusivo das reticéncias. As aspas. i. Emptcgam-se principalmente: a) no início e no fim de uma citagäo para distingui-la do resto do contexto: Definiu César toda a figúra da ambígäo quando disse aquelas palavras: «Antes.o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma». (Fernando Pessoa, ĽD, 100.) b) para fazer sobressair termos ou expressôes, geralmente näo peculia-res a linguagem normal de quem escreve (estrangeirisrnos, arcaísmos, neo-logismos, vulgarismos, etc.): Era melhor que fosse «clown». (Érico Verlssimo, C, 227.) c) para acentuar o valor significativo de uma palavra ou expressäo: A palavra «nordeste» é hoje uma palavra desfigurada pela expressäo «obras do Nordeste» que quer dizer: «obras contra as secas». E quase näo sugere senäo as secas. (Gilberto Freyre, OE, 611.) d) para realcar ironicamente uma palavra ou uma expressäo: — Está o mundo pcrdido, até a Judite já tcm «arranjinho»! (Almada Ncgreiros, OC, II, 135.) e) para indicar o tírulo de uma obra: BeUnha acaba de ler «Elzira, a Morta Virgerrw. (Érico Veríssimo, C, 197.) Observacao: No emprego das aspas, cumpre atender a estes preceitos, aprovados nos acordos ortográficos Iuso-brasileiros: «Quando a pausa coincide com o final da expressao ou sentenca que se acha entre aspas, coloca-se o compe-tente sinal de pontuag5o depois delas, se encerram apenas uma parte da pro-posicSo; quando, porém, as aspas abrangem todo ó periodo, sentenca, frase ou expressao, a respectiva notagao fica abrangida por elas.» Os paténteses. 1. Empregam-se os parénteses para intercalar num texto qualquer indicacao acessória. Seja, por exemplo: d) uma explicagao dada ou uma circunstáncia mencionada inciden-temente: É lá (no café) que se encontra a estalajadeira. (José Cardoso Pires, D, 51.) /;) uma reflexao, um comentário a margem do que se afirma: A minha guerta, como a dos que tinham partido (se é que tinham), come-gava agora. (Jorge de Sena, SF, 295.) c) uma nota emotional, expressa geralmente em forma exclamativa ou interrogat'va: Havia a escola, que era azul e tinba Um mestre mau, de assustador pigarro... (Meu Deusl que é isto? que emogao a minha Quando estas coisas tao singelas narro?) (B. Lopes, H, 6j.) 2. Usam-se também os parénteses para isolar oragóes intercaiadas com verbos declarativos: Quem és (lhe perguntei com grande abalo) Fantasma a quem odeio e a quem amo? (Antero de Quental, SC, 79.) o que se faz mais frequentemente por mcio de vítgulas ou de travessóes. it 440 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO pONTUACÄO Observacäo: 441 A posigäo dos parénteses com referencia aos sinais pausais obedece á seguintc norma constante dos acordos ortograficos luso-brasileiros: «Quando uma pausa coincide com o inlcio da construcio parentética, o respectívo sinal de pontua-cäo deve ficar depois dos parenteses; mas, estando a proposicäo ou a frase inteira encerrada pelos parenteses, dentro deles sc pôe a competente notacäo», Os colcheteB. Os colchetes säo uma variedade de parénteses, mas de uso restrito. Empregam-se: a) quando numa transcricäo de texto alheio, o autor intercala observances próprias, como nesta nota de Sousa da Silveira a um passo de Casi-rniro de Abreu: Entenda-se, pois: «Obrigado! obrigado [pelo teu canto em que] tu res-pondes [á minha pergunta sobre o porvir (versos 11-12) e me acenas para o futuro (versos 14 e 85), embora o que eu pcrcebo no horizonte me parcca apenas urna nuvem (verso ij)].» (Casirniro de Abreu, Q, 374,) b) quando se quer isolar urna construcäo internamente j á separada por parénteses, á semelhanca do que ocorre com os segundos colchetes do exempío anterior; c) quando se deseja incluit, numa referencia bibliográfica, indkacäo que náo conste da obra citada, como neste exemplo: Dom Casmurro. Por Machado de Assis, da Academia Brasileira. H. Garnier, Liyreiro-Editor — 71, Rua Moreira César, 71, Rio de Janeiro — ô, Rue des Saínts-Péres, 6 — Paris {1899]. Obsetvacäo': O uso dos colchetes é frequente nos trabalhos de linguística e de filológia. Como dissemos no Capítulo 3, coloca-se entre colchetes urna palavra trans-crita foneticamente. Por exemplo: mundo ['müdu] fugir [fu'3Ír] Tambdm entre colchetes se colocam, nas edicöes crídcas, os elementos que devem ser introduzidos no texto, encerrando-se entre parénteses os que dele devem ser eliminados. Para indlcar, nos diálogos, a mudanga de interlocutor: — Quem é o seu tabeliao, Dámaso? — O Nunes, na Rua do Ooro... Por qué? ■—Ohi nadá. (Eca de Queirós, O, H, 388.) 2.0) Para isolar, mim contexto, palavras ou frases. Neste caso, em que desempenha funcao analoga á dos parénteses, usa-se geralmente o tra-vessao duplo: — A Igreja — atalhou o Bispo — nío pode deshtferessar-sc do problema social. (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 36.) Mas náo é raro o emprego de um só travessao para destacar, enfaticamente, a parte final de um enunciado: Um povo é tanto mais elevado quanto mais se interessa pelas coisas inú-teis — a filosofia e a arte. (Gilberto Amado, TL, 16.) O travessao. Emprega-se principalmente em dois casos: 22. Nocöes de versificacäo NO9ÔESDE VERSIFICACÄO 443 3. O RiTMO é o elemento essenciai do verso, pois este caracteriza-se em ultima anáJise, por ser o periodo ritmico que se agrupa em series numa com-posilo poética. Quando tais periodos ritmicos apresentam o mesmo numero de silabas em todo o poema, a versificacäo diz-se regular. Se näo há igual-dade silábka entre eles, a versificacäo é irregular ou livre. ESTRUTURA DO VERSO Ritmo e verso. 1. Examinemos estes versos do poeta Cruz e Sousa: Vai, Peregtino do caminho santo, Faz da tu'alma lämpada do cego, Iluminando, pego sobre pego, As invisiveis amplidSes do Pranto. Verificamos que as silabas tonkas, marcadas com negrita, se repetem depois de uma, duas ou tres silabas ätonas. Esta sucessäo de silabas fortes e fracas, com intervalos reguläres, ou näo muito espacados (para que a rei-teracäo possa ser esperada e sentida pelo nosso ouvido), e uma fönte de prazer a que chamamos ritmo. 