POLISSEMIA E CONTEXTO: O PROBLEMA DURO DA DIFERENCIA^ÄO DE SENTIDOS Augusto Soares da Silva (Universidade Católica Portuguesa, Braga) ABSTRACT: From all the issues related to the phenomenon of polysemy, meaning differentiation is probably the hardest problem and also the one with greater theoretical and methodological implications. An attempt to solve the problem would be to discard the widespread reified conception of linguistic meaning and interpret the flexibility and contextuality of meaning correctly. It is necessary to push the meaning to the top, i.e. to the level of schematic meanings and of other factors of semantic coherence, but also to push it to the bottom, i.e. to the level of particular contextual uses. The verb deixar 'to leave, to let' and the discourse marker pronto 'ready, quick' illustrate these two semantic paths. This way, we can avoid both the myth of "essential meanings" and the myth of "purely contextual uses". KEYWORDS: lexical semantics; meaning differentiation; network; polysemy; vagueness 1. Introdu^äo Aparentemente simples, a polissemia é um conceito intrinsecamente problemático em toda a linha, e os seus problemas confundem-se com pro-blemas de semäntica. A definicäo geralmente aceite de associacäo de dois ou mais sentidos relacionados numa única forma linguística encerra complica-das questöes práticas, metodológicas e teóricas. Os problemas da polissemia situam-se a dois níveis: definigäo de polissemia e estrutura da categoria polissémica (para uma elucidacäo e discussäo destes problemas, ver Silva, 2006). Os problemas de definicäo dizem respeito a duas distincöes: por um lado, a distincäo entre polissemia e monossemia ou vagueza, cuja questäo básica é a da diferenciacäo de sentidos, e, por outro lado, a distincäo entre polissemia e homonímia, que envolve a questäo da relacäo entre os diferen-tes sentidos. Os problemas estruturais envolvem quer os aspectos qualitatives quer os aspectos quantitativos da estrutura do complexo polissémico: os primeiros dizem respeito aos tipos de relacöes entre sentidos e os segundos těm a ver com as diferencas de saliéncia entre os sentidos e outros efeitos de prototipicidade. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 5, Edi^öes Colibri/CLUNL, Lisboa, 2010, pp. 353-367 354 Augusto Soares da Silva O primeiro destes problemas, isto é, a questao da diferenciacáo de sen-tidos é provavelmente o mais complicado e o de maiores implicacoes teóri-cas e metodológicas. Os testes de diferenciacáo de sentidos propostos na literatura nao resolvem a questao. E as respostas teóricas mais elaboradas opoem-se entre posicoes mais minimalistas e monossemistas e posicoes mais maximalistas e polissemistas. Neste estudo, argumentaremos que o problema duro da diferenciacáo de sentidos nao pode ser resolvido á luz da generaliza-da concepcáo reificada do significado. E necessário reconhecer que o signi-ficado é um processo flexível e dinámico. Desde este ponto de vista fundamental, temos que assumir o compromisso de puxar o significado tanto para cima como para baixo e de admitir polissemia nem de mais nem de menos. Desta forma, evitaremos quer a falácia da generalidade ou o mito dos "signi-ficados essenciais" quer a falácia da polissemia infinita ou o mito dos "usos puramente contextuais" (independentes de quaisquer capacidades cogniti-vas). Nas duas seccoes seguintes, discutiremos a resposta monossemista e a resposta polissemista ao problema da diferenciacáo de sentidos e os testes diagnósticos de diferenciacáo de sentidos, mostrando as limitacoes daquelas respostas e a ineficácia destes testes. A seguir, formularemos hipóteses sobre o significado linguístico e as questoes definicional e estrutural da polissemia e assumiremos compromissos para a diferenciacáo possivel de sentidos. Finalmente, ilustraremos as hipóteses sobre o problema em análise com dois estudos de caso (desenvolvidos em Silva, 2006): o verbo deixar, exigindo que o significado sej a puxado para cima, em ordem a poderem encontrar-se os factores de coeréncia de um complexo polissémico; e o marcador discur-sivo pronto, obrigando a puxar o significado para baixo, de forma a poderem encontrar-se as suas várias funcoes pragmático-discursivas. 