Modo e modalidade A.C.M. Lopes, Semântica, 2007 Modalidade versus Modo •consideramos ser conveniente ver a modalidade e o modo como dois conceitos diferentes: enquanto a modalidade corresponde a numerosas atitudes ou visões do falante perante o conteúdo do enunciado, o modo representa a forma morfológica concreta do verbo. Esta vê-se influenciada, ao mesmo tempo, pelo já várias vezes aludido valor modal do antecedente da frase subordinante, cuja tipologia se prende com os princípios e diferentes classificações da modalidade, como se poderá observar de seguida. • Modalidade •o conceito de modalidade abrange uma série de valores modais baseados na consideração das seguintes categorias: •modalidade como categoria gramatical que exprime a atitude do falante relativamente ao conteúdo proposicional do seu enunciado. Esta é a visão essencialmente herdada da tradição greco-latina e pode ser encontrada, por exemplo, refletida nas ideias de Joan Bybee e do próprio Charles Bally; •modalidade enquanto categoria que qualifica a factualidade de um enunciado. Esta é a perceção de, por exemplo, Frank Palmer; •modalidade enquanto categoria que se estabelece sobre a oposição semântica entre possibilidade e necessidade, segundo a conceção herdada da lógica modal. Esta ideia foi adotada por Oliveira; •modalidade enquanto expressão da subjetividade do falante, conceito identificado nos trabalhos de, por exemplo, Lyons ou Palmer. • BALLY, Charles (1965) CULIOLI, Antoine (1968) FAIRCLOUGH, Norman (1994) FAIRCLOUGH, Norman (1994) •modalidade relacional •presente sempre que a manifestação de autoridade acontece em relação a outros e que se aproxima do conceito lógico de modalidade deôntica; • •modalidade expressiva •existente quando a autoridade é exercida em relação à expressão de uma realidade, podendo esta ser verdadeira ou provável. Identifica-se com a visão lógico-formal da modalidade epistémica PALMER, Frank Robert (1986), •MODALIDADE PROPOSICIONAL •modalidade epistémica •modalidade especulativa •modalidade dedutiva •modalidade assuntiva (věcnost) •evidencialidade •evidencialidade reportada •evidencialidade sensorial (smyslové vnímání) • •MODALIDADE EVENTIVA •modalidade deôntica •permissiva •de obrigação •compromissiva •modalidade dinâmica •habilidade •volitiva • SIMPSON, Paul (1993) CAMPOS, Dinael Corrêa (2004) • •Dez anos mais tarde surge a tipologia de modalidade estabelecida por CAMPOS (2004), que é de inspiração culioliana e abrange três tipos: a modalidade epistémica, deôntica e apreciativa, a serem definidas a seguir: • CAMPOS, Dinael Corrêa (2004) •a modalidade epistémica estabelece uma relação compromissiva entre o falante e a existência/inexistência ou veracidade/inveracidade do enunciado, conceitos que podem ser expressos numa uma escala de valores assertivos, i.e. desde a certeza até uma possibilidade, de acordo com o nível de conhecimento, de crença e de consequente grau de aceitação de um enunciado como verdadeiro. •a modalidade deôntica, que corresponde a uma vontade do falante em alterar o estado de coisas, conforme os valores da interdição, da permissão ou da obrigatoriedade através dos atos ilocutórios diretivos, diretos ou indiretos, segundo os vetores da interdição, da permissão ou da obrigatoriedade, com representação linguística. •a modalidade apreciativa verifica-se quando o falante realiza juízos de valor relativamente a uma determinada situação ou estado, • 4 valores nucleares (OLIVEIRA, 2003, p. 248) •modalidade interna ao participante, que remete para a capacidade, necessidade e afins, associados diretamente a um argumento da oração (p.ex. «O Paulo já não pode passar sem exerício físico, o Paulo tem de fazer exercício físico para se sentir bem disposto.»); • •modalidade externa aos participante implica os casos em que capacidade e necessidade se associam às circunstâncias externas (p.ex: «Tem de fazer mais calor para estas árvore frutificar»); • • modalidade deôntica significa que o participante é obrigado a envolver-se na situação por causa das circunstâncias externas Para além da necessidade deôntica (obrigação e proibição), no entanto, existe também a possibilidade deôntica (o valor de permissão e de autorização); •modalidade epistémica- está relacionada com o domínio de certeza e incerteza. • • exemplificação •Valores epistémicos • • •Comprometimento do falante relativamente à verdade do que diz. O falante apresenta a situação como um facto. • •O Rui entrou em Medicina. •O Rui não entrou em Medicina. • •É verdade que o Rui entrou/não entrou em Medicina. •Sei que o Rui entrou/não entrou em Medicina • •Valores epistémicos de probabilidade ou possibilidade • • •O falante não dispõe de informação suficiente para expressar a certeza. • •O Rui deve estar doente. •A pasta pode estar na Faculdade. •Creio que a pasta está na Faculdade. • •Expressões como é provável, é possível ou futuro (no sentido modal) •Ele estará neste momento a faze a oral. •Vs. •Ele está neste momento a fazer a oral. exemplificação •Valores deônticos • • •Traduzem obrigação e permissão. O Falante que anuncia o juízo dèôntico manifesta um estatuto de autoridade e controlo sobre o ser alvo. • •Come a sopa! obrigação •Não entres! •Deves estar mais atento! •O Luís tem de ser operado o mais rapidamente possível. •O Rui pode ter alta a qualquer momento • (ambivalência: epistémico – é possível que ou deôntico é permitido que..) •Podes fumar na varanda. permissão • •Valores apreciativos • • •O falante exprime a sua atitude de avaliação subjetiva relativamente à situação de que fala (desejável, não desejável, positiva ou negativa. • • Lamento que tenhas desperdiçado o teu tempo com bagatelas. •Deploro a tua atitude arrogante. •Acho mal não haver eleições antecipadas. •È bom que te vás embora amanhã. •Felizmente, chegámos à final.