2. A contiguidade de silabas tonicas prejudica o ritmo e, consequen-temente, desagrada ao ouvido. Por isso, a silaba anterior ä ultima tönica e necessariamente ätona. Täo forte e esta exigencia ritmica que, mesmo sendo tonka no vocäbulo isolado, ela se atonifica pela posicäo. Por exem-plo, nestes dissilabos de Casimiro de Abreu: Tu ontem Na danga, Que cansa, Voavas... o pronome tu, monossilabo tonico, sofre uma deflexäo de pronüncia, no primeiro verso, por ser obrigatoriamente acentuado, como silaba final do verso, o 0 de ontem, que lhe estä contiguo. Os iimites do verso. I. A forma do verso é determinada pela combinagäo de silabas, acen-tos e pausas, contando-se as suas silabas até a ultima acentuada. Assim, tém igualmente dez silabas métricas os seguintes versos de Augusto dos Arnos: A es ca la dos la ti dos an ces trais No tem po de meu Pai, sob es tes ga lhos Sob a for ma de mí ni mas ca man dulas i z 3 4 5 6 7 8 9 10 poique näo se leva em.conta a átona final da palavra galhos, nem tampouco as duas finais da palavra camdndulas. 2. O numero de unidades silábicas que se contém num verso, desde o seu início até a ultima silaba tónica, é indicado por compostos gregos em que entta a forma do numeral seguida do elemento -sílabo: monossí- LABO, DISSfLAJBO, trissílabo, tetrassílabo, pentassílabo, hexassílabo, heptassílabo, octossílabo, eneassílabo, decassílabo, hendecassílabo e dodecassílabo. Vejamos agora como se contam estas unidades silábicas. As ligacSeB ritmicas. A melodia do verso exige que as palavras venham ligadas umas as outras mais estreitamente do que na prosa. Sinalefa, elisao e erase. Compatemos estes versos de Olavo Bilac, todos com dez silabas metricas: 444 breve gramatica do pqrtuguěs c0ntbmporanbq NOCOES DE VERSIFICACÄO 445 Che guci. Che gas te. Vi nhas fa ti ga (da) E tiis te, e tris te e fa ti ga doeu vi (aha.) Ti nhas a al ma de so nhos po vo a (da,) Eaal ma de so nhos po vo a da eu ti (nha...) i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Verificamos que no ptimeito haverá sempře, de qualquer forma que o leiamos, dez sílabas até a ultima tonka. Nele a fronteira das sílabas é coin-cidente, seja numa leitura pausada ou acelerada, seja na prosa ou no verso, seja, enfim, numa emissäo isolada das palavtas, se abandonarmos a ultima sílaba átona. Já näo sucede o mesmo com os trés outtos versos, que só atingém aquela medida pela leitura numa só siiaba da vogal final de uma palavra com a vogal iniciál da palavra seguinte. Assim: a) no segundo verso, temos de juntar numa só emissäo de voz o e final de triste e a vogal da conjuncäo aditiva (duas vezes), bem como o o de fatigado e o ditongo do pronome eu; b) no terceiro verso, ligamos o artigo a ä vogal iniciál de alma; e) no quarto, finalmente, fundimos numa só siiaba as vogais da conjuncäo e, do artigo a, e a iniciál do substantivo alma; e, também, a vogal final do adjectivo povoada e o ditongo constituído pelo pronome eu. Na leitura destes versos, šentimos que há trés solucôes para obtermos a contracgäo numa sílaba de duas ou mais vogais em contacto: i.a) A primeira vogal pode perder a sua autonómia silábica e tornar-se urna semivogal, que passa a formar ditongo com a vogal seguinte. É o que se observa, por exemplo, na pronúncia: fa / ti / ga / dwew / [= fatigado eu] Dizemos que, neste caso, há sinalefa. z.a) A primeira vogal pode desaparecer na pronúncia dianie de uma vogal de natureza diversa. Por exemplo, na pronúncia: fa. / ti / ga / dew / [= fatigada eu] A cste fenómeno chamamos elisäo. r-se 3») A primeira vogal pode ser igual ä seguinte e com ela fundi numa só. É o que se dá, por exemplo, com a emissäo: Ti / nhas / al / ma / [= Tinhas a alma] Neste caso, verifica-se o que denominamos c rase. Ectlipse. - Examinámos até aqui encontros vocálicos intervocabulares em que a primeira vogal é oral. Mas pode ocorrer que ela seja nasal; e, neste caso, a regra é manter-se a autonómia silábica, isto é, o hiato das vogais em contacto.' Há, porém, certos encontros de vogal nasal com vogal (oral ou nasal) que na propria lingua corrente costumam ser resolvidos em ditongo, ou mesmo em crase. é o que se observa, por exemplo, em ligacôes como ce'a, c'a, c'o (= com a, com o), que a propria ortografia oficial admite que se esereva sem apostrofo, com os elementos totalmente aglutinados (coa, ca, co). A esta fusäo vocálica, facilitada pela perda da ressonáncia nasal da primeira vogal, dá-se o nome de ectlipse. Vejam-se os exemplos ocorrentes nestes versos de Casimiro de Abreu: ■—Jesus 1 Como eras bonita, Co'aa trancas presas na fita, Co'as flores no samburá! Observacao: Como nos mostram os exemplos citados, para que um encontro voca-Iico mtervocabular possa ser pronunciado em uma so siiaba, & nccessdrio que a sua primeira vogal seja atona, ou capaz dc atonificar-se pela prdclise. bendo tonica, a solucao normal e o hiato com a vogal seguinte, seja csta tdnica ou dtona. ' O hiato intervocabular. Quando num encontro concorrem duas vogais tonkas, elas näo podem fundir-se numa sílaba nem no verso, nem na prosa. Mesmo se houver um enfraquecimento relativo da primeira vogal, como notámos no dissilabo de Casimiro dc Abreu: 446 breve gramática do portugués contemporaneo NQCÖES DE VERSIFICACÄQ 447 Tu / on / (tem), tal enfraquecimento näo evitará, normalmente, a separacäo silábica das vogais. Excluindo-se, porém, este caso em que o hiato é inevitável, e outros excepcionais, em que ele vale como recurso de estilo, pode-se afirmar que, desde o século xvi, os poetas da lingua manifestaram uma decidida e definitiva opcäo por solucionarem com sinalefa