2. Quantos significados? Quando é que dois usos de uma palavra ou outra expressao constituem sentidos diferentes? Que critérios ou testes utilizar na determinacáo e delimi-tacáo dos sentidos de uma palavra? Como distinguir polissemia, de um lado, e monossemia, vagueza ou variacáo contextual, do outro? A que nivel de generalidade ou abstraccáo existe a polissemia? Quantos significados tern determinada palavra ou construcáo? Na literatura, encontram-se respostas diferentes a este problema duro da diferenciacáo de sentidos. As observacoes de Searle (1983: 145-148) sobre o verbo to open 'abrir' e as anotacoes de Lakoff (1987: 416) sobre o nome window 'janela' sao paradigmáticas a este propósito, já que representam duas abordagens radicalmente distintas. Para Searle, open a door 'abrir uma porta' e open a wound 'abrir uma ferida' (no contexto cirúrgico), embora impliquem diferentes "condicoes de verdade" (as coisas que tern que ser feitas para que se possam aplicar estas expressoes), pertencem a um mesmo valor semántico fixo e constante do Polissemia e contexto: o problema duro da diferencia^ao de sentidos 355 verbo to open, pelo que aquelas diferentes condicoes de verdade nao passam de distintas interpretacoes contextualizadas desse valor unico. Lakoff considera que break the window 'partir a janela', paint the window 'pintar a janela', open the window 'abrir a janela' e sit in the window 'estar a janela' designam diferentes tipos de entidades do nome window, constituindo evidencia de que a respectiva palavra possui distintos sentidos, embora relacionados, sendo assim uma palavra polissemica. Ora, quer a abordagem monossemista de Searle quer a abordagem polis-semista de Lakoff sao problematicas. Searle postula a existencia de signifi-cados essenciais, mas o possivel "significado essencial" de open - que Searle, incompreensivelmente, nao chega a definir - de, por exemplo, 'criar um buraco numa entidade atraves da separacao das suas partes', acabaria por ser nao distintivo, porque seria valido tambem para o verbo to cut 'cortar'. Lakoff tende a ver um sentido distinto sempre que se verificar uma diferenca na referenda de uma palavra, mas tal procedimento conduz a uma multipli-cacao exagerada de sentidos. Com efeito, e como criticamente observa Taylor (2006: 52-53), se open e «i-vezes polissemico e window e «2-vezes polissemico, entao open the window seria n\ x n2 polissemico e so com-preendido como resultado de um processo complexo de desambiguacao, o que manifestamente e contra-intuitivo. Na raiz destas duas abordagens e dos seus problemas estao duas hipote-ses sobre o significado das palavras (e outras expressoes), ambas questiona-veis: a hipotese tradicional do significado unitdrio generico e abstracto, sub-jacente a generalidade das descricoes semanticas e paradigmaticamente teo-rizada por Ruhl (1989), e a hipotese do significado multiplo tal como tern sido elaborada por alguns autores da Semantica Cognitiva, como Lakoff com o referido caso de window ou outros praticantes de uma "polissemia violen-ta" (Cuyckens & Zawada, 2001: xv). Tres ideias caracterizam a hipotese do significado unitdrio (ou do significado fundamental, essencial). Primeiro, as palavras sao fundamentalmente monossemicas e contextualmente polissemicas. Segundo, no lexico mental cada palavra nao tern mais do que um unico sentido e, por conseguinte, a polissemia e um epifenomeno. Terceiro, puxando o significado 'para cima', isto e, para um nivel de generalizafao e de abstracfao, encontraremos o tal "significado fundamental/essential", a tal definifao ideal, seguiremos a tra-jectoria do desenvolvimento cognitivo e da propria actividade cientifica. Mas ha outros tantos problemas nesta hipotese. Primeiro, os significados abstractos ou esquematicos podem tornar-se incontrolaveis, porque dificeis de interpretar e verificar a sua pertinencia, e muito poderosos, porque se podem aplicar a outras palavras. Segundo, a hipotese do significado unitario nao pode descurar, nao so a generalidade semasiologica ou requisito da generalidade maxima, como tambem e sobretudo a distintividade onomasio-logica ou requisito da especificidade minima, e ainda a relevancia psicologi-ca ou realidade da representafao mental. Terceiro, a hipotese do significado unitario pressupoe um preconceito monossemico, isto e, a ideia de que o abstracto e o melhor e a faldcia da generalidade, no sentido de que nao se 356 Augusto Soares da Silva pode fazer a equivaléncia entre a abstraccäo do linguista e a representacäo mental dos falantes. A hipótese do significado múltiplo fundamenta-se nas ideias da contex-tualidade e da continuidade do significado. Embora estas ideias sej am empi-ricamente comprováveis, podem conduzir a alguns exageros. Por um lado, se se privilegiar a trajectória de puxar o significado 'para baixo', corre-se tam-bém riscos: o da explosäo de sentidos, o de perder a 'estrutura' da categoria, o da falácia da polissemia infinita, alimentada pelo mito dos significados "puramente contextuais", isto é, independentes de quaisquer capacidades cognitivas. Por outro lado, embora as metáforas da continuidade sejam mais verdadeiras do que as metáforas da descontinuidade, daí näo se segue que näo haja limites a essa continuidade, o mesmo é dizer, que näo haja discricäo na linguagem e na cognicäo. Num estudo recente sobre o recorrente debate acerca da oposicäo discricäo vs. continuidade na linguagem, Langacker (2006) identifica vários mecanismos conceptuais de discretizacäo (metáforas constitutivas, respostas tudo-nada, pontos de referenda, emergéncia) e de continuizacäo (massivizacäo, pluralizacäo, esquematizacäo, bacias de atrac-cäo). Quer isto dizer que ä forca da flexibilidade se junta a forca da estabili-dade. Esta é, alias, a dupla face, o duplo efeito dos protótipos: adaptamos as categorias a novos contextos (flexibilidade) e interpretamos novas realidades com base no conhecimento já existente (estabilidade estrutural). 