ou elisäo os encontros vocá-licos intervocabulares, a fim de conseguir para os seus versos uma estrutura mais contínua, mais fluente, mais plastica. A medida das palavras. Relativamente ä contagem das sílabas no interior das palavras, temos de considerar, em primeiro piano, os factores de ordem gramatical. Como nos ensina a gramática, também no verso os ditongos e os tritongos se contain em uma síiaba e as vogais em hiato, em sílabas dife-rentes. Assim, nestes hendecassílabos de Castro Alves: A tar de mor ri al dos ra mos, das las (cas.) Das pe dm, do 11 quen, das he ras, dos car (dos,) As tre vas ras tei ras como ven tre por ter (ra) Sa í am quais ne gros, cru eis le 0 par (dos.) i 2 3 4 5 6 7 8 5> 10 íl a palavra rasteiras conta-se em třes sílabas e quais, em uma. Esse numero de sílabas elas o teräo igualmente na prosa, ou, mesmo, se tomadas isola-damente. O ditongo [ej], que se contém na primeira, e o tritongo [waj], que apresenta a segunda, säo, pois, as pronůncias normais desses encontros vocálicos em todas as formas da lingua. Por outro lado, as palavras morria e saiam, em que há os hiatos / i-a / e / a-í-a /, seräo sempře emitidas em trés sílabas, näo importando o tipo de enunciado no qual aparecam. Sinérese. Nas palavras que acabamos de exarninar há perfeita coincidéncia da sflaba gramatical com a sílaba métrica. Mas esta concordáncia pode näo existir, porque, em certas condicôes, o verso permite a criacäo de novos ditongos, ou melhor, admite que se ditonguem vogais que, na pronúncia normal, formám hiato. Por exemplo, a palavra magoado é tetrassílabo cía lingua corrente, já que apresenta o encontro -od-, ptonunciado de regra com as" vogais em hiato. Também no verso costumam ser assim emitidas, como nos mostra este heptassílabo de Augusto Gii: (do) Täo ma g° a do, täo Jin i 2 3 4 5 6 7 Mas 0 seu 0 lhar ma goa i 2 3 4 5 6 7 Nao é raro, porém, o emprego desta palavra no verso como trissi-labo com a transformacäo do hiato /o-a/ no ditongo [J]. Compare-se ao que citimos anteriormente este heptassílabo de Augusto (do) Esta passagem de um hiato a ditongo, por exigéncia métrica, chama- -se 5INERESE. Diérese. Menos frequente do que a sinerese é o fenómeno inverso, ou seja a transŕbrmagäo de um ditongo normal em hiato. A esse alongamento silá-bico dá-se o nomc de diérese. Exemplifiquemos : Na lingua viva de nossos dias a palavra saudade é um trissílabo (sau-da-de), e como tal se emprega comumente quer na versifica$äo erudita, quer na versificacäo popular. Mas, uma vez por outra, ainda aparece usadá no verso com a antiga pronúncia tetrassilábica (sa-u-da-de). Assim, nesta quadrinha: A auséncia tem uma filha, Que se chama saudade: Eu sustento mäe c filha, Bern contra minha vontade. Crase, aférese, sincopc e apocope. Além dos que estudámos, outros processos tém sido udlizados pojr nossos poetas para reduzir ou ampliar o numero de sílabas de uma pala- 448 BREVE GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORÄNEO nocoes de VERSIFICA5ÄO vra, segundo as necessidades métticas. Entre os processos de redugäo voca-bular, devem ser conhecidos: 1.0) A c rase, ou seja a fusäo de duas vogais ídénticas numa só, o que o'corre, por exémplo, com os dois -aa- contiguos de Saara neste decas-sllabo de Castro Alves: Quan J do eu pas so no Saa ra a mor ta lha 3 4 5 6 7 8 9 10 (da) 2.0) A aférese, ou seja a supressäo de sons no inicio da palavra. É o caso do emprego da forma 'stamos por estamos neste decassílabo de Castro Alves: (to) 'Sta mos em pie no mar... Do fir ma men i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 3.0) A srNcoPE, ou seja a supressäo de sons no meio da palavra, o que sucede na pronuncia esp'rancas por esperancas neste decassílabo de Casimiro de Abreu: (sas) Es p'ran Sas al tas... Ei- las já täo ra i 2 3 4 5 6 7 8 9 10 4.0) A apocope, ou seja a supressäo de sons no lim da paiavra. Sirva de exemplo o emprego de mdrmor pela forma mármore neste decassílabo de Castro Alves: (ra) Ar tis ta — cor ta 0 már mor de Car ra i 2 3 4 í 6 7 8 9 10 A ce8ura e a pausa final. i. O periodo rítmico formado pelo verso termina sempře numa pausa, que o delimita. Esta pausa pode consistir numa interrupcäo mais ou menos longa da cadeia falada, conforme assinale o final de verso, de estrofe, ou do proprio poema, caso em que é absoluta. Pode ser ela brevissima, ou, mesmo, näo passar de um simples abaixamento da voz nos pontos de sepa-racäo dos versos, mas näo pode faltar. Omiti-la é retirar o sinal derermina-dor da extensäo e unidade dos perlodos ritmicos em que se cstrutura o poema. 449 2. A cesura é um descanso da voz no interior do verso. Ocorre prin-cipalmente nos versos longos, que ficam por ela divididos em grupos fónt-cos, como dissemos no Capitulo 7. Comparem-se estes exemplos de Olavo Bilac: Cheguei. // Chegaste. // Vinhas fatigada... E um dia assiml // de um sol assiml // E assim a esfera... Despencando os rosais, // sacudindo o arvoredo... Quando o verso apresenta apenas uma cesura, os dois grupos fóni-cos por ela formados recebem o nome de hemistíquios (= metades do verso), embora nem sempře contenham o mesmo numero de sílabas. Acentue-se, ainda, que, ao contrario da pausa fdmal do verso, a cesura que recaia entre duas vogais nao impede que elas se ditonguem ou, até, se fundam pela erase. Cavalgamento («enjambement»). 