3. Testes de polissemia? Para a difícil tarefa de diferenciacäo de sentidos těm sido propostos, desde há quase meio século, vários testes diagnósticos: uns intuitiv os, como o teste lógico dos "valores-de-verdade" ou os testes linguísticos da identida-de semantica através da anáfora e da coordenacäo; outros analíticos, como o teste aristotélico da definicäo. Segundo o teste lógico dos "valores-de-verdade", proposto por Quine (1960), um item é polissémico se puder ser simultaneamente "verdadeiro" ou "falso" em relacäo a um mesmo referente. Por exemplo: a polissemia de café 'fruto do cafezeiro' e 'estabelecimento comercial onde se torna a respectiva bebida' pode ser comprovada assim: Delta é um café, e näo um café. Uma variacäo děste teste consiste em usar frases nas quais ambos os sentidos de um item podem ser verdadeiros mas näo redundantes. Por exemplo, Carlos mudou a sua posicäo, discutido por Cruse (1986), pode designar quer o lugar de Carlos na sala, quer o seu ponto de vista sobre determinado assunto. Os testes linguísticos baseiam-se em juizos de aceitabilidade e consis-tem em restricöes semänticas sobre frases com duas ocorréncias de um dado item em análise (uma das quais pode estar implicita ou subjacente): se a relacäo gramatical entre as duas ocorréncias exigir a sua identidade semantica, entäo a fräse resultante é sinal da polissemia desse item. E o chamado "teste da identidade", descrito por Zwicky & Sadock (1975), e inicialmente proposto por Lakoff (1970), sob a forma da construcäo and so. Assim, uma Polissemia e contexto: o problema duro da diferencia^ao de sentidos 357 frase como O Ze deixou o cafe, e o mesmofez o empregado so pode signifi-car que oZeeo empregado deixaram de tomar cafe, ou entao que tanto um como o outro safram do cafe ou abandonaram esse estabelecimento. Ela e pois inaceitavel numa leitura cruzada, designando cafe a 'bebida' e o seu anaforico o 'estabelecimento' (ou vice-versa); o que mostra que estes dois empregos representam dois significados distintos de cafe. Mas a frase Os graos que acabo de colher sao cafe, e igualmente o sao estes graos torrados mostra que 'graos do cafezeiro nao-tratados' e 'graos do cafezeiro torrados' constituem um caso, nao de polissemia, mas de vagueza. O criterio da definicao, informalmente apresentado por Aristoteles em Segundos Analiticos (II, xiii), diz que uma palavra possui mais do que um significado se para ela nao se puder encontrar uma definicao minimamente especifica que cubra toda a sua extensao, e que essa palavra possui tantos significados diferentes quantas as definicoes maximamente genericas neces-sarias para dar conta de toda a sua extensao. Por exemplo, 'graos do cafezeiro nao-tratados' e 'graos do cafezeiro torrados' nao representam duas definicoes, nem portanto dois sentidos diferentes de cafe, ja que esses valores podem ser subsumidos numa unica definicao - 'fruto do cafezeiro'. Todavia, e como foi demonstrado por Geeraerts (1993) e discutido tam-bem por Cruse (1995, 2000, 2004), estes testes sao inconsistentes, na medida em que conduzem, muitas vezes, a resultados contraditorios: o que e polissemia pelo teste logico pode ser vagueza pelo teste linguistico ou vice-versa, ou o que e polissemia pelos testes logico e linguistico pode ser vagueza pelo teste da definicao ou vice-versa. Por exemplo, e tomando o verbo deixar, o uso espacial de 'ir embora, retirar-se' (O Ze deixou a sala, quando ela entrou) e o funcional de 'abando-nar' (O Ze deixou a sua mulher/o emprego) representam dois sentidos diferentes ou duas especificacoes contextuais de um mesmo e unico sentido? Ora bem: o resultado do teste linguistico da anafora e a polissemia: uma frase como O Ze deixou o hospital as 12h e o seu medico fez o mesmo exige a identidade semantica das accoes do Ze e do seu medico (ou tanto um como o outro o que fizeram foi sair do hospital a essa hora, ou entao ambos abandonaram o cargo que ai ocupavam). E o mesmo e o resultado do teste logico: Retirar-se de junto de alguem e deixd-lo, mas nao e deixd-lo (isto e, nao e abandona-lo) mostra que deixar e simultaneamente verdadeiro e falso para o mesmo referente 'retirar-se'. Mas o resultado do teste linguistico da coorde-nafao pode ser a vagueza: O Ze deixou Coimbra e os estudos tambem pode ler-se como