1. Dissemos que o verso finaliza sempře com uma pausa ou com uma deflexäo da voz que, ainda que breve, deve ser suficientemente percebida como o sinal característico do térrnino de um periodo rítmico. Geralmente a pausa final do verso coincide com uma pausa existente, ou possível, na estrutura sintáctica. É o que observamos nestes decassílabos do soneto Nel mesgp del cam min..., de Olavo Bilac: ChegueL Chegaste. Vinhas fatigada / E triste, e triste e fatígado eu vinha. / Tinhas a alma de sonhos povoada, / E a alma de sonhos povoada eu tinha... / 2. Näo raro, no entanto, os poetas servem-se de um recurso estills-tico, de alto efeito quando usado comedidamente, recurso este que consiste em terminar o verso em discordäncia flagrante com a síntaxe, pela separacáo de palavras estreitamente unidas num grupo fónico. As palavras desloca-das para o verso seguinte adquirem, com isso, um realee extmordinário, como vemos neste passo do mesmo soneto de Bilac: E paramos de súbito na estráda Da vida: longos anos, preša ä minha A tua mäo, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. 45° breve gramáttca do portugués contemporaneo nocöes de versificacäo 451 A esta biparticäo do grupo fónico pela suspensao inesperada da voz em seu interior e pelo relevo do segundo elemento, ansiosamente esperado pelo ouvinte, dá-se o nome de cavalgamento ou, na designacäo francesa, enjambement. TIPOS DE VERSO Os versos tradicionais. Embora näo faltem exemplos de versos de treze e mais silabas desde a poesia dos trovadores galego-pörtugueses, podemos considerar o dode-cassilabo o verso mais longo normalmente empregado pelos poetas da lingua antes da eclosäo dos movimentos modernistas em Portugal e no Brasil. Monossilabos. Os versos de uma silaba säo de uso raro. Geralmente aparecem combi-nados com outros maiores para obtencäo de certos efeitos sonoros. De Cassiano Ricardo säo estes monossilabos, agrupados em disticos: Rua torta. Lua morta. Tua porta. Dissilabos. Como os monossilabos, os versos de duas silabas näo säo frequentes. Tambem se empregam, de regra, em estrofes polimetricas para obtencäo de efeitos expressivos. Com dissilabos compos Casimiro de Abreu o seu harmonioso poema A Valsa: Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco ^—^ Senti! TrissilaboB. Com versos de tres silabas se ßzeram algüns poemas nas literaturas de lingua portuguesa, mas os trissílabos costumam scr mais usados cm estrofes compostas, geralmente combinados com heptassílabos. Alem do acento principal na 3.» sílaba, podem os trissílabos apresen-tar ou nao um acento secundário na i.a síkba: Sempře viva... Que padece... Tetrassílabos. Podem apresentar trés cadéncias, que documentamos com versos do poema A Sua, de Antonio Botto: a) acentuacáo na z.a e na 4_a silaba (mais comum): Na noite negra b) acentuacáo na i.a e na 4.a sílaba: Gente perdida , í) acentuacáo apenas na 4.° sílaba: Nos coracSea Como verso auxiliar, o tetrassílabo é usado de preferéncia em com-binacao com o heptassílabo e com o decassílabo. Pentassílabos, Desde a época trovadoresca, o pentassilabo, ou verso de redondilha menor, tem sido usado nas quatro cadéncias possíveis no idioma, aqui docu-mentadas com versos de Joáo de Deus: a) acentuacáo na 2.a e na 5,a sílaba (mais comum): Bonina do vale b) acentuacáo na i.a, na 3.11 e na 5-a sílaba: Luz dos olhos meua! ť) acentuacáo na j.'em 5-a sílaba: Ao romper da aurora d) acentuacáo na i.a e na j.a sílaba: Pérola do mar BREVE GRAMÁTICA DO PORTDGUES contemp0ráne0 HexassllaboB. O verso de seis sílabas teve certa voga na poesia trovadotesca. Depois caiu em desuso, para ressurgir no seculo xvi em combinacoes com o decas-sfiíABO HERorco, razao por que também se denomina heróicO quebrado. Readquiriu posteriormente a sua autonomia e, hoje, tem largo emprego entre os nossos poetas. Pode apresentar as seguintes cadéncias, que documentamos com versos do poema Verguntas, de Carlos Drummorid de Andrade: a) acentuacao na 2.a, na 4.» e na 6.» silaba: Ou desse mesmo enigma b) acentuacao na 2.» e na 6.a silaba: Propícios a naufřágio f) acentuacao na 4.* e na 6.a silaba: De me inclinar aflito d) acentuacao na 1,» na 4.» e na 6.a silaba: Desse calado irreal e) acentuacao na i.a, na 3.» e na 6.a silaba: ^ Magras xeses, caminhos /) acentuacao na 3.a e na 6.* silaba: Do primciro retrato Heptassilabos. O verso de sete sílabas ou de redondilha maior foi sempře o verso popular, por exceléncia, das literaturas de lingua portuguesa e espanhola. Verso básico da poesia popular, desde os trovadores medievais aos moder-nos cantadores do Nordeste brasileiro, o heptassílabo nunca foi desprezado pelos poetas cultos, que dele se serviram por vezes em poemas de alta inda-gacáo filosófka. O heptassílabo é usado em oito movimentos rítmicos, que passamos a documentar ™->m excmplos colbidos na obra de José Régio: J NOCÔES DE VERSIFICACÄO +j ? a) ritmo alternante de sílaba forte e fraca, ou seja acentuacao na i,a na 3.11, na 5a e na 7.11 sílaba: Velha, grande, tosca e bela. b) variante do tipo anterior, com faita de acentuacao na 1.* sílaba: O luar no mar cspraia c) variante do primeiro tipo, sem acentuacao na j.a sílaba: Sínto os olhos a turvar ď) variante também do primeiro tipo, sem acentuacao na i.a e na 5.a sílaba: Na amutada dum veleiro e) acentuacao na 4.» e na y* silaba: Que me diria, afinal, f) variante do tipo precedente, com acentuacao também na 2.a sílaba: Nas negras noitcs de inverno g) variante do tipo e, com acentuacao também na i.a sílaba: Choupos transidos de mágoa h) acentuacao na a.a, na j.a e na 7.a sílaba: Da banda de lá do rio A outra cadéncia possível dentro das peculiaridades fonéticas do idioma — o heptassílabo com acentuacao na i.a, na 5.» c na 7,a sílaba —, por sua raridade, näo deve agradar ao ouvido dos poetas. Veja-sc este exemplo, colhido num poema de Cecilia Meireles: Sobre o comprimento do ar Octossílabos. Eis os seus movimentos rítmicos, documentados na prática dc Alphon- 1 454 BREVE ..^tTCA^OCTCTte CONTEMPORANEO NOCOES DE VERSIFICACAO 45 5 sus de Guimaiaens: a) ritmo akemante de sílaba fraca e forte, isto é, acentuacao na 2.», na 4-a, na 6.a e na 8.a sílaba: Baixava lento. A noite vinna. b) variante do tipo anterior, sem acentuacao na 6.a silaba: Especctos cheios de esperanca. <•) variante do mesmo tipo, sem acentuacao na 2.a sílaba, mas podendo ter ou näo a i.a sílaba acentuada: No campanátio, ao sol incerto Bašta, talvez, a cova enorme d) variante também do primeiro tipo, com acentuacao interna apenas na 4-a sílaba, ou na i.a e na 4.*: O campanário do deserto Cheio de lúgubre mistério ŕ) variante ainda do primeiro tipo, sem acentuacao na 4.» sílaba: Paramos de tepeme ä porta /) acentuacao na i.a, na y.a, na j.3 e na 8.a sílaba: Era tarde. O sol no poente g) variante do tipo anterior, sem acentuacao na i.a sílaba: Com fadigas, suores e pranto //) variante do mesmo tipo, sem acentuacao na j.a sílaba: Quando o Jubileu se aproxima i) acentuagäo na 2.a, na j.a e na 8.a sílaba: Em ondas o bašto cabelo forte: J) acentuacao na j.., na 6 a e na 8a podendo tet a i.- sílaba também Entrevados de muitos anos Junto dcBtc caixäo informe Eneassílabos. Há dois tipos de versos de nove sílabas, ambos com raizes antigas na literatura portuguesa: O eneassílabo anapéstico, que apresenta acentuacao na 3,» na 6.a e na o.a sílaba e, por sua cadéncia uniforme e pausada, se tem pres-tado a composites de hinos patrióticos e de poemas cuja expressividade ressalta da absoluta regularidade rítmica. Comparem-se estes versos do Hino ä Bandeira (letra de Olavo Bilac): Contemplando o teu vulto sagtado, Compreendemos o nosso dever; E o Brasil, por seus filhos amado, Poderoso e feliz há-de ser. 2.0) O eneassílabo com acento interno fundamental na 4.» sílaba, que, por exigéncia idiomática, recebe forcosamente um outro na 6.a ou na 7a silaba. Seus movimentos rítmicos, säo, pois, os seguintes, documentados com exemplos colhidos no Só de Antonio Nobre: a) acentuacao na 4.», na 6.a e na 9.* sílaba, podendo ter a i.a ou a 2.a sílaba também forte: O que no Mundo cá o esperava Adeusl ó Lua, Lua dos Meses, Lua dos Mares, ora por nos!,.. b) acentuacao na 4.*, na 7.a e na 9.*, com a possibilidade de ser a i.a ou a 2.a também acentuada: Adeus! Que estranha Visäo é aqucla Que vem andando por Bobre o mar? Todos exclamara de mSos pata ela, Decassilabos. é longa e complexa a história do decassílabo nas literaturas de lingua portuguesa. Em sua estrutura mais antiga, possuía acento interno fundamental na 4.a sílaba, assemelhando-se, portanto, ao verso primitivo da épica francesa. Cedo, porém, apareceram outros tipos de decassílabo. Desenvolveu-se uma forma, na qual a acentuacao interna, que por vezeš rccaía também na 6.tt sílaba, vcio a basear-se essencialmente nela. E, posteriormente, com a dissolucáo do esquema iniciál, surgiram ainda novas formas: os decassí- 456 BREVE GRAMATI CA DO POKTUGUftS CQNTEMPQRÁNEO NOCOES DE VERSIFICACÄO labos com acentuagao interna fundamental na 5-a e, mais raramente, na j.a silaba. Eram essas as formas conhecidas do verso de dez silabas, quando, em principios do seculo xvi, por influencia italiana, se fixaram os dois tipos, que iriam predominar ate" os dias de hoje nas literaturas de lingua portuguesa. Sao eles: a) o DECASSfLABo chamado heroico, acentuado fundamentalmente na 6.a e na io.a silaba, mas com possibilidades de ter acentuagoes secunda-rias na 8.a e numa das quatro primeiras silabas: As minhas maos magritas, afiladas, Tao brancas como a agua da nascente, Lembram palidas rosas entornadas Dum regago de Infanta do Oriente. (Florbeia Espanca) b) o decassilabo chamado sAfico, que apresenta acentuagao na 4.», na 8.a e na io.a silaba, podendo, naturalmente, ter a i.a ou a 2.a tambem fortes: Quando eu te fujo e me desvio cauto Da Iuz de fogo que te cerca, oh! bela, Contigo dizes, suspirando araores «—Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!» (Casimiro de Abreu) Mas os antigos ritmos nao se perderam. Mesmo os poetas do periodo classico nao os olvidaram totalmente. Foram, porem, os simbolistas e os modernistas que souberam reabilita-los, raostrando os apreciaveis rnovi-mentos melddicos que se podem obter num poema com o emprego do decassilabo em suas variadas cadencias, Destas formas renovadas merecem referenda especial: a) o DECASSfLABo acentuado na 4.°, na 7.a e na io.a silaba, comumcntc chamado verso de gaita galega, mas de longa tradigao tambem na poe-sia italiana e espanhola: Ja vai florir o pomar das macieiras... (Camilo Pessanha) b) o DECASSfLABo com acentuagao na j.a, na y.a e na io.a silaba: Primavcra que durou urn momcnto... (Camilo Pessanha) c) o DECASSfLABo com acentuagao na j.a, na 7.a (ou na 8 a) e na io,a silaba, forma que costumava assumir o antigo verso de arte-maior e 457 cadencia frequente do decassilabo trances: Ao meu coraeäo um peso de ferro Eu hei de prender na volta do mar. (Camilo Pessanha) Hendecassilabos. O hendecassilabo foi muito usado pelos nossos poetas romänticos numa cadencia sempre uniforme, ou seja com acentuagao na z.a, na j.a, na 8.a e na u.a silaba: Nas horas caladas das noites d'estio Sentado sozinho c'oa face na mäo, Eu choro e solugo por quem me chamava — «Oh filho querido do meu coraeäo!»— (Casimiro de Abreu) Este tipo de hendecassilabo nada mais 6 do que a simples restauragäo da forma por que se apresentava com mais frequencia o verso de arte--maior, o verso longo, de quatro acentos, que servia aos poetas peninsulares em suas composigöes graves e solenes ate principios do seculo xvi, quando comegou a ser eclipsado pelo decassilabo de origem italiana. No nosso seculo tem havido tentadvas isoladas de busca de novos ritmos para o hendecassilabo, tentadvas de pouca ou nenhuma repercussäo no meio literario. Dodecassílabos. O dodecassílabo é mais conhecido por verso alexandrino, deno-rninagáo que tem gerado numerosos equlvocos, principalmente pelo facto de existirem, ainda hoje, dois tipos de alexandrino: o alexandrino Frances (de doze silabas) e o alexandrino espanhol (de treze silabas), este ultimo muito pouco culdvado pelos poetas de nossa lingua. O alexandrino Frances apresenta dois tipos ritmicamentc bem dis-tintos: o clXssico e o romAntico. O alexandrino chamado clássico tem a cesura no meio do verso, que fica assim dividido em dois hemistíquios de partes iguais (6 + 6). Daí rcsulta ser acentuado na 6.» e na i2.a sílaba, como se vé destes exemplos de Augusto de Lima: Nessas noites de luz // mais belas do que a aurora, As errantes viaocs // das almas peregrinas Vao voando a cantar // pela amplidao afora... 