coordenando, sem zeugma, o sentido estritamente espacial e o sentido funcional. E o mesmo resultado obtem-se com o teste aristotelico da definifao: 'suspender activamente a interacfao' compreende estes dois usos e distingue-os dos usos de 'passividade' do sujeito de deixar. Tudo isto mostra que a distinfao entre polissemia e monossemia ou vagueza, de si legitima e necessaria, e instdvel, nao constitui uma dicotomia, mas antes um continuum (Geeraerts, 1993; Tuggy, 1993). Consequentemen-te, nao e possivel em muitos casos determinar exactamente quantos sentidos uma palavra tern. Mais ainda, a ideia de testes de diferenciafao de sentidos, 358 Augusto Soares da Silva em si legítima, será errada enquanto esses procedimentos forem tornados como testes de identificacäo de sentidos estáveis. Examinemos ainda duas tentativas de solucäo do problema: a teoria das facetas de Cruse (2004) e o modelo do léxico generativo e da coergäo de Pustejovsky (1995). Cruse explica a variacäo de livro em termos das facetas 'torno' e 'texto' ou componentes autónomos de um mesmo significado que só podem aparecer em contexto, mas säo relativamente independentes. E considera esta variacäo distinta da polissemia e da "simples variacäo contextual", sendo esta ultima "inteiramente dependente do contexto". Próximas da variacäo do tipo da polissemia, pelo seu grau de autonomia, as facetas dis-tinguem-se daquela, diz Cruse, porque concorrem para "a unidade de um conceito global". Mas este novo conceito de variacäo por facetas traz outras tantas questöes, täo problemáticas quanto as da polissemia: qual é o numero de facetas pertinentes para determinado conceito e qual é o seu grau de gene-ralidade? O linguista computacional Pustejovsky (1995) desenvolveu um modelo de léxico generativo que contém determinados mecanismos de geracäo do sentido das palavras, tais como a ligagäo selectiva, a co-composigäo e a coergäo de tipo. Säo as operacöes de coergäo que permitem que um único sentido de uma palavra possa adquirir diferentes leituras em diferentes con-textos. A coergäo de tipo permite a um predicado alterar o tipo do seu com-plemento sempre que necessário. Por exemplo, as expressöes ler um livro, escrever um livro, comprar um livro, imprimir um livro activam uma com-ponente semäntica diferente e, por coercäo, conduzem a uma interpretacäo particular do nome livro. Ler um livro coage o papel télico inerente a um livro; escrever um livro coage o papel agentivo; queimar o livro activa o papel constitutivo; e deixar cair o livro activa o papel formal. Todavia, o modelo de Pustejovsky acaba por revelar-se bastante pode-roso, no sentido de ser capaz de gerar coercöes que näo existem, e ao mesmo tempo bastante limitado, porque incapaz de gerar coercöes que efectivamen-te existem, incapaz de construir todo o conhecimento enciclopédico necessário para o bom uso do significado das palavras O problema do modelo de Pustejovsky e de todos aqueles que defendem a tese da regularidade da polissemia está no facto de a polissemia näo ser inteiramente predizível, justamente porque nela e no léxico em geral intervém princípios de conven-cionalidade e condicionamentos culturais e cognitivos. 4. Hipóteses e compromissos sobre polissemia A única via para sair děste impasse implica abandonar a generalizada concepcäo reificada do significado e interpretar correctamente a flexibilida-de e contextualidade do significado. Assim, saber quantos significados dis-tintos tem uma palavra ou outra expressäo é colocar mal a questäo. Em pri-meiro lugar, os significados näo säo entidades fixas e perfeitamente determi-náveis, mas processos flexíveis. Em vez de significados como coisas, o que Polissemia e contexto: o problema duro da diferencia^äo de sentidos 359 temos é o significado como um processo de criacäo de sentido. O significado näo é estático mas dinämico, näo é dado mas construído no conhecimento enciclopédico e configurado em feixes de conhecimento ou domínios, näo é platónico mas corporizado ("embodied") nas necessidades, nos interesses e nas experiéncias dos indivíduos e das culturas. E a flexibilidade inerente do significado que explica a instabilidade característica da polissemia, que faz com que homonímia, polissemia e monossemia/vagueza sej am trés regiöes sem fronteiras num continuum de diferenciacäo/similaridade de significado associado a uma mesma forma linguistica. Em segundo lugar, o conhecimento de uma lingua näo se faz através do domínio do dicionário ou léxico, contendo os significados das palavras, e de um compéndio de gramática, contendo as regras de combinacäo das palavras. A razäo é simples: há muita idiomaticidade numa lingua. Do mesmo modo, a aquisicäo de uma lingua näo se faz, lexicalmente, adquirindo um numero fixo de significados discretos e, gramatical e textualmente, combi-nando um dos