4J8 breve gramatica do portugués contemporaneo nocöes de versificacäo 459 Os románticos franceses näo desdenharam do clássico ritmo binário (6 4- 6), nem do seu submúltiplo, o tetrámetro (3 + 3 + 3 + 3), mas dcram énfase a uma forma pouco usadá pelos clásskos, o alexandrino de ritmo ternário (4 -f 4 -f- 4), em que a cesura deixa de coincidir com o hemistíquio. A este tipo de dodecassíJabo se dá o nome de trímetro, ou de alexandrino romäntico. Leia-se, por exemplo, este verso de Camilo Pessanha: Adormecei. Näo suspireis. Näo respireis, Saliente-se por fím que os poetas da nossa lingua tém obedecido com certo rigor a duas normas na juntura dos hemistíquios dos alexandrinos: a) só empregar palavra grave no final do primeiro hemistíquio se o segundo hemistíquio comegar por vogal, a fim de garantir a íntegridade do verso pela sinérese das duas vogais em contacto, como nos mostra este verso de Amadeu Amaral: Ora, erespa, referve; // ora é um cristal sem ruga! b) nunca usar palavra esdrúxula no final do primeiro hemistíquio. O verso livre. O verso livre, que foi posto em prática pelo grande poeta norte--americano Walt Whitman na obra Folbas de Erpa (Leaves of Grass j 1855), veio a dominar na poetka dos simbolistas de lingua francesa: Gustave Kahn, Jules Laforgue, Emile Verhaeren, Francis- Vielé-Griffin, Henri de Régnier, Jean Moréas e tantos outros. Gustave Kalin, poeta e principal teorizador do verso livre, proeurou estabelecer-lhe os princípios, que podem ser assim resumidos: a) o verso deve possuir sua existencia propria e interior consubstan-ciada numa coerente unidade semántka e rítmka; b) a unidade do verso será entäo definida como o fragmento mais eurto possível em que haja uma pausa da voz e uma conclusäo de sentido; c) a estrofe näo terá mais um desenho preestabelecido, mas será con-dicionada pelo pensamento ou pelo sentimento; d) a inversäo e o cavalgamento sä« reeursos que devem ser banidos do verso. Tais prineipios se consubstanciam, por exemplo, na Ode maritima, de Fernando Pessoa, como nos mostra este passo: Ah, seja como for, seja por onde for, partirl Largar por al fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar, Ir para Longe, ir para Fora, para a Dištancia Abstracta, Indefinidamertte, pelas noites misteriosas e fundas, Levado, como a poeira, plos' ventos, plos vendavais I Ir, ir, ir, ir de vez! Mas, como -bem salienta Henri Morier, näo podemos dizer que exista a priori uma técnica uniforme do verso livre 1. Cada poeta procura forjar o seu proprio instrumento, näo sendo raro o mesmo autor ensaiar vátias técnicas, como documenta a obra dos principals poetas modemistas Portugueses e brasilekos. Advirta-se, por fim, que um verso só pode ser cónsiderado livre den-tro de certos tipos de estrutura poemátka, estrutura que representa sempre uma organizaeäo interactiva. «A linha só é unidade poetka se há poema. É o poema que faz o verso livre, e näo o verso livre que faz o poema. Exac-tamente como nos versos metricos»2. A RÍMA i. Lendo esta quadrinha popular: Tantp limäo, tanta lima, Tanta silva, tanta amora, Tanta menina bonita... Meu pai sem ter uma nora! verificamos que: d) o i.° e o 3.0 verso apresentam uma identidade de vogais a partir da ultima vogal tónica: i-a (/i//;a-Zw;i/a); b) o 2.0 e o 4.0 verso apresentam uma correspondéncia de sons finais ainda mais perfeita, pois, a partir da última vogal tónica, se igualam todos os fonemas (vogais e consoantes): -ora (amora. — «ora). 1 Dietionmire dl poétiqne et de rbéloriqm, 2." cd Paris P TI F io-m r. ,,„..,„.■ O*** *< «*» Ubn tyíboiL, 3 vols. GcnĽ, Presses ÖrnicS 1982, p. ľoT1 MCSCh0nnÍC- CrítÍqm * ry"""'! ""'^Po'm hhtoríque ét Imlage, Paris, Verdier, 460 „»mm GRAMATICA PO PORTOGUBS CONTEMPORAneO NOCÖES DE VERSIFICACÄQ 2 Esta identidade ou semelhanca de sons em lugares determinados dos versos é o que se cháma rima. Se a correspondéncta de sons e com-oLn a r ma dilse soante, coNSOANTE ou, simplesmente, consonancia. řS conformidade apenas da vogal tónica, ou das vogais a partit da tonica, a rima d«iomina-se to ante, assonante ou, simplesmente, assonancia. A rima e o acento. ser: Quanto ä posicäo a) agudas: do acento tónico, as rimas, como as palavtas, podem Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomar, Que no céu os anjos regam com luar... (Guerra Junqueiro) b) GRAVES: Calcou as sand Alias, tocou-se de notes, Vestiu-se de Nossa. Senhora das Dores. (Antonio Nobre) c) ESDRÜXULAS: No ar lento fumam gomas aromiticas, Brilham as navetas, brilham as idmaticas. (Eugenio de Castro) As rimas agudas sSo tambem chamadas rimas mascuunas; e as graves, rimas femininas. Rima perfeita e rima imperfeita. x. A rima 6 uma coincidencia de sons, nao de letras, Por exemplo, ha rima soante perfeita nestes versos de Alphonsus de Guimaraens: Ceu puro que o Sol trouxe Clato de norte a suL O tcu olhar 6 docc, Negro assim, qual sc foBsc Ihtcitamcntc azul. ____461 tanto entre sul e a^ul, como entire as formas trouxe, does e fosse, que apresentam a mesma terminaeäo gtafada de tres maneiras diferentes. 2. Mas nem sempře há identidade absoluta entre os sons dispostos em rima, quer soante, quer toante. Algumas discordáncias tém sido mesmo largamente toleradas attavés dos tempos. Entre os casos de rima imperfeita consagrados pelo uso, cabe mencionar: a) o das vogais acentuadas e c 0 abertas com fechadas, prática iniciada por Gil Vicente, no século xvi, e adoptada desde entäo pelos poetas da lingua: Quern disse á estrela o caminho Que ela há de seguir no céu? A fabiicar o seu niaho Como é que a ave aprendeu? (Almeida Garrett) b) o de rima de vogal oral com vogal nasal: De que ele, o sol, inunda O mar, quando se pöe, Imagem moribunda De um coraeäo que foi... (Jo3o de Deus) Rima pobre e rima lica. 1. Consideram-se pobres as rimas soantes feitas com terminacoes muito correntes no idioma, principalmente as de palavras da mesma classe gramatical. é o caso, por exemplo, dos infinitivos em -ar, dos participios em -ado, dos gerúndios em -audo, dos dirrdnutivos em -inho, dos advérbios em -mente, dos adjectivos em -ante, dos substantivos em -So e -e%a, das pala-vras primitivas com os scus derivados por prefixacáo: amor-desamor, ver--rever, etc. 2. Sao ricas as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diversa ou de finais pouco frequentes, como nestes versos de Alphonsus de Guimaraens: O teu olhar, Senhora, é a estrela da alva Que entre alfombras de nuvens irradia: Salmo de amor, canto de allvio, c salva Dc palmas a saudar a luz do dia... breve gramática do portugués contemporáneo Alguns metricistas preferem reservat a qualificagäo ricas para as rimas com consoante de apoio, do tipo dia-irradia, sombra-assombra. 3. Denominam-se raras ou preciosas as rimas excepcionais, difi-ceis de encontrar. Foram procuradas sobretudo pelos poetas parnasianos e simbolistas. Veja-se, por exemplo, esta rima de cälix com digitalis, empre-gada nas Horas, de Eugenio de Castro: Oh os seus oihos! suas unhas em amendoa! e em cälix O seu colo! e os seus dedos de digitalis! — 4. Por vezes, o poeta procura a raridade näo sö no campo fonetico, mas tambem no morfolögico. Do mesmo Eugenio de Castro säo estes versos, em que sc dispöem em rima urn substantivo com uma forma verbo- nocöes DE VERSIPICACAQ -pronominal. Eis que diz uma: — Meus chapins descalca-mos, Unge meus pes brancos com cheirosos bálsamos. Combinacöes de rimas. 1. Os versos de um poema podem ser monorrimos, isto é, poderu terminar todos pela mesma consonäncia ou pela mesma assonáncia. É o que sucede comumente com os versos dos romances tradicionais, em que uma só assonáncia liga um numero indefinido deles. 2. Mas, em geral, as combinacöes rimicas processam-se dentro de uni-dades menores do poema —as estrokes—, cujos principais tipos estuda-remos adiante. Nas estrofes, as disposicöes mais frequentes de rimas säo as seguintes: a) rimas emparelhadas, quando se sucedem duas a duas: Ele deixava atrás tanta recordacao! E o pesar, a saudade are no proprio chäo, Debaixo dos seus pes, parece que gemia, Levantava-se 0 sol, vinha rompendo o dia, E o bosque, a selva, o campo, a pradaria em flor Vestiam-sc de luz, como um peito de amor. (Alberto de Oliveira) _____ vi b) rimas altern Adas, quando, de um lado, rimam os versos Imparcs (o i.° com o 3.0, etc.); de outro, os versos pares (o z.° com o 4.0, etc.): Tu es um beijo materno! Tu es um riso infantil, Sol entre as nuvens de inverno, Rosa entre as flores de abril! (Joäo de Deus) c) rimas opostas ou Interpoladas, quando o i.° verso rima com o 4.0, e o z.° com o 3.0: Saudadel Olhar de minha mäe rezando E o pranto lento deslizando em £io... Saudadel Amor da minha terra... O rio Cantigas de äguas ciaras soiueando. (Da Costa e Silva) d) rimas encadeadas, quando o i.'° verso rima com o 3.0; o z.° com o 4,0 e com o 6.°; 0 5.0 com o 7.0 e o t>.° e assim por diante, como nes-tes versos do poema Uma criatura, de Machado de Assis: Sei de uma criatura antiga e formidävel, Que a si mesma devora os membros e as entranhas Com a sofreguidäo da föme insaciavel. Habita juntamente os vales e as montanhas E no mar, que se rasga, ä maneira de abismo, Espreguica-se toda em convulsöes estranhas, Traz impresso na fronte o obscuro despotismo. Cada olhar que despedc, acerbo e mavioso, Parece uma expansäo de amor e de egoismo. Indicacäo esquemática das rimas. esquema das kimas emp!reThadTs ?™T ^ ^ ^ Assil» ° nadas é ababab, etc.; o daTn^as opn° das älteres, aba-beb-ede, etc P°STAS' ahba' 0 das "mas encadea- 4<54 breve gramática DO PORTOGÜBS contemporáneo Versos sem rima. Elemento importantíssimo na poesia dos povos románticos, a rima serve principalmente a dois fins. É uma sonoridade, uma musicalidade que, introduzida no poema, satisfaz o ouvido. E é, por outro lado, uma forma de marcar enfaticamente o término do periodo rítmico formado pelo verso. Mas näo constitui, como se tern dito, um elemento intrinseco, essencial do verso, tanto assim que era desusada na métrica latina de carácter culto e näo faltam äs literaturas modernas numerosos e admiráveis poemas com-postos de versos b&ancos, o que vale dizer — sem rima. ESTROFACÄO Estrofe (do grego strophe «volta», «conversäo») e um agrupamento rítmico formado de dois ou mais versos que, em geral, se combinam pela rima. Quanto maior o numero de versos, tanto maior a possibilidade de variar a distxibuicäo das rimas. Eis os principals tipos de estrofe: O dfstico. É a menor estrofe, constituida de dois versos que rimam entre si, pelo esquema: aa-bb-cc, etc.: Filho meu, de nome escrito da rninh'alma no Infiaito. Escrito a estrelas e sangue no farol da lua langue... NOCÔES DE VERSIFICAC^^ A quadra. (Cruz e Sousa) O terceto. E a estrofe de tres versos, hoje mais usada na composicäo do soneto, da qual trataremos adiante. Os poemas estruturados em tercetos seguiram largo tempo o modelo celebre da Divina ComSdia, de Dante —a terza rima—, sequencia de tercetos decassiläbicos em rima encadeada (esquema: aba-bcb-cdc). O segundo verso do ultimo terceto devia limar com urn verso final, rematc do poema ou do canto (esquema: x%x-%). Posteriormente, compuseram-se tercetos com outras