significados adquiridos de uma palavra com um dos significados adquiridos de outra palavra. E antes um processo orientado de baixo para cima e conduzido pela experiéncia linguistica (Tomasello, 2003). Taylor (2006) propöe a substituicäo da metafora generativista do "dicionário + compéndio de gramática" pela metafora do "corpus mental". A ideia fundamental é a de que cada encontro com a linguagem deixa urn traco mental no corpus, compreendendo este portanto "tracos de memoria de encontros anteriores com a linguagem". O corpus mental é um 'multimedia' de tracos de memoria contendo informacäo fonológica, semäntico-pragmática e contextual, que se podem tornar mais fortes ou mais fracos, e em que há lugar tam-bém para generalizacöes na base de similaridades entre esses tracos. E o corpus tem o formato de 'hipertexto', em que cada entrada dá acesso a uma rede rica de outras unidades. Em terceiro lugar, temos que abandonar o princípio da composicionali-dade (estrita). O significado de uma expressäo complexa näo é simplesmente nem necessariamente a soma (funcäo composicional) dos significados das suas partes mais as regras de combinacäo que derivam directamente delas; isto é, uma estrutura pode apresentar características näo derivadas dos seus constituintes ou pode perder características que estes possuem. Para além do caso evidente das expressöes idiomáticas, uma construcäo comparativa como "o Zé é mais alto do que o António" implica "o António é mais baixo do que o Zé" e esta propriedade de inversäo näo é herdada de nenhuma das palavras destas frases, já que os adjectivos alto e baixo expressam uma relacäo de antonímia graduável (se a semäntica fosse completamente composicional, a implicacäo frásica séria graduável). Quer tudo isto dizer que näo se pode procurar o(s) significado(s) de uma palavra ou outra expressäo, mas os usos contextualizados dessa expressäo, o que inevitavelmente implica uma metodológia empírica, como o método do corpus. O significado está no uso linguístico e o corpus é o objecto mais natural de observacäo desse uso, sendo o desenvolvimento de méto- 360 Augusto Soares da Silva dos quantitativos e multivariacionais uma necessidade para uma análise con-sistente do corpus. E a prototipicidade ou categorizacäo com base em protótipos que está na origem desta flexibilidade do significado e da polissemia. Por sua vez, a prototipizacäo e a polissemizacäo säo a resposta a trés tendéncias funcionais do sistema cognitivo humano (Geeraerts, 1988): a densidade informativa, propiciando a formacäo de categorias com muita informacäo e pouco esforco cognitivo; & flexibilidade, tornando as categorias adaptáveis a novas condi-cöes ou realidades do mundo e a novas necessidades expressivas dos falan-tes; e a estabilidade estrutural, garantindo a permanéncia das categorias já formadas e a sua utilizacäo na apreensäo da mudanca. Sendo a polissemia um efeito da categorizacäo com base em protótipos, os vários sentidos de uma forma estäo organizados em rede. A Semäntica Cognitiva propöe dois modelos de descricäo dos sentidos de uma mesma forma: o modelo de rede radial, introduzido por Lakoff (1987), e o modelo de rede esquemática, desenvolvido por Langacker (1987). Ambos permitem descrever a estrutura baseada em protótipos da categoria polissémica e as relacöes metafóricas e metonimicas entre sentidos. O modelo radial descreve a categoria na forma de um centro do qual emanam novos usos: usos menos centrais säo extensöes do centro prototípico. O modelo esquemático acres-centa ao modelo radial a dimensäo taxonómica, pela qual se pode passar de um sentido mais específico a um sentido mais genérico. Desta forma, o modelo esquemático combina protótipos e esquemas. Os modelos em rede těm sido objecto de algumas criticas, questionando pormenores descritivos e a realidade psicológica das redes (Sandra & Rice, 1995; Rice, 2003). Todavia, a questäo essencial é a correcta interpretacäo e manipulacäo do modelo em rede. A metafora da rede torna-se inadequada se se entenderem os sentidos como ilhas bem delimitadas representando os únicos significados linguisticos que um item pode assumir. Alem disso, as redes näo säo bidimensionais (um centro prototípico e um conteúdo esquemático aos quais estäo ligados os diversos usos), mas multidimensionais, isto é, determinado sentido pode resultar da combinacäo de duas ou mais dimen-söes e, inversamente, uma dimensäo pode entrar em diferentes sentidos de um item. Ainda um outro aspecto da estrutura da categoria polissémica tem a ver com os mecanismos de mudanca semäntica e associacäo de sentidos. Säo mecanismos cognitivos que incluem a metafora, a metonímia, a especializa-cäo e a generalizacäo, mas também outros processos menos conhecidos, como a transformacäo de esquemas imagéticos (Johnson, 1987; Hampe, 2005) e a subjectificacäo (Langacker, 1999; Traugott & Dasher, 2002). Assumidas as hipóteses sobre o significado e a polissemia, torna-se necessário estabelecer um compromisso entre as duas abordagens antagóni-cas referidas na seccäo anterior, no sentido de se evitar tanto a falácia da generalidade ou o mito dos "significados essenciais" como a falácia da polissemia infinita ou o mito dos "usos puramente contextuais" (independentes de quaisquer capacidades cognitivas). Especificamente, a flexibilidade do signi- Polissemia e contexto: o problema duro da diferencia^ao de sentidos 361 ficado exige que este seja puxado tanto para cima como para baixo. Deve-mos puxar o significado para cima, no sentido de procurar o conteúdo esquemático e outros factores de coeréncia semántica de uma categoria, mas sem entender esse conteúdo esquemático como o significado essencial dessa categoria. Como esclarece Langacker (1987: 371), o esquema funciona, náo como 'gerador' de sentidos, mas como uma estrutura integrada que incorpo-ra a generalidade dos seus membros. Devemos também puxar o significado para baixo, no sentido de dar conta dos usos contextuais particulares, psico-logicamente (mais) 'reais', mas sem exagerar as diferencas de sentidos. Por outras palavras, o compromisso consiste em postular tao pouca polissemia quanto possível e tao muita polissemia quanto necessário. Evitar a polissemia quanto possível passa por reconhecer que as pequenas diferencas de significado se podem dever aos significados das palavras adjacentes e ao conhecimento geral. Tomemos uma categoria bem estudada em Semántica Cognitiva, designadamente a preposicáo over, e comparemos as expres-soes walk over a field, fly over the ocean e jump over the hall. Os diversos aspectos ligados á existéncia ou náo de contacto ou á forma rectilínea ou curva do percurso náo os devemos considerar como factores de polissemia, visto que decorrem daquilo que sabemos sobre as situacoes em causa: sabe-mos que passear envolve contacto, que voar náo envolve contacto e que tre-par envolve um percurso para cima e para baixo. Só precisamos entáo de admitir um único sentido para over, 'percurso que vai de um lado a outro', numa situacáo apropriada ao Trajector ou entidade movente, ao modo de movimento e ao Marco ou ponto de referenda. Um outro exemplo: a pala vra window, referida acima. A variabilidade referencial acima descrita deve entender-se em termos do fenómeno das zonas activas (Langacker 1990): diferentes zonas activas sáo implicadas em diferentes contextos, nomeada-mente o caixilho (pintar a janela), o vidro (partir a janela), o buraco na pare-de, etc. O significado de window ou janela náo é a soma das zonas activas (caixilhos, vidro, buraco, etc.), mas uma rede de conhecimento relativa á localizacáo típica, á funcáo típica e ao modo típico de construcáo. Pelo contrário, deve reconhecer-se polissemia quando os diferentes sentidos náo sáo predizíveis a partir dos sentidos de palavras adjacentes, nem do conhecimento geral. Tomando uma outra preposicáo, um dos sentidos de round é o de percurso definido pelo perímetro da entidade que funciona como ponto de referéncia ou Marco, como em walk round the lake e swim round the lake. Mas a leitura de go round the guests é geralmente a de percurso relativamente arbitrário (entre os convidados, indo de um a outro), e este sentido náo é predizível a partir do sentido anterior de seguir o perímetro. Taylor (2006: 57) acrescenta uma outra condicáo de polissemia: os diferentes sentidos náo sérem predizíveis a partir de processos gerais de polis-semizacáo. Por exemplo, escola, universidade ou museu designam tanto a instituicáo como o edifício, mas a palavra governo náo passa pelo processo de polissemizacáo daquelas, na medida em que é usada para designar apenas a instituicáo. Nestes casos, Taylor sugere que se pode reduzir a quantidade de polissemia, referindo o princípio de polissemizacáo e náo listando os 362 Augusto Soares da Silva respectivos sentidos separadamente, e que se deve assinalar a excepcäo ao processo de polissemizacäo na palavra governo. A proposta de Taylor é uma solucäo económica de representacäo da polissemia no léxico, mas torna-se contra-intuitiva se for tornáda no sentido de eliminar a respectiva polissemia. 