combinacoes rimicas (aab-ccb, abc-abc, etc.), ou mesmo sem rima. É a estrofe de quatro versos, os quais, na poesia culta, se apresentam geralmente em rima alternada (abab) ou oposta (abba), como vimos ante-riormente. Na literatúra popular, onde vale por um verdadeiro poema de forma fixa, a quadra é, por via de regra, constituida de heptassilabos com uma só rima, do 2.0 com o 4.0 versb. Exemplo: O pouco que Deus nos deu 1 Cabe numa mäo fechada; O pouco com Deus é muito, O muito sem Deus é nada. A quintilha. É a estrofe de cinco versos. Em suas formas comuns, apresenta a com-binacäo de duas rimas dispostas nas series abbab, abaab e ababa. Da última veja-se este exemplo de Fernando Pessoa: O tempo que cu hei sonhado Quanto tempo foi de vída í Ah, quanto do meu passado Foi só a vida mentída De um futuro imaginado! (Fernando Pessoa) A sextilha. É a estrofe de seis versos. Nela, a disposicäo das rimas pode variar muito. Gregório de Matos, por exemplo, usava o esquema aabbcc. Nas Sextí-Ihas de Frei Antäo, Goncalves Dias rimou apenas os versos pares (abebdb). E assim fizeram outros poetas romanticos, os quais preferiam, no entanto, o esquema aabccb. Poetas contemporäneos continuam a empregar a sextilha nas suas múltiplas combinacôes rímicas, algumas muito harmoniosas, como o tipo ababab: Por água brava ou sercna Deixamos nosso cantar, Vendo a voz como é pcquena Sobre o comprimento do ar. Se alguém ouvir temos pena: Só cantamos para o mar... (Cecília Meireles) 466 breve gramática do portuguěs contemporáneq A estrofe de sete versos. Frequente na poesia trovadoresca de carácter culto, a estrofe de sete versos teve menor fortuna a partir do Renascimento. Aparece em composicöes ligeiras de poetas do periodo classic«, gernl-mente no csquema abbaacc, com« nesta volta de uma cantiga de Camňcs: Leva na cabeca o pote, o těsto nas mäos de prata, cinta de fina escarlata, sainho de chamalote: traz a vasquinha de cott, mais branca que neve pura; vai fermosa, e nao segura. Poetas posteriores usaram outras combinaeóes rímicas, entre as quais podem ser citadas as seguintes: aabcbbc (Alvares de Azevedo); abababa, aabcddc, abbcdde (Casimiro de Abreu); abacbac (Vicente de Carvalho); aabaaea, abbacbt (Fernando Pessoa); abedejd, ababeac, abedbec, abcabbc (Cecilia Meireles). A oitava. Da estrofe de oito versos liá um tipo tradicionalmente fixo, a oitava heróica, e outro métrica e rimicamente variável, a oitava iírica. A oitava heróica é formada de oito decassílabos, os seis primeiros com rima alternada e os dois .Ultimos com rima emparelhada (esquema: abababec). Foi a estrofe empregada por Cnmóes em Os Lmíadas: De Formiäo, filósofo elegante, Vereis como Anibal escarnecia, Quando das artes bélicas diante Dele com larga voz tratava e lia. A disciplina militar přestaňte Näo se aprende, senhor, na fantasia Sonhando, imaginando ou estudando, Senäo vendo, txatando e pelejando. (Lus., X, 153.) A oitava lír.ica admite grande variedade de combinaeóes rímicas. Por vezeš é uma simples justaposicäo de duas quadras. Assim nos csquc-mas ababeded e abbaedde. Para lhe dar estrutura mais orgänica, procuram os poctas ligar pela rima um verso da primeira metade com um verso da segunda, gcralmcnte o 4.0 com o 8.° Este, por exemplo, o caso dos esquemas abbeadde, ababceb c aaabeceb. NOgOES DE VERSIFICACÄO 467 Os poetas romanticos preferiam, nao raro, variantcs desses tipos com falta de rima no i.° e no 3.0 verso, ou no i.° e no 5.0, ou em todos os versos impares. Nao faltam tambem oitavas liricas em que os versos, se distribuem por duas rimas, como nesta de Gomes Leal, que obedece ao esquema abaaabab: Pegou no copo, com graca, E brindou, em lingua estranha... E a rainha, a vista baca, Como a um punhal que a trespassa, Encheu de prantos a taca, E o seu lenco de Bretanha... Chorou baiso, ao ouvir, com graca, Esse brinde, em lingua estranha! A estrofe de nove versos. Embora tenha raizes antigas na literatura portuguesa, a estrofe de nove versos foi sempre pouco usada. Dela se serviu, por exemplo, Machado de Assis, no poema Visto (esquema aabcdbcdb). Mais recentemente, empregou-a Fernando Pessoa em 0 mostrengo (esquema aabaacded), cuja primeira estrofe é a seguinte: O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; A roda da nau voou trés vezes. Voou trés vezes a chiar, E disse: «Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que nao desvendo, Mcus tectos ncgros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo, «E1-Rei D. joao Segundo!» A décima. Em geral, a décima č a simples justaposicao de uma quadra e uma sextidha, ou de duas quintilhas. No periodo cíássico, a décima em heptas-sUabos era usada para poesias ligeiras: cantigas, glosas, vilancetes e espar-sas. Sá dc Miranda empregou-a nos csqucmas abbaeddced c abaabedded; Camoes, na forma abaabedecd. E Gregório dé Matos, que dela se serviu largamente nas sátiras, preferia o tipo abbaaaddc, dc que nos dá mostra a seguinte, endc- 4<58 BREVE GRAmATICA DO PORTUGUÉS CONTEMPORÁNEO recada «a um livreiro que havia comido um canteiro de alfaces com vinagre»: Levou um livreiro a dente De alface todo um canteiro, E comeu, sendo livreiro, Descncadcrnadamente. Porém, eu digo que mente A quern disso o quer tachar;. Antes é para notar Que trabalhou como um mouxo, Pois meter folhas no couro Também é encadernar. A esse tipo de décima de setissilabos, agrupados no esqaema rimico abbaaccddc, dá-se o nome de espinela, por ser atribuida a sua invencao ao poeta espanhol Vicente Espinel. A partir do romantismo, novos tipos de décima těm aparecido, em geral com intercalacor; de versos brancos. Estrofes simples e compostas. Chamam-se simples as estrofes formadas de versos de urna só medida, e compostas as que combinam versos maiores com menores. 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