5. Estudos de caso: puxando o significado para cima e para baixo Como üustracäo dos argumentos expostos anteriormente, apresentamos a seguir uma breve descricäo de duas categorias polissémicas: o verbo deixar e o marcador discursivo pronto (para uma análise detalhada destas e de outras categorias, ver Silva, 1999, 2003, 2006). O verbo deixar compreende dois grupos de sentidos numa čerta tensäo homonímica: um significa 'suspender a interaccäo com o que se caracteriza como estático' (complemento nominal), como no exemplo (1), e o outro significa 'näo se opor ao que se apresenta como dinämico' (complemento verbal), como no exemplo (2). O primeiro está organizado ä volta do protó-tipo 'abandonať e o segundo ä volta do protótipo 'näo intervir'. Onde é que está a coeréncia semantica interna do verbo deixar, capaz de impedir a homonímia entre os dois grupos? Temos que puxar o significado de deixar para cima. (1) deixar P2 ou deixar P2 num lugar/estado/a P3 (2) deixar P2 V ou deixar V P2 Em primeiro lugar, a coeréncia semantica do verbo deixar está numa estrutura multidimensional, representada no Quadro 1. Alem da dimensäo da 'construcäo do objecto' (estático vs. dinämico), existe a dimensäo do '(grau de) actividade do sujeito' (atitude activa com/sem intervencäo previa vs. atitude passiva). Em segundo lugar, a coeréncia semantica de deixar encontra-se também numa estrutura de transformacöes de esquemas imagéticos (Johnson, 1987; Hampe, 2005). Nos usos de deixarl, é o participante sujeito (Pi) quem reali-za o movimento, ao passo que nos usos de deixarll, é o participante objecto (P2) que é construído como realizando um movimento. Os esquemas imagéticos que envolvem um sujeito activo descrevem uma situacäo iniciál em que Pi e P2 estavam em contacto, ao passo que nos esquemas imagéticos de sujeito passivo Pi e P2 estavam separados e assim continuam. Os esquemas imagéticos de deixarl e deixarll säo, pois, perfeitamente inversos. Tal facto evidencia a existéncia de uma transformacäo de inversäo dos esquemas imagéticos das duas categorias. Esta transformacäo consiste na inversäo do participante dinämico (aquele que realiza o movimento): Pi (o sujeito) em deixarl e P2 (o objecto) em deixarll. Em terceiro lugar, a coeréncia semantica do verbo deixar manifesta-se também em elaboracöes metafóricas e metonímicas děste esquemas imagéticos. Os vários sentidos psico-sociais de deixar resultam de elaboracöes metafóricas do movimento (quer de afastamento quer de näo aproximacäo) e Polissemia e contexto: o problema duro da diferenciacäo de sentidos 363 de esquemas de dinämica de forcas (Talmy, 1988, 2000). Quanto ä metoni-mia, veja-se, por exemplo, o desenvolvimento do sentido trivalente de 'fazer ficar depois de deslocar'. Este sentido formou-se por reanälise do sentido prototipico bivalente \em algum lugar) x deixa y ir' na estrutura trivalente 'x deixa y em algum lugar'. Esta reanälise envolve uma inferencia metonimica: quando alguem se afasta de um local, distancia-se tambem das entidades que se encontram nesse local. activamente passivamente sem intervencäo previa com intervencäo previa deixarl: 1. irembora 5. fazer ficar depois 10. näo se aproxi- 'suspender 2. näo levar consi- de ter deslocado mar interaccäo go 6. fazer ficar depois 11. näo levar com o que e 3. abandonar de ter alterado 12. näo tomar estätico' 4. näo alterar 7. transferir posse 13. näo alterar 8. fazer ficar parte 14. näo tomar em de si posse 9. fazer ficar parte de si deixarW: 'näo se 16. permitir (consen- 17. näo mais impedir 15. näo impedir opor ao que tir, autorizar) (largar, soltar, liber- e dinämico' tär) Quadro 1. Os sentidos de deixar Finalmente, ambos os grupos implementam um mesmo esquema de dinämica deforgas (Talmy, 1988, 2000): uma entidade mais forte, o Antago-nista, codificada no sujeito do verbo, näo exerce uma forca que possa inter-ferir na disposicäo natural de uma segunda entidade, o Agonista. A palavra pronto exibe um vasto conjunto de usos pragmätico-discursi-vos actualizados no discurso oral espontäneo. A polissemia funcional de pronto, sem equivalente nas restantes lmguas romänicas, e o resultado de um processo recente de gramaticalizacäo (ou pragmatizacäo) do adjectivo pronto. Todavia, os nossos melhores dicionärios näo däo conta da polissemia funcional de pronto. E os investigadores da polissemia dos marcadores discursi-vos, como Fischer (2000) e Travis (2005), postulariam uma "invariante se-mäntica" que pudesse explicar por que e que pronto assume determinadas funcöes e näo outras. Onde e que se encontra entäo a polissemia do marcador discursivo pronto? Temos que puxar o significado de pronto para baixo. Os exemplos (3) e (4) representam os dois principals usos denotacionais do adjectivo pronto: o sentido de 'terminado, acabado, feito' aplicado a coisas, em (3), e 364 Augusto Soares da Silva o sentido de 'preparado (para uma accäo, uma utilizacäo)' aplicado a pes-soas, como em (4), ou coisas, como em (5). (3) Garanto que o fato está pronto amanhä. (4) Os soldados estäo prontos para o pior. (5) O jantar está pronto; venham para a mesa! Os dois sentidos denotacionais de pronto instanciam dois esquemas imagéticos: o esquema imagético conclusivo, retrospectivo e anafórico de processo acabado, como em (3), e o esquema imagético inceptivo, prospective e catafórico de processo disponível, como em (4)-(5). Os diversos usos pragmático-discursivos de pronto - exemplificados em (6)-(10) com base no corpus oral do "Corpus de Referenda do Portugués Contemporäneo" - säo motivados por estes dois esquemas imagéticos. O esquema imagético retrospectivo explica os usos conclusivo (6), de concor-däncia (7), de fechamento temático e cedéncia de vez. O esquema imagético prospectivo motiva os usos impositivo (8), explicativo (9), de abertura temá-tica e de tornáda de vez. Entre os dois usos, encontra-se o uso pontuante (10), de transicäo temática e manutencäo de vez. (6) fui, só vi o Sporting, fui pelo Sporting, gostei do Sporting, pronto, agora sou sportinguista. (7) - A gente pode sair mais cedo? - Pronto, a que horas? (8) mas eu volto costas e ele vai mexer. o que é que a mäezinha te disse? näo disse que näo mexesses? Pronto; tem que levar uma palmadita. (9) agora o dois ponto dois ... pronto este é um daqueles exercícios que eu acabei de vos falar agora. (10) aquilo é, prontos, mais ou menos um desporto de hörnern, prontos, eh, conversas de hörnern, aquelas coi (...), aquelas cumplicidades, e prontos, cria-se sempre bons ambientes. Estes diversos usos funcionais de pronto revelam linhas de subjectifica-gäo e resultam do aproveitamento de pronto na realizaeäo de determinadas tarefas do falante na sua interaccäo com o ouvinte em diferentes dominios comunicativos (tais como a estruturacao do discurso e do texto, a percepcäo e compreensäo do fluxo de informaeäo, a relacäo interpessoal entre os inter-locutores, a alternäncia de vez, as atitudes emotivas ou outras dos falantes, etc.). Em suma, qualquer formulaeäo de um significado invariante de pronto acabaria por ser ambivalente, entre o esquema imagético retrospectivo e o esquema imagético prospectivo. 6. Conclusöes e implicates A primeira conclusäo děste estudo é a de que o significado é uma reali-dade dinämica e flexível, aberta ä mudanca e adaptável ao contexto, um fenómeno näo disereto mas contínuo (até certo ponto). Por isso mesmo, näo Polissemia e contexto: o problema duro da diferenciacáo de sentidos 365 se pode procurar o(s) significado(s) de uma palavra ou outra expressao, mas os seus usos contextualizados, inevitavelmente através de uma metodologia empírica, como a análise de corpus ou o uso de técnicas de experimentacáo. Em segundo lugar a semántica de uma palavra ou construcáo nao é um saco de sentidos, mas um potenciál de significacáo (Allwood, 2003) prototí-pica, esquemática e multidimensionalmente estruturado e sensível a efeitos contextuais. Os modelos de rede radial e de rede esquemática desenvolvidos pela Semántica Cognitiva permitem analisar os efeitos de prototipicidade, a dimensáo taxonómica e os mecanismos de associacáo de sentidos, como a metafora, a metonímia e a subjectificacáo, mas devem explorar a multidi-mensionalidade intrínseca de qualquer complexo polissémico. Finalmente, a via para minimizar o problema duro da diferenciacáo de sentidos passa por reconhecer polissemia na media čerta (nem de mais nem de menos) e por puxar o significado tanto para cima, para o nível dos con-teúdos esquemáticos e de outros factores de coeréncia semántica, como para baixo, para o nível dos usos contextuais, psicologicamente (mais) reais. Os resultados děste estudo sugerem algumas implicacoes para a construcáo de dicionários e para a engenharia e computacáo da linguagem. Por restricoes de espaco, apenas as podemos enunciar. Em relacáo á teoria e prática lexicográficas, é necessário abandonar a distincáo rígida entre infor-macáo semántica e informacáo enciclopédica e, assim, dar conta dos efeitos de prototipicidade. Alem disso, os dicionários deveráo utilizar determinadas técnicas de definicáo, geralmente consideradas impróprias mas que permitem dar conta da flexibilidade do significado: entre outras, disjuncoes, enu-meracoes e acumulacoes de quase-sinónimos. E para se poder mostrar a estrutura multidimensional dos sentidos de uma entrada, sáo úteis agrupa-mentos hierárquicos, etiquetas designando relacoes semánticas e referéncias cruzadas entre acepcoes ou grupos de acepcoes. No ámbito da linguística computacional, os sistemas de desambiguacáo e seleccáo automáticas de sentido deveráo desenvolver-se na base de trés pressupostos: (i) nao existem sentidos estáticos e discretos, mas abstraccoes de usos de uma palavra a partir de corpora de grande extensáo; (ii) os padroes de contextualizacáo de uma palavra sáo importantes para a identifi-cacáo dos seus sentidos, mas deve operar-se com abstraccoes de baixo nível; (iii) é preciso incorporar uma verdadeira base de conhecimento enciclopédi-co associado aos sentidos de uma palavra, embora seja, em princípio, impos-sível construir um sistema computacional com o conhecimento enciclopédi-co necessário e suficiente. Referéncias Allwood